quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A longo prazo

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


As negociações para a disputa pela sucessão do presidente Lula estão sendo aceleradas nos últimos dias dentro da base governista, na tentativa do Palácio do Planalto de garantir uma candidatura única. Mas a ansiedade para antecipar tanto um compromisso não parece ser a melhor estratégia quando se trata de PMDB e PT. A longo prazo, tudo poderá estar mudado.

Veja-se o caso do deputado federal Ciro Gomes (PSB), que deu a contragosto o primeiro passo para servir ao governo como candidato da base a governador de São Paulo, mas foi ajudado providencialmente pela incontinência verbal da ex-prefeita Marta Suplicy (PT), que o rejeitou como alternativa a um candidato petista.

Era o que Ciro precisava para reafirmar junto ao PSB sua candidatura a presidente. A agressividade com que foi rejeitado pelo PT paulista pode deixá-lo à vontade para exercer um papel que está esboçando: o de ser um candidato lulista, mas contra o PT.

Os ataques ao PMDB já começaram e certamente farão parte de seu repertório de campanha. Com isso, Ciro Gomes poderá apagar a fama de ser apenas uma "língua de aluguel" do governo, que entrou na disputa não para ganhar, mas para atacar o governador e pré-candidato tucano José Serra, seu inimigo pessoal.

Nesse papel, Ciro estaria reduzido a um candidato nanico que serve de trampolim para uma das partes realmente na disputa. Como tem pretensões maiores, terá que se livrar desse estigma que o próprio Lula está lhe impingindo.

Como se não bastasse o trabalho que Ciro terá para controlar seu temperamento explosivo e sua própria incontinência verbal.

Outra candidatura que não estava nos planos do Planalto, e que se consolida à distância do antigo partido, é a da senadora Marina Silva (PV), que pode vir a ser apoiada pelo PSOL ainda no primeiro turno, firmando uma proposta oposicionista ligada a questões da modernidade, como o meio ambiente.

Dificilmente sua candidatura terá mais espaço político para começar a campanha, mas, se o apoio popular se confirmar mesmo com um esquema partidário acanhado e pouco espaço para a televisão, será sinal de que ela se tornará um ponto de negociação forte tanto para PT quanto para PSDB.

Não é à toa que ela fez críticas à política autodestrutiva dos dois adversários, sinalizando que poderia vir a negociar com qualquer dos dois, desde que se coloquem em posição de construir entendimentos, e não em uma campanha eleitoral destrutiva.

A presença em sua campanha da vereadora e ex-senadora Heloísa Helena, que ainda aparece nas pesquisas eleitorais com os mesmos votos que teve na eleição de 2006 (cerca de 7% do eleitorado nacional), será um sinal de que Marina é vista como uma alternativa eleitoral mais viável, capaz de agregar apoios em outros setores da sociedade.

O PT também está conseguindo levar à loucura o PMDB, que, não conseguindo se acertar com o partido oficial, parte para tentar resolver as questões políticas por cima, isto é, obrigando a que o presidente Lula e a candidata oficial, Dilma Rousseff, se comprometam a acertar as alianças regionais, depois de garantido o lugar de vice para o partido.

Tomar uma decisão desse porte a cerca de oito meses da realização das convenções partidárias que selarão os acordos é confiar muito na lealdade do PMDB, virtude que nunca foi o forte do partido.

Muita coisa acontecerá até lá, principalmente várias pesquisas de opinião, que poderão confirmar que os ventos estão soprando para o lado de Dilma, e que a aposta de longo prazo dos governistas do PMDB estava certa.

Ou, então, mostrar que a candidatura oficial não decolou, o que dará força aos que, no PMDB, tendem a apoiar a candidatura de um tucano, seja ele quem for.

Nesse caso, se as pesquisas de opinião chegarem ao meio do ano apontando para uma vitória do candidato do PSDB, provavelmente a convenção do PMDB não ratificará a decisão de participar da chapa oficial, liberando seus filiados para apoiar quem quiserem.

Esses cenários poderão representar a definitiva afirmação da candidatura de Dilma, ou o começo de sua "cristianização" pelos aliados hoje abrigados na coligação governista.

O PSDB continua disposto a empurrar a definição para o mais tarde possível, aguardando o desenrolar dos acordos políticos e, sobretudo, o resultado das pesquisas de opinião pelo final do ano.

Elas servirão para consolidar a candidatura do governador paulista José Serra, caso seja confirmada sua liderança, como também para definir a estratégia a ser seguida.

Ainda não há uma certeza entre os tucanos sobre o papel do presidente Lula na alavancagem da candidatura da ministra Dilma, e o assunto é tratado com um cuidadoso respeito.

Por sua vez, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), está conseguindo sair de seu estado e tornar-se visível ao grande eleitorado como uma figura central da política brasileira, papel que já exerce nos bastidores com grande efeito.

Se se convencer de que, com sua presença na chapa tucana, na condição de vice-presidente, poderá garantir a vitória do partido, certamente se curvará às pressões, que são muitas, inclusive em seu estado.

Mas se persistir na dúvida sobre o resultado eleitoral, pode se resguardar com um mandato no Senado para uma futura oportunidade. A questão é que, se Dilma se eleger em 2010, será quase certamente candidata à reeleição se estiver bem cotada junto ao eleitorado.

Caso seu governo esteja mal avaliado, o governismo terá ainda uma carta na manga para 2014, na figura de Lula.

Nos dois casos, a disputa será mais difícil do que a atual.

Só para civilizados

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Se o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Jorge Félix, acha que a destruição parcial da plantação de laranjas da Cutrale em fazenda invadida é um "excesso" igual a tantos outros do MST, as declarações em tom de indignação conselheira por parte do ministro da Reforma Agrária e do presidente do Incra foram até contundentes.

Pela ótica do governo federal - traduzida na manifestação do general e materializada na mobilização da "base" no Parlamento para impedir a investigação de repasses de dinheiro ao MST -, a percepção do ministro da Justiça para o problema está perfeitamente dentro dos conformes.

No último mês de março, quando quatro empregados de uma fazenda em Pernambuco foram assassinados em confrontos com sem-terra, Tarso Genro atribuiu o episódio às "táticas arrojadas" do MST.

Entre um "arrojo" e um "excesso", temos a expressão "ação grotesca" empregada pelo ministro Guilherme Cassel para definir as imagens do trator derrubando o laranjal, e a avaliação de Rolf Hackbart, do Incra: "Isso não contribui para resolver os conflitos nem colabora com o processo de reforma agrária."

É de se perguntar às quatro autoridades e a tantas outras que mantêm o financiamento público ao MST, além daquela autoridade maior que tudo vê e tudo corrobora, o que seria feito de um cidadão comum - ou mesmo de uma pessoa incomum, como o senador José Sarney, por exemplo - que entrasse com um trator em terras produtivas derrubando toda a produção.

Isso para não falarmos da rotina de vandalismo, que já inclui até a invasão das dependências do Congresso Nacional.

Sim, o que seria feito do invasor? Preso e, na melhor das hipóteses, declarado maluco.

Pois ao MST é dado o benefício das palavras amenas, das críticas construtivas - como as do presidente do Incra, ao molde de aconselhamento sobre o que é "melhor" para o movimento - e da licença para barbarizar a tudo e a todos impunemente.

Aos cumpridores da lei resta o malefício de ouvir impotentes à cínica declaração da meliante travestida de militante a dizer na televisão que a derrubada do laranjal se destinava a abrir espaço para o plantio de feijão. "Não se vive só de laranja", zombou a bandida, de costas para a legalidade e de mãos dadas com as autoridades federais que se recusam a cumprir a Constituição no preceito da garantia à propriedade.

