terça-feira, 17 de novembro de 2009

Reflexão do dia - Fernando Henrique Cardoso

Pode ser grave, mas, dirão os realistas, o tempo passa e o que fica são os resultados. Entre estes, contudo, há alguns preocupantes. Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos alto-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados. Foi no "dedaço" que Lula escolheu a candidata do PT à sucessão, como faziam os presidentes mexicanos nos tempos do predomínio do PRI. Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão.”


(Fernando Henrique Cardoso, no artigo, Para onde vamos? O Globo 1/11/2009)

Merval Pereira:: Brasil na vanguarda

DEU EM O GLOBO

Diante da decisão dos dois maiores poluidores do planeta, China e Estados Unidos, de não apresentarem metas de redução da emissão de gases de efeito estufa na reunião de Copenhague, no fim do ano, a posição brasileira acaba ganhando mais relevância, mesmo não sendo uma fixação de metas obrigatórias, mas um compromisso voluntário, e que o objetivo seja reduzir o crescimento das emissões, e não cortar as emissões totais.

A posição brasileira será, juntamente com a da União Europeia, de pressionar os Estados Unidos para que assuma compromissos ainda este ano, o que parece inviável por questões de política interna.

A hipótese de não se chegar a um acordo na reunião do fim de ano de Copenhague, especialmente devido à dificuldade de o governo dos Estados Unidos assumir um compromisso sem que o Congresso tivesse aprovado as metas de redução de emissão de gases, era uma possibilidade com que se jogava nos meios diplomáticos envolvidos nas negociações climáticas, mas não se esperava esse anúncio formal antes da reunião.

A decisão da Apec (organismo para cooperação econômica dos países da Ásia e do Pacífico) de não definir metas para a redução na reunião de Copenhague, adiando para o ano que vem uma definição de números para a substituição do Protocolo de Kioto, reduz a importância da reunião do fim do ano em Copenhague, mas evitou também que ela viesse a se transformar em um fracasso.

Seria uma “contenção de desgaste”, na definição diplomática. O problema concreto é que não há tempo para que o governo americano aprove no Senado o “Ato de energia limpa e segurança”, que já passou pela Câmara com grandes dificuldades. O projeto foi aprovado por 219 votos a 212, tendo 44 dos 255 deputados democratas votado contra.

O plano dos Estados Unidos tem como objetivo reduzir as emissões de CO2 criando empregos ecológicos e reduzindo a dependência de fontes de energia estrangeiras, especialmente o petróleo dos países árabes, uma das promessas de campanha de Obama.

O objetivo de redução em 17% das emissões de gases de efeito estufa em 2020, em relação ao nível de 2005, é considerado tímido, apenas um bom começo para o segundo maior poluidor do planeta, que se recusou a seguir o Protocolo de Kyoto.

Além disso, os fornecedores americanos deverão produzir no mínimo 15% de energia de fontes renováveis (eólica, solar) em 2020, e adotar medidas de eficiência energética que gerem uma economia anual mínima de 5%.

O adiamento da decisão, que levou a que a China, atualmente o maior poluidor do planeta, também aderisse à tese de que não sejam anunciadas metas na reunião de Copenhague, coloca mais responsabilidade sobre os americanos, que já eram o parâmetro para os demais países.

A União Europeia tem uma meta de redução de 20% de emissão, mas pode chegar a 30% caso os Estados Unidos sejam mais ousados. A própria China, que tem metas ousadas internamente, vai aguardar a posição dos Estados Unidos.

Os empresários chineses já admitem que o desenvolvimento sustentável é uma “responsabilidade corporativa”, e que o crescimento econômico da China tem que se compatibilizar com a proteção ambiental. Seguem a tese do “gato verde” lançada pelo economista Hu Angang, professor na Escola de Políticas Públicas e Administração na Universidade de Tsinghua, que adaptou aos tempos modernos o pragmatismo de Deng Xiao Ping, que dizia que não importava a cor do gato, desde que ele comesse os ratos.

O governo chinês está disposto a assumir compromissos de redução de emissão de gases com a meta de 15% de toda a energia ser gerada por fontes renováveis em 12 anos, e aumentar a eficiência energética em 20% em dois anos. A China hoje já é líder em energia solar e eólica.

O adiamento para 2010 tem ainda uma dificuldade adicional: em novembro do próximo ano haverá eleições intermediárias para a renovação integral da Câmara e metade do Senado nos Estados Unidos.

A preocupação é que a legislação ambiental não seja aprovada pelo Senado antes das eleições, e tenha que ser submetida novamente à nova Câmara e também ao novo Senado, com o agravante de que muito provavelmente o governo Obama não manterá a maioria folgada que tem hoje, especialmente no Senado, onde tem número suficiente para impedir obstruções dos republicanos.

As contas agora já são no sentido de que a legislação americana venha a ser aprovada até o primeiro semestre do próximo ano, para que se possa marcar uma nova reunião antes do fim de 2010.

O comentário do presidente Lula de que sua maior vingança contra a declaração de Caetano Veloso, que o chamou de “analfabeto”, foi chegar em casa e colocar um disco de Chico Buarque o aproxima mais uma vez do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Quando estava no governo, o ex-presidente, sempre que Chico Buarque o criticava, dizia que, em matéria de Buarque de Holanda, preferia o Sérgio, pai de Chico.

E que, em matéria de música popular, sempre preferira o Caetano Veloso.

Dora Kramer:: Teatro do oprimido

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Vai se desenhando no horizonte o seguinte cenário: o governo quer fazer da eleição presidencial um plebiscito em que só uma escolha é lícita, a outra é golpista.

Pretende que o eleitor compare o governo Lula com a administração anterior, de Fernando Henrique Cardoso, alimenta até o cotejo entre os dois governantes, mas reivindica exclusividade na prerrogativa do ataque. A recíproca é sempre tida como ofensa pessoal.

Se FH analisa o quadro e conclui que o Brasil caminha para um "subperonismo", está movido pela "inveja". Se Caetano Veloso fala do analfabetismo de espírito e critica o modo de se expressar do presidente - "cafona, grosseiro" - é um deselegante agente do preconceito.

Já os governistas - Lula à frente com seus discursos que corroboram a constatação de Caetano - podem chamar os adversários de "nazistas", "patéticos" e vendilhões do Estado sem que isso pareça minimamente inadequado.

Ainda que o sucessor não tenha mexido na estrutura de governo montada pelo sucedido e a ela apenas acrescentado uma bem arquitetada estrutura de assistencialismo, vai sendo posto para efeito de embate eleitoral que o confronto de 2010 será sobre dois projetos inteiramente diferentes de País.

Será, na definição da ministra Dilma Rousseff, "o confronto entre dois Brasis".

Por sete anos Lula governou conforme os preceitos da Carta aos Brasileiros. Quer dizer, dentro das linhas gerais da cartilha herdada, só recuperando o discurso dito esquerdista quando foi conveniente à ocasião. Na campanha pela reeleição, por exemplo.

Por "esquerda", entenda-se a contraposição ao "neoliberalismo", expressão desprovida de sentido real, mas perfeita para atender aos ditames do simbolismo e pôr um tapume diante das alianças conservadoras e da celebração aos setores atrasados, que não são meros coadjuvantes, mas o centro da ação política do governo.

Prática cujo emblema mais recente foi a submissão da linha de atuação do PT no Congresso aos interesses do presidente do Senado, José Sarney, e, por extensão, à conveniência do PMDB, que precisava se desviar da pecha de má companhia e salvar seu cacife como parceiro cobiçado por governo e oposição.

Por essa e muitas outras já notórias, o PT não pode retomar o discurso da ética. Até porque ficou combinado com seus aliados e simpatizantes que "política se faz com as mãos sujas" e ponto final, o Brasil é um país condenado ao limbo moral.

Fazer, o quê, então? Repetir o truque que deu certo em 2006 dizendo que conservadores são os outros e despertar nos espíritos a impressão de que só o atual governo será capaz de preservar os verdadeiros valores da Nação. Não se sabe quais são eles, mas a exacerbação da mística do Estado provedor em embalagem de competente propaganda dá conta do recado.

Deu em 2006, quando o PT insinuou que o PSDB venderia a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal na bacia das almas se Geraldo Alckmin fosse eleito presidente.

Segundo relato de Marcelo Moraes na edição de ontem do Estado, o PT se prepara de novo para usar a mesma tática, de maneira mais escancarada.

