quarta-feira, 6 de agosto de 2008

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


FREIRE CRITICA IDÉIA DE 'DESANISTIA'
Rui Nogueira, BRASÍLIA

Para presidente do PPS, reformulação de lei é “equívoco” e governo precisa ter “coragem de abrir os arquivos”

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, considera “um grande equívoco” a reformulação da Lei de Anistia proposta pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. Na opinião dele, o governo está sendo “omisso” porque, em vez de propor uma “desanistia”, deveria ter “a coragem de abrir os arquivos para saber onde estão os desaparecidos”.

Avalia, também, que Tarso precisa “tomar cuidado ao falar sobre questões de direitos humanos, porque ele foi o responsável pela deportação dos dois boxeadores cubanos”. O ex-senador refere-se aos atletas Guilhermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que abandonaram a delegação de Cuba nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em julho de 2007, mas foram presos pela polícia brasileira e devolvidos à ditadura de Fidel Castro.

Na quinta-feira, ao abrir audiência no Ministério da Justiça intitulada Limites e Possibilidades para Responsabilização Jurídica dos Agentes Violadores de Direitos Humanos durante o Estado de Exceção no Brasil, Tarso defendeu a punição para agentes do Estado que praticaram tortura durante o regime militar. Na avaliação do ministro, tortura e violações de direitos humanos são crimes comuns, e não políticos, e por isso quem os praticou não poderia se beneficiar da anistia.

“A partir do momento em que o agente do Estado pega o prisioneiro e o tortura num porão, ele sai da legalidade do próprio regime militar e se torna um criminoso comum. Não foi um ato político. Ele violou a ordem jurídica da própria ditadura e tem de ser responsabilizado”, argumentou ele, durante o evento.

Essa posição provocou reações no meio militar e recebeu contestação pública do ministro da Defesa, Nelson Jobim, para quem este é um assunto que não cabe ao Executivo discutir, mas ao Judiciário interpretar.

Para Freire, a Lei de Anistia beneficiou tanto militantes de movimentos contra a ditadura militar - inclusive os que optaram pela luta armada - quanto agentes do Estado brasileiro que cometeram “crimes hediondos, como a tortura”. O presidente do PPS, que integrou a comissão de deputados e senadores que elaborou a lei de 1979 e também foi constituinte em 1988, diz que não cabe, agora, “promover uma nova alternativa jurídica em torno da Lei de Anistia por causa daqueles que estavam do lado do governo e praticaram atos ilegais, mas que no momento da definição do processo de anistia foram anistiados”.

Freire diz que a um governo democrático se impõem duas tarefas: a reparação pela Justiça de “todos aqueles que foram torturados, que sofreram na mão do Estado a prática do crime da tortura, e a abertura dos arquivos do período da ditadura militar, no que o atual governo tem sido omisso”. Ele pondera, ainda, que os arquivos não devem ser abertos por revanchismo. “Mas para que tenhamos conhecimento da nossa história, saber onde estão nossos desaparecidos”, argumenta.

O ex-senador afirma que uma revisão da lei agora acaba por gerar exacerbação dos militares, como já está ocorrendo, e ressuscitar no País um clima de confronto. “A justiça pode ser feita sem a revisão da lei. Pelo Judiciário, ou seja, aqueles que sofreram abusos e arbitrariedades por parte dos torturadores devem cobrar na Justiça as indenizações a que têm direito.”

‘MAL INTERPRETADO’

Tarso não quis se manifestar ontem sobre a Lei de Anistia e o debate que ele provocou. Disse que “foi mal interpretado” e não quer rever a lei, mas apenas deixar claro que “a tortura não pode ser vista como um crime político”. O Estado apurou que a idéia do seminário não passou pelo crivo de Lula.
O QUE PENSA A MÍDIA
EDITORIAIS DOS PRINCIPAIS JORNAIS DO BRASIL
http://www.pps.org.br/sistema_clipping/mostra_opiniao.asp?id=1049&portal=

DEU EM O GLOBO


GABEIRA RELANÇA IDÉIA DE BARCAS DA ZONA SUL

Concessão, porém, cabe ao governo do estado; mas candidato diz que incentivaria


Se depender da vontade do candidato à prefeitura do Rio Fernando Gabeira (PV), o traslado do turista estrangeiro entre o Aeroporto Internacional Tom Jobim e a Zona Sul da cidade pode ser bem mais aprazível. Ontem, durante uma travessia de barca entre a Praça XV e Cocotá, na Ilha do Governador, ele apresentou o projeto da ligação aquaviária entre os dois pontos.


Embora a Barcas S/A seja uma concessão estadual, a prefeitura atuaria como incentivadora para tirar o projeto do papel.

- O papel da prefeitura é de animador e de facilitador do projeto, articulando tudo com as barcas e com o governo federal - disse Gabeira, ressaltando que o interesse da prefeitura é estimular o turismo e a cultura na cidade.

Faz parte do projeto a implementação de alfândega em Botafogo, em parceria com a Polícia Federal e as companhias aéreas. A estação ficaria próxima à estátua do Manequinho, onde os passageiros de vôos internacionais fariam o check-in, para aproveitar o trajeto até o aeroporto como mais um passeio turístico antes de deixar a cidade.

