sábado, 15 de maio de 2010

Dilma tenta explicar, com dificuldade, a comparação com Mandela

DEU EM O GLOBO

Ontem, pré-candidata foi tanto a uma missa como a um ritual de candomblé

Maria Lima

BRASÍLIA e RIO. O que a presidenciável petista Dilma Rousseff tem a ver com o líder sul-africano Nelson Mandela, comparado com ela pelo presidente Lula, anteontem à noite, durante o programa partidário do PT? A oposição chamou a comparação de um escárnio, e nem mesmo Dilma soube explicar direito: Acho que o presidente queria destacar duas características similares das ditaduras: que elas deixam pouca opção para as pessoas. Então quando você, de fato, quer combater as ditaduras efetivamente, não tem muitas opções e recorre aos meios de que dispõe naquele momento.

Perguntada se considerava proporcional e legítima a comparação, disse: Se você for olhar o tempo de prisão, não. Ele ficou 27 anos e eu fiquei 3 anos e meio. Mas o sentido não é esse.

O sentido é o de comparação: o que se faz diante de ditaduras.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, também rebateu as críticas sobre a comparação feita por Lula das trajetórias de Dilma e Mandela.

Hoje estou vendo líderes da oposição dizendo que a comparação com Mandela foi um escárnio. Os falsos liberais se esquecem de um ensinamento básico de um dos principais formuladores do liberalismo, que foi Voltaire. Ele dizia: Não concordo com nada do que dizem, mas defenderei até a morte o direito de dizê-lo. Podem achar absurda a comparação, mas não podem tirar de Lula o direito de fazê-la.

Sem entrar na polêmica da comparação que Lula fez, no programa do PT, sobre a história de Dilma e Mandela, o fundador da Educafro, frei David Santos, disse acreditar que o governo e os pré-candidatos podem estar percebendo que estão omissos em relação à questão do negro: A fala de Lula ligando Nelson Mandela a Dilma Rousseff é uma tentativa de atender à pressão da comunidade negra.

Para nós, se todos os políticos tentassem se espelhar em Mandela, teríamos um país mais ético, mais honesto e mais respeitável com a pluralidade de seu povo.

Em tempo de campanha, proteção nunca é demais. Dilma Rousseff começou o dia ontem recebendo a bênção de d. Claudio Hummes, enviado do Papa Bento XVI ao Congresso Eucarístico Nacional para participar da Missa dos Excluído , e terminou o dia, de visual novo, numa bênção de mães de santo, conhecidas no candomblé como Ialorixás.

Ao lado dos católicos, Dilma afirmou que é católica, apesar de há cerca de, três meses, em entrevista à revista Época, ela ter dito que não tinha uma religião específica.

Ao final da missa, Dilma falou de assuntos polêmicos para a igreja católica, como o aborto, que chegou a comparar à extração de um dente.

Eu não acredito que mulher alguma queira abortar. Não acho que ninguém quer arrancar um dente e ninguém tampouco quer tirar uma vida de dentro de si disse.

Ela cometeu algumas gafes evidenciando sua pouca intimidade com a Igreja.Trocou os nomes e chamou por três vezes o cardeal Hummes de d.Paulo. Também classificou o XVI Congresso Eucarístico Nacional de um congresso internacional, que mostra a importância da religião no Brasil. Perguntada se era católica, Dilma foi enfática: Eu sou. Eu fui educada no Colégio Nossa Senhora de Sion. Na minha época, a missa era em latim.

Depois a missa evoluiu e ficou mais bonita.

Novamente perguntada sobre a partir de que momento passou a ser católica e ir à missa, disse: Uai, no mesmo momento em que cada um dos brasileiros.

A gente nasce, é batizado, crismado, estuda em colégio de freira e, ao longo da vida, você vive as suas experiências.

Eu acho que é esse respeito que você deve ter pelo Deus de todas as religiõe afirmou.

Ao lado do chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, Dilma não comungou mas ficou ajoelhada, abraçou fiéis durante ritos da comunhão e não conseguiu escapar mais uma vez de ter falar sobre o aborto. Disse que, por uma questão de foro íntimo, considera uma violência. E que do ponto de vista político, é um problema de saúde pública. Ao final da missa, ela ainda defendeu o projeto Ficha Limpa, mas lamentou que ele não possa ser aplicado nesta eleição. Disse que o acordo na Câmara era consistente.

Foi a homenagem a Oxalá que levou Dilma ao ritual de candomblé à noite.

Na cerimônia, realizada durante encontro do Coletivo de Negras e Negros do PT contra o racismo num hotel de Brasília, ela recebeu passes e um jarro de barro com água de cheiro. Os organizadores do evento pediram que ela não usasse roupas vermelhas a cor do PT ou pretas. Ela foi de branco, com um colar azul, que combinou com o novo visual: cabelos cortados, escovados e com mechas bem louras a la Marisa Letícia e Marta Suplicy.

Ao som de tambores e de cantorias, Dilma foi convidada a participar de uma pequena procissão organizada pelo grupo de candomblé da Bahia Axé Opá Afonjá. Além da botija com água de cheiro ganhou um berimbau e uma fita de Nosso Senhor do Bonfim no pulso.

Em seu discurso, Dilma prometeu aprofundar a política de cotas, inclusive para doutorado, e ampliar a entrada de diplomatas negros no Itamaraty.

Vamos fazer mais políticas afirmativas e de cotas, queiram eles ou não afirmou ao prometer também batizar um outro navio da Petrobras com o nome de Zumbi dos Palmares.

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