quarta-feira, 18 de março de 2009

Pessoas e idéias

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS

“A única opção de Dilma é ser a candidata que vai continuar um trabalho mais amplo, de todo o governo. Se permanecer ancorada no PAC, ela não só pagará por seus percalços (que ameaçam ser grandes), como correrá o risco de acentuar uma imagem excessivamente tecnicista”

A respeito dos conteúdos que defenderão em suas campanhas, os candidatos do PT e do PSDB à Presidência da República em 2010 não têm muito em que pensar. A forma final do que vão dizer só será definida perto da eleição, mas é pequena a margem para variações em relação ao que conhecemos hoje.

Do lado do governo, a ministra Dilma seguirá seu destino de candidata da continuidade. Quando a escolheu, Lula queria alguém que fosse, em suas próprias palavras, uma gerente disposta a prosseguir o trabalho que está em curso. Ela se empenha nessa tarefa desde já, mas não é algo que tenha sua marca.

Agora, quando faltam apenas 15 meses para o início oficial da campanha, é tarde para construir a biografia da ministra. Mesmo se houvesse mais tempo, seria difícil consolidar a tese da “mãe do PAC”, até pelo caráter do programa e sua complexidade. Ele é exageradamente heterogêneo para servir de fundamento a uma identidade política, ao se desdobrar em muitas dezenas de ações de alto custo, execução demorada e pequena visibilidade.

Políticos costumam ser lembrados quando fincam suas bandeiras em coisas mais palpáveis, mais concretas aos olhos da população (mesmo que não o sejam). Brizola e a educação, Sarney e o leite, Collor e os marajás, Serra e os genéricos. Nos governos estaduais e municipais, os exemplos são muitos.

Como ministra palaciana, a única opção de Dilma é ser a candidata que vai continuar um trabalho mais amplo, de todo o governo. Se permanecer ancorada no PAC, ela não só pagará por seus percalços (que ameaçam ser grandes), como correrá o risco de acentuar uma imagem excessivamente tecnicista. São números demais, tecnicalidades demais, explicações demais que precisam ser dadas.

Não se está aqui subestimando a capacidade dos marqueteiros do Planalto. Mas é uma missão complicada, da qual, talvez, o melhor seja escapar, libertando-a do PAC. Se tudo no governo tem a cara de Lula, para que perder tempo, procurando, inutilmente, algo capaz de lhe dar uma identidade?

É, portanto, bem claro o que dirá a ministra depois que se tornar, de direito, candidata. Sua proposta será de continuidade difusa, de “tudo que está dando certo”. As joias da coroa também são conhecidas: Bolsa Família, ProUni, expansão do crédito, os bons resultados da Petrobras, as promessas na habitação (se viabilizadas até lá).

Do lado tucano, permanece a discussão em torno do nome, se Serra ou Aécio, mas muito do que qualquer um deles vai dizer se pode antecipar. O tom vai depender do candidato, mas não as propostas mais fundamentais.

O grande argumento do PSDB virá de encaixar os oito anos de Lula em uma história que começou com o Real e com um modo de administrar a economia que trouxe o país aonde está hoje. A campanha vai, muito provavelmente, reconhecer avanços do atual governo, especialmente na área social, evitando que seja percebida como inimiga de programas populares, como o Bolsa Família. Mas vai dizer que a melhora da economia, do emprego e da renda observadas nos últimos anos são obras que nasceram nos governos tucanos.

Sua ênfase será, portanto, no que há pela frente, no que pode ser feito, no que pode mudar e melhorar. Nas eleições, são muitos os que se sensibilizam com um discurso assim. Que o preferem às propostas de continuidade.

Resta saber o que vai acontecer com a crise internacional nos próximos meses. O eleitor se parece com um jogador de pôquer: quando as cartas que tem na mão são ruins, ele pede para trocá-las, se possível, todas; quando são médias, guarda algumas e troca outras; quando se acha satisfeito com as que tem, para que pedir outras?

Com as voltas que a política deu de 2002 para cá, o PT, que era a aposta de risco, terá se tornado a opção de quem tem medo de mudar? E o PSDB, que representava a escolha de segurança, se tornado a de quem aceita mais incerteza?

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