segunda-feira, 18 de maio de 2009

Bruxarias na macropolítica

Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - A tese do terceiro mandato consecutivo para Lula surgiu há pouco mais de dois anos, depois da reeleição do petista. Caiu em desuso com a opção doméstica da candidatura presidencial de Dilma Rousseff, patrocinada pelo atual ocupante do Planalto.

Como se diz em Brasília entre os petistas, Dilma é um nome bom para ganhar (Lula continuaria a mandar) e para perder (Lula voltaria em 2014). Lorota. Todos querem mesmo é vencer. Daí o quase pâ- nico por causa do tratamento de câncer no sistema linfático anunciado pela ministra. Tudo voltou ao terreno das incertezas.

No PSDB, a "aliança dos sonhos" dos tucanos -uma chapa Serra- Aécio- passou a ser uma possibilidade real. Já sobre o futuro de Dilma, ninguém que é alguém no governo ousa falar em público.

Por enquanto, os únicos vocalizando abertamente um terceiro mandato para Lula são deputados do chamado baixo clero, de pouca expressão. Mesmo com peso político limitado, esse grupo cumpre um papel relevante. Mantém o assunto em fogo brando, em pauta, até o momento em que seja de fato necessário tomar uma decisão.

Trata-se de engenharia difícil.

Falta tempo e sobra complexidade.

Tudo teria de ser concluído até setembro, um ano antes da eleição de 2010 -o prazo legal para a bruxaria se tornar realidade. O passo inicial é talvez o maior obstáculo.

Admitir um plano B em público o transforma imediatamente em plano A. De tabela, o establishment petista teria de explicitar em público suas dúvidas a respeito da plena recuperação de Dilma Rousseff.

Dado o número de variáveis envolvidas, é temerário prever a viabilidade dessa "operação terceiro mandato". Mas a insistência com que o tema vem sendo mencionado é um sinal de que acreditar em bruxas, no momento, não soa como algo tão disparatado em Brasília.

CPI também vai apurar patrocínios da Petrobras

Gustavo Paul, Gerson Camarotti, Evandro Éboli e Deborah Berlinck*
Brasília e Riad (Arábia Saudita)
DEU EM O GLOBO

A oposição também quer investigar na CPI da Petrobras os patrocínios culturais da estatal com indícios de irregularidades. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) vai requerer cópias dos inquéritos abertos pela Policia Federal e das auditorias do Tribunal de Contas da União. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou o uso político-eleitoral e disse que senadores que pediram a CPI "não têm outra coisa para fazer".

Atirando para todos os lados

Oposição quer investigar até patrocínios na CPI da Petrobras. Lula critica interesse eleitoral

Além dos artifícios fiscais usados pela Petrobras, a oposição pretende investigar na CPI recém-criada todos os patrocínios culturais da estatal que tenham indícios de irregularidades. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento da CPI, adiantou ontem que, tão logo sejam iniciados os trabalhos da comissão, vai requerer cópias dos inquéritos abertos pela Polícia Federal e das auditorias feitas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) que avaliam a liberação dessas verbas. Enquanto a oposição reúne munição para a CPI, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a postura dos senadores que pediram a instalação da comissão, lamentando o interesse políticoeleitoral em torno da estatal.

O requerimento de criação da CPI já inclui os patrocínios culturais irregulares como o sexto item a ser investigado.

— Para pedirmos a CPI, pegamos tudo o que tinha de ação envolvendo a Petrobras e a ANP (Agência Nacional do Petróleo). E há uma ação do Ministério Público (MP) que investiga a liberação de verbas para festas juninas na Bahia. Vamos ver todos os patrocínios irregulares, não só os baianos — disse Dias.

O MP investiga o fato de apenas duas ONGs, dirigidas por petistas, terem recebido no ano passado R$ 2,96 milhões da estatal para realizar festas em 44 prefeituras baianas em troca da exposição da marca da Petrobras.

Além dos patrocínios culturais, a CPI se propõe a investigar indícios de fraudes nas licitações e contratos para reforma e construção de plataformas de exploração de petróleo; indícios de superfaturamento na construção da refinaria Abreu e Lima em Pernambuco; denúncias de desvios de dinheiro dos royalties; denúncias envolvendo a ANP e usineiros e o uso de artifícios contábeis que levaram à redução do recolhimento de impostos.

Para o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), o medo do governo não é dos fatos que motivaram a criação da CPI da Petrobras. Mas, sim, dos fatos novos que possam surgir durante as investigações iniciais. A cúpula tucana está convencida de que o governo tem utilizado politicamente a Petrobras para fins eleitorais, como no caso do patrocínio de festas juninas na Bahia. De forma reservada, caciques do PSDB querem relacionar os fornecedores da estatal com os doadores de campanha para o PT.

— As denúncias que surgiram até o momento não preocupam os integrantes do governo. O que mais causa temor aos petistas é o que ainda não foi divulgado. A preocupação é com a abertura da caixa preta da Petrobras, inclusive dos fornecedores, e que a CPI fique sem controle — avaliou Guerra.

O Palácio do Planalto já mandou um recado que vai controlar a CPI para evitar que a investigação ultrapasse os fatos determinados para a instalação da comissão. Além disso, a determinação é de não negociar cargos na comissão, acumulando a presidência e a relatoria.

— A CPI vai ficar restrita aos fatos determinados, que poderiam ser explicados facilmente. Entre os fatos, não existe nada de escândalo envolvendo a Petrobras. Há uma discussão tributária, uma acusação sobre royalties, que na verdade é uma determinação da ANP, e uma investigação sobre a construção de uma refinaria em Pernambuco, que já está sendo apurada pela Polícia Federal — avisou o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR).

Lula: quem assinou ‘não tem o que fazer’

Durante viagem à Arábia Saudita, o presidente Lula da Silva criticou a criação da CPI da Petrobras, sugerindo que os senadores que assinaram o pedido “não têm outra coisa para fazer”. Para Lula, o que está por trás da CPI seria um interesse “político-eleitoral, possivelmente menor”, que poderia ser as eleições de 2010 ou tirar do foco da mídia os recentes escândalos que envolvem o Senado.

— Eu não sei o que está por trás disso. Talvez alguns dos que assinaram estavam querendo tirar das suas costas todo esse debate que a imprensa está fazendo sobre o Senado, outros possivelmente estejam preocupados com o processo eleitoral de 2010 — afirmou Lula.

O presidente lamentou que isso ocorra justamente quando o Brasil vive um “momento de ouro” no setor de petróleo e busca investimentos externos para a Petrobras intensificar a exploração das reservas do pré-sal.

— Eu acho que você não pode transformar uma questão políticoeleitoral, possivelmente menor, envolvendo a empresa mais importante que o Brasil tem — disse Lula, acrescentando — De qualquer forma, se as pessoas que assinaram não têm outra coisa para fazer, só têm aquilo, que façam. Nós vamos continuar tocando o barco.

