terça-feira, 17 de março de 2009

O ardil

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


A expressão em inglês "Catch-22", que dá nome ao livro de Joseph Heller - "Ardil-22" no Brasil -, é um termo militar que significa que você está diante de uma situação paradoxal, sem saída, uma armadilha. É nessa situação que se encontra a oposição brasileira. Nos bastidores da disputa interna do PSDB pela definição não apenas do nome do candidato da oposição, mas, sobretudo, do momento mais propício para apresentá-lo oficialmente ao eleitorado, está a dificuldade dos tucanos de assumir um discurso oposicionista que se apresente como alternativa, diante da popularidade do presidente Lula e de seus métodos populistas de governar, especialmente na crise econômica que o mundo vive.

Os dois estados governados pelo PSDB que têm no comando candidatos potenciais à Presidência, Minas Gerais e São Paulo, são também dos que mais sofrem com a redução de arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) em consequência da queda de consumo.

Houve queda de arrecadação do imposto em nove estados em outubro, em 12 em novembro e em 16 em dezembro, segundo o Ipea, o que mostra um quadro de gravidade crescente da crise. O governador de São Paulo, José Serra, preocupado com os efeitos da crise no seu estado, prefere despender suas energias políticas na administração das dificuldades, sem antecipar atritos com o governo federal.

Já o governador Aécio Neves, atrás nas pesquisas eleitorais, prefere abrir o debate público dentro do partido, chama Serra para o embate, embora também não se disponha a bater de frente com o governo federal.

Como Serra ressaltou ontem em Curitiba, antecipar a campanha presidencial seria atrapalhar a necessária colaboração entre as três esferas de governo - federal, estadual e municipal - numa das piores crise econômicas que o mundo já viveu.

Ao mesmo tempo em que os governadores têm que manter o relacionamento com o governo federal, a oposição parlamentar encontra muita dificuldade para "colar" a crise em Lula, que até o momento está escapando de ser identificado pela população como responsável pelos problemas econômicos que estão surgindo, como o desemprego crescente ou os juros altos que impedem os financiamentos e reduzem o crédito, já diminuído pela própria crise internacional.

O Planalto tem uma pesquisa que mostra que 70% da população compraram até o momento a versão governista de que a culpa da crise é dos países ricos, e que o Brasil está recebendo estilhaços dessa bomba mais ou menos como uma pessoa é atingida por uma bala perdida por estar no lugar errado no momento errado.

Embora a versão seja aparentemente correta, pois os problemas internos que nas crises anteriores levavam o país a quebrar não existem mais - temos reservas suficientes para garantir nossa dívida externa, a inflação está sob controle, a dívida interna está sendo reduzida em relação ao PIB -, as consequências da crise estão atingindo nossa economia por problemas ainda não superados.

A Bolsa brasileira foi das mais atingidas do mundo, e as exportações brasileiras caíram bastante porque nossa economia está baseada em commodities, que dependem do mercado importador.

Apesar de todos os avanços, o real foi das moedas mais desvalorizadas no mundo. O desemprego poderia ser mitigado por uma legislação trabalhista mais aberta, que permitisse acordos salariais provisórios.

E o governo finge que vai combater a crise com um forte programa de investimentos em infraestrutura, mas não tem capacidade de investir porque os gastos públicos estão mais altos do que nunca, direcionados para aumentos salariais do funcionalismo público, programas sociais assistencialistas e aposentadorias.

O programa habitacional que nasceu para criar empregos mais rapidamente com a construção civil acabou se transformando em um projeto megalômano de 1 milhão de casas populares a custo zero que ficará na promessa.

O problema é que a oposição sente-se incapaz de denunciar esses populismos no pressuposto de que o eleitorado não entenderá sua posição.

Quem pode ser contra aumentos salariais, casas populares, concursos públicos, empréstimos consignados? Mesmo que a economia não suporte esses gastos, ou que o estímulo ao consumo popular através de crediários a perder de vista possa prejudicar a longo prazo o cidadão comum, no curto prazo ajudam a impulsionar a economia e, sobretudo, dão popularidade ao presidente.

Há ainda uma diferença de visão de mundo entre o DEM e o PSDB, que se reflete em linguagens políticas distintas em vários momentos.

O DEM, por exemplo, defende a posição conservadora do Banco Central, enquanto o governador José Serra tem nos juros altos seu maior ponto de crítica à política econômica do governo.

Mesmo dentro do próprio PSDB, há quem defenda a atuação do Banco Central, que, nessa visão, tem conseguido conter os efeitos da gastança governamental sobre a inflação, até que a crise mesma neutralizou os efeitos inflacionários com a queda da demanda, o que permitiu o corte de juros mais forte na última reunião.

Um exemplo típico de armadilha populista no caminho da oposição são as votações de propostas do governo para aumentos do funcionalismo público entrando pelo próximo governo.

Ou projetos como o do senador da base do governo Paulo Paim, aprovando o fim do fator previdenciário, uma maneira encontrada pelo governo de Fernando Henrique para reduzir os rendimentos da aposentadoria de acordo com a idade.

Os parlamentares oposicionistas se sentem constrangidos a apoiar essas iniciativas, mesmo sendo contrários a elas, para não perder votos às vésperas das eleições.