- À primeira vista, o projeto parece uma maluquice. Mas não é nada impossível - avaliou Eva Vider, professora da Escola Politécnica da UFRJ.

Para Gabeira, recuperando o aeroporto e implantando a linha, a cidade dará um grande passo rumo às Olimpíadas de 2016. A proposta beneficiaria o turismo e seria outra opção de transporte para a população da Ilha do Governador.

DEU NO JORNAL DO BRASIL

GABEIRA ANUNCIA APOIO DE CAETANO VELOSO
DA REDAÇÃO
O candidato do PV, Fernando Gabeira, anunciou ontem em seu site o apoio do cantor e compositor Caetano Veloso à sua campanha. Do blog Obra em Progresso, mantido pelo artista baiano, foi retirado o seguinte texto: "Os eleitores cariocas temos de nos encontrar em torno do nome de Fernando Gabeira. É isso aí: Gabeira para prefeito do Rio deve tornar-se a decisão das pessoas lúcidas e honradas dessa cidade, vivam elas no Complexo do Alemão ou na Gávea, na Barra ou em Parada de Lucas, em Santa Teresa ou no Vidigal, na Ilha do Governador ou no Leblon. Gabeira: não podemos perder essa oportunidade de dizer algo nítido. Acorda Rio de Janeiro, as eleições municipais estão aí.


De barca à Ilha

Gabeira e seu vice, Luiz Paulo, tomaram ontem pela manhã a barca Vital Brasil e seguiram em direção a Cocotá, na Ilha do Governador, Zona Norte, para divulgar o plano de uma ligação aquaviária ente o Galeão e a Praia de Botafogo. Segundo o projeto, o turista que chegar ao Aeroporto Internacional Tom Jobim teria á disposição um embarcadouro perto da estátua do Manequinho. segundo a assessoria do candidato, esse é apenas um dos projetos para a revitalização turística da Baía, parte importante do programa de governo.

DEU EM O GLOBO

TSE RECEBE 'PACTO CONTRA VOTO DE CABRESTO'

Ayres Britto fala sobre campanha com Gabeira e Chico Alencar

BRASÍLIA. Em protesto à ingerência do tráfico sobre eleitores nas favelas do Rio, três candidatos à prefeitura protocolaram ontem documento no Tribunal Superior Eleitoral para chamar atenção para o problema. Autor da idéia, Chico Alencar (PSOL-PSTU) pediu apoio dos adversários ao documento, que batizou de "Pacto contra o voto de cabresto", mas só Fernando Gabeira (PV-PSDB-PPS) e Eduardo Serra (PCB) assinaram o texto.

Hoje, Chico e Gabeira têm audiência às 11h, com o ministro da Justiça, Tarso Genro, para tratar do mesmo tema. Ontem à noite, os dois foram recebidos pelo presidente do TSE, Carlos Ayres Britto. O ministro quis saber a opinião deles sobre a situação das campanhas na cidade e avisou que o TSE tem o poder de requisitar forças federais para garantir a segurança das eleições. Os dois deixaram claro que não são favoráveis ao uso da Força Nacional.

Tribunal apoiará campanha educativa sobre voto livre

Ayres Britto está analisando as medidas tomadas até agora, mas só deverá tomar uma posição depois de ouvir os demais ministros da Corte. Na sessão de ontem, ele tocou de forma rápida no problema enfrentado pelo Rio, avisou que conversaria com os dois deputados e que poderia trazer mais notícias sobre o problema na sessão de amanhã. Britto deverá esperar ainda a reunião que fará, no próximo dia 11, com o ministro da Justiça, Tarso Genro, o presidente do TRE do Rio, Roberto Wider e o diretor do Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, para anunciar sua decisão.

- Estamos em fase de planejamento de atividade, Vamos aguardar o resultado das ações já adotadas e estudar as sugestões feitas pelos que estão convivendo com o problema - declarou Britto, antes da sessão.

Gabeira e Chico informaram que o ministro apoiou a realização de uma campanha, na TV, que será feita com o TRE-RJ, para mostrara a importância do voto livre e destacando que o voto é secreto.

- Haverá um trabalho conjunto do TSE e do TRE-RJ sobre o voto livre e consciente, e queremos que introduza a informação de que o voto é secreto. No Rio, isso é muito importante porque as milícias dizem que é possível saber como cada pessoa votou - disse Gabeira.

No documento protocolado no TSE, os candidatos criticam a influência de "poderes paralelos e despóticos" nas eleições. Eles se comprometem a sustar na Justiça Eleitoral o registro de candidaturas de correligionários que "comprovadamente fizerem aliança com a truculência e praticarem o crime de captação de sufrágio".

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


TUCANOS NA ELEIÇÃO
Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

Salvo se algo muito extraordinário acontecer, sairá do PSDB o principal candidato de oposição ao nome que representará, em 2010, a continuidade do atual governo

Pesquisas de intenção de voto, feitas agora, costumam dizer pouco. Nas eleições em que predomina o desconhecimento sobre os candidatos, são quase inúteis. Naquelas em que existe maior informação sobre quem está no páreo, ajudam bem, conseguindo até antecipar resultados, mesmo a uma distância tão grande da eleição como a que estamos agora.