E ainda sustentam os bandoleiros com o dinheiro suado dos impostos pagos pela sociedade, enquanto se comemoram os maravilhosos feitos brasileiros em sua trajetória rumo ao Primeiro Mundo. Onde podem até ser aceitas, mas costumam ser condenadas as transgressões financiadas e abrigadas pelo aparelho de Estado.

Adaptação

Em setembro, quando teve a ideia de dar um ultimato no PT para que antecipe da decisão sobre a oferta da vaga de vice na chapa de Dilma Rousseff, o PMDB dava como prazo final o mês de outubro para a resposta.

Em outubro, a data fatal foi remarcada para novembro sem que o PT acenasse com nenhuma garantia de que até lá vá tomar a decisão exigida pelo parceiro. Ao contrário.

Depois da filiação do deputado Ciro Gomes (principal motivo da pressa dos pemedebistas) à seção paulista da Justiça Eleitoral, as questões presidenciais continuam mais em aberto do que nunca.

E assim permanecerão de fato até os primeiros acordes da sinfonia de 2010.

Passo a passo

Tudo faz parte do mesmo jogo de cena: tanto a história de que o presidente Lula poderia ter alguma ingerência na desistência ou na manutenção da candidatura do governador José Serra à Presidência da República, quanto a versão de que o PSDB faz pesada pressão sobre o governador Aécio Neves para que aceite formar com o colega de São Paulo uma chapa presidencial puro-sangue.

Sobre a primeira, Lula é forte, mas não é absoluto. Nem no próprio partido. Quando à segunda cena, o PSDB - escaldado - desta vez é estratégia pura. Não se emociona nem pressiona. Apenas administra a liberação do roteiro ao público em capítulos.

Corrente pra frente

A tese do presidente Lula de que o Brasil não deve se preocupar com o que será gasto, mas com o que será ganho na Olimpíada de 2010, porque qualquer que precise ser o "investimento" o resultado vale a pena, parte, como sempre, do velho princípio, digamos, troglodita: os fins justificam os meios.

Por ele, ninguém foi importunado pelo fato de o gasto com o Pan em 2008 ter ficado na casa dos R$ 4 bilhões, quando o planejamento previa despesa de R$ 400 milhões.

Nem por força de dispositivos previstos no Código Penal - corrupção, para sermos explícitos -, nem pela falta de qualidade técnica dos planejadores.

A campanha é prioridade até 2010

Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


RIO - Na tradição festeira do Rio, a escolha para sede dos Jogos Olímpicos de 2016 assinala um recorde comparável, por exemplo, com a recepção da Força Expedicionária Brasileira (FEB), quando retornou da Itália, depois da derrota do Eixo, com centenas de medalhas por ato de bravura. A memória cutucada recupera as imagens da Avenida Rio Branco literalmente coberta pela multidão, que só deixou o espaço para uma única fila da Praça Mauá ao Monroe.

Carnaval não vale, porque é folguedo de todo o ano, com o Sambódromo e suas amplas arquibancadas para conforto dos fanáticos. A Olimpíada tem outra cadência. A multidão, que varou a madrugada lotando a Praia de Copacabana, no dia seguinte retomou a sua rotina. E não se deve imaginar que a obra monumental em todas as sedes de competições esportivas reúna dezenas, centenas de desocupados para acompanhar o baticum dos martelos e o empilhar de tijolos.

Na pausa, a pré-campanha retomou as articulações de bastidores, com algumas novidades dignas de registro. A ministra-candidata Dilma Rousseff, na euforia da cura atestada pela equipe médica do tumor cancerígeno, depois das sessões de quimioterapia, comemorou a retomada das transas para a montagem da chapa, com a escolha do candidato a vice-presidente. Na ausência do presidente Lula em giro pelo mundo, faturando a escolha do Rio para sede da Olimpíada de 1016, dona Dilma caprichou no vestuário e na peruca prestes a ser defenestrada e compareceu a uma reunião, em Brasília, com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT, e do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT- SP) para consolidar a aliança com os pedetistas, que qualificou como fundamental para a estabilidade do governo e a campanha. No jantar oferecido aos pedetistas na residência da chefe da Casa Civil, a ministra Dilma sustentou que o governo terá apenas um candidato. E gabou o governo pelo êxito administrativo que mudou o Brasil. Como se constata, conversa de candidata e ênfase de quem manda e quer ser obedecida.

A desenvoltura com que a ministra colocou as coisas nos seus lugares foi como um esguicho de água gelada na jogada do deputado Ciro Gomes (PSB), que trocou seu domicílio eleitoral do Ceará para São Paulo, por pressão do presidente Lula e como peça de uma jogada estratégica com ele combinada. E na contramão da ministra Dilma foi positivo: “Só estou executando o que combinei com o presidente. Reafirmo que sou candidato à Presidência da República”. No mesmo dia, a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, foi de uma aspereza que raspa na grosseria no veto ao apoio da candidatura de Ciro Gomes: “A candidatura do aliado do PSB não tem nada a ver com São Paulo”. São palavras que o vento leva com a chegada de Lula e alguns dias de permanência em Brasília. Poucos, que o presidente não quer se desgastar com as futricas dos ansiosos.

Enquanto a oposição não definir a sua chapa com a escolha do vice do governador paulista, tucano José Serra, a pré-campanha continuará a desafiar o calendário fixado pela Constituição, apelando para o pretexto de que Lula e a ministra Dilma viajam para acompanhar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Minha Casa Minha Vida, que promete construir 1 milhão de residências populares, e agora, além da arrancada pisando no acelerador para o início das obras para os Jogos Olímpicos de 2016, as emergências aflitivas para o socorro aos milhares de desabrigados pelas enchentes no Norte e no Nordeste e da seca em outras áreas imensas. E mais as enchentes e a seca no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

A crise ética da roubalheira no Senado e o repeteco na Câmara sumiram em meio à poeirada.

* Villas-Bôas Corrêa é repórter político do JB.

Toma lá, não dá cá

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Lula tenta, convenientemente, manipular a candidatura Ciro Gomes, conter os arroubos do PDT e do PC do B para Ciro ou Marina e até articular a chapa da oposição. Enquanto isso...

As cúpulas e as lideranças do PMDB no Senado e na Câmara, à frente Sarney e Temer, estão doidas para pular logo na candidatura Dilma. Já as seções do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio, Minas, Mato Grosso do Sul, Bahia, Pernambuco, Pará e Acre continuam muito reticentes.

E cheias de problemas com o PT.

Os comandantes no Congresso têm força nacional, mas trazem pouca tropa para a convenção do PMDB que vai decidir os rumos na sucessão. Sarney traz Maranhão e Amapá. Romero Jucá, Roraima.

Henrique Eduardo Alves, Rio Grande do Norte. Renan Calheiros, Alagoas. São representações pequenas na convenção, diante de São Paulo, Minas, Bahia e Paraná, por exemplo. Temer traz o quê?

Reunidos em jantar anteontem, ministros, líderes e cúpulas decidiram dar uma prensa em Lula, exigindo que anuncie desde já que o vice de Dilma será do PMDB. E que quem escolhe o nome não é ele nem Dilma, e sim o partido.

Esperam, com isso, ter um trunfo para seduzir as bases estaduais peemedebistas. A oito meses da convenção, elas não parecem querer fechar com Dilma nem voar para outros ninhos. Preferem esperar os ventos. Ou as pesquisas.

