domingo, 20 de julho de 2008

O QUE PENSA A MÍDIA
EDITORIAIS DOS PRINCIPAIS JORNAIS DO BRASIL
http://www.pps.org.br/sistema_clipping/mostra_opiniao.asp?id=1032&portal=

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

PODER EM DESCRÉDITO
EDITORIAL (FOLHA DE S. PAULO
)

Falta de decoro, abuso de autoridade e lobismo bilionário evidenciam-se com rara intensidade no caso Daniel Dantas

AO CONTRÁRIO da antiga anedota, seria o caso de dizer que, entre mortos e feridos, ninguém se salvou dos acontecimentos políticos da última semana. A falta de decoro, cuja existência se costumava atribuir primordialmente ao mundo parlamentar, revelou-se presente nos mais diversos níveis institucionais com os desdobramentos da Operação Satiagraha.

Do Palácio do Planalto veio, sem dúvida, o exemplo mais tosco e aberrante desse processo generalizado de desgaste. Com participação direta do presidente Lula, optou-se por divulgar um trecho brevíssimo, escolhido a dedo, das gravações de uma reunião de quase três horas, na qual se decidiu o afastamento do delegado Protógenes Queiroz do comando da investigação.

Numa espécie de vazamento "chapa-branca", tentou-se dar comprovação factual -para quem quiser acreditar- ao jogo de cena improvisado na véspera, no qual Lula repreendia o delegado por sua suposta e implausível iniciativa de abandonar o caso. Difícil dizer o que há de mais condenável na pantomima.

Dispor-se a um bate-boca com o delegado, como fez o presidente, já seria por si só ato incompatível com a dignidade do cargo. Bate-bocas não faltaram, contudo, desde que vieram a público as primeiras notícias da operação.

É como se todo o protocolo oficial tivesse entrado em colapso com o episódio. O presidente do STF esbraveja contra a polícia e um juiz de instância inferior. O ministro da Justiça atrapalha-se em bravatas e se estatela em recuos de última hora. Senadores da oposição se vêem enredados na mesma teia de denúncias que constrange seus adversários.

Ainda que tenham sido vários os erros cometidos durante a Operação Satiagraha, nada se compara ao verdadeiro abuso de autoridade cometido pelo Executivo: joga-se contra uma única pessoa, o delegado Queiroz, o peso esmagador da própria Presidência, que consente com um método de manipulação das gravações oficiais que não há exagero em qualificar de stalinista.

De todo esse espetáculo de primarismo, arrogância e descontrole autoritário, nenhuma instituição política brasileira parece ter saído incólume. Há, entretanto, instituições que continuam funcionando como se nada acontecesse; funcionam bem demais, até. É o caso do Banco do Brasil, que acaba de autorizar um empréstimo recorde de R$ 4,3 bilhões para possibilitar a compra da Brasil Telecom pela Oi, numa operação em aberto conflito com as normas em vigor -conflito que o Executivo se esforça para resolver, contra o interesse do consumidor.

Enquanto o governo Lula tenta transmitir a idéia de que persistirá nas investigações contra Daniel Dantas, o mercado de especulações coloca em R$ 1 bilhão o que o mesmo Dantas deverá embolsar com o negócio. Seu banco, o Opportunity, está vendendo a participação na Brasil Telecom.

Sócios, dentro e fora do governo, não faltam nesse escândalo, que põe em questão, como poucos antes dele, a credibilidade nas instituições públicas do país.

DEU NA FOLHA DE S. PAULO / ILUSTRADA


DE VIVOS E DE MORTOS
Ferreira Gullar

A Argentina é um país com caráter original, o que a faz inconfundível e até contraditória


EM MEIO à crise que a Argentina atravessa, alguém teria ouvido a presidente Cristina Kirchner gritar para o marido Néstor: "Aquí, quién es la presidenta soy yo, carajo!".

