quarta-feira, 29 de julho de 2009

O PENSAMENTO DO DIA - Werneck Vianna

“De batismo, porém, suas marcas de origem são opostas às da sua maturidade, pois o PT vem ao mundo como contestador da modernização à brasileira, centrada no Estado e em suas agências, e, por isso mesmo, um projeto que teria sua origem em terreno externo à sociedade civil e se realizaria sem o seu controle. Nesse sentido, o PT nasce como uma expressão do moderno, personagem da sociedade civil, e que tem como valor a sua autonomia diante do Estado. O Estado, longe de ser o lugar da representação racional da sociedade, significaria o lugar em que os interesses privados dominantes se apresentariam, em nome da modernização, como de interesse público.
Se o DNA do PT traz o registro das lutas operárias dos anos 1970 contra a estrutura corporativa sindical — daí, o motivo principal da sua aversão à era Vargas —, a teoria que vai animar a sua atuação é bem anterior à sua própria fundação, tendo sido desenvolvida, entre meados de 1950 e 1960, nas obras de alguns dos mais importantes intelectuais e cientistas sociais do país, de que são exemplos, entre outros, Raymundo Faoro, Florestan Fernandes e Francisco Weffort. As afinidades eletivas entre as práticas do PT e o resultado de suas reflexões levaram muitos desses intelectuais, como é conhecido, a se filiarem aos seus quadros. Weffort foi seu secretário-geral, e Florestan Fernandes, influente deputado da sua bancada na Assembleia Constituinte de 1986.”

(Luiz Werneck Vianna, no artigo A viagem (quase) redonda do PT). Veja o artigo completo ao lado, em documentos

Pouco risco

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


De todos os envolvidos no processo político de escolha do próximo presidente da República, o único que não tem nada a perder, e tem um projeto definido, é Lula. Os dois partidos políticos metidos mais diretamente na disputa, PT e PSDB, correm o mesmo risco, o de sair da eleição quase se desmanchando.

Se o PSDB não conseguir fazer o sucessor de Lula, seja José Serra ou Aécio Neves, o partido tende a ficar mais fraco do que já está no Legislativo e nos governos estaduais, tornando-se crucial manter as administrações de São Paulo e Minas para não desaparecer.

As chances são piores do que em 2006, pois, se a popularidade de Lula determinar uma vitória de sua candidata, a coalizão governista pode ter força para eleger o governador de Minas com Aécio fora da disputa.

Em São Paulo, parece mais fácil a vitória tucana, seja com a reeleição de Serra ou a candidatura de Geraldo Alckmin.

Ciro Gomes, a melhor aposta do governo, não parece ter fôlego de vencedor para uma corrida desse tipo. Mas tem resistência e vontade suficientes para atacar seu inimigo escolhido, o governador Jos é Serra .Mas Lula não quer que Ciro ganhe.

Faz parte da sua estratégia tirar Ciro da corrida presidencial para evitar que sua presença impeça uma decisão plebiscitária entre a candidata de Lula e o candidato da oposição.

Para conseguir isso, teve que arranjar um brinquedo novo para Ciro, e trata agora de convencer o PT a deixar Ciro brincar em seu quintal.

Já o PT, abrindo espaço para as coalizões regionais com diversos partidos e deixando de disputar governos estaduais para não melindrar seus aliados, corre o risco de não fazer uma bancada forte no Congresso e perder os governos estaduais que tem.

Se a ministra Dilma Rousseff perder, não terá sido por culpa de Lula, mas, se ela for eleita, certamente deverá tudo a ele. Por isso, Lula é também o que está jogando mais solto, com autonomia para impor uma candidatura ao partido que deveria liderar esse processo, e determinar as regras do jogo para o seu lado do campo, sem se importar com os adversários.

Lula definiu desde o início que as chances de vitória de seu time teriam que estar baseadas única e exclusivamente no seu apoio, e não nas qualidades deste ou daquele candidato, não havendo espaço nesse tipo de jogo para um candidato de luz própria, que definisse posições e estratégias. Mesmo porque não havia esse produto na prateleira do PT.

Depois do operário, seria preciso encontrar algum representante de minorias para dar prosseguimento ao “governo popular”, e a ministra Dilma Rousseff está candidata não por suas qualidades de gestora, mas por ser mulher.

Seu proverbial mau humor pode criar problemas mais adiante, se chegar a subir a rampa do Palácio do Planalto, mas durante a campanha sua candidatura será monitorada pelos mesmos que coordenaram a campanha vitoriosa de Lula — os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci — e os acordos políticos estão sendo costurados pelo próprio presidente.

A imensa popularidade do presidente é o ponto fora da curva dessa eleição.

Apesar da crise, Lula não se desgastou, e está conseguindo convencer a todos que, mesmo que o país tenha um pequeno crescimento negativo este ano, estamos melhores do que os outros, que terão quedas muito maiores.

Não é coerente com a tese que defendia até bem pouco, quando o governo dizia que o baixo crescimento brasileiro não poderia ser comparado com o de outros países, mas sim com a performance do próprio Brasil em anos anteriores.

Mas quem está buscando coerência nesses tempos? A oposição, que pensava que teria uma vida mansa na primeira disputa presidencial sem Lula na cédula, surpreendeu-se com a efetividade da sua estratégia, que está conseguindo colocar Lula num palanque sem que as restrições da legislação eleitoral o atinjam.

