sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Frase de Ferreira Gullar, poeta, criticando os discursos de autolouvação do presidente Lula.

DEU NA RESVISTA ÉPOCA DESTA SEMANA

“ Do Descobrimento até 2003, ninguém sabe como o Brasil conseguiu sobreviver, crescer, chegar a ser a oitava economia do mundo sem o Lula!”

Conduta política

Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO


O Brasil já teve todo tipo de chefe da Casa Civil. Técnico, intrometido, articulador, discreto, conspirador, totalitário. Desta vez temos um novo tipo: candidato. O presidente Lula diz que a inauguração de obras pela ministra Dilma Rousseff faz parte das funções de chefe da Casa Civil. Não faz. Gerente não inaugura, não sobe em palanque, não discursa: administra.

Ela quer inaugurar obra inconclusa, cada etapa de cada projeto e até pedra fundamental; porque é candidata. Não fosse, faria visitas aos canteiros de obras para acompanhar, verificar, como gerente. Como é candidata, em qualquer visita é armado um palanque e convocada uma claque. Isso é campanha política. A inteligência alheia não deve ser agredida com tentativas de se provar o contrário.

É legítima a aspiração da ministra Dilma Rousseff de concorrer à Presidência. Aqui neste espaço, escrevi, desde que ela foi nomeada, que a ministra não era um quadro técnico. Ela sempre foi uma militante e tem se esforçado para adquirir competências administrativas. Sua aspiração agora é, além de legítima, previsível, já que outros potenciais concorrentes se enfraqueceram.

O que não é correto é usar a máquina pública para fazer campanha, dizendo que está em função governamental. A reunião dos prefeitos foi eleitoreira, seja o que for que o governo diga em contrário. Gastou-se dinheiro público, sete vezes mais do que o admitido, para reunir os possíveis cabos eleitorais de 2010.

Na Europa, houve uma reunião de 700 prefeitos e saiu um acordo de adesão ao protocolo 20-20-20 da União Europeia: 20% de redução de emissão de carbono, 20% de energia alternativa e 20% de eficiência energética até 2020. Eles perseguirão essas metas em seus municípios. Nos Estados Unidos, houve uma reunião de prefeitos que também terminou com consenso de estudar a adoção do modelo climático europeu. Da nossa reunião, os prefeitos saíram com fotos tiradas com bonecos do presidente Lula e da ministra Dilma e dívidas previdenciárias roladas. Eles ouviram muitos discursos, viram o presidente divulgar um dado errado sobre o analfabetismo de um estado administrado por um concorrente político e assistiram aos ensaios eleitorais de Dilma Rousseff.

Em 2009 não haverá eleição, mas há uma perigosa crise global para ser enfrentada. Os administradores públicos devem, com seriedade, cuidar da crise econômica para revertê-la. Ninguém ganha com a crise: não é o fracasso de um pensamento econômico adversário, como pensa a ministra Dilma. Seja o que for que aconteça, já morreu a ideia de que o estado deva controlar os meios de produção. Não deu certo, não funcionou. Que o diga a China, que continua querendo que o Brasil conclua o reconhecimento de que ela é uma economia de mercado.

O PSDB fala em prévias. Ótimo. Esse é um bom hábito político, como acabamos de ver nos EUA. Fortalece os partidos e divulga as ideias dos pré-candidatos quando é uma primária bem feita. Quando são oficializadas, funcionam melhor. É preciso definir as regras e fazer uma primária formal. Para isso, o TSE teria que permitir primárias abertas, em vez da jurisprudência de prévias fechadas que dão todo o poder às convenções.

O presidente Lula estranhou que o governador José Serra vá viajar sem ter obra para inaugurar. Mostra que acredita que a obra é o álibi perfeito. O PSDB tem que oficializar sua consulta às bases. Não procurar pretexto, como o governo faz.

A maneira como a ministra Dilma foi escolhida pré-candidata do PT lembra o modelo político do "dedaço" que vigorava no México na época do PRI. Até lá caiu em desuso. O "dedaço" era o costume de o presidente anunciar que candidato o partido teria. O PT nunca fez uma prévia como a que vimos entre Hillary Clinton e Barack Obama. A disputa entre Lula e o suposto pré-candidato Eduardo Suplicy foi para inglês ver. O candidato sempre foi Lula em todas as eleições do PT porque ele era o único nome que unia o partido. Isso não é transferível. Em vez de trabalhar para que sua candidata suba nas pesquisas e vire fato consumado, o presidente deveria querer a escolha democrática que fortalecesse o petismo. O contrário só fortalece o lulismo, que não é um partido, é movimento personalista.

A vantagem das primárias seria treinar Dilma Rousseff no palanque, na disputa pelo eleitor, nas pressões dos debates. Ela nunca viveu situações de disputa política. Essa habilidade não se adquire em cirurgia.

O PSDB vive sempre sob a suposta divisão dos grupos pró e anti-Serra. As prévias ajudariam a acabar com o mito ou oficializá-lo. Os governadores José Serra e Aécio Neves têm, também, a ambição legítima de disputar a Presidência. O partido tem um patético histórico de decisões tomadas entre quatro paredes ou nos quatro lugares de uma mesa de restaurante.

O desafio para todos será separar o que é máquina pública e o que é disputa partidária interna.

O Brasil já andou demais no desvio, tem sido muito tolerante com irregularidades. É hora de um manual de conduta, respeitado por todos os possíveis contendores desta primeira fase da disputa presidencial de 2010.

