quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Coluna do Milton Coelho da Graça

É DIFÍFIL SER JORNALISTA SE
NINGUÉM CONTA A VERDADE

Nunca antes no Brasil e mesmo no mundo se viu coisa igual: o presidente do Banco Central, eleito, sete anos antes, deputado federal pelo principal partido da Oposição, filia-se misteriosamente ao maior partido da base do Governo. Logo depois, viaja 15 mil quilômetros. Para que? Para torcer que o Comitê Olímpico Internacional escolha o Rio como sede das Olimpíadas de 2016 – um momento de grande exposição midiática (e certamente eleitoral) algo que nenhum outro presidente de Banco Central, desde os primeiros Jogos na Grécia, há mais de 20 séculos, achou necessário ou desejou fazer.

Minha mãe me dizia: quando alguém faz alguma coisa escondida é porque não se trata de coisa boa para os outros.

Vamos tentar entender para quem tudo isso pode ser bom, como esses fatos se entrelaçam:

A. O que é que o sr. Henrique Meirelles pretende com a filiação ao PMDB e por que ele condicionou essa filiação a uma prévia conversa com Lula, ocorrida só anteontem, no princípio da noite, no limite para a decisão, véspera da viagem presidencial para Copenhague e incluindo Meirelles na comitiva como carona convidado. É estranho, não?

B. O que o presidente está tramando, quando convence Henrique Meirelles a se filiar ao PMDB e, ao mesmo tempo, garante a todos os nós que Meirelles não deixará o Banco Central até a data-limite para ser candidato nas eleições de 2010? Meio esquisito, não?

C. Por que o presidente Lula conversou também anteontem à tarde (antes do encontro com Meirelles) com o governador Aécio Neves, um encontro com características interessantíssimas? Aécio tinha acabado de conversar, em Belo Horizonte , com Zito, prefeito da cidade fluminense de Caxias. Zito foi lançado candidato ao governo do Estado pela direção do PSDB, depois que a candidatura da senadora Marina Silva à presidência da República, pelo PV, esfacelou a possibilidade de Fernando Gabeira ser o candidato ao governo estadual por uma ampla aliança PSDB-DEM-PPS-PV. Mas Zito se dispôs a abrir mão dessa candidatura em favor da reeleição de Sérgio Cabral Filho, se este apoiasse o candidato do PSDB – de preferência Aécio. Que lambança, hein?

D. Também é engraçado Aécio ter dito à imprensa que essa conversa com Lula já havia sido marcada pelo Presidente para o primeiro dia em que ambos estivessem no Brasil. O jornal VALOR foi o único a conferir a agenda presidencial e descobriu que foi Aécio quem, em cima da hora, solicitara o encontro. Por que essa conversa misteriosa?

Em Goiás, se alguém sabe onde é que esses fatos todos se juntam está com a boca fechadinha. Em Brasília, duvido que mais de três pessoas no Planalto entendam o que está acontecendo. Mas todos, inclusive Lula, só estão por dentro de uma lasca das estratégias de Aécio e Serginho Cabral. Em São Paulo , José Serra deve estar enxergando metade – o que Meirelles quer; o que Alkmin quer com a fuga de seu fiel escudeiro, Gabriel Chalita, para o Partido Socialista; e até desconfia dos acertos entre Aécio e Serginho Cabral (porque sabe que os dois, há muitos anos, são unha e carne). Mas está doido para juntar as peças da outra metade.

A rapaziada da imprensa – eu inclusive – está meio perdida, porque vive de perguntar e ninguém, pelo menos por enquanto, responde verdades. De todo esse povo que mencionei aí em cima, só os médicos de Dilma estão falando tudo aquilo que sabem.

Mas algumas coisas são certas Meirelles vai ser candidato e terá todo o dinheiro necessário para a campanha – seja lá para o que for e muitas vezes mais do que em 2002. Não vai atrapalhar Iris Rezende, senão este teria sumido com,o livro de filiação. D. Dilma está sob forte ataque por conta dos maus resultados nas últimas pesquisas, por isso está gritando para o mundo que continua sadia e guerreira. Michel Temer está doidinho para sacramentar o acordo eleitoral porque já está sentindo o bafo de Quércia nas orelhas. O PSDB está perdidão: sabe que Serra é o melhor candidato em termos eleitorais, mas Aécio lança a sedução de que está se repetindo, 25 anos depois, a mesma diferença entre seu avô Tancredo e Ulysses Guimarães: o paulista Ulysses era o mais combativo, o mineiro Tancredo era mais esperto e flexível nas negociações.

Uma conversa com a esperta repórter Larissa Bittar foi vital para sentir o clima de “estou aqui mas não sei bem porquê” entre os 300 presentes à filiação de Henrique Meirelles no PMDB.

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“Só podemos traçar, calma e sabiamente, nosso futuro, quando conhecemos o caminho que nos trouxe até o presente.”

Adlai Stevenson (1900-1965), candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, em 1956, derrotado por Dwight Eisenhower.