Com essas cautelas em mente, podemos considerar o que as atuais pesquisas permitem dizer sobre o desempenho do PSDB nas eleições de outubro. Sabendo que teremos que sempre atualizar as avaliações, à medida que nos aproximarmos delas, fazer esse exercício pode nos ajudar a identificar onde devemos concentrar a atenção no desenrolar do processo.

Salvo se algo muito extraordinário acontecer, sairá do PSDB o principal candidato de oposição ao nome que representará, em 2010, a continuidade do atual governo. Quanto a se esse será do PT ou de outro arranjo partidário, é muito cedo para dizer. Hoje, a chance maior é que venha mesmo do partido de Lula.

No campo oposto, parece improvável que surja alguma candidatura viável vinda de outro partido que não o PSDB. Nenhum dos outros que estão na oposição tem nomes com perspectivas maiores que os tucanos.

Pensemos nas chances do PSDB nas eleições de prefeito nas 10 principais capitais estaduais, a partir das quais se fará o “balanço das urnas” em outubro.

Começando pelo Sul, o PSDB tem uma candidatura sem qualquer perspectiva em Porto Alegre e uma vitória segura em Curitiba, tão certas quanto se podem considerar eleições a esta altura. O malogro da candidatura tucana em Porto Alegre não tem nada a ver com os problemas da governadora Yeda Crusius, pois sempre foi uma eleição polarizada entre a reeleição de José Fogaça e as três (ou duas) candidaturas de mulheres de esquerda.

Em Curitiba, o prefeito Beto Richa pode ser o campeão de votos nas capitais, coroando uma administração aprovada quase por consenso. Com ele, ganha um PSDB de sangue novo.

Passando ao Norte, o PSDB não encabeça chapa majoritária nem em Belém, nem em Manaus. Especialmente no Pará, aonde chegou ao governo por duas vezes, não se pode dizer que é muito. No Amazonas, base eleitoral de uma das lideranças mais exuberantes do partido, o senador Arthur Virgílio, o desempenho só não é pior que em 2004, quando o filho do senador mal passou de 3% ao disputar a prefeitura da capital.

Nas três maiores cidades do Nordeste, o PSDB só tem candidato próprio em Salvador, onde, aliás, tem chance real de vitória, mesmo em uma eleição tão disputada como deve ser a da capital baiana. Em Recife e em Fortaleza, os tucanos apóiam candidaturas de outros partidos, o que chega a ser surpreendente, pois a primeira é a base eleitoral do presidente da sigla e a segunda a sede de um dos mais influentes núcleos regionais do PSDB.

Restam Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, os três principais colégios eleitorais do país. No Rio, onde venceu eleições majoritárias no passado, o PSDB não tem candidato a prefeito e integra a chapa de Fernando Gabeira.

A respeito de São Paulo, todos sabem: o PSDB tem grande chance de vitória, com Alckmin, com reflexos ainda pouco claros sobre 2010. O próprio ex-governador, vencendo, sai da corrida para indicação do candidato a presidente. Perdendo, mais ainda. Serra já perdeu, qualquer que seja o vitorioso. A dúvida é quanto essa derrota vai repercutir em sua declarada intenção de ser o candidato de seu partido.

Em Belo Horizonte, um paradoxo: o PSDB optou por não ter candidato, mas o governador Aécio Neves tem tudo para ser o grande vitorioso, dentro do PSDB, na eleição deste ano. Para isso, basta que o candidato do PSB, que apóia, confirme, nas urnas, o prognóstico de quem entende de política mineira.

Com Aécio e Beto Richa, o PSDB muda de geração e de geografia.

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


MODELO BURRO QUANDO FOGE
Dora Kramer


À falta de condições morais para decretar um recesso “branco” durante a campanha eleitoral depois de duas semanas de folga até praticamente a véspera das férias do fim do ano, o Congresso optou por uma solução de cor indefinida.

De burro quando foge. Algo entre o cinzento e o bege, sem matiz nítido, mas preciso como tradução do espírito da coisa.

Suas excelências querem licença para fazer campanha nos Estados de origem - ou, como diz o presidente do Senado, Garibaldi Alves, cumprir seu “dever cívico” -, mas perderam aquela ousadia de antigamente quando decidiam as coisas com um ar de “e daí?” para a sociedade.

Rodaram, viraram, mexeram, fizeram uma reunião para decidir o figurino do embrulho e apresentaram a solução alegadamente ponderada: o Parlamento funciona, mas em termos.

Trabalha normalmente uma semana em agosto, outra em setembro e, no meio tempo, faz um rodízio e só vota o que for da concordância de todos os partidos.

Quer dizer, não vota nada. A invocação do consenso é uma das formas conhecidas de obstrução dos trabalhos quando é de interesse do colegiado.

Isso durante dois meses em que a política fervilha País afora e, ali ao lado, no Supremo Tribunal Federal, decidem-se questões tais como a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, a Lei Seca, a política de cotas nas universidades, o caso do ex-ministro Antonio Palocci, lei de imprensa, uso de algemas durante prisões e julgamentos.

