sexta-feira, 22 de maio de 2009

Barganha do PMDB causa indignação

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti
DEU EM O GLOBO

Os senadores do PMDB Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos reagiram indignados à exigência do partido de comandar a Diretoria de Exploração, a mais cobiçada da Petrobras, para controlar a CPI. "É um escândalo! Deveriam, pelo menos, fingir decência", disse Simon. No Planalto, auxiliares do presidente Lula acusaram o PMDB de tentar "o cúmulo da chantagem".

Para Planalto, PMDB faz chantagem

Partido quer diretoria da Petrobras para controlar CPI e é criticado por Jarbas e Simon

Dois peemedebistas que assinaram o requerimento de criação da CPI da Petrobras, os senadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS) atacaram duramente o próprio partido por, antes mesmo da instalação da comissão, usar a investigação para tentar ampliar seu espaço de influência dentro da estatal. Auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva também reagiram com indignação às pressões do PMDB para tentar obter o comando da diretoria de Exploração e Produção da Petrobras, a mais cobiçada por todos os partidos da base governista.

Nos bastidores, governistas confirmaram uma nova articulação do PMDB para substituir o geólogo Guilherme Estrella - responsável pelas descobertas das maiores reservas de petróleo no pré-sal - por Paulo Roberto Costa, atual diretor de Abastecimento da empresa. Embora vinculado ao PP, Paulo Roberto teria acertado com os peemedebistas sua transferência.

A substituição de diretores foi descartada ontem por integrantes do núcleo do governo. Um ministro chegou a pôr em dúvida a disposição do PMDB de oficializar essa proposta, que foi classificada na Presidência da República como o cúmulo da chantagem. Estrella, indicado pelo PT, é considerado quase insubstituível. Em Pequim, Lula quebrou o protocolo durante solenidade em que foi homenageado na Praça da Paz Celestial ao apresentar o atual diretor de Exploração e Produção da Petrobras ao presidente da China, Hu Jintao, como o "grande descobridor" da camada de pré-sal.

Mesmo indignado, o senador Jarbas Vasconcelos disse que não se surpreendeu com a notícia.

- Infelizmente, não é um fato novo. Ninguém tem direito de se surpreender com as práticas fisiológicas do PMDB. Ainda mais quando vemos o temor do governo em relação a uma investigação como a da CPI. E o pior é que quem está encurralado acaba se submetendo a qualquer tipo de pressão - disse Jarbas.

"É um escândalo! Estou envergonhado"

Para Pedro Simon, se o governo tiver dignidade, não aceitará esse tipo de chantagem.

- Isso é um escândalo! Sinto-me envergonhado. Eles deveriam pelo menos fingir alguma decência.

Diante das reações, o líder do partido, senador Renan Calheiros (AL), tentou desmentir a informação.

- Isso é um completo absurdo! Não é o tipo de relação que temos com o governo e muito menos com o presidente Lula. Quem espalhou essa informação está tentando denegrir a imagem da bancada peemedebista no Senado.

O líder do PT, senador Aloizio Mercadante (SP), disse desconhecer qualquer reivindicação do PMDB na Petrobras. Em sua opinião, não há sentido para o governo substituir um técnico que teve uma atuação fundamental na descoberta das reservas do pré-sal por motivação partidária:

- Se a CPI for para estimular esse tipo de interesses, fará muito mal à Petrobras e ao Brasil.

O fato é que os partidos da base governista ainda não conseguiram se entender sobre a melhor estratégia de atuação na CPI. Por isso, adiaram para a próxima terça-feira a indicação de seus representantes na comissão. Renan, por exemplo, é contra a proposta de Mercadante de indicar os líderes aliados para compor a CPI.

- Não acredito que seja a melhor tática. A consequência será transportar o debate da CPI para o plenário.

Mas Mercadante não descarta a possibilidade de se indicar para a CPI. Segundo ele, há uma pressão de sua bancada para isso. Renan aguarda a volta do presidente Lula ao Brasil para acertar as indicações do PMDB para a CPI da Petrobras. O partido terá direito a três vagas de titular e duas de suplente, assim como o bloco de apoio ao governo.

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