XINGAMENTO NÃO RESOLVE
PARA MELHORAR CONTROLE

Os tribunais de Contas (TCU) não são nenhuma Brastemp. Órgãos públicos de controle contábil não deveriam ser dominados por ex-políticos, muitos dos quais envolvidos em ligações perigosas com lobistas e outros diretos interessados em mordidas excessivas no nosso dinheiro. Em outros países democráticos – e dentro do consagrado sistema de pesos e contrapesos nos controles políticos e administrativos – essa tarefa é entregue a funcionários de carreira, independentes e experimentados na arte de identificar safadezas e malandragens.

Alguns desses tribunais, especialmente o mais importante, o Tribunal de Contas da União (TCU) compensa esse vício de origem - prêmio para políticos - com um quadro profissional de auditores de bom nível. E deve ser respeitado, não acusado de “paralisador de obras”, quando, no cumprimento de sua missão constitucional, determina investigações e eventualmente até suspensão de obras até que sejam esclarecidas as dúvidas sobre a lisura de licitações e execução de obras ou contratos.

É assustador que, até agora, 44 obras – mais ou menos uma em cada cinco das 219 auditadas este ano - tenham tido suas verbas bloqueadas, por terem sido encontradas “graves irregularidades” , enquanto apenas 35 foram liberadas sem restrições. 13 dessas 44 obras estão incluídas no PAC cuja “gerente” é Dilma Roussef, chefe da Casa Civil do governo Lula. Dilma ponderou a jornalistas que o PAC inclui quase 2 mil obras e, diante disso, o número 13 se torna irrelevante.

O diabo é que essas 13 (9 já reincidentes nas suspeitas) estão entre as maiores e de maior visibilidade – aeroporto de Guarulhos (São Paulo) e linha 3 do metrô no Rio, por exemplo.

A lição a tirar disso tudo não é lambusar de acusações e suspeitas o TCU, mas, por parte do Executivo, cumprir rigorosamente a legislação de controle, e o Congresso fazer a sua parte, modernizando e tornando o controle dos gastos públicos uma função de Estado e não dependente de conchavos políticos.

QUEM DEVIA
ESTAR DENTRO
E NÃO FORA?

Dos três poderes da República, o que mais (ou talvez único) vem se esforçando para corrigir erros e atrasos institucionais e operacionais é certamente o Judiciário.

A Associação dos Magistrados do Brasil e o Conselho Nacional de Justiça estão na minha curta lista de “entidades de maior confiança no país”, com o Conselho Nacional do Ministério Público chegando perto. Os dois Conselhos estão agora empenhados no duro trabalho de reavaliar a situação de nossos presídios.

Na Bahia, já foram reavaliados nesse “mutirão carcerário” 3.200 processos. E o trabalho continua. Neste mês de outubro todos os juízes das Varas Criminais ou da Infância e Juventude no estado, encaminharão à Corregedoria do Tribunal de Justiça relatos da situação nas prisões em suas comarcas.

Os deputados federais estão fazendo um outro mutirão engraçado. Estão dispostos a aceitar como coleguinhas qualquer pessoa já condenada em primeira instância – o que não deixa de ser um esforço para diminuir o número de presos no país.

DESIGUALDADE
DIMINUI. MAS SÓ
DO LADO DE CÁ

Somos constantemente bombardeados pela informação de que o Índice de Gini revela a crescente redução da desigualdade no país. Junto, nesta curta nota, números mencionados recentemente por fontes insuspeitas (Márcio Pochmann, presidente do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Clóvis Rossi, super-respeitado colunista do jornal “Folha de São Paulo”, e jornalista econômico da TV Bandeirantes), sobre a divisão da renda nacional entre a parte originária do trabalho e a parte referente a lucros e rendas:


Trabalho L & R

1980 50,0% 50,0%
2005 39,1% 60,9%
2009 35,0% 65,0%

Se os números são exatos e a proporção se mantiver, nossos bisnetos, talvez ali pela entrada do século XXII, estarão vivendo de rendas ou trabalhando de graça.

“Idiotas estão sempre a favor da desigualdade de renda (sua única possibilidade de eminência) enquanto os realmente grandes a favor da igualdade.”

Bernard Shaw (1856-1950), autor teatral e humorista socialista britânico.

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OS CORRUPTOS
SERÃO PUNIDOS
MAS NA CHINA

A corrupção se tornou tão generalizada no Partido Comunista da China que sua direção vai exigir que, antes de assumir, qualquer nomeado para um alto cargo e seus parentes próximos terão de declarar todos os bens e investimentos.

Cerca de 4 mil membros do partido fugiram do país entre 1978 e 2003 com cerca de 800 milhões de dólares, havendo suspeita de esses números serem bem maiores.

Muitos levam o “por fora” em nome de empresas de parentes, procurando “lavar” o dinheiro roubado. E mais de 800 mil membros do PC foram punidos por “má conduta” nos últimos cinco anos, mais ou menos uns 500 por dia.

A comissão disciplinar também afirmou que punirá com rigor todos os envolvidos em fraudes em eleições, compra e venda de cargos públicos ou resultados de exames vestibulares. (Esta última promessa até me lembra outro país. Alguém pode ajudar minha memória?)

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