O DEM, que tem uma postura mais agressiva na oposição, cobra do PSDB uma posição de confronto aberto com o governo Lula, e aproveita esse momento de definição das candidaturas para se colocar como fiel da balança, coisa que os tucanos não aceitam.

Serra finca pé contra maré

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Andar na contramão é algo que o governador de São Paulo faz com relativa frequência - um traço de personalidade -, embora não o faça com estardalhaço, por uma questão de cálculo.

Foi um crítico contumaz da condução da política econômica no governo Fernando Henrique Cardoso e continua na mesma posição em relação às escolhas do governo Luiz Inácio da Silva na área. Marca posição aqui e ali, mas não confronta quando não lhe interessa comprar uma briga do ponto de vista político.

A menos que, medidos os riscos, valha a pena.

É o caso agora, quando sofre pesada pressão dos aliados para assumir a candidatura a presidente da República em 2010 e rechaça todas elas com veemência.

"Não posso evitar que uns me ataquem, outros me provoquem, outros me estimulem como se eu fosse candidato. Entendo os que atacam, tento ignorar os que provocam e agradeço aos que estimulam. Sei conviver bem com essa espécie de diversidade, fico onde estou e não assumo candidatura antes da hora."

Empenhado em não arrumar confusão com o eleitorado - para seu projeto de se eleger presidente bem mais importante que as reclamações de correligionários ou provocações do adversário -, Serra acha a antecipação da campanha, antes de tudo, contraproducente.

"Primeiro, porque dificulta o combate à crise econômica. O governante, em vez de enfrentar, tende a negar a crise; substitui a eficiência pela afobação, entra em confronto com as forças políticas no momento em que há muito mais necessidade de cooperação e tende a governar menos e a fazer mais espetáculo", analisa e dá como exemplo o governo federal, cujas energias se desviam para a campanha eleitoral, mais que antecipada, permanente.

"Isso favoreceu a paralisia do governo durante seis meses em relação à política monetária, na contracorrente de todo o mundo, o que permitiu o aprofundamento da crise internamente, devido ao sumiço do crédito."

Na opinião dele, o ambiente eleitoral estimulou "o espetacular aumento de gastos de custeio no governo federal, presente e futuro, prejudicando a elevação de investimentos e dificultando, agora, a correção do problema."

Em segundo lugar, Serra acha que a campanha antes da hora só serve para irritar o eleitorado. Principalmente no caso de candidatos governantes.

"Fui eleito em primeiro turno, tenho responsabilidade de governar um Estado difícil onde a crise tem seu maior impacto. O cidadão comum não está pensando em eleição nesta altura. Imagine se começo a fazer discurso de candidato. Qual seria a leitura? A de que estou pouco ligando para os problemas objetivos, preocupado apenas com tititi eleitoral. No dia seguinte seria massacrado pela imprensa e condenado pela população."

O governador acha essa antecipação "espantosa" e lembra que nunca foi essa a prática. "Em março de 1988, de 1993 ou de 2001, ninguém estava falando nas eleições presidenciais dos anos seguintes, não havia nenhuma definição."

E por que há agora? Serra prefere deixar a resposta para gente despida de compromisso partidário. "Como um dos possíveis, e não mais do que possíveis, candidatos no ano que vem, minhas hipóteses poderiam soar, digamos, eleitorais."

Não seria a hora nem o caso de dizer, por exemplo, que isso acontece porque o presidente Lula gosta mesmo é de um palanque. Fazendo campanha, dá a impressão de governar sem precisar governar de fato, no estrito senso do ato.

O tempo de Lula é o tempo de Lula, avalia Serra, que não considera, por isso, que a oposição deva atuar no mesmo tempo.

Nem para fazer frente à campanha do adversário, hoje correndo sozinho com Dilma Rousseff?

Na visão de Serra, a oposição só teria a perder pelas razões já expostas (seus dois candidatos são governadores) e não teria nada a ganhar. "Ela é a candidata que o PT poderia apresentar, não há outro nome. Isso vale para agora e vale também para o ano que vem."

Para torná-la conhecida o governo federal não precisaria de mais que os seis meses do prazo legal de desincompatibilização, a partir de abril de 2010, e sem correr o risco de contestações na Justiça Eleitoral. Serra invoca, a título de comprovação, o exemplo do prefeito Gilberto Kassab, em São Paulo.

Correr, agora, não adianta nada, na opinião dele. "Dilma crescerá de qualquer maneira, chegará aos 30% só pela força do governo e pelo patamar tradicional de votos no PT."

Somados os fatores em jogo - crescimento inexorável da principal adversária, condenação da atitude do governante por parte do eleitorado e desvio do foco do enfrentamento da crise com todos os riscos decorrentes -, Serra finca o pé: "Não vou assumir nenhuma candidatura este ano."

Logo, assume-se desde já o candidato em 2010, correto?

"Não digo isso. Quem apostar numa quebra do PSDB por conflitos entre mim e o Aécio (Neves, governador de Minas Gerais) vai perder. Até porque quando um não quer dois não brigam e quando dois não querem aí é que não brigam mesmo."

Excomunhão eleitoral

Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO

A próxima reunião da comissão de ética do PT, na quinta-feira 19, vai tratar de um assunto que comoveu o país e no momento agita os bastidores do Congresso: o aborto. Trata-se de uma representação da Secretaria de Mulheres contra dois deputados petistas, Henrique Afonso (AC) e Luis Bassuma (BA), que insistem em ignorar uma resolução partidária em defesa da descriminalização do aborto. Elas querem a excomunhão partidária dos infieis, assim como o arcebispo do Recife excomungou fiéis católicos.