O ex-presidente Fernando Henrique minimizou ontem o impacto da CPI da Petrobras e disse que seria “contraproducente” o PSDB usar a comissão para antecipar a disputa eleitoral de 2010.
Fernando Henrique disse ainda que possíveis falhas da empresa são pontuais e que a estatal não deverá ser abalada com as investigações.

Colaborou Tatiana Farah *Enviada especial

China, CPI e Petrobras

EDITORIAL
DEU NO ESTADO DE MINAS


Lula não pode se iludir com dinheiro chinês e comprometer lucro do país com o pré-sal

A irritação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar denúncias de irregularidades supostamente cometidas pela direção da Petrobras em seu governo tem vários motivos. Mas o que deixou Lula mais preocupado foi o fato de que a bomba estourou exatamente às vésperas de uma das missões mais importantes e delicadas que o presidente vai cumprir no exterior. Hoje e amanhã, ele tenta – em meio à ainda severa crise mundial do crédito – arrancar um empréstimo do governo da China. É dinheiro que pode dar um empurrão no esforço de salvar a estatal brasileira do desconforto de ter descoberto imensas jazidas no mar de Santos e não ter caixa para retirá-las das profundezas do pré-sal. O barulho produzido no Congresso poderia levar os chineses a suspenderem a negociação. Mais do que atrasar a exploração da descoberta, isso também poderia colocar em dúvida a propalada credibilidade que o Brasil teria conquistado no mercado mundial. No plano interno, ficaria sujeita a críticas a fragilidade financeira a que a atual administração teria levado a maior empresa brasileira.

Mas, com ou sem CPI, as chances de Lula voltar da esvaziada viagem à China trazendo o empréstimo ainda são boas. O que preocupa são as bases da negociação. As conversas começaram quando o vice-presidente Xi Jintao esteve no Brasil, em fevereiro. Os chineses se dispuseram a liberar US$ 10 bilhões para a Petrobras, como adiantamento ao fornecimento de petróleo àquele país. Agora, o governo brasileiro tenta elevar esse teto para US$ 15 bilhões. A quantia deixa de assustar quando se sabe que o Banco de Desenvolvimento da China já fez empréstimo ainda maior, de US$ 25 bilhões, à Rússia, com prazo de 20 anos, a ser pago também em barris de petróleo. A China é o segundo maior consumidor de combustíveis fósseis do mundo. Mas só produz a metade do que queima para mover suas usinas, fábricas e meios de transportes.

O problema é que o tempo e a conjuntura são menos favoráveis ao Brasil. A retração do mercado financeiro mundial dá aos fundos chineses excepcional poder de negociação. E, para completar, os preços do petróleo caíram a um terço dos da fase de euforia, quando as jazidas do pré-sal foram anunciadas. Não é à toa que os chineses estão, justamente agora, tentando garantir o abastecimento para os próximos anos. Vão tentar empurrar no Brasil condições parecidas com as que impuseram à Rússia: o compromisso de entrega firme de certa quantia de barris por dia, por número pré-determinado de anos, a preços atuais, sujeitos a pequenos reajustes. Que Lula e a Petrobras resistam à tentação. O preço contratado terá de seguir de perto as cotações internacionais ou, na pior das hipóteses, que seja permitido o pagamento do empréstimo em dinheiro, no valor equivalente ao número de barris, quando isso for mais interessante para a Petrobras. Afinal, nem a crise mundial nem as atuais cotações do petróleo vão durar para sempre. E engessar o ganho do Brasil com o futuro do pré-sal será uma precipitação imperdoável.

A Via Campesina e o teatro das mocinhas

Zander Navarro
Sociólogo
DEU NO JORNAL DO BRASIL


Não tenhamos dúvidas: o Brasil é mesmo um país extraordinário e nem comentarei sobre o édito do obscurantista bispo de Olinda e Recife.
Ainda abriremos um veio de investigações sobre o "excepcionalismo brasileiro", tantas são as surpreendentes particularidades de nosso povo.
Tome-se, como exemplo, as manifestações das "mulheres da Via Campesina", ocorridas em 8 de março. Acionadas para celebrar suas conquistas emancipatórias, aquelas ações, de fato, as desmoralizam, tal o seu grau de insanidade. Desde o espanholismo que a nomeia (por que não Via Camponesa?) às patéticas burcas roxas que as transformam em assumidas delinquentes.

Mas há aspectos mais sombrios. Por exemplo, se inquiridas, estou certo que nenhuma das manifestantes, uma que fosse, saberia definir "agronegócio", que seria o seu principal alvo político. O que demonstra outro fato igualmente grave, qual seja, o Movimento das Mulheres Camponesas, suposta organização autônoma integrante da Via Campesina, não é mais do que um pequeno grupo de militantes subordinadas a outra organização essencialmente masculina, que é o MST. Não é estranho? Mulheres manifestam-se no dia definido para comemorar a sua autonomia social e política, mas não sabem por que o fazem e, além disso, são marionetes de uma entidade dominada por homens. Não somos mesmo um país fantástico?

Posso escrever as linhas acima porque acompanhei como sociólogo a história deste grupo, nascido como Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais em Passo Fundo, em agosto de 1985. O MMTR observou uma evolução meritória até a primeira metade da década seguinte, quando passou a encontrar dificuldades de manter uma "agenda específica" sobre temas femininos, especialmente sobre direitos reprodutivos. No final daquela década, sua liderança foi sendo duramente pressionada para ser "mais combativa" (leia-se, confrontacional), até mudar o nome e sucumbir às pressões do MST, que capturou esta e outras organizações. Insisto categoricamente: a Via Campesina não é uma coalizão, mas apenas o MST tout court. O Movimento dos Atingidos por Barragens é um minúsculo grupo subordinado ao MST; o Movimento dos Pequenos Agricultores é apenas o braço sindical do MST e não tem existência própria; a Comissão Pastoral da Terra há anos inverteu os papéis e se deixou dominar pelos sem-terra; a Pastoral da Juventude Rural é raquítica e sem a menor importância social. Sobram as entidades de adolescentes (Feab e Abeef), mas estas mereceriam algum crédito, quando não existe mais nem mesmo um movimento estudantil?

Zander Navarro é professor da UFRS

Economia verde

Arnaldo Jardim
Deputado Federal (PPS-SP)
DEU NO JORNAL DO BRASIL

A crise financeira impõe a necessidade de repensarmos o atual modelo econômico impulsionado pela globalização. Se o aquecimento global já nos alertava para o risco da combinação entre lucro fácil e o consumismo exacerbado, a crise econômica determina não apenas a necessidade de mudanças na regulação dos mercados, mas aponta parâmetros de uma nova economia, mais integradora, multipolar, equilibrada e, principalmente, sustentável. Em meio a este debate global, surge uma referência: a economia verde.

Um modelo de desenvolvimento econômico escorado pela pesquisa e uso em larga escala de fontes renováveis de energia, por políticas de eficiência energética, pela racionalização do uso da água, por compromissos com a responsabilidade sócio-ambiental, pela criação de novos produtos, no reconhecimento dos serviços ambientais e na gestão adequada do lixo.

