sábado, 8 de maio de 2010

Em Rousseau e a ciência política de seu tempo, Robert Derathé :: Haron Gamal*

DEU EM IDEIAS & LIVROS / JORNAL DO BRASIL

Obra analisa as origens do pensamento de Rousseau

Em Rousseau e a ciência política de seu tempo, Robert Derathé mapeia a origem do pensamento do autor do Contrato social. O pesquisador compara as ideias de Rousseau sobre as instituições civis e sobre a ciência política de seu tempo à constituição de Genebra, uma espécie de governo “democrático” do século 18. É discutida a escola de direito natural. Derathé mostra como o pensador do iluminismo francês entendeu essa escola e não a refutou totalmente, mas acabou por aproveitar alguns aspectos dela na sua concepção de sociedade civil: “Na realidade, foi nos 'livros científicos', isto é, nos tratados de direito natural, que Rousseau extraiu o essencial de sua teoria política”.

No segundo capítulo, chamado “As leituras políticas de Rousseau”, são apontados Grotius, Pufendorf, Burlamaqui, Barbeyrac, Althusius como escritores jurisconsultos que exerceram influência sobre o autor de Emílio; Hobbes, Locke, Jurieu são outros enumerados como autores políticos que também estiveram presentes na formação cultural do pensador e teórico político. É interessante observar como o terceiro capítulo trata a questão do “estado de natureza” e “a lei natural”, porque é daí que parte a concepção de soberania. O povo, ao ver um monarca subir ao poder, caso não resista a ele, estaria concedendo-lhe o direito de governar em seu nome. Esse argumento foi utilizado por quase todos os autores que defendiam a “lei natural”. O estado de natureza implicaria num modo de vida hipotético, em que o homem não pertenceria a nenhum grupo humano que tivesse algum tipo de liderança ou mesmo determinadas regras de convivência e poder.

Jean-Jacques tornou-se um nome duplamente discutido. Ao mesmo tempo em que é um autor inaugural para os estudos de ciências políticas e deu origem a concepções de governo que serviram à Revolução Francesa, seu nome despertou o sentimento de repulsa naqueles partidários do direito divino e nos contrarrevolucionários, estes associados a uma sociedade ainda de lastro aristocrático. É indiscutível a influência do autor do Contrato social na formação de uma sociedade baseada no saber leigo, que mostra o esclarecimento como meio de se obter uma sociedade mais justa. Se não foi isso o que aconteceu, se setores da sociedade contemporânea veem no acirramento dos conflitos e em outras consequências nefastas, como até mesmo a falência do mundo civilizado, a raiz de todo o mal em pensadores como Rousseau (incluindo como extensão o crescimento do militarismo e invenção de novas armas), o pensador de Genebra não pode ser responsabilizado nem sua tese deve arcar com todas os problemas de um mundo que passou a ter no saber a mola mestra de todo o progresso.

Talvez O contrato social, ao teorizar sobre a passagem do homem natural ao homem civilizado, tenha dado margem a que se pensasse não apenas no modo como esse contrato se realizaria mas em aspectos imanentes ao modo de vida em sociedade, envolvendo a complexidade advinda da hipotética perda da vida natural para social. Foi como produzir faísca num terreno altamente explosivo.

* Professor e doutor em literatura brasileira pela UFRJ

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