sábado, 26 de dezembro de 2009

Nem Lula no "topo" ajuda PT no Sudeste

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Partido corre risco de não eleger governador em nenhum dos 3 Estados mais importantes da região, onde está a maior fatia do eleitorado

PSB se converte na quarta força nos Estados, depois de PSDB, PMDB e PT; DEM, em declínio, não tem nomes de peso para ressurgir em 2010

Fernando Rodrigues
Da Sucursal de Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem a popularidade mais alta entre todos os ocupantes do Palácio do Planalto pós-ditadura militar (1964-1985). Mas o seu partido, o PT, continua a patinar em grandes centros quando se trata de disputar governos estaduais.

Nos três mais importantes Estados da região Sudeste, que concentram a maioria do eleitorado, de novo os petistas correm o risco de não eleger nenhum governador em 2010.Nunca um petista governou São Paulo ou Minas Gerais. No Rio de Janeiro, só houve uma fugaz experiência com Benedita da Silva, que era vice-governadora e assumiu a cadeira de titular por nove meses, a partir de abril de 2002, porque Anthony Garotinho renunciou para concorrer a presidente.

Em 2010, o PT dá a largada no processo eleitoral sem nenhum candidato considerado competitivo em São Paulo. "Já sabemos que ali não ganhamos. Teremos de 30% a 35%", tem dito, de maneira resignada, o líder do PT na Câmara, o paulista Cândido Vaccarezza.

No Rio, a direção nacional do partido se esforçou nas últimas semanas para eliminar as chances do único quadro partidário interessado na disputa, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias. Na eleição do diretório fluminense, venceu a corrente contra a candidatura própria. O partido caminha para apoiar a tentativa de reeleição do governador Sérgio Cabral (PMDB).

Em Minas Gerais, o PT tem dois postulantes conhecidos ao Palácio da Liberdade: o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.

Mas uma parcela da cúpula petista prefere ficar fora da disputa. Acha melhor apoiar o pré-candidato do PMDB, o ministro Hélio Costa (Comunicações), pois assim haveria um palanque mineiro mais sólido para Dilma Rousseff, que concorrerá a presidente pelo PT.

Há uma opção preferencial no PT pelo projeto nacional, de manter a legenda no comando do Palácio do Planalto. Várias concessões deverão ser feitas em nome desse projeto, comandado por Lula.

Terceira força

Com essa participação anêmica em eleições estaduais, o PT deve se manter em terceiro lugar quando se considera o número de eleitores governados localmente, atrás de PSDB e PMDB, nessa ordem. A posição foi conquistada em 2006, quando a sigla foi vitoriosa em cinco Estados: Acre, Bahia, Pará, Piauí e Sergipe.

Desses, só a Bahia tem relevância de primeira grandeza, pois abriga 9,3 milhões de eleitores (7% do total do país). Essa massa de eleitores supera o total somado (8,6 milhões) de todos os outros quatro Estados governados por petistas.

A maior conquista do PT em 2006 foi imposta sobre um adversário marginal hoje no jogo nacional, o DEM (antigo PFL). O partido, sob o comando de Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007, governava a Bahia desde 1990 até ser desalojado por Jaques Wagner.

No momento, o DEM não tem nenhum governo estadual. Havia vencido no minúsculo Distrito Federal (1,8 milhão de eleitores e só 1,3% do total do país). Mas o governador de Brasília, José Roberto Arruda, acabou sendo carbonizado por um esquema de mensalão descoberto em novembro. Pressionado, saiu da legenda.

Não há neste final de 2009 pesquisas eleitorais recentes para todos as unidades da federação. A Folha considerou o que há disponível e compilou os dados nesta página -sempre indicando o instituto responsável pelo levantamento, a data da coleta das informações e as margens de erro. Quando se levam em conta esses cenários, nota-se que o DEM tem como maior perspectiva a eleição da senadora Rosalba Ciarlini para o governo do Rio Grande do Norte -só 2,2 milhões de eleitores (1,7% do país).

O DEM também tem esperança na Bahia, Mato Grosso, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins.

Mas ninguém na sigla imagina ser possível voltar aos tempos áureos de 1998, quando ainda se chamava PFL e conseguiu eleger seis governadores para comandar 19% dos eleitores brasileiros -Amazonas, Bahia, Maranhão, Paraná, Rondônia e Tocantins.