Tanto faz

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


"O PMDB é corrupto? Não mais do que o PT ou o PSDB". Essa frase do senador Pedro Simon, a respeito das acusações feitas por seu colega Jarbas Vasconcellos ao partido de ambos, reflete bem o espírito que tomou conta da política brasileira nos últimos tempos. Identificado com o sentimento mais libertário da política brasileira, o senador Pedro Simon, durante um período, simbolizou o que havia de independente e até mesmo romântico na atividade parlamentar. A frase pode ser interpretada como uma tentativa canhestra de defender a cúpula do PMDB, fortemente atacada por Jarbas, mas pode também refletir um imenso cansaço de ver a deterioração da atividade política.
Sobretudo, porém, lança uma questão para o debate: nosso sistema partidário reflete a sociedade brasileira, ou os seus piores defeitos? A predominância do fisiologismo na política nacional, que tem no PMDB sua mais perfeita tradução, está no cerne dessa discussão sobre disputa de poder.

Os três partidos mais influentes do país - PT e PSDB se revezam na Presidência da República desde 1994 e o PMDB é presença permanente em todos os governos - se confundem nos métodos de fazer política, embora os dois primeiros tenham marcas ideológicas mais fortes, enquanto o PMDB se caracteriza pela falta completa de ideologia, dedicando-se exclusivamente à conquista do poder e seu usufruto.

Mas foi-se o tempo em que o PSDB era uma dissidência do PMDB por questões éticas, e também está longe o tempo em que o PT podia ser identificado como um partido diferente dos outros, representante da ética na política.

O sistema de coalizão política em que está montado o presidencialismo brasileiro, e as regras eleitorais que favorecem uma grande fragmentação partidária, forçosamente criam governos que precisam se apoiar em partidos que nada têm a ver com um suposto programa de governo que teria saído vencedor das urnas.

Muitas vezes, o partido oposicionista adere ao vencedor não por aceitar seus princípios, mas por aceitar cargos e exercer o poder para mudar os seus. Um caso emblemático no atual governo é o do ministro da Integração Nacional, o baiano Geddel Vieira Lima, que, de principal opositor da transposição do Rio São Francisco, passou a seu maior defensor ao receber o ministério.

Outras vezes, o governo cede ao poder do partido que lhe oferece apoio, como foi obrigado o próprio presidente Lula, que rejeitara o PMDB em seu primeiro Ministério, por considerá-lo fora dos princípios éticos que regeria seu governo, e depois do mensalão teve que engoli-lo goela abaixo em busca do que se convencionou chamar no Brasil de "governabilidade", que tudo justifica

A cooptação de parte do PMDB em troca de feudos no governo foi praticada no governo de Fernando Henrique Cardoso e, como outras práticas, foi absorvida tão completamente pelo governo Lula que este acabou superando o antecessor, radicalizando a prática até levar para dentro do seu segundo governo todas as alas do partido, compensando-as com fartos pedaços do poder, para ciúmes do PT.

O caso do abuso de poder do governo federal, antecipando a campanha eleitoral na tentativa de viabilizar a ministra Dilma Rousseff, é exemplar dessa maneira permissiva de fazer política.

E o anúncio da Sabesp em rede nacional, a pretexto de patrocinar uma programação de verão que extrapola o território paulista onde atua, é também fruto dessa falta de institucionalidade com que é feita a política brasileira.

Um dos maiores males que o presidente Lula fez à política partidária brasileira, e por consequência à democracia, foi usar todo o seu prestígio pessoal para proteger seus aliados, sejam eles de que partido forem, tenham feito eles o que for de errado.

A partir do mensalão, Lula defendeu em público rigorosamente todos os políticos amigos, fossem eles Severino Cavalcanti, Renan Calheiros, ou seus "companheiros" petistas.

O PSDB, em vez de se contrapor a essa maneira mesquinha e retrógrada de fazer política, vai pelo mesmo caminho. Quando o senador Eduardo Azeredo foi acusado de ter sido o iniciador dos esquemas fraudulentos do lobista Marcos Valério na disputa pelo governo de Minas em 1998, o partido recusou-se a enfrentar o assunto, dando margem até mesmo a que o PT espalhasse a versão de que a campanha tucana havia sido o embrião do mensalão.

A distinção entre uso de caixa dois, que aconteceu na campanha de Azeredo, e a compra sistemática de votos, que foi a evolução do esquema para o mensalão petista, é sutil demais para o grande público, e o partido deveria ter assumido desde logo uma atitude crítica severa.

Hoje, o senador Eduardo Azeredo é indicado pelo partido para presidir a Comissão de Relações Exteriores do Senado, cargo para o qual está qualificado pessoalmente, mas não politicamente.

O partido está assumindo a mesma atitude de proteção dos companheiros com relação ao ex-governador da Paraíba, cassado por unanimidade pelo TSE por abuso do poder econômico na campanha de 2006.

O governador, certamente para competir com o Bolsa Família, saiu distribuindo 35 mil cheques para os eleitores e, como ressaltou o ministro Eros Grau, uma das testemunhas disse que recebeu um cheque com uma mensagem: "Esse é um presente do governador, lembre-se dele. Com os cumprimentos, Cássio Cunha Lima, governador".

As provas são irrefutáveis, mas o PSDB acha que deve defender seu cacique, especialmente os potenciais candidatos Aécio Neves e José Serra, que estarão disputando os votos tucanos em uma prévia eleitoral.

E assim vamos vivendo da pequena política, e o PMDB tanto pode fazer parte de um governo tucano quanto de um petista. Tanto faz.

Lá se vão só uns anéis

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A decisão da Câmara - a ser seguida, espera-se, pelo Senado - de divulgar as notas fiscais dos gastos com a verba extra e a identificação completa dos fornecedores não encerra como imagina o primeiro-secretário da Casa, Rafael Guerra, "a polêmica da transparência parcial".

