domingo, 11 de julho de 2010

Outro caso especial :: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Restringir a liberdade de informar é ameaça à democracia

Todas as eleições presidenciais se parecem, felizmente, pelo que têm de pior. O ideal seria o oposto. Desde a antiguidade, os meios de que se valem os candidatos são sempre os mesmos, e os fins não ficam atrás. Princípios, também por princípio, são mandados às urtigas. E assim se entende por que o ponto vulnerável das democracias as deixa expostas às contradições e elas se sustentam graças à liberdade, que não é favor.

A campanha oficial começou sem ninguém dar sinal de ter percebido, ou que algo tenha mudado para melhor. Cada qual escudado em ex-presidentes, os candidatos à frente das pesquisas trocam indiretas. Erro político, porque ninguém vai votar em governo enterrado. Eleitor que se preza quer saber de programas com compromisso político do candidato. O destaque da primeira semana murcha de iniciativas foi a definição de propósitos remetida pelo PT à Justiça Eleitoral, na qual o texto em favor de um conselho para controle social da mídia acabou classificado como ato falho da própria candidata Dilma Rousseff, que assinou o documento sem examinar e saiu esbaforida para abafar a repercussão.

Controle social da imprensa é uma forma de censura, tanto quanto a troca de seis por meia dúzia é um negócio fictício. A explicação é ociosa, mas ouve-se por educação e finge-se aceitar por gentileza.

O PT vê o problema como quem olha por um binóculo ao contrário.

A candidata oficial podia perfeitamente aproveitar o incidente e prescrever ao petismo o tratamento, enquanto é tempo, pelo método clássico de fundar um jornal, de preferência com circulação diária, para localizar fora da teoria os pontos vulneráveis do jornalismo, seja qual for o meio de expressão (jornal impresso, jornal virtual, jornal falado, jornal ouvido. Internet à parte).

E, principalmente, entendendo que os limites do jornalismo estão nas mãos da Justiça e os crimes de imprensa se limitam a três: difamação, injúria e calúnia. Partindo do princípio de que, na prática, a teoria é mesmo diferente, o petismo irá verificar que o jornalismo é uma disputa permanente pelos fatos e, na competição, cada um se empenha em superar o concorrente no volume de informações reunidas, na maneira de ordená-las, em envolver o leitor e levar em conta as diferentes maneiras de apresentar um fato ou emitir uma opinião, sem perder de vista o público a que se destina.

Depois que aprender o básico, o petismo verificará que não é por acaso que as ameaças à democracia começam invariavelmente pelas restrições à liberdade de informar e opinar. O petismo – dando-se fé à versão de equívoco assumido pelo comitê de campanha de Dilma Rousseff – mirou no que não via e acertou na própria candidata do partido. Pode ter sido, mas não fica bem escudar-se na versão de fogo amigo num caso de queimadura de primeiro grau. A melhor contribuição do petismo será aceitar a opinião de Freud sobre enganos aparentemente inocentes, mas comprometedores por dentro.


Wilson Figueiredo escreve nesta coluna aos domingos e terças-feiras.

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