É o "bem", representado no "projeto democrático, popular, nacionalista e internacionalista", contra o "mau" concentrado no manual do "consenso de Washington" que levou o mundo à crise e seria o modelo de governo, na eventualidade de vitória dos tucanos.

Guardadas as proporções e adaptadas as situações, é uma espécie de lógica da guerra fria no sentido facilitador de raciocínios.

Pode dar certo? Tem tudo para dar. Primeiro porque nada mais reconfortante que um maniqueísmo para simplificar as escolhas. Em segundo, há o fato de o discurso estar sendo construído com a devida antecedência, sem contraponto e vocalizado por um arauto perfeito: o presidente Lula que a todos ataca, mas por ninguém pode ser atacado.

Se na eleição anterior o PSDB mostrou que não sabe se defender de acusações falsas, é de se supor que não consiga também contraditar as verdadeiras.

Goste-se ou não do truque de Lula de firmar a imagem de que representa os ideais do bem e da caridade universal que atende aos anseios dos pobres, aplaca a consciência dos ricos e faz certa casta de pensantes se sentir muito bem por "fechar" com o lado do oprimido, é um caminho bem definido de acesso ao objetivo pretendido.

Por motivos ainda obscuros, a oposição não informa ao eleitorado qual será a trilha escolhida. Se a razão for estratégica, corre o risco de, quando chegar a hora que considerar adequada, encontrar todo o espaço ocupado pelo discurso do adversário.

Se a motivação é escapar da armadilha do plebiscito, conviria então que começasse a expor qual é mesmo a sua visão das coisas. Se não disser, o público acabará por concluir que os pretendentes oposicionistas não sabem o que querem ou, se sabem, não conseguem (ou pior, não querem) estabelecer com a sociedade um diálogo simples e objetivo a respeito do projeto de Brasil que têm em mente.

Fernando de Barros e Silva:: Erundina, 21 anos

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Faz 21 anos que Luiza Erundina foi eleita prefeita de São Paulo. Sua vitória, em 15 de novembro de 1988, muito inusitada, foi um marco histórico: "Mulher, nordestina, petista", ela resume a própria biografia tentando refletir sobre o que significava na época.

A disputa se dava ainda -pela última vez- em turno único. Erundina obteve quase 30% dos votos, ultrapassando na reta final o favorito Paulo Maluf, que se elegeria em 92. Jânio Quadros não compareceu à transmissão do próprio cargo.

Maria Luiza Fontenelle já havia sido eleita em Fortaleza em 1985 (e em 88 romperia com o PT). Mas São Paulo era a maior cidade da América Latina, o berço de ouro do malufismo.

Erundina recorda que assumiu a prefeitura tendo de enfrentar "muita desconfiança e má vontade por parte de empresários", convertidas em "boicote" em vários casos. Mas foi alvo também da hostilidade do próprio PT, que lhe cobrava pontos do programa. "Havia muitas demandas represadas e era difícil convencer o partido de que a gestão municipal não iria dar conta delas".

Ainda assim, a ex-prefeita hoje avalia que seu legado foi a redefinição das prioridades orçamentárias, deixando de lado grandes obras viárias para enraizar a ação da prefeitura no social e na periferia: ônibus-bibliotecas, creches, mutirões -o "erundinês" é a língua da organização comunitária e do esquentamento dos movimentos sociais.

Aquela, diz Erundina, "era uma época dura, de inflação e desemprego, mas também politizada, de muita mobilização, diferente de hoje".

Erundina não poupa Lula pelo atual engessamento da política: "Ele não tem contribuído para fortalecer os movimentos sociais. Pelo contrário, tirou o seu protagonismo e cooptou o movimento sindical".

No país de Lula, diante de um governo que tem o PT a seus pés e os empresários gargalhando, soa quase como gafe espanar o pó de uma gestão sempre escanteada pelo partido. Inclusive em termos de conduta moral, o que vingou no PT não foi o bom exemplo de Erundina.

Luiz Paulo Horta:: volta do mau humor

DEU EM O GLOBO

Para quem ainda nem iniciou formalmente a campanha, a ministra Dilma já está batendo forte, e parece privilegiar o confronto como estratégia eleitoral. Os exemplos são todos dos últimos dias: “forças do passado que mais uma vez tentam se reorganizar, e que usam velhas táticas”; “pensam ser astutos mas são patéticos, ao tentar confundir as pessoas”; “esqueceramse do povo, dilapidaram o patrimônio público”; “não têm moral para falar de nós”, e assim por diante.

Por que tanta agressividade? Pode ser insegurança de uma candidata que não tem história política consistente, e só está onde está por decisão pessoal do presidente em exercício. Pode ser temperamento, de quem já passou por maus bocados e se acostumou a brigar.

Mas é uma linha que se afasta da “mainstream” da política brasileira.

Aqui, a palavra mágica sempre foi “conciliação” — fruto da nossa índole, ou do reconhecimento de que, sem conciliar, não se mantinha unido o gigante Brasil.

Assim se fez a conciliação do Marquês de Paraná, nos tempos de D. Pedro II, que abriu caminho para a majestosa arquitetura política do Segundo Reinado.

Esse caminho nem sempre foi trilhado, claro. A proclamação da República provocou muito nervosismo, e houve revoltas sufocadas com mão de ferro — a de Floriano.

No interior da Bahia, um grupo de fanáticos religiosos foi apontado como defensor da monarquia. Uma expedição enviada contra eles fracassou; depois outra, e mais outra, até que a quarta foi bem-sucedida, com a completa liquidação do arraial de Canudos.

Um engenheiro/repórter ali presente escreveu o que viu, e assim se tornou o autor de um dos livros-chave da nacionalidade.

O que Euclides da Cunha quis dizer, em “Os sertões”, é que havia dois Brasis, mas que juntar essas partes não podia ser obra do facão e do fuzil.

E vieram os bons políticos da República.

O Barão do Rio Branco consolidou as nossas fronteiras negociando, com uma habilidade que parece faltar ao Itamaraty de hoje. O próprio Getúlio Vargas, que podia ser feroz com seus adversários políticos, era o rei da simpatia, e levava avelãs nos bolsos para agradar às crianças.

Outro presidente querido, Juscelino, entrou para a História dizendo: “Deus me poupou o sentimento do ódio.” Em contrapartida, seu adversário mais aguerrido, Carlos Lacerda, que também tinha virtudes como político e administrador, ficou relegado a um canto do cenário, porque era mestre em fazer inimigos.

O próprio inventor da ministra Dilma, o presidente Lula, começou como sindicalista tonitruante (e muitas vezes é preciso ser duro para vencer obstáculos); mas mesmo na época do ABC paulista, era hábil em sentar numa mesa e conversar; e, depois de perder três eleições para a Presidência da República, foi transformado em “Lulinha paz e amor” por um marqueteiro de talento — o que finalmente lhe abriu as portas do Alvorada.

O atual governo petista parece empenhado em provar que tudo começou com ele, e que o passado é desprezível.

Mas essa fascinante realidade que é o Brasil contemporâneo — objeto de uma capa eufórica do “The Economist” — resulta de uma engenharia política apoiada na conciliação.

Sinistro foi o Brasil maniqueísta dos militares — em que a ministra Dilma conheceu os subterrâneos da luta armada.

Mas assim que afrouxou o cerco às liberdades, entraram em cena os profissionais da política — um Ulysses Guimarães, o grande Tancredo, o próprio Sarney — para aplainar o caminho da reconciliação. E os dois mandatos de Fernando Henrique, sobre o qual jogam lava os que agora ocupam os palácios do governo, foram um período de construção em todos os sentidos: construção econômica, com o Plano Real; construção política, com a deliberada recusa de permitir que a atmosfera se azedasse por conta de ressentimentos antigos. Isso era novo, no Brasil — sabem os que viveram os anos 50, e os 60. Mas no ciclo FHC, não havia proposta de crise que, passando pelo Planalto, não saísse esvaziada.

Conciliação no melhor sentido, voltada para a construção, e não para a acomodação.

Foi o que o Lula de 2002 entendeu; foi o seu ponto de partida para os sucessos de agora.

Em pleno sucesso, vamos voltar para o Brasil mal-humorado, para o Brasil partido em dois que tanto afligia o Euclides dos “Sertões”?

Luiz Paulo Horta é jornalista.