A discussão está só começando. Ainda há léguas a percorrer antes que o Parlamento recupere autoridade moral para exibir a credencial de "Poder mais aberto da República". É, no máximo, o Poder mais vulnerável.

Vulnerabilidade crescente, institucionalmente defeituosa e responsabilidade do Congresso.

Fruto do aviltamento do ambiente onde prevalece a noção de que o Legislativo é propriedade dos partidos, que, por sua vez, são feitos para uso e abuso do Executivo mediante o livre acesso de amigos e correligionários à estrutura do Estado.

Essa mentalidade permeia todos os embates entre o Congresso e a opinião pública: parlamentares chegam às casas legislativas achando que a partir daquele momento fazem parte de uma casta de "nobres colegas" desobrigados de qualquer compromisso com a sociedade.

É comum ouvir dos mais cínicos que pouco se lhes dão as críticas e cobranças da imprensa porque, ao fim e ao cabo, as regras são feitas e executadas por eles.

Verdade. E por isso mesmo não se pode conferir o dístico de "Poder aberto" a um colegiado especializado no ato de legislar em causa própria ou em prol de quem lhe atenda os interesses.

Agora mesmo já se aproveita o ensejo para aprovar a incorporação do adicional de R$ 15 mil aos salários.

Nessa altura do raciocínio alguém haverá de ponderar que, bem ou mal, a Câmara "recuou" e cedeu à pressão para a divulgação do detalhamento dos gastos com a verba dita indenizatória. Na realidade, um truque inventado para garantir um "por fora" depois que passou a não ser tão fácil aprovar aumentos de salários na calada das madrugadas.

É um engano acreditar que houve recuo. Ao contrário. Continua havendo a mais sórdida - por dissimulada - das resistências na aplicação do princípio constitucional da publicidade para a administração pública.

Por ora o que há é uma promessa a ser cumprida não se sabe ao certo a partir de que dia do mês de abril e a certeza de que até lá o sigilo em vigor há oito anos está totalmente preservado.

Se alguém pecou, jamais se saberá. Isso por nenhuma razão a não ser a deliberação unilateral de suas excelências que ainda se consideram merecedoras de reverências.

"Não tem sentido tomarmos uma medida tão importante e continuarmos a ser criticados", reclama o primeiro-secretário, Rafael Guerra.

É de se perguntar: qual medida importante? O cumprimento mínimo do dever de prestação de contas ao dono do santo dinheirinho de cada mês?

O Parlamento passou anos aludindo a impedimentos legais inexistentes para ocultar as notas, promete ceder uns anéis porque o PMDB, general da banda, está com medo de perder os dedos e ainda quer elogio? Ora, por quem sois, há limites.

Estação Barbacena

O governador de Minas, Aécio Neves, desmente - e, com isso, desautoriza integrantes da cúpula do PMDB - que algum dia tenha afirmado a alguém do partido que possa vir a deixar o PSDB.

Por um motivo simples: "Não o farei."

Escreve o governador: "A insistência com que tentam difundir a ideia de que possa vir a deixar a minha legenda, e a insistência com que venho negando essa possibilidade lembram o tradicional diálogo atribuído a políticos mineiros.

"Diz o primeiro: você vai para onde? Para Barbacena, responde o segundo. E o primeiro pensa: ele disse que vai para Barbacena para eu achar que ele vai para Lavras, mas ele vai é para Barbacena mesmo.

"Ou seja, no campo das divagações cabe tudo. Mas, no meu caso, a realidade é que nunca cogitei deixar o PSDB. Também nunca dei qualquer ultimato ao partido, especialmente no que diz respeito às prévias. Não defini prazos, o que não me caberia fazer, apenas sugeri a definição de critérios o mais rapidamente possível.

"Existem duas formas de vermos as prévias. Há quem veja como um risco de divisão e há aqueles, como eu, que entendem como um processo de fortalecimento partidário.

"Considero o processo mais importante que os nomes. Neste aspecto há, também, duas visões distintas. Há quem seja contra ou a favor em função de um possível resultado e há os que acreditam na incorporação dessa prática para promover mudanças na vida do PSDB.

Por acreditar que o processo está acima dos nomes, convidei o governador José Serra para viajarmos juntos em campanha de mobilização do partido no País. Estaremos juntos, embora muitos não acreditem e até torçam pelo contrário.

"Enfim, estou dizendo que vou para Barbacena, não para despistar, mas porque vou mesmo."

Em adendo, Aécio Neves esclarece: "Tancredo Neves não é meu tio-avô." Avô, consignado seja.

Encarcerado no PMDB

Maria Cristina Fernandes
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Só há dois tipos de políticos: aqueles que levantam grana para fazer política e os que fazem política para levantar grana. O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) tem militado ao longo de seus 40 anos de vida pública na primeira categoria. Nesta militância tem companheiros egressos de quase todos os partidos. É compreensível que se sintam minoritários face ao portentoso exército que cerra fileiras do outro lado. Mas não é esta militância, de um lado ou do outro, que pavimenta a chegada ao poder. É a política. E não são visíveis hoje os rumos da oposição neste campo. É este o resumo da entrevista do senador à "Veja".

Não é a primeira vez que Jarbas se rebela contra seu partido ou contra o poder. O que impressiona é como a oposição à qual hoje se filia tenha sido capaz de encarcerar um espírito como o seu nos limites das páginas de uma revista.