Se senadores e deputados consideram mais importante fazer o papel de pastor de ovelhas da paróquia que acompanhar e marcar posição institucional a respeito de temas como aqueles - fora as atividades legislativas normais para os quais foram eleitos -, que reunissem argumentos consistentes para convencer o cidadão de que a mercadoria vale a despesa.

Como sabem que não é nada disso, que o eleitorado não tem nada a ver com as necessidades político-provincianas de cada um, arrumam um atalho para chegar ao mesmo ponto. Haverá recesso extra, ainda que a função de cabo eleitoral não esteja descrita em lugar algum do capítulo da Constituição que define as atividades dos legisladores.

Seria uma decisão de cada um. Mas com as conseqüências cabíveis: licença formal com suspensão de pagamento, ou falta deliberada e conseqüente desconto no fim do mês. Com a saída encontrada querem tudo: manter as prerrogativas e ainda contar com o aplauso da população.

Ora, sobre esses esforços ocasionais sabemos que de concentrados só têm a displicência.

Quando fala em “dever cívico” o presidente do Senado só pode estar brincando, pois o único dever de civismo exigido do Parlamento é cumprir sua tarefa.

Por exemplo, poderia dedicar esse tempo para mudar a lei das elegibilidades ao invés de assistir calado ao Supremo Tribunal Federal decidir hoje sobre o destino dos candidatos “fichas-sujas”.

Melancia

No afã de não sucumbir a uma polarização entre nomes consagrados como os de Marta Suplicy e Geraldo Alckmin, o prefeito Gilberto Kassab - na avaliação da própria campanha - cometeu tolices na largada.

As prioridades continuarão sendo aparecer, aparecer e aparecer. Mas já se chegou à conclusão de que há maneiras e maneiras de o prefeito lutar para não ser ofuscado pelas estrelas adversárias.

A pior é pôr a máquina da prefeitura para produzir resultados eleitorais. A melhor, na concepção da assessoria dele, é usar os resultados administrativos para “puxar” Marta para esse campo de debate.

Daí a opção por lançar “desafios” à ex-prefeita com comparações entre as duas gestões. A petista viu a isca e até agora não respondeu a nenhum deles, mas a idéia é persistir.

Faltam dois meses para a eleição e há 60 desafios já preparados para chamar diariamente a oponente à luta. Se Marta Suplicy aceitar a provocação, tanto melhor para Kassab.

Se não aceitar, como parece por enquanto mais lógico, ainda assim o pretendente a duelista garante destaque no noticiário da campanha.

Quanto pesa

Com todo o respeito que a Comissão de Ética Pública da Presidência da República não merece do governo, trata-se de mera embromação a “análise” dos conselheiros sobre as condutas da ministra Dilma Rousseff no caso da venda da Varig, e do chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, nas conversas gravadas com o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh sobre as investigações da Operação Satiagraha.

A comissão hoje vale quanto pesam suas decisões, nada.

Desde que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, pôde debochar por meses do parecer sobre a incompatibilidade do acúmulo dos cargos de ministro e presidente de partido (PDT), a comissão passou oficialmente à categoria dos supérfluos.

Seja qual for sua posição sobre Dilma e Gilberto, não fará a menor diferença.

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


Nas Entrelinhas
DIÁLOGOS ENTRE A CRUZ E A ESPADA
Luiz Carlos Azedo


O diálogo com os militares sobre a abertura dos arquivos da repressão e os desaparecidos no regime militar não é uma missão impossível desde que sem revanchismo e no contexto de uma nova política de defesa que valorize as Forças Armadas

Os seqüestros, torturas e assassinatos de oposicionistas por órgãos de segurança do regime militar são um tema da transição à democracia que, lamentavelmente, 20 anos depois da Constituinte, ainda não tem um ponto final. Não resta dúvida de que o debate sobre o assunto foi reaberto da pior forma possível pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. Seus colegas de Esplanada não sabem o que passou pela cabeça do ministro ao fazê-lo. Uns acham que ele tentou torpedear a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, uma ex-guerrilheira. Outros, que o ministro apenas falou o que não deveria para agradar uma platéia de militantes do movimento de defesa dos direitos humanos. Em qualquer hipótese, meteu os pés pelas mãos, apesar de certa simpatia da opinião pública à tese de que ex-torturadores devem ser punidos, como no Chile e na Argentina.

O problema

A exegese (interpretação crítica de textos e palavras) da Lei da Anistia é uma prerrogativa do Judiciário. Cabe ao Executivo, principalmente ao Ministério da Justiça, cumprir seus dispositivos. É atribuição do Supremo Tribunal Federal (STF), se provocado, pôr um ponto final nessa polêmica jurídica. Mas não houve ainda um pronunciamento oficial do governo sobre o tema, apesar das declarações categóricas do ministro da Defesa, Nelson Jobim, de que a Lei da Anistia é um assunto resolvido. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixa prosperar a polêmica, que esgarça as relações com os militares.