A certeza de que esta tendência deve sair do papel surge, por exemplo, nos EUA, onde a administração Barack Obama apresentou um plano audacioso orçado em US$ 825 bilhões, com o objetivo de criar 460 mil empregos verdes, relacionados à indústria de energia limpa. A expectativa norte-americana é de que o país dobre a sua capacidade de geração de energia alternativa, dentro dos próximos três anos.

O exemplo norte-americano serve para ilustrar o quão difícil é promover mudanças profundas no modo de vida de um país. Foram necessárias décadas para que os EUA assumissem um papel de liderança na produção de biocombustíveis.

Para tanto, a pressão internacional em torno da necessidade de criarmos alternativas aos combustíveis fósseis foi fundamental, assim como os desdobramentos da crise financeira que atingiram em cheio o american way de consumir em demasia. Carros beberrões dão lugar a veículos híbridos, o etanol ganha força, o consumismo começa a arrefecer.

Em meio à seara de temas que envolvem a chamada economia verde, o simples bom mocismo ambiental não tem vez. É fundamental que haja um entendimento global em torno do tema, uma coordenação entre países desenvolvidos e emergentes que devem estabelecer seus próprios marcos regulatórios e políticas públicas capazes de respaldar as mudanças de comportamento, paradigmas e postura frente ao meio ambiente em que vivemos.

Por isso, destaco a Conferência Internacional ISWA Beacon – International Solid Waste Association – realizada na capital paulista, sob a organização da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Trata-se do mais importante evento internacional na área de resíduos sólidos, onde são apresentadas e discutidas tendências e soluções, em nível mundial, visando fortalecer o intercâmbio entre os principais agentes do setor.

O discurso uníssono dos palestrantes destacou a premente necessidade de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Coordenador do grupo de trabalho responsável pela elaboração da PNRS, pude fazer um breve relato das nossas atividades.

Felizmente, já existem diversos pontos de convergência, como: a definição dos limites de atuação da legislação federal; a criação dos planos microrregionais, em que defendo a inclusão dos planos nacional, estaduais e municipais como instrumentos da PNRS; a explicitação das responsabilidades dos diversos setores (indústria, comércio, saúde etc); o vínculo do plano de gerenciamento de resíduos ao licenciamento ambiental; o reconhecimento do papel dos catadores; a definição do papel da União e dos estados; além da definição das principais ferramentas de políticas públicas a serem adotadas pelo setor.

Todavia, ainda existem pontos críticos a serem contornados para que possamos preencher a lacuna deixada pela falta de uma lei federal. Entre os quais destaco: a necessidade de adoção de incentivos econômicos para a atividade de reciclagem e de aterro sanitário e industrial; a responsabilidade da União no tratamento adequado dos resíduos perigosos; o estabelecimento de acordos setoriais e termos de compromisso para contemplar várias possibilidades de responsabilidade compartilhada; a responsabilidade pelo pós-consumo; e o papel preponderante dos catadores na logística reversa.

Utilizei o exemplo da elaboração da PNRS para demonstrar a dificuldade de elaborarmos uma política pública de tratamento e destinação do lixo, apesar do assunto se apresentar como um grande desafio do século 21. São quase duas décadas de impasse que, agora, começam a adquirir contornos de realidade em meio ao consenso de que algo precisa ser feito, por isso, acredito que ainda este ano devemos votar uma proposta de PNRS.

Apostamos certo no etanol e estamos na vanguarda dos biocombustíveis (em junho, sediaremos o grande evento Ethanol Summit). O 1º projeto de crédito de carbono aprovado foi nosso. Os programas de responsabilidade sócioambientais se disseminam nas empresas. Estamos no caminho certo, mas é preciso apertar o passo, marcar posição, pois o Brasil poderá ser um país de vanguarda em meio à tendência mundial por uma economia verde.

Listas fechadas

Luiz Carlos Bresser-Pereira
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

As listas fechadas tornam mais segura a profissão política, que, assim, poderá atrair melhores candidatos

Uma querida amiga enviou-me e-mail manifestando sua indignação contra a eleição por listas e o financiamento público de campanhas. O e-mail chegou no momento em que eu estava escrevendo este artigo a favor das listas fechadas e do financiamento público. Vemos, portanto, que a sociedade brasileira, que clama por reformas políticas, não sabe exatamente o que quer.

Por outro lado, todos, preocupados, vemos o Congresso Nacional se transformar em palco de uma sucessão de escândalos que fragilizam a democracia brasileira. Não existe solução simples para o problema, mas está claro que precisamos de representantes de melhor qualidade e que sejam mais responsabilizados perante os eleitores. E está claro também que uma reforma política poderia contribuir para isso.

Há muitos anos defendo o sistema misto do tipo alemão, que combina lista fechada com voto por distrito, mas, para isso, é necessária reforma constitucional, e não há expectativa de que possa ser aprovada.

Já o projeto do deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) propondo lista fechada (como o de financiamento público) não depende de mudança da Constituição e, a meu ver, contribui para termos um Congresso melhor. Contribui por quatro motivos.

Primeiro, porque fortalece os partidos políticos. Em uma boa democracia, o eleitor está interessado nos grandes objetivos nacionais de segurança, liberdade, bem-estar, justiça e proteção do ambiente -objetivos que se expressam nas ideologias definidas pelos partidos. O sistema brasileiro enfraquece os partidos políticos porque é presidencialista e porque o voto é proporcional com listas abertas, de forma que os candidatos do mesmo partido competem entre si em vez de formar um todo razoavelmente coeso.

Segundo, a lista fechada permite uma maior responsabilização dos eleitos. Com a lista aberta, é quase impossível para o eleitor acompanhar o trabalho de um candidato que ele não conhece (pouquíssimos se lembram do nome do candidato em que votaram) e de um deputado que ele não elegeu (apenas um terço dos eleitores elege um deputado).

Já a lista fechada permite que o eleitor peça contas ao partido político em que votou.

Terceiro, porque reduz a importância do dinheiro nas campanhas. Eleger um deputado no Brasil é muito caro. Com as listas, esse custo desaparece.

Quarto, porque as listas fechadas tornam mais segura a profissão política, que, assim, poderá atrair melhores candidatos. Não há profissão mais importante para um país do que a de político.

Precisamos atrair para ela uma parcela dos jovens mais brilhantes e com maior espírito público, mas, para isso, é necessário haver um razoável grau de segurança para os candidatos. Nas democracias avançadas, há vários dispositivos orientados nessa direção.

O voto proporcional em lista aberta, entretanto, torna a vida do político brasileiro infernalmente insegura.

Em comparação com as democracias mais desenvolvidas, a porcentagem dos deputados novos que são reeleitos é muito pequena. No Brasil, é preciso ter espírito aventureiro para alguém se candidatar.