No momento em que uma mulher reúne condições efetivas de disputar a Presidência da República, a discussão parece meio fora de moda, mas nunca esteve tão atual como demonstram a história do aborto da menina (ela tem nove anos e foi estuprada pelo padrasto), a reação do arcebispo, e o contorno eleitoral que começa a ganhar no Congresso. A propósito, Dilma acha que essa "não é uma questão de foro íntimo, mas sim de saúde pública, e precisa ser regulamentada".

Radicalizadas, as posições ajudam a explicar até casos sem conexão aparente, como o poder do deputado Eduardo Cunha (RJ), aquele que manda e desmanda no PMDB da Câmara.

Afonso é pastor presbiteriano; Bassuma, espírita. Os dois integram a Frente Parlamentar em Defesa da Vida-Contra o Aborto, uma de um amontoado de grupos religiosos que em alguns casos chegam a reunir na Câmara evangélicos, como o bispo Rodovalho (DEM-DF), da Igreja Sara Nossa Terra, ao deputado carismático Miguel Martini (PHS-MG).

Paulo Fernando Melo da Costa, advogado de Afonso que se declara "da direita lúcida" promete levar "as beatas" para rezar o terço ou entoar hinos em frente à sede do PT.

É uma novidade. Questões morais e de consciência religiosa eram em geral tratadas, nos bastidores do Congresso, longe dos holofotes - a tramitação do projeto de união civil entre pessoas do mesmo sexo da então deputada Marta Suplicy foi ao menos uma vez barrada por um telefonema de bispo católico.

A multiplicação das correntes cristãs e o crescimento de carismáticos e evangélicos tornaram esses embates mais barulhentos. Os grupos se tornaram mais organizados e o confronto com um partido liberal no campo dos costumes, como é o PT, era só uma questão de tempo.

O que as mulheres do PT pedem é a reafirmação de uma resolução do 3º Congresso Nacional do partido, que votou pela descriminalização do aborto. "É necessário agir firmemente nas várias instâncias de decisão contra projetos que, ecoando as posições de grupos ultraconservadores, se contrapõem à luta histórica das mulheres e do PT pelos direitos sexuais e reprodutivos e autonomia das mulheres".

O 10º Encontro Nacional das Mulheres propôs também "a saída imediata dos parlamentares do PT que atuam em comissões estratégicas que tratam de questões relativas a direitos sexuais e reprodutivos, que, orientados por seus princípios religiosos e pessoais retrocedem direitos conquistados pelas mulheres e expressam posições contrárias às defendidas pelo PT".

Na defesa, o deputado Henrique Afonso recorre ao texto constitucional, segundo o qual "é inviolável a liberdade de consciência e de crença", e alega que, se a Secretaria de Mulheres pede ao partido a instauração de processo disciplinar contra ele "tão somente por expressar opinião pessoal, direito que me é assegurado pela Carta Magna, é ela quem está afrontado a Constituição".

Segundo o deputado, sua "posição firme e convicta contra a interrupção da gravidez nunca foi desconhecida " pelo PT, desde que sua filiação, em 1997, que "foi aceita, homologada (...) e nunca dantes a minha posição pessoal incomodou ou contrariou qualquer segmento" do PT.

Por isso - diz ainda - "me causa estranheza, nesta ocasião, a Secretaria de Mulheres afirmar que estou causando "aborrecimento" e "desapontamento" às mulheres petistas. O que mudou ao longo do tempo: minha crença ou a postura (do PT) em aceitar, tolerar e respeitar as diferenças e a diversidade"?

O advogado Melo da Costa não esconde que seu objetivo, com a manifestação de quinta-feira, é "expor a posição do PT sobre o aborto". Já as mulheres pedem também a "retirada de tramitação de todos os projetos de lei propostos por parlamentares do PT que prejudiquem o direito das mulheres de autonomia sobre seu corpo e sua sexualidade".

Entre esses projetos há uma CPI do aborto, para a qual os líderes evitaram indicar até agora os nomes. Mas o campo de batalha não está delimitado pelo aborto.

Há, de um lado, um Projeto de Lei complementar que criminaliza a homofobia; do outro, a deputada Iriny Lopes (PT-ES) incluiu um parágrafo, no projeto que cria o Ministério da Pesca, a constituição de um Conselho Nacional de Promoção da Cidadania de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, para o horror das frentes "ultraconservadoras".

A Frente Parlamentar em Defesa da Vida estima em mais de 100 o número de seus integrantes e dos outros grupos específicos. Na prática, não mais de 30 são ativistas. Como um dos vice-líderes mais importantes do PMDB, o deputado Eduardo Cunha (Igreja Sara Nossa Terra) ajuda a fazer barulho em torno da questão moral. Em troca aumenta seu cacife na mesa de negociação política.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Deputado do PDT lidera pesquisa para governo do Rio

Ana Paula Grabois, do Rio
DEU NO VALOR ECONÔMICO

Serra lidera a pesquisa para presidente

O deputado estadual Wagner Montes (PDT) está na liderança de pesquisa eleitoral para o governo do Rio em 2010. Apresentador de programa popular na TV Record, Montes já havia liderado as primeiras pesquisas na eleição para prefeito do Rio, no ano passado, mas desistiu de concorrer porque disse ter ganho boa estrutura do canal de TV onde trabalha, controlado pelo grupo ligado ao então candidato do PRB, o senador e bispo da Igreja Universal Marcelo Crivella.