Na verdade, o problema do governo não é a Lei da Anistia, é a abertura dos arquivos das Forças Armadas e do Itamaraty, que têm muitos esqueletos guardados desde a Guerra do Paraguai e a Conquista do Acre. Esses arquivos continuam inacessíveis porque se teme que os dois países vizinhos reivindiquem reparações, inclusive territoriais. Se não há transparência sobre esses dois vetustos assuntos, por que haveria sobre o paradeiro dos corpos dos oposicionistas mortos na tortura? Se os arquivos foram incinerados, como alegam os comandantes militares, cadê a ordem para fazê-lo? Quem assinou? Qualquer funcionário público sabe que ninguém elimina documentos oficiais sem ordem por escrito, que dirá um oficial das Forças Armadas.

O desafio

O caso dos desaparecidos é imorredouro porque seus descendentes estão vivos e guardam um luto que não acabará enquanto o paradeiro de seus corpos não for esclarecido. Não é a dor física das torturas, é a dor visceral de uma mãe ou de um filho que não pôde enterrar seu ente querido, de uma viúva ou dos netos que não podem ir ao cemitério e chorar no Dia de Finados. Abrir os arquivos e entregar os restos mortais dos desaparecidos às suas famílias, simbolicamente, encerra o assunto. A discussão sobre a revisão da Lei de Anistia, na prática, é um obstáculo a isso. A tortura nos cárceres da ditadura era de conhecimento do Alto Comando das Forças Armadas e há uma cadeia de solidariedade que, ainda hoje, protege os agentes dos órgãos de repressão envolvidos com a tortura. É nesse aspecto que o debate aberto por Genro foi inoportuno e desastrado.

O diálogo com os militares sobre os arquivos da repressão e os desaparecidos no regime militar não é uma missão impossível desde que sem revanchismo e no contexto de uma nova política de defesa que valorize as Forças Armadas. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, trabalha nessa direção. Recentemente, produziu um texto importante para o reposicionamento do Exército, da Marinha e da Aeronáutica na agenda nacional. Vale lembrar as negociações entre os militares e o alto clero da Igreja Católica brasileira no auge da repressão à luta armada, durante o governo Médici. São descritas no livro “Diálogos na sombra — bispos e militares, tortura e justiça social”, do historiador norte-americano Kenneth P. Serbin, da Universidade de San Diego (EUA).

Secretamente, oficiais das Forças Armadas e bispos da Igreja Católica, entre 1970 e 1974, numa Comissão Bipartite chefiada pelo general Antônio Carlos Murici e pelo cardeal dom Eugênio Sales, arcebispo do Rio de Janeiro, trabalharam intensamente para evitar o sumiço de presos políticos e combater a tortura nos quartéis. Graças à comissão, muitas mortes foram evitadas. E foi esclarecido o caso de quatro soldados que foram torturados até a morte por oficiais do Exército, em janeiro de 1972, em Barra Mansa. Os jovens não eram “subversivos”, e os criminosos foram condenados em janeiro de 1973 pela própria Justiça Militar.

DEU NO VALOR ECONÔMICO


CANDIDATA IN PECTORE
Rosângela Bittar

Neste momento, agosto de 2008, quando ainda faltam dois anos para o início legal da campanha presidencial que vai escolher o sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, todos os seus interlocutores políticos, do PT e aliados, chegaram a um termo consensual: Lula já se fixou no nome da ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, para representá-lo na disputa. A ministra não divide mais as listas de preferência com o candidato do PSB, Ciro Gomes, nem se incluem entre as possibilidades os petistas ministros Tarso Genro (Justiça), Fernando Haddad (Educação), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social).

Genro continua sendo uma espécie de candidato de si mesmo e a paciência geral com isto, do Presidente à ministra, teria chegado ao limite. A candidatura Fernando Haddad sim, é obra de Lula, mas teria o conceito de balão a ser desinflado no momento em que não for mais necessário preservar a ministra com um escudo interno, deixando-a finalmente isolada no pódio. Inclusive, Haddad está em uma frente, a da Educação, sem grande poder de mobilizar o eleitorado, mais sensível a benefícios na veia, como o Bolsa Família, ou a promessas de obras de arrasar. A avaliação do governo sobre Patrus, colocado no front no início da corrida, é de alguém que não soube usar os instrumentos que tinha em mãos para viabilizar-se.

Nos partidos aliados, o nome considerado para a equação de Lula foi sempre Ciro Gomes, embora o PSB lembrasse em várias ocasiões a possibilidade Eduardo Campos, que ninguém acredita trocará o governo de Pernambuco por uma aventura federal. Hoje, porém, mudou muito a visão que havia no Palácio do Planalto sobre a candidatura Ciro. Em alguns gabinetes próximos ao presidente, ainda se diz que a chapa tanto pode ser Dilma-Ciro como Ciro-Dilma, mas esta inversão está cada vez mais distante no horizonte. A candidata in pectore é Dilma. Até como vice teme-se Ciro Gomes. Diz-se que poderia, como é de seu perfil político, criar problemas para a candidata como já criou para si em outros carnavais eleitorais. Ciro, hoje, está citado nas avaliações mais como um dado eleitoral eventual, de pura e simples soma de votos, do que como um projeto político definido.