Brasília-DF :: Luiz Carlos Azedo

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Afinado

A cúpula petista tem expectativa de que o ex-senador sergipano José Eduardo Dutra (foto) seja eleito presidente da legenda com mais de 60% dos votos, nas eleições diretas do próximo fim de semana. Isso lhe daria cacife para enquadrar os rebeldes em relação à aliança do PT com o PMDB em torno da candidatura de Dilma Rousseff. O primeiro a ser enquadrado será o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Faria. O ex-cara-pintada deve perder a disputa pelo controle do diretório regional do Rio de Janeiro para o deputado federal Luiz Sérgio, afinado com Dutra e apoiado pelo atual presidente regional do PT, Alberto Cantalice.

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Miriam Leitão:: O clima não espera

DEU EM O GLOBO

Há um ano o mundo concordou: era preciso adiar para Copenhague a chance de um acordo climático.

O novo presidente americano, Barack Obama, estava assumindo e, com ele, tudo mudaria.

Agora, Barack Obama quer mais um ano. A China concorda. Um perigoso retrocesso acaba de acontecer nas negociações do clima. Os maiores emissores conspiram contra o acordo.

Há quem avalie que realisticamente não há mais tempo para um acordo sólido em Copenhague, e que sem os Estados Unidos nada se fará de realmente importante nesta área.

A questão é que agora há impulso, pressão, ansiedade. As ONGs, a imprensa, a opinião pública, os cientistas, as grandes empresas do mundo, num raro momento de concordância, formaram uma forte corrente em torno de Copenhague, com contagem regressiva, mobilização e compromissos.

Agora há, como se diz em inglês, momentum. O assunto está no centro. O momento é este e nenhum outro.

Na semana passada, o Brasil se moveu. O debate interno do país, o jogo de forças dentro do governo, a pressão de pioneiros deste debate, a carta das grandes empresas, tudo junto fez o país sair da cômoda negação para o compromisso voluntário com corte das emissões.

Pode-se discutir se os compromissos deveriam ser em relação às emissões atuais, ou futuras. Pode-se dizer que os números não parecem palpáveis porque falta o principal que é o inventário atualizado das emissões brasileiras. Há vários pontos em discussão. O que é indiscutível é que o Brasil atravessou uma ponte e foi para o lado onde, há muito tempo, deveria estar.

Na reunião de cúpula da ONU, o novo primeiro-ministro japonês, Yukio Hatoyama, aumentou a oferta japonesa. Em vez de 20%, o corte seria de 25% em relação ao nível de 1990. A Europa tem divisões, mas os europeus já perseguem metas criadas por Kioto. A China, na mesma reunião da ONU, se comprometeu pela primeira vez com algum tipo de medida: reduzir a densidade de carbono por unidade do PIB, ou seja, manter o crescimento, mas emitindo menos. A Inglaterra assumiu o compromisso de cortar em 34% suas emissões em relação a 1990. O mundo está em movimento.

E ele se move no complexo jogo de pressão que acontece dentro dos países. Todos têm dilemas e conflitos a superar. A partir de ontem, em cada país, a turma do “deixar tudo como está” se sente aliviada, porque ganhou mais um ano; o planeta perde, perigosamente, um tempo precioso.

Em Bangcoc houve conflito aberto entre Estados Unidos e China. O representante americano disse que era preciso fazer um novo acordo, e não apenas avançar a partir de Kioto. A China considerou que isso era uma traição, uma forma de minar o acordo, porque o esforço de recomeçar do zero é protelatório. Em Cingapura, Estados Unidos e China concordaram. Ontem, os dois brigaram sobre liberdade da internet, direitos humanos, e Mianmar. No domingo, se entenderam sobre adiar para o ano que vem um tratado que seja legalmente obrigatório. Dizem que só será possível um acordo “politicamente vinculante” em Copenhague.

Mas há dois anos, em Bali, quando foi feito o chamado Mapa do Caminho, era exatamente isso que se queria: ter um quadro político, e uma série de etapas intermediárias da negociação.

Andou-se muito pouco.

É reconfortante para a China e para os Estados Unidos ter mais tempo. A China adiará pressões contra seu modelo na hora difícil de retomada do crescimento acelerado; o presidente Barack Obama salvará sua face.

Por isso, quando o presidente Lula aponta o dedo e diz que eles fizeram uma espécie de “G-2” está coberto de razão. Aquele teatro, com todos os outros países que fazem parte da Associação de Cooperação Econômica da Ásia e Pacífico, é só para povoar a foto e assim esconder o acerto bilateral. A foto esconde a união dos dois maiores emissores de gases estufa a favor de deixar tudo como está, por mais um tempinho.

Como se o planeta tivesse tempo para conceder.

O mundo esperou pelos Estados Unidos e o país nunca ratificou Kioto. O mundo esperou acabar o governo do presidente-dinossauro, que negava o fenômeno da mudança climática.

O mundo deu mais um ano porque chegaria o presidente que, durante a campanha eleitoral, se comprometeu com o seu próprio povo a liderar um acordo global do clima.

E o que vai acontecer se a espera for renovada por mais um ano? Nada. A agenda americana vai tragar o presidente com guerras, reforma da saúde, crise econômica e eleição de meio de mandato em 2010. A aceitação silenciosa dessa versão “realística” das negociações climáticas vai criar para o presidente americano uma zona de conforto e tudo será relegado a segundo plano. A melhor solução seria constranger Barack Obama e pressionar a China.

A passagem já está comprada.

O mundo vai para Copenhague. Não pode ser para aceitar a derrota de véspera. O Brasil, a França, o Reino Unido, o Japão, inúmeros outros estão na confortável situação de ter dado um passo. Ou vários. O Reino Unido vem liderando essa questão desde Tony Blair, que concordava em tudo, exceto neste ponto, com George Bush. Foi ele que pôs substância econômica ao debate promovendo o relatório Nicholas Stern. Seu sucessor, Gordon Brown, continuou na mesma linha. E para Brown, ser agora ou no ano que vem faz toda a diferença: ele pode não estar mais no poder, e o governo inglês pode ser do Partido Conservador.

Momentum é aquele instante em que o impulso é tão forte que faz a chance.

Obama sabe disso. Aproveitou seu momentum e ganhou a eleição.

Com Alvaro Gribel

Yoshiaki Nakano:: As turbulências na taxa de câmbio

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Na atual conjuntura não temos como prever qual será o valor do real no final do ano ou mesmo no final deste mês. Há aqueles que apostam que, no curto prazo, a taxa de câmbio irá para R$ 1,60 ou mesmo R$ 1,50, mas há outros que apostam em R$ 1,90 ou mais. Se não fora a imposição de IOF sobre a entrada de capitais, certamente o primeiro grupo estaria hoje com razão e estaria comemorando grandes lucros. De fato, não foram os 2% de IOF que interromperam a apreciação maior do real, mas a sua sinalização para o mercado e anúncio de que o Banco Central (BC) poderia tomar medidas adicionais é que tiveram efeito. Com isso, surgiu o segundo grupo que passou a apostar que uma taxa de câmbio entre R$ 1,90 a 2,10 parece ser mais razoável e aceitável para as autoridades públicas. A incerteza total gerou uma trégua e o real tem flutuado próximo à taxa vigente antes da imposição do IOF. Qual aposta vai prevalecer? Qual será a nova tendência num futuro próximo? Ninguém sabe, o que sabemos é que a instabilidade deverá continuar.

Basta passar os olhos no relatório sobre taxa de câmbio de outubro do Goldman Sachs, no qual o real aparece como a moeda que mais está apreciada (+ 51,25%), para se convencer de que não vivemos apenas instabilidade, mas uma conjuntura de turbulência cambial. Na realidade existem razões de natureza mais geral e específicas que estão causando essa turbulência do real, mantida a atual política ineficaz de intervenções do Banco Central.

A principal razão para essa turbulência cambial é a política monetária extremamente expansionista nos Estados Unidos que desencadeou um fluxo massivo de capitais para o exterior, principalmente os países emergentes que estão, depois da crise financeira, relativamente em melhores condições que os países mais desenvolvidos. A percepção geral é de que essa política deverá permanecer por longo período, pois a recuperação recente está longe da típica após uma recessão: queda na taxa de juros trazendo retorno do crédito e na demanda, tanto do consumo como do investimento. A queda na taxa de juros e a brutal injeção de liquidez não trouxeram a retomada de crédito, do consumo ou do investimento privado. As famílias norte-americanas estão superendividadas, estão aumentando a taxa de poupança e com dificuldades para pagar as dívidas acumuladas no período pré-crise. Com isso, as empresas do setor real, que estão com capacidade ociosa e relativamente melhores, estão se ajustando cortando emprego e reduzindo salários. Elas não estão dispostas a aumentar suas dívidas ou retomar o investimento. A recuperação na economia veio da injeção de recursos fiscais que elevou o déficit e a dívida pública, enfraquecendo o dólar.