Com a desidratação do DEM, oposição no Brasil em disputas estaduais agora se resume, em grande parte, ao PSDB. O partido continua sólido no Sudeste, sobretudo por causa da hegemonia obtida em São Paulo desde 1994, com a vitória de Mário Covas (1930-2001).

De lá para cá, só tucanos sempre estiveram à frente dos 29,5 milhões de eleitores paulistas (22,4% do país).

Segundo o Datafolha, Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB ao Palácio dos Bandeirantes, pontua de 50% a 54% e, se a eleição fosse hoje, venceria no primeiro turno.

Em Minas Gerais, o tucano Aécio Neves está em campanha aberta para fazer de seu vice, Antonio Anastasia -um técnico nunca testado nas urnas-, o sucessor no Palácio da Liberdade.

Na última pesquisa Datafolha, apesar de não ser um político conhecido, Anastasia já pontua acima dos 10% em todos os cenários.

De 1994 até hoje, o PSDB foi em todas as eleições o líder em número de eleitores governados nos Estados, pois sempre foi vitorioso nos maiores colégios. Em 1994, ano de lançamento do Plano Real (que iniciou a estabilização da economia), os tucanos foram bem sucedidos no chamado "triângulo das Bermudas" da política brasileira, composto por São Paulo, Rio e Minas Gerais -55 milhões de eleitores, o equivalente 42% do total do país.Naquele ano, Fernando Henrique Cardoso também foi eleito presidente da República. No plano estadual, além dos três do Estados do Sudeste, o PSDB conquistou Ceará, Pará e Sergipe -foi o suficiente para somar 66,7 milhões de eleitores (50,6% do país). Como em 1998 os tucanos perderam Minas Gerais e Rio de Janeiro, nunca mais uma sigla conseguiu tamanha supremacia eleitoral quando se consideram, juntos, a Presidência e os principais governos estaduais.

Em 2010, o PSDB deve entrar com candidatos competitivos em oito Estados, mas sofre desde já um grande revés no Rio Grande do Sul. A governadora gaúcha, a tucana Yeda Crusius, enfrentou uma bateria de acusações e uma ameaça de impeachment. Ficou no cargo, mas sua popularidade se liquefez: tem apenas 5% das intenções de voto, segundo o Datafolha, e é a governadora que tem pior avaliação no ranking estadual do instituto, em 10º lugar.

Antes, os tucanos também já tinham perdido a Paraíba. O Estado era governado por Cássio Cunha Lima, que vencera o pleito em 2006. Acusado de utilizar programas sociais para a distribuição irregular de dinheiro, via cheques, ele foi cassado pela Justiça Eleitoral no início deste ano. A cadeira foi para José Maranhão (PMDB).

Os coadjuvantes

Enquanto PT e PSDB disputam a Presidência da República, dois partidos -PMDB e PSB- ficam de coadjuvantes do processo nacional, mas vão consolidando a força estadual.

Hoje, o PMDB tem nove Estados cujo eleitorado somado é de 36,9 milhões (28% do país).

No plano federativo, portanto, tem mais peso que o PT.

O PSB só tem três governadores (Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte), mas é a quarta maior sigla do país quando se trata de eleitores governados: 14 milhões (10,6%).

Em Pernambuco, o atual governador, Eduardo Campos, lidera todas os cenários pesquisados pelo Datafolha e tem chances de vitória no primeiro turno. "O PSB também fará uma bancada perto de 50 deputados na Câmara em 2010", diz Campos, que também é o presidente nacional do PSB.

No PMDB, os levantamentos eleitorais disponíveis mostram que o partido pode até ampliar o número de governos relevantes. Tem, por exemplo, candidatos competitivos em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, hoje sob domínio tucano.

Uma possível perda para o PMDB deve ser o Paraná. O atual governador, Roberto Requião, quer lançar como sucessor o seu vice, o também peemedebista Orlando Pessuti -mas ele não passa de 5% na pesquisa Datafolha.

Em todos os cenários atuais, ainda muito preliminares, já é possível enxergar pelo menos um fato que diferencia 2010 de 2006 em termos de disputas estaduais. No ano que vem, o presidente Lula e sua candidata ao Planalto, Dilma Rousseff, entrarão em campanha com mais da metade dos governadores atuais como aliados do governo federal. Há quatro anos, a situação era inversa, com a maioria dos governadores trabalhando contra a reeleição de Lula.

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