sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Governo de facto apmplia pressão psicológica sobre aliados de Zelaya

Roberto Simon, Tegucigalpa
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Líder deposto e governo de facto retomam negociações hoje, após fim do prazo zelaysta para conclusão de acordo

Representantes do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e do governo de facto, liderado por Roberto Micheletti, continuarão hoje o diálogo para superar a crise política no país. A informação foi dada ontem por John Biehl, chefe da missão da OEA (Organização dos Estados Americanos). Segundo ele, falta pouco para a conclusão de um acordo. "Todos estão trabalhando muito para termos um acordo amanhã (hoje)", disse.

Em pleno feriado nacional, decretado pelo governo de facto para celebrar a conquista da vaga para a Copa do Mundo de 2010, o clima de distensão e otimismo da véspera deu lugar a uma tensão, causada,principalmente, pelo reforço do contingente militar que cerca a Embaixada do Brasil em Honduras.

Novas torres com holofotes foram instaladas perto da residência - onde está abrigado Zelaya - e a atividade dos soldados mostrava-se mais intensa, numa aparente intenção de ampliar a pressão psicológica sobre o campo zelaysta.

À meia-noite de ontem, venceu o ultimato dado por Zelaya para que seus representantes chegassem a um acordo político com Micheletti. Aparentemente,o líder deposto abandonou a exigência para que o diálogo prosseguisse hoje.

O consenso parecia mais próximo na véspera - quando as duas partes indicavam ter chegado a acordo sobre sete dos oito pontos fundamentais previstos na Proposta de San José, um texto apresentado pelo mediador da questão, o presidente costa-riquenho e Prêmio Nobel da Paz, Oscar Arias. Falta, porém, o ponto mais sensível de toda a questão: a restituição de Zelaya ao cargo do qual foi deposto por um golpe em 28 de junho.

Confinado desde o dia 21 na Embaixada do Brasil, o presidente deposto aumentou a pressão ontem ao insistir que o diálogo com os líderes golpistas era "extremamente delicado e perigoso".

O jornal hondurenho El Heraldo chegou a informar que Zelayajá teria aprovado o texto do acordo com o regime golpista. O documento seria apenas submetido a"algumas modificações",disse o negociador zelaysta Víctor Meza.

Micheletti, entretanto, negou qualquer tipo de acerto com os zelaystas. Segundo o líder de facto, resta ainda uma divergência sobre a instância de poder que deveria analisar a possível restituição. Zelaystas desejariam a aprovação pelo Congresso; golpistas, pela Suprema Corte.

Em meio a sinais de otimismo e retrocessos, aliados do presidente deposto declararam ontem que empresários estariam pressionando Michelettia não aceitar a restituição de Zelaya.

Ao Estado, o deputado zelaysta Marvin Poncé, do partido Unificação Democrática, acusou a Associação Nacional de Indústrias(Andi) de estar sabotando o diálogo. O presidente da organização, Adolfo Facussé, nega.

A Frente Nacional de Resistência (FNR), a ala mais radical da base de apoio de Zelaya, denunciou ontem a falta de"vontade política dos golpistas" para encerrar a crise.

O grupo também exigiu novamente a suspensão "imediata e total" do estado de sítio, imposto pelo governo de facto há três semanas. Micheletti recebeu ontem com festa no palácio presidencial a seleção de futebol hondurenha, que na quarta-feira à noite venceu El Salvador e contou com um empate no jogo entre EUA e Costa Rica para garantir sua segunda participação em Mundiais (a primeira, pouco gloriosa, foi em 1982).

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