Na realidade, a política de taxa de juros zero foi direcionada para subsidiar e salvar o que restou do sistema financeiro norte-americano. Este vem se recuperando, basicamente, com operações de mercado de capitais e forte especulação com certos ativos financeiros tais como petróleo, metais, ações etc. e não com a retomada de crédito para o setor real da economia.

Nesse quadro, os bancos e investidores podem captar recursos a taxa próxima a zero e na busca de maiores retornos, encaminharem-se para ativos mencionados acima, mas principalmente para ativos nos países emergentes que sofreram muito menos com a crise financeira, principalmente os países exportadores de commodities como o Brasil. Aqui entra a particularidade do real. A sucessiva e sustentada apreciação do real ao longo da última década e meia trouxe uma mudança regressiva e especializadora na nossa balança comercial: a queda na participação de manufaturados e aumento das commodities, transformando o Brasil numa economia exportadora de commodities. Com isso, o real passou a fazer parte do portfólio dos especuladores financeiros, na categoria de "commodity currencies". Como a China deverá continuar crescendo praticamente às mesmas taxas do período pré-crise, os preços das commodities estão se recuperando e deverão manter-se com preços reais num nível elevado por décadas, dando fundamento à especulação.

A taxa de desemprego alcançou números alarmantes nos Estados Unidos e existem dificuldades em aumentar mais ainda as injeções fiscais para evitar o aumento de desemprego. Assim, não resta aos Estados Unidos senão depreciar drasticamente a sua moeda para substituir a demanda doméstica pelas exportações a fim de gerar crescimento e interromper o aumento de desemprego. Isso significa uma guerra cambial deliberada para aumentar a participação dos Estados Unidos nas exportações globais. Mas a China, que vinha apreciando gradualmente a sua moeda desde junho de 2008, fixou-a em relação ao dólar, pegando carona no jogo não cooperativo norte-americano de ganhar mercados, exportando desemprego aos demais. Basta lembrar que as mercadorias chinesas poderão desembarcar no Brasil custando mais barato na exata medida que o real apreciou-se em relação ao dólar, isto é, mais de 30% neste ano. Como reagirão os demais países quando começarem a perder mercado para esses países?

Mas esse jogo ou guerra não para aí. Suponhamos que o presidente Obama seja bem sucedido na sua visita e consiga convencer a China a mudar o regime de câmbio. Suponhamos, para ter cenários mais claros, que a China passe a flutuar livremente a taxa de câmbio com total liberdade e mobilidade de capitais, tão a gosto de ortodoxia tradicional e, supostamente, uma virtude do regime cambial brasileiro. Nesse caso, a China deixaria de acumular reservas adicionais e assim o dólar depreciaria ainda mais. Como grande parte da reserva é acumulada em títulos do governo norte-americano, deixando de comprá-los, a taxa de juros sofreria um aumento e a liquidez mundial passaria a crescer menos. Se no regime de câmbio flutuante as reservas se mantêm fixas, como a China tem saldo comercial positivo e excesso de poupança, isto só será possível com a massiva saída de capital desestabilizando, eventualmente, a economia chinesa e com consequências imprevisíveis.

Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas - FGV/EESP, escreve mensalmente às terças-feiras.

FH: 'Que diferença há entre o meu governo e o de Lula? Muito pouca'

DEU EM O GLOBO

Ao "El País", ex-presidente diz "faltar gás" a Dilma e que Marina é "interessante"

Em entrevista publicada domingo no jornal espanhol “El País”, o ex-presidente Fernando Henrique disse que não vê diferenças entre a política econômica de sua gestão e a do governo Lula. “Que diferença há entre o meu governo e o de Lula no modelo econômico? Muito pouca. É basicamente social-democrata, com respeito ao mercado, sabendo que o mercado não é o todo, e políticas sociais eficazes.

Todos aprendemos a fazer políticas sociais, o Chile aprendeu, o México aprendeu, o Brasil aprendeu, o Uruguai já tinha...”, disse, em entrevista concedida em 14 de setembro, em São Paulo, mas só publicada anteontem, após sua participação na Conferência Anual do Clube de Madri, do qual é membro.

Temas polêmicos ficaram de fora, mas comentários foram registrados: “Cardoso prefere o ‘off the record’ ao falar das por vezes complicadas relações de Lula e seu partido com (Hugo) Chávez; da necessidade de que o Brasil assuma a liderança regional e global que lhe corresponde, ‘mesmo que tenha que tomar decisões antipáticas’; das chances do candidato de seu partido, José Serra, nas eleições de 2010 — ‘se fossem hoje, ganharia sem dúvida’ — e das dificuldades da pré-candidata do governo, Dilma Rousseff, para ter a mesma capacidade de mediação de Lula nas distintas correntes do PT. Por sinal, está custando muito deslanchar nas pesquisas: ‘Já está em campanha há tempos, mas não tem gás, e lhe complica a candidatura de Marina Silva, que é uma ecologista interessante’”.

PSDB vai explorar apagão na TV

DEU EM O GLOBO

BRASÍLIA. A cúpula do PSDB decidiu discutir o apagão do sistema elétrico nas inserções de 30 segundos que o partido leva à TV a partir de hoje, nacionalmente.

A ideia é tentar neutralizar a tática dos governistas de comparar o episódio da semana passada com o apagão e o racionamento de energia do governo Fernando Henrique, ocorridos em 1999 e 2001, respectivamente.

Mas não há decisão sobre a exploração do problema no programa de TV de 15 minutos do PSDB que será veiculado em 13 de dezembro.

A estratégia é aguardar as explicações dos ministros Edison Lobão (Minas e Energia) e Dilma Rousseff (Casa Civil) ao Congresso.

O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), disse que a oposição não pode se render à tática do PT: — Essa tese do tiro no pé não cola.Toda vez que a oposição ou qualquer força política levanta questões relativas a problemas atuais, como o mensalão ou o uso abusivo do cartão corporativo, a tática deles é sempre puxar para o passado. Se a oposição ficar esperando e cair nessa tática antiga, que já é previsível, a gente não faz mais nada.

Raymundo Costa:: Serra ensaia discurso para 2010

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Apesar do ultimato de Aécio Neves, o governador de São Paulo, José Serra, só vai anunciar em março a decisão de concorrer a presidente da República pelo PSDB. Aécio deu prazo até dezembro para a definição dos tucanos. Depois disso, informou, pretende cuidar da própria eleição para o Senado. Serra apenas mantém a estratégia de levar a decisão até o fim do prazo previsto na legislação eleitoral.

Candidato ao Senado, Aécio terá até o fim de junho para confirmar sua decisão. Se as pesquisas forem favoráveis a Serra, pode pensar em compor uma chapa puro-sangue, sonho eleitoral tucano. Caso contrário, começa de imediato o processo de reaglutinação do PSDB com vistas a 2014. Aécio tem 49 anos. A presidência do Senado é um objetivo que dependerá da relação de forças à época.

Serra será o candidato do PSDB e o fato é que Aécio nunca ameaçou a indicação do governador de São Paulo. O partido atendeu a todas as demandas do governador mineiro, mas ele nunca respondeu com uma alteração significativa nas pesquisas que levasse os tucanos a mudar de ideia. Serra é conhecido nacionalmente, tem uma sólida biografia e lidera as pesquisas de intenção de voto, mesmo tendo oscilado negativamente nos últimos levantamentos.

Quem tem voz e voto no partido diz que o PSDB e Serra deram a Aécio todas as oportunidades que ele pediu, como as viagens para encontros com a militância tucana e a divisão do programa de TV que vai ao ar este mês. Aprovou inclusive a realização de prévias, uma proposta do governador de Minas que ele próprio aos poucos foi deixando de fora do discurso de pré-candidato. Em troca, espera-se agora a adesão efetiva do governador à candidatura que o PSDB indicar.

Da mesma forma não ocorre aos dirigentes tucanos que Serra possa desistir de ser candidato em março, fim do prazo legal para deixar o Palácio dos Bandeirantes para disputar a cadeira de Luiz Inácio Lula da Silva. Isso aconteceu em 2006, segundo os tucanos, menos por vontade de Serra e mais porque Geraldo Alckmin, então governador do Estado, botou "o pé na porta" e não abriu mão de ser o indicado. Nem Serra mostra o menor sinal de que pretenda deixar escapar talvez sua última oportunidade de disputar a Presidência.