O senador pernambucano resistiu ao golpe militar abrindo diretórios do MDB pelo interior de seu Estado; rebelou-se contra a eleição indireta, ausentando-se do colégio eleitoral que escolheu Tancredo Neves; e segurou, como presidente do partido, a campanha de Ulysses Guimarães, quando a maioria de seus correligionários pulava para o barco de Fernando Collor de Mello.

Fez política nadando contra a maré dentro do PMDB, mas não se furtou a deixá-lo quando viu sua carreira ser ameaçada pela burocracia do partido que, em 1985, montou uma convenção municipal para derrotar suas pretensões de se candidatar a prefeito do Recife.

Jarbas saiu do PMDB e foi para o PSB, quando montou a chamada "Frente Popular do Recife", reunindo PT e PCdoB, além do então deputado federal Miguel Arraes, com quem depois romperia. Elegeu-se prefeito do Recife derrotando um obscuro deputado lançado por seu partido. Passadas as eleições, Jarbas voltou para o PMDB e foi, paulatinamente, reconquistando a legenda.

A eleição que salvou a carreira política do então deputado federal, tendo sido determinante para a história do Estado naquele momento de retomada do poder pelos civis, só foi possível graças a uma infidelidade partidária.

Hoje a história não se repetiria face à decisão dos tribunais superiores de que o mandato é dos partidos, saudada como indício de moralização dos costumes políticos. Foi uma decisão ansiosamente aguardada pelos partidos de oposição, que nela viram a salvaguarda para a defecção de seus correligionários rumo ao curral governista. E teve entusiasmado apoio do próprio Jarbas.

Ainda é cedo para se concluir que o PMDB vai compor chapa com a ministra Dilma Rousseff, mas, para ser substantivo, um movimento pró-Serra no partido hoje teria que partir de posições que internamente detenham poder, como o presidente da Câmara, Michel Temer (SP).

Se a cacicada do PMDB, com os redobrados poderes da fidelidade partidária, limita seus movimentos na política nacional, o senador também enfrenta problemas no plano regional.

Ao contrário do senador Pedro Simon (PMDB-RS), que atira para o céu e preserva pontes na terra face a interesses do governo de sua aliada Yeda Crusius (PSDB), Jarbas hoje tem mitigadas chances de ver seu grupo retomar o poder em Pernambuco.

O governador do Estado, Eduardo Campos (PSB), está na faixa dos 80% de aprovação e conta com o apoio da quase totalidade dos 49 deputados da Assembleia Legislativa. Na última vez que foi ao Recife, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalizou publicamente sua candidatura à reeleição.

No início do primeiro governo Lula, quando o ex-ministro José Dirceu (PT) tentou fechar uma aliança com o PMDB que só viria a se concretizar anos mais tarde, o então governador Jarbas Vasconcelos foi a ponta de lança dessa aproximação, respaldada pela simpatia do presidente que nunca esqueceu da visita que o então emedebista lhe fez na prisão.

Dirceu chegou a almoçar no Palácio do Campo das Princesas com Jarbas. Comunicou ao então deputado Eduardo Campos que, em 2006, o lulismo juntaria o então governador e o prefeito do Recife à época, João Paulo (PT), numa única chapa como candidatos, respectivamente, ao Senado e ao governo do Estado.

Veio o mensalão, Dirceu caiu e Jarbas acabou se afastando da esfera petista. Eduardo Campos, que saiu do ministério da Ciência e Tecnologia para reforçar a retaguarda governista na Câmara no auge do mensalão, foi ganhando espaço até que, em 2006, derrotou o candidato jarbista à sua sucessão.

Na entrevista, o senador diz não ter mais pretensão de disputar cargos. Seus correligionários no Estado ficaram em polvorosa, mas não há motivos para desacreditar dele.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

Assinarei embaixo

Cristovam Buarque
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Nesta semana, a revista Veja publicou uma entrevista com o senador Jarbas Vasconcelos que ficará na história como uma das mais fortes tomadas de posição feita por um político brasileiro. Apesar da discordância de muitos, sua entrevista diz o que muitos pensam e não quiseram, não tiveram grandeza ou oportunidade para dizer. Nenhum líder brasileiro pode ficar omisso. Todos os políticos com cargo eletivo têm obrigação de exigir que as denúncias sejam apuradas.

Não se pode deixar de refletir e tomar posição quando ele afirma que “a eleição de Sarney foi um processo tortuoso e constrangedor. Um completo retrocesso. Tião Viana, embora petista, estava comprometido em recuperar a imagem do Senado.” Ele diz que esta eleição “reflete o que pensa a maioria dos colegas parlamentares.” Foi por causa dessa maioria que, há dois anos, o senador Jefferson Peres teve a coragem de dizer que não pretendia candidatar-se outra vez, com a mesma ênfase de Jarbas dizendo agora que: “às vezes eu me pergunto o que vim fazer aqui”. Porque “o nível dos debates é inversamente proporcional à preocupação com as benesses”.

As declarações relacionadas com o PMDB seriam um assunto interno, se ele não fosse o maior partido, com o controle das duas Casas do Congresso e poder de fazer refém o próprio Executivo. O senador Jarbas diz com toda força que o líder de seu partido no Senado “não tem nenhuma condição moral ou política para ser senador”.

Mais grave será se a entrevista do senador Jarbas não tiver consequências. Se nada for feito, o Senado atestará sua tolerância com as acusações. Ou o senador Jarbas está fazendo acusações injustas e merece ser punido, ou ele está dizendo a verdade e é preciso punir que está desmoralizando a política brasileira. Pior será se, em vez de abrirem processo para saber quem está com a verdade, os acusados usarem o poder que têm para punir o senador. Neste caso, é preciso que outros assinem embaixo da entrevista de Jarbas Vasconcelos, para que as acusações sejam apuradas.