A Argentina é um país com características muito próprias, que a tornam inconfundível na comunidade sul-americana. Inconfundível e, sob certos aspectos, contraditória. Por exemplo, se o nível cultural de seu povo é bem mais alto que o de seus vizinhos, por outro lado, no plano político, paga o preço de um atraso -o populismo peronista- que já dura mais de meio século. Nós e os demais países latino-americanos (para ficarmos em família) temos também nossos atrasos mas, talvez, menos arraigados e mais disseminados. Na Argentina, por certo devido a seu caráter marcadamente original, que não se limita à tradição peronista, há coisas que só acontecem lá, como é o caso do casal Kirchner, uma espécie de reedição da dupla Perón e Evita, ainda que em versão moderna. Mas que Néstor e Cristina formam um casal inusitado, não há dúvida. Se cabe, com referência a eles, a tese de que a história, quando se repete, é em tom de farsa, não sei, mas não me arriscaria a eliminar de todo essa hipótese. É impossível, quando penso neles mas, sobretudo, quando os vejo juntos, não lembrar de Perón e Evita, não como uma repetição da história argentina e, sim, como uma imitação suspeita, em que não confio inteiramente.

Veja bem, não é que Perón e Evita tenham sido exemplos louváveis de líderes políticos. Muito pelo contrário, eles foram a expressão de um populismo sindicalista que pretendia eternizar-se no poder. A morte precoce de Evita -que se havia tornado a mãe dos descamisados- retirou do general-presidente seu principal instrumento de mistificação do poder. De pouco lhe valeu embalsamar o corpo dela e deixá-lo exposto à visitação pública na sede da CGT. Talvez até tenha sido esse um dos motivos do golpe que o derrubou. Mas isso não foi suficiente, pois o cadáver continuava ali, como uma ameaça, uma espécie de réplica do de Lenine, também líder dos trabalhadores (é que certos líderes não devem morrer e, quando morrem, não podendo ressuscitar como os santos, são embalsamados). Temerosos, os militares argentinos roubaram o cadáver de Evita e o sepultaram num distante cemitério de Milão, na Itália, dando início a uma espécie de vaudeville macabro.

Não se tem notícia de nada parecido na história política nem se imagina que Néstor e Cristina venham a passar por lances semelhantes. No entanto, foi Perón mesmo que tentou copiar sua própria história, casando-se, após ter sido deposto, com Isabelita, dançarina, mulher da noite como Evita, que era cantora. E, assim que pôde, eleito de novo presidente da Argentina, trouxe a tiracolo, como vice, a nova esposa.

Mas, bem antes disso, exilado em Madri, recebeu de volta o cadáver de Evita, que havia sido exumado do túmulo em Milão. Pateticamente, manteve-o em sua casa, sob os cuidados de Isabelita, que, regularmente, a penteava e maquiava, com espantosa dedicação.

Eu estava em Buenos Aires, a caminho de Santiago do Chile, em 1973, quando Perón disputava a presidência. Ouvi um de seus discursos no rádio do hotel. Um ano depois, morto Allende, ao descer no aeroporto de Ezeiza, o carregador de bagagem, comovido, me comunicou:

-Estamos de luto, morreu Perón.

Se o velório de Evita durara 15 dias, o de Perón durou quatro, e Isabelita assumiu o governo para ser deposta, dois anos depois, pelos milicos de sempre. A iminência parda de seu governo chamava-se Lopez Rega e tinha fama de bruxo.

Um de seus primeiros atos foi trazer de volta o corpo de Eva Perón para a exibição pública em Buenos Aires, certamente visando manter vivo o culto à mãe dos pobres. Os milicos rosnaram e ela mandou finalmente sepultá-la ao lado do marido (das duas). Uma história que seria inconcebível no Brasil, em que pese a nossa fama de país surrealista, talvez porque sejamos mais chegados a um samba que a um tango.

E tanto assim é que, ao ler aquela frase de Cristina Kirchner, o que me veio à mente nada tinha de macabro: lembrei-me de um fato, que embora ocorrido na época de Perón e Evita, me fez rir de novo. O embaixador brasileiro, em Buenos Aires, foi visitar o ministro argentino das Relações Exteriores, acompanhado de sua esposa, quando a senhora do ministro, para mostrar-se familiarizada com o Brasil, falou:

-Son muy semejantes nuestros idiomas, verdad? Nosotros decimos carajo y ustedes dicen "caralho", no?

Sim, digo eu agora, mas não na presença de senhoras.

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

GRANDES TRAPALHADAS
Alberto Dines


O sânscrito entrou em nossas vidas pelas mãos de um delegado da Polícia Federal. Inspirado na bandeira da não-violência do Mahatma Gandhi (o líder indiano que levou o seu país à independência em 1947), Protógenes Queiroz batizou a operação para desbaratar uma poderosa rede de corrupção e crimes financeiros, com o exótico nome de Satia+graha (vontade+firmeza=integridade, rigor moral e espiritual). Sem dúvida: melhoramos de paradigma.