O levantamento divulgado ontem, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), mostra Montes com 27% das intenções de voto. O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), candidato declarado à reeleição, aparece com 24%, seguido pelo deputado federal do PV Fernando Gabeira (22%), pelo ex-prefeito Cesar Maia (DEM), com 10%, e pelo prefeito reeleito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, do PT, com 5%. No cenário sem Cabral, mas com o ex-governador Anthony Garotinho (PMDB), que pretende lançar-se como candidato, Montes mantém o percentual de 27%. Gabeira aparece em segundo, com 23%, seguido por Cesar Maia (13%), Garotinho (11%) e Lindberg (6%).

Cabral recebeu aprovação de 32% dos entrevistados e 18% de reprovação, enquanto 46% classificaram seu desempenho como regular. Para as duas vagas ao Senado, a pesquisa mostra Gabeira à frente, com 14%, seguido por Crivella e pela candidata derrotada à prefeitura Jandira Feghali, do PCdoB, ambos com 13%. Em seguida, aparecem a ex-governadora do PT Benedita da Silva (9%), Cesar Maia (7%), Garotinho (6%), Lindberg (5%), o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio, Jorge Picciani (1%), e o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, do PDT, com 1%.

Para presidente, a pesquisa mostra o governador de São Paulo do PSDB, José Serra, à frente, com 30% das respostas, seguido por Ciro Gomes (PSB), com 17%, Heloisa Helesa (PSOL), com 16%, e pela ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, do PT, com 12%. A pesquisa do IBPS foi feita entre os dias 9 e 13 de março com 1.105 entrevistados no Estado do Rio. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

Entidade critica ataques de Lula à imprensa

DEU EM O GLOBO

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) condenou o comportamento do presidente Lula em relação à imprensa, dizendo que ele ataca e faz "críticas desmedidas" quando o enfoque do noticiário não lhe agrada. (págs. 1 e 5)

Entidade condena ataques de Lula à imprensa

Relatório da SIP, que representa empresas jornalísticas do continente, alerta para tentativa de interferência

BRASÍLIA. A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) divulgou um relatório no qual condena as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à imprensa. O texto cita entrevista recente de Lula à revista "Piauí", na qual o presidente disse que não lê jornais para evitar ter azia. Para a entidade, Lula "sempre ataca a imprensa e lança críticas desmedidas quando não lhe agrada o enfoque do noticiário ou um comentário".

A SIP, que representa as principais empresas jornalísticas do continente, classifica de preocupantes algumas iniciativas do governo no setor, como o apoio à realização da Conferência Nacional de Comunicação, em dezembro. Para a entidade, os debates serão conduzidos por ONGs e movimentos sociais que pretendem interferir no funcionamento da imprensa.

A SIP afirma que Lula tem o hábito de se dizer vítima de distorções na imprensa: "Uma breve retrospectiva das notícias mostra que o presidente Lula tem dificuldades para aceitar o trabalho dos jornalistas". O texto lamenta ainda que o presidente tenha dito à revista se considerar bem informado, mesmo sem ler jornais.

De acordo com o documento, tramitam hoje no Congresso 86 projetos que impõem restrições à publicidade. Para a entidade, a maioria das propostas ameaça a independência dos veículos de comunicação. A SIP usou como exemplo os estudos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para restringir anúncios de bebidas, remédios e alimentos. Sobre isso, o texto cita uma declaração do presidente do Conselho de Administração do Grupo Abril, Roberto Civita: "Sem publicidade, seria impossível manter o pluralismo nos meios de comunicação".

O relatório relaciona ainda dez episódios de cerceamento ao trabalho de jornalistas no país desde outubro de 2008. O texto foi divulgado ontem, ao fim de uma reunião da SIP em Assunção, no Paraguai. A entidade também publicou informes sobre a situação da imprensa em outros 27 países. O Palácio do Planalto não quis comentar o relatório sobre o Brasil.

O documento também destaca que o Supremo Tribunal Federal deve decidir nos próximos meses se mantém ou não a obrigatoriedade do diploma de jornalista no país. A SIP ressalta que as empresas de comunicação e alguns setores do governo, como o Ministério da Educação, já defenderam a flexibilização dessa exigência.

A entidade também acusa o governo de não cumprir resolução do Ministério do Trabalho que cria um grupo para propor mudanças na legislação que regulamenta o exercício da profissão de jornalista. O relatório ressalta que o grupo não é composto de forma igualitária por representantes do governo, das empresas e dos trabalhadores.

A campanha de 2010 já começou

Carolina Brígido
DEU EM O GLOBO


Pelo menos no território livre da internet, onde há blogs de defesa dos pré-candidatos

Legenda da foto: UMA PÁGINA do blog de admiradores de Dilma

Legenda da foto: O BLOG de apoio ao tucano José Serra

BRASÍLIA. A campanha presidencial de 2010 já começou na internet. Os principais presidenciáveis já têm a seu favor blogs feitos por admiradores e militantes anônimos. A chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff (PT), o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), e o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) têm páginas dedicadas a eles no blogspot.com. A campanha para o Palácio do Planalto já é explícita, e o Tribunal Superior Eleitoral nada pode fazer, pelo menos enquanto não for provocado - isso sem contar com as dezenas de comunidades no Orkut voltadas para estes políticos, todas com autoria de pessoas desconhecidas.

