sexta-feira, 31 de julho de 2009

A mensagem do Copom

Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Recuperação da economia será lenta e país não deve voltar à excitação dos primeiros trimestres de 2008

NORMALMENTE não leio integralmente a ata do Copom. Ela é sempre longa e, de certa forma, pretensiosa no seu conteúdo. A Marina Santos, do quadro de economistas da Quest, sempre faz um resumo eficiente da ata, ressaltando o que nela há de relevante. Com isso fico sabendo das posições de nossa autoridade monetária.

Mas ontem rompi com essa rotina e li com atenção quase tudo o que foi escrito. Minha intuição dizia que deveria agir assim porque estamos diante de um momento quase histórico na condução da política monetária e queria entender a posição do Banco Central. Afinal o juro real no mercado monetário atingiu o nível mais baixo em muitas décadas. Muitos analistas mostram-se céticos quanto à estabilidade desse juro real mais baixo e apostam em uma volta à situação anterior. Para eles, nada mudou no Brasil que justifique essa euforia. Sempre me posicionei contra isso. Inúmeras vezes defendi junto ao leitor da Folha uma tese oposta.

A economia brasileira mudou muito nestes últimos anos, e uma taxa de juros mais baixa seria um resultado natural dessas mudanças. A questão mais importante seria saber qual o novo nível compatível com esse quadro mais estável da economia. Ninguém "a priori" pode responder a essa questão e somente uma política cautelosa de tentativa e erro nos levará ao menor nível de juros compatível com a estabilidade da inflação.

O nível atual da taxa Selic parece ser um bom início nessa busca. Por isso a decisão, tomada pelo Copom em sua última reunião, de estabilizar a Selic em 8,75% ao ano é correta. Com as expectativas de inflação, para este ano e 2010, estabilizadas em 4,5%, o juro real nela embutida é de 4%.

Muitos argumentam que os juros no Brasil ainda são muito elevados quando comparados aos de outros países. Não concordo, também, com essa posição, embora entenda que ainda há espaço para uma redução maior nos próximos meses.

A taxa de juros reflete as condições internas de uma economia de mercado e essa comparação com terceiros não é um argumento sólido, além de ser perigosa. Por isso entendo que precisaremos de algum tempo para testar esse novo nível de juros reais e, mais à frente, dependendo da reação da economia a ele, fazer um novo ajuste na taxa Selic. Mas minha intuição é que o BC vai manter a Selic estável por um longo período.

A ata da última reunião do Copom passa uma mensagem correta para o mercado financeiro. Seus membros entendem que a redução do juro real realizada nos últimos meses deve ser estável, e não apenas conjuntural. Dizem também que será preciso algum tempo para ter certeza dessa estabilidade.

Por isso o Copom estará nos próximos meses monitorando o comportamento da inflação nesse contexto de juros mais baixos. Palavras sábias, na minha leitura. Alguns outros pontos -esses de natureza conjuntural- me chamaram também a atenção. O mais importante é que o Copom trabalha com uma ocupação gradual da capacidade ociosa de parte da economia ao longo dos próximos meses.

Essa posição se contrapõe à parte do mercado que já vê no ano próximo pressões inflacionárias por conta de um nível menor do chamado hiato do produto. Os mais afobados já preveem inclusive uma rodada de elevação da Selic ao longo de 2010. Não concordo com isso. A recuperação da economia será lenta e não devemos voltar à situação de excitação vivida nos primeiros trimestres de 2008.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

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