Qualquer medida contra o senador Jarbas tomada pela direção do PMDB sem um debate transparente, um julgamento aberto, confirmará suas acusações e será um atestado adicional de desmoralização dos que hoje controlam o poder legislativo brasileiro e, por meio dele, toda a República brasileira.

Jarbas disse na entrevista que o PMDB quer cargos “para fazer negócios, ganhar comissões. Alguns ainda buscam o prestígio político. Mas a maioria dos peemedebistas se especializou nessas coisas pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral.” Essa acusação toca não só ao maior e mais forte partido do País, mas também aos governos dos quais o PMDB faz parte: Federal, Estaduais e Municipais. E, indiretamente, a todos os partidos brasileiros que, por isso mesmo, deveriam ter interesse na apuração das denúncias.

Esse tema diz respeito a todos os líderes do País, ao governo federal, ao Senado e à Câmara de Deputados, ao Poder Judiciário. Especialmente ao Ministério Público. Por isso, se o assunto não for devidamente apurado, ou se o senador Jarbas for punido por ter tido coragem de dizer o que pensa sem ser desmentido por um processo transparente, é preciso que outros reforcem as acusações que ele fez, nem que seja para que elas sejam apuradas.

Com este artigo, estou pré-assinando embaixo do que disse o senador Jarbas, se suas acusações não forem apuradas ou se ele for punido pela coragem de dizer o que pensa o povo brasileiro.

» Cristovam Buarque é senador da República

Não sobra um, meu irmão

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - O governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), foi cassado sob a acusação de distribuir 35 mil cheques nominais no ano em que disputava a reeleição.

Seu sucessor, José Maranhão (PMDB), responde a nada menos que 8 processos, sendo que 2 são por suspeita de compra de votos e podem dar em nova cassação. E o sucessor do sucessor no Senado, Roberto Cavalcanti (PRB), também está sendo processado por corrupção na Justiça Federal. É uma teia sem fim.

Cunha Lima ainda tem duas chances de recurso, uma à presidência do próprio TSE e outra ao Supremo, mas Maranhão não perdeu tempo. Nem bem assumiu, já deu uma canetada botando para fora uns mil funcionários herdados do antecessor. Provavelmente, não por moralização, mas por retaliação -e para dividir a boquinha com a sua própria turma.

Já Cavalcanti não é bobo nem nada: ganhou o mandato de senador e, de brinde, o foro privilegiado. Entrou mudo para sair calado. Se sair. A depender da tradição do Supremo, ele pode ir ficando tranquilo, cumprindo o mandato que seria de Maranhão, que agora cumpre o mandato que seria de Cunha Lima, que... está a ver navios, mas já pode voltar a se candidatar.

Coitado do povo paraibano. Mas a Paraíba não está isolada, muito pelo contrário. Governador processado é o que não falta, e um deles está para ser encaçapado a qualquer momento: Jackson Lago (PDT), do Maranhão. Se cair, sobe Roseana Sarney (PMDB).

Ou seja: o PMDB já tem o maior número de governos, de prefeituras e de cadeiras no Congresso, acaba de ganhar as presidências da Câmara e do Senado e três comissões importantes na Câmara e deve ficar com mais dois Estados: a Paraíba, de Maranhão, e o Maranhão, de Roseana. Assim mesmo, complicado.

Mas o pior é que o partido não ganhou, mas está levando. E o eleitor não tem para onde correr.

O dilema do apoio a um candidato

Alberto Carlos Almeida
DEU NO VALOR ECONÔMICO


O ser ou não ser hamletiano assombra a mente de inúmeros pré-candidatos a governador no Brasil. A propósito, as eleições gerais serão somente em 2010, mas os políticos só pensam naquilo. A disputa regional está completamente aberta em quase todos os Estados. Ou seja, não está claro, na maioria dos Estados, quem será candidato e, muito menos, qual será a aliança estadual e quem ela apoiará na eleição presidencial.

Há algumas exceções a essa regra. Em Goiás, por exemplo, o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) e o atual prefeito de Goiânia, Íris Rezende (PMDB), são pule de 10 para estar presentes na corrida de 2010. A interrogação, no caso de Goiás, diz respeito ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ele será candidato a governador?

Se for, sofrerá do mesmo mal que atingiu os plebeus que compraram títulos de nobres às vésperas da Revolução Francesa: eles deixaram de ser aceitos pelos plebeus e nunca foram realmente incorporados à nobreza. Meirelles sempre foi tucano e sempre teve o perfil do PSDB. Abandonou o partido e nem sequer assumiu o mandato de deputado federal para ocupar o cargo de presidente do BC na era Lula - de quebra com o mais duradouro mandato à frente da autoridade monetária máxima do Brasil. Meirelles nunca foi aceito pelo PT e provavelmente encontraria hoje no PSDB dificuldades que não existiam antes de ele comprar o título de fiador da estabilidade econômica no governo petista.

Aqui e acolá há candidaturas que provavelmente estarão presentes na disputa do ano que vem. O que têm em comum, além do fato de ser raras, é que tendem a ser governadores atualmente bem avaliados que podem disputar a reeleição. São esses os casos de André Puccinelli em Mato Grosso do Sul e Eduardo Campos em Pernambuco. É provável que as cartas se embaralhem também em tais situações. A queda da arrecadação está batendo à porta do setor público. A crise reduziu a atividade econômica e com ela os impostos recolhidos despencaram.

