quinta-feira, 22 de outubro de 2009

TRÊS DIAS DE FÉRIAS

O Blog vai deixar em paz seus leitores amigos por três dias. Estará de volta na próxima segunda-feira. Nesses dias estarei em Fortaleza, participando da reunião do Diretório Nacional do PPS.
Até a volta!

Pão, pão, queijo, queijo

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Ayres Britto, sustentou a posição do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e sinalizou que está na hora de pôr ordem na casa. Ambos pareceram dizer que o Judiciário deve ser acionado como o recurso da sociedade contra abusos de poder.

Até aí, nada de excepcional ou que suscite discordância. O problema reside na interpretação do que sejam abusos.

O governo apega-se ao conceito de "campanha antecipada" e, nesse aspecto, de acordo com o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, o Palácio do Planalto tem-se conduzido dentro da mais perfeita legalidade.

Não tendo sido iniciado oficialmente o período de campanhas nem escolhidas formalmente as candidaturas, nada do que se faz pode ser examinado sob o prisma eleitoral.

O presidente do TSE acompanha de certa forma o raciocínio quando vê dificuldade em se distinguir, no ano antes das eleições, atos de governo de ações com propósito eleitoral, ou seja, de favorecimento a uma força política específica.

Ambos os argumentos levam em conta a Lei Eleitoral, mas desconsideram a Constituição. No artigo 19, veda à União, cuja representação se expressa na figura do presidente da República, a criação de "distinções entre brasileiros ou preferências entre si". No artigo 37, obriga a administração pública, chefiada pelo presidente, a obedecer a determinados princípios, entre os quais o da "impessoalidade".

Qualidade, caráter ou condição de "impessoal" - desapaixonado, neutro, isento, objetivo, não faccioso. Tudo o que o presidente da República não é quando circula com sua candidata pregando a realização de eleições ao molde de um plebiscito, na base do "nós contra eles, pão, pão, queijo, queijo".

No entendimento do ministro Genro, o presidente da República só estaria impedido de "aparecer ao lado de candidatos, quaisquer que sejam eles", a partir da realização das convenções partidárias em junho de 2010.

Nesse legítimo monumento ao sofisma de resultados, o ministro da Justiça imprime aos atos do presidente Luiz Inácio da Silva uma naturalidade que eles não têm. Tarso Genro procura dar o mesmo peso às aparições de Dilma Rousseff e de pré-candidatos como os governadores José Serra e Aécio Neves, ao lado dele.

É desmentido pelo comportamento do presidente Lula, que não só não confere tratamento igual aos governadores citados pelo ministro da Justiça, como os trata claramente como adversários. Estaria em seu perfeito direito caso não o fizesse a expensas do erário e ao arrepio da Constituição.

Coisa, aliás, que não faz de hoje. Lula não governa como presidente, antes o faz como chefe político de um grupo. Pode ser amplo, mas é um grupo no sentido de uma parte e não da totalidade dos cidadãos.

Daí o parâmetro tradicional previsto exclusivamente na Lei Eleitoral não servir para medir o que seja ou não abuso, pois o conceito da transgressão não se circunscreve aos períodos eleitorais. Mais correto seria recorrer à Lei Maior para um bom exame sobre a adequação, ou não, da conduta do presidente ao juramento de fidelidade à Constituição.

Foi o presidente quem escolheu, desde o princípio, atuar na base do "nós contra eles". Tanto que permite que seus ministros cumpram desde já agenda de candidatos e, por isso, não disponham da impessoalidade necessária para fornecer balizas de comportamento.

Tarso Genro e Marco Aurélio Garcia, por exemplo. O primeiro é candidato ao governo do Rio Grande do Sul e o segundo desde já nomeado coordenador da campanha (suposta?) de Dilma. Evidente que, sob a ótica de ambos, tudo transcorre dentro da mais absoluta normalidade e legalidade.

Mas não são as vozes mais confiáveis para avaliar a situação nem para impor os parâmetros de conduta a serem seguidos por governantes e candidatos, governantes candidatos ou vice-versa.

Briga interna

O presidente do DEM, Rodrigo Maia, atira no paulista José Serra, mas, segundo consta, quer acertar mesmo é seu antecessor, o ex-senador Jorge Bornhausen.

Assim como Bornhausen, Maia sempre foi partidário da candidatura Serra e seguidor da estratégia do Palácio dos Bandeirantes de tratar Aécio Neves como protagonista, não como coadjuvante de José Serra. Para assegurar o apoio de Minas, para prestigiar uma liderança prestigiada pelo eleitorado e para fortalecer alguém que, no limite ou no imprevisto, pode até vir a ser o candidato a presidente.

Orestes Quércia, o comandante da dissidência do PMDB, esteve outro dia em Minas pelos mesmos e mais um motivo: pedir apoio de Aécio ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, como candidato ao governo do Estado.

O tiroteio na seara oposicionista, no momento, ocorre no DEM. Serra e Aécio entram na história como Pilatos no Credo.

Da metamorfose à rendição

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - Que Luiz Inácio Lula da Silva foi, a partir de sua vitória de 2002, uma "metamorfose ambulante", nem precisava que ele próprio o dissesse. Os fatos falavam alto e claro.

O triste, como revela a entrevista que ele concedeu a Kennedy Alencar desta Folha, é que Lula passou da metamorfose à rendição a uma realidade política horrorosa.

Disse Lula: "Qualquer um que ganhar as eleições, pode ser o maior xiita deste país ou o maior direitista, ele não conseguirá montar o governo fora da realidade política.

Entre o que se quer e o que se pode fazer tem uma diferença do tamanho do oceano Atlântico. Quem ganhar a Presidência amanhã, terá de fazer quase a mesma composição, porque este é o espectro político brasileiro".

O presidente ainda acrescentou: "Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".

Se Frei Betto, o confessor ou ex-confessor de Lula, tivesse ensinado seu amigo direitinho, o presidente aprenderia que Cristo foi crucificado justamente porque não fez coalizão com os judas da vida.

Que Lula tivesse obsessão com a governabilidade até dá para entender. Que desista de ao menos tentar reformar a "realidade política" é um irremediável desastre.