Pragmático e experiente, Jader Barbalho foi aplaudido ao dar a palavra final no jantar: o acordo do PMDB governista é com Lula, e isso não significa ser automaticamente com Dilma.

O que todos querem saber é se ele, Lula, é capaz ou não de transferir votos para sua candidata.

Se transferir, vai transferir também o PMDB. Se não, não.

Ou seja: a cúpula do PMDB exige um compromisso público de Lula em lhe dar a vice, mas não garante coisa nenhuma em troca -nem a ele, muito menos a Dilma.

Crise regional define poder nacional

Maria Inês Nassif
DEU NO VALOR ECONÔMICO

Os dois partidos preferidos do eleitor paulista, PT e PSDB, mantêm a centralidade na política nacional mais pela polarização que o eleitor do Estado faz a partir deles - o eleitor define-se ideologicamente a partir da imagem que tem dessas legendas - do que pelo perfil de ambos. Desde a virada do milênio, as seções paulistas desses partidos vivem intensas crises internas porque vitórias estaduais são o primeiro passo da disputa nacional. As lideranças consolidadas pelo eleitorado tendem também a não abrir caminho para renovação.

A posição do PSDB, de partido há muito tempo no poder estadual, tornou-o demais atrativo para lideranças mais conservadoras que estavam abrigadas em partidos que perderam força e eleitorado, como o PMDB e o antigo PP de Paulo Maluf. Militantes antigos queixam-se da queda de qualidade de seus quadros. O destino trouxe de volta para o Estado líderes petistas de maior peso que se desgastaram no primeiro governo de Lula, mas hoje eles pendem muito mais a adequar o diretório paulista ao projeto de continuidade do PT no poder federal do que propriamente de adequação das necessidades nacionais às disputas paulistas.

PT e PSDB polarizam o eleitorado do Estado desde que o ex-governador e ex-prefeito Paulo Maluf (PRP) saiu do mapa das eleições majoritárias, posição consolidada quando ele se refugiou no mandato de deputado federal, em 2006. Parte do eleitorado malufista foi absorvida pelos tucanos - o voto que por conceito era antipetista - e pouco Maluf levou consigo em alianças com o PT.

O eleitor paulista tem mantido um certo padrão de voto: o governo do Estado está há 27 anos nas mãos do PSDB, duas das três cadeiras no Senado ficam com o PT e, na Câmara dos Deputados, os dois partidos paulistas têm as duas maiores bancadas do Estado - são 18 representantes do PSDB e 14 do PT. Na prefeitura da capital se revezam petistas e antipetistas - nas últimas eleições municipais venceu a disputa o prefeito Gilberto Kassab, do DEM, como o candidato antipetista, da mesma forma que Maluf ganhou em 1992 contra o PT e o seu sucessor, Celso Pitta, em 1996.

A candidatura vitoriosa de José Serra à prefeitura, em 2004, foi o momento em que a capital conseguiu realizar de forma mais completa o voto antipetista num representante tucano, sem que ocorresse perda de votos conservadores, claramente antipetistas, para uma legenda mais à direita no espectro partidário. Em 2008, o candidato tucano Geraldo Alckmin sangrou sua candidatura para Gilberto Kassab (DEM), que conseguiu a seu favor um perfil de eleitorado conservador, antipetista, antes dirigido a Maluf, e o eleitor tucano e o antipetismo menos conservador, os dois últimos vindos das mãos de Serra, de quem o candidato do Democratas era vice na prefeitura.

Polarizados nas eleições do Estado com mais eleitores, os dois partidos ainda conservam um grande poder na política nacional. O PT ainda tem uma forte concentração das decisões nacionais nas mãos dos representantes paulistas. Seu presidente é Ricardo Berzoini, deputado federal por São Paulo, e sua Executiva Nacional é fortemente paulista. O PSDB "despaulistizou" a direção nacional ao longo do governo de Fernando Henrique Cardoso, mas não o poder. A candidatura do paulista José Serra à Presidência mobiliza grande parcela do tucanato nacional desde 2002, quando ele perdeu a eleição para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2006, quando Lula disputou a reeleição, a briga pela legenda tucana à eleição nacional não saiu do Estado: o ex-governador Geraldo Alckmin foi o candidato, depois de ganhar uma queda-de-braço com o governador José Serra, que então se candidatou ao governo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que se resguarda para as grandes decisões nacionais, também irradia daqui a sua influência para o resto do país.

Da mesma forma que São Paulo, no início da década de 80, produziu as novas lideranças políticas que iriam arejar a política nacional que saía da ditadura, é no Estado que, hoje, as lideranças antigas nacionais são mais arraigadas. A renovação está se produzindo primeiramente fora de São Paulo e começa a acontecer aqui de forma tardia e com mais dificuldades. Primeiramente, porque lideranças estaduais consolidadas tendem a não ceder espaço para novos personagens.

Isso ocorre nos dois partidos. No PSDB, é mais acentuada a dificuldade de depuração de quadros de qualidade ruim que tendem a se amontoar num partido quando ele vira opção de poder - e foi o PSDB o grande atrativo para ex-quercistas e pemedebistas que abandonaram a legenda pemedebista esvaziada pela polarização eleitoral entre os tucanos e o PT. No PT esse efeito foi menor porque o partido tem mecanismos de controle interno que não foram desmontados depois que este alcançou o poder federal - e que, se não facilitam a vida dos que chegam de fora, pelo menos dá instrumentos para que as direções os submetam aos interesses de maiorias partidárias.

Se o trânsito das novas lideranças é difícil no PT e no PSDB paulista, também se tornam mais complicadas as disputas internas entre as velhas lideranças. No caso do PT, a luta interna entre os grupos, mesmo depois de 2005, em algum momento pode ser interrompida pela ação de um grupo majoritário. As próprias prévias eleitorais são regras para enquadramento de minorias. Nas eleições, esses mecanismos garantem coesão no palanque, mesmo que as divisões voltem a se manifestar no dia seguinte ao pleito. No PSDB, as disputas são enquadradas em articulações de lideranças que dificilmente conseguem garantir uma mínima coesão eleitoral. Não existem compromissos sólidos dos grupos derrotados em disputa com os grupos vitoriosos, nem se observa uma coesão partidária posterior a uma grande disputa interna pela legenda para cargos majoritários.

Pelos dados colocados na mesa até agora, o PT e o PSDB paulistas vão fazer valer a tradição e se aproximam das eleições rachados. O PT tem mais chances de ir unido para o palanque estadual do grupo vitorioso, mesmo que rache novamente logo em seguida. Qualquer que seja o grupo vitorioso no PSDB paulista, não há chances de unidade nem para as eleições.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

Internet para todos

Comte Bittencourt
Presidente Estadual do PPS
Deputado e presidente da Comissão de Educação da Alerj
DEU EM O DIA (7/10/2009


Rio - O governo do estado começou seu projeto de conectividade Wi-Fi, via Copacabana. Claro que tinha um forte sentido de marketing e de vincular a gestão Sérgio Cabral às novas tecnologias da informação e da comunicação. Tudo bem, se o projeto de conectividade do estado com o mundo fosse apresentado com a consistência que se exige de tal proposta.

Lamentavelmente, ficamos parados na orla de Copacabana. O restante da capital não sabe do que se trata, muito menos os demais 91 municípios do estado. Estes, sim, profundamente necessitados de conexão em banda larga para mudarem seus destinos e, mais importante, de suas gentes. Quando reclamamos, citam Piraí. Pois viva Piraí! Mas queremos mais!