Todos terão de governar em mares mais agitados do que dos últimos anos. Portanto, há espaço para que governadores hoje muito bem avaliados vejam seus índices de ótimo e bom se reduzir nos próximos meses. Se isso acontecer, os Estados onde havia alguma definição de pré-candidatos a governador terão de enfrentar a mesma espera que tomou conta dos demais.

Há outro complicador para a vida de nossos líderes regionais e ele diz respeito à eleição presidencial. Qual será o candidato a presidente apoiado por cada candidato a governador? É grande a expectativa pela eleição de 2010. Collor à parte, PSDB e PT terão governado o Brasil por oito anos cada um. O mandato do próximo presidente vai conferir vantagem a um dos dois contendores nacionais. Será também a primeira eleição pós-ditadura militar sem a presença de Lula na cédula de votação.

Adicionalmente, há sinais de equilíbrio no front. O PT conta com a máquina federal e com a popularidade de Lula; o PSDB, com a rara combinação de dois governadores populares nos dois maiores colégios eleitorais do Brasil, São Paulo e Minas. A soma desses elementos faz da eleição de 2010 uma disputa ímpar. Por isso, os dois principais partidos nacionais veem com muito carinho e grande interesse a montagem dos palanques estaduais. Com quem PT e PSDB poderão contar em cada Estado para facilitar a vida de seus respectivos candidatos a presidente?

Há, em alguns Estados, alinhamentos naturais e automáticos. No mencionado Goiás, o palanque de Marconi Perillo é o palanque do candidato a presidente do PSDB. Íris irá, muito provavelmente, de PT. Nos Estados em que o PT lançar candidato a governador, eles fornecerão o palanque regional para a provável candidata Dilma. Tudo indica que será assim no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, provavelmente com Ideli Salvati, no Espírito Santo talvez com João Cozer, no Rio com Sérgio Cabral ou Lindberg Faria. O mesmo vale, com o sinal trocado, para o PSDB de Yeda Crusius, Leonel Pavan, Beto Richa, Luiz Paulo Vellozo Lucas e o poderoso PSDB de São Paulo. Nesses lugares a questão está fechada: Serra ou Aécio para presidente.

Há, por outro lado, inúmeros outros pré-candidatos a governador que não definiram para que lado irão na eleição presidencial. É aqui que reside o dilema. O que fazer? Apoiar o candidato a presidente com mais chances de vencer e conquistar o Palácio do Planalto ou apoiar aquele candidato que vencer em seu respectivo Estado mesmo que perca a eleição nacional? Exatamente isso, afora os alinhamentos políticos, e pensando de forma cruelmente pragmática, o candidato a governador de 2010 terá, em alguns Estados, de decidir o que é melhor: apoiar desde o início da corrida o provável vencedor ou apoiar aquele que mais lhe ajudar na corrida regional?

Em algumas situações será uma decisão fácil. Toda vez que o candidato a presidente vencedor em um Estado for também o vencedor nacional o dilema do pragmático não existe: é com esse que eu vou! O dilema existirá quando não ocorrer essa feliz coincidência.

Tome-se o Nordeste do Bolsa Família e do Lula-Deus. O que deve fazer um candidato a governador em um dos nove Estados nordestinos? Suponhamos que o PSDB vença a eleição presidencial, mas o candidato do PT chegue na frente em todos os Estados do Nordeste. Nesses casos, quem os candidatos locais deverão apoiar? Nas eleições presidenciais de 1989, 1994, 1998 e 2002, o candidato que venceu nacionalmente também venceu em quase todos os Estados brasileiros. Em 2002, no primeiro turno, Lula chegou na frente em todos os Estados, com exceção do Ceará de Ciro Gomes, o Rio de Garotinho e Alagoas de Serra. No segundo turno, Lula só perdeu em Alagoas, novamente para Serra.

Um candidato a governador daquela eleição não teria dilema em 23 dos 26 Estados. O mesmo é verdadeiro para o Fernando Henrique de 1994 e 1998. Em 1994, FHC só foi derrotado por Lula no Rio Grande do Sul e em 1998 só deixou de chegar na frente no Ceará de Ciro e novamente no Rio Grande do Sul de Lula. Mais duas eleições sem dilema.

2006 foi a primeira exceção à regra das eleições anteriores. O país ficou dividido. Geraldo Alckmin venceu de Mato Grosso do Sul e de São Paulo para baixo e Lula nos demais Estados. Há a crença, não fundamentada nos estudos acadêmicos, de que o voto de presidente "puxa" o voto de governador. O inverso, porém, é verdadeiro. Uma coisa são os estudos acadêmicos, outra, completamente diferente, é o mundo real.

É impossível persuadir um candidato a governador a não considerar de suma importância a força do candidato a presidente em seu Estado. Se isso fosse possível, não haveria dilema. O fato é que em 2002, a eleição na qual venceu a oposição, o candidato Lula ganhou em quase todos os Estados, ao passo que os candidatos de sua aliança eleitoral perderam em quase todos os Estados.

O PT elegeu só os governadores do Acre, de Mato Grosso do Sul e do Piauí. O PSDB, derrotado para presidente naquela ocasião, elegeu os governadores de sete Estados: Ceará, Goiás, Minas, Pará, Paraíba, Rondônia e São Paulo. O PFL, que não apoiou Lula, venceu em quatro Estados: Bahia, Maranhão, Sergipe e Tocantins. O PMDB, que tinha apoiado Serra, ficou com o Distrito Federal, os três Estados do Sul e Pernambuco.