Lula faz campanha pelo país impunemente, e continuará fazendo. Ele já disse a interlocutores que o melhor está para vir: “Ainda não levantei o braço dela na frente do povo para dizer que ela é a minha candidata”, comentou Lula recentemente.

Até o momento, ele está apenas esquentando os motores e já conseguiu fazer com que “a mulher do Lula” ganhasse exposição e reconhecimento.

A única surpresa foi a doença da ministra Dilma Rousseff, que colocou uma interrogação na sua capacidade de enfrentar uma campanha tão árdua.

Se confirmado o prognóstico de que está curada do câncer linfático, Lula tem grandes chances de coroar seu projeto político com a eleição da sucessora.

Se Dilma perder, foi uma boa tentativa.

Em ambos os casos, Lula sairá pelo mundo à frente de uma ONG fazendo campanha contra a fome.

Ele continuará sendo uma figura política importante no país, podendo se defender de eventuais acusações que sempre ocorrem em momentos de crise política.

Mas já tem a garantia, de antemão, de que não há inimigos do outro lado do campo, no máximo adversários muito bem comportados.

Mais até do que a máquina de moer reputações em que se transformou o petismo.

O recente episódio da crise no Senado, na qual o presidente Lula está jogando todo o seu prestígio na tentativa de garantir a sobrevivência de Sarney e, por tabela, a adesão do PMDB a seu projeto de poder, é mais um teste.

As próximas pesquisas de opinião mostrarão até que ponto a defesa intransigente de Sarney afeta a popularidade de Lula.

Mantidas as atuais condições, é uma jogada de alto risco a que Lula está montando, mas risco para o PT, não para ele mesmo.

O olho do juiz

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em meio aos fatos exuberantes sobre a crise do Senado e seus desdobramentos, agora já entrando em mares nunca dantes navegados - como um governo chamar publicamente o líder do seu partido de mentiroso por meio de comunicação oficial do ministro das Relações, note-se, Institucionais - a notícia mereceu espaço acanhado.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, cobra da Câmara uma investigação mais acurada sobre o esquema de desvio de passagens aéreas da cota oficial para a comercialização em agências de turismo.

O ministro não é muito explícito, mas fala claro o suficiente para ser entendido. Gilmar Mendes e outro ministro do STF, Eros Grau, usaram inadvertidamente passagens da Câmara. Só descobriram quando seus nomes apareceram no escândalo chamado farra das passagens.

Conseguiram provar que os bilhetes não tinham sido repassados "de favor" por nenhum parlamentar. Mendes comprou o dele e da mulher Guiomar e Eros Grau teve o dele pago por uma universidade onde participou de um seminário.

A partir daí, ficou claro o desvio. A Câmara fez uma sindicância, o presidente da Casa anunciou abertura de 44 processos contra funcionários e divulgou a suspeita do envolvimento de cinco deputados. Dos 513 gabinetes de deputados, 39 foram investigados.

No relatório da Câmara enviado ao presidente do Tribunal a informação é que apenas funcionários, e não deputados, estão envolvidos.

Pelo que se depreende da declaração do ministro Gilmar Mendes, os dados são genéricos e insatisfatórios. "O relatório informa que o desvio de passagens teria partido de servidores e que era uma prática mais ou menos consolidada e contínua. Há necessidade de esclarecimentos".

De fato. Nem é preciso ter o olho clínico de juiz para a ilicitude para perceber o imprescindível.

Se a prática é "consolidada e contínua" - quer dizer, sólida e ininterrupta - trata-se de um mal sistêmico, estrutural. Parece, em princípio, pouco que num universo de mais ou menos 15 mil funcionários e 513 deputados, apenas 44 servidores tenham envolvimento e cinco parlamentares sejam suspeitos de participar do esquema.

O presidente da Câmara não abriu o relatório para o público e, pelo que insinua o ministro Gilmar Mendes, a farra pode ter sido muito maior e mais grave que a até agora divulgada.

A julgar pelo testemunho prestado por servidores na mesma sindicância sobre a existência de funcionários fantasmas e embolso, pelo parlamentar, de parte dos salários dos contratados nos gabinetes - notícia publicada também em espaço exíguo nesses dias de predominância absoluta do Senado - a Câmara anda a merecer atenção.

E, como sugere Gilmar Mendes, acurada investigação.

Nome do jogo

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, acha que seus correligionários do Senado são néscios, não percebem que fazem "o jogo da oposição" ao pedir o afastamento do presidente do Senado, José Sarney.

Nessa matéria, os acontecimentos comprovam, o mais eficiente jogador da oposição foi sem dúvida alguma o presidente Lula. Jogou com eficácia ímpar ao defender Sarney usando frases e expressões com as quais nem em seus melhores sonhos o PSDB imaginou poder contar em 2010.

Morubixaba

De certa forma o senador Sarney tem razão de se surpreender com tantas críticas ao fato de ele interceder em favor da contratação do namorado na neta no Senado.

Afinal, em matéria de interferência sua biografia tem episódios mais eloquentes. Em abril, o Estado publicou um deles. Revelou a carta que José Sarney mandou para o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Francisco Rezek, que atuou como advogado do ex-governador Jackson Lago, cassado por abuso de poder econômico pela Justiça e substituído por Roseana Sarney.

