quarta-feira, 14 de julho de 2010

Desde 1995, 13 milhões saíram da miséria



DEU EM O GLOBO

Ipea: desigualdade caiu em todo país, à exceção do Distrito Federal. Para analista, isso reflete expansão do funcionalismo

Danielle Nogueira

Entre 1995 e 2008, durante os governos Fernando Henrique Cardoso e Lula, o Brasil reduziu em 12,8 milhões o número de pessoas vivendo na pobreza, segundo estudo divulgado ontem pelo Ipea. Outros 13,1 milhões saíram da miséria. A redução da pobreza veio acompanhada por uma melhora na desigualdade de renda em todos os estados do país, à exceção do Distrito Federal. O Índice de Gini (que mede a desigualdade e, quanto maior, pior) subiu de 0,58 para 0,62 no Distrito Federal nesse período. Na média nacional, o Gini caiu de 0,6 para 0,54 entre 1995 e 2008.

Ironicamente, a região que apresentou o maior crescimento econômico no período foi também a de pior desempenho nos indicadores sociais. No Centro-Oeste, houve alta média anual de 5,3% no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) per capita. Mas a taxa de pobreza na região caiu apenas 0,9% ao ano, o ritmo mais lento em todo o país. Por outro lado, o Sul viu o percentual de pobres cair 3% ao ano, apesar de seu PIB per capita ter avançado apenas 2,3% em média, por ano, no período - a menor expansão econômica registrada.

Sul desbanca Sudeste e é região com menos pobres

O Ipea considera miseráveis - ou que vivem na pobreza extrema - pessoas com renda inferior a um quarto de salário mínimo. Já pobres são os que ganham menos de meio salário mínimo. Atualmente, o piso nacional está em R$510.

Para o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, os números do Sul e do Centro-Oeste reforçam a tese de que crescimento da economia não se traduz necessariamente em mais emprego e renda.

- No Sul, predomina a agricultura familiar, que emprega mais gente e cuja produção é voltada para o mercado interno. No Centro-Oeste, são grandes propriedades voltadas para o mercado externo. É um modelo que contribui para o aumento das exportações brasileiras, mas do ponto de vista social talvez não seja a melhor saída.

Com os avanços em seus indicadores sociais, o Sul desbancou o Sudeste como região com menor taxa de pobreza. Entre os sulistas, a taxa de pobreza caiu de 34% para 18% entre 1995 e 2008. No Sudeste, ela recuou de 29,9% para 19,5%.

O avanço da desigualdade de renda no Distrito Federal, por sua vez, é resultado da concentração de funcionários públicos na capital federal.

- Isso reflete o aumento de contratações por parte do governo federal e o inchaço dos salários do funcionalismo - avalia o economista sênior do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) Flavio Comim, frisando que isso veio acompanhado de maior profissionalização do quadro.

Pobreza ainda atinge 53,9 milhões de brasileiros

Apesar da melhora nos indicadores nacionais, o Brasil ainda tinha 53,9 milhões de pessoas vivendo na pobreza em 2008, sendo 19,9 milhões na miséria.

Entre os estados, Santa Catarina teve o melhor desempenho, reduzindo a taxa de pobreza de 29,8% para 11,6%. Já Alagoas foi o que apresentou o pior resultado, com taxa de pobreza de 56,6% em 2008, a maior do Brasil, embora menor que a registrada em 1995 (69,3%), quando estava atrás de Bahia, Piauí, entre outros. É de lá, portanto, que terá de vir o maior esforço para que o Brasil erradique a miséria em 2016. O Ipea prevê que, a um ritmo de crescimento de 4,2% do PIB por ano entre 2008 e 2016, o Brasil não terá mais miseráveis e a parcela de pessoas vivendo na pobreza cairá para 4%.

Sonia Rocha, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), ressalva que tomar a linha de pobreza como única pode distorcer os resultados. Como o custo de vida é distinto em cada região, diz, o patamar usado para medir a pobreza deveria ser diferente em cada uma delas.

Quanto ao fato de os números do Ipea balizarem a promessa de campanha da candidata à Presidência do PT, Dilma Rousseff, de erradicar a miséria em dez anos, Pochmann disse que "a agenda de pesquisa do Ipea não acompanha a agenda política" e que qualquer candidato pode usar os números da instituição.

- Se isso acontecer, o Ipea está cumprindo sua missão.

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