terça-feira, 19 de maio de 2009

BB sobe juros um mês após Lula mandar cair

Felipe Frisch
DEU EM O GLOBO

Dados mostrando que ordem do presidente não surtiu efeito são do BC

Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter decidido trocar o presidente do Banco do Brasil para forçar uma baixa nos juros, o BB subiu as taxas desde a posse de Aldemir Bendine, em 23 de abril. Todas as modalidades de crédito ficaram mais caras. As taxas para aquisição de bens, por exemplo, subiram de 2,09% no dia 15 de abril (semana anterior à demissão de Antonio Lima Neto do BB) para 2,52% ao mês, no último dia 5. No mesmo período, o cheque especial passou de 7,92% a 7,98%. Subiram também o crédito pessoal e o de aquisição de veículos, segundo pesquisa do Banco Central. O BB discorda da metodologia da pesquisa e diz que se trata de taxa média ponderada. Página 15

Juros do BB na contramão

Apesar da ordem de Lula, Banco do Brasil sobe taxas na gestão do novo presidente

Aesperada queda das taxas de juros cobradas pelo Banco do Brasil (BB), com a troca de Antonio de Lima Neto por Aldemir Bendine em abril, ainda não aconteceu. Pelo contrário. O acompanhamento diário do Banco Central (BC) dos juros efetivamente praticados pelas instituições mostra que o crédito ficou mais caro no banco nas últimas semanas. As taxas das quatro principais operações para pessoas físicas — aquisição de bens, cheque especial, crédito pessoal e aquisição de veículos — vêm tendo altas consecutivas semanais, desde 15 de abril.

Bendine tomou posse no dia 23.

No crédito pessoal, por exemplo, a taxa subiu de 2,31% ao mês, no dia 15 de abril, para 2,52%, em 5 de maio. Os empréstimos vinculados à compra de bens foram a única linha em que houve um leve retrocesso na última semana: os juros subiram, em média, de 2,09% ao mês para 2,66% em 29 de abril, e recuaram para 2,52% em 5 de maio, último dado disponível no BC. Embora os bancos divulguem as taxas máximas e mínimas de juros em queda, o levantamento do BC mostra os juros efetivamente praticados, ponderados pelo volume emprestado a cada taxa.

Por ironia, no dia 8 de abril, quando o governo confirmou que trocaria o presidente do BB, o banco encerrava uma semana de queda nas quatro taxas. A alta recente dos juros no BB foi informada no último fim de semana, pela coluna Radar, da revista “Veja”.

Os números chamam atenção quando comparados aos de outros bancos.

Embora as taxas tenham subido em alguns bancos, o BB foi o que teve o movimento mais consistente de elevação, junto apenas com o Bradesco.

No entanto, foi o governo que levantou a bandeira da queda dos juros quando trocou o presidente do BB.

— Vai ter uma política mais agressiva do que a que vinha sendo feita.

Vamos ampliar a concorrência, que no sistema financeiro é incipiente e insatisfatória, e um dos motivos para os spreads elevados — afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, no anúncio da mudança.

BB nega aumento e contesta pesquisa

Para especialistas, o movimento mostra que não é tão fácil reduzir as taxas de uma instituição financeira.

Especialmente quando a inadimplência — um risco que entra na conta dos juros cobrados — está aumentando.

Além disso, é considerado cedo para avaliar a gestão de Bendine. No entanto, a interferência política ainda está no radar dos analistas e é considerada um ponto de alto risco para o BB.

— Isso só demonstra que não é do dia para a noite que se muda a taxa de juros, trocando quem está ocupando a cadeira. Mas é muito cedo para dizer que o governo não terá força para isso, o risco de interferência política continua — diz Eduardo Roche, chefe de análise da Modal Asset.

Para Roche, a ingerência do governo fica clara quando comparados os balanços do primeiro trimestre dos principais bancos privados aos de BB e Caixa Econômica. Enquanto as carteiras de crédito do Itaú Unibanco e do Bradesco cresceram, respectivamente, 25,96% e 26,44% no primeiro trimestre, contra o mesmo período de 2008, as de BB e Caixa explodiram 40% e 52,2%.

Procurado, o BB informou, em comunicado, que “nega com veemência” que tenha elevado juros este ano.

“Os dados divulgados no ranking do Bacen não significam que o BB praticou ou está praticando taxas mais altas ou mais baixas. O ranking divulga a taxa média ponderada, pelos volumes contratados em determinado período, representando um conjunto de operações de crédito”, diz o comunicado.

Já o BC diz que “eventuais variações devem ser explicadas pelas próprias instituições” e que as taxas podem refletir mudanças na “estratégia de atuação” dos bancos.

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