O Estado do Rio poderia estar completamente servido de banda larga, em todos as cidades e distritos, no prazo de um ano, com investimentos de US$ 45 milhões de dólares. É valor pequeno, se comparado aos sonhos desenvolvimentistas industriais para o estado. E a força da Internet estaria nas mãos de todos os fluminenses.

O mais interessante é que com um pouco de logística para um projeto de conectividade para o Rio, a Internet poderia ser gratuita em todos os espaços públicos existentes em nossas cidades. Em lan houses, em praças públicas e em todos os locais onde haja prestação de serviços aos habitantes de nosso estado, principalmente em pontos de atendimento à saúde, nas escolas e nos serviços de proteção aos cidadãos.

Assim, as pessoas passariam a ter nas pontas de seus dedos uma interface com o futuro, com o saber e com maneiras inéditas de criar valor.

As Olimpíadas e Dilma Rousseff como ponte para Lula em 2014

Jarbas de Holanda
Jornalista


Os efeitos da conquista para o Brasil das Olimpíadas de 2016 – que provavelmente se refletirão, em próximas pesquisas de opinião pública, num reforço da já elevadíssima popularidade do presidente Lula – poderão ter peso bem menor ou até pouco relevante daqui a quase um ano na disputa presidencial e nos pleitos estaduais (com exceção do que se realizará no Rio de Janeiro, por razões óbvias). Pois até lá muita água correrá por debaixo das pontes dos processos eleitorais – nos planos da economia, da gestão dos programas governamentais, das alian-ças político-partidárias, das posturas dos presidenciáveis e dos
demais candidatos. Ou seja, o cenário pode mudar bastante até lá.

Mas o enorme impacto dessa conquista – externo (com significativa ampliação do prestígio do Brasil, associado ao de Lula, na comunidade internacional) e interno, pelo amplo reco-
nhecimento social do papel que ele teve na decisão do COI – certamente reanimou ou fortaleceu a aposta dele - sobre a su-cessão presidencial à vista com base numa combinação dessa aposta com o reavivamento ou definição objetiva de projeto pes-soal para o retorno à chefia do governo em 2014.

Eis a combinação: a carta de maior valor que ele poderá usar para a transferência de popularidade para sua candidata – se a estreita vinculação de Dilma ao PAC, ao “Minha Casa, Mi-nha Vida”, aos bons indicadores econômicos e sociais e à bateria de programas assistencialistas, bem como mais recentemente ao pré-sal, não for suficiente para isso – tal carta será a de que uma vitória dela, tanto ou mais que a garantia de continuidade das políticas lulistas, constituirá o caminho, ou uma ponte para sua volta à presidência em 2014, inclusive para que comande a realização das Olimpíadas de 2016. Argumento ou
apelo que os demais candidatos tratarão de desqualificar, caracterizando a beneficiária como alguém sem personalidade própria ou mero instrumento de seu apoiador. Mas que servirá, também, ao plano do Palácio do Planalto de subordinar a disputa presidencial de 2010 a um plebiscito sobre o lulismo. Plano enfraquecido pela emergência das pré-candidaturas de Marina Silva e Ciro Gomes, e retomado agora com os novos ingredientes do
pré-sal e, sobretudo, das Olimpíadas.

O receio do descontrole das contas públicas e a euforia econômica

O grande impacto da escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016 reduziu o peso ganho na mídia da semana passada pelas apreensões do mercado financeiro e de
muitos analistas econômicos com um horizonte dominado pela necessidade de significativa elevação dos juros básicos, já a partir dos meados de 2010, e, depois das eleições, por novo incremento da carga tributária e pela mistura de cortes de investimentos e calote de dívidas do governo federal. Como respostas à queda de receita, ao longo de 2009, e à escalada de gastos, em andamento. Essas apreensões foram reforçadas por relatório do Banco Central que qualificou de “insustentável” a política fiscal que está sendo praticada. O que suscitou forte contestação por parte do ministério da Fazenda.

A perda do relevo jornalístico atribuído a tais receios deve-se basicamente ao impacto do anúncio “olímpico” e a uma bateria de boas notícias e de fatos importantes para a economia brasileira. Desencadeados pela perspectiva de vultosos investimentos – sobretudo na área de infraestrutura e em hotelaria – a serem feitos no Rio, e seguidos pela oferta de ações do Santander (numa grande operação que movimenta cerca de R$ 14 bilhões, boa parte de investidores externos), pela excelente repercussão do empréstimo do Brasil ao FMI, pelo aumento da cotação internacional de nossas commodities minerais e por muitos novos
negócios dos agentes econômicos. Tudo isso refletindo-se numa recuperação do Ibovespa para mais de 62 mil pontos.

Coluna do Milton Coelho da Graça

CIRO PERDEU OUTRA BOA
CHANCE DE FICAR CALADO

Ciro Gomes tem se mostrado sério e progressista, um parlamentar ativo e dos mais inteligentes, um governante executivo operoso e aparentemente honesto. Mas é daquelas pessoas que merecem ser chamadas de “boca grande”, não por comerem demais ou roubarem demais, mas por falarem bobagem quase compulsivamente.

Em sua coluna de ontem, o jornalista Elio Gaspari – seguramente um dos dois ou três mais competentes e respeitados do país – demoliu a credibilidade de Ciro por conta de uma frase boba mas venenosa em relação a José Serra, em entrevista a outro jornalista de primeiro time, Raymundo Costa, do jornal VALOR:

“”O que o Serra fez quando o câmbio estava apreciado”.

Quem pode acreditar em um candidato a Presidente da República ou Governador de São Paulo, que transforma disputa política em ódio pessoal e cego, a ponto de acusar o adversário por pecados que ele não cometeu mas que o próprio acusador carrega em sua biografia?

Ciro era Ministro da Fazenda e aceitou calado – para preservar o cargo, parece óbvio – que a turma do Plano Real, encastelada no Banco Central, no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, até aplaudisse a apreciação cambial causadora de enormes prejuízos à nossa indústria e ao país. O engraçado é que José Serra, também ministro de FHC, demonstrou publicamente sua desaprovação, como Elio Gáspari implacavelmente recordou em sua coluna de ontem, publicada por vários jornais do país.

O povo brasileiro – eu inclusive –, que ainda considera Ciro um bom sujeito, fica em dúvida sobre as razões de sua candidatura (ninguém ainda sabea quê): Ele é favor do câmbio livre ou do controle cambial? Ele é neoliberal ou desenvolvimentista? Ele é a favor da entrada da Venezuela no Mercosul como Lula ou é contra, como o senador Tasso Jereissati, seu maior aliado político?

Ele quer derrotar ou ajudar Dilma Roussef? Em matéria de meio ambiente, ele está mais para Marina Silva ou Carlos Minc?

Ciro já se estrepou em outra eleição majoritária – para Presidente, em 2002 –
também por dizer bobagem e na hora errada. Eu admito, como ele também achou importante afirmar, que José Serra é feio; Mas não é por beleza que o povo vai decidir em 2010.

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””Muitas pessoas têm a sorte de poder falar sobre coisas sobre as quais tenho de ficar calada.”

Mary II, rainha da Inglaterra (1662-1694), a Sofia de Hanover, após sua coroação.
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DOS 30 QUE MUDAM LEGENDA,
SÓ UNS SEIS SE APROVEITAM


Dos 30 deputados federais que mudaram de legenda para a disputa eleitoral do próximo ano, apenas cinco ou seis parecem ter razões legítimas para isso, o resto todo apenas foi motivado por esperteza eleitoral e demonstrativa de que partido para eles é como qualquer fornecedor de mercadoria.