Mas o voto por lista fechada não dará ainda mais poder aos grupos que controlam os partidos?

Não creio. Quando um partido político fizer listas sem nomes respeitáveis e conhecidos, perderá votos. Não existe reforma política perfeita. Em cada reforma, há ganhos e perdas.

Para eleitores muito conscientes, a perda da possibilidade de votar em uma pessoa determinada é real. Mas ter uma democracia baseada em partidos fracos e em políticos aventureiros é perda maior.

Luiz Carlos Bresser-Pereira, 74, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994"

Lista fechada trava reforma política

Julia Duailibi
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Tentativa de retomar discussão sobre o tema encontra resistência ainda na aprovação do financiamento público

A tentativa de trazer à tona a discussão em torno da reforma política, um dos temas mais controversos do Congresso, encontra uma resistência inicial: a aprovação do financiamento público e da lista fechada - aquela em que os eleitores não votam no parlamentar, mas em uma espécie de ranking com nomes propostos pelo partido.

Em debate na TV Estadão (www.estadao.com.br), realizado na sexta-feira, os deputados Arnaldo Madeira (PSDB-SP) e Carlos Zarattini (PT-SP) defenderam pontos de vistas distintos em relação a esses dois temas. É a partir deles que o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), pretende aprofundar com os líderes partidários, nesta semana, a discussão sobre a reforma. Os parlamentares, no entanto, são céticos em relação à aprovação de alterações na legislação às vésperas da eleição de 2010.

Zarattini afirmou que a posição do PT, firmada em congresso do partido em 2007, é de defesa da lista fechada. "Consideramos que é uma forma de valorizar o partido, reduzir o gasto de campanha e, ao mesmo tempo, possibilitar que as pessoas tenham uma visão mais clara do processo político", declarou.

De acordo com deputado, a lista fechada permite o financiamento público, já que os recursos para as campanhas ficam a cargo do partido, e não do candidato. O lado mais negativo do sistema atual, na avaliação de Zarattini, é que ele deixa "turvada" a visão do eleitor, em razão da "infinidade de candidatos".

"(No sistema atual) cada pessoa (candidato) tem de buscar recursos, cada pessoa faz um esforço gigantesco e, ao mesmo tempo, há uma doação cada vez maior das grandes empresas, colocando o candidato numa situação constrangedora quando se vai discutir determinado assunto", completou.

O deputado Madeira discorda. Com uma visão bastante crítica da lista fechada, ele acha que o sistema afasta o político do eleitor. "Em vez de nós ficarmos discutindo como construir um sistema eleitoral para que o eleitor se sinta mais confortável na escolha do seu representante, nós estamos com essa história de lista fechada na véspera do prazo para se decidir as regras", disse o parlamentar.

Na bancada do PSDB na Câmara, também não há uma posição fechada sobre o assunto. "Hoje o eleitor não se sente representado no Legislativo. Para pegar um exemplo, (na eleição para deputado federal em 2006) o Capão Redondo tinha cerca de 266 mil eleitores. O mais votado teve 9,8 mil votos. Então é óbvio que essa população não se sente representada. Essa é a distância que nós temos que ultrapassar", afirmou.

VOTO DISTRITAL

O parlamentar defende o sistema distrital misto, em que o eleitor pode votar apenas nos candidatos que concorrem no seu distrito eleitoral. "Cada pessoa vai saber quem é o seu representante", afirmou. Madeira, no entanto, acha pouco provável que esse sistema seja aprovado no País. "Um sistema que tem mais aceitação, e que é possível, é o distrital misto, em que parte seria eleita pelo distrito e parte pela lista partidária."

Zarattini criticou o voto distrital misto. Disse que o sistema tende a diminuir a representação dos minoritários. "Você caminha sempre para uma polarização. E um partido que pode ter 30% ou 40% não consegue ter representação. Vai ser eliminado porque ganha um ou outro, como no sistema de senador", declarou o parlamentar.

Questionado sobre a possibilidade de os partidos usarem a listas para emplacarem candidatos polêmicos, ele afirmou: "Se colocar na lista candidato com problemas na Justiça, isso é um problema para o partido. O partido vai sofrer as consequências de ter um candidato pesado para carregar." Ele defendeu que o sistema da lista valoriza a discussão política e fortalece a democracia partidária.

Para Madeira, a lista pode propiciar corrupção interna. "O deputado vai colocar um anúncio: ?Deputado que quer se eleger procura partido que consiga eleger até seis parlamentares para negociar terceira ou quarta posição na lista.?"

Ele citou o caso da Argentina, onde há lista fechada. "É um escândalo atrás do outro. A maior desmoralização. Essa coisa de financiamento público é idealizar o mundo real. Temos que construir instituições sólidas e transparentes para que a população tenha condições de avaliar o que está acontecendo", afirmou ele.

O tucano criticou ainda o financiamento das campanhas com dinheiro do Estado. Zarattini rebateu, ao dizer que as elas já são, em parte, bancadas com recursos do fundo partidário, que vem do Tesouro.

No final do debate, ao ser indagado sobre as críticas feitas ao PT, de que poderia usar a discussão da reforma política para tentar aprovar um terceiro mandato do presidente Lula, Zarattini negou haver no partido articulação nesse sentido. "Não queremos que haja uma mudança nessa questão. Isso sempre se coloca para evitar a discussão da reforma. Quando falamos, dizemos que é para dar mais transparência. Hoje a Justiça Eleitoral tem dificuldade.

São milhares de candidatos, milhares de contribuições."

FRASES
Carlos Zarattini
deputado pelo PT-SP

"Consideramos que (a lista fechada) é uma forma de valorizar o partido e reduzir o gasto de campanha"

Arnaldo Madeira
deputado pelo PSDB-SP

"O eleitor não se sente representado. Essa é a distância que temos que ultrapassar"

Só periféricos se unem ao PT

Tiago Pariz e Flavia Forenque
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

PMDB se acerta com partido de Lula apenas em estados pequenos. Tendência da maioria dos diretórios é seguir com candidatura petista, mas ainda não há acerto. Problema está nos estados com maior eleitorado

A aliança do PT com o PMDB tão almejada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva é realidade apenas em estados periféricos. Nos locais de maior densidade eleitoral, definitivos para saber qual o rumo dos peemedebistas em 2010, há mais divergências do que acertos.

Até agora, estados sem peso na Convenção Nacional do partido — como Acre, Rondônia, Roraima e Rio Grande do Norte — estão com o acordo mais adiantado. Outros pró-Lula, como Ceará, enfrentam obstáculos impostos pela lógica regional. “Roraima está fechado com o PT, independente de qualquer parceiro”, afirma o senador Romero Jucá, presidente do diretório no estado. “A nossa candidata é a ministra Dilma”, acrescenta.
No Acre, o apoio também está consolidado. Na última eleição ao governo do estado, Márcio Bittar (PPS), apoiado pelo PMDB, foi derrotado no primeiro turno por Binho Marques (PT), então vice-governador do petista Jorge Viana. Mas agora, a tendência é de os partidos marcharem juntos no plano nacional. A posição em outro estado do Norte é semelhante. “Onde o PMDB nacional estiver, o de Rondônia também vai estar numa aliança com o PT”, afirma o senador Valdir Raupp, presidente do diretório estadual.