A despeito da vitória, Sarney não se conformou com a independência de Rezek, contratado pelo adversário. Considerou os termos da defesa "um insulto", cobrando o fato de Rezek ter sido indicado ao Supremo em 1983, por influência dele junto ao governo militar, cujo partido de apoio (PDS) era presidido por Sarney.

Protocolo

Misturar política com questões de saúde é, como se sabe, de uma inadequação a toda prova. Tanto da parte de quem o faz para angariar simpatia, quanto dos que usam o momento de fragilidade para tirar algum proveito em relação ao adversário.

O presidente do Senado, José Sarney, tem perfeita noção disso. No entanto, no primeiro discurso de defesa na tribuna da Casa deu um jeito de se referir às dificuldades por que passava a filha Roseana na ocasião, operada de um aneurisma, e agora cita a operação da mulher, Marly, para suscitar piedade nos críticos dentro do Senado.

Não fica nada bem. Para dizer o mínimo.

Serra avisa que só falará sobre possível candidatura em 2010

Silvia Amorim
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Líder nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais, tucano tem até abril para decidir


O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), disse ontem que uma decisão dele sobre se será ou não candidato à Presidência da República sairá somente em 2010. "No ano que vem eu vou ver quais serão os planos", afirmou o tucano.

Líder nas pesquisas de intenção de voto para o Palácio do Planalto, Serra tem até abril para anunciar seus planos políticos. No caso de concorrer à Presidência, a legislação eleitoral obriga que deixe o cargo até seis meses antes do pleito.

Serra fez a declaração quando respondia a críticas de que tem adotado medidas eleitoreiras à frente do governo paulista de olho em 2010. "Alguém disse que é mais uma ação eleitoral (a criação de uma agência estadual de fomento). É um absurdo. Quando eu era deputado na Constituinte, fiz a emenda e depois a lei que deu origem ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Posso dizer que sou o criador do FAT. Nem por isso ninguém achou no final dos anos 80 que eu já estava com projetos presidenciais na cabeça. Não tinha", disse. "Pelo menos no horizonte daquela época ainda achava que tinha que esperar um pouco", emendou, arrancando risos dos convidados na cerimônia que marcou o início do funcionamento do banco de fomento Nossa Caixa Desenvolvimento.

Em entrevista, logo depois, perguntado se agora, diferentemente dos anos 80, tinha projetos presidenciais, ele jogou a decisão para 2010.

Serra tem evitado falar publicamente sobre uma candidatura a presidente. Dentro do PSDB ainda enfrenta a disputa com o governador de Minas, Aécio Neves, pela vaga de presidenciável. Desde o início do ano, diante de qualquer pergunta sobre as eleições de 2010, ele entoa o mesmo discurso - o de que a antecipação do debate eleitoral é prejudicial ao País e que os governantes deveriam se concentrar em ações de combate à crise econômica em vez de se preocuparem com questões eleitorais. Já fez até críticas diretas ao PT.

VIAGENS

Apesar da retórica, Serra tem se movimentado para fortalecer sua candidatura a presidente. Aproveitando compromissos de governo, o tucano está fazendo uma incursão silenciosa pelo País. Somente neste ano, ele viajou, pelo menos, dez vezes a outros Estados, como Paraná, Pernambuco, Santa Catarina, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul.

A orientação do partido é que Serra, sempre que possível, concilie esses eventos administrativos com encontros políticos nas regiões.

O pai patrão do PT

Ricardo Noblat
DEU EM O GLOBO


O noticiário político dos jornais está de rir à bandeira despregada.

A maioria dos 12 senadores do PT quer ver o colega José Sarney (PMDB-AP) pelas costas. Quando isso foi dito há mais de 15 dias, por meio de nota oficial distribuída por Aloizio Mercadante, o líder da bancada, Lula subiu nos tamancos.

Chamou a bancada para jantar. Depois, Aloizio Mercadante produziu uma errata da nota. E virou alvo da fúria dos seus eleitores.

Aí veio a errata da errata.

Foi quando Mercadante discursou reafirmando a posição original da bancada, favorável ao licenciamento de Sarney do cargo de presidente do Senado.

Diante de fatos recentes, digamos, nada auspiciosos para Sarney, Mercadante emitiu na semana passada outra nota — essa em termos suavemente mais duros.

Como Lula reagiu? Mandou seu ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, dizer que a nota era uma fraude.

Sim, porque ao dizer que a nota de Mercadante, ao contrário do que ele havia anunciado, não representava a opinião da maioria dos senadores do PT, mas só de um ou dois, Lula afirmou com outras palavras que a nota era uma fraude.

Mercadante renunciou ao cargo de líder? Não se tem notícia disso até agora.

Mercadante sentiu-se ofendido e respondeu que a nota expressa, sim, a opinião da maioria dos seus pares e que ele não é moleque para ser desautorizado publicamente? Necas de pitibiriba. Nadica de nada.

Informou por meio do seu Twitter que está muito ocupado com o casamento próximo do seu filho. E foi só.

Grande Mercadante! Lula é um pai patrão para o PT. Mercadante, um pai amoroso para seus filhos.

Ponto para ele.

