terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Polícia reprime opositores de Chávez

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Manifestantes protestavam contra suspensão da transmissão da RCTV

CARACAS - Pelo menos duas cargas de gás lacrimogêneo e uma série de disparos de balas de borracha feitos pela polícia metropolitana romperam ontem o caráter pacífico das manifestações que grupos pró e contra o presidente venezuelano, Hugo Chávez, promovem desde a manhã de sábado em Caracas.

Uma manifestação de estudantes da oposição, que pretendiam protestar na frente da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel) contra a retirada do ar da emissora Rádio Caracas Televisión (RCTV), foi dispersada pelos policiais.

Pelo menos um estudante, Ronny Belo, da Universidade Católica Andrés Bello, foi ferido no rosto no confronto com a polícia. Outros quatro manifestantes opositores tiveram de receber atendimento médico por causa da inalação do gás. O incidente ocorreu na Avenida Rio de Janeiro, adjacente ao local onde se localiza a Conatel. O comandante da operação policial, Manuel Romero, justificou a intervenção alegando que ela foi necessária para evitar um choque entre os estudantes e um grupo de chavistas que ocupava a frente do edifício do órgão.

Na frente da Conatel, estava uma facção chavista radical conhecida como União Popular Venezuelana (UPV), liderada pela ativista Lina Ron, a quem o próprio Chávez qualifica de "incontrolável". Em agosto, Lina foi presa por liderar um ataque com bombas caseiras à emissora Globovisión, também vinculada à oposição.

Ontem, ela caminhava aos berros entre os ativistas da UPV, andando de um lado para o outro, dirigindo insultos e gritos de "burgueses" a jornalistas que queriam entrevistá-la, incluindo o do Estado.

Depois de a oposição ter colocado nas ruas milhares de pessoas para protestar no sábado contra as políticas de Chávez, o governo respondeu promovendo também uma maciça manifestação no mesmo dia.

Os opositores responsabilizam as políticas chavistas pelo quase colapso do setor elétrico e pela situação econômica, agravada pela crise internacional, pela queda do preço do petróleo e por uma inflação acima de 25% em 2009.

Apesar de choques não terem sido registrados, os ânimos se exaltaram à noite, quando o ministro de Obras Públicas e diretor da Conatel, Diosdado Cabello, exigiu das operadoras de TV a cabo que retirassem do ar emissoras "que não estavam cumprindo a Lei de Responsabilidade Social de Rádio e Televisão". Além da RCTV, cuja concessão para a transmissão por sinal aberto não foi renovada por Chávez em maio de 2007, outras cinco emissoras também foram retiradas da grade de todas as operadoras de TV por assinatura.

Na semana passada, a Conatel tinha estabelecido que a RCTV e as outras emissoras punidas eram canais "nacionais", uma vez que a maior parte de sua programação era produzida na Venezuela.

Com isso, essas emissoras seriam obrigadas a submeter seus programas à classificação etária governamental, exibir o hino nacional venezuelano à meia-noite e integrar as redes nacionais convocadas pelo governo. No sábado, a RCTV ignorou a ordem para entrar em cadeia nacional para exibir parte do discurso de Chávez aos militantes de seu partido. R. L.

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