Somente esse resultado mostra a separação entre a eleição para presidente e para governador. Repetindo: no primeiro turno, Lula perdeu somente em três Estados e no segundo, em apenas um. Apesar disso, PSDB, PFL e PMDB juntos conquistaram o governo de nada mais, nada menos, que 16 Estados. Se o voto para presidente tivesse o poder de eleger governadores, o quadro não teria sido esse. O presidente não elege nem os governadores nem os prefeitos.

Acabamos de passar por uma eleição municipal em 2008. Nunca na história deste país isso aconteceu com um presidente tão popular. Mesmo assim, Lula não foi um bom cabo eleitoral. O crescimento de seu partido ocorreu dentro do que seria previsível independentemente da popularidade do presidente.

Qual conclusão se pode retirar de tais evidências? Que se ocorrer em 2010 o que tem acontecido nas últimas eleições gerais, o melhor para os candidatos a governador é apoiar o candidato a presidente com mais chances de vencer a eleição presidencial e não aquele com mais chances de ser o candidato a presidente mais bem votado em seu respectivo Estado.

Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" (Record).

Estados Unidos: hora de agir

Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


De todas as iniciativas, a que vai tratar da questão dos mutuários de hipotecas é a que terá efeitos mais claros

O GOVERNO Barack Obama ganhou três instrumentos para enfrentar a crise que atinge os Estados Unidos. O primeiro é o pacote de estímulo fiscal arrancado a fórceps dos senadores republicanos. Outro veio com a definição das regras da segunda fase do Tarp, programa herdado do governo George W. Bush para retirar os ativos tóxicos dos bancos e estabilizar o sistema financeiro. Finalmente, o governo vai usar quase US$ 300 bilhões para tentar estancar o processo de retomada de residências financiadas por hipotecas, os chamados "foreclosures".

De todas essas iniciativas, a que vai tratar da questão dos mutuários de hipotecas é fundamental. Os "foreclosures" são um elemento importante no desequilíbrio atual do mercado imobiliário americano. Em um ambiente fragilizado pela redução da oferta de crédito, a tentativa dos bancos de revender as casas tomadas de seus mutuários provoca uma espiral deflacionária nos preços. Em uma segunda etapa, essa queda dos preços dos imóveis acaba por forçar mais inadimplência por parte dos mutuários porque o valor da dívida supera seu valor de mercado, enfraquecendo ainda mais os bancos já carregados desses créditos.

A legislação americana é muito particular na medida em que permite que o devedor pare de pagar sua dívida hipotecária sem que o banco possa executar outros bens pessoais. A única reação legal do credor é a retomada do imóvel financiado e sua colocação no mercado. Esse círculo vicioso, identificado há mais de um ano, estava sem condições políticas para ser enfrentado. Agora, em razão do agravamento da crise, virou lei.

A primeira versão da legislação que permite a renegociação das condições de pagamentos das hipotecas é de março do ano passado. Mas os republicanos sempre foram contra essas medidas, alegando questões de natureza ideológica e até de ética religiosa. Se tivessem sido aprovadas no ano passado, a crise de hoje seria muito menor e a retomada do crescimento ocorreria com menor esforço fiscal. Mas são coisas da democracia e devemos aceitá-las como mal menor.

Os efeitos dessas medidas no campo das hipotecas serão sentidos ao longo do tempo, pois muitas das negociações serão feitas com a intervenção do Judiciário, caso a caso. Mas um efeito imediato ocorrerá: os bancos vão certamente aguardar antes de executar as garantias, reduzindo a oferta de residências e aliviando o mercado. É possível esperar uma redução gradativa da queda de preços ao longo dos próximos meses. A conferir...

Quanto aos outros dois pacotes, os resultados são menos claros. As medidas fiscais terão seus efeitos espaçados ao longo do segundo semestre deste ano e do primeiro de 2010, mas ainda não se sabe como o consumidor distribuirá a redução de seus impostos entre consumo e poupança financeira. Certamente essas medidas vão provocar alguma melhora na atividade ao longo dos próximos 18 meses, compensando em parte a contração do setor privado.

Mas a grande dúvida é se esse estímulo será suficiente para uma retomada consistente da atividade econômica. Quanto à segunda fase do chamado Tarp, as expectativas de sucesso são ainda menores. A impressão geral é que as medidas não serão suficientes para estabilizar o sistema bancário. Como essa é uma condição necessária para a retomada de crescimento, ainda não há grandes razões para otimismo quanto ao futuro próximo.

Luiz Carlos Mendonça De Barros , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

Embraer demite 4.200 funcionários

Mariana Barbosa
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Fábrica de aviões corta 20% da folha de salários por causa da crise

Com a queda na demanda mundial por jatos comerciais e executivos, a Embraer anunciou ontem cerca de 4.200 demissões, o equivalente a 20% de seu quadro de 21.362 funcionários. Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou indignação ao ser informado sobre os cortes.

As demissões interrompem um ciclo de expansão de mais de uma década da companhia, que disputa com a mineradora Vale o posto de maior exportadora do Brasil. Só em 2007, com a demanda em alta, a fabricante contratou nada menos do que 3 mil pessoas. Em um esforço para atender à demanda, a empresa bateu recorde de produção no ano passado, quando entregou 204 aeronaves, ante uma previsão de 194. Mas a sorte começou a virar no terceiro trimestre do ano passado, quando a Embraer anunciou seu primeiro prejuízo trimestral (R$ 48 milhões) em 11 anos.

Nos últimos dois meses e meio, clientes da Embraer pediram para adiar a entrega de quase 30 aviões, reduzindo a previsão de entregas totais no ano para 242 unidades. No início do ano passado, quando ainda havia filas de três ou quatro anos para conseguir adquirir um jato executivo da Embraer, a fabricante chegou a prever de 315 a 350 entregas para 2009. Com o adiamento das entregas, a previsão de faturamento foi reduzida em 13%, de US$ 6,3 bilhões para US$ 5,5 bilhões.