Os curingas do Palácio

Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um plano, engendrou a estratégia, bolou a sucessão de procedimentos, colocou tudo em execução sob seu próprio comando e a percepção geral é que atingiu com muita antecedência seus objetivos. A ordem, não explicitada, por desnecessário, está clara: governo e PT, obedeçam, ou saiam de cena. Como ele tem uma popularidade amazônica, instrumentos à mão e ninguém produziu alternativa melhor, os súditos renderam-se às decisões do líder.

A candidata à sucessão presidencial é Dilma Rousseff, portanto uma certeza é que ficará vago o cargo de chefe da Casa Civil da Presidência da República. Também sairá o ministro do Gabinete de Relações Institucionais. E não propriamente dentro da Presidência, mas o cargo político mais importante do governo, sairá o ministro da Justiça. Lula prestará atenção a estes postos, em que se desempenham funções imprescindíveis à formação de uma boa retaguarda, para que possa dedicar-se integralmente à campanha, e o restante do governo seguirá funcionando rotineiramente.

O presidente explicou ao Ministério que precisava lançar a candidatura de Dilma antecipadamente por duas razões. Uma, para ter tempo de colar a candidata às políticas de governo e a si próprio; outra, para reduzir a vantagem inicial do adversário José Serra (PSDB) , com mais de 40% em todas as pesquisas.

A avaliação do presidente é que o objetivo já foi alcançado, e não há nada que exija, no momento, novas antecipações ou açodamento de nenhuma espécie..

Assim, seria cedo, por exemplo, para nomear diretores de campanha, como seus auxiliares pressionam e querem fazer crer que existem; é cedo para definir o novo comando da Casa Civil, que vai controlar o governo enquanto o presidente Lula viaja em campanha Brasil afora; é cedo para definir já o substituto do ministro de relações institucionais que deixará o cargo para integrar-se ao Tribunal de Contas da União; é cedo para a ministra Dilma deixar o governo.

Lula decidiu que ela deve sair no último minuto do último dia de março, limite final para a desincompatibilização. Acredita o presidente que o maior trunfo da candidata é ser a gerente do governo. Sair por aí ao léu, sem estar mais ligada às funções de governo, não lhe renderá os pontos que ganharia na gerência do Executivo, perdendo também o bônus do lançamento antecipado da candidatura.

Com o controle do tempo, o presidente arma opções à sua retaguarda. Para a Casa Civil, namora três nomes da equipe interna: O chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, o ministro da Comunicação, Franklin Martins, e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

O ex-ministro Antonio Palocci saiu da lista de alternativas para a Casa Civil e para as Relações Institucionais, pelo menos por enquanto, porque as análises apontam que, mesmo se for inocentado do crime de quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, o ex-ministro levaria para perto do presidente da República um problema, recolocando o governo no alvo dos ataques de adversários.

Lula, que vetou a possibilidade de Gilberto Carvalho disputar a presidência do PT, atribuiu-lhe novas tarefas e responsabilidades, e tanto pode ir para a Casa Civil como ficar onde está com as atribuições acumuladas. Gilberto delega a César Alvarez, alto funcionário da Presidência, a responsabilidade de cuidar da agenda presidencial, enquanto desempenha as novas funções de articulação com o Congresso, atuação com prefeitos e governadores, missões especiais junto ao empresariado.

Com Franklin Martins o presidente experimenta o mesmo sistema: as tarefas de Comunicação têm ficado com seus assessores enquanto o ministro tem sido chamado cada vez mais a fazer avaliações políticas, trabalhar as relações do governo com a opinião pública e a assumir atividades de confiança que lhe possibilitam fazer coordenações dentro do governo. Seus pronunciamentos em reuniões de coordenação política e ministeriais são bem recebidos pelo presidente e seus ministros. Pode ser transferido oficialmente a outro cargo.

Um terceiro curinga para a Casa Civil é o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que poderá, também, se lhe for determinado, continuar no Planejamento e não se candidatar a deputado em 2010. Como Carvalho e Franklin, que para ficar na retaguarda do presidente teriam altos funcionários técnicos para tocar a máquina, Paulo Bernardo contaria, no comando do PAC, o principal programa sob a coordenação da Casa civil, a atual responsável, Miriam Belchior, e o braço direito de Dilma, Erenice Guerra. Ambas sabem mais do programa que a titular.

A reorganização está sendo preparada para a Presidência. Com os Ministérios não há preocupação. O ministro da Justiça vai sair em janeiro, e há, sim, a possibilidade de ser feito um convite ao deputado José Eduardo Cardozo para o cargo. O deputado não tem interesse na reeleição para a Câmara, angariou a confiança e simpatia da ministra Dilma e poderá se afastar da disputa pela presidência do PT, deixando o caminho livre para a eleição de quem Lula quer ver no cargo, José Eduardo Dutra. Seria também, um ministeriável do governo Dilma, se vier a ser eleita.

Mas é só. Nos demais Ministérios o presidente pretende trabalhar com os secretários executivos. Na última reunião ministerial avisou a todos que não está disposto a abrir um processo de montagem de governo nos últimos nove meses de mandato. Isto significa que aproveitará Secretários Executivos, técnicos, soluções internas. De um deles, inclusive, o presidente não toma conhecimento. Saiu Mangabeira Unger, Lula recebeu uma lista de três nomes para seu lugar mas não demonstra o menor interesse por nenhum deles. O presidente quer fazer pouco movimento interno para fazer muito barulho externo. Porque não perdeu um mínimo de confiança na eleição da sua candidata e, ao contrário, acha que vai bater José Serra de "chicote".