Nos momentos de maior otimismo, segundo contam interlocutores do governador, Serra chega a especular que pode ser mais fácil ganhar a eleição do que governar. Mais por conta da frenética elevação do gasto público que o atual governo deixará de herança para o sucessor que do aparelhamento da máquina administrativa. Lembra-se no PSDB que o tucano sucedeu a Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo sem nenhum incidente. Ao contrário, deu sequência a programas da ex-prefeita como os CEUs e o bilhete único.

Isso se aplicaria a programas do governo Lula, se o PSDB vencer a eleição de 2010, como o Bolsa Família. Provavelmente com aperfeiçoamentos. Em conversas reservadas, Serra também dá de ombros à tese da comparação dos "oito anos de mandato de Lula com os oito anos de FHC", como costumam instigar o presidente da República e o PT. E torce o nariz à questão "ideológica" de privatizar e não privatizar, um golpe no queixo da candidatura Alckmin nas eleições de 2006.

No governo de São Paulo, Serra operou com concessões. Quando vendeu um banco estatal, a Nossa Caixa, fez o negócio com outro agente estatal, o Banco do Brasil. Ele até tentou privatizar a Cesp, mas não conseguiu. Num desses encontros, um tucano anotou uma frase dita por Serra quando ele analisava a intenção do PT de comparar os oito anos de Lula com os oito de FHC:

"Eu tenho um perfil próprio."

Apesar de momentos de otimismo, Serra acha que enfrentará uma eleição difícil. Poucas coisas o deixam irritado, dizem os amigos. Uma é a comparação segundo a qual ele e a ministra Dilma Rousseff, a candidata do PT, têm perfis iguais.

Serra mantém um bom relacionamento com Dilma, mas uma das armas de sua campanha a presidente deve ser justamente o "currículo" - secretário de Estado, deputado federal, senador, ministro, prefeito e governador de São Paulo. Não é à toa que ele costuma dizer, em seus discursos, que currículo serve para tudo. Até para arrumar emprego.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Aécio tenta atrair apoio de partidos governistas

DEU NO VALO ECONÔMICO

César Felício, de Belo Horizonte

Presidenciável do PSDB que aposta na capacidade de ampliar alianças como diferencial contra o competidor interno, o governador de São Paulo, José Serra, o governador de Minas Gerais Aécio Neves fez com o PP o primeiro movimento para tentar atrair partidos da base governista.

Em dois jantares neste mês e em encontros em Brasília, ficou virtualmente acertado que o presidente da Assembleia Legislativa mineira, o deputado Alberto Pinto Coelho (PP), será candidato a vice na chapa ao governo estadual encabeçada pelo vice-governador do Estado, Antonio Junho Anastasia, que deve assumir a posição do titular em março.

A candidatura de Anastasia, contudo, só deverá ser confirmada em dezembro, depois que Aécio anunciar se seguirá tentando concorrer à Presidência ou optará pelo Senado. O acordo com o PP é o primeiro passo para o desenho da chapa majoritária em Minas, que deve envolver ainda a candidatura do ex-presidente Itamar Franco (PPS) ao Senado e, na hipótese de Aécio disputar a Presidência, de um nome do DEM ou do PR para a outra vaga de senador na chapa. Candidato declarado à reeleição, o senador Eduardo Azeredo (PSDB) deverá ser pressionado a abrir mão da pretensão.

A estratégia de Aécio é, em caso de candidatura presidencial, tentar obter o apoio formal do PP. O governador mineiro recebeu uma sinalização favorável dos parlamentares do partido ao receber a bancada federal para um jantar há sete meses, mas ao longo do ano o PP começou a ser assediado pelo PT para fechar uma aliança em torno da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O partido conta na Esplanada dos Ministérios com o ministro das Cidades, Márcio Fortes.

"Hoje a tendência pelo apoio a uma candidatura pró-governo federal conta com a preferência de dois terços dos diretórios regionais, mas ´hoje´ não interessa. O que vai interessar é como estará o quadro em março ou abril do ano que vem", disse o presidente nacional do PP, o senador Francisco Dornelles (RJ), primo em segundo grau de Aécio, mas aliado do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), que está alinhado ao Planalto.

Partido cuja maior expressão é a base de prefeitos em pequenas e médias cidades e a bancada na Câmara, o PP teria como tendência natural ficar neutro nas eleições presidenciais, liberando os diretórios regionais para fechares coligações como quiserem. Mas a participação na eleição nacional abre caminho para um partido negociar em posição de força um espaço no governo federal.

Dornelles sinalizou, contudo, que uma candidatura eventual de Aécio poderia, ao menos, levar o partido para uma posição neutra. "O fim da verticalização tornou possível ao PP escolher um candidato, mas é preciso ver se não será o caso de deixar os diretórios livres. Mesmo que a preferência por um candidato predomine, o que vai importar ao partido será ter uma posição de unidade, e não fazer a maioria prevalecer sobre a minoria, para que não sejam gerados constrangimentos invencíveis. O diretório do PP mineiro evidentemente quer apoiar Aécio", disse.

O governador também estabeleceu pontes com o PR e o PTB, siglas governistas de perfil semelhante ao do PP. No caso do PR, a candidatura de Aécio estimularia o partido a permanecer neutro na disputa presidencial, apesar da sigla ter feito um convite do ingresso ao governador mineiro. "Nossa primeira tendência seria apoiar o candidato de Lula, mas a depender do quadro podemos não dar nenhum apoio formal", afirmou o líder do PR na Câmara, deputado Sandro Mabel (GO), para quem "a preocupação central é eleger bancada". O PR investe no fim da verticalização com formulações criativas. Em Goiás, a sigla pretende fechar uma aliança com o deputado Ronaldo Caiado (DEM) e com o PP para disputar o governo estadual, reservando-se ao direito de apoiar Dilma. Em Minas, estará no palanque de Aécio.

Procurado pelo Valor, o presidente nacional do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson não quis dar entrevista. Em seu blog, esta semana, Jefferson fez um apelo para que o PSDB aceite a disputa entre Aécio e Serra na convenção nacional "para que o ônus da decisão não fique nas costas de um dos dois". Na semana anterior, afirmou que Aécio poderá ser "o sorriso que falta na campanha" e escreveu que aguardará a posição do governador mineiro para definir seu apoio. Rompido com o Planalto desde a denúncia do mensalão, em 2005, Jefferson conseguiu manter a presidência da sigla.

Esta semana, Aécio deve investir à esquerda. Recebe hoje para um almoço o deputado e possível candidato a presidente Ciro Gomes (PSB). Aécio e Ciro fizeram um acordo de não disputarem simultaneamente a Presidência, mas a transferência de domicílio eleitoral de Ciro do Ceará para São Paulo repercutiu mal em Minas. A interpretação é que Ciro sinalizou que aceitaria disputar o governo paulista com o apoio do PT, em uma estratégia que envolve uma aliança em torno da candidatura de Dilma.

Serra lembra os "piores caudilhos", diz Cesar Maia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Democrata endossa discurso de seu filho de apoio a Aécio

Catia Seabra

A relação entre PSDB e DEM sofreu novo abalo ontem. A exemplo do filho, o presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia (RJ), o ex-prefeito do Rio Cesar Maia disse que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), "lembra os piores caudilhos" ao avocar para si a decisão sobre a candidatura do PSDB à Presidência.

Hoje, Serra lidera as pesquisas para presidente. Mas, assim como o filho, Cesar Maia elogia o governador de Minas, Aécio Neves. Em entrevista ao portal iG, Maia chamou Serra de personalista. Procurado pela Folha, reiterou as críticas.

"O Serra diz que quer ser candidato, que será candidato, que pode ser candidato, e o partido parece não ter nada a ver com isso. É um populismo descarado. Lembra os piores caudilhos.

Um caudilho do passado apontava o dedo para o candidato. Agora o próprio candidato aponta o dedo para si", disse, queixando-se da disposição de Serra de só se manifestar sobre a eleição em março.

Contrariado, Serra não quis comentar a declaração. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), cobrou um discurso mais construtivo. "O esforço agora é juntar todas as energias. A contribuição de Maia é fundamental. E isso implica um discurso de maior colaboração e mais construtivo."