Mas esse cenário de aliança consolidada é exceção, apesar de haver uma tendência na maioria dos diretórios peemedebistas a um acordo com Lula. Com isso em mente, os entusiastas do presidente da República se engajam para reverter o cenário desfavorável em alguns estados cuja preferência é pelo PSDB. O deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE) cita, por exemplo, o caso do Paraná. Apesar de o governador Roberto Requião preferir apoiar o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), para ser seu sucessor, o parlamentar peemedebista aposta numa reversão do quadro.

Eunício ainda traça um cenário bastante otimista para São Paulo, onde o presidente do diretório estadual, Orestes Quércia, declarou apoio ao governador José Serra (PSDB). O deputado cearense acredita que o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), poderá levar alguns votos pró-PT. “Lá é uns 60% contra 40%”, diz numa avaliação positiva. Hoje, numa conta que agrada Lula, 18 diretórios são favoráveis à aliança, contra sete favoráveis ao PSDB e dois indecisos, entre eles o Distrito Federal.

No Amazonas o cenário é um pouco diferente. O secretário-geral do partido no estado, Miguel Capobiango Neto, aponta um interesse de alguns diretórios em fortalecer a ideia de candidatura própria: “O PMDB tem uma força muito grande no nível municipal, mas ainda precisa ter seu plano de governo fortalecido”, defende.

Até agora, os empecilhos para o acordo eleitoral surgem dos petistas, como em Minas Gerais e Ceará. “Temos tudo para fechar a aliança, a não ser que o PT faça besteira nos estados”, resume Eunício Oliveira. Em Minas, há sintonia entre os ministros Patrus Ananias (PT) e Hélio Costa (PMDB). O ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel é o responsável por não fazer o acordo andar. Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são os estados mais próximos de uma aliança com o PSDB. --> --> --> -->

Legenda reticente

Confira exemplos de estados onde a aliança entre PT e PMDB para 2010 está praticamente acertada. Em lugares como São Paulo, a dobradinha ainda enfrenta resistências.

Roraima É um dos estados em que a aliança entre PT e PMDB está definida. O fiador da união entre os partidos é o senador Romero Jucá, que preside o diretório estadual. O político afirma que a candidata de consenso em Roraima é Dilma Rousseff

Acre

A dificuldade do PMDB em fazer oposição regional no Acre ficou demonstrada nas últimas eleições, quando o partido perdeu para o candidato do PT, Binho Marques. A fragilidade de caminhar por conta própria tende a favorecer a união entre os dois partidos

Rondônia

O senador do PMDB e presidente do diretório estadual de Rondônia, Valdir Raupp, garante que para onde o PMDB nacional apontar a militância do partido no estado vai seguir. E Raupp assegura que o caminho será uma aliança com o PT

São Paulo

Está entre os estados onde a dobradinha de PT e PMDB ainda sofre resistência, exemplo disso é a declaração de apoio do presidente do diretório estadual, Orestes Quércia, ao governador José Serra (PSDB). Mas há governistas que apostam na reversão do quadro em favor do PT, especialmente a partir da intervenção do presidente da Câmara, Michel Temer (SP).

Nuvens sobre 2010

Fernando de Barros e Silva
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - A sucessão de Lula entrou num período de grande indefinição. A doença de Dilma Rousseff fez ruir em poucas semanas a percepção quase unânime no meio político de que a disputa se travaria entre ela e o governador José Serra. Essa segue sendo uma possibilidade. Mas agora é apenas isso -um cenário possível entre outros, num ambiente cercado de muitas dúvidas e expectativas.

O desarranjo de um jogo que se entendia encaminhado reabre apetites e reanima a tentação por soluções que pareciam descartadas. A mais heterodoxa é a proposta do terceiro mandato, insuflada por alas da base petista. Pelas mãos de representantes do lúmpen do governismo, ela já ressuscitou e vai fazer parte das conversas daqui por diante. Por quanto tempo e com qual desfecho ainda não se sabe.

A doença da ministra já comprometeu a unidade precoce dos petistas em relação a 2010. Hoje, estão diante de opções difíceis: manter o apoio à candidatura Dilma, embarcar pra valer na chicana do terceiro mandato ou inventar um novo nome. Palocci é, de longe, o favorito dos donos do dinheiro, mas, mesmo que o STF o absolva, é preciso enfeitar muito a realidade para separá-lo do crime contra o caseiro.

O PMDB a partir de agora vai subir seu preço e postergar compromissos. E Ciro Gomes, que já tentava cavar uma fenda improvável entre PT e PSDB, talvez vislumbre algo mais promissor num quadro de tantas incertezas.

Aécio, que nos bastidores parecia estar se acertando com Serra, agora também pode ser tentado a reavaliar suas chances. Mas não é só isso que deve tirar o sono do governador paulista, em tese o maior beneficiado pelo revés no campo adversário. A prudência que mostrou até aqui, recusando-se a admitir a candidatura, neste novo cenário pode sugerir ao eleitor inapetência, hesitação e medo de enfrentar o grande desafio. Abriu-se uma cratera no caminho de 2010.
Como se diz lá na roça, a política não aceita o vazio.

Dos movimentos sociais às casernas

César Felício
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Nunca antes na história deste país, em tempos democráticos, a esquerda em relação ao poder central se sentiu em tanta dificuldade para estruturar um projeto eleitoral. O P-SOL começa a discutir a nova candidatura presidencial de sua líder maior, a vereadora em Maceió Heloísa Helena, com maioria de seus membros consciente de que a eleição presidencial de 2010 não se dará exatamente sob um signo de pós-lulismo.

Na visão hegemônica entre as onze teses partidárias que estão em discussão, Luiz Inácio Lula da Silva é traçado como um Perón [Juan Domingo Perón, presidente da Argentina em dois mandatos, de 1946 a 1955 e de 1973 a 1974] mais sofisticado, que se desenvolveu integralmente dentro da institucionalidade democrática, e exatamente por isso, melhor sucedido tanto na conciliação que promoveria entre setores empresariais com as classes mais pobres quanto na desmobilização que provocaria em movimentos sociais e na esquerda, de forma geral.

Das onze teses que serão discutidas no congresso do partido em agosto, a mais cautelosa é a assinada pelo deputado federal Chico Alencar (RJ) e subscrita por intelectuais fluminenses como Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder e Cid Benjamin.

"Reconheçamos que nosso espaço como autênticos e coerentes não está dado, nem a desilusão com uma esquerda enganosa é tão ampla como imaginávamos", afirma o documento. E a análise sobre o que ocorreu em 2008, quando a esquerda a Lula não conseguiu eleger um único prefeito, é desalentadora: "Sobrevivemos a duríssimas penas", conclui.

