quarta-feira, 8 de abril de 2009

Para Ciro, governo Lula faz inflexão para a centro-direita

Raymundo Costa, de Brasília
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O deputado Ciro Gomes disse ontem que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda "vai pagar caro pelos escândalos que estão sendo semeados por aí". Ciro, que é pré-candidato à Presidência pelo PSB, não especificou quais seriam esses escândalos. O deputado disse apenas que se tratava de um "segredo de polichinelo". O ex-ministro da Integração Nacional também se disse "preocupado" com a "inflexão" a centro-direita feita pelo governo com a aliança PT-PMDB.

O Valor apurou que Ciro, entre os "escândalos que estão sendo semeados por aí", Ciro se referia, entre outras coisas, a mudanças feitas pelo relator da medida provisória 450, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A MP autoriza a União a participar de um Fundo de Garantia a Empreendimentos de Energia Elétrica (FGEE). Na visão de Ciro, algumas alterações afrouxaram as licitações para as compras do sistema Eletrobrás. Ele acredita que a "inflexão" para a direita feita pelo governo é que está na origem desses problemas.

Ciro fez essas afirmações num seminário sobre a crise financeira na Universidade de Brasília (UnB). O deputado foi convidado para falar sobre o "papel do Legislativo na crise", que, segundo ele, é zero. "A Câmara não se reuniu para debater a crise nenhum minuto". Ele culpou a imprensa, a quem caberia fazer essa mediação, mas ela estaria mais preocupada com o "escandalozinho".

"A imprensa é uma mediação essencial", disse. Mas segundo o deputado, ela se limita a "ver com esse olho vesgo de quem não tem mais inimigo caricato". O que importa é o "escandalozinho", como o castelo do deputado Edmar Moreira, que o construiu em 1993 e em seguida doou a propriedade ao filho.

Para Ciro, pode-se criticar "o mau gosto do cara", mas como o assunto arrefeceu com as explicações de Moreira, a imprensa foi tratar então de "algo não tão popular" - o fato de o deputado ter contrato de segurança de sua própria empresa com a verba indenizatória paga pela Câmara. "Esse foi o assunto".

Enquanto isso, segundo Ciro Gomes, "uma coalizão cripto conservadora de um certo PMDB com um certo PT aprovou uma medida provisória do Lula que remia dívidas de até R$ 10 mil" e, devido as mudanças feitas no plenário, perdoou também dívidas antigas que causa ao Brasil um prejuízo anual de R$ 7 bilhões. "Assim como já temos o Rambo 8, temos agora também o Refis 8", disse.

Nesse momento, Ciro citou também, como exemplo, a MP 450, votada à mesma época, cujas alterações, em sua opinião, fizeram a Eletrobrás passar a ter "um sistema de licitação frouxa. É uma porta para big escândalos", disse. O deputado fez questão de frisar que o custo de uma turbina para hidrelétricas está na faixa dos milhões de reais.

"E ninguém presta atenção porque está voltada (a imprensa) para a questão ética", disse. O deputado ressaltou que a questão ética é importante, mas que "o problema do parlamento não é a moralidade", questão que, segundo ele, vem sendo tratada de forma a "reduzir a política".

Ataca-se os salários, diz ainda, "quando só quem precisa de salário é político decente". Para o pessebista, "é um horror (...) o pânico que tem uma pessoa decente que convive com esse clima". Ciro disse que é preciso "amar o parlamento", que a "inteligência do Brasil está alí" e que o problema é que "não há esse esforço de pensar num assunto só", como a crise financeira mundial (desde que está na Câmara, lembra-se disso ter ocorrido com a reforma política).

Questionado se será candidato a presidente da República, nas eleições de 2010, Ciro Gomes disse que "gostaria de ser", lembrou que já foi candidato duas vezes (1998 e 2002) e que não iria "abusar da inteligência das pessoas" dizendo desde já que não pensa em disputar. "Seria vexaminoso". Mas acha que ainda é cedo para uma definição, por isso tem procurado se "preservar".

Ciro também foi indagado se gostaria de ser vice numa chapa eventualmente encabeçada pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Respondeu que "vice não se deseja", mas também não pode dizer que não se aceita. "Seria uma desfeita".

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