sábado, 30 de maio de 2009

Ideias, apenas ideias

Clovis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - O cientista político espanhol Antonio Elorza resgatou ontem, em coluna para "El País", editorial de quase 50 anos atrás do jornal cubano "Prensa Libre".

Para protestar contra o fechamento, pelo recém-inaugurado regime castrista, do "Diario de la Marina", aliás adversário ideológico de "Prensa Libre", o editorial dizia: "Se se começa perseguindo um jornal por manter uma ideia, se acabará perseguindo todas as ideias". Vale, até certo ponto, para a Venezuela de Hugo Chávez, se seu socialismo do século 21 se mantiver na recaída cada vez mais intensa em uma das mais abomináveis características do socialismo do século 20, a perseguição a ideias.

O mais recente exemplo foi o constrangimento imposto ao escritor peruano Mário Vargas Llosa, instado a não emitir ideias sobre política venezuelana. Antes, Álvaro, o filho de Mário, sofrera idênticos constrangimentos. Diga-se que Álvaro Vargas Llosa é coautor do "Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano", no qual se busca desclassificar todos os que têm ideias diferentes das dos autores, chegadinhos ao mais puro e duro liberalismo.

Em vez de proibir o livro, a melhor reação seria escrever um texto tipo "O Manual do Perfeito Idiota Neoliberal" -livro, aliás, que a presente crise mais que justificaria. Louve-se, aliás, Chávez por ter seguido essa linha ao propor um debate entre intelectuais de direita e de esquerda. Ideias se combatem com ideias, não com a censura, a prisão ou o banimento de quem as difunde.

Aplicada a proposta ao Brasil, os intelectuais chapa branca repetiriam a safada teoria da conspiração que inventaram quando as notícias não eram agradáveis ao chefe? Nem ele acreditou, tanto que pediu desculpas publicamente pelos deslizes do PT. Mas foi a única ideia que essa gente produziu.

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