Desastroso está sendo o resultado. É bem verdade que o banqueiro Daniel Dantas agora é réu. Com provas irrefutáveis e inquestionáveis. Não estava nos planos da PF enquadrá-lo como corruptor ativo, mas o mago das finanças, ao perceber o cerco, desta vez desesperou-se: tentou corromper os delegados que estavam no seu encalço oferecendo-lhes o equivalente a um milhão de dólares. Ferrou-se.

O resto da operação sob o ponto de vista jurídico é discutível. Não fosse o aspecto simbólico e espetacular da prisão de Daniel Dantas e alguns de seus cúmplices, entre os quais o megatrambiqueiro Naji Nahas e o pobre do Celso Pitta interessado apenas em garantir sua mesada, a acusação foi considerada precária por juristas que chegam a qualificá-la como inepta.

Cientes das falhas, os responsáveis pela Satiagraha foram em frente e tomaram uma decisão tão desesperada e insensata quanto a de Daniel Dantas ao corromper um delegado: violaram o segredo de justiça e vazaram para a imprensa partes do relatório da autoridade policial certos de que pela quantidade e importância dos nomes envolvidos conseguiriam causar grande comoção na sociedade. Ferraram-se.

Complicaram-se logo no primeiro vazamento que incluía a transcrição de uma gravação telefônica entre um ex-deputado do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh que trabalha para Daniel Dantas e o seu amigo, Gilberto de Carvalho, chefe de gabinete do presidente da República.

O governo procurou reagir e o fez da mesma forma desastrada e trapalhona. As sucessivas declarações do ministro da Justiça, Tarso Genro, enquanto o presidente Lula ainda se encontrava no exterior desvendaram o despreparo jurídico e político do governo para gerenciar situações de crise.

Tal como aconteceu em 2005 no escândalo do mensalão, no ano seguinte com os aloprados do Dossiê Vedoin e no início de 2008 com o Dossiê da Casa Civil, o comando político do governo comporta-se de forma tacanha quando flagrado em situações onde o seu celebrado senso ético fica sob suspeição.

Foi simplesmente ridícula e grotesca a solução encontrada para mostrar à sociedade que o governo não afastou o delegado Protógenes Queiroz do comando da Satiagraha. A gravação de uma reunião de três horas da cúpula da PF e posterior divulgação de um boletim de quatro minutos (além disso, editado) revelam a inexperiência e o nível de desnorteamento do comando político, incapaz de esconder sua propensão para soluções discricionárias e burlescas.

Não adianta esconder: a PF está e sempre esteve dividida quando a sua indiscutível competência esbarra na intocabilidade de certas esferas da administração. E o governo está igualmente dividido no tocante à figura de Daniel Dantas, peça-chave para a montagem da supertele que resultará da fusão da OI-BrT.

As atribulações mais sérias na vida de Daniel Dantas começaram a partir do momento em que foi envolvido no mensalão. Investigá-lo além da tentativa de corromper delegados da PF podem atribular muita gente.

O que nos leva ao real significado do conceito Satiagraha. A firmeza da vontade preconizada por Gandhi nada tem a ver com voluntarismo político ou bonapartismo psicótico. É uma disposição tranqüila e metódica de levar a busca da verdade às últimas conseqüências.

A reação atrapalhada de Daniel Dantas caiu do céu. As trapalhadas do governo ao lidar com o caso mostram que, apesar de tudo, algo acontece.

» Alberto Dines é jornalista.

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

LULA E O DELEGADO
Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do instituto vox populi

E as “férias” do diretor-geral da Polícia Federal? Em que lugar, no governo ou no setor privado, alguém tira férias em plena crise?

Os mais recentes atos da novela Daniel Dantas chegam a ser patéticos. Se alguém do Palácio do Planalto pedisse a um consultor de imagem, a um especialista em “gestão de crises”, sugestões de como proceder, a última, provavelmente, seria fazer como estão fazendo.

O afastamento “voluntário” do delegado Protógenes Queiroz, encarregado do inquérito, continua gozando de menos credibilidade que uma nota de três reais, mesmo depois da divulgação de trechos das conversas ocorridas na célebre reunião em que teria sido decidido. Faz tão pouco sentido, pelo que se conhece de seu comportamento e pelo que se pode generalizar sobre como as pessoas costumam reagir, que as suspeitas permanecem. Agora, quando ele próprio denuncia que seu trabalho foi dificultado, fica ainda mais improvável.