Só para qualificar o que é essa realidade: a Fundação Konrad Adenauer, ligada à democracia-cristã alemã, divulgou há dez dias o índice de desenvolvimento político da América Latina. O Brasil consegue a proeza de ficar só no 8º lugar entre os 18 países listados. E estamos falando de América Latina, que é essa mixórdia arquiconhecida.

Tudo somado, dá para entender por que o presidente prefere que a imprensa não fiscalize o poder, apenas informe. Lula e seu partido trocaram a fiscalização do tempo de oposição pelo gozo do poder uma vez nele instalados.

Nem Judas escapa

Eliane Catanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - A metralhadora giratória de Lula não deixou de pé um único partido governista disponível para se coligar com o PSB e assim dar impulso e tempo de TV para o eventual candidato Ciro Gomes.

Já caíram a cúpula do PMDB e mais PR, PP, PRB e, na outra ponta, o PC do B, enquanto Lula mira também o PDT. Com o PT, são sete siglas. Sobra o PTB, que tende a marchar com a oposição (PSDB-DEM-PPS), dividindo-se no caminho. Vencidas as resistências dos partidos, Lula recarrega a metralhadora giratória e aponta para o peito (ou o coração) dos candidatos.

Primeiro, botou Ciro debaixo do braço e saiu com ele e com Dilma por aí, para fotos e trocas de elogios às margens do São Francisco. Chega a vez de Marina Silva (PV), que vem sendo coberta de elogios por lulistas. Nem Aécio Neves, teoricamente de oposição, escapa.Bastou Ciro se mostrar mais robusto nas pesquisas do que Dilma para ele engrossar a voz.

Mas bastou que Lula o enchesse de elogios, gentilezas e viagens para que afinasse rapidamente. Com Marina, queridinha de círculos intelectuais ou de vanguarda, Lula vai tentar repetir o enredo. Ele diz que Marina é "uma pessoa boa"; Marco Aurélio Garcia, o quanto ela tem tudo a ver com o projeto petista; Dilma, o quanto é bom ver as mulheres tão combativas, defendendo causas tão nobres.

Por fim, Aécio. Ao mesmo tempo em que desidrata as chances de apoio partidário a Ciro e a Marina, Lula infla o ego, as idiossincrasias e o poder de fogo de Aécio contra Serra, adversário mais temido. Rodrigo Maia, presidente do DEM, colabora com a estratégia lulista ao declarar preferência por Aécio. Ciro colabora mais ainda ao dizer que, contra Aécio, não concorre.

Em entrevista a Kennedy Alencar, da Folha, Lula explica o porquê da metralhadora giratória:

No Brasil, até "Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".

Rodrigo Maia não é do bloco do eu sozinho

Maria Inês Nassif
DEU NO VALOR ECONÔMICO


O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), foi condenado por seus pares menos pelo conteúdo de suas declarações do que pelo fato de tê-las feito. O fato de o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), adiar a sua decisão de ser - ou não - candidato à Presidência da República tem provocado incômodos coletivos no partido de Maia. O DEM declarou que é aliado do PSDB seja qual for o candidato e propôs-se a abrir mão da vice-presidência de uma chapa, se o PSDB considerar eleitoralmente mais interessante uma chapa puro-sangue, com Serra na Presidência e o governador de Minas, Aécio Neves, na vice, em troca do apoio em seis Estados onde vai disputar o governo com mais chances que os tucanos. As demonstrações de apoio incondicional, todavia, não foram suficientes para fazer o aliado se definir. Com expressão eleitoral cada vez mais reduzida devido ao crescimento dos partidos que apoiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Norte e no Nordeste, todavia, suas urgências são maiores do que as de seu parceiro.

O presidente do DEM disse que a oposição está no pior dos mundos porque não tem candidato, enquanto o governo tem candidata, a ministra Dilma Rousseff (PT), e ela avança eleitoralmente. Sem definição do nome nacional, a montagem dos palanques estaduais tem andado devagar, disse o parlamentar. Além disso, avaliou que o melhor candidato seria o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), pelo fato de conseguir transitar em posições que não sejam de simples confronto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O problema de Maia ter falado isso é que ele é o presidente do DEM e por ele terão de passar as negociações com o partido de Serra. Nas eleições de 2002, o confronto entre o então presidente do PFL, Jorge Bornhausen, e o candidato tucano Serra, rachou os aliados e reduziu, em consequência, as chances de vitória do então candidato da situação do governo Fernando Henrique Cardoso. Desde então o DEM, ex-PFL, está apartado do poder e mantém a duras penas uma estrutura partidária com grandes dificuldades de sobrevivência na oposição. O partido encolheu nos últimos sete anos. E tem razões para acreditar que, se por um lado estar com o PSDB é o único caminho de que dispõe no momento para voltar a ser governo, ao mesmo tempo é uma grande parte de seu problema.

Essas não são posições e avaliações minoritárias no DEM. O desconforto com a falta de pressa na definição do candidato tucano é disseminado. E as reticências em relação a Serra se ampliam. Existem razões para isso. As pesquisas que o partido tem feito não autorizam a direção do DEM a imaginar que a candidatura de Serra vá ser um passeio. Não é nada, não é nada, Dilma Rousseff é a candidata de um presidente que tem por volta de 80% da aprovação nas pesquisas de avaliação do governo. Considera-se que o poder de transferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não foi exercido: somente agora, e depois de um tratamento de saúde relativamente longo, Dilma está agindo como candidata, e com uma desenvoltura inesperada para uma neófita em política eleitoral. O poder de Lula sobre o PT e uma disciplina partidária que não é comum, por exemplo, num PSDB, têm agido favoravelmente também no sentido de criar para a candidata palanques relativamente sólidos nos Estados. O fato de o governo ter conseguido formalizar, a quase um ano das eleições, um acordo entre o PT e o PMDB - mesmo que a direção do PMDB ainda deixe pendente a ratificação da convenção nacional ao acordo - já é uma façanha. O natural, nessa circunstância, será os índices de intenção de voto em Dilma subirem. Esse é o momento dela, que se aproxima sem qualquer resistência do outro lado, já que a oposição não tem candidato colocado. O outro ponto é que, como depositária da transferência de votos de um presidente popular, Dilma tende a ganhar votos quando a disputa se acirrar e se polarizar. Com base nesse raciocínio, cresce a preferência por Aécio Neves, candidato com menos vocação para o confronto.

