domingo, 12 de setembro de 2010

Anos depois de escândalo, 'aloprados' continuam no PT

DEU EM O GLOBO

Caso de compra de falso dossiê contra tucanos ainda é investigado por MP

Leila Suwwan e Anselmo Carvalho Pinto*

SÃO PAULO e CUIABÁ. Quatro anos depois do escândalo dos aloprados, três personagens envolvidos na compra de um falso dossiê contra tucanos continuam abrigados no PT. O caso ainda está sendo investigado pelo Ministério Público Federal, e nenhum dos acusados foi denunciado.

Ameaçado de expulsão em 2007, Osvaldo Bargas, ex-secretário do Ministério do Trabalho, jamais deixou o PT, ao qual é filiado desde 1981. Sindicalista do ABC paulista, Bargas perdeu o cargo após a confirmação de que negociara e intermediara uma entrevista de denúncia contra José Serra (PSDB), por suposto envolvimento com a máfia dos sanguessugas.

A prefeitura de São Bernardo do Campo, comandada por Luiz Marinho (PT-SP), patrocinou o retorno de outro aloprado ao PT: Hamilton Lacerda.

O ex-assessor e ex-coordenador da campanha de 2006 do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) se refiliou ao partido em fevereiro deste ano. Sua ficha partidária foi processada no diretório de São Caetano, mas ainda não foi apresentada à Justiça Eleitoral.

Sua ficha ainda deve estar tramitando, ninguém apresentou objeção à filiação disse Paulo Frateschi, secretário de Organização do PT.

Acusado é preso em nova operação da PF

Lacerda também negociou a entrevista contra Serra e foi flagrado no sistema interno de câmera do Hotel Íbis de Congonhas.

Foi nesse local que a Polícia Federal prendeu em flagrante Gedimar Passos e Valdebran Padilha com uma mala com R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo, que seria o pagamento pelo dossiê fabricado por Luiz Antônio Vedoin, pivô da máfia das fraudes na compra de ambulâncias.

Nas imagens, Lacerda aparece carregando uma mala, que seria entregue à dupla Valdebran e Gedimar.

Ele alega que a mala continha apenas boletos, laptop, roupas e material de campanha.

Neste ano, ele prestou concurso para professor universitário na Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Em abril, a Folha de S.Paulo afirmou que Hamilton se tornou um fazendeiro na Bahia, com negócios no setor rural que somam R$ 1,5 milhão em capital social.

Não se avançou nada em relação à origem do dinheiro (usado para a compra do dossiê).

Nos próximos dias, vou retomar o trabalho e ver o que se aproveita (do inquérito) disse o procurador da República em Cuiabá, Mário Lúcio Avelar.

O processo corre em segredo de Justiça. Em 2007, o Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou a investigação contra Mercadante e seu tesoureiro, José Giácomo Baccarin, por falta de provas. Depois desta decisão, os autos voltaram para a Justiça Federal em Mato Grosso, mas o processo não avançou.

Em Cuiabá, um dos principais acusados no episódio, Valdebran Padilha, que tem ligações com políticos do PT de Mato Grosso, saiu de cena nos últimos meses, depois de ser novamente preso em uma operação da PF, denominada Hygeia, que investigou fraudes em obras da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

Ele está discreto, mas sempre atua nas sombras afirmou Gilmar Brunetto, integrante da ONG Moral, que fiscaliza e denuncia casos de corrupção em Mato Grosso.

Semana passada, O GLOBO tentou contato com esses e outros aloprados, que, por terceiros, recusaram-se a dar entrevista.

Um assessor de Lacerda informou que ele não tinha interesse em falar. Localizado em sua casa, em Santo André, Helder Bargas afirmou que ele e seu pai não falam com a imprensa.

Valdebran foi procurado na Engesa e em casa, mas não foi localizado. Seu advogado, Roger Fernandes, afirma que seu cliente está passando por dificuldades financeiras.

Ele não está conseguindo pagar nem as prestações do carro.

Se não fosse a esposa, que é formada em Educação Física, estaria em uma situação desesperadora disse Fernandes.

Outros dois aloprados, Jorge Lorenzetti e Expedito Veloso, continuam fora do PT e evitam holofotes. Lorenzetti conhecido como ex-churrasqueiro do presidente Lula era analista de risco e mídia da campanha de 2006. Ele não retornou os recados deixados no Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, onde é docente. Veloso, que perdeu o cargo na época, voltou a um posto de superintendência do Banco do Brasil.

Ex-assessor de Lula teve nome citado em investigação

Freud Godoy, ex-assessor de Lula, que teve o nome citado durante as investigações mas não foi indiciado pela PF, diz que tem trabalhado nos últimos anos para se recuperar do abalo de 2006. Ele deixou o cargo na Presidência, mas continua filiado ao PT.

A única mágoa ou ressentimento que tenho é dessa pessoa (Gedimar Passos) que citou meu nome, depois voltou atrás, e, desde então, eu só tenho prejuízos pessoais e profissionais sem nunca ter feito nada de errado.

Já fui investigado por todos os lados e não há nada contra mim ou minha empresa disse Godoy

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