O documento prevê que a crise econômica deve levar a uma instabilidade social, mas não aposta sobre o reflexo no cenário político. E por isso prescreve para 2010 o lançamento de Heloísa Helena, "uma joia preciosa" e a continuidade do discurso anti-corrupção que marcou sua campanha de 2006.

Chico Alencar admite que este discurso encerra a armadilha de aumentar a exposição do partido a denúncias. "Conosco nenhum deslize deixa de ter visibilidade e é perdoado", afirma. A vereadora, por exemplo, frequentou o noticiário por ter cedido passagens do resíduo de sua cota parlamentar, mesmo encerrado o mandato, para o filho viajar. Algo legal, mas que a coloca junto da legião congressual que enfrenta acusações de natureza parecida.

Heloísa Helena ainda defende-se na Justiça de uma cobrança fiscal sobre os recursos que recebeu a título de verba indenizatória quando era deputada estadual em Alagoas. Alencar afirma que a dívida preocupa, caso a vereadora seja derrotada judicialmente. "Entendemos que é razoável que, a depender do montante da dívida, o partido assuma este encargo", afirmou.

Na mesma vertente de Alencar, a deputada Luciana Genro (RS) subscreve uma tese que propõe movimentos mais ousados. Luciana é do grupo que demonstra maior entusiasmo com a possibilidade de ter o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz como companheiro de lutas. E apoia manifestações políticas de militares na ativa: "Se a luta contra a corrupção pode ser definida como o elo mais débil da luta contra o regime, não é a única expressão de fissura.

Dentro das Forças Armadas, chamamos a atenção para processos em curso, ainda subterrâneos, mas decisivos para a armação de uma estratégia de combate", consta no documento.

O documento cita a greve dos controladores aéreos de 2007, os movimentos reivindicatórios de policiais e até o casal de sargentos gays que foi capa de revista recentemente, para em seguida centrar-se em um ponto: "Um grupo de capitães desenvolve em todo país, em torno de reivindicações democráticas, a defesa do direito à manifestação política e parlamentar dos militares". Conclui afirmando que este "é um processo novo, extremamente rico". O retrospecto do que significou na América Latina a luta política dentro de quartéis autoriza a considerar aterrorizante o que pode significar este processo "extremamente rico".

Nascido de uma dissidência do PT, o P-SOL lança-se ainda a procura de base social. Chama a atenção a tese subscrita pelo deputado federal Ivan Valente (SP), que propõe criar, o quanto antes, núcleos como o das mulheres, o dos negros, o da juventude e o sindical, ainda ausentes.

E lamenta o sectarismo: afirma que em vários estados "há sabatinas e testes ideológicos" para se permitirem filiações.

O núcleo minoritário do P-SOL é o que enxerga 2010 apenas como uma oportunidade de acumulação de forças para a luta revolucionário. Este núcleo é o que enxerga com maior ceticismo o discurso anti-corrupção. A formulação mais incisiva é feita na tese subscrita pelo ex-deputado federal Plínio de Arruda Sampaio. "Uma resposta efetiva dos socialistas não pode ter como eixo central a questão da corrupção", diz o texto. "Um programa que se limita à denúncia da falta da ética confunde o perfil do partido com a direita", conclui. O texto da tese de Arruda Sampaio propõe um programa para marcar posição: reestatização da Vale e da Embraer, tomada de controle das empresas que fazem demissões, suspensão do pagamento da dívida e até ruptura de relações com Israel.

Tal como acontecia no velho PT, onde Lula pairava acima de todas as tendências, Heloísa Helena não subscreve tese alguma. E como na história inicial petista, as teses significam apenas o ponto de partida inicial em um complexo processo que deve gerar um documento inteiramente novo após o Congresso. Para quem considera a discurseira dos integrantes do P-SOL irrelevante, vale a pena lembrar que o anemismo de 2008 não se reflete no prestígio da vereadora: Heloísa Helena teve 6% dos votos em 2006, o suficiente para levar a eleição presidencial de então para o segundo turno. E aparece agora com aproximadamente o dobro em pesquisas de intenção de voto, um "recall" alto. Está longe de falar sozinha.

César Felício é correspondente em Belo Horizonte. O titular da coluna, Fábio Wanderley Reis, não escreve hoje excepcionalmente

Aliança PT/PMDB é inviável em 1/3 dos Estados

Raquel Ulhôa e Paulo de Tarso Lyra, de Brasília
DEU NO VALOR ECONÔMICO

A cúpula do PMDB aguarda o retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva da viagem que está fazendo a China, Turquia e Arábia Saudita, para cobrar uma solução - e rápida - para os principais confrontos estaduais do partido com o PT, sob pena de estar ameaçado o apoio nacional dos pemedebistas à candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à Presidência da República.

O problema considerado mais emblemático é o de Minas Gerais, onde o PMDB tem o candidato até agora mais competitivo, segundo as pesquisas, mas o PT rejeita apoiá-lo, mesmo sendo ministro do governo Lula - Hélio Costa (Comunicações). A situação de Minas é relevante, porque o Estado tem o maior número de delegados do PMDB que irão decidir, na Convenção Nacional de junho de 2010, se o partido fará aliança com Dilma, com o candidato do PSDB ou terá candidato próprio.

"Sem os votos de Minas, a gente não ganha a convenção", afirma o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), um dos defensores do apoio à candidatura do governo. Por isso mesmo, é ele quem faz a cobrança mais dura por uma ação efetiva de Lula sobre os diretórios regionais do PT que se negam a apoiar candidatos do PMDB nos Estados, ainda que mais competitivos.

"O PT terá que decidir se a prioridade para o partido é ou não a eleição da ministra Dilma presidente. Para nós, o fundamental são as nossas bases estaduais. Queremos estar no projeto nacional com o presidente Lula, mas não podemos sacrificar nossas bases", diz Alves. Ele diz que Lula antecipou o processo eleitoral, ao lançar a candidatura de Dilma, e que o PT e o PMDB são os partidos que mais têm candidatos a governador. "Não podemos brigar em tudo que é canto", afirma.

O líder está se reunindo com os deputados pemedebistas mais representativos de cada Estado para analisar a relação com o PT. É o resultado desse levantamento que a direção do PMDB levará a Lula, segundo Alves, tão logo ele retorne da viagem. "Teremos uma conversa muito séria e sincera", diz.

O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), calcula que, dos 27 Estados, a aliança entre PT e PMDB é certa em nove, "bem encaminhada" em outros nove e praticamente impossível no restante. Para o secretário de comunicação do PT, Gleber Naime, uma grande aliança nacional com o PMDB vai sempre esbarrar nas particularidades regionais dos dois partidos. "Mas precisamos nos esforçar, para dar continuidade aos avanços do governo Lula".

O embate entre PT e PMDB em Estados eleitoralmente estratégicos - como Rio Grande do Sul, Bahia e Rio de Janeiro, além de Minas - também preocupa petistas que consideram a aliança entre as duas legendas fundamental para a construção da candidatura da ministra.