Existem, entretanto, duas hipóteses de candidatos que, embora não sejam ameaça efetiva hoje, podem retardar a consolidação definitiva do nome de Dilma. Uma, é Marta Suplicy. Se vencer as eleições para a Prefeitura de São Paulo, avalia-se no PT, seu grupo não se conformará em vê-la longe da disputa presidencial. Outra é o ex-ministro e atual deputado Antonio Palocci. A depender da decisão que tomará o Supremo Tribunal Federal no processo de quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo. Se não houver provas contra Palocci, ele volta ao governo e, daí, à chance infinita. São, porém, horizontes cercados de nuvens, que podem até se desfazer se a candidatura Dilma, trabalhada com grande antecedência pelo presidente, estiver à época consolidada.

Transferência de votos é, no mínimo, de 20%

Há satisfação no Planalto com o fato de a ministra, ainda tão longe da exposição na TV, partindo do zero, ter atingido 9% nas pesquisas de intenção de voto. Lula acha isto uma verdadeira proeza, resultado da associação de Dilma com sua imagem, e está satisfeito com o fato de a ministra ter tomado gosto pela política depois de ter sido vista, durante todo o primeiro mandato, como uma técnica inflexível. Para Lula, esta primeira fase do projeto já deu certo.

Tudo o que a ministra faz, hoje, está monitorado pelo publicitário João Santana e pelos conselheiros políticos do presidente. Foram eles, por exemplo, que a aconselharam um certo recolhimento, quando começaram a surgir escândalos que a envolveram, tais como o dossiê preparado na Casa Civil contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua mulher, Ruth, sobre uso de cartões corporativos, e as denúncias de favorecimento ao compadre do presidente, o advogado Roberto Teixeira, em negócios da aviação civil. Passado o risco, a ministra voltou a ocupar o centro da cena.

Até o PT, que resistia muito até há pouco, está apoiando Dilma ao constatar que ela é a candidata do presidente. O partido fez, inclusive, uma pesquisa, este mês, para avaliar a transferência de votos e, com base nos resultados, chegou à conclusão ser balela a recorrente assertiva de que a transferência de votos não existe no Brasil. Existiria, sim, para alguém com uma popularidade inédita como a de Lula.

Os exemplos, da história remota ou recente, são realmente de dificuldades insuperáveis. Eurico Dutra quis Otávio Mangabeira, o PSD apresentou Cristiano Machado e ele teve que entregar o governo a Getúlio; Café Filho assistiu à derrota de Juarez Távora; Juscelino Kubistcheck tinha em Juraci Magalhães seu preferido, o PSD foi com o Marechal Lott mas Jânio Quadros venceu todos. De José Sarney, Ulysses Guimarães, por pressão de Waldir Pires, seu vice, recusou o apoio. Tantos fugiram que o presidente acabou sem candidato, embora em certo momento dissessem que estava com Iris Resende. O Plano Real impôs Fernando Henrique e não deixou a Itamar Franco a opção de pensar em alguém para chamar de seu. Fernando Henrique não conseguiu eleger o nome do seu partido, o então bem sucedido ministro da Saúde com sólida biografia, José Serra.

A pesquisa do PT aponta que o presidente Lula pode transferir, no mínimo, 20% dos seus votos a quem indicar como seu sucessor. No partido, afirma-se como irresistível um apelo do presidente, por exemplo, no Nordeste: "Estão satisfeitos comigo? Querem continuar? É ela". É impossível, nesta avaliação, o candidato de Lula ficar fora do segundo turno.

Todas as exceções às regras impostas aos membros do governo não valem para Dilma. Ela pode fazer campanha, agora e sempre, onde quiser, para quem quiser. Tem lugar cativo nos palanques Brasil afora para relançamentos e inaugurações do programa de obras ou reuniões políticas. É o processo, em tempo real, da transferência dos votos a ser conferida.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

DEU NA FOLHA DE S. PAULO


UM PROJETO, TRÊS MODOS DE USAR
Clóvis Rossi


SÃO PAULO - Cruzaram-se na segunda-feira, em Buenos Aires, três presidentes com um sonho comum, mas com maneiras de entendê-lo diferentes, uma delas bastante diferente, aliás. O sonho é o da integração sul-americana (ou, mais amplamente, latino-americana).Os presidentes -e seus modos de sonhar o sonho- são:

1 - Luiz Inácio Lula da Silva - Não escondeu que quer fazer da América do Sul um conglomerado tão integrado quanto a Europa, nominalmente citada como "beleza". Mas essa América do Sul servirá para integrar-se ao mundo, com mais força, pelo menos teoricamente. Não por acaso, Lula lembrou que só Brasil e Argentina juntos têm 230 milhões. Poucos países abrigam tanta gente. Menos ainda contam com um setor agrícola tão competitivo como os dois sócios principais do Mercosul, fato também lembrado por Lula.