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

Juízo final

Valdo Cruz
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Se Sarney cair, ouvi por aqui da boca de governistas apocalípticos que o mundo acaba. Não vai sobrar pedra sobre pedra na seara legislativa de Lula.

A profecia conta que, se Sarney cair, o Senado se transforma num campo de guerra. Haverá sangue e ranger de dentes nas hostes governistas. Festas e rojões entre oposicionistas de plantão.

A primeira batalha, se Sarney cair, se dará na CPI da Petrobras. Vaticinam os agourentos que os peemedebistas passarão a andar de braços dados com democratas e tucanos. E os petistas sentirão na pele a dor das investigações da CPI.

O passo seguinte, se Sarney cair, será a conquista da cadeira daquele que hoje encarna toda onda de nepotismo na capital. Divididos, os governistas podem ser atacados pelos flancos e perder o domínio do Senado para a oposição.

Sem Sarney, o fim estará próximo. Instalado o clima de terra arrasada, nada mais de interesse do presidente Lula irá prosperar nos campos do Senado. E virão ervas daninhas derrubando vetos presidenciais, causando estragos nos cofres públicos federais.

Na hora do juízo final, Lula condenará os senadores petistas ao fogo do inferno -onde, na verdade, já se sentem hoje, espremidos entre os desejos presidenciais e as cobranças de seus eleitores. E tentará, como seu último milagre, levar sua pupila Dilma Rousseff à terra prometida palaciana.

Como ouço desde pequeno que o mundo vai acabar, e nunca acaba, pelo menos até hoje, não sou de dar ouvidos a esses profetas. Principalmente aqueles que profetizam ameaças para curvar súditos a seus interesses mundanos.

Agora, convenhamos, não é preciso ser profeta para vislumbrar que alguma ruína virá. Quem será a vítima? A confirmar. Como diria um senador condenado ao fogo do inferno, cada um tem o apocalipse que merece. Ele prefere salvar seu mandato ao dos outros.

PSDB denuncia Sarney, e PMDB ameaça retaliar

Isabel Braga e Maria Lima
DEU EM O GLOBO

Tucanos entram com representações no Conselho de Ética contra presidente do Senado; peemedebistas atacarão Virgílio

BRASÍLIA. O PSDB entrou ontem com três representações no Conselho de Ética do Senado contra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), pedindo a investigação de denúncias como desvios de verbas da Fundação Sarney e sua atuação para empregar parentes e amigos. A medida abriu uma guerra, e o PMDB contra-atacou, ameaçando também ir ao Conselho de Ética contra os tucanos, especialmente contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), sob a acusação de manter no gabinete um funcionário fantasma.

— Comuniquei ao Sérgio Guerra (presidente do PSDB) que, se o PSDB partidarizar, entrar com representação, não há como o PMDB não fazer o mesmo.

É uma questão de reciprocidade, sobretudo em relação ao senador Arthur Virgílio. Ele confessou — disse o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL).

Até o final do dia a ação do PMDB não foi formalizada. Renan justificou: — O PMDB já decidiu. É a reciprocidade, se eles entrassem, entraríamos. Mas está todo mundo viajando.

Na véspera, Renan telefonara a Guerra e disse que é um político de conciliação. Mas ontem negou ter feito qualquer proposta de acordo. Segundo Guerra, Renan disse que queria conversar.

O tucano negou que Renan tenha ameaçado o PSDB: — Renan nunca me fez ameaça, e nem eu fiz a ele. Respeitamos o PMDB, o Senado, temos o direito de representar. Ameaça não vale nada. Não vejo outra saída a não ser o Conselho funcionar, sem tropa de choque.

A presidente em exercício do PMDB, deputada Iris de Araújo (GO), confirmou que o partido estuda ir ao Conselho, mas aguardava orientação: — Já conversei com o presidente Michel Temer hoje, e estamos avaliando. Se o PSDB entrar com as representações, e o presidente Sarney fizer uma solicitação nesse sentido, a gente tem que ouvir os integrantes do partido para decidir o que fazer.

Guerra disse que a decisão de dividir em três as representações contra Sarney levou em conta que isso permitirá, pelo rodízio, que uma das relatorias seja dada à oposição.

Virgílio já admitiu que, durante um ano, pagou os salários de Carlos Alberto Nina Neto, quando ele estudava no exterior. O tucano disse que depositou ontem, em conta do Tesouro Nacional, a primeira parcela de R$ 61 mil dos R$ 211 mil que o Senado pagou ao funcionário fantasma.

Disse ter vendido um terreno e que fará um empréstimo pessoal para quitar a dívida: — Quero que deixem de hipocrisia e venham mesmo! Estão me visando porque estou batendo.

Todo mundo que roubou! Eu não roubei, mandei um menino estudar. Agora, quem roubou vai ter que devolver carros, mansões, aviões.

O presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ), que já afirmou que arquivaria as representações contra Sarney, está de férias e não atende aos pedidos de entrevista.

