domingo, 7 de março de 2010

Prestes: 20 anos sem o Cavaleiro da Esperança

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Morto em 7 de março de 1990, aos 93 anos, Luís Carlos Prestes ainda hoje é admirado pelos seus feitos e coragem, e também por seus erros e acertos

Paulo Augusto

Quando Luís Carlos Prestes morreu, há exatos 20 anos, o mundo com ideais comunistas – com o qual ele sonhava – estava em plena derrocada. O Muro de Berlim já tinha sido derrubado e a União Soviética estava em contagem regressiva para o seu fim. No Brasil, o homem que um dia fora chamado de “Cavaleiro da Esperança” – alcunha recebida durante a Coluna Prestes – se encontrava afastado do velho Partidão, o PCB, e o País estava prestes a empossar seu primeiro presidente eleito pelo voto direto em 30 anos, Fernando Collor. A realidade naquele 7 de março de 1990 era muito diferente do que um dia sonhara o gaúcho de Porto Alegre, nascido no distante ano de 1898. Sua trajetória, no entanto, ficou perenemente registrada na história brasileira do século 20.

“Prestes foi um dos maiores brasileiros do século 20. Teve uma dimensão que comporta erros e acertos e foi um homem que participou ativamente dos grandes movimentos que ajudaram a construir a história do Brasil”, destaca o presidente nacional do PPS e ex-presidente do Partido Comunista Brasileiro, Roberto Freire.

Entre os principais acertos do líder comunista, na visão de Freire, está justamente o primeiro episódio que transformou Prestes numa lenda, a Coluna Prestes. “Era o início de sua trajetória, um período em que o País precisava superar as limitações da República Velha e que sua atuação foi muito importante”, opina. Ao longo de dois anos, os então militares Luís Carlos Prestes e Miguel Costa lideraram uma incrível marcha por mais de 24 mil quilômetros tentando conquistar apoio da população a se engajarem em lutas contra a política vigente, em busca do voto secreto e a defesa do ensino público, entre outras exigências.

“Prestes era um homem de idealismo. Não se pode julgar como bom ou mau por conta de sua ideologia. Ele teve uma grande importância na história do Brasil, especialmente por conta de sua Coluna”, avalia o ex-senador pelo PSD em Pernambuco, Jarbas Maranhão. Hoje com 93 anos, Maranhão foi colega de Prestes na Assembleia Constituinte de 1946.

Prestes tinha menos de 30 anos quando liderou a marcha pelo País e, naquele momento, ainda não carregava consigo o ideário comunista, conforme afirmou em entrevista exibida em 1986 – quatro anos antes de sua morte –, no programa Roda Viva, da TV Cultura. “Fizemos a marcha sem conhecer comunismo ou a União Soviética, mas precisávamos mudar aquela situação. Foi importante, mas ela não iria mudar nada. Só encontrei uma explicação lógica para mudar a situação depois, através do marxismo e leninismo”, contou.

Já com a “inspiração marxista”, Prestes liderou outro episódio marcante, na década seguinte – este, por muitos considerado o seu maior equívoco: a Intentona Comunista. “Em 1935 ocorreu um equívoco que eu não diria ter sido de Prestes, e sim do PCB. Não se chega ao socialismo tomando quartéis. Ali, abortou-se o grande movimento popular que surgia”, pondera o atual secretário-geral do PCB, Ivan Pinheiro.

A Intentona Comunista foi o nome dado à tentativa do Partido Comunista, em nome da Aliança Libertadora Nacional (ALN) – organização criada com o intuito de lutar contra o que seria uma “influência fascista” no Brasil –, de derrubar o governo de Getúlio Vargas. Foi na organização deste episódio que Prestes conheceu sua primeira companheira, a alemã comunista Olga Benário, com quem teve sua primeira filha, Anita Leocádia Prestes. Olga foi morta num campo de concentração nazista, em 1942.

Vivendo clandestinamente, depois preso, Luís Carlos Prestes foi anistiado em 1945. Com a volta à legalidade do PCB, seu maior líder foi eleito senador e participa da Assembleia Nacional Constituinte em 1946. Mesmo sem concordar com a maioria dos termos da Carta, o comunista a assinou.

ROMPIMENTO

A fase final da vida de Luís Carlos Prestes, pós-ditadura militar, foi marcada pelo afastamento do ex-líder comunista de suas origens. Para Prestes, o PCB já não era mais o mesmo. O militante aproximou-se do PDT de Leonel Brizola e o apoiou na eleição presidencial de 1989, mesmo com o PCB tendo candidato, Roberto Freire. “O que está aí, PCB, PCdoB, MR-8, não tem nada a ver com marxismo. Trata-se de uma podridão oportunista”, chegou a dizer, durante a entrevista ao Roda Viva.

“Hoje eu vejo o afastamento de Prestes do partido de uma maneira mais madura. Ele fez uma opção, ao meu ver, equivocada. Mas ele deixou um legado de combatividade e defesa de uma sociedade mais justa”, diz Pinheiro. Roberto Freire acredita que, mesmo quando errou, “Prestes errou com dignidade”. “Independente desses equívocos, Prestes é uma pessoa que faz falta ao Brasil. Lembrar Prestes pode fazer as pessoas pensarem que o Brasil pode ser um País melhor”, diz.

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