A banda governista da disputa andou rápido e o presidente Lula é o melhor eleitor do pleito de 2010. O PSDB pouco andou, apesar das facilidades abertas pelo DEM e pelo PPS, seus aliados declarados. O trunfo da candidatura Serra, que são os votos tucanos em São Paulo - Estado que tem quase um quarto do eleitorado nacional e onde o PSDB tem uma certa hegemonia -, começa a ser também um incômodo para o DEM. São Paulo é o Estado em que o partido reúne condições de crescer a sua bancada - sem bancada forte, o partido não conseguirá reassumir o seu protagonismo na vida nacional, mesmo se o PSDB vencer as eleições presidenciais. Todo o esforço eleitoral do DEM, todavia, caminha sobre uma verdade inexorável: os dois partidos se aproximaram tanto ideologicamente que crescem somente à custa do outro. São interesses quase inconciliável os dos candidatos a deputado federal dos dois partidos. Se, do lado do PSDB "serrista" de São Paulo, o chefe segura a divisão, do lado não serrista, identificado como partidário do ex-governador Geraldo Alckmin, o conflito está latente.

Alckmin, segundo as pesquisas do DEM, é o candidato com grandes chances de vitória na disputa para o governo do Estado. Outras opções abrem espaço para o PT, que nunca ganhou o governo, ou com candidato próprio, ou apoiando o deputado Ciro Gomes (PSB). O problema é que a vitória de Alckmin tem o efeito colateral de afastar qualquer pretensão política do prefeito da capital. Alckmin vencendo, é quase o fim de carreira de Kassab: o ex-governador disputaria a reeleição em 2014 e abriria espaço para o demista apenas a partir de 2018. Até lá, qualquer projeção que tenha ganhado à frente da prefeitura já terá sumido da memória do cidadão paulista. Um caminho mais seguro poderia ser o de projetar estadualmente o prefeito, lançando-o candidato ao governo e rachando o palanque paulista de Serra, sem chances de vitória, mas produzindo bancada e "recall" para as eleições seguintes. O partido elegeu 65 deputados federais em 2006. Na melhor das hipóteses, e somente se Kassab for candidato ao governo, imagina-se fazer o mesmo número no ano que vem. Sem Kassab como candidato, a perda pode ser grande.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

Candidatura de Serra depende de bom cenário. E a de Aécio poderia mudar um cenário ruim?

Jarbas de Holanda
Jornalista


Reportagem de ontemontem da Folha de S. Paulo – “Fortalecido pelo DEM, Aécio decide dar ultimato ao PSDB – Mineiro quer oficializar intenção de disputar a Presidência e antecipar definição do partido” – mostra um dos reflexos que a ofensiva do governo pró-Dilma Rousseff está tendo no campo das lideranças tucanas. Colocadas sob pressão dos democratas, do PPS, e de suas próprias bases para a escolha do candidato oposicionista num prazo bem mais curto que o de março, defendido por José Serra, e sem as prévias, necessariamente demoradas, propostas por Aécio Neves, o nome alternativo. Este, pressentindo uma volta do
receio de Serra de participar da disputa presidencial, e estimulado pela preferência por seu nome que a maioria de deputados federais e senadores do DEM manifestou em pesquisa do Globo da semana passada, tratou de capitalizar tal pressão num jantar da cúpula do PSDB promovido anteontem em São Paulo por FHC, no qual afirmou estar pronto e à disposição do partido para a referida disputa.

A resistência de Serra à antecipação dessa escolha, baseada em cálculos e critérios há muito explicitados, tem o reforço, agora de razões bem plausíveis: a necessidade de esperar até março de 2010 para que possa avaliar os efeitos da ofensiva pró-Dilma desencadeada pelo presidente Lula (na montagem de alianças partidárias e de palanques estaduais, e no uso da vistoria de obras federais para a realização de verdadeiros comícios, objeto de incisivo
questionamento do chefe do Poder Judiciário, Gilmar Men-des). Ou seja, em que medida tais processos, combinados com a exploração dos impactos do pré-sal e das Olimpíadas de 2016, vão refletir-se nas pesquisas eleitorais e poderão produzir sinais indicativos de êxito ou fracasso do projeto oficial de transferência (plebiscitária) da popularidade do presidente para sua candidata. Para Serra, um prazo maior de definição do presidenciável tucano será também
importante para que se tenha, já em 2010, mais dados sobre outras variáveis significativas na disputa: o comportamento da economia e a minimização ou persistência do alto grau de tropeços e de gastança da gestão governamental.

É em função da existência, ao longo do primeiro trimestre do próximo ano, de um cenário político-eleitoral e político-econômico que propicie à oposição perspectiva ao menos de efetiva competitividade que o governador paulista quer decidir se parte para nova candidatura presidencial. Ou se, embora siga liderando as pesquisas, desiste dela, assumindo o plano B de reeleição (que teria de deslocar Geraldo Alckmin para a disputa de uma das vagas paulistas no Senado).

Já para o governador mineiro, a disposição de enfrentar todos os riscos do pleito federal e, agora, a defesa do apressamento da escolha do candidato do PSDB decorrem, basicamente, de uma aposta em que sua reconhecida capacidade de agregação de forças políticas conseguiria invi-
abilizar a formação de uma ampla aliança pró-Dilma (atraindo partidos da base governista, como o PP, o PTB e o PSB de Ciro Gomes, e boa parcela do PMDB), bem como inviabilizar ou esvaziar a estratégia do Planalto de converter o pleito num plebiscito em torno do lulismo. Mas Aécio tem pela frente, primeiro, os baixos índices obtidos até agora nas pesquisas, e,segundo, como obstáculo maior, a corrida do presidente Lula para antecipar forte composição multipartidária pró-Dilma, usando para isso todos os trunfos (da máquina e de sua elevada popularidade) para préformalizá-la com o PMDB, cedendo-lhe a indicação do candidato a vice, e atrair as demais legendas vinculadas ao governo. Cenário político hostil à oposição que está se configurando e que, concretizado, Aécio dificilmente poderia ou poderá mudar.