O "Blog da Dilma" reproduz notícias de jornais, além de comentários favoráveis a ela. Um dos textos diz que o blog é feito por cidadãos independentes que admiram a ministra, muitos deles sob pseudônimo. Enaltece o desempenho da ministra à frente do PAC e aproveita para atacar supostos concorrentes da ministra em 2010, dizendo que Serra e Aécio fazem propaganda antecipada com festas para o lançamento de programas de governo - por sinal, a crítica mais recorrente da oposição à ministra.

O blog que defende Serra para presidente funciona nos mesmos moldes: reproduz notícias da imprensa e ataca adversários. Aproveita para estocar Aécio: "Quem já leu os jornais mineiros fica impressionado com a absoluta falta de crítica em relação a tudo o que se relacione, direta ou indiretamente, ao governo ou ao governador". No blog, há uma enquete sobre quem deve ser vice de Serra. Aécio lidera com 31%. O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) está em segundo lugar, com 12%.

Com produção própria de notícias, o blog em prol de Aécio ressalta feitos do governador. Não contém ataques a Serra, mas menciona que o nome do concorrente não é consenso entre os tucanos. O blog em defesa de Ciro também traz notícias do presidenciável e faz a divulgação da campanha: "Certo de suas potencialidades como candidato, o PSB colocará Ciro na linha de frente na discussão e análise sobre a preocupante crise econômica", diz um texto.

Serra e Aécio trocam juras de união em 2010

DEU EM O GLOBO

Em Recife, os dois pré-candidatos tucanos à Presidência evitam falar de prévias, tema que divide o PSDB

RECIFE. Os governadores tucanos de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves, aproveitaram ontem à noite o lançamento de um livro em Recife para dar uma demonstração pública de união do partido, dividido entre as duas pré-candidaturas à Presidência da República. No lançamento de "Daquilo que eu sei", do ex-ministro da Justiça Fernando Lyra, num shopping center no Recife Antigo, eles chegaram e saíram juntos, antes de participarem de um encontro na sede do PSDB local com deputados e vereadores de partidos de oposição ao governo Lula.

O mineiro, cujo avô Tancredo Neves é a figura central do livro de Lyra, sobre o período da transição democrática, atrasou o desembarque para chegar praticamente junto com Serra ao Aeroporto de Recife. Serra, por sua vez, usou até uma frase de efeito para ilustrar a união com o colega mineiro.

- Olha, gente, se alguém me ver com o dedo no olho do Aécio é que estou tirando um cisco - afirmou Serra, apontando o dedo indicador em direção aos olhos de Aécio.

"Quando um não quer, dois não brigam"

Em discurso no lançamento do livro, Serra disse que os tucanos estão unidos:

- A unidade no PSDB já existe. Não é que não existia e passou a existir. Ela se manifesta no dia de hoje.

Quase em uníssono, os dois adaptaram um velho ditado popular.

- Não dizem que quando um não quer, dois não brigam? Quando dois não querem, dois não brigam - afirmou Serra, sendo completado por Aécio.

Serra reafirmou que não tem divergências com o mineiro.

- A divergência com o Aécio é zero. Há muito folclore - disse Serra.

- Posso até ter uma diferença de nuance em um ou outro tema - completou o governador mineiro.

Aécio diz que PSDB precisa se aproximar da sociedade

Como que combinados, os dois evitaram falar na realização de prévias para a escolha do candidato a presidente - idéia defendida por Aécio e vista com reservas por Serra:

- O PSDB vai estar unido nas eleições. Eu e Serra vamos estar unidos em 2010, para desconforto e desencanto de alguns. No que depender de mim - afirmou Aécio.

- É cedo ainda (para tratar da campanha de 2010). Temos muito tempo pela frente. Não convém toda essa intensificação - disse Serra, em seguida.

Aécio defendeu a construção de uma grande aliança com outros partidos e citou a necessidade de um gesto de despreendimento do PSDB. Chegou a sugerir a inclusão, nessa aliança, do PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, como ocorre em Minas. Aécio disse que, no futuro, os historiadores vão apontar o período de Fernando Henrique e de Lula como um só, voltado para a estabilização econômica.

O tucano mineiro também disse que a hora é de mobilizar as bases, com eventos como o realizado em Recife.

- O partido se distanciou de setores da sociedade nos últimos anos - observou.

'Pode ser que eu venha a ser candidato ano que vem'

DEU EM O GLOBO

Serra, porém, diz que campanha antecipada tiraria o foco da crise econômica

CURITIBA e FLORIANÓPOLIS. Ao se reunir ontem em Curitiba com o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), admitiu que poderá disputar a Presidência em 2010, mas voltou a afirmar que é contra a antecipação do processo eleitoral. Para ele, tal atitude pode dificultar uma boa cooperação entre as três esferas do poder (federal, estadual e municipal), em meio à crise econômica.

