sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O azar e o porquê

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - A queda de dois aviões Rafale franceses foi provavelmente como a maioria dos acidentes: descuido humano e um baita azar. É improvável que dois aviões da mesma marca, da mesma Marinha, do mesmo porta-aviões tenham sofrido panes separadamente na mesma hora e caído. Ou seja: não é crível que foi falha técnica e que, portanto, os aviões são ruins.

Mas a queda esquenta a discussão sobre o programa FX-2 (de renovação da frota da FAB), pois a aparente decisão de Lula a favor dos Rafale tem muito a ver com a indicação de José Antônio Dias Toffoli para o Supremo. Um ato de voluntarismo explícito, sem a devida correspondência técnica e de argumentos.

Em outras palavras: tanto os Rafale quanto Toffoli parecem carregar uma lista de desvantagens, sem que as vantagens fiquem claras e consistentes. Sabe-se por que não. Não se entende por que sim.

A fábrica Dassault anda mal das pernas, como relata a imprensa francesa. Os Rafale só foram vendidos para as Forças Armadas da própria França, enquanto os F-18 da Boeing (EUA) rodam o mundo. E o preço e a manutenção são bem mais altos do que os do Gripen NG da Saab (Suécia), por exemplo.

Assim como Toffoli só tem 41 anos, não tem mestrado nem doutorado, levou duas bombas para juiz estadual e responde a dois processos na própria Justiça.

Então, por que Lula insiste nos Rafale, a ponto de o presidente da França, Nicolas Sarkozy, se dar ao direito de anunciar publicamente que o negócio já está virtualmente fechado?

Porque o governo brasileiro decidiu fazer uma tal "aliança estratégica" com os franceses.E por que Lula insiste em Toffoli e já está tudo bem amarrado no Congresso e no Supremo para nomeá-lo ministro da mais Alta Corte? Porque Toffoli foi um bom advogado das campanhas do PT.

Ou seja, no duro, no duro, a resposta é uma só: porque Lula quer.

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