Em Alagoas, Aécio defendeu que a escolha aconteça até janeiro e disse que "gostaria muito" de ter Ciro Gomes (PSB-CE) -desafeto de Serra- como aliado. Afirmou ser "concreta" a possibilidade de Serra não concorrer à Presidência.

8 envolvidos no mensalão estão entre favoritos na eleição do PT

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A chapa do candidato favorito nas eleições do PT no próximo domingo, José Eduardo Dutra, abriga oito petistas envolvidos direta ou indiretamente no escândalo do mensalão, o maior da história do partido, em 2005.

Uma vitória expressiva de Dutra no primeiro turno da eleição abrirá espaço para que o ex-ministro José Dirceu e os deputados federais José Genoino e João Paulo Cunha, entre outros, assumam cargos na sigla.

Eleição resgata nomes do mensalão

Envolvidos direta ou indiretamente no maior escândalo da gestão Lula estão em chapa favorita para dirigir PT

Vitória expressiva de Dutra já no 1º turno abre espaço para que Dirceu, Genoino, Mentor e Cunha assumam cargos na Direção do partido


José Alberto Bombig
Da Reportagem Local

A chapa do candidato favorito para vencer as eleições no PT domingo que vem, o ex-diretor da BR Distribuidora José Eduardo Dutra (SE), abriga oito petistas envolvidos, direta ou indiretamente, no escândalo do mensalão em 2005, o maior da história do partido.Isso significa que uma vitória expressiva de Dutra já no primeiro turno abre espaço para que eles assumam cargos na direção do PT que terá a missão de eleger a ministra Dilma Rousseff presidente em 2010.

Fazem parte da chapa da corrente CNB (Construindo um Novo Brasil), de Dutra, o ex-ministro José Dirceu, os deputados José Genoino, José Mentor, José Nobre Guimarães e João Paulo Cunha, os ex-deputados Angela Guadagnin e Josias Gomes, e Mônica Valente, mulher do ex-tesoureiro Delúbio Soares, que saiu do PT e é apontado como pivô do caso.

Conforme o regulamento do PT, a chapa vitoriosa compõe o comando com base em sua votação. Se a CNB obtiver 60% dos votos, por exemplo, terá o direito de indicar a mesma proporção de dirigentes nacionais.

Segundo a Folha apurou, ao contrário do que ocorreu nas eleições anteriores -2005 e 2007-, quando os envolvidos no escândalo apoiaram seus candidatos mas firmaram compromissos de não aceitar cargos no partido, neste ano há forte pressão para que assumam postos a partir de 2010.

Dirceu, Genoino, João Paulo e Mentor (todos de SP), réus na ação do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o mensalão -esquema de desvio de dinheiro a parlamentares da base de Lula-, participam da campanha de Dutra e são cotados para ocupar um assento no Diretório Nacional ou na Executiva.

Os dois primeiros já comandaram o PT. Dirceu era o presidente da sigla em 2002, e Genoino estava à frente em 2005, quando o mensalão explodiu.

A composição da chapa da CNB é um indicativo de que o debate ético que marcou as eleições de 2005 e 2007 perdeu força na sigla, ainda que o principal adversário de Dutra, o deputado José Eduardo Cardozo (SP), da corrente Mensagem ao Partido, tenha enfatizado o tema nas disputas anteriores.

Mônica, Gomes e Guimarães, que é irmão de Genoino, já têm assento no atual Diretório Nacional e trabalham para permanecer com três das 84 vagas. Guimarães (CE) ficou famoso após seu ex-assessor Adalberto Vieira ter sido preso em 2005 com US$ 100 mil na cueca.

Guadagnin se notabilizou ao dançar no plenário da Câmara após João Magno ter escapado de ação de cassação por conta do mensalão. Mentor já tem assento na Executiva.

PT quer atrasar Rodoanel para atrapalhar Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Plano é afundar governo estadual em investigações sobre desmoronamento, para retardar obra e evitar que tucano tire proveito eleitoral dela em 2010

Clarissa Oliveira e Julia Duailibi

Depois de passar os últimos dias sob a mira dos tucanos por causa do apagão ocorrido na semana passada, o PT quer aproveitar o desabamento de três vigas nas obras do Trecho Sul do Rodoanel para dificultar os planos do PSDB para a corrida presidencial de 2010. A estratégia, aplicada pelo PT paulista com aval do comando nacional da sigla, é afundar a administração estadual em investigações, para evitar que o governador José Serra (PSDB) capitalize os dividendos eleitorais da obra.

O PT avalia que, se emplacar pedidos de análise técnica e vistorias, Serra não conseguirá entregar a obra na data prevista, em 27 de março, e pode até ter dificuldades para inaugurá-la em 2010. Cotado para concorrer ao Palácio do Planalto, Serra terá de se desincompatibilizar até abril, se decidir disputar. Pelo cronograma, ele entregaria a obra antes de sair. E a implantação do pedágio ficaria a cargo de seu substituto.

O PT tem batido de frente com o Tribunal de Contas da União (TCU) após a paralisação de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), bandeira eleitoral da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O plano é criar uma situação parecida em São Paulo.

A sigla pediu a instauração de auditoria especial ao Tribunal de Contas do Estado e entrou com representação no Ministério Público Estadual. Para completar, o presidente da Comissão de Serviços e Obras Públicas da Assembleia, deputado Simão Pedro (PT), tentará convocar o secretário de Transportes, Mauro Arce, para prestar esclarecimentos. Alguns deputados se movimentaram para ressuscitar um pedido de CPI. Mas o comando do PT já se dizia ciente de que não haverá tempo nem votos para aprovação.

RESPOSTA

Nos bastidores, petistas não disfarçavam a satisfação em usar o episódio para responder aos ataques que receberam após o apagão que atingiu 18 Estados na terça-feira passada. A partir de hoje, o PSDB deve levar o tema do blecaute para o rádio e televisão, nas inserções partidárias a que tem direito.

Mas dirigentes petistas procuraram baixar o tom. "O PT não pode se omitir. Mas não vamos partidarizar essa questão como fizeram conosco", disse o presidente PT-SP, Edinho Silva. Outros levantaram a suspeita de que o acidente do Rodoanel teria resultado da pressa em concluir as obras. "Você não pode imprimir ao cronograma de obras o calendário eleitoral", afirmou o líder do PT na Assembleia, deputado Rui Falcão.

Ciente de que a oposição na Assembleia tentará fazer "barulho", o Palácio dos Bandeirantes decidiu que vai "despolitizar" ao máximo a questão. O acidente deverá ser tratado como um fato "administrativo". Tucanos avaliam que o acidente no Rodoanel tem diferenças com o apagão. A primeira delas diz respeito ao investimento. O PSDB trará à tona a todo momento que a obra trata-se do maior investimento no sistema rodoviário do País, enquanto o apagão teria se dado pela falta de investimento.

Outra diferença está na comunicação. Enquanto o governo federal bateu cabeça para dar uma resposta sobre o blecaute, o governo do Estado teria sido claro. "O próprio governo foi prudente. Enquanto não definir as causas, a obra estará paralisada", disse o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal.

O governo avalia que a oposição na Assembleia não terá votos suficientes para instalar a CPI.
Tampouco conseguirá aprovar a convocação de Mauro Arce. A ida do secretário à Assembleia, no entanto, não está descartada. "Se for convocar apenas para mostrar a habilidade cênica dos deputados de oposição, aí é evidente que não", afirmou o líder do governo na Assembleia, deputado Vaz de Lima (PSDB) sobre a ida de Arce à Assembleia.

No interior, tucano evita falar sobre o assunto

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Sandro Villar

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), tentou desviar a atenção do acidente nas obras do Rodoanel, durante a inauguração de uma usina, em Mirante do Paranapanema, região de Presidente Prudente. Em seu discurso, de cerca de 20 minutos, ele alfinetou o governo Lula, dizendo que a taxa de 8% de desemprego é alta para um país em desenvolvimento. "O emprego não cresce satisfatoriamente e, quando cresce, falta gente qualificada", afirmou ontem.

Questionado sobre o acidente no Rodoanel, na sexta-feira, ele não respondeu às perguntas dos repórteres. O governador também não quis falar sobre as eleições de 2010. Assim como havia feito no discurso, ele preferiu falar das realizações de seu governo. O líder dissidente do MST, José Rainha Júnior, participou da inauguração, mas não deu declarações. "Vim só assistir, sem comentários", disse.