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Aliança nacional divide PMDB e PT no Paraná

DEU NA GAZETA DO POVO(PR)

Dissidentes dos dois partidos são contrários a qualquer entendimento no estado

A oficialização da aliança nacional entre PT e PMDB para a disputa da eleição presidencial de 2010 mexeu com os ânimos dos caciques locais e pode provocar reflexos na sucessão estadual. Apesar de os líderes dos dois partidos no Paraná sinalizarem um entendimento entre as legendas, alas dissidentes de ambos os lados são contrárias a qualquer entendimento. Diante do impasse, a formalização das alianças locais só deve sair no ano que vem, às vésperas das convenções partidárias.

Principal partido da base aliada do governo Lula, o PMDB vinha pressionando os petistas por uma definição desde o primeiro semestre. Depois de várias reuniões, o martelo foi batido na noite da última terça-feira, com as bênçãos do presidente Lula. Em nota oficial, o PT garantiu ao PMDB a vaga de vice-presidente na chapa encabeçada pela ministra Dilma Rousseff e a participação na coordenação da campanha e na elaboração do programa de governo. As duas legendas, no entanto, admitem que não será tarefa fácil reproduzir a aliança nos estados, entre eles o Paraná.

Peemedebistas pró-PSDB criticam acordo com petistas

A ala do PMDB contrária à aliança do partido com o PT vai trabalhar nos bastidores para que o acordo, formalizado terça-feira à noite, não saia do papel.

PSDB afaga Osmar Dias

A possibilidade de uma aliança local entre PT e PMDB pode jogar o senador Osmar Dias (PDT) nos braços do PSDB do prefeito de Curitiba, Beto Richa, repetindo a aliança fechada nas eleições para governador (2006) e prefeitura curitibana (2008). Já cogitando um possível isolamento do pedetista no pleito do ano que vem, os tucanos voltaram a tratar o senador como aliado. No meio do fogo cruzado, Osmar Dias desconversa e afirma que as negociações com os partidos prosseguem sem alterações.

Ontem, o presidente estadual do PSDB, deputado Valdir Rossoni, afirmou que é muito mais fácil a população aceitar um acordo de Osmar com Beto Richa do que com o PMDB do governador Roberto Requião. Segundo Rossoni, a aliança com o senador nunca foi descartada. A declaração, em tom de afago, ocorre após um distanciamento crescente entre Osmar Dias e Beto Richa, iniciado quando o prefeito também se declarou pré-candidato a governador.

Com o avanço das conversas do senador com o PT, o rompimento ficou ainda mais evidente, mas foi minimizado ontem pelo presidente do PSDB. De acordo com Rossoni, ainda é muito cedo para definições e tudo que foi acertado há 15 dias não está valendo mais. “Na medida em que o Osmar se distancia do PT, o vejo com mais simpatia”, declarou o parlamentar. Ontem, por coincidência ou não, o senador pedetista não seguiu a orientação governista no Congesso e assinou o requerimento de criação da CPI do MST (leia mais na página 20).

Osmar Dias, no entanto, de­­­fendeu que a aliança nacional entre petistas e peemedebistas não altera as conversas em desenvolvimento no Paraná. Segundo ele, PT, PMDB e PDT fazem parte da base aliada do governo Lula e, portanto, a tese de enfraquecimento da sua candidatura “é uma análise completamente absurda de quem está vivendo fora do contexto político nacional”. Revelando que mantém conversas diárias com todos os partidos, o senador foi evasivo ao comentar a possibilidade de não ser candidato dependendo dos futuros acordos. “Ninguém decide ser candidato por decisão pessoal nem desiste por decisão pessoal.”

Nas duas possibilidades que tem de aliança, Osmar Dias corre o risco de ficar sem espaço para disputar o governo do estado. Enquanto o PMDB já tem o vice-governador Orlando Pessuti como pré-candidato, o PSDB conta com os nomes de Richa e do senador Alvaro Dias. Nesse cenário, restaria a Osmar disputar a reeleição ao Senado. (ELG e KC)

PT dividido

O PT e o PMDB locais enfrentam conflitos internos entre correntes que não aceitam “se misturar”. Ontem, uma ala petista lançou um movimento, encabeçado pelo deputado estadual Tadeu Veneri e pelo professor Alfeu Capellari, em defesa da candidatura própria a governador e contra a política de alianças. Os dois, inclusive, se apresentaram como candidatos à presidência estadual do partido, na eleição marcada para o próximo dia 22. Na disputa, eles enfrentarão o secretário do Plane­­­ja­­­men­­­to, Ênio Verri, que tem o apoio da atual presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, e do marido dela, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

A ala dissidente já coletou 88 assinaturas para um manifesto em que repudia as negociações da direção nacional, que estaria “rifando” as candidaturas a governador do PT nos estados – o documento ainda rechaça a aproximação com o senador Osmar Dias (PDT), pré-candidato ao governo do estado. De acordo com o documento, “abrir mão da candidatura própria e apoiar Osmar Dias significa ajudar a eleger um conhecido representante dos latifundiários, banqueiros e industriais, os mesmos setores contrários à atualização dos índices de produtividade da terra e à redução da jornada de trabalho”.

Na opinião de Tadeu Veneri, o partido mantém conversas com várias legendas, mas não tem nem sequer um programa de go­­­verno para apresentar aos eleitores. “Para não ter candidatura própria, o PT negocia o quê e em no­­­me de quem? Não sabemos.”

Em nome de um entendimento conjunto no âmbito local, Gleisi Hoffmann voltou a defender uma aliança que reproduza a base de apoio ao governo Lula, unindo PT, PMDB e PDT. “O ideal seria definirmos (as alianças) o mais rápido possível, mas isso não depende só da nossa vontade. Se não for definido até o fim do ano, acredito que avançaremos bastante até lá.”

Racha no PMDB

Do lado do PMDB, as divergências internas também vieram a público ontem na Assembleia Legislativa. O deputado peemedebista Dobrandino da Silva falou em nome de uma ala que condena as decisões tomadas pela “banda podre do PMDB” e defendeu um levante no Paraná para impedir qualquer aproximação com os petistas. “Ninguém do nosso partido quer coligar com o PT. Todos estão decepcionados com o governo Lula”, disse.

