quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Caso clássico de mais candidatos que vagas:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

São poucos, mas alguns critérios vão se delineando, por adivinhação consensual de assessores da equipe de transição, na formação da equipe do governo Dilma Rousseff. Informa-se que a presidente eleita não gostaria de nomear para o primeiro escalão o político que pretende deixar o governo em 2012 para se candidatar a prefeito. Uma contradição, em termos, pois os políticos querem ir para o governo exatamente para nutrir sua rede eleitoral. Todo presidente pede este compromisso, e muitos políticos o firmam, mas saem quando chega a hora e, se perdem, querem para voltar.

Outro princípio é o de que haverá mais mulheres no governo federal. Na ordem de uns 30%. Como são 37 ministros, pode ser que sejam nomeadas 11 mulheres. Porque 11 e não 8, ou 3, ou 14, não se sabe, a presidente ainda não explicou. Dilma está deixando que o senso comum consolide ideias a respeito de seus planos, sem interferir para não tomar posições ainda.

Um importante princípio que cria expectativa de futuro para muitos é o de que os perdedores das eleições de 2010 não estarão necessariamente fora do poder.

Ainda que não seja de imediato, por absoluta falta de vagas em número proporcional aos candidatos, todos perdedores eméritos, mais dia menos dia haverá abrigo, por exemplo, para Aloizio Mercadante.

Seu mandato de senador está no fim, aceitou uma candidatura de sacrifício ao governo de São Paulo, correndo um risco alto de ficar sem nada. Mercadante já foi citado como Ministro do Desenvolvimento ou da Ciência e Tecnologia.

Outra que partiu para uma candidatura sem chances, com o único objetivo de dar palanque a Dilma, em Santa Catarina, foi Ideli Salvatti. Deve ser contemplada, até porque alia a essa condição a dimensão do gênero. Até Lula lhe é devedor, pois suportou sozinha o revide de um Estado a uma interferência indevida e agressiva do presidente contra adversários políticos.

Ana Júlia Carepa, do Pará, não deve ser deixada à margem, mas é uma dos perdedores do PT cujos casos são complexos. Como o de Minas Gerais. Não se pode dar ministério para um dos três políticos mais importantes do PT no Estado - Fernando Pimentel, Patrus Ananias e Luis Dulci - e deixar os demais ao relento. Uma equação difícil.

Mas se Dilma for dar espaço só aos perdedores do PT, terá problemas sérios na aliança. O PCdoB tem um perdedor insigne, o deputado maranhense Flávio Dino, que disputou o governo com chances de derrotar a oligarquia José Sarney. Foi traído pelo presidente Lula e pela direção do PT, que optaram por sua adversária local, Roseana Sarney (PMDB). O PT maranhense, seu aliado, promoveu até greve de fome no plenário da Câmara para sensibilizar o presidente, sem resultados. Lula e o PT nacional ficaram com os Sarney, e por milésimos Roseana venceu uma eleição que, se tivesse ido ao segundo turno, era de Flávio Dino.

Há o grande derrotado do PDT, Osmar Dias, que disputou o governo do Paraná para dar palanque a Dilma Rousseff e concordou em deixar a vaga do Senado para Gleisi Hoffmann (PT). O PDT quer, para Dias, a presidência de Itaipu Binacional. O PDT pretende, ainda, compensar Vilma Faria (RN), que também disputou em um Estado onde Lula investiu pessoalmente, com apelos à emoção, contra seus adversários do DEM. Não levou, mas deu força nova à resistência da oposição.

Mais uma dívida de campanha é Alfredo Nascimento (PR), que perdeu as eleições depois de ser o titular de uma confiança extraordinária do presidente e da então chefe da Casa Civil e coordenadora do PAC, como ministro dos Transportes.

Do PMDB, e de Minas, vem o perdedor Hélio Costa, que naufragou junto com o PT do Estado. Pode-se alegar que Lula perdeu tudo para Aécio Neves (PSDB), o governo e as duas vagas ao Senado. Mas devem os aliados contra argumentar que foi a luta da aliança PMDB-PT que manteve Dilma no topo, em Minas, não permitindo o avanço de Aécio também na presidencial.

Tem, ainda, no PMDB, Paulo Hartung, governador do Espírito Santo que viabilizou a vitória integral do governo no Estado, inclusive abdicando da própria candidatura. Iris Resende, de Goiás, renunciou à prefeitura para lutar por Lula contra os que o presidente apontou como inimigos, mais que adversários, do PSDB goiano. E o que dizer de José Maranhão (PB), Lula total, lulismo em pessoa? E Jorge Picciani (RJ), que conduziu uma campanha ao Senado, pelo Rio, em que, embora tenha perdido, logrou o terceiro lugar deixando para trás o ex-prefeito Cesar Maia, desafeto dos governos federal e estadual?

O esforço pré-eleitoral de Lula e Dilma conferiu êxito à candidata do PT. A expectativa dos aliados é que ambos façam, agora, um esforço pós-eleitoral, já que decidiram o mais difícil, não vetar perdedores.

Henrique Meirelles foi demitido do Banco Central, depois de bons serviços prestados ao governo, inclusive durante o período eleitoral, por recado de assessores à imprensa enquanto estava em viagem ao exterior, representando o Brasil em reuniões da área monetária. Modalidade de corte inaugurada pelo presidente Lula que, exatamente assim, no seu primeiro mandato, afastou o então ministro da Educação, o senador Cristovam Buarque, na época em viagem ao exterior para contatos com autoridades da área na Europa. O nome do método é fritura com humilhação.

A migração do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, do DEM para o PMDB, em delicada fase de negociação, está deixando o PT paulista eufórico com a perspectiva de, finalmente, ter instrumentos para quebrar a longeva continuidade do sucesso eleitoral do PSDB no Estado. Como Kassab irá com todo o seu grupo de deputados federais e, sobretudo, estaduais, e sai exatamente para ter legenda a fim de enfrentar Geraldo Alckmin em 2014, o PT comemora antecipadamente a condição ideal, do ponto de vista numérico, de criar Comissões Parlamentares de Inquérito.

As CPIs, sempre barradas pela maioria governista em São Paulo, contariam, na matemática do PT, a partir da migração de Kassab, com a assinatura de 33 deputados.


Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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