E a saída dos delegados auxiliares de Queiroz? Apenas ela bastava para deixar a tese insustentável, pois, sem o titular do inquérito, seria lógico que permanecessem, pelo menos por algum tempo, enquanto uma nova equipe não se familiarizasse com um trabalho de anos. É tão evidente que a notícia mais recente é que se está pedindo a ambos que reconsiderem a decisão. Por que a teriam tomado?

E as “férias” do diretor-geral da Polícia Federal? Em que lugar, no governo ou no setor privado, alguém tira férias em plena crise, vai descansar, quando a casa está pegando fogo? Na maioria das empresas, um diretor que pedisse férias em uma hora dessas poderia até recebê-las, mas seria avisado de que, ao cabo delas, não precisava voltar.

O juiz e o promotor encarregados do caso nada sabiam das intenções do delegado? No cotidiano das investigações, na intensa convivência profissional que um trabalho como esse enseja, Protógenes nunca disse a eles que iria se afastar uma semana depois da decretação da (primeira) prisão de Dantas? É crível que tenha agido assim ou são ambos hábeis atores, apenas fingindo surpresa?

As manifestações de outros delegados, de juízes federais e promotores, que apoiaram a investigação do delegado e se insurgiram contra seu afastamento, foram todas ingênuas? Quem conhece a Polícia Federal como eles, tem, certamente, motivos para não confundir um afastamento por opção com algo que justifica suas reações.

E para onde vai a imagem que parte da mídia pintou do delegado, o “perseguidor implacável” e um tanto “desvairado”? Se ele estava mesmo disposto a abandonar seu esforço de tanto tempo para cumprir as exigências burocráticas de sua carreira, pode ser tudo, menos alguém que se vê como “santo guerreiro na luta contra o dragão do mal”.

E a reunião no Planalto entre Lula, Tarso Genro e o ministro Gilmar Mendes, na qual parecia que um acordo tinha sido fechado, depois das farpas de lado a lado? Foi mera coincidência que tivesse ocorrido nas vésperas do anúncio da saída do delegado?

E todas as informações que a mídia levantou sobre o episódio, no trabalho de reportagem de diversos veículos? Tudo que colheram, todas as fontes ouvidas, tudo estava errado, confundiram uma mera banalidade com coisas mais significativas?

Mas o mais difícil de entender, a esta altura do affair, é a atitude de Lula. Depois de suas declarações no Timor, quando falou como deveria falar o presidente que a população elegeu, o que aconteceu? Lá, longe de casa, parecia o Lula de antigamente, direto, verdadeiro, até bravo. Foi só voltar, que tudo mudou.

Quem sugeriu a ele a desastrada atitude de “exigir” que o delegado permanecesse à frente do inquérito? Como fica a autoridade presidencial, quando um presidente manda recados por meio da imprensa a um funcionário público, que ninguém leva em consideração? O que fez o ministro da Justiça, o diretor (interino) da Polícia Federal, o superior hierárquico do delegado e o próprio, depois das declarações de Lula? Nada, todos as ignoraram.

O caso Dantas é tão cheio de mistérios que traz à lembrança uma frase de Jean Giono: “Quando os mistérios são cheios de maldade, eles se escondem em plena luz”.

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

ANJOS E DEMÔNIOS
Ugo Braga

A história por trás da confusão armada por Protógenes

Protógenes Queiroz é um herói desastrado. Escreve mal. Tortuosamente, na verdade — para quem duvida, recomendo uma passadinha de olho no texto completo do inquérito, já disponível nos quatro cantos da internet. O delegado é um maniqueísta. A julgar pelo que diz na peça, pode-se concluir que anda nas ruas ressabiado, envolvido num embate eterno entre o bem e o mal, como nas histórias em quadrinhos. Ouviu um galo cantar e saiu por aí dizendo ter indícios de que Naji Nahas, demônio antigo do purgatório brasileiro, detinha informação privilegiada sobre decisões da política monetária dos Estados Unidos. Delírio! Viu a jornalista Andréa Michael, anjo desse mesmo purgatório, noticiar o andamento das investigações e quis incluí-la como integrante da organização criminosa sob sua lupa. Alucinação! Permitiu a uma equipe de tevê filmar a prisão de Celso Pitta de madrugada, na porta de casa, ainda de pijamas e tridente.