Por outro lado, o pré-candidato peemedebista à sucessão estadual, o vice-governador Orlando Pessuti, afirmou que o partido pode fazer “as mais diferentes alianças”, desde que sejam respeitadas as candidaturas dele próprio e do governador Roberto Requião ao Senado. Ao comentar a possibilidade de fechar uma aliança que inclua Osmar Dias, Pesssuti disse que, “desde que o PDT concorde com as candidaturas apresentadas, essa hipótese poderá ser levada adiante”.

Estados freiam noivado PT-PMDB

DEU NO ZERO HORA (RS)

União dos partidos em nome da candidatura de Dilma à Presidência é duvidosa ou impraticável em alguns cenários regionais

Embora tenha avançado para um noivado na noite de terça, o relacionamento entre PT e PMDB em torno da candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à Presidência não é à prova de traições. O histórico peemedebista não inspira confiança, e os cenários regionais para as eleições de 2010 refletem a falta de lealdade do partido.

Em vários Estados, o casamento com o PT é impensável ou, no mínimo, complicado (veja no quadro ao lado). Em Pernambuco, por exemplo, o maior líder peemedebista, o senador Jarbas Vasconcelos, apoia o governador paulista José Serra (PSDB). A ausência de afinidade se repete no Rio Grande do Sul, onde PT e PMDB devem embarcar numa disputa acirrada pelo Palácio Piratini. O líder da bancada do PT na Assembleia, Elvino Bohn Gass, afirma que não há condições mínimas de reproduzir a união no Estado:

– Essa aliança é importante para a continuidade do projeto de Lula. O Brasil não pode retroceder. Mas aqui o PMDB sustenta o governo Yeda.

Os peemedebistas, por sua vez, também rejeitam a aproximação. Em relação ao plano nacional, os gaúchos liderados pelo senador Pedro Simon defendem candidatura própria, dizem que o acordo pró-Dilma não teve participação das bases e lamentam a falta de unidade. O problema é que eles próprios já pularam a cerca. Em 1994, apoiaram Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em detrimento de Orestes Quércia, nome oficial do partido.

– Depois que Quércia saiu do governo de São Paulo, apareceu um bolo de escândalos. Nosso candidato era Antônio Britto, mas ele ficou com medo de perder na convenção e preferiu concorrer a governador. Quércia exigiu a candidatura e depois levou aquela surra na campanha – explica Simon.

Foi a última vez que o PMDB teve candidato a presidente. Depois, a regra foi escolher um par de ocasião. Em 1998, os peemedebistas estavam no palanque da reeleição de FH e, em 2002, indicaram a deputada Rita Camata (ES) como vice de José Serra (PSDB). Em 2004, o PMDB já estava de novo abraçado ao poder, em ministérios de Lula. Em 2006, o voo do ex-governador do Rio Anthony Garotinho (hoje no PR) foi abortado antes mesmo da decolagem (leia mais na página 10).

É por isso que as intenções da cúpula do PMDB geram dúvidas hoje. O deputado federal Eliseu Padilha diz que o comando do PMDB está só sinalizando ao PT que precisa de ajuda para tornar a aliança palatável nos Estados. Outro líder peemedebista, observador dos movimentos nacionais da legenda há 30 anos, ressalta que a aliança é com Lula e não com Dilma:

– É só prestar atenção nas palavras deles. Esse grupo do PMDB sempre fala em compromisso com o presidente. Se a Dilma não decolar, eles vão deixá-la para trás.

Aliado a Serra, PSB paulista resiste a aceitar candidatura de Ciro

Vandson Lima e Luciano Máximo, de São Paulo
DEU NO VALOR ECONÔMICO

A indefinição sobre qual cargo o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) vai disputar nas eleições de 2010 tem colocado a executiva paulista de seu partido em situação delicada na hora de definir alianças. Aliados do governo do tucano José Serra em São Paulo, deputados estaduais do PSB mostram-se reticentes quanto à possibilidade de formarem chapa conjunta com o PT, oposicionista, na hipótese de Ciro concorrer ao governo paulista, como quer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Não é só questão de apoio. Serra tem sido parceiro nosso. Municípios como São José do Rio Preto e São Vicente, que têm prefeitos do PSB, recebem investimentos importantes do governo estadual", diz o deputado estadual e líder da bancada pessebista, Jonas Donizette Ferreira.

Há ainda um outro entrave à parceria PT-PSB em São Paulo. O partido de Ciro tem compromisso com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, recém-filiado ao PSB. "Temos aí outra questão. O Skaf foi convidado a se filiar ao PSB com o compromisso de ser candidato a governador", revela Donizette. O próprio Ciro Gomes já admitiu publicamente que apoia a escolha de Skaf para a disputa.

No PT, apesar de a candidatura própria para a briga pelo Palácio dos Bandeirantes ser uma diretriz da executiva estadual, o partido não descarta apoiar Ciro num embate com o PSDB em 2010 como parte de uma estratégia nacional de apoio à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na corrida presidencial.

O deputado estadual petista Carlinhos Almeida chegou a afirmar que o político cearense teria mais dificuldade dentro do PSB do que no próprio PT para se lançar politicamente em São Paulo. "O PSB tem ligação muito grande com o governador José Serra e muitos representantes do partido não mostram o menor entusiasmo com a candidatura do Ciro apoiada pelo PT. Ele [Ciro] tem mais apoio dentro do PT, por ser um parceiro desde o início do governo Lula", afirma.

O parlamentar, que é o primeiro-secretário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, disse também que é cedo para prever como será a chapa de uma eventual aliança PT-PSB. "É prematuro cogitar quem será vice de quem. Temos que aguardar um pouco a negociação nacional e a própria definição do Ciro. Interlocutores nos dizem que ele não quer vir para São Paulo, que prefere a Presidência", diz Almeida.

Já o líder do PSB na Câmara Federal, o deputado Rodrigo Rollemberg (DF) não vê, hoje, a possibilidade de Ciro desistir da disputa ao Palácio do Planalto: "Não há motivo para isso. A candidatura de Ciro está firme e as pesquisas provam que duas candidaturas da base governista serão melhor do que uma. Nem o presidente Lula está completamente convencido de sua tese de candidatura única".

