quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Filho sim, pai nem tanto :: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Vale para Lula e para o lulismo a avaliação do lulista Jaques Wagner, governador reeleito da Bahia e um dos bons quadros do PT, segundo o qual "não existe carlismo sem ACM". Ou seja, sem Antonio Carlos Magalhães.

É óbvio, caro Jaques. Vale, de resto, para todos os caudilhos, coronéis, líderes populares ou populistas: nenhum deles sobrevive a seu criador. A eleição, de resto, demonstrou rotundamente que o lulismo, mesmo vivo o seu fundador, é bem menor que Lula.

Uma coisa é a popularidade do presidente, na altura de 80%. Outra é a votação de sua criatura, Dilma Rousseff, que seduziu apenas 35% do total de eleitores inscritos. Essa é a conta que mede, de fato, a adesão a uma candidatura, não a regra eleitoral que contabiliza apenas os votos válidos, com o que Dilma foi a 47%.

Dá a nítida sensação de que o brasileiro se fascinou com "Lula, o filho do Brasil", realmente uma extraordinária história de vida e de sucesso. Mas essa coisa de "pai" do Brasil, "mãe" do Brasil, cola muitíssimo menos, mesmo que Dilma ganhe no segundo turno, como continua sendo a hipótese mais lógica e mais provável.

Não é à toa que dois dos jornais mais relevantes no mundo -ambos absolutamente deslumbrados com Lula-, como o são "El País" e "Le Monde", tenham coincidido em assinalar que os brasileiros não quiseram dar um cheque em branco para Lula.

Acho até que dariam se fosse o próprio Lula o candidato. Para o lulismo não.

Para a Câmara dos Deputados, então, o que houve foi a velha fragmentação, suspeito que inédita no mundo. O normal é que o partido majoritário fique pouco acima ou pouco abaixo da metade dos assentos. Aqui, nem somando os dois partidos com mais deputados (PT e PMDB) dá um terço da casa (conseguiram exatos 32,5%). E o PMDB é apenas oportunista, não lulista.

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