- Quando tem candidatura, ou se tem consenso ou alguma forma de consulta. Disso o partido está tratando. Pode ser que eu venha a ser candidato ano que vem, mas neste momento estou concentrado na minha administração em São Paulo (...) O Brasil teve a segunda maior retração do PIB do mundo. A antecipação (do debate eleitoral) tira o foco do trabalho da crise, que é a mais séria desde o começo dos anos 30. Ter um processo eleitoral deflagrado atrapalha o enfrentamento da crise nas decisões, na capacidade de trabalho, nos prazos - disse Serra, que assinou com Requião um convênio de cooperação na área tributária.

O tucano se negou a responder sobre o jantar da semana passada com a cúpula do DEM, no qual teria sido pressionado para assumir o mais rapidamente possível sua candidatura:

- Como de toda reunião de político saem "n" versões, algumas corretas, outras fantasiosas, outras meio a meio - disse Serra, esquivando-se de responder.

Reunida ontem em Florianópolis, a direção do DEM voltou a demonstrar sua preferência pela candidatura de Serra, mas frisou que o partido apoiará o escolhido pelo PSDB.

- São dois grandes governadores (Serra e Aécio), dois grandes estados, e não podemos correr o risco de perder nenhum dos dois estados - disse o presidente do DEM, Rodrigo Maia.

Tucanos batem forte em Lula em ato político

Sheila Borges
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Tucanos congelam divergências

Numa ofensiva contra o PT e a candidatura de Dilma Rousseff, os dois presidenciáveis do PSDB, José Serra e Aécio Neves, adotam a cartilha da unidade

Se na política, em determinados momentos, os gestos chegam a ser mais emblemáticos do que as palavras, os líderes nacionais do PSDB se esmeraram ontem para mostrar esse simbolismo aos correligionários e à opinião pública. Em discursos recheados de críticas ao governo do presidente Lula (PT), os tucanos terminaram transformando a inauguração de um auditório, na sede do partido no Recife, que homenageou à ex-primeira-dama Ruth Cardoso - falecida no ano passado -, em um ato político para marcar a “arrancada” do PSDB rumo à campanha presidencial de 2010. Deixando as divergências internas de lado, os dois pré-candidatos da legenda - os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) - fizeram questão de ressaltar a “unidade” da agremiação. Ressaltaram que, com ou sem prévia, o presidenciável que for para o embate com Lula contará com o apoio do que for preterido.

O senador Tasso Jereissati (CE) foi um dos primeiros a falar e deu o tom da reunião. “A partir de agora, estamos começando a nossa marcha unidos”, frisou. Apontando para os presidenciáveis, colocou que os dois já foram “aprovados” por todos os testes de popularidade e cada um, ao seu modo, construiu carreiras “legitimadas na vontade do eleitor”. Em uma clara referência ao fato da principal adversária dos tucanos - a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que é a pré-candidata de Lula - não ter experiência de voto. Sem citar o nome da petista, enalteceu os governadores do PSDB, falando que eles não precisam de “jogada de marketing” para falar com a população.

“Ninguém vai mudar a cara de José Serra ou fazer Aécio falar sem o sotaque mineiro. Não vai sair ninguém por trás de uma fumacinha com cara e roupa novas. Não precisamos disso”, afirmou, referindo-se ao embelezamento de Dilma, que se submeteu até a uma plástica para rejuvenescer a imagem. O presidente nacional do PSDB, o senador pernambucano Sérgio Guerra, lembrou aos correligionários que a disputa é desigual porque a máquina do governo está trabalhando a todo vapor para eleger o sucessor de Lula. “Não vamos criar candidato. Não conhecemos o projeto dela (Dilma). O PAC (Plano de Aceleração do Crescimento, coordenado pela ministra) é um saco de confusão”, afirmou.

Em função deste contexto adverso, pediu para que os aliados não se “dispersem”. Argumentou que os presidenciáveis precisam encontrar um discurso que a população posso compreender o projeto de governo da oposição, sem citar se será preciso realizar ou não prévias.

Serra foi duro e direto. Primeiro, começou esclarecendo que não tinha aceitado o convite de Aécio e Guerra para vir ao Recife com o objetivo de tirar qualquer dúvida sobre a unidade interna do PSDB. Isso porque ninguém poderia duvidar que ela exista. Aproveitou para fazer uma critica à própria legenda. Disse que os tucanos estão com problemas na comunicação e que sofrem do complexo da pata, explicando que a pata, mesmo colocando os melhores ovos, não avisa quando isso acontece, como faz a galinha. O PSDB, segundo ele, tem que dizer o que fez pelo País.
“Temos que nos valorizar e apontar os erros do governo”.

Aécio foi mais moderado. Chegou a falar que não poderia deixar de reconhecer que o atual governo avançou, mas que isso só ocorreu em razão dos investimentos feitos pelas duas gestões de Fernando Henrique (PSDB). Mas Lula, de acordo com Aécio, gastou mal os recursos e isso colocou o Brasil dentro desta crise mundial. “Temos que nos reconciliar com setores da população que nos afastamos”, disse.

Seis duros meses

Panorama Econômico :: Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO


Seis meses depois da quebra do Lehman Brothers, fatos acontecem diariamente como reflexo daquele louco domingo, 14 de setembro, em que ficou claro que havia uma crise sistêmica nos bancos americanos. Quanto tempo vai durar a crise? Como está afetando as empresas? Teremos recessão?

