segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Honduras barra a OEA e faz ameaças ao Brasil

Jailton de Carvalho e Ricardo Galhardo
DEU EM O GLOBO

Lula rejeita ultimato que põe em risco imunidade da embaixada brasileira


O governo de Honduras deu ultimato ao Brasil para que decida, em dez dias, o status do presidente deposto, Manuel Zelaya, sob pena de a embaixada brasileira perder sua imunidade diplomática. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu irritado ao comunicado e disse que não acata "ultimato de um golpista". O governo de Roberto Micheletti elevou ainda mais a tensão com a Organização dos Estados Americanos (OEA), ao proibir a entrada no país de uma missão de diplomatas. A pedido de Lula, o chanceler Celso Amorim repreendeu Zelaya por pregar, de dentro da embaixada, a revolta popular no país.

Governo ameaça missão brasileira

Lula reage a ultimato de Micheletti e repreende Zelaya sobre incitação popular

SOLDADOS hondurenhos cobrem pichações pró-Zelaya no muro da embaixada brasileira na capital

UM SEGUIDOR de Zelaya limpa o pátio da embaixada do Brasil, cujas janelas são usadas como varal


Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva rechaçou ontem o ultimado do governo de fato de Honduras para que o Brasil decida, em dez dias, o status do presidente deposto Manuel Zelaya. O governo interino ameaça retirar a imunidade diplomática da embaixada do Brasil em Honduras, segundo informou comunicado da chancelaria hondurenha divulgado na noite de sábado, em Tegucigalpa. Caso não haja uma definição nos próximos dez dias, o governo de Roberto Micheletti, no comando do país da América Central, tomará "medidas adicionais conforme o direito internacional".

"Nenhum país pode tolerar que uma embaixada estrangeira seja utilizada como base de mando para gerar violência e romper a tranquilidade, como o senhor Zelaya está fazendo desde sua chegada ao território nacional", disse o comunicado.

"Nem Pinochet violou embaixada"

Manuel Zelaya está abrigado há uma semana na embaixada brasileira na capital hondurenha. Para Lula, é inaceitável que Micheletti, "um usurpador", ameace o governo brasileiro.

- O governo brasileiro não acata ultimato de um golpista e nem reconhece como governo interino. O governo brasileiro não negocia com ele. Quem tem que negociar é a OEA (Organização dos Estados Americanos) e o Conselho de Segurança da ONU - disse Lula, após se reunir com chefes de Estado na Cúpula América do Sul-África em Isla de Margarita, na Venezuela.

Lula também condenou a decisão de Zelaya de pregar desobediência civil e convocar protestos populares a partir da embaixada. Preocupado com os supostos abusos, determinou que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, telefonasse ao presidente deposto e dissesse que não incitasse protestos de qualquer natureza enquanto ali estiver abrigado. Na última sexta-feira, Zelaya concedeu entrevistas e pediu que a população reagisse ao governo de Micheletti.

- O Celso Amorim ligou anteontem para a embaixada e pediu para o Zelaya não fazer provocações. Obviamente, se o Zelaya extrapolar, nós vamos falar com ele que não é politicamente correto incitação a qualquer coisa - afirmou o presidente, acrescentando que Zelaya é hóspede da embaixada brasileira e lá deverá permanecer até que a ONU e a OEA decidam o que fazer para resolver o impasse.

Lula elevou o tom na resposta à nova ameaça de Micheletti, mas não acredita que o hondurenho cumpra a promessa de invadir ou atacar a embaixada brasileira. Lula lembrou que a embaixada está protegida por leis internacionais e argumentou que, historicamente, embaixadas serviram de abrigo a quem sofria perseguições políticas:

- Nem a ditadura de Pinochet (Augusto Pinochet, ditador chileno), que foi a mais sangrenta de todo o continente, violou uma embaixada.

Por sugestão do governo brasileiro, na noite de sábado, os chefes de Estado que participavam da reunião de cúpula aprovaram uma resolução condenando o golpe em Honduras e pedindo a restituição de Zelaya ao poder.

- Seria muito mais fácil de resolver tudo isso: Micheletti pedir desculpas e ir embora; permitir que o presidente eleito voltasse e convocasse eleições - disse Lula.

Na tarde de ontem, em entrevista coletiva, o chanceler do governo interino de Honduras, Carlos Contreras, falou sobre as "medidas adicionais":

- O direito do Brasil de ter uma missão em Honduras acaba em dez dias - disse ele, que acusou o Brasil de ajuda financeira para trazer Zelaya a Honduras. - Uma coisa é uma pessoa que se encontra em um país e se sente ameaçada buscar refúgio em uma embaixada estrangeira. O que está acontecendo aqui é totalmente inédito porque ele veio de fora, inclusive com patrocínio financeiro.

A ameaça poderia abrir espaço para que a embaixada fosse invadida e Zelaya, capturado, embora Contreras tenha reiterado as garantias de inviolabilidade da representação.

- Algumas interpretações podem dar a impressão de que estamos fazendo uma declaração de guerra ao Brasil, mas é uma situação normal - disse a vice-chanceler, Marta Alvarado.

Contreras ironizou a chance de Zelaya pedir asilo diplomático ao Brasil.

- O Brasil é um bom país para alguém viver exilado. Além de ter um bom futebol - disse ele, que rebateu a declaração de Lula de que não negociaria com um governo golpista. - Pelo menos ele reconhece de forma indireta a existência do governo de Honduras. Pode qualificar como quiser.

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