sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A fita

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Em meio à avalanche de informações e contrainformações, uma acusação feita por Sarney no longo discurso de quarta passou quase despercebida: a de que "fraudaram a fita que distribuíram e incluíram o meu nome com a voz de uma outra pessoa...". Mas quem fraudou e distribuiu?

Ele se baseou num parecer do perito Ricardo Molina para o empreiteiro Zuleido Veras, da Gautama, que foi preso pela PF por suspeitas diversas, inclusive de superfaturamento de obras públicas. O parecer tem serventia tanto para Sarney quanto para Zuleido. Conclui que uma fita gravada pela PF, em operações que ora pegam o construtor, ora é o filho de Sarney e ora misturam os dois, contém enxertos e o que Sarney e Veras chamam de "montagens".

A fita é da investigação de fraudes em obras no aeroporto de Macapá, e Veras diz, mais ou menos, que tudo vai dar certo porque Sarney está por trás do projeto. E a PF atribui a Veras a seguinte frase: "Vou chegar na casa do Sarney, já, já".

Molina fala explicitamente em "montagem" no seu parecer, sendo incisivo quanto ao trecho em questão: "não é a voz do interlocutor que se identifica como "Zuleido" na conversação telefônica".


E Sarney e Zuleido Veras juram que o construtor nunca foi à casa do senador.

Da tribuna, Sarney indignado perguntou: "Se foi feito isso, quantas dessas gravações que publicaram aí não foram montadas? Quantas? E onde foram montadas? Quem é responsável por isso?". Para salvar a própria pele, ele acusa a imprensa de fazer campanha contra, acena com dossiês contra senadores da oposição e manda processar deputado do PT. A PF também entrou na linha de tiro?

Todas as perguntas devem ser respondidas pela PF e pelo Ministério da Justiça. Para não parecer que Sarney é simultaneamente defendido com unhas e dentes por Lula e perseguido pela PF, que o presidente é quem comanda, até com fitas fraudadas. E aí?

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