Nem mesmo a ofensiva petista na busca de apoios de partidos hoje aliados ao PSB (como o PDT e o PCdoB, do chamado "bloquinho") é vista como ameaça. "Não são apoios definitivos. É um noivado, não é casamento. Se as pesquisas nos forem favoráveis, tudo muda", crê o deputado federal Márcio França, presidente regional do PSB.

O prefeito de Osasco, Emídio Souza, voltou a confirmar que quer ser o candidato ao governo pelo PT em 2010, mas que não irá "fechar as portas para os aliados, em benefício a um projeto nacional". Reforçando que não largaria a prefeitura para ser postulante a um cargo de vice-governador, Emídio disse que está terminando de escrever carta-manifesto na qual pretende reafirmar que está à disposição do partido para ser o principal concorrente. O documento deve ficar pronto no fim de semana e, antes de ser divulgado no início da semana que vem, passará por várias revisões. O potencial candidato petista pregou paciência. "O PSDB também não decidiu nada ainda, o tempo para isso é fevereiro, março", salienta.

O discurso do presidente do PT de São Paulo, Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara, revela que o partido quer privilegiar as alianças no Estado. "Estamos chamando partidos aliados para formar um programa de governo, que será submetido ao debate. A partir daí vamos construir a tática para chegar a uma liderança. Queremos construir uma candidatura própria, mas é evidente que, dentro de uma democracia, os aliados também podem apresentar candidatos", complementou Edinho.

Ainda que as pesquisas de intenção de voto apontem Geraldo Alckmin (PSDB) como favorito na disputa do governo estadual, o candidato tucano, na avaliação do PSB, será outro: o secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, homem de confiança de Serra e mais bem articulado com os partidos aliados. Márcio França acredita ser este o cenário mais favorável a seu partido: "As pesquisas mostram que, seja Ciro ou Skaf o nosso candidato, estaremos na frente de Aloysio nas pesquisas".

PMDB pró-Serra luta contra acordo

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Dissidentes peemedebistas contrários à aliança com o PT em torno da candidatura de Dilma insistem que vão trabalhar contra o acordo

BRASÍLIA – A ala do PMDB contrária à aliança do partido com o PT – para as eleições presidenciais de 2010 – vai trabalhar nos bastidores para que o acordo, formalizado anteontem à noite, não saia do papel. Ao classificar a aliança com o PT como precipitada, os dissidentes prometem cobrar da cúpula da legenda a liberação dos seus filiados para que escolham quem irão apoiar na corrida à Presidência.

“Esse acordo é de um amadorismo incompreensível. Foi uma coisa precipitada que não respeitou a natureza do PMDB. A direção do PMDB não levou em conta o que foi adotado nas duas últimas eleições de Fernando Henrique e de Lula. Acho que o melhor seria liberar o partido, até pela tendência que a legenda sempre adotou”, disse o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que se encontra na Suíça.

Os dissidentes defendem que o PMDB apoie o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), ao Palácio do Planalto. Serra disputa com o governador Aécio Neves (PSDB-MG) a indicação dos tucanos. Nos bastidores, os peemedebistas cobram a definição do PSDB para que possam pressionar a cúpula da legenda a mudar de ideia em relação ao apoio à candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).

Já o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, aliado de Serra, disse ontem que vai tentar, a partir dos diretórios estaduais, derrubar o pré-acordo na convenção nacional do partido, no ano que vem. “Essa proposta não passa na convenção do PMDB. A cúpula do partido no Congresso saiu às pressas e tomou uma decisão sem discutir com ninguém. Este acordo não tem respaldo da base do PMDB”, disse Quércia.

PRESSÃO

Assim como os dissidentes do PMDB, o DEM também pressiona o PSDB para que o partido acelere a escolha do candidato à Presidência. Acreditam que o lançamento Serra catalisará as alianças regionais. “No DEM, ninguém tem dúvida de que o candidato é Serra. O que queremos é que ele saia da toca”, revela o deputado Alceni Guerra (DEM-PR), tornando pública a avaliação que a direção da sigla só faz nos bastidores.

Integrantes do DEM não se conformam com o fato de Serra ter aberto as costuras eleitorais com um acerto bem sucedido na Bahia, considerado “impossível”, e depois ter “se entocado”, ausentando-se das negociações em outros Estados. Foi a ação do pré-candidato Serra que consumou a aliança entre o PSDB baiano do deputado Jutahy Júnior (aliado do PT) e o grupo de seu inimigo – o ex-senador Antônio Carlos Magalhães (BA), morto em 2007.

Pressionado para assumir a pré-candidatura, o governador de São Paulo usou ontem o microblog Twitter para dizer que se sente “cansado” de falar sobre a possibilidade de disputar a Presidência no ano que vem. “Estou cansado de não responder à pergunta sobre a Presidência ... É cedo. Talvez responda primeiro no Twitter. Quem sabe...”, escreveu ele, durante a madrugada, logo depois de voltar de Brasília.

''Não tem obra. Foram três dias Perdidos''

Julia Dualibi
ENTREVISTA: José Aníbal: Deputado (PSDB-SP)
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Para o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), a viagem do presidente Lula com ministros pelo Rio São Francisco promoveu "violações de A a Z" à legislação eleitoral. "Foram três dias perdidos para a administração", declarou o tucano.

Indagado se os governadores do PSDB, José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), também não estavam em campanha, Aníbal disse que os tucanos viajam fora do expediente, com recursos próprios ou do partido. "Isso é conversa de quem foi pego com a boca na botija", disse.

O governo está antecipando a campanha eleitoral?

Está não só antecipando como promovendo uma transgressão generalizada. Usando a máquina pública e os espaços cotidianos do presidente para fazer campanha. É como disse o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes: é um vale-tudo.

Mas recentemente a Justiça julgou outras ações sobre esse tema e discordou do entendimento da oposição de que há campanha antecipada. Por que esse entendimento da Justiça?

Não sei. Espero que o entendimento seja outro agora, até porque a "caravana das arábias" criou uma situação de clímax, violações de A a Z. Não tem uma declaração do presidente sobre as obras, sobre fiscalização. Só declarações políticas. Até o alojamento que mandou construir era coisa suntuosa. Não havia alojamento lá porque não havia obra. Do R$ 1,16 bilhão destinado para a transposição, só R$ 50 milhões saíram. Não tem obra. Foram três dias perdidos para a administração.