O fluminense Geraldo Pudim (PMDB para PR) mudou-se por conta de suas relações com o já declarado candidato ao goerno estadual Anthony Garotinho. A capixaba Rita Camata (PMDB para PSDB) foi candidata à vice-presidência com José Serra em 2002. O fluminense Marcelo Itagiba (PMDB para PSDB), por ser até possível candidato ao governo estadual. O acreano Henrique Afonso (PMDB para PV) acompanhando a decisão da senadora Marina Silva.

Com o benefício da dúvida, considero que haja mais um ou dois que tenham sido motivados por razões sérias. Mas, com toda a certeza, a grande maioria, trocou de legenda apenas como um carimbo sem qualquer significado programático ou político com “P” maiúsculo, mas sim “m” minúsculo, de “malandragem” eleitoral.

Como qualquer reforma séria do sistema poderá ser aprovada por esses parlamentares?

“A GENTE GANHA
MUITO, MAS NÃO
É VIDA FÁCIL”

O consórcio Suez venceu a licitação para construção da usina de Jirau oferecendo um preço de venda menor – 72 reais por megawatt/hora –, graças a uma bem bolada mudança no projeto, vantajosa para o governo federal e os futuros usuários.

As concorrentes só pararam de recorrer depois de acordos que até hoje não foram bem explicados. Agora os deputados estaduais de Rondônia também acham que podem conseguir alguma coisa. Estão com nhemnhemnhem ambiental, típico de quem quer apenas conseguir algum tipo de vantagem – política ou de outra natureza.

Concorrência, políticos, burocracia. Certa vez um grande empreiteiro desabafou comigo numa entrevista: “A gente ganha muito com o progresso deste país. Mas não é vida fácil.”

BAIXO CLERO SEMPRE APRECIA
ONDE HÁ INTERESSES ALTOS


Quase sem aparecer nos noticiários da TV, estão correndo importantes batalhas parlamentares, em que o chamado baixo (e esperto) clero ouve conversas muito interessantes dos lobistas mais ativos. Uma é sobre a votação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) , que manteria em seus cargos titulares e funcionários antigos de cartórios (quem assumiu essas funções até 20 de novembro de 1994 e esteja nas funções há pelo menos cinco anos ininterruptos).

A Constituição de 88 acabou com a folia de cartórios serem distribuídos pelo Poder Executivo como brindes de alto luxo para amigos e parentes, instituindo a obrigatoriedade de concursos públicos.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, já disse, com toda a clareza, que está em jogo a forma republicana de ocupar cargos de natureza pública. E recentemente fulminou, com um curioso neologismo, essa PEC esperta que tanto mobiliza lobistas e deputados: “Essa PEC é uma prova da resistência. Se for aprovada, vai ser a terceira vez em 30 anos que o Brasil permite a cartoragem.”

Essa PEC é, realmente, um modelo da resistência do Brasil velho ao Brasil novo que a Constituição de 1988 teve a intenção de começar a construir. Os governos – federal e estaduais – tinham a obrigação de simplesmente cumprir, regulamentar e executar. Mas aí começou o “peraí um pouquinho”, os anos se passando e a resistência se organizando. Aquela conhecida rotina estratégica dos interesses estabelecidos diante da inevitabilidade de mudanças: resistir por todas as formas, usar todas as manobras políticas, acrescentar subterfúgios processuais na Justiça, até que algum dos poderes da República bata o martelo e ordene “cumpra-se”.

Quando o Executivo remancha e o Legislativo idem, só o Judiciário, apesar de sua lenta engrenagem, pode impor o respeito à Lei.

O baixo clero também poderá ser decisivo na batalha sobre o Índice de Produtividade Agrícola, até porque o PT luta, mas sem receber até agora a bênção oficial do Planalto, sempre dividido entre parecer amigão tanto do MST como do agronegócio. Os grandes proprietários rurais, liderados pela senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária, querem tirar do Poder Executivo, através do INCRA, a responsabilidade de estabelecer esses índices de produtividade que orientam as iniciativas de reforma agrária.

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“O interesse do proprietário de terras sempre se opõe aos interesses de todas as outras classes da comunidade.”

David Ricardo (1772-1823), economista britânico, em “Princípios de Economia Política e Tributação”, 1817.
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O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Heloísa Helena cogita apoiar Marina Silva

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

SÃO PAULO – A presidente do PSOL, Heloísa Helena, cogita abrir mão de concorrer à Presidência da República em 2010 para apoiar a candidatura da senadora Marina Silva (PV). A vereadora pode disputar uma vaga ao Senado por Alagoas em nome dessa estratégia. A proposta foi apresentada à executiva nacional do partido pelo diretório de Alagoas, depois que um dos possíveis adversários dela na disputa pelo Senado, o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), sinalizou que concorrerá ao Executivo estadual. A movimentação facilitaria a vitória de Heloísa no Estado.

“Caso eu não possa ser candidata a presidente, meu candidato será Milton Temer (PSOL) ou Marina Silva”, afirmou Heloísa Helena. O cenário daria impulso ao possível candidato a presidente Ciro Gomes (PSB) e prejudicaria a presidenciável do PT, Dilma Rousseff.

A última pesquisa de intenções de voto, da CNI/Ibope, indica que, excluindo o nome de Heloísa da simulação, Serra lidera com 35%, Ciro Gomes aparece com 17%, Dilma Rousseff soma 15% e Marina Silva, 8%. Com Aécio no lugar de Serra e sem Heloísa, Ciro lidera com 28%, seguido de Dilma com 18%, Aécio com 13% e Marina com 11%. Com ela no páreo, num cenário com Serra, Dilma, Ciro e Marina, a presidente do PSOL aparece com 8%. Além de Milton Temer, ex-petista e um dos fundadores do PSOL, o partido trabalha com a possibilidade de lançar à Presidência Plínio de Arruda Sampaio, de São Paulo, ou Martiniano Cavalcante, de Goiás. A definição sobre apoio ou candidatura própria só deve sair em dezembro, quando o PSOL faz sua Conferência Eleitoral.

O presidente do PSOL em Alagoas, Mário Agra Júnior, comanda o movimento por Heloísa no Senado. A proposta foi aprovada por consenso em uma reunião do diretório alagoano no último sábado, que contou com a participação de mais de cem filiados. “Ela aparece até 15 pontos porcentuais à frente do senador Renan Calheiros (PMDB) nas pesquisas locais de intenção de voto para o Senado. Está bem à frente dos outros possíveis candidatos, enquanto na disputa à Presidência ela fica em terceiro lugar”, disse Agra. “A situação, matematicamente, é muito boa para Heloísa no Estado”.

Entidades rebatem críticas da Nove

Cláudia Lamego
DEU EM O GLOBO

Presidente da UNE diz que vai para as ruas quando "pauta é conveniente"

O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Augusto Chagas, rebateu críticas ontem do Nove (Nova Organização Voluntária Estudantil), movimento surgido após o vazamento das provas do Enem, dizendo que a UNE representa sim os estudantes e que é uma característica da entidade ter opiniões políticas e participação de partidos na composição de seus quadros. Chagas disse que a UNE vai para as ruas, sim, quando a "pauta é conveniente", como no caso das críticas à política macroeconômica do governo.