A avaliação é que a cúpula nacional do PT não está agindo com energia sobre os diretórios estaduais, que, em sua maioria, preferem lançar candidatura própria a apoiar o PMDB. A queixa estende-se a Lula, que, segundo petistas e pemedebistas, estaria deixando os problemas avançarem demais.

Com isso, tanto petistas quanto pemedebistas estão avançando nas articulações de seus próprios interesses, e o afastamento pode se tornar irreversível. "É igual pasta de dente: depois que sai do tubo não volta mais", afirmou um observador do processo.

Como em 2010 não estará em vigor a regra que obrigava os partidos a repetirem nos Estados a aliança nacional (verticalização), o PMDB, em tese, pode se compor livremente em cada local e, ainda assim, estar na chapa de Dilma. O problema, como alertam os próprios petistas, é que a candidatura da ministra precisa ser construída e, para isso, é fundamental ter palanques fortes, especialmente nos maiores colégios eleitorais.

Em alguns Estados onde os aliados estarão separados poderia até render dois palanques a Dilma, o que pode levar a outro problema: há locais em que a relação é tão conflituosa que pode obrigar a ministra a optar por um dos candidatos aliados ou ignorar comícios no Estado.

Por esses fatores, manter os aliados unidos deve interessar mais ao PT que ao PMDB, que não tem candidato próprio à Presidência e prioriza a eleição de governadores.

A falta de alianças consistentes causaria outro problema ao PT: comprometeria a quantidade de deputados e senadores a serem eleitos pelo partido. E uma boa base parlamentar é fundamental a qualquer projeto de governo nacional.

Uma das razões dessa aparente falta de conexão entre a Executiva nacional e os diretórios estaduais do PT pode estar no vazio político instalado na cúpula. A atual direção, com Berzoini (SP) à frente, está em fim de mandato. Em novembro, o partido realiza o PED (Processo de Eleições Diretas) para a troca dos comandos nacional e estaduais. E há indefinição quanto à nova presidência.

O mais cotado, Gilberto Carvalho, não pode assumir as rédeas do processo pré-eleitoral, porque continua exercendo função de chefe de gabinete da Presidência. Além disso, Lula ainda não decidiu se libera Carvalho para a missão partidária. O resultado é um vácuo de comando, que começa a preocupar petistas atentos ao jogo eleitoral.

Apesar da resolução aprovada no dia 8, estabelecendo que as alianças estaduais só podem ser feitas depois da definição da aliança nacional, a mensagem parece não ter chegado aos Estados. Continuam prevalecendo os interesses locais, em detrimento da aliança nacional.

Um dos locais onde há mais atrito é o Rio Grande do Sul. A determinação nacional é de apoio ao candidato do PMDB, provavelmente José Fogaça. Mas os petistas locais não aceitam. O ministro Tarso Genro é o pré-candidato do partido. "Eu sou da segunda geração do PT. O Genro é fundador. Não é possível que ele não tenha juízo suficiente para ver que seus gestos estão atrapalhando", reclamou um integrante do diretório nacional.

O PSDB, por sua vez, tenta montar uma estratégia pré-eleitoral nos Estados mais programática. Pretende formar palanques fortes para seu candidato a presidente - os governadores José Serra (SP) ou Aécio Neves (MG) -, mas não está jogando todas as fichas numa aliança nacional com o PMDB. "Não vamos fechar projetos regionais incoerentes com o projeto nacional. O desespero é deles [PT]", disse o deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB-ES), presidente do Instituto Teotonio Vilela, ele próprio candidato a governador para garantir palanque a Serra.

Uma preocupação é comum a PT e PSDB: não querem depender de pemedebistas que estão "em cima do muro" e, mais à frente, podem mudar de lado. Essa é uma das explicações dos petistas para a resistência em apoiar Fogaça no Rio Grande do Sul. Como o PMDB também conversa com o PSDB, o PT teme ficar isolado e, consequentemente, deixar Dilma sem palanque consistente no Estado. Entre Dilma e Serra, o PMDB do Rio Grande do Sul escolhe nenhum dos dois. Defende candidatura própria.

Nesse jogo, há outras peças sobre a mesa. Por exemplo: pemedebistas temem que a doença de Dilma a tire do jogo e o PT fique sem opção. Avaliam, ainda, que se a candidatura de Dilma não decolar e Serra se mantiver na liderança, o tucano terá maior poder de atração. Um ministro próximo do presidente afirma que não será o número de cargos que garantirá fidelidade do PMDB a Dilma. "Se entregarmos a Esplanada inteira e Serra disparar nas pesquisas, eles mudam de lado", diz.

Guerra avisa que prévias no PSDB estão mantidas

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

SÃO PAULO - O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), afirmou hoje que o partido mantém as discussões para a realização de uma consulta interna a fim de escolher o candidato do partido que disputará a Presidência em 2010. Ele diz que os governadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) ainda buscam um entendimento e que existe a possibilidade de os dois formarem uma chapa pura tucana.

“O que está certo é que os dois vão colaborar para um entendimento ao longo desse semestre e do próximo semestre. E, se não tiver acordo, em janeiro ou em fevereiro de 2010, tem prévias. Mas ainda não há nenhuma composição desse tipo”, afirmou o senador.

Sérgio Guerra admite que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se encontraria com Aécio no fim de semana, e também que os dois governadores têm mantido encontros frequentes. “Eles têm conversado. Aécio teve um encontro com o governador Serra há uns 15 dias em Belo Horizonte. Antes disso, também esteve em São Paulo”, disse.

Principal defensor das prévias no PSDB, Aécio já afirmou que não aceitaria uma candidatura imposta pela cúpula do partido, e se compromete a apoiar Serra caso saia derrotado na consulta. Já a ala ligada ao governador paulista entende que as prévias poderiam evidenciar um possível racha no partido.

Em março deste ano, em resposta a uma consulta feita pelo próprio PSDB, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) definiu as regras de como o partido poderia fazer a consulta interna. Caso realmente ocorra, será a primeira vez nos 20 anos de história do PSDB que a escolha de um candidato será feita por meio de consulta ampla aos filiados.

