domingo, 21 de fevereiro de 2010

Dilma, o PT e o "depois"::Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O PT fala uma língua, a sua candidata à Presidência fala outra. Faz sentido. Dilma Rousseff louva sua história de resistência à ditadura militar, mas trata de garantir o alegre apoio dos banqueiros e grandes empresários, que se deram bem no governo petista. E o partido se empenha em manter viva a fé das bases sindicais, estudantis, agrárias, todas devidamente dóceis ao poder na era Lula.

No seu quarto congresso, aos 30 anos, o PT aprovou o apoio integral ao programa de direitos humanos, ao imposto sobre grandes fortunas, à maior liberdade para as invasões do MST, à jornada de 40 horas semanais e ao fim do "monopólio" dos meios de comunicação, cultura e entretenimento.

Dilma não abriu a boca sobre nenhum deles no seu discurso. Seguiu a máxima de Lula, de unir "a cabeça e a emoção", e falou de Minas, onde nasceu, do Rio Grande do Sul, onde se fixou, de filha, genro, o futuro neto (ou neta), de companheiros que caíram na resistência à ditadura. E expôs o seu delicado equilíbrio ao se comprometer com os pequenos e os grandes produtores rurais -sempre eleitos como cruéis inimigos pelas bases petistas.

Como previsto, o "happening" foi para lançar o futuro, mas festejou principalmente o presente: Lula foi a grande estrela nos discursos, nos filmes, nas fotos, nos aplausos. Aliás, registre-se que as estrelas que haviam sumido em 2006 estão de volta. Com toda a força.

A dúvida é quanto ao depois. Na campanha, fala-se o que convém. No governo, faz-se o que se quer e o que se pode. Se Dilma for presidente, ela vai seguir o que o PT prega ou o que a candidata hoje diz? A resposta está nas alianças que fizer e também na sua biografia, nas suas crenças, nos seus traumas, na sua personalidade. Lula não se arvora "de esquerda" e foi muito hábil ao equilibrar interesses e fazer prevalecer os seus. Mas não custa lembrar:

Dilma não é Lula.

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