Los hermanos

Míriam Leitão
DEU EM O GLOBO


A América Latina está em recessão, depois de um excelente 2008, exceto para o México, o primeiro a ser afetado pela crise. Mas há fatos piores. Os bastidores da manipulação de preços na Argentina foram revelados; um dos objetivos era tungar os detentores de bônus. A Venezuela enfrenta recessão com inflação subindo. Isso, sem contar a escalada autoritária do presidente Hugo Chávez.

A ex-diretora do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Indec, o IBGE argentino, Graciela Bevacqua, em entrevista ao jornal “La Nacion”, falou pela primeira vez, no último final de semana, dois anos depois de ter sido demitida, após uma carreira de 16 anos no instituto.

Ela disse que por trás da sua demissão está claramente a presidente Cristina Kirchner. Inclusive, ouviu isso durante o processo da demissão.

Numa conversa com o secretário do Comércio Interior, Guillermo Moreno, ela ouviu que a mudança no cálculo da inflação tinha que ser feita “pela pátria”, que pagava juros aos donos dos bônus, calculados com base nos índices de preços.

“Nós, a pátria, temos que pagar os bônus”, disse Moreno depois de criticar as estatísticas brasileiras. Curioso, aqui o IBGE jamais aceitaria tal intromissão e isso nem se colocaria. Felizmente.

O cálculo de uma consultoria, a El Estúdio Bein e Associados, calcula que o governo deixou de pagar US$ 15,6 bilhões aos poupadores desde então.

O chefe do governo, Aníbal Fernandez, nega tudo e diz que um grupo de especialistas escolhidos em três universidades está fazendo a revisão dos índices de preços desde 1999. Mas a confiança já se quebrou. A Argentina hoje tem dificuldades de se financiar, até porque nunca regularizou a situação com os credores internos e externos desde a moratória. E tem recebido empréstimos do Banco de La Nación.

Na Venezuela, a inflação de dois dígitos, entre 30% e 40%, está ficando crônica (confira as projeções no gráfico). Na Argentina, cada consultoria e banco faz seu próprio cálculo de inflação, já que no Indec ninguém confia mais.

Felizmente, o Brasil está no grupo dos países normais da região. No Chile, a inflação caiu fortemente por causa da recessão. Despencou de uma taxa anual de 9,5%, em junho do ano passado, para 1,9%, em junho deste ano, ficando abaixo do centro da meta que é de 3%. O país sentiu fortemente o impacto da retração mundial. Seu PIB caiu 2,1% no primeiro trimestre deste ano e as projeções indicam outro encolhimento de 4% no segundo trimestre. Mas o presidente do Banco Central, Jose de Gregório, fala de recuperação no segundo semestre. O país cortou fortemente os juros e está usando estímulos de recursos poupados durante o período do boom econômico.

O México já cresceu pouco em 2008 (veja no gráfico).

Dada a proximidade com os Estados Unidos e sua dependência comercial, começou a reduzir a atividade econômica no primeiro momento da crise. Este ano, a previsão é de uma queda forte. Numa conversa recente que tive com o presidente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o mexicano Angel Gurría, ele disse que o país já entrou no segundo semestre em recuperação, mas que o numero final do ano será ruim pela queda do primeiro trimestre, que chegou a anualizados 24%. A previsão do FMI é de que o país feche 2009 com queda de 7,3% no PIB.

Comparado com os maiores países da região, o Brasil está melhor do que Argentina e Venezuela porque aqui se sabe a inflação e ela caiu e continua caindo. Difere do México porque tem um comércio internacional mais diversificado.

Mas ao contrário do Chile, não se preparou para este momento. Está gastando, criando esqueletos para o futuro. O dado de PIB do Brasil previsto pelo FMI para 2009 (-1,3%) está abaixo das previsões do mercado mas deve ser revisto para cima.

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil




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Superávit primário encolhe 70% no primeiro semestre

Adriana Fernandes e Fabio Graner, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em junho, as contas do governo fecharam com[br]déficit de R$ 643,8 milhões, o pior mês desde 1998

As contas do Governo Central, que reúne Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência, terminaram o primeiro semestre com um superávit primário de R$ 18,56 bilhões, o valor mais baixo desde 2001 para esse período. Em relação ao primeiro semestre do ano passado, a redução do chamado esforço fiscal do governo caiu 69,7%, para R$ 42,8 bilhões.

A queda foi resultado de uma combinação de queda de receitas e aumento de gastos - principalmente de pessoal -, que nos últimos meses tem prejudicado o desempenho fiscal do setor púbico. Em junho, pela quinta vez desde o agravamento da crise financeira, em setembro do ano passado, as contas do governo Lula fecharam o mês no vermelho e registraram déficit de R$ 643,8 milhões. Foi o terceiro resultado negativo em seis meses, e o pior para o mês desde 1998.

O resultado alimentou a desconfiança do mercado financeiro quanto à sustentabilidade da política fiscal e o cumprimento das metas de superávit primário - a economia que o governo faz para pagar os juros da dívida pública. Pouco depois do anúncio do resultado pelo Tesouro, no início da tarde de ontem, a taxa dos juros no mercado futuro reagiram com alta, com os investidores cobrando mais caro pelo suposto aumento do risco fiscal.

