quarta-feira, 29 de julho de 2009

Os curingas do Palácio

Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um plano, engendrou a estratégia, bolou a sucessão de procedimentos, colocou tudo em execução sob seu próprio comando e a percepção geral é que atingiu com muita antecedência seus objetivos. A ordem, não explicitada, por desnecessário, está clara: governo e PT, obedeçam, ou saiam de cena. Como ele tem uma popularidade amazônica, instrumentos à mão e ninguém produziu alternativa melhor, os súditos renderam-se às decisões do líder.

A candidata à sucessão presidencial é Dilma Rousseff, portanto uma certeza é que ficará vago o cargo de chefe da Casa Civil da Presidência da República. Também sairá o ministro do Gabinete de Relações Institucionais. E não propriamente dentro da Presidência, mas o cargo político mais importante do governo, sairá o ministro da Justiça. Lula prestará atenção a estes postos, em que se desempenham funções imprescindíveis à formação de uma boa retaguarda, para que possa dedicar-se integralmente à campanha, e o restante do governo seguirá funcionando rotineiramente.

O presidente explicou ao Ministério que precisava lançar a candidatura de Dilma antecipadamente por duas razões. Uma, para ter tempo de colar a candidata às políticas de governo e a si próprio; outra, para reduzir a vantagem inicial do adversário José Serra (PSDB) , com mais de 40% em todas as pesquisas.

A avaliação do presidente é que o objetivo já foi alcançado, e não há nada que exija, no momento, novas antecipações ou açodamento de nenhuma espécie..

Assim, seria cedo, por exemplo, para nomear diretores de campanha, como seus auxiliares pressionam e querem fazer crer que existem; é cedo para definir o novo comando da Casa Civil, que vai controlar o governo enquanto o presidente Lula viaja em campanha Brasil afora; é cedo para definir já o substituto do ministro de relações institucionais que deixará o cargo para integrar-se ao Tribunal de Contas da União; é cedo para a ministra Dilma deixar o governo.

Lula decidiu que ela deve sair no último minuto do último dia de março, limite final para a desincompatibilização. Acredita o presidente que o maior trunfo da candidata é ser a gerente do governo. Sair por aí ao léu, sem estar mais ligada às funções de governo, não lhe renderá os pontos que ganharia na gerência do Executivo, perdendo também o bônus do lançamento antecipado da candidatura.

Com o controle do tempo, o presidente arma opções à sua retaguarda. Para a Casa Civil, namora três nomes da equipe interna: O chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, o ministro da Comunicação, Franklin Martins, e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

O ex-ministro Antonio Palocci saiu da lista de alternativas para a Casa Civil e para as Relações Institucionais, pelo menos por enquanto, porque as análises apontam que, mesmo se for inocentado do crime de quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, o ex-ministro levaria para perto do presidente da República um problema, recolocando o governo no alvo dos ataques de adversários.

Lula, que vetou a possibilidade de Gilberto Carvalho disputar a presidência do PT, atribuiu-lhe novas tarefas e responsabilidades, e tanto pode ir para a Casa Civil como ficar onde está com as atribuições acumuladas. Gilberto delega a César Alvarez, alto funcionário da Presidência, a responsabilidade de cuidar da agenda presidencial, enquanto desempenha as novas funções de articulação com o Congresso, atuação com prefeitos e governadores, missões especiais junto ao empresariado.

Com Franklin Martins o presidente experimenta o mesmo sistema: as tarefas de Comunicação têm ficado com seus assessores enquanto o ministro tem sido chamado cada vez mais a fazer avaliações políticas, trabalhar as relações do governo com a opinião pública e a assumir atividades de confiança que lhe possibilitam fazer coordenações dentro do governo. Seus pronunciamentos em reuniões de coordenação política e ministeriais são bem recebidos pelo presidente e seus ministros. Pode ser transferido oficialmente a outro cargo.

Um terceiro curinga para a Casa Civil é o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que poderá, também, se lhe for determinado, continuar no Planejamento e não se candidatar a deputado em 2010. Como Carvalho e Franklin, que para ficar na retaguarda do presidente teriam altos funcionários técnicos para tocar a máquina, Paulo Bernardo contaria, no comando do PAC, o principal programa sob a coordenação da Casa civil, a atual responsável, Miriam Belchior, e o braço direito de Dilma, Erenice Guerra. Ambas sabem mais do programa que a titular.

A reorganização está sendo preparada para a Presidência. Com os Ministérios não há preocupação. O ministro da Justiça vai sair em janeiro, e há, sim, a possibilidade de ser feito um convite ao deputado José Eduardo Cardozo para o cargo. O deputado não tem interesse na reeleição para a Câmara, angariou a confiança e simpatia da ministra Dilma e poderá se afastar da disputa pela presidência do PT, deixando o caminho livre para a eleição de quem Lula quer ver no cargo, José Eduardo Dutra. Seria também, um ministeriável do governo Dilma, se vier a ser eleita.

Mas é só. Nos demais Ministérios o presidente pretende trabalhar com os secretários executivos. Na última reunião ministerial avisou a todos que não está disposto a abrir um processo de montagem de governo nos últimos nove meses de mandato. Isto significa que aproveitará Secretários Executivos, técnicos, soluções internas. De um deles, inclusive, o presidente não toma conhecimento. Saiu Mangabeira Unger, Lula recebeu uma lista de três nomes para seu lugar mas não demonstra o menor interesse por nenhum deles. O presidente quer fazer pouco movimento interno para fazer muito barulho externo. Porque não perdeu um mínimo de confiança na eleição da sua candidata e, ao contrário, acha que vai bater José Serra de "chicote".

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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