Tolice!
As trapalhadas do delegado federal foram tantas e tamanhas que permitiram aos cães de guerra do PT exibir algo em que estão no estado da arte: mudar o foco, alegar ignorância e depois inocência, conjecturar, acusar e confundir.

Na história que Protógenes tenta contar de forma meio atabalhoada, porém, há uma trama coerente, com início, meio e fim. E nela, acreditem, nobres senhores e belas damas, grassa uma pugna bilionária, da qual reluz um facho vermelho e piscante, a iluminar tristemente os arredores do Palácio do Planalto. E me explico.

A privatização da telefonia brasileira, em 1998, dividiu o mercado em fazendas. Os donos de uma delas não podiam ser donos de outras e umas não podiam vender seus serviços nas áreas das outras. O Estado concedeu o direito de terceiros grupos privados competirem localmente com as ex-estatais já estabelecidas. Assim, em tese, se cristalizariam grandes grupos regionais que seriam postos para brigar entre si dali a alguns anos, quando poderiam disputar clientes em todo o território nacional.

A fazenda chamada Tele Norte Leste, depois Telemar e hoje Oi, foi arrematada por um grupo liderado pelo brasileiro La Fonte, grupo este desafeto dos tucanos, então no poder, que o chamavam de “rataiada”. A palavra é um neologismo para designar um bando de ratos. A fazenda chamada Tele Centro-Oeste, depois Brasil Telecom, foi arrematada por um grupo liderado pelo Opportunity, de Daniel Dantas, financista considerado gênio na academia, muito querido do tucanato.

Pois bem, logo nos primeiros anos, a Brasil Telecom, com o perdão do trocadilho, virou um saco de gatos. Sob influência do PT, que detinha postos estratégicos ao eleger diretores, fundos de pensão brasileiros se aliaram à Telecom Itália, integrantes do consórcio que arrematou a companhia, e passaram a tentar destituir o Opportunity da gestão da empresa. Por quê? Porque descobriram que o banco de Dantas, graças a um agressivo arranjo societário e a uma aliança sólida com o Citibank, que o bancava, entrara com quase nenhum capital no negócio, embora mandasse nele absolutamente.

A briga pelo controle da Brasil Telecom foi renhida, sangrenta e cruel. Milhões de dólares voaram de um lado a outro, entre bancas de advocacia e outras despesas menos glamourosas. Até que, em meados de 2002, Daniel Dantas dá uma cartada arriscada. Faz a direção da companhia telefônica contratar a empresa Kroll Associates, maior do mundo na área de espionagem industrial. E passa a monitorar a vida de praticamente todas as pessoas que pudessem influenciar a batalha. E-mails do então ministro Luiz Gushiken e filmagens de viagens do presidente do Banco do Brasil, Cássio Kasseb, estão no material.

Em outubro de 2004, a Polícia Federal é acionada para acabar com a bisbilhotice de Dantas. Deflagra a Operação Chacal a apreende uma série de dossiês, documentos e relatórios de todo tipo, com as informações que o Opportunity havia amealhado nos meses anteriores.

Descobre-se que Dantas reunira informes segundo os quais o megaespeculador Naji Nahas era uma ponte confiável da Telecom Itália até o Palácio do Planalto. Mais, que se articulava num bastidor muito profundo a futura fusão da Telemar, aquela da rataiada, com a Brasil Telecom.

Não por coincidência, o antigo pacto com o Citibank ruiu e o Opportunity acabou mesmo defenestrado do comando da telefônica. Dantas começa a se aproximar de Nahas para, de alguma forma, recuperar o prejuízo. É ali, quase quatro anos atrás, que começa a Operação Satiagraha, com o olho e os grampos de Protógenes sobre a dupla.

O que aconteceu desde então? A Telemar injetou milhões de reais na empresa do filho do presidente da República. Depois, recebeu outros bilhões do Banco do Brasil e do BNDES para comprar a Brasil Telecom. O negócio depende de uma mudança na lei feita por decreto presidencial, que vai sair. Uma vez feito, Daniel Dantas, já apaziguado, bota US$ 1 bilhão no bolso pela parte do capital que ainda detém. E todos vivem felizes para sempre. Apesar de Protógenes.

DEU NA FOLHA DE S. PAULO


CRISE, FÉRIAS E MINHOCAS
Eliane Cantanhêde


BRASÍLIA - A mais nova crise começou com a prisão de Daniel Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta, desviou para o racha de policiais, juízes e ministros e resvalou no Palácio do Planalto.