Em uma carta aos funcionários, o presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado, afirma que tanto o segmento de aviação comercial quanto de aviação executiva têm sido impactados com um grande volume de adiamentos, "muitos deles por mais de dois anos". Curado admite estar "sem uma clara visibilidade de quando (a empresa) poderá voltar a crescer".

O executivo afirma que o corte na atividade industrial é de mais de 30%, "o que torna inevitável o ajuste na base de custos".

Colaborou Simone Menocchi

País fechou 101 mil vagas em janeiro

Gerusa Marques, BRASÍLIA
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Caged aponta primeiro resultado negativo em janeiro em dez anos; desde novembro, foram 797 mil demissões

Depois do recorde de demissões em dezembro, quando foram fechadas 654 mil vagas com carteira assinada, o mercado de trabalho formal continuou com desempenho negativo em janeiro, com uma perda de 101.748 postos de trabalho. Os dados, divulgados ontem, são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Desde novembro, quando o índice do Caged passou a ser negativo, já foram fechados 797.515 vagas no País.

O resultado é mais grave quando se considera que janeiro é tradicionalmente um mês em que há mais contratações do que demissões.

Foi o primeiro resultado negativo para um mês de janeiro desde 1999, quando foram fechadas 41mil vagas. A indústria da transformação - incluindo metalurgia, material de transportes e produtos alimentícios - e o comércio foram os setores que mais contribuíram para a queda no emprego.

Com a perda de janeiro, o número de postos formais de trabalho no Brasil caiu 0,32% em relação ao estoque existente em dezembro. No total, o Brasil dispõe de 31,9 milhões de postos de trabalho com carteira assinada.

O ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, reconheceu que o resultado de janeiro "não foi bom para o País", mas preferiu observar que o desempenho foi bem menos desfavorável do que o de dezembro. "O saldo do Caged é negativo, mas não caminha para a catástrofe anunciada", disse o ministro.

O maior número de demissões no mês passado foi registrado nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que juntos foram responsáveis por 80% do total de vagas fechadas.

Somente em São Paulo, foram fechados 38.676 postos de trabalho, o que colocou a região Sudeste no topo do ranking das que mais reduziram vagas, seguida das regiões Nordeste e Norte.

Já as regiões Sul e Centro-Oeste apresentaram resultado positivo. No total, oito Estados brasileiros contrataram mais do que demitiram.

Na distribuição por setores, a construção civil, com geração de 11. 324 empregos, e o de serviços, com 2.452 novas vagas, foram os que tiveram o melhor desempenho.

O mês de fevereiro, na opinião de Carlos Lupi, ainda será fraco em termos de emprego, mas, em março, haverá uma retomada. "O pior da crise já passou", disse. Ele previu que a retomada será puxada pelo setor de construção civil e manteve a previsão para 2009 de geração de 1,5 milhão de empregos no País.

Na avaliação do ministro, a demanda interna continua aquecida em função de várias medidas adotadas pelo governo, inclusive o aumento real do salário mínimo, que passou de R$ 415,00 para R$ 465,00.

Lupi observou ainda que o mês passado foi o que apresentou o segundo maior índice de contratação, com 1.216.550 empregados admitidos - volume que só perde para janeiro de 2008, quando foram admitidos 1.308.922 empregados.

"Este resultado de 102 mil negativos não é bom para o País, mas há uma demonstração inequívoca de melhora. Nenhum país do mundo está tendo o nível de contratação do Brasil", afirmou Lupi, lembrando que em dezembro de 2008 foram contratados 887.229 empregados.

"Isso mostra uma reação na cadeia de contratação", afirmou. Lupi avaliou que, se a crise estivesse se agravando, haveria aumento no número de demissões e diminuição das contratações.

Amanhã é sábado de Carnaval. E de futebol?

Juca Kfouri
DEU NO JORNAL DA CBN

Porque amanhã é sábado, sábado de Carnaval, não pense que não vai ter futebol.

Vai ter e muito.

Ali pertinho do Sambódromo, no Maracanã, às 16h, por exemplo, vai ter a primeira partida das semifinais da Taça Guanabara, entre Flamengo e Resende.

Quer dizer, amanhã é sábado, sábado de Carnaval, isso é mais que certo.

Já o jogo do Maracanã, pertinho do Sambódromo, está mesmo marcado, até deve acontecer, mas é possível que não aconteça.

Porque o futebol do Rio Janeiro, a exemplo, aliás, do futebol brasileiro, é um samba do crioulo doido.

E o tribunal de justiça da federação carioca, quase por unanimidade, pensa diferente da Justiça do Trabalho, da OAB, do Ministério Público do Rio, até do presidente do Tribunal de Justiça fluminense e de juristas da CBF.

A justiça esportiva da federação carioca puniu o Vasco, mesmo que todos os demais avaliem que o Vasco é inocente.

E por isso há uma possibilidade, mesmo que remota, de não haver o jogo do Maracanã, pertinho do Sambódromo.

Se não tiver mesmo, também não faz mal.

Você, torcedor rubro-negro, pegue seu nariz de palhaço e fique ali pelo Sambódromo.

Afinal, tenha certeza, amanhã é sábado de Carnaval.

É quase carnaval

Frevo: Voltei Recife
Autor: Capiba
Cantor: Alceu Valença
Bloco Galo da Madrugada

Clique o link abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=Y31j7W-DcDs

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
http://www.pps.org.br/sistema_clipping/mostra_opiniao.asp?id=1245&portal=