O QUE PENSA A MÍDIA

Guntemberg
Editoriais dos principais jornais do Brasil

Yo pisaré las calles nuevamente

De Pablo Milanez
Canta Silvio Rodríguez
Homenagem a Salvador Allende

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De volta a Woodstock

Luiz Carlos Merten, Cannes
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / Caderno 2


Ang Lee exibe Taking Woodstock em Cannes, onde concorre à Palma de Ouro, mas ele prefere falar mais de Desejo e Perigo, já [br]em cartaz nos cinemas

Ang Lee tinha 14 anos em Taiwan e o país vivia sob proteção norte-americana quando ocorreu nos Estados Unidos o concerto de Woodstock. Lee lembra-se de ter assistido a algumas imagens pela TV daquilo que era chamado de invasão hippie dos EUA, mas ele confessa que só muito mais tarde compreendeu o significado daquele evento. Nunca foi seu desejo tratar do assunto num filme, até ler o livro Taking Woodstock, de Elliott Rider. Ang Lee está em Cannes exibindo o filme baseado no livro e participa da competição pela Palma de Ouro. É muito bom. Ang Lee, fascinado pelos mitos da cultura norte-americana, achou o tom exato para falar de um acontecimento que ajudou a mudar o mundo - os comportamentos pelo menos - numa perspectiva intimista, pela via da família. Ontem, no Hotel Carlton, em plena Croisette, ele conversou com um pequeno grupo de jornalistas. O assunto foi tanto Taking Woodstock quanto Desejo e Perigo, seu filme precedente, que estreou sexta-feira no Brasil.

Lee explicou que ambos os filmes correspondem a seu desejo de dar testemunhos sobre o mundo em que vive. A grande história fornece o pano de fundo em Taking Woodstock - a Guerra do Vietnã, a descida do homem na Lua, a utopia representada pelo sonho hippie, mas o concerto não aparece e a intenção era mesmo essa. Representá-lo de viés, por meio da relação de Elliott com seu pai e sua mãe possessiva.

No caso de Desejo e Perigo, a grande história domina o quadro, por mais que, no limite, o enredo continue sendo de razão e sensibilidade, ou de como as pessoas reagem intimamente às provocações da história. Baseado no romance de Eileen Chang, Desejo e Perigo se passa durante a ocupação de Xangai pelos japoneses e a protagonista é essa garota que aceita trabalhar para a resistência, seduzindo um colaboracionista para que ele se torne um alvo fácil aos que lutam contra o usurpador estrangeiro.

Ang Lee confessa que foi seduzido pelo ponto de vista da garota desde que leu o livro. Conseguiria abordá-lo? "Acho que o que se passa em seu coração é muito difícil de detectar e, ao mesmo tempo, fascinante de tentar entender. Ponha-se no lugar dela: como poderá ignorar o que se passa em seu país? E agora pense em outras coisas - essa garota é burguesa. Seus sentimentos são ambivalentes por que ela teve prazer sexual com esse homem? Será que ela o ama? Acho que a protagonista de Desejo e Perigo é mais confusa, intimamente, do que qualquer outra de minhas personagens, femininas ou não." Mas ele diz que isso era parte do fascínio de fazer o filme. "Acredite, falar dos sentimentos de uma mulher chinesa na época retratada não é menos complicado do que aceitar a relação das personagens de O Segredo de Brokeback Mountain: a guerra contra os japoneses é considerada sagrada na China. Existe todo o problema da mulher na sociedade. Não acreditava que Eileen tivesse encarado a tarefa de tratar tudo isso. Num certo sentido, era mais fácil para mim, como homem, mas meu desafio era permanecer fiel a ela, ao seu ponto de vista."

Lee admite que, durante muito tempo, não conseguiria transformar Desejo e Perigo num filme, mas foi isso que terminou por seduzi-lo e também a James Schamus, que assina a produção e o roteiro. "James facilitou as coisas, se posso falar em facilidade, a propósito de Desejo e Perigo. Mas ele surpreendeu como roteirista com a sutileza da escrita de Eileen Chang e, como produtor, ele se assegurou de que eu tivesse os recursos apropriados para filmar seu roteiro." Lee conta que o roteiro demorou muito tempo para ficar pronto, mas depois, outro desafio, maior ainda, foi encontrar os atores para os papéis, no caso Tang Wai e Tony Leung: "Afinal, o sexo é fundamental nessa história e ela simplesmente não iria funcionar se os atores não se entregassem. Ilusão e desilusão são temas muito fortes aqui. O teatro dentro do filme era uma forma de expressá-lo. Depois que ela perde a virgindade, como todo mundo responde? Os japoneses, o pessoal da resistência, o governo? Nada estava realmente escrito neste caso, mas eu tinha certeza de que trabalhando com os atores poderia construir o clima."

Em Brokeback Mountain, o tema do homossexualismo fez escândalo, principalmente associado a uma cultura machista como a do western. Aqui, a relação é heterossexual, mas o escândalo não foi menor no Festival de Veneza, por Ang Lee ter ousado filmar essa intimidade dos limites do sexo explícito. "Não conto essas histórias para escandalizar, mas porque são personagens que me tocam, com sua solidão e vulnerabilidade. As cenas íntimas são necessárias. Não as filmei para atrair o público, mas para que as pessoas reflitam, no espelho do cinema, sobre elas mesmas. Um diretor demora para se distanciar do seu material. Acho que, agora, finalmente, posso olhar para Brokeback Mountain e Desejo e Perigo com clareza. Foram esses filmes que me trouxeram agora a Taking Woodstock. O garoto oprimido pela família do novo filme não é diferente das personagens dos anteriores. Mas é assim, não? A gente trabalha sobre temas que nos interessam e eles tendem a ser os mesmos, embora em quadros diferentes."

Na Croisette

Diretor conhecido do público brasileiro por filmes como Um Homem Muito Discreto e De Tanto Bater Meu Coração Parou, o francês Jacques Audiard entrou pra valer na disputa pela Palma de Ouro com seu novo longa, Un Prophete (Um Profeta). A história do jovem árabe que vai para a cadeia e termina "adotado" lá dentro por um criminoso corso vai além da tradicional trama do pequeno bandido que faz sua escalada para poderoso chefão. O garoto analfabeto constrói uma identidade, adquire o domínio da linguagem e, no limite, ganha uma família, um lar. A cadeia vira metáfora do mundo. Audiard fez um grande filme e a França, um ano depois de Entre os Muros da Escola, é forte candidata a uma nova Palma de Ouro.

O diretor de Hong Kong Johnnie To mostrou ontem em competição Vengeance (Vingança). O filme estrelado por Johnny Halliday foi escrito para Alain Delon, que terminou por recusar o papel. O protagonista é um restaurateur francês que desembarca em Macau para vingar a morte do genro e dos netos (sua filha sobrevive por milagre ao massacre). To joga a carta do cinema de gênero e cria cenas de ação que impressionam como coreografia da violência. O filme, aposta de Cahiers du Cinèma para a Palma de Ouro, é a capa da edição que a revista dedica ao festival. É divertido, mas não possui densidade. E, se é para ser diversão, o próprio Johnnie To foi melhor em Eleição.

Ne te Retorne Pas é horrível e você fica se perguntando o que faz na seleção de um festival como Cannes. Mas as atrizes Monica Bellucci (foto) e Sophie Marceau enchem a tela (e os olhos). Uma recente pesquisa realizada na França revela que Sophie é a atriz preferida do público do país. O filme estreia esta semana nos cinemas. Cannes está sendo só uma vitrine. Pode ser bom para Ne Te Retorne Pas (e Sohie e Monica movimentaram o tapete vermelho), mas é ruim para a tradição de qualidade do festival.