Nahas já está escaldado desde 1989, quando detonou a implosão da Bolsa de Valores do Rio.

Celso Pitta... bem, era um nada antes de virar prefeito e continuou um nada para o resto da vida. E Dantas não abriu a boca, muito menos nos depoimentos à Polícia Federal.

Os três pivôs da crise, portanto, estão congelados. E virou um tal de tirar férias. O delegado Protógenes Queiroz vai "estudar", e o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, o juiz Fausto De Sanctis e até o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, se mandaram. Porque, afinal, ninguém é de ferro...

Ficamos nós, com a batata quente, com quilos de interrogações e com aquela sensação de sempre de que o tudo vai dar em nada. E o dossiê anti-FHC? E a VarigLog?

Até a irritação de Lula é a mesma de quando a coisa fica feia para o PT, a família, o churrasqueiro, o compadre advogado, ministros e líderes. A diferença: antes, ele não viu nada, não sabia de nada. Agora, ora sabe, ora não sabe.

Sabia quando comemorou a operação da PF e atraiu Gilmar e Tarso Genro -portanto, o caso- para dentro do Planalto. Deixou de saber quando o faz-tudo Gilberto Carvalho caiu no grampo amigo da PF.

Subitamente, Protógenes virou esquisitão, afastou-se, ou foi afastado, e as pessoas meteram um monte de minhocas na cabeça. Em público, o presidente aplaudiu a criatura (o inquérito). Em privado, condenou o seu criador (o delegado).

Lula entrou em grande estilo e quis sair de fininho da história. Não colou e teve conseqüências. Ninguém sabe do que, exatamente, Daniel Dantas é acusado. Mas todo mundo -inclusive o advogado de Dantas- se pergunta por que Lula tinha de se meter onde não foi chamado. Olha aí a minhoca!

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O INIMIGO INTERIOR
Rubens Ricupero

CEM ANOS antes da grave crise entre Colômbia, Equador e Venezuela, o barão do Rio Branco já se preocupava com o perigo de que ações armadas de rebeldes nas fronteiras poderiam desencadear conflitos internacionais. Em 1909, o Tratado do ABC que ele propôs à Argentina e ao Chile tinha como um de seus principais objetivos o compromisso de impedir que revoltosos usassem o território de um país para tentar derrubar governos vizinhos.

Esse princípio de absoluta não-ingerência impunha-se pelo próprio bom senso como base indispensável de um amplo entendimento entre os três países em todas as questões destinadas a "assegurar a paz e a estimular o progresso da América do Sul", como dizia o artigo 1º do tratado. O projeto foi, nesse sentido, precursor de quase tudo o que se fez mais tarde em matéria de integração latino-americana, inclusive das recentes iniciativas brasileiras da União Sul-Americana e do Conselho de Defesa.

Continua hoje tão válido como na época o princípio de não-intervenção, que deveria ser a expressão ideal de algo mais profundo: a tendência à convergência de valores e aspirações. Não basta para isso que os governos concordem com fins definidos de modo genérico: desenvolvimento, justiça social, integração. Também é necessário um consenso mínimo em relação aos meios, isto é, às políticas e às ações concretas para alcançar tais metas.

Não há como negar, desse ponto de vista, que o continente se acha tão afastado como no passado de um mínimo denominador comum ao menos em três áreas essenciais. A primeira tem a ver com o modelo de integração. Alguns -Chile, Peru, Colômbia (Uruguai, se pudesse)- optaram por acordos de livre comércio com os Estados Unidos, inspirados na malograda Alca.

Outros, corretamente, a meu ver, preferem de início a integração natural com as economias semelhantes e adjacentes. A segunda deriva do estágio de "refundação" radical no qual se encontram absorvidos Venezuela, Bolívia, Equador e de suas conseqüências: a atenção prioritária aos conflitos sociais internos, a exacerbação do nacionalismo, o retorno às estatizações e às nacionalizações na economia. Nada disso favorece projetos que exigem segurança jurídica para investimentos de longo prazo, como se viu nos episódios do gás e das refinarias na Bolívia, da estatização de siderúrgica venezuelana de capital argentino, das dificuldades da Petrobras no Equador etc.