O PT diz que os governadores tucanos (Serra e Aécio) estão em campanha ao visitar obras de outros Estados.

Isso precisa ser posto a limpo. Os governadores tucanos viajam no fim de semana ou em horário fora do expediente. Viajam com recursos próprios ou do partido, sem ônus nenhum para o Tesouro estadual. E com todo o compromisso com a legislação. Isso é conversa de quem foi pego com a boca na botija.

O governador Aécio Neves foi com Lula visitar as obras.

Ele recebeu o presidente da República em Minas. Isso é institucional. E ele teve o cuidado de não acompanhar a caravana. A atitude dele foi correta.

Aécio: PMDB tem mais a ver com PSDB

José Meirelles Passos
DEU EM O GLOBO

Dilma, também no Rio, faz elogios ao governo e promete mais PACs

De um lado, o governador Aécio Neves (MG), pré-candidato a presidente pelo PSDB, tratou de minimizar ontem a aliança feita na noite anterior entre o PT e o PMDB para que um peemedebista seja vice na chapa encabeçada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Do outro, Dilma aproveitou a mesma ocasião — a abertura do 37º Congresso Brasileiro de Agências de Viagem (Abav), no Rio — para, em ritmo de campanha, comparar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva ao de Fernando Henrique Cardoso, e insinuar que o melhor para o país seria a continuidade da atual administração.

Aécio sugeriu que a aliança do PMDB com o PT não vai funcionar em regiões importantes, onde a ligação entre PSDB e PMDB seria mais sólida: — Em muitos estados, a aproximação do PMDB é maior conosco até do que com o PT, como no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Acho que, ao final, prevalecerão no PMDB os seus interesses regionais — calculou.

Dilma: o PAC, agora com mais duas novas versões Dilma, que chegou ao local juntamente com Aécio, evitou dar entrevistas. Mas procurou tirar proveito em favor de sua campanha presidencial em discurso aos agentes de viagem. Ainda que não mencionasse nominalmente o presidente anterior, sugeriu que o atual tem sido bem melhor e deveria ser substituído por alguém de suas fileiras: — Quando se olha para trás e se compara o Brasil de 2009 com o Brasil de 2002, podemos pedir a vocês que confiem cada vez mais no nosso querido Brasil. Vencer crises e desafios é a especialidade do nosso governo.

Em seguida, ela deixou claro que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não parará de ganhar novas versões: — Já estamos implementando o PAC da Copa (em 2014) e em breve lançaremos o PAC Olímpico (Olimpíadas de 2016, no Rio) — afirmou, referindo-se a obras de infraestrutura necessárias para cumprir as promessas feitas à Fifa e ao Comitê Olímpico Internacional.

Serra: resposta pode sair antes em blog

DEU EM O GLOBO

SÃO PAULO. O governador José Serra (PSDB) declarou ontem no microblog Twitter que está cansado de ser obrigado a falar sobre sua candidatura à Presidência. Pressionado, Serra disse que é cedo para uma definição, e que talvez responda à questão, em primeira mão, no próprio Twitter.

O DEM e alguns líderes do PSDB querem que Serra defina a candidatura até dezembro, mas ele tem dito que deseja levar o assunto até março.

— Estou cansado de não responder à pergunta sobre a Presidência... É cedo. Talvez responda primeiro no Twitter.

Quem sabe... — escreveu ele, de madrugada.

Ontem, na inauguração de central de operações do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, em São Paulo, explicou: — Estava saturado por causa das perguntas dentro do Twitter. Estou cansado de ser perguntado.

Mas não quero que (isso) iniba vocês de perguntarem, da mesma maneira que não vou responder.

Serra estreou na rede de microblogs em maio passado. Com postagens curtas e em tom informal, comenta a agenda do dia.

O tucano tem mais de 120 mil seguidores.

Lula diz que 'inaugurações' só começaram

Bruno Marques*
DEU EM O GLOBO

Em desafio à oposição e ao presidente do STF, o presidente Lula disse que continuará em campanha "inaugurando obras", embora grande parte de suas viagens seja para lançar ou vistoriar obras - e não inaugurá-las.


Lula desafia STF e oposição: viagens vão continuar

Presidente diz que seguirá "inaugurando" obras ao lançar programas e que seus antecessores são "todos da mesma laia"

BELO HORIZONTE. Acusado pela oposição e pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, de fazer campanha antecipada para sua candidata à Presidência, a ministra Dilma Rousseff, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu as críticas ontem, com doses de ironia.

Em visita à capital mineira, disse que até o fim de seu mandato fará muitas viagens com sua equipe de governo — como a da semana passada, pelo Vale do Rio São Francisco — para vistoriar e inaugurar obras.

— Eu só peço calma, calma porque nós ainda nem começamos a inaugurar o que temos que inaugurar neste país. Tem muita coisa para acontecer e tem muita coisa que nós vamos fazer ainda, daqui para a frente — avisou o presidente, deixando um recado aos críticos: — Vocês não perdem por esperar.

Aguardem — disse ele, apesar de a maioria das viagens que faz é para lançar e vistoriar obras, e não inaugurar, já que programas como o PAC e as obras do São Francisco têm baixa execução orçamentária.

Lula disse ainda que seus ministros não andam pelo país a turismo e que sua movimentada agenda irrita os partidos da oposição: — Agora, os homens estão ficando nervosos porque estamos inaugurando obras. É a primeira vez na vida que vejo alguém ficar nervoso porque se inaugura obra. Quando eu fazia oposição, ficava nervoso porque não tinha obra, não tinha escola, não tinha estrada, não tinha ponte, não tinha nada.

Eles ficavam em Brasília vendo o tempo passar.

Anteontem, DEM, PSDB e PPS apresentaram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) representação acusando Lula e a ministra Dilma de promoverem atos eleitorais antes do prazo estipulado pela legislação. O ministro Gilmar Mendes também se manifestou, dizendo que o governo testa a Justiça Eleitoral e que “nem o mais cândido dos ingênuos” acredita que viagens como a do São Francisco são para fiscalizar obras.