Ao responder às críticas de que a entidade seria chapa-branca, ele disse que a UNE tem diálogo com o presidente Lula. Falando sobre as reivindicações da entidade atendidas pelo governo, ele contou ainda que a nova bandeira do movimento é a luta para que 50% dos recursos do pré-sal sejam destinados à educação.

- Até 2010, o número de vagas nas universidades federais vai duplicar. O ambiente político atual possibilitou conquistas como essa. A UNE sempre teve opiniões políticas e não é verdade que sempre fomos oposição a todos os governos. Lutamos na cadeia da legalidade, na década de 60, pela permanência do governo João Goulart.

Sobre o Enem, a UNE não fez qualquer manifestação nas ruas, limitando-se a divulgar uma nota cobrando investigação e manifestando "preocupação" com o assunto.

- Não concordamos com a insinuação de que não representamos os estudantes. Os fóruns da UNE reúnem mais de 1.500 centros acadêmicos do país - disse Chagas.

O presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) disse que a entidade foi a que mais se pronunciou sobre as mudanças do Enem. Ismael Cardoso afirmou que a entidade criticou a pressa do Ministério da Educação na implantação da nova prova e que fez manifestações contra o vazamento:

- Esse movimento (Nove) está usando uma revolta justa em relação ao Enem para criticar a UNE e a Ubes.

Peleguização

DOMESTICADA em troca de generosos repasses de dinheiro público, a UNE, assim como centrais sindicais, não demonstra a agilidade do passado na defesa das bases.

COMO ESTÁ claro no caso do vazamento das provas do Enem, quem não se sente representado organiza-se à margem das entidades silenciadas.

O QUE é positivo. Mostra que a peleguização financiada com dinheiro do contribuinte não pode tudo.

PMDB acerta apoio a Dilma em 2010

Denise Madueño, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Partido espera que, já na próxima semana, Lula reúna o partido e a direção do PT para sacramentar pré-acordo

Distante oito meses da convenção partidária que vai definir oficialmente com quem o PMDB dividirá o palanque presidencial em 2010, a cúpula do partido decidiu formalizar já o apoio à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a indicação de um peemedebista para a vice-presidência da chapa. O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), vai conversar hoje com o presidente Lula informando o resultado do jantar dos dirigentes peemedebistas na noite de terça-feira, no qual setores do partido aprovaram por unanimidade o acordo.

O PMDB espera que, na próxima semana, Lula reúna o partido e a direção do PT para sacramentar o que vem sendo chamado de pré-compromisso. As duas siglas vão deixar claro que estarão juntas na disputa presidencial em 2010. O partido não apresentará o nome do vice agora, mas Temer é o cotado para o cargo. "O PMDB está pronto para sinalizar ao País inteiro que, coerentemente, estaremos juntos no palanque de Dilma", afirmou o líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), organizador do jantar.

Assim que Lula apresentar publicamente o acordo, o PMDB vai buscar entendimentos nos Estados e os votos dos convencionais para garantir em junho, mês em que serão realizadas as convenções partidárias para as eleições de 2010, a aprovação da aliança nacional. "Com o pré-compromisso acertado, vamos nos dedicar, como aliados, a tentar resolver as questões nos Estados", disse o líder do partido

Ele considera que o pré-acordo vai acabar com inseguranças e inquietações no partido. "Vamos cessar as especulações e definir o rumo (do partido e da aliança)", continuou Alves. As dificuldades em alguns Estados provocaram uma inversão da estratégia da legenda. Anteriormente, o caminho era partir dos acordos regionais para concretizar o apoio para a Presidência. Agora, a tática foi consolidar a chapa para influenciar a movimentação nos Estados.

DISPUTAS

Peemedebistas que enfrentam problemas estaduais com os petistas estavam presentes e aceitaram a decisão do partido de aliança nacional com o PT e Dilma. Mas na avaliação da cúpula partidária, em alguns Estados será quase impossível fechar uma aliança dos dois partidos e a disputa será inevitável.

A preocupação do PMDB nesses locais é garantir tratamento igual do presidente Lula para os candidatos peemedebistas e petistas. Esse é o caso, por exemplo, da Bahia. O ministro de Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, expressou, durante o jantar, sua decisão irreversível de disputar o governo do Estado contra o governador Jaques Wagner (PT), que deseja a reeleição. Há problemas também no Pará, onde o deputado peemedebista Jader Barbalho pretende disputar com a governadora petista Ana Júlia Carepa.

Em Minas Gerais, o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), e os petistas Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, e Patrus Ananias, ministro de Desenvolvimento Social, querem ser o candidato ao governo. No Rio Grande do Sul, um acordo entre PMDB e o PT é considerado quase impossível. O ministro da Justiça, Tarso Genro (PT), se lançou candidato e o PMDB vai decidir entre José Fogaça e Germano Rigotto. No Mato Grosso do Sul, Zeca do PT declarou que vai disputar o cargo do governador, André Puccinelli, em busca da reeleição.

''É uma violência'', reage Quércia

Clarissa Oliveira
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Excluído da lista de convidados do jantar organizado pelo comando nacional do PMDB, o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia classificou como uma "violência" o plano para selar desde já a aliança com o PT. Quércia, que tenta convencer a sigla a seguir com o PSDB, prometeu contestar internamente a decisão. "É uma violência. Nunca houve na história do partido uma decisão tomada dessa forma, sem qualquer consulta aos líderes, sem dialogar com ninguém. É um absurdo isso, uma loucura", disse Quércia, que prometeu reunir outros dissidentes para avaliar uma reação. Ele criticou diretamente o deputado Michel Temer (PMDB-SP), por não cumprir a promessa de convidar líderes regionais para debater o tema. Quércia já selou seu próprio acordo para 2010 desde o ano passado. Com a chancela do governador José Serra (PSDB), ele apoiou a reeleição do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM). Em troca, ganhou a promessa do endosso para disputar o Senado.

Vice estressa o PMDB

Brasília-DF :: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


O tema de fundo da reunião dos caciques do PMDB, terça-feira, no apartamento do líder do partido na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), foi a indicação do vice na chapa da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). De um modo geral, eles avaliam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem muita pressa em obter o apoio da legenda, mas nenhuma para definir o nome do vice de sua candidata. A maioria dos caciques apoia por inércia o nome do presidente da Câmara, deputado Michel Temer (SP). A pulga atrás da orelha é o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que se filiou à sigla e pode ser uma espécie de anfíbio de Lula na montagem da chapa.

Temer tem o apoio maciço da bancada de deputados federais — exceto dos aliados dos governadores tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), que ficaram de bico fechado na reunião —, mas não conta com o entusiasmo dos senadores. O presidente do Senado, José Sarney (AP), e o líder da bancada na Casa, Renan Calheiros (AL), mantêm uma disputa de influência com Temer e apoiariam de bom grado qualquer outro peemedebista da preferência do presidente Lula, como o ministro das Comunicações, Hélio Costa, que de quebra resolveria o problema da aliança em Minas Gerais.

Dissidência// A cúpula do PMDB quer reduzir as dissidências a, no máximo, cinco estados. São dados como perdidos acordos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Pernambuco e Mato Grosso do Sul. Paraná e Ceará têm problemas, mas deverão fechar com Dilma Rousseff (PT).