Esses foram alguns dos pontos da conversa com os dois executivos e dois ex-presidentes do BC num Globonews Especial neste fim de semana, sobre o que chamamos lá de "Os seis meses que abalaram o mundo".

Aliás, ainda abalam. Neste turbilhão de acontecimentos novos diários, os jornalistas são soterrados por informações e fatos inéditos de uma crise sem parâmetros. 1929 é só um quadro na parede. Em alguns aspectos, essa crise é pior que aquela; em outros, diferente.

Quando a crise vai acabar? Armínio disse que as condições iniciais dessa crise são piores que as de 29, as respostas dos governos, maiores, e a marca atual é a incerteza que dificulta qualquer previsão. Pastore disse que não há uma, mas várias crises: uma no Leste da Europa parecida com a que vivemos nos anos 90; uma de destruição de riqueza com a queda do valor das ações, dos imóveis, dos ativos em geral; uma crise financeira sistêmica. De la Rosa disse que a crise vai acabar quando a economia parar de cair, e ainda não parece perto de parar. Alquéres disse que a crise acabou, porque para ele o mundo entrou em outra realidade.

- Estou me programando para viver assim para sempre, e o que eu me pergunto é o que fazer para sobreviver - disse o presidente da Light.

- Na fábrica, eu falo para os meus executivos que nada mais pode dar errado, porque estamos no meio da floresta, com os animais ameaçando. É esse senso de urgência que não existe em Brasília - contou De la Rosa.

Para Armínio, houve vários vilões da crise, além, obviamente, dos bancos:

- Foi uma euforia, uma sensação de festa permanente que fez os padrões de prudência serem abandonados. O governo, como xerife, fracassou.

- Havia a ideia de que os riscos tinham desaparecido, o mundo inteiro achou que tinha descoberto a fórmula mágica. Houve um erro coletivo. O Brasil se beneficiou muito das bolhas - disse Pastore.

Armínio acha que a crise demorou um pouco a chegar aqui, iludindo tantos, porque, nove meses depois de iniciada a crise nos EUA, as commodities ainda estavam em alta. A partir de setembro de 2008, elas caíram.

Pastore aconselha que o Brasil mantenha algum superávit primário para continuar reduzindo a relação dívida/PIB. Tanto ele quanto Armínio acreditam que o Brasil pode derrubar a Selic para algo em torno de 4% de juros reais. Ter esse espaço é bom, porque outros países já perderam a capacidade de fazer política monetária contracíclica. Pastore alerta que o governo não deveria aumentar muito os gastos, porque ele só tem conseguido estimular o consumo do próprio governo. Armínio acha que o Brasil precisa ter cautela, porque tem alguma necessidade de financiamento e há uma enorme dificuldade de financiamento no mundo.

O governo Barack Obama não tem conseguido tirar seu pacote de saneamento dos bancos, da teoria para a prática, entre outras coisas, porque não consegue nomear a equipe. Em parte pela proibição de nomear quem já trabalhou em mercado.

A Marcopolo, empresa de Caxias, Rio Grande do Sul, está em nove países com fábricas ou intenção de investimento. Para De la Rosa, a Rússia é o pior dos Brics. Lá o crédito acabou completamente. Na China, a empresa iria entrar, mas decidiu adiar. Na Índia, as vendas de ônibus, que eram dois mil por mês, caíram para 500, agora em janeiro voltaram a mil e podem subir mais por estímulos do governo. A Argentina tem conseguido manter o ritmo, mas com muita intervenção do governo, e o México está sentindo fortemente a crise americana.

Alquéres conta que a inadimplência dos clientes da Light aumentou - felizmente os governos estão em dia. Mas as empresas médias têm pedido para parcelar a conta e pagar em cinco dias, ou em parcelas, dia sim, dia não.

- É uma forma de se financiar às custas da empresa, porque elas têm dificuldade de acesso ao crédito.

O que mais preocupa Alquéres é que ele acha que investimentos em hidrelétricas serão adiados e o Brasil vai acabar usando as térmicas e aumentando o custo da energia

Pastore acha que o Brasil terá recessão este ano. Armínio concorda e lembra que agora é que incomoda aquilo que não fizemos no período de crescimento, como investimentos em infraestrutura e em educação. De la Rosa disse que tem feito tudo para não demitir no Brasil. Alquéres contou que a Light não demitiu, nem pretende. Ninguém duvida que a crise continua e que este será um ano difícil.

A Marcopolo, fabricante de carrocerias de ônibus, fechou uma fábrica na Rússia e deixou a outra parada. O diretor-geral da empresa, José Rubens de la Rosa, diz que em Brasília "não existe senso de urgência". José Luiz Alquéres, da Light, disse que as empresas médias estão tentando parcelar conta de luz para se financiar. Armínio Fraga e Affonso Celso Pastore acham que os juros reais podem cair para 4%.

Focus prevê expansão de apenas 0,59% da economia

Fabio Graner
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em uma semana, cai à metade previsão de crescimento do PIB brasileiro para 2009

Depois do decepcionante resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre de 2008, o mercado financeiro reduziu fortemente as projeções para o desempenho da economia em 2009.
De acordo com a pesquisa semanal Focus, divulgada ontem pelo Banco Central (BC), a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto para 2009 caiu à metade e passou de 1,20% para apenas 0,59%. Foi a segunda redução consecutiva nessa projeção, que há um mês estava em 1,50%.