Por fim, a ambigüidade ideológica ou até a simpatia de alguns governos pela guerrilha colombiana tornaram inevitável a aliança estreita de Bogotá com Washington. Inviabilizou-se, ipso facto, qualquer esquema de defesa que, na aparência ou realidade, implicasse escolher entre os Estados Unidos e os demais, o que, suspeitariam alguns, seria a escolha irrealista entre o Brasil e os EUA.

As reticências argentinas retardaram o projeto do ABC, que só se concretizou, enfraquecido e descaracterizado, anos após a morte do idealizador. Diplomata cuidadoso, coroado de êxito em quase tudo o que empreendeu, Rio Branco admitiu que a iniciativa, um de seus raros insucessos, tinha sido prematura.

É difícil acreditar que a crescent e divergência na América do Sul reserve agora melhor chance de sucesso a propostas como as atuais, cujo nível de ambição vai muito além do alcançado em 50 anos de integração européia.

RUBENS RICUPERO, 71, diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco). Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.


IBOPE INDICA CRIVELLA COM 23% E JANDIRA COM 14% NO RIO
Do G1, em São Paulo

Pesquisa tem margem de erro de três pontos percentuais. Instituto ouviu 805 eleitores no Rio entre terça e quinta.

O senador Marcelo Crivella (PRB) acumula 23% das intenções de voto para prefeito do Rio de Janeiro, segundo pesquisa do Ibope realizada entre as últimas terça (15) e quinta-feira (17). A candidata do PC do B, Jandira Feghali, tem 14%, de acordo com o instituto. A seguir, aparecem no levantamento os candidatos Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV), com 8% cada um; Solange Amaral (DEM), com 5%; Chico Alencar (PSOL), com 4%; Alessandro Molon (PT), com 3%, além de Eduardo Serra (PCB) e Paulo Ramos (PDT), ambos com 1% cada. Antônio Carlos (PCO), Filipe Pereira (PSC) e Vinicius Cordeiro (PT do B) não alcançaram 1% das intenções de voto.

MARTA SOMA 34% E ALCKMIN TEM 31% EM SP, APONTA IBOPE
Do G1, em São Paulo


Instituto ouviu 805 pessoas na capital entre terça e quinta. Margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais.

A ex-ministra Marta Suplicy (PT) tem 34% das intenções de voto e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) soma 31% na disputa pela Prefeitura de São Paulo, de acordo com pesquisa Ibope realizada entre as últimas terça (15) e quinta-feira (17) na capital paulista. Eles são seguidos pelo atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM), com 10%; pelo deputado Paulo Maluf (PP), com 9%; pela vereadora Soninha (PPS), com 2%; e por Ciro Moura (PTC), com 1%.

EM BELO HORIZONTE, JÔ MORAES SOMA 17% E QUINTÃO, 14%, SEGUNDO IBOPE
Do G1, em São Paulo


30% não opinaram ou disseram não saber em quem votar. Pesquisa tem margem de erro de três pontos percentuais.

Pesquisa Ibope realizada entre os últimos dias 14 (segunda) e 16 (quarta) indica Jô Moraes (PC do B) com 17% das intenções de voto e Leonardo Quintão (PMDB) com 14% na disputa eleitoral pela Prefeitura de Belo Horizonte. Dentre os 805 entrevistados pelo Ibope, 30% preferiram não opinar ou informaram que ainda não sabem em quem votar. Candidato apoiado pelo governador Aécio Neves (PSDB) e pelo prefeito Fernando Pimentel (PT), Márcio Lacerda (PSB) tem 8% das intenções de voto, de acordo com o levantamento. Vanessa Portugal (PSTU) aparece com 4%, seguida de Sérgio Miranda (PDT), com 3%, Gustavo Valadares (DEM), com 2%, e André Antonio Alves (PT do B), com 1%. Votos brancos ou nulos somaram 19%.


NO RECIFE, MENDONÇA SOMA 30%, CADOCA, 22% E JOÃO DA COSTA, 20%, DIZ IBOPE

Do G1, em São Paulo


Instituto ouviu 805 eleitores entre segunda e quarta. Margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais.

Pesquisa Ibope sobre a eleição para a Prefeitura do Recife indica que o ex governador Mendonça Filho (DEM) atingiu 30% das intenções de voto contra 22% do deputado federal Carlos Eduardo Cadoca (PSC) e 20% do deputado estadual João da Costa (PT). A margem de erro é de três pontos percentuais. Foram entrevistados 805 eleitores na capital pernambucana.