quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Sindicância aponta novos elos do caso Erenice na Presidência

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Sindicância do governo indica que o esquema comandado por Israel. filho da ex-ministra Erenice Guerra, não usava só a estrutura da Casa Civil, relatam Andreza Matais e Filipe Coutinho.

Segundo a investigação, o grupo de Israel, acusado de tráfico de influência, usou PCs e funcionários da Secretaria de Assuntos Estratégicos e do Gabinete de Segurança Institucional.
A sindicância deveria ter sido concluída no domingo, mas foi adiada para depois da eleição. Ex-braço direito de DUma Rousseff. Erenice deixou a Casa Civil em setembro, após as denúncias.

Citado na investigação, Gabriel Laender, que foi da SAE e hoje é assessor da Casa Civil, negou relação com o esquema. O governo alegou sigilo e disse que não se pronunciaria.


Grupo de Erenice agia em outros 2 órgãos

Sindicância apura que computadores da SAE e do GSI, ligados à Presidência, foram usados por investigados

Investigações incluem Gabriel Laender, ligado à ex-ministra, que teria ajudado na elaboração dos contratos de lobby

Andreza Matais e Filipe Coutinho

BRASÍLIA - O esquema de tráfico de influência comandado pelo filho da ex-ministra Erenice Guerra usava não apenas a estrutura da Casa Civil mas também a de pelo menos outros dois órgãos da Presidência da República: a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) e o GSI (Gabinete de Segurança Institucional).Computadores e funcionários dessas outras duas repartições foram utilizados pelo grupo de amigos de Israel Guerra, filho de Erenice que era peça central do contato de empresários com negócios do governo -cobrando uma "taxa de sucesso" pelo tráfico de influência.

Erenice deixou o governo em 16 de setembro depois de a Folha publicar que ela recebeu na Casa Civil um empresário levado pelos lobistas do esquema, que cobravam para viabilizar um empréstimo para um projeto de energia eólica no BNDES.

Esses novos braços do tráfico de influência foram identificados pela sindicância interna do Planalto que investiga a participação de servidores no esquema de tráfico de influência no órgão e cuja investigação corre em sigilo.

A comissão pediu mais 30 dias para concluir os trabalhos que deveriam ter sido encerrados no domingo. Com isso, o resultado só será divulgado após a eleiçãoA comissão descobriu que o computador que era utilizado por Gabriel Laender na SAE foi acessado várias vezes com a senha de Vinícius Castro, ex-assessor da Casa Civil e sócio de um filho de Erenice na Capital, empresa da família Guerra que intermediava negócios com o governo.

Castro pediu demissão depois que seu nome foi associado ao esquema de lobby.Documento ao qual a Folha teve acesso mostra que o disco rígido desse computador, da marca Seagate, número de patrimônio 131.817, foi levado pela comissão de sindicância no dia 6 de outubro -logo após o primeiro turno das eleições.

Antes de ir para o Planalto, Laender foi advogado da empresa de telefonia Unicel, na qual o marido de Erenice é consultor. A Folha revelou que essa empresa foi beneficiada pela Presidência da República em 2007, com Dilma e Erenice na Casa Civil.

Atualmente, Laender é um dos responsáveis pelo Plano Nacional de Banda Larga, menina dos olhos do governo, que visa universalizar o acesso à internet no país.O uso do computador de Laender com a senha de Vinícius Castro abre pelo menos duas possibilidades.

Ou o advogado usava a senha do colega para ter acesso ao sistema interno da Casa Civil e aos arquivos de Vinícius em rede, ou Vinícius saía do prédio da Casa Civil e, de dentro da SAE, em outro prédio da Esplanada, usava o computador de Laender para acessar seus arquivos.

A Folha apurou que uma das hipóteses levantadas na Casa Civil é que Laender tenha ajudado a redigir os contratos da empresa de Israel Guerra e Vinícius Castro, que incluía a "taxa de sucesso".

Procurador de Justiça no Espírito Santo, Laender tinha mais experiência jurídica que os outros do grupo.

PAGAMENTOS

Uma pessoa que acompanha a sindicância diz que os acessos do computador de Gabriel Laender com a senha de Vinícius Castro foram feitos em outubro de 2009.Em seu depoimento à Polícia Federal, o representante da MTA Linhas Aéreas, Fábio Baracat, disse que foi a partir daquele mês que começou o pagamento para a empresa dos filhos de Erenice.

A MTA contratou a empresa para intermediação de negócios na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e nos Correios, conforme reportagem publicada pela revista "Veja" que desencadeou a crise na Casa Civil.

A partir dos primeiros rastreamentos, a sindicância descobriu que 12 computadores foram utilizados com as senhas de Castro, Stevan Knezevic e Erenice Guerra.

Uma das máquinas ficava no Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia), onde estava lotado Stevan Knezevic.

O órgão é ligado ao Sistema Brasileiro de Inteligência, subordinado ao GSI.

Knezevic, que seria sócio oculto de Vinícius e dos filhos de Erenice no esquema de tráfico de influência, deixou a Casa Civil após o escândalo e voltou para a Anac.

Ele, Vinícius e Israel, filho de Erenice, trabalharam na Anac antes de os dois primeiros seguirem para a Casa Civil por indicação do filho de Erenice Guerra.

Os empresários Rubnei Quícoli e Fábio Baracat disseram à Polícia Federal que ele era apresentado como "advogado" da Capital Assessoria, a empresa de lobby.
Os responsáveis pela sindicância ainda não decidiram se abrirão os arquivos dos computadores ou deixará essa tarefa para a Polícia Federal, que inestiga o caso.

Apesar de Erenice não estar oficialmente entre os investigados, a Folha apurou que a senha dela também foi rastreada. Além de dois computadores de mesa, Erenice também usava um notebook.

Todos os equipamentos foram levados para uma sala do Palácio do Planalto.

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