Lula esteve em Belo Horizonte para lançar — e não inaugurar — um programa de inclusão digital e para a assinatura de um convênio para construção de 531 moradias populares pelo Minha Casa, Minha Vida. Ele estava acompanhado de Dilma e os ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Hélio Costa (Comunicações), Luís Dulci (Secretaria Geral da Presidência), Márcio Fortes (Cidades) e Fernando Haddad (Educação). Ao citar os programas sociais do seu governo, disparou contra os anteriores: — É muito fácil assumir a Presidência da República e não fazer nada porque ninguém nunca fez. Os outros presidentes são todos da mesma laia. Mas eu precisava fazer, porque, se eu não fizesse, nunca mais alguém vindo do povo, um torneiro mecânico, seria eleito novamente.

Lula reconheceu que seu governo ainda não fez tudo o que tem para fazer e que, por décadas, ainda haverá uma dívida com o povo.

Dilma também ressaltou as políticas sociais do governo e disse que há 26 anos o país não via um programa habitacional como o Minha Casa, Minha Vida.

Disse que cerca de 100 mil contratos de moradias já foram assinados pelo programa e que outros 400 mil serão assinados até dezembro. E mais 400 mil ficarão para o segundo semestre de 2010. Apesar de negar o clima de campanha, ela deu autógrafos quando Lula discursava.

— Vamos em frente e muita fé no nosso país — afirmou Dilma, ao fim de seu discurso.

O evento em Belo Horizonte também marcou a ampliação do acesso gratuito à internet na capital mineira.

* Especial para O GLOBO

Programa de FH também vira PAC

Fábio Fabrini* e Leila Suwwan
DEU EM O GLOBO

O Monumenta, programa de preservação do patrimônio histórico do governo Fernando Henrique, foi "lançado" pelo presidente Lula com mais dinheiro e novo nome: PAC das Cidades Históricas.

Lula reedita outro programa de FH

PAC das Cidades Históricas substitui Monumenta

OURO PRETO e BRASÍLIA. Num evento com ingredientes de campanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou ontem, em Ouro Preto (MG), o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas.

Ao lado da pré-candidata à Presidência, a ministra Dilma Rousseff, Lula creditou a ela o esforço para viabilizar o projeto, que prevê investir R$ 890 milhões até 2012.

— Quero parabenizar a companheira Dilma por encontrar um jeito de colocar a reivindicação do companheiro Juca (Ferreira) no PAC — disse, referindose ao ministro da Cultura.

Com mais dinheiro e nova roupagem, o PAC, na verdade, reedita ações do Programa Monumenta, lançado em 2000 pelo governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) — até hoje, os investimentos haviam sido de R$ 250 milhões em 26 cidades. A promessa de Lula é beneficiar até 173 cidades, mas, este ano, 37 serão contempladas, ao custo de R$ 134 milhões. As demais terão de submeter projetos ao governo. A mudança de nome, segundo o governo, tem como objetivo consolidar nova política para o setor, mais “consistente” e “estruturante”. Na prática, há poucas mudanças, além da ampliação e maior aporte de recursos.

— O PAC Cidades Históricas dá seguimento e é a continuidade do Monumenta. Temos um enfoque estruturante, há mais consistência. O Monumenta nasceu no governo Fernando Henrique Cardoso e se consolida agora. Não é questão de governos, é bom para o país — disse Marcia Rollemberg, diretora de Articulação e Fomento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O ministro da Cultura no governo FH, Francisco Weffort, elogiou a proposta de “continuidade” e concordou com a importância da ampliação da recuperação de patrimônio histórico. Porém, disse considerar desnecessário mudar nomes ou “vender novidades onde não há”.

— O PAC pretende ser uma programação de atividades com alguma continuidade para o futuro. Acho bom que incluam o Monumenta. Seria pior romper com o programa. Só não precisaria inventar palavra. Não há por que transformar em novidade o que não é — disse Weffort.

Logo no primeiro discurso, o prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo (PMDB), disse que, nos anos FH, os investimentos estavam parados.

No palanque, o presidente Lula a f i r m o u q u e o PAC das Cidades Históricas é o maior programa de recuperação do patrimônio já lançado no país e q u e , m a i s q u e cuidar dos bens, o objetivo é gerar empregos e fomentar o turismo.

Lula não fez referências ao Monumenta de Fernando Henrique e ainda criticou governos anteriores: — Teve um tempo em que nós ficávamos indignados. Não havia quase nenhuma recuperação do patrimônio histórico brasileiro, e setores importantes da sociedade brasileira viajavam para a Europa para ver o grande patrimônio histórico europeu.

Não se davam conta de que, para manter aquele patrimônio, aqueles castelos maravilhosos, tinha de haver decisão política do governo e política econômica.

Além de Dilma, estavam no palanque mais sete ministros e o governador de Minas, Aécio Neves, presidenciável do PSDB. O tucano procurou minimizar o malestar da semana passada, quando desistiu de acompanhar o presidente em vistoria a obras do PAC em Buritizeiro, no Vale do São Francisco, para cumprir agenda própria em Pirapora.

— Vossa Excelência é sempre, como sabe, muito bem recebido e muito bem-vindo em Minas — disse o mineiro, acrescentando que divergências partidárias não devem influenciar questões administrativas.

— Há o tempo das eleições e o tempo do trabalho. Felizmente, o tempo do trabalho em conjunto é muito mais longo e muito mais extenso que o das eleições.

Ontem, foi assinado protocolo de intenções para que a Cemig execute em Ouro Preto a construção da rede elétrica subterrânea, com dinheiro federal. A cidade foi escolhida para o lançamento pela importância do conjunto arquitetônico. Além disso, foi a primeira do país declarada pela Unesco Patrimônio da Humanidade, nos anos 1980. Minas concentra 60% do patrimônio histórico brasileiro, segundo Aécio.

Apesar dos afagos de Aécio, o clima na plateia, composta por moradores da cidade, estudantes, militantes e 150 prefeitos, era de disputa.

Quando Dilma foi anunciada, apoiadores do mineiro a vaiaram e gritaram o nome do governador. Os petistas deram o troco pelo menos duas vezes.

Gal Costa Ao Vivo - Feitio de Oração / Noel Rosa

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