Micheletti condiciona sua saída à de Zelaya

Ana Flor
Enviada Especial a Tegucigalpa
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Perante comitiva da OEA, presidente interino critica isolamento imposto pela comunidade internacional a Honduras

Intransigência de governo golpista torna difícil acordo para pôr fim à crise política na qual país está imerso desde golpe de 28 de junho


A missão da OEA (Organização dos Estados Americanos) ouviu na noite de ontem de um intransigente Roberto Micheletti, presidente interino de Honduras, que ele só deixará o poder se Manuel Zelaya, presidente deposto, não voltar ao cargo. "Se eu sou o obstáculo, me afasto, mas também exijo que este senhor [Zelaya] que causou dano ao país se afaste."

Os chanceleres e líderes estrangeiros saíram contrariados do encontro, no Palácio Presidencial. Em uma reunião transmitida ao vivo por um canal de TV local, Micheletti afirmou que "Honduras vai resistir" às pressões externas, e que a única forma de as eleições marcadas para 29 de novembro não acontecerem é se "mandarem um ataque e invadirem" o país da América Central. A comunidade internacional ameaça não reconhecer o pleito, caso se realize sob o governo golpista.

"Saímos todos daqui [do Palácio Presidencial]. Não preciso voltar para o Congresso. Vou para casa. Mas, quando Manuel Zelaya propôs mudar a Constituição, ele automaticamente deixou de ser o presidente do país", disse Micheletti, após repreender a comunidade internacional pelas retaliações políticas e econômicas a que Honduras tem sido submetida como forma de pressão para a volta de Zelaya. O país teve grande parte da ajuda internacional cortada e foi suspenso da OEA.

Micheletti voltou a afirmar que Zelaya é um criminoso e disse que não pode fazer acordo sobre uma anistia porque isso depende do Congresso e da Justiça. "Eu respeito os Poderes deste país", afirmou.

A posição do governo interino mostra como o país está longe de chegar a uma solução para a crise, iniciada há mais de cem dias. Micheletti chegou a indicar, na reunião, que pretende sair da Presidência só em 27 de janeiro, dia em que o novo presidente eleito tomará posse.Logo após Micheletti abrir a reunião com duros ataques à Zelaya e à comunidade internacional, outros diplomatas e líderes falaram. O primeiro a responder, de maneira também rígida, foi o representante do Brasil, o embaixador na OEA Ruy Casaes. Ele disse que Zelaya não teve direito de se defender das acusações. "A comunidade internacional foi obrigada a intervir porque forma como o presidente Zelaya foi deposto não condiz como o compromisso que Honduras assumiu com a democracia", disse, ressaltando que Micheletti reconheceu como um erro a forma como Zelaya foi expulso do país.

O representante da Argentina, Rodolfo Gil, também atacou o presidente interino, afirmando que ele entraria para a história como responsável pelas consequências negativas do golpe para a população.

Já o subsecretário de Estado dos EUA Thomas Shannon disse que os negociadores que chegaram ao país ontem estavam tentando fazer Honduras voltar ao sistema interamericano e que "as eleições precisam acontecer no contexto da retomada da democracia".

Antes de terminar o encontro, Micheletti afirmou que esperava dos representantes uma posição de apoio por uma resolução hondurenha para a crise. "Mas o que aconteceu não foi isso", disse, referindo-se aos discursos da manhã, quando as negociações foram abertas.

Pela manhã, o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, defendeu um acordo muito similar ao de San José, proposto há dois meses pelo presidente da Costa Rica, Óscar Arias.

Ele deixou claro que é necessária a volta de Zelaya ao poder, como chefe de um governo de unidade nacional, e que haja uma anistia geral tanto para os responsáveis pelo golpe de Estado quanto para o presidente deposto e as acusações que pesam contra ele. "Quem acreditou que depois da remoção do presidente constitucional era possível normalizar o país antes de iniciar uma campanha presidencial deve reconhecer que essa normalização não foi possível", disse.

O secretário de Estado de Assuntos Exteriores do Canadá para as Américas, Peter Kent, propôs a "realocação" de Zelaya da embaixada brasileira para outro lugar mais confortável, mas com as mesmas garantias de inviolabilidade. O ponto não chegou a ser discutido.

Ao final do encontro com Micheletti, os representantes da OEA foram à embaixada brasileira para se reunir com Zelaya.

Zelaya dá ultimato para reconhecer eleição

Fabiano Maisonnave
Enviado Especial a Tegucigalpa
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Presidente deposto afirma que, se não for restituído em uma semana, "fica sem valor nem efeito o calendário eleitoral"

A 2 quadras da Embaixada do Brasil, que abriga Zelaya, manifestantes são alvo de bombas de gás diante da representação americana


Descontente com o formato das negociações iniciadas ontem, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, afirmou que o diálogo começou com "maus presságios" e que não reconhecerá as eleições de 29 de novembro caso não seja restituído ao cargo dentro de uma semana.

"Estamos todos de acordo de que, se não houver restituição (...) até 15 de outubro, por falta de validade, por falta de credibilidade, de confiança das comunidades nacional e internacional, fica sem valor nem efeito o calendário eleitoral elaborado", disse Zelaya, em entrevista coletiva no jardim da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde está refugiado com cerca de 50 familiares, assessores e seguidores há 18 dias.

Apesar do tom de unidade que quis dar, o ultimato de Zelaya não foi consenso entre os que o apoiam. O candidato presidencial independente de esquerda Carlos H. Reyes disse à Folha que ainda fará uma avaliação à parte sobre se participará ou não das eleições.

"Como sindicalista, não costumo usar prazo. Depois não funciona, e aí fazemos o que com ele?", disse, por telefone, 1 dos 2 candidatos presidenciais que apoiam a volta de Zelaya, de um total de 6.

O presidente deposto também tem demonstrado irritação com a forma na qual as negociações foram traçadas pela OEA -em que não se prevê um acordo definitivo até hoje, como era a sua expectativa.

Anteontem à noite, atravessou a sala da embaixada onde ficam os jornalistas dizendo, em alto e bom som, que o diálogo era uma "farsa total".

"Manipulação"

"O diálogo está começando com maus presságios, com a repressão, fechamento de meios de comunicação e ainda pela manipulação até do programa que está sendo implementado", afirmou Zelaya, também na coletiva, pela manhã.

A reclamação fez representantes diplomáticos anteciparem a visita a ele na embaixada de hoje (como inicialmente previsto) para a noite de ontem.

Sobre a posição dos EUA, considerados por Zelaya e diplomatas como o país que mais pode pressionar o governo interino, o presidente deposto voltou a dizer que o Departamento de Estado atua à revelia das determinações de Barack Obama, favoráveis a ele.

Enquanto o diálogo se instalava num hotel de luxo em Tegucigalpa, manifestantes pró-Zelaya entraram em choque com a polícia em pelo menos dois lugares da capital hondurenha. Na primeira delas, cerca de 200 manifestantes se reuniram diante da embaixada americana, que fica a duas quadras da representação brasileira.

O gás lacrimogêneo usado pela polícia chegou até o prédio brasileiro por volta das 11h20 (horário local). Várias pessoas tiveram irritação leve nos olhos, o que levou o médico de plantão a distribuir máscaras de gás aos 66 "moradores", entre os quais assessores e apoiadores de Zelaya, jornalistas e um diplomata brasileiro.

Houve também choques na Universidade Pedagógica, tradicional ponto de encontro da "resistência", sem o registro de feridos.

"Zelaya se deslumbrou com Chávez"

Entrevista
Da enviada a Tegucigalpa
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Uma das posições mais duras de dentro do governo interino de Honduras vem de uma mulher, a vice-chanceler Martha Alvarado. Conselheira do presidente golpista, Roberto Micheletti, a diplomata e deputada pelo Partido Liberal -o mesmo de Zelaya- diz que trabalhou e deu apoio ao presidente deposto até que ele "se deslumbrou" com Hugo Chávez, presidente da Venezuela, e tentou implantar políticas semelhantes no país. (AF)

FOLHA - Por que retirar Zelaya da Presidência?