Wilson Figueiredo:: Apagão com autógrafo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

RIO - Já não é necessário o brasileiro, no caso de escapar ileso ao previsível, bater à porta do sobrenatural para saber se está condenado a render-se ao que – seja o que for – o espera de braços abertos. É que as consequências continuam respeitando as causas que as trazem ao mundo, como acaba de demonstrar o último apagão assinado em baixo por ninguém menos que a pré-candidata Dilma Rousseff à sucessão presidencial no (cada vez mais) próximo ano. Já o presidente Lula ficou na dele: invisível e mudo enquanto outros tergiversavam ou se omitiam. O mais apressado foi o ministro Tarso Genro, para quem foi “um exagero considerar isto um apagão” em 18 estados da Federação. Depois que os dois ministros se esborracharam, Lula manifestou-se insatisfeito com as versões meteorológicas. Quer mais. Acertou na mosca, qual seja, a própria candidata.

Não se pode dizer que a ex-ministra de Minas e Energia tenha melhorado sua imagem no episódio. Ao contrário. Precisou de 48 horas para reencontrar o fio do raciocínio e vir a público assim que as luzes foram acesas, para declarar, com empáfia burocrática, que, “para o governo, este episódio está encerrado”. Não está. Não adianta pensar que a candidatura a imunize diante das implicações oblíquas de frases que ficam soltas fora do contexto. Lula foi ao ponto. O apagão é consequência e se, eventualmente, vier outra vez a faltar luz antes da eleição, o eleitor – eterno inconveniente – vai se lembrar. Não deixaram de ser desconsideração por parte da pré-candidata a indiferença pelo eleitor e a ideia fixa no governo anterior que, se não está morto, faz muito bem este papel de se recusar a ressuscitar antes da hora. Um apagão de três horas, com amplitude federal, não se joga no lixo. Para a opinião pública, o apagão não é uma cortina de fumaça.

Dilma falou com o sotaque de ex-ministra de Minas e Energia porque o atual titular da pasta foi mais reticente do que convincente, mas os dois bateram cabeça em vão (ela para sustentar o sofisma de que blecaute e apagão são diferentes). Ela e ele plantaram apenas suspeitas de que há maior conveniência em esconder do que em revelar o que está por trás (e por dentro) do novo apagão. Ficou o estímulo à suspeita de que, mesmo que mal comparando, debaixo do angu tem carne. De tudo que Dilma disse, com modulação de campanha, sobrou a ressalva de que o Brasil “não está livre de blecautes”. Tem o toque de ameaça velada.

Depois de 48 horas, entre a volta da luz e a volta da dona Dilma ao palanque em que passou a morar, o brasileiro tão cedo esquecerá que – conforme ela mesma anunciou – não se repetirá o que se viu e o que não se viu na noite de terça-feira, 10 de novembro de 2009: “Não estamos livres de blecautes”. Estes são para o consumidor o reles e contundente apagão, o aumentativo genérico insubstituível em português ou na grafia nacional da inglesa black out. Não consta que haja um diminutivo de apagão. Ao dar seu “bom-dia, Brasil”, a ministra prometeu que “não vai ter mais apagão”, o que não é suficiente porque ela nega que tenha sido apagão o que deixou o Brasil no escuro por três horas naquela noite tenebrosa. Apagão era no governo passado, neste é o anglicismo blecaute, sem nada a ver com o cantor que dava o grito de abertura do Carnaval no Rio. Lula perdeu a oportunidade de citar, depois de Freud, o velho Chacrinha, para quem “no Brasil nada se cria, tudo se copia”.

O Brasil poderia se dar por feliz se fosse só esta a diferença entre os governos FHC e Luiz Inácio, mas há outras que o tempo se encarregará de mostrar se perdurar o áspero fundo eleitoral que se desenha. Dilma não quer polêmica em torno de assunto que, para ela, está resolvido com uma palavra que veio para ficar, ainda que seja difícil o eleitor entender o que na vida diária separa blecaute de apagão. Dilma quer saber de campanha, não de política – porque “não é por aí” e “não me interessa”. Por onde, então? Qual a razão para despolitizar a questão da energia? Tem governo? Então tem política em jogo. Não havendo apagão (ela insiste que não foi apagão), a Rousseff quer separar o que a imprensa, no seu modo de entender, misturou para confundir a opinião pública, que abriu os olhos na escuridão mas não viu a ministra durante o blecaute. “Nós (...) não controlamos as chuvas, raios e ventos”, declarou como se desembarcasse da Arca de Noé. Por que não criar um ministério meteorológico? O novo apagão guarda no escuro verdades que valem tanto quanto mentiras verossímeis, mas ainda longe de verdadeiras. A Rousseff tenta ser o trovão que precede as fatalidades históricas.

Wilson Figueiredo é jornalista.

Ricardo Linhares:: Candidata das trevas

DEU EM O DIA

Dilma perdeu uma boa oportunidade de ficar calada ao descartar apagão

Rio - Há duas semanas, a ex-ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff garantiu: “Nós também temos uma outra certeza, que não vai ter apagão”. Semana passada, um apagão nunca antes visto na história deste País atingiu 18 estados.

A atual ministra da Casa Civil e favorita do presidente Lula para sucedê-lo perdeu ótima chance de ficar calada. Por que se manifestou? Porque é arrogante e prepotente. Segue a estratégia de Lula.

O objetivo é comparar a gestão atual com a de Fernando Henrique Cardoso. “Agora, nós pegamos o gosto. E tudo o que queremos é comparar”, disse Dilma.

Esse tipo de declaração revela sentimento de inferioridade, mentalidade tacanha e ressentida. Pessoas confiantes na própria capacidade não precisam tecer comparações. Quem se preocupa em comparar-se aos outros é inseguro e tem baixa auto-estima. Em vez de olhar para o futuro com firmeza e determinação, fica preso ao passado.

Pessoas recalcadas têm baixa valorização de si mesmo e sempre se sentem excluídas. Olham para o mundo com rancor e cobrança. Consideram-se vítimas do sistema. Acham que todos os meios são válidos para tirar desforra. Não há fins nobres, só revanchismo e desejo de levar vantagem.

Quando o PT chegou ao poder, promoveu uma corrupção de proporções inéditas, enquanto loteava os cargos públicos entre seus militantes, enraizando-se na máquina administrativa, misturando governo e partido, sindicalizando o Estado brasileiro.

O apagão foi uma eventualidade. O vale-tudo armado por Lula para emplacar a candidatura de Dilma e continuar no poder é que pode mergulhar o País nas trevas.

Autor de novelas

BC: diretor que contou falha de Mantega cai

DEU EM O GLOBO

No primeiro dia útil após a publicação de entrevista em que revelava bastidores do governo na crise e contava que o ministro Mantega dera ao mercado informação estratégica, o diretor de Política Monetária, Mário Torós, deixou o BC.

Diretor do BC que revelou falha de Mantega cai

Após Mário Torós dizer que ministro tornou pública informação estratégica na crise, banco anuncia sua substituição

Patrícia Duarte

BRASÍLIA e RIO. Sob uma enxurrada de críticas do Ministério da Fazenda e de integrantes da cúpula do Banco Central (BC), o diretor de Política Monetária da instituição, Mário Torós, teve sua saída da instituição anunciada ontem, três dias após escancarar os bastidores da atuação do governo na crise internacional, que se agravou em setembro de 2008. Para seu lugar, foi indicado o atual presidente da empresa de seguros Aliança do Brasil, Aldo Luiz Mendes, com extensa atuação no setor público e na área de finanças.

O nome de Aldo Mendes será levado oficialmente hoje pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, ao presidente Lula para aprovação. Em seguida, terá de receber o aval do Senado.

Até lá, Torós fica no cargo — mas como “figurante”.

A saída de Torós possivelmente será acompanhada por duas outras trocas na direção: Meirelles, que se prepara para voltar à política nas eleições de 2010, deverá sair em abril e ser sucedido por Alexandre Tombini, atual diretor de Normas e um dos principais interlocutores do BC no governo.

O outro a se despedir deverá ser Mário Mesquita, diretor de Política Econômica.

Em tom de despedida, Torós fez retrospectiva da crise Mas a forma abrupta pela qual Torós saiu — em nota, o BC só informou que foi a “pedido, por motivos pessoais” — deve atrasar os planos de Mesquita. A avaliação é que é preciso baixar a poeira e mostrar que a diretoria do BC está consolidada.

