quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Cabral cria feriadão pós-eleitoral no Rio

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Governador passa o Dia do Servidor para segunda-feira e tenta esvaziar a zona sul carioca, reduto de Serra

Medida permite quatro dias seguidos de folga e estimula eleitores de renda mais alta a viajar no dia da votação


Plínio Fraga e Janaina Lage

RIO - O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), criou um feriadão nos dias seguintes ao final de semana do segundo turno para tentar ampliar a abstenção em reduto do tucano José Serra, a zona sul da capital fluminense.

Cabral adiou de amanhã para segunda-feira, dia 1º, a comemoração do Dia do Servidor Público no Estado.

Na terça é Dia de Finados, o que, somando-se ao final de semana, dá quatro dias sem trabalho para os fluminenses, estimulando que eleitores de renda mais alta deixem o Rio na eleição.

Cobrado pelo presidente Lula por ter tido 1,5 milhão de votos de eleitores do Rio a mais do que Dilma Rousseff no primeiro turno, o governador afirma que suas pesquisas internas dão hoje uma frente no Estado de 2,1 milhões de votos para a petista em relação ao tucano.

ANTIGA ESTRATÉGIA

Em favor de Dilma, Cabral repete estratégia que assegurou a vitória de Eduardo Paes (PMDB) contra Fernando Gabeira (PV) na disputa pela Prefeitura do Rio em 2008, com uma diferença mínima de 55 mil votos.Em 2008, Cabral antecipou o feriado e facilitou uma debandada da cidade, fazendo com que a eleição tivesse abstenção de 20,25%, a maior desde 2000.

Na zona sul do Rio, que em 2008 era reduto de Gabeira e neste ano é de Serra, a abstenção foi de 25,78% naquele ano; já na zona oeste, onde Eduardo Paes era mais forte e hoje Dilma domina, o índice foi de 17,90%.Serra ficou em primeiro na zona sul do Rio no primeiro turno, e Dilma, em terceiro.

Na zona oeste, as colocações se inverteram. Resumindo, o feriado amplia a abstenção em áreas em que o tucano é mais forte e não muda significativamente o comparecimento em regiões em que a petista é hoje mais forte.

Em Estados administrados por tucanos, como Minas e São Paulo, o feriado do Dia do Servidor foi antecipado para a segunda passada.

Pelo menos outros oito Estados já comunicaram o adiamento da comemoração do Dia do Servidor, endossando a estratégia do feriadão pró-Dilma, que tem mais eleitores entre os mais pobres e menos entre os mais ricos -estes, em tese, os que mais viajam nos feriadões.

Para tentar ganhar votos no Rio, a campanha de Serra abriu conversas com o ex-governador Anthony Garotinho (PR), o deputado federal mais votado do Estado, com 695 mil votos.

Garotinho, cujo partido faz parte da coligação de Dilma, só declararia voto no tucano caso o depoimento fosse levado para a TV. Serra teme se desgastar com a alta taxa de rejeição ao ex-governador.

Garotinho também conversou com Dilma e reclamou que o principal aliado da candidata no Estado, o governador Cabral, estaria "se movimentando" em Brasília para que sua candidatura seja impugnada nos tribunais.

Em e-mail que distribui a evangélicos e que assina como "irmão Garotinho", o ex-governador do Rio faz campanha velada contra Dilma.

"Não devemos confundir mudança de opinião com oportunismo político.

Como pode alguém que a vida inteira declarou não acreditar em Deus, ser a favor do aborto, defender as causas dos homossexuais, lésbicas e travestis, mudar repentinamente de opinião?", escreve.


Colaborou Fábio Grellet, do Rio

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