MARTHA ALVARADO - O que fizemos nos salvou de um experimento social ao estilo da Venezuela, ao qual meus filhos e meus netos estariam expostos. Não quero para meus filhos uma situação errática como a que Chávez instalou na Venezuela. Eu sou liberal, do partido de Zelaya. Eu segui Zelaya dentro de uma ideologia liberal de respeito às pessoas, de respeito à democracia, de respeito às instituições. Zelaya, no meio do caminho, se deslumbrou com Chávez. Não gosto de alguém que diz uma coisa antes de chegar ao poder e, quando chega lá, seu compromisso começa a ser mais com Chávez que com seu próprio partido.

FOLHA - Por que não resolver a questão no Congresso?

ALVARADO - Zelaya não respeitou as leis, não respeitou a Corte Suprema. Fez tudo isso rodeado por um grupo que buscava fazer uma Constituinte, coisa que é proibida. O pecado mortal foi que o homem foi tirado do país. Por que se fez, não sei, eu não estava lá quando fizeram. Pode ser porque as prisões aqui são ruins e ele estaria exposto a ser morto. Em sua casa, cercada como está a embaixada, iria causar confusão pública. E se os militares o levassem a um lugar seguro, diriam que o raptaram.

FOLHA - Por que é contra a volta dele para uma transição?

ALVARADO - A força política de Zelaya não é hondurenha, sua força política é Chávez. Nós não o queremos no poder nem por um dia, porque tem muito dinheiro. Queremos que a comunidade internacional desista do processo de reinstalar Zelaya e veja outra alternativa, que é o processo eleitoral, no qual todas as ideologias estão representadas e o grupo de Zelaya tem dois candidatos.

FOLHA - A senhora é a radical do governo?

ALVARADO - Digo o que penso. Se isso é ser radical, assim sou. Sou uma apaixonada, pareço brasileira.

FOLHA - O que diz ao Brasil e aos brasileiros?

ALVARADO - Que é um país lindo. E que não se metam em Honduras.

FOLHA - Mas já estão na crise.

ALVARADO - Sim, se meteram... Que pena, que saiam, então.

Bancários podem encerrar greve hoje

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Comando de paralisação diz estar satisfeito com proposta


O comando nacional da greve dos bancários se reuniu ontem com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) para negociar um fim à paralisação, que começou no último dia 23 de setembro.

Os patrões ofereceram aumento de 6% e PLR (participação nos lucros) de até 2,2 salários, mais um valor fixo de R$ 1.024 e distribuição de 2% do lucro líquido. O comando nacional disse estar satisfeito com a proposta. Hoje, assembleias em todo o país votarão o fim da greve.

A reivindicação inicial da categoria era 10% de reajuste, participação nos lucros de três salários mais valor fixo de R$ 3.850. Inicialmente, os bancos ofereceram 4,5% de reajuste (para repor a inflação) e PLR calculado em duas partes -a primeira de 1,5 salário com teto de R$ 10 mil e 4% do lucro líquido deste ano. E a segunda, de 1,5% do lucro líquido, distribuído entre os empregados, com teto de R$ 1.500.

No ano passado, os bancários receberam até 2,2 salários com limite de R$ 13.862.

MST deixa rastro de destruição em fazenda

Flávio Freire
DEU EM O GLOBO

Após ordem judicial, cerca de 300 famílias do MST deixaram a Fazenda Santo Henrique, em São Paulo. A invasão deixou um rastro de destruição: milhares de pés de laranja foram arrancados, e cerca de 30 tratores, quebrados. O prejuízo é calculado em R$ 1 milhão. Nos últimos cinco anos, entidades ligadas ao MST receberam R$ 115 milhões do governo federal, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário enviados ao DEM.

Uma "tsunami" na fazenda

MST destrói tratores e instalações antes de desocupar plantação de laranja em SP
Um rastro de destruição, com pés de laranja arrancados, tratores e armários destruídos e paredes pichadas. Esse era o cenário ontem na fazenda Santa Henrique, em Boberi, no interior de São Paulo, que havia sido ocupada no último dia 28 por cerca de 300 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Os invasores deixaram ontem a propriedade, após a Justiça estadual determinar a reintegração de posse a favor da Cutrale, empresa responsável pela área.

Não houve conflito com os cerca de 120 policiais que acompanhavram a operação desde as primeiras horas da manhã. Funcionários e peritos da polícia científica começaram então a fazer uma varredura na fazenda para avaliar os prejuízos.

Além da destruição de pés de laranja - 12 mil, segundo a Polícia Civil, sete mil pés de acordo com a PM e dois mil nas contas do MST -, também foram encontrados cerca de 30 tratores quebrados, paredes e caminhões pichados com a sigla do movimento, armários arrombados, louças de banheiro arrancadas e tubulação entupida.

- Eles colocaram terra dentro do motor dos tratores e deixaram eles ligados até fundir - acusou o gerente de produção da fazenda, Claudinei Ferreti. - Mas o maior problema foi a perda de pés de laranja que tinham cinco anos e estavam em plena produção. Parece que aconteceu uma tsunami aqui.

Polícia: prejuízo de R$1 milhão

A Polícia Civil abriu inquérito para apurar os crimes de invasão de propriedade, formação de bando ou quadrilha, furto e danos ao patrimônio. Pelas primeiras análises, o delegado Jader Biazon disse que os prejuízos poderiam chegar a R$1 milhão. Quatro boletins de ocorrência relacionados à invasão foram registrados no distrito policial na última semana.

- Os sem-terra roubaram até os móveis e objetos pessoais das casas dos caseiros - disse Biazon, para quem o inquérito deve ser concluído em 30 dias.

O tenente-coronel Benedito Meira, que comandou a desocupação, disse que um inquérito será aberto para descobrir quem depredou equipamentos da fazenda:

- Testemunhas serão ouvidas e os responsáveis vão responder pela destruição do patrimônio alheio.

Os invasores deixaram a fazenda sob chuva fina, e seguiram para dois assentamentos

naquela região. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), criticou a ação do MST:

- Acho um absurdo. É tão absurdo que até o presidente do Incra condenou. Não precisa dizer mais nada. A gente sabe que Incra e MST andam, em geral, juntos. Para até o presidente do Incra ter atacado é uma demonstração do absurdo que foi feito, destruição de patrimônio, crime ambiental, enfim, realmente uma ação muito além de lamentável - disse.

Durante a tarde, os líderes do MST local se reuniram para avaliar os próximos passos do movimento. Na terça-feira, o juiz da 2ª Vara de Lençóis Paulista, Márcio Ramos dos Santos, determinou a reintegração de posse. Se resistisse, o MST seria multado diariamente em R$500 por invasor.

Em nota, a Cutrale afirmou: "Nossa expectativa é retomar nossas atividades produtivas que sempre desenvolvemos no local, principalmente para possibilitar o retorno dos mais de 300 empregados rurais, pessoas sérias e comprometidas, que entendem de plantio e manutenção de pomares cítricos e que merecem nossa admiração, para que possam continuar com a oportunidade de trabalhar com dignidade, em respeito a elas próprias e aos seus familiares, resultando em benefício de todos e da própria comunidade".

Colaborou: Adauri Antunes Barbosa

"De que lado nasce o sol" - Belchior

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