quinta-feira, 16 de abril de 2009

O muro, aí como aqui

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


PORT OF SPAIN - Saio do Brasil com a polêmica sobre o muro em torno de uma favela carioca comendo solta. Chego a Port of Spain, em Trinidad e Tobago, com a polêmica sobre o muro para esconder uma favela comendo solta. Ah, América Latina, quando se fecharão suas veias eternamente abertas, para citar o clássico de Eduardo Galeano?

O "Miami Herald" visitou o muro e reproduziu ontem frase de um dos moradores de Beetham Gardens, a favela que está sendo escondida da vista dos chefes de governo que participarão da Cúpula das Américas, a partir de sexta-feira.

"Em todo lugar a que vou, quando digo que sou de Beetham, sou estigmatizado", reclama Anthony Bailey. Troque "Beetham" por "Rocinha", "Buraco Quente" ou qualquer outra favela brasileira e seja bem-vindo ao Brasil, estando em Trinidad e Tobago. O pior de tudo é que os últimos seis anos foram de formidável crescimento econômico para toda a região, possivelmente inédito. Trinidad e Tobago, por exemplo, mal sentiu, até agora, a crise internacional, depois de ter alcançado um índice asiático de crescimento em 2006 por exemplo (12%).

Se ainda assim a pobreza é tanta que é preciso escondê-la, quantos muros mais serão necessários nos anos magros ou de crescimento modesto?

Menos mal que os governantes reconhecem o tamanho do problema. Diz o rascunho do documento final da cúpula: "Continuam existindo profundas e persistentes desigualdades, especialmente na educação, nos níveis de renda, na saúde e no estado de nutrição, na exposição à violência e ao crime e no acesso aos serviços básicos".

Soluções? Também estão no texto, mas parciais e para 2015: "Diminuir pela metade os índices de pobreza" As veias continuarão abertas -e sangrando.

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