2 - Hugo Chávez - A idéia de um destino comum é idêntica. Em comício na noite de anteontem, ao lado da presidente Cristina Fernández, chegou a dizer que Argentina e Venezuela são um só país. Mas a integração funciona, na sua cabeça, como antídoto aos venenos do capitalismo. A "Pátria Grande" latino-americana integrar-se-ia a partir do socialismo do século 21. Enquanto Lula pensa em cooperação, Chávez fala em confronto.

3 - Cristina Fernández de Kirchner fica no meio do caminho. No atacado, segue o projeto Lula, desde que a Argentina tenha tempo e condições para recuperar sua indústria, dizimada, é sempre bom lembrar, não pelos Kirchner nem por políticas esquerdistas, mas pela direita.Nas presentes condições de temperatura e pressão, se algum desses projetos tem chance de emplacar, é o de Lula. Nele cabe o de Cristina, mas não o de Chávez. Nem é juízo de valor. São fatos da vida.

DEU NO JORNAL DO BRASIL


CAMPANHA CUSTA A PEGAR
Villas-Bôas Corrêa


Como os veteranos calham- beques que são peça de museu e que custavam a pegar nos dias frios, obrigando o motorista a atléticas proezas para rodar a alavanca até a explosão que anunciava o êxito da operação, também a campanha para a eleição municipal de prefeitos e vereadores só agora começa a dar o ar da sua graça em raras cidades espalhadas pela imensidão do país.

A pobre coitada não tem nenhuma culpa pelo desânimo da imensa maioria da população ou pelo desligamento do eleitorado. E não é motivo para espanto, surpresa ou o clássico jogo-de-empurra das responsabilidades.

Pois o espanto caberia se o povo estivesse na rua acompanhando os candidatos na caçada ao voto, seja nos rastros das favelas dominadas pelos chefes do tráfico ou nas praças e ruas em que os transeuntes apertam o passo para dar conta das suas obrigações. Mas um pouco de otimismo faz bem à saúde. Daqui a duas semanas começa o horário eleitoral no rádio e redes de TV com o desfile de candidatos, a maioria com minutos e segundos para o recado ao eleitor.

Comícios mesmo de lotar praças ou grandes espaços só lá para meados de setembro quando a polarização selecionar os favoritos, com o descarte dos que podem abreviar a volta para casa.

Mas estamos com uma novidade na praça que ainda não foi absorvida nem convenientemente avaliada. Não é mesmo de causar surpresa, mas a sua confirmação acrescenta o molho à paçoca insossa: o presidente Lula proclamou aos quatro ventos que vai entrar de sola na campanha dos candidatos do seu partido e das alianças governistas.

Escolheu o dia, a hora e o local: em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, berço do PT e da sua liderança sindical que o levaria à Presidência da República para os dois mandatos. E imprimiu ao seu desempenho a ênfase de quem anuncia a descoberta de outro mundo: vai participar dos comícios dos candidatos do PT e também dos palanques da candidata Marta Suplicy à prefeitura da capital.

Um adendo pela contramão da negativa: "Não pensem que eu não vou fazer porque eu vou fazer". E quem duvida? Era apenas o gancho para a reafirmação do que fazia cócegas no gogó: "quero dizer para vocês, escrevam: eu vou fazer a minha sucessão, vamos eleger uma pessoa da nossa confiança para dar seqüência a tudo que nós fizemos; para criar mais empregos do que eu, para tratar dos pobres e dos trabalhadores melhor do que eu".

Como a modéstia não é sabidamente um dos seus pecados, Lula recuou da promessa que não mais alfinetar o seu antecessor FHC, na alusão transparente de que "ele não pode errar, mas qualquer presidente pode errar. O cara erra, fica quatro anos (ou oito?) vai embora para o exterior dar aula"... Se ele errar "vai levar mais 500 anos para fazer outro peão presidente da República".

Aqui o presidente pisou na poça da contradição. Pois se a ministra chefe do Gabinete Civil, Dilma Rousseff é a escolhida que o presidente saudou com o pedido público de "tratem bem da minha candidata", entre os seus reconhecidos e proclamados méritos não se inclui a de amazona.

Todos entenderam a prioridade presidencial e a escolha da ministra Dilma Rousseff para a opção no teste preliminar do seu desempenho, medido pelas pesquisas.


Murchos, com a frustração estampada na fisionomia, os mais espertos saltaram da garupa: o ministro Tarso Dutra, da Justiça, anunciou que pretende concorrer ao governo do Rio Grande do Sul ou a uma vaga no Senado; Marta Suplicy sonha com o novo mandato de prefeita de São Paulo. E os outros, quem são mesmo os outros?

DEU EM O GLOBO


A CLASSE MÉDIA VAI AO PARAÍSO
Merval Pereira


NOVA YORK. O estudo da Fundação Getulio Vargas que revela que a classe média brasileira passou a ser maioria, incluindo quase 52% dos cidadãos, coloca o país com a mesma proporção dos Estados Unidos, onde recente pesquisa do Pew Research Center identificou 53% de cidadãos que se dizem de classe média. O crescimento da classe média brasileira, por outro lado, confirma um estudo da Goldman Sachs sobre a explosão da classe média mundial. Organizado pelo seu economista-chefe, Jim O"Neil, criador dos Bric, o estudo estima que nada menos de dois bilhões de pessoas, ou 30% da população mundial, estarão na classe média em 2030.