Na avaliação do mercado, os números confirmam uma trajetória de deterioração dos gastos públicos, com ampliação de despesas permanentes, principalmente de pessoal, que cresceram 21% no semestre, e terão impacto nos próximos anos. Mantido o ritmo dos últimos dois meses, há risco, até mesmo, de que a meta de superávit de R$ 28 bilhões para o segundo quadrimestre (maio-agosto) possa não ser cumprida.

No semestre, as receitas caíram 1,1% e houve forte aumento de 17,1% no conjunto das despesas. No lado das receitas, o desempenho negativo reflete principalmente a diminuição da atividade econômica e as desonerações tributárias feitas pelo governo. Nas despesas, o aumento se refere à ampliação de gastos de custeio da máquina pública e dos investimentos.

O secretário do Tesouro, Arno Augustin, afirmou que, mesmo com os resultados fiscais negativos nos últimos meses, trabalha com um cenário de cumprimento da meta de superávit para o acumulado do ano até o segundo quadrimestre.

Segundo Augustin, como o governo reduziu a meta de superávit para 2009, é "normal" que em alguns meses ocorram déficits. Mas ele ressaltou que, mesmo assim, o Brasil será um dos países com melhor desempenho fiscal neste ano. Ele destacou que, diante da necessidade de reverter a crise econômica, o governo fez um trabalho anticíclico mais intenso, acelerando gastos e abrindo mão de receitas com desonerações tributárias, mas disse acreditar que o segundo semestre deverá ter resultado primário melhor, já que as receitas devem crescer por conta da esperada melhoria da atividade econômica.

Irã liberta 140 detidos em protestos

AP, NYT e Reuters, Teerã
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Líder supremo manda fechar prisão e Ahmadinejad pede libertação de outros oposicionistas presos após eleição

A uma semana da data provável para a posse do presidente reeleito iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, o governo anunciou medidas para tentar amenizar a crise provocada após a divulgação dos resultados das eleições de 12 de junho. A primeira delas foi libertar cerca de 140 pessoas detidas na prisão de Evin, em Teerã, desde os protestos pós-eleitorais. A libertação ocorreu após o líder supremo, Ali Khamenei, ter ordenado o fechamento de outro centro de detenção, o Kahrizak, onde muitos dissidentes estariam presos.

No fim do dia, o próprio Ahmadinejad se manifestou sobre o assunto pela primeira vez, pedindo que o Judiciário solte os manifestantes acusados de crimes que não sejam graves. "Visto que já se passou um tempo considerável desde as prisões, esperamos que a situação de todos os acusados seja examinada rapidamente", escreveu o presidente em uma carta ao chefe do Judiciário, Mahmoud Hashemi Shahroudi. Ainda ontem, o governo revisou o número de mortos durante as manifestações de 20 para 30 pessoas.

TORTURA

As medidas foram tomadas em meio a uma onda de acusações feitas especialmente por grupos de direitos humanos, que afirmam que muitos manifestantes estão sendo mortos ou torturados nas prisões, além de não contarem com qualquer tipo de assistência médica.

Aparentemente, o governo passou a levar em consideração as acusações depois que Mohsen Ruholamini - filho de um assessor do ex-candidato à presidência Mohsen Rezai - morreu após ser espancado na prisão.

Há cerca de três semanas, o governo anunciou que havia 500 manifestantes detidos. No entanto, as prisões prosseguiram desde então e não há uma cifra recente do total de presos. A repressão foi comandada pela polícia, pela Guarda Revolucionária e pela milícia pró-governo basij para controlar os protestos que tomaram conta de Teerã após a votação, que teria sido fraudada, segundo a oposição.

O Ministério do Interior recusou ontem o pedido feito Mir Hossein Mousavi, líder da oposição, para realizar uma cerimônia amanhã, em Teerã, em homenagem aos mortos nos protestos. A data é simbólica porque marca os 40 dias de morte da jovem Neda Agha-Soltan, que se transformou no rosto das manifestações - é no 40º dia após a morte que são celebrados os rituais fúnebres importantes, segundo a tradição xiita.

Cuba discute agenda econômica

Efe e Reuters, Havana
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Assembleia Nacional analisa resultados de medidas contra crise

A Assembleia Nacional de Cuba deu início ontem a sessões de trabalho de suas 12 comissões permanentes para analisar temas econômicos e sociais "de grande importância" para a ilha. De acordo com o jornal Granma, as reuniões devem ir até hoje e antecedem a sessão ordinária geral programada para sábado, que será liderada pelo presidente Raúl Castro.

De acordo com a reportagem, os deputados analisarão os "primeiros frutos" das medidas adotadas pelo governo para combater a crise - entre elas, a campanha de economia de energia, redução das importações e aumento das exportações.

O comentarista econômico Ariel Terrero sugeriu que, para aliviar a economia, o Estado poderia reduzir seu papel no setor, passando parte do controle para os produtores. "Na economia cubana há uma necessidade de buscar fórmulas mais dinâmicas e inteligentes de entender o conceito de propriedade e de administrar um negócio", disse Terrero em seu comentário semanal na TV estatal.

Ontem, as comissões já haviam discutido o projeto de lei que criará a Controladoria-Geral da República. Segundo o presidente da Assembleia Nacional, Ricardo Alarcón, o novo órgão será subordinado ao Parlamento e substituirá o Ministério de Auditoria e Controle. A criação da controladoria, porém, ainda precisa ser aprovada pela Assembleia e deve ser votada no sábado.