A saída de Torós vinha sendo articulada há tempos, uma vez que o diretor não escondia a vontade de voltar à iniciativa privada e de ficar perto da sua família, em São Paulo. Ele assumiu a diretoria em abril de 2007. Mas a demissão foi precipitada pelas declarações bombásticas que deu em entrevista ao jornal “Valor Econômico” na sexta-feira da semana passada.

Torós abriu e-mails trocados com Meirelles e colegas de diretoria; disse que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tornou públicas informações estratégicas para segurar o câmbio na crise, em outubro de 2008; e ainda revelou que a presidência do BB foi avisada de que o banco Votorantim passava por problemas — a instituição teve 49% vendidos ao BB meses depois.

Também pegou mal o fato de ter excluído do “time de combate à crise” Alexandre Tombini.

Tombini, segundo interlocutores, foi uma importante cabeça no grupo que articulou o enfrentamento da crise, com acesso a outras esferas do governo, como o Ministério da Fazenda.

Ele e a cúpula do BC consideraram as declarações “inadequadas e mentirosas”, abrindo uma crise na instituição.

Meirelles, que ficou muito irritado com Torós, não sabia da entrevista. E foi à procura de um substituto. Mendes, que é funcionário de carreira do Banco do Brasil, já vinha sendo sondado há alguns meses pelo BC. Com ampla experiência no mercado de capitais — era vice-presidente de Finanças do BB até abril — aceitou o convite ontem.

Mendes não tem ligações políticas, mas foi braço direito de Antonio de Lima Neto quando este era presidente do BB. Durante a crise, Lula não gostou da atuação da estatal e demitiu Lima Neto para colocar no seu lugar Aldemir Bendine. Mendes, então, se afastou e aceitou a presidência da Aliança do Brasil — empresa controlada pelo BB.

Ele sempre foi elogiado pelo mercado por sua postura séria e técnica ao conduzir os negócios da estatal. Mendes encabeçou, por exemplo, as negociações do BB na compra da Nossa Caixa.

Antes do anúncio de sua demissão, Torós participou de um seminário no Rio para comemorar os 30 anos do sistema Selic do BC e da Anbima, mas se recusou a dar entrevistas. Em sua apresentação, fez uma retrospectiva da atuação do BC na crise, em tom de despedida: — Conseguimos mostrar que podemos utilizar instrumentos monetários do Brasil para mostrar a resiliência da economia e fazer com que aproximemos o sistema financeiro do BC do centro real da economia. Esse foi o grande teste pelo qual o BC passou, e acho que conseguimos atingir nossos objetivos.

Colaborou Juliana Rangel

Primeira queda de energia foi 9 horas antes do apagão

DEU EM O GLOBO

Relatório enviado ao Ministério Público Federal, preparado por técnicos da Usina de Itaipu, mostra que raios caíram na região de Itaberá (SP) levando ao desligamento da primeira linha de transmissão às 13h31m. Ou seja, nove horas antes do apagão que atingiu 18 estados e o Paraguai no dia 10. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) ordenara, um minuto antes, que Itaipu reduzisse a geração de energia até 19h15m, quando a usina voltou a operar. Mas nada disso impediu o blecaute às 22h13m. O governo mudou de estratégia e agora aceita que a ministra Dilma Rousseff vá ao Congresso falar do apagão.

Primeiro raio caiu 9 horas antes

Relatório de Itaipu para Ministério Público detalha eventos entre desligamento de linha e apagão

Geralda Doca e Gustavo Paul

BRASÍLIA

Os problemas nas linhas de transmissão de Furnas que se ligam à hidrelétrica de Itaipu começaram exatamente oito horas e 42 minutos antes do blecaute que apagou 18 estados e colocou no escuro cerca de 60 milhões de brasileiros na semana passada. O relatório de operações de Itaipu relativo ao dia 10 de novembro revela que às 13h31m foi desligada a primeira linha de transmissão no trecho entre Itaberá e Tijuco Preto, no interior de São Paulo, “supostamente (por causa) de descarga atmosférica”. O problema, que não chegou a abalar o suprimento nacional, foi solucionado 25 minutos depois: às 13h56m a linha foi religada. O apagão ocorreu às 22h13m.

O relatório de Itaipu, enviado ontem ao Ministério Público Federal, mostra ainda que havia uma forte preocupação por parte do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável pela coordenação do abastecimento energético do país, com chuvas, raios e ventos no trecho de mil quilômetros entre Itaipu e a subestação de Tijuco Preto.

O relatório afirma que às 13h30m — um minuto antes de cair a linha de Furnas — o órgão determinou a redução da geração da usina em 1,4 mil megawatts (MW) “em razão de descargas atmosféricas ao longo do Sistema de 765 kV (quilovolts)”. Essa é a tensão máxima das linhas de Furnas que partem de Itaipu. A potência média da usina caiu de 10,6 mil MW para 9,2 mil MW.

A redução de potência é equivalente à produção de duas turbinas da usina. De acordo com técnicos, a redução da carga é uma medida preventiva corriqueira.

Com a redução da energia enviada, o ONS quer evitar justamente que problemas nas linhas de transmissão levem ao efeito dominó em todo o sistema e terminem num apagão nacional.

Documento indica curto-circuito

A preocupação do ONS com as condições do tempo era grande. A medida de quarentena foi longa: durou cinco horas e 45 minutos. Só às 19h15m o órgão determinou a volta do sistema à normalidade. A geração voltou para 11.780MW, próxima ao teto de 12.600MW. Duas horas e 58 minutos depois, o blecaute de proporções nacionais escureceu o país.

As causas do apagão, segundo relatório enviado ontem pelo Ministério de Minas e Energia ao Ministério Público Federal, foram “curtoscircuitos próximos à subestação de Itaberá, em São Paulo, (que) provocaram o desligamento de três linhas de alta tensão que transportavam energia da usina de Itaipu e do sistema Sul. No momento da interrupção, a região enfrentava descargas atmosféricas, ventos e chuvas intensas”.

O procurador da República Marcelo Ribeiro de Oliveira, responsável pelo processo administrativo do Ministério Público Federal, que investiga as causas do apagão na semana passada, afirmou que pediu mais dados ao ONS para esclarecer por que o órgão determinou à Itaipu reduzir o despacho de energia naquele mesmo dia.

— Quero saber por que o ONS mandou reduzir mais cedo e por que mandou voltar no início da noite.

Talvez possa ser pelo excesso de demanda (horário de pico de consumo nas casas) — disse Oliveira, acrescentando, no entanto, que isto é uma hipótese apenas. — Há uma informação adicional de que houve um abalo, uma queda na rede por volta das 13h, na mesma região onde mais tarde houve o problema.

Sem mais dados, porém, ele admite que não é possível ainda fazer uma ligação entre os problemas ocorridos mais cedo e o apagão: — Sem uma avaliação técnica e objetiva nos autos, não podemos chegar a uma conclusão.

PF deve ficar fora de investigação

Oliveira afirmou que, de acordo com os dados enviados por Itaipu, o problema não foi originado na usina.

Ontem, a assessoria da hidrelétrica limitou-se a informar que cumpriu rigorosamente todos os pedidos feitos pelo ONS.

O procurador aguarda ainda documentos a serem enviados pelos órgãos responsáveis do setor (Agência Nacional de Energia Elétrica e ONS), além dos agentes que atuam na transmissão e distribuição de energia elétrica. Além do pedido de ajuda das universidades (USP e UFRJ), o procurador enviou ontem ofício solicitando informações a Cemig e Furnas.

Ao contrário do que declarou na semana passada, os ministros de Minas e Energia, Edison Lobão, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, o governo não considera que o apagão é um caso encerrado. Está marcada para hoje a reunião do grupo de trabalho coordenado pelo Ministério de Minas e Energia para acompanhar os estudos e as análises das causas do blecaute.

Na sexta-feira, será realizada a reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) para fechar todos os dados recebidos do grupo.

Este comitê vai acompanhar e avaliar a continuidade e a segurança do suprimento energético em todo o país.

O Ministério da Justiça não vê indícios de crime no apagão e, por isso, a Polícia Federal não deverá entrar no caso, como solicitou o senador Romeu Tuma (PTB-SP). A avaliação, segundo a assessoria de imprensa da pasta, é do secretárioexecutivo, Luiz Paulo Barreto, que recebeu ontem o documento enviado pelo Senado. A assessoria informou que o caso ainda será levado ao ministro da Justiça, Tarso Genro, que retorna hoje a Brasília.

COLABOROU Mônica Tavares

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