Dos países que formam a sigla Bric, China e a Índia têm o papel mais importante neste cenário, mas também o crescimento da classe média brasileira está previsto, ficando de fora apenas a Rússia. O crescimento constante da renda e do poder de compra nos próximos 20 anos fará com que, segundo a Goldman Sachs, por volta de 2050 esses três países e outros seis do grupo denominado Next-11 respondam por cerca de 60% do PIB mundial, medido pela paridade de poder de compra (PPP em inglês): Egito, Filipinas, Indonésia, Irã, México e Vietnã.

Confirmando os estudos divulgados em 2003 sobre os países que dominarão a economia mundial no futuro, a Goldman Sachs prevê que Índia, Brasil, Rússia, Indonésia, México e Turquia substituirão Japão, Alemanha, França, Itália, Espanha e Canadá no ranking das dez maiores economias do mundo em 2050.

Ao contrário do que acontece em muitos países desenvolvidos, inclusive nos Estados Unidos, onde a classe média tem reduzido seu poder de compra, a Goldman Sachs vê um movimento contrário nos países em desenvolvimento, onde estaríamos diante de uma explosão sem precedentes, inclusive com uma melhora generalizada na redução das desigualdades sociais.

Segundo o estudo da Goldman Sachs, o crescimento da classe média a nível mundial está levando a mudanças econômicas, sociais e políticas a nível não visto desde a segunda metade do século XIX, quando do surgimento da classe média nos países desenvolvidos.

No estudo da Fundação Getulio Vargas, a classe média brasileira é formada por uma renda mensal entre R$1.069 e 4.951. No estudo da Goldman Sachs, com base na paridade do poder de compra, a classe média dos países emergentes é medida por um salário anual que vai de US$6 mil (cerca de R$9.600) a US$30 mil (cerca de R$48 mil). Nos Estados Unidos, a classe média vai desde US$20 mil por ano (cerca de R$32 mil) até US$100 mil (cerca de R$160 mil).

No entanto, segundo recente pesquisa do Pew Research Center, a classe média, tida como motor do desenvolvimento e decisiva nas eleições, passa por momentos difíceis nos Estados Unidos, ou pelo menos alguns de seus grupos.

Para começar, a pesquisa encontrou não uma, mas quatro classes médias, cada qual com hábitos, comportamentos e situações financeiras distintos, e muitas vezes colidindo com os estereótipos criados em torno da imagem do que seria a classe média.

A camada superior da classe média americana, chamada no estudo de "Topo da Classe", tem predominância de homens, bom nível de educação, mas desproporcional, e é segura financeiramente. Este é o maior grupo dos quatro, abrangendo cerca de 1/3 da classe média.

Cada membro seu ganha pelo menos US$50 mil por ano, média de vencimentos que nenhum membro de um outro grupo, a "classe média batalhadora", ganha.

Os "batalhadores", na maioria mulheres e representantes de minorias, "sentem-se" classe média, mas muitos deles têm mais em comum com a classe baixa do que com os outros três grupos que formam a classe média. Às vezes, têm uma renda familiar menor do que alguns entrevistados que se colocam na parte inferior do estrato social.

Cerca de 1/6 dos entrevistados se incluiu nessa categoria, que é caracterizada principalmente pela falta de dinheiro. Cerca de 30% têm renda familiar anual de menos de US$10 mil.

Se comparamos seus vencimentos com os dos que, na mesma pesquisa do Pew Research Center, se identificam como "classe baixa", a situação fica ainda mais estranha, pois entre os menos afortunados americanos, menos que 1/3 tem renda familiar anual menor que US$20 mil.

Esse grupo ainda tem duas outras características que o distinguem dos que compõem a classe média: é o único em que a maioria não tem casa própria, e também o que tem a menor proporção de membros casados, apenas 23% deles, comparados com 53% da classe média.

O terceiro grupo é chamado de "classe média satisfeito", que se caracteriza por ter tudo, menos dinheiro. A renda comparativamente modesta não alterou a visão otimista do futuro de seus membros e a satisfação com a vida de maneira geral.

Esse grupo tem proporções iguais de velhos e moços, com 34% acima de 65 anos e 31% abaixo de 30. Quase 40% são aposentados e 57% deles já pagaram a sua casa. A grande maioria (84%) tem renda familiar anual entre US$20 mil e US$50 mil.

O último grupo, denominado "classe média ansiosa", que responde por cerca de 23% da categoria, é o mais caracteristicamente classe média de todos, pelos padrões de renda, educação, idade, emprego e situação familiar.

Ao mesmo tempo que têm algumas das vantagens dos que estão no topo da classe média, têm o mesmo sentimento negativo dos que compõem a "classe média batalhadora".

Embora ninguém nesse grupo ganhe menos do que US$30 mil por ano, e pelo menos 1/3 tenha renda familiar superior a US$75 mil anuais, o "classe média ansioso" é o mais inclinado entre todos os membros da classe média americana a se declarar descontente com a situação do país, e apenas 16% deles estão "altamente satisfeitos", índice que é a metade da média da classe de maneira geral.