Para dar continuidade ao processo de definição do rumo da política econômica e social da ilha, o Conselho de Ministros deveria discutir ontem novos ajustes no orçamento de 2009. O Comitê Central do Partido Comunista também deve se reunir hoje para examinar a situação nacional e internacional da ilha.AFP,

EUA revogam visto de quatro hondurenhos envolvidos em golpe

Roberto Lameirinhas, Tegucigalpa
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Washington estuda ampliar a sanção a outros membros do governo de facto; TSE rejeita antecipar eleições

Na mais forte medida pessoal contra os autores do golpe de Estado de 28 de junho em Honduras, o governo do presidente americano, Barack Obama, anunciou ontem a revogação dos vistos de quatro membros do governo de facto liderado por Roberto Micheletti.

A sanção foi adotada no mesmo dia em que o Tribunal Supremo Eleitoral de Honduras rejeitou antecipar as eleições de 29 de novembro, como propôs o presidente costa-riquenho, Oscar Arias, para solucionar a crise. Segundo o TSE, a mudança "afetaria dramaticamente o cronograma eleitoral".

O presidente do Tribunal Supremo de Honduras, Tomas Arita, que firmou a ordem de prisão contra o presidente deposto, Manuel Zelaya, e o presidente do Congresso Nacional, José Alfredo Saavedra, são dois dos quatro funcionários que tiveram o visto cancelado, segundo fontes hondurenhas.

Além disso, o porta-voz do Departamento de Estado, Ian Kelly, informou que os EUA estão estudando a possibilidade de revogar um número ainda não determinado de vistos de hondurenhos suspeitos de colaborar com o golpe. A medida foi criticada pelos republicanos no Congresso americano. Desafiador, Micheletti disse que "não haverá nenhum inconveniente" se os EUA tirarem seu visto.

Horas depois, o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, anunciou que seu país levará à União Europeia um pedido para que o bloco também cancele os vistos de hondurenhos envolvidos no episódio. Kelly voltou a afirmar que Washington reconhece apenas Zelaya como presidente de Honduras e reiterou a posição de apoiar o diálogo mediado pelo líder costa-riquenho - dado na semana passada como "fracassado" pelo presidente deposto.

No sábado, Zelaya tinha declarado a um grupo de jornalistas, entre os quais o do Estado, que demandaria da secretária de Estado americano uma ação mais dura contra o que chamou de "autores intelectuais" do golpe. A declaração de Zelaya foi uma resposta às críticas de Hillary à tentativa dele de voltar a Honduras antes de um acordo com o governo de facto. Irritado, o presidente deposto rejeitou um convite do Departamento de Estado para ir a Washington nesta semana.

"Nunca duvidei da posição do presidente Obama ou da secretária (Hillary) Clinton na intenção de pôr fim a esse golpe de Estado. O que pedi a eles era uma ação mais dura e mais forte contra os autores do golpe", reagiu Zelaya ontem, na Nicarágua, ao tomar conhecimento das medidas do Departamento de Estado. "Essa decisão, sim, envia um sinal a todos os países do mundo que acreditam que podem resolver suas disputas políticas pela via golpista. Eles (o governo de facto) estão isolados, estão cercados, estão sozinhos."

O governo americano já tinha suspendido, na primeira semana do golpe, toda a cooperação militar com Tegucigalpa. Na semana passada, uma série de convênios pelos quais a agência de ajuda externa dos EUA, a Usaid, também foi interrompida.

A lista de sanções contra o governo de facto inclui ainda a suspensão da ajuda internacional de vários países, incluindo o Brasil, e da UE. Além disso, a Organização dos Estados Americanos (OEA) suspendeu a participação de Honduras.

No Congresso Nacional, uma comissão especial - formada por alguns dos mais ferozes opositores de Zelaya - debatia o ponto da proposta de Arias de conceder anistia a "todos os autores de delitos políticos cometidos antes e depois de 28 de junho". Uma decisão sobre o tema é esperada para hoje ou amanhã.

Aliado do presidente venezuelano, Hugo Chávez, Zelaya tentou realizar uma consulta popular que abriria o caminho para uma reforma da Constituição que lhe permitiria concorrer a uma nova eleição. Partidários do governo de facto alegam que essa tentativa de reforma viola a Carta e, portanto, Zelaya teria perdido o cargo de forma constitucional. Em reação ao que considera ingerência de Chávez em Honduras, o governo de facto cassou na sexta-feira o status diplomático de dois funcionários venezuelanos da embaixada em Tegucigalpa.

SANÇÕES

Vistos - Os EUA revogaram os vistos de quatro membros do governo de facto de Honduras e podem estender a medida a um número indeterminado de suspeitos de colaboração com o golpe

Cooperação militar - Na primeira semana após o golpe, o governo americano levantou toda a cooperação militar com Honduras

USAID - Convênios da agência de ajuda externa dos EUA foram interrompidos

OEA - Honduras foi suspensa da entidade

Banco Mundial - Congelou a entrega de um crédito de US$ 270 milhões ao país

BID - O Banco Interamericano de Desenvolvimento suspendeu o repasse de US$ 200 milhões

UE - A União Europeia congelou US$ 92 milhões em ajuda
Elis Regina - O Bebado e o Equilibrista
Bom Dia!

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