terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Presidente eleito do Chile quer união nacional

DEU EM O GLOBO

Sebastián Piñera diz que modelos de esquerda e direita estão ultrapassados e acena a partidos derrotados

Cristina Azevedo Enviada especial

SANTIAGO. Numa entrevista em que elogiou os presidentes da França e do Brasil, Sebastián Piñera afirmou que os modelos de esquerda e direita estão ultrapassados.

O presidente eleito do Chile defendeu um governo de união nacional e disse que as portas estão abertas a integrantes da Concertação — a coalizão de esquerda que governou o país por 20 anos, desde a sua redemocratização.

No alto do Cierro de Santa Lucía, um parque de onde se vê boa parte do Centro de Santiago, o presidente eleito deu sua primeira entrevista à imprensa estrangeira. Piñera, que obteve 51,6% dos votos, contra 48,3 do ex-presidente Eduardo Frei, destacou a necessidade de reformular a Codelco, a companhia estatal de cobre, o principal produto do país. Ele afirmou que ela continuará como uma empresa pública, mas que buscará mecanismos para melhorar sua produtividade.

Seu governo quer mudar o regime que destina 10% das vendas do cobre ao financiamento das Forças Armadas, mas ele afirmou que qualquer modificação relacionada à empresa deverá passar por um grande acordo nacional. Além disso, anunciou metas ambiciosas: superar os US$ 24 mil per capita, derrotar até 2014 a pobreza extrema e até 2018 a pobreza.

Piñera elogia Lula: ‘É parte da verdadeira democracia’ Candidato da Coalizão pela Mudança, Piñera marca a volta da direita ao poder no Chile pelo voto após 52 anos. Para ele, os países da América Latina adotaram dois caminhos: um no qual incluiu Cuba, Venezuela e Bolívia, e outro com Brasil, Colômbia, México e o próprio Chile.

Ele reconheceu que tem diferenças com relação à maneira como a Venezuela lida com seus problemas públicos, mas foi cauteloso e defendeu a autodeterminação dos países. Para ele, as diferenças com o casal Kirchner não serão obstáculo para o relacionamento entre os dois países e, embora ainda não tenha as viagens internacionais definidas, colocou Argentina e Brasil na lista de “primeiríssimas prioridades”.

— Os conceitos de direita e esquerda foram perdendo significado — disse Piñera, que se define como de centro-direita.

— Lula pode ser de esquerda, mas em minha opinião é parte da verdadeira democracia.

Perguntado se a sua vitória contra o candidato da popular presidente Michelle Bachelet, a quem recebeu ontem em sua casa, poderia incentivar a oposição brasileira, ele respondeu: — A presidente Bachelet é muito popular, e o presidente Lula é muito popular. Quando estivemos juntos, eu e o presidente Lula conversamos sobre isso. Mas não se pode confundir a popularidade de um presidente com a necessidade de mudança de um país — disse ele. — Conheço o projeto de mudança, sei que a oposição ainda não definiu seu candidato. Conheço os dois candidatos, particularmente (José) Serra, mas o Brasil terá que buscar o seu próprio caminho.

Presidente eleito é comparado a Berlusconi O presidente eleito — que a imprensa internacional costuma associar a Silvio Berlusconi, por ser bilionário e ter uma emissora de TV — deixou clara a sua admiração por Nicolas Sarkozy, da França, também de direita, e afirmou que espera buscar uma integração maior com a Europa.

A eleição de Piñera abre a possibilidade de um relacionamento melhor com o Peru, país com o qual o Chile tem uma disputa territorial no tribunal de Haia. O futuro presidente chileno disse que conversou pela manhã com o presidente Alan García e que buscará uma agenda de futuro com o vizinho.

Entre o pessoal de campanha, que agora passa a se dedicar à transição, surgem alguns indícios de como será o governo Piñera.

A Coalizão pela Mudança terá que nomear 3.300 pessoas para cargos. Sua equipe, no entanto, não teme radicalizações.

— A CUT, que faz as greves, representa apenas 10% dos trabalhadores — disse o coordenador estratégico da campanha, José Miguel Izquierdo.

O coordenador disse que o novo governo poderá ser mais duro nas negociações com sindicatos, indicou que Piñera deve se aproximar mais do Grupo do Rio do que da Unasul. Ele esclareceu que o governo poderá incluir ex-integrantes da equipe do ex-candidato Marco EnríquezOminami e atrair integrantes da Democracia Cristã.

A crise na Concertação se traduziu na tomada do prédio da Democracia cristã por um grupo de 50 integrantes jovens.

Eles só pretendem sair após renúncia o presidente do partido, Juan Carlos Latorre.

— Queremos garantir que o partido não vá para a direita — disse Hector Gárate, presidente da Juventude DecmocrataCristã.

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