O mercado enxerga um ano mais difícil ainda para as indústrias. A expectativa para a produção industrial em 2009, que na semana passada era de queda de 0,04%, passou para um resultado negativo de 1,59%. Há um mês, os analistas trabalhavam com crescimento de 1,50% para este indicador.

A economista da Tendências Consultoria Marcela Prada avaliou que as próximas pesquisas devem mostrar um cenário ainda pior na projeção de crescimento da economia, porque muitas instituições ainda estão revendo seus números.

Na visão dela, a posição mais agressiva do BC no corte de juros está sendo levada em conta pelos economistas, que estudam o comportamento da economia e fazem previsões para os números macroeconômicos,que acreditam em uma aceleração do nível de atividade nos próximos meses.

Marcela explicou, no entanto, que a redução de 3,6% do Produto Interno Bruto do último trimestre de 2008 deixou um importante saldo negativo para este ano, que deve ficar ainda maior com a nova queda que ela acredita que ocorrerá no primeiro trimestre.

"O pior está passando. Esperamos que a partir do segundo trimestre haja uma recuperação"", afirmou, condicionando esse cenário ao não agravamento da situação internacional.

A economista reconheceu que, diante de um Produto Interno Bruto tão ruim previsto para este ano, a pesquisa do Banco Central mostra um mercado ainda conservador com a projeção das taxas de juros para o final do ano.

UM DÍGITO

A estimativa, constatada pela pesquisa Focus, é de que taxa básica de juros, a Selic, encerre 2009 em 9,75% ao ano, o que significaria uma redução de apenas 1,5 ponto porcentual em relação ao nível atual.

A explicação para isso é que a inflação esperada, apesar de estar em trajetória de queda, ainda é alta: 4,52%. A meta para 2009 é 4,5%.

"Se olharmos para o PIB, a previsão para a Selic caiu pouco, mas quando se olha para inflação, que teve uma queda pouco expressiva, entende-se esse movimento, que ainda pode se aprofundar se caírem mais as expectativas de inflação", afirmou a economista.

NÚMEROS
4,52 % é a previsão de inflação para 2009

1,2 % era a previsão de crescimento do PIB até a semana passada

9,75 % é a previsão para a taxa de juro no fim de 2009

Ganho da poupança pode sofrer alteração

Patrícia Campos Mello, Nalu Fernandes, Fabio Graner e Beatriz Abreu
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente Lula disse que o cálculo da rentabilidade da poupança pode mudar. O motivo é a queda dos juros.

""Vamos discutir a poupança"", diz Lula

Em seminário sobre a economia brasileira em NY, presidente fala que não dá para permitir prejuízo de poupadores

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem a possibilidade de mudar o cálculo de rentabilidade da caderneta de poupança. "Temos de pensar, não podemos permitir que os poupadores tomem prejuízo no Brasil, nós precisamos defender a poupança", disse, durante seminário em Nova York.

Muitos analistas têm alertado para o fato de que a tendência de forte queda da taxa básica de juros (Selic) beneficiará a poupança em detrimento de outras aplicações. Isso porque a poupança tem rendimento de 6% ao ano mais a variação da TR, garantido por lei. Por isso, seria necessário rever a rentabilidade da poupança, para evitar distorções e permitir maiores cortes da Selic.

Setores do governo já vêm discutindo o tema reservadamente, mas ontem foi a primeira vez que Lula admitiu a preocupação. O presidente afirmou que vai ter uma reunião com a equipe econômica quando chegar ao País "para ver como fica". "Vamos discutir o que vamos fazer, porque eu também não posso adivinhar."

"Mas nós já mexemos dois anos atrás, quando descobrimos que gente que tinha muito dinheiro queria pôr na poupança. E nós mexemos para garantir a poupança apenas para os pequenos poupadores, aqueles que precisam dela. Aqueles que têm dinheiro que façam outro tipo de investimento."

VINCULAÇÃO À SELIC

O governo pode vincular a remuneração da poupança à Selic. Essa é a alternativa que conta com maior simpatia na equipe econômica entre as opções que vêm sendo consideradas para evitar que o rendimento da poupança seja um empecilho à queda dos juros ou acabe provocando uma migração em massa de aplicações.

Porém, outras opções estão sendo avaliadas. Uma delas é estabelecer um porcentual acima do IPCA para definir o rendimento das cadernetas. Outra hipótese é dar ao Conselho Monetário Nacional (CMN) a prerrogativa de fixar periodicamente a remuneração, como ocorre hoje com a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).

De acordo com os estudos do governo, se a Selic for adotada como parâmetro da remuneração da poupança, a vinculação não seria integral. O rendimento dos poupadores seria definido como um porcentual da taxa.

Esse "desconto" é justificável na medida em que, ao contrário dos fundos e de outras aplicações, a poupança é totalmente garantida pelo governo, tem liquidez imediata, é isenta de Imposto de Renda e, além disso, os poupadores não pagam taxa de administração aos bancos.

Uma variante dessa medida seria estabelecer uma flutuação entre a Selic e a rentabilidade da poupança: quanto maior a Selic, menor o porcentual que definiria a remuneração das cadernetas.

Sonata Nº 1

Beethoven
Pianista: Wilhelm Kempff
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