terça-feira, 9 de junho de 2009

Para Itamar, indefinição de Serra prejudica PSDB

César Felício, de Belo Horizonte
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O ex-presidente Itamar Franco ainda espera uma última conversa com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), agendada para 17 de junho, para selar sua filiação no próximo mês ao PPS. Entrará no partido como um aliado declarado da candidatura do mineiro à Presidência da República pelo PSDB e cobra do postulante com maiores chances de encabeçar a aliança oposicionista, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), uma definição imediata.

"O PSDB hoje só tem um candidato que já disse que deixará o governo, conversa com aliados, coloca-se à disposição para prévias e anunciou que quer ser candidato, que é o Aécio. O Serra estrategicamente permanece mudo. Será que isso é bom, quando já existem candidaturas postas?", indagou.

Segundo Itamar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva antecipou o calendário eleitoral ao trabalhar pela candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pelo PT. "Serra enfraquece o partido dele ao não se dizer candidato e não apoiar quem já diz ser. O PSDB está perdendo tempo", afirmou.

A indefinição tucana, de acordo com Itamar, é o grande fator que alimenta possibilidades de alterações institucionais, como emendas constitucionais prevendo o terceiro mandato de Lula ou a prorrogação da permanência dos atuais governantes por mais um ou dois anos, defendidas por integrantes da base aliada federal. "O pouco tempo para fazer mudanças não as torna impossíveis, porque estamos em um país onde tudo é possível. Onde está a grande voz do PSDB a se erguer contra isso?", perguntou Itamar.

O ex-presidente afirma que a possibilidade de Dilma Rousseff fortalecer-se a ponto de ganhar as próximas eleições presidenciais não pode ser descartada. "Em 1994, ao apoiar Fernando Henrique Cardoso para a minha sucessão, quebrei a escrita de que um presidente no Brasil democrático não faz o sucessor. Mas aquilo se deu não pelo meu prestígio pessoal, mas por circunstâncias econômicas e políticas. Com a Dilma em relação ao Lula é possível se dar o mesmo, dependendo das circunstâncias, e não do Lula. Toda eleição tem um mote. A de 1994 foi o Plano Real, a de 2010 pode ser o PAC", afirmou, referindo-se ao Programa de Aceleração do Crescimento, gerenciado pela ministra.

Ao cobrar pressa na definição tucana, Itamar se alinha com seu futuro partido. Ontem, a assessoria do PPS divulgou uma nota em que sete dos treze deputados federais da bancada pedem uma solução imediata para o impasse na aliança da oposição.

Itamar hoje relativiza a questão regional no processo político. "Um candidato não pode ser paulista ou mineiro, ele tem de representar o sentimento nacional, sem que o peso de um Estado prepondere. Eu mesmo contribuí para a hegemonia paulista em 1994, ao apoiar Fernando Henrique, ainda que a minha primeira opção na época tenha sido o então ministro da Previdência, Antonio Britto", disse o ex-presidente, referindo-se ao político gaúcho que na eleição daquele ano terminou eleito governador do Rio Grande do Sul.

Cotado por aliados de Aécio como um possível candidato a vice em uma chapa presidencial liderada por Serra, o ex-presidente disse descartar a hipótese. "O meu horizonte agora é político, e não eleitoral. E no meu horizonte, o que enxergo é a candidatura presidencial de Aécio, da qual não posso fugir", disse.

Itamar prepara seu ingresso no PPS como um crítico ao presidente Lula que evita comentar temas estritamente administrativos do atual governo. Ataca Lula no plano político. "É muito pedante da parte do presidente ele habituar-se a dizer que "nunca antes" aconteceu isso ou aquilo no Brasil. Ele não tem a humildade de reconhecer não apenas o que eu, mas todos que me antecederam, já fizeram. Será que Juscelino [Kubitschek] não fez nada? Ou [José] Sarney? Tudo que acontece hoje no país é resultado de uma somatória", comentou o ex-presidente.

Itamar lembrou que, como presidente, não interferiu no jogo congressual de CPIs, enquanto Lula articula para que a oposição não tenha a presidência da CPI da Petrobras.

"No governo [Ernesto] Geisel, por iniciativa do oposicionista Paulo Brossard, foi criada uma CPI para se investigar o acordo nuclear. O governo tinha oito dos onze integrantes, mas aceitou que a oposição ficasse com a presidência da comissão", afirmou. Senador pelo MDB na ocasião, Itamar presidiu a CPI. Mas o ex-presidente negou que tenha deixado a Embaixada do Brasil em Roma, em agosto de 2005, em protesto pelas denúncias do escândalo do mensalão que à época ameaçavam a continuidade do governo Lula.

"A minha saída depois de dois anos à frente da embaixada já estava acertada no momento em que aceitei o convite para o cargo", disse. Ainda que ataque o governo no plano político, o ex-presidente demonstrou dúvidas sobre a eficácia da crítica. "A opinião pública hoje não se interessa por isso, por esta questão de CPIs. Vivemos em um tempo em que o interesse das individualidades se contrapõem a um coletivo social. Se vamos ou não continuar vendo esta somatória dos interesses individuais vencendo o coletivo social é uma resposta que teremos em 2010", disse o ex-presidente.

Ao criticar Lula, Itamar procurou elogiar o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que terminou 2005 com o mandato de deputado federal cassado, acusado de ter-se envolvido no mensalão. O ex-presidente lembrou que Dirceu articulou a sua adesão à candidatura Lula em 2002, quando Itamar era governador de Minas Gerais. "Eu e Dirceu sempre tivemos boa relação. Lula deve a Dirceu a sua primeira eleição, não a nenhum marqueteiro. Foram as grandes alianças forjadas por Dirceu, e não a mudança de imagem, que garantiram a vitória dele", disse.

Depois do seu rompimento estrepitoso com o ex-presidente Fernando Henrique, entre 1998 e 2002, Itamar disse que uma reaproximação hoje não é impossível. "Anteontem (ontem) foi o aniversário do desembarque da Normandia, e a segunda guerra mundial ainda nos dá lições. Uma delas é a de que pessoas com uniformes diferentes podem lutar lado a lado, por um objetivo concreto, sem que depois não venham a defender suas posições de sempre e até travar uma guerra fria", disse.

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