quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Unica pede a Lula pressão por Código Florestal

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Ana Paula Grabois De Ribeirão Preto (SP)

Com receio de perder o apoio do governo na gestão Dilma Rousseff, os usineiros pediram ajuda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para aprovar no Congresso ainda em 2010 o novo Código Florestal. Ontem, em assinatura de contrato para a construção de rede de dutos de etanol pela Petrobras e o setor privado, Marcos Jank , presidente da maior entidade do setor, a União da Indústria da Cana (Unica), pediu interferência de Lula para que as alterações no Código Florestal passem ainda em 2010. Para Jank, é preciso "urgentemente" de solução definitiva para o tema da reserva legal, que "ameaça milhares de hectares de cana".

Jank defende a votação do relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ainda neste ano, antes da mudança de cadeiras no Congresso. Para o presidente da entidade, o tema já foi muito debatido. "Os conflitos decorrentes da aplicação do código geram insegurança e mudanças devem ser feitas à Câmara e ao Senado. Não podemos voltar à estaca zero. Temos a posse da nova presidente. Obrigado, presidente, se o senhor puder nos ajudar", disse Jank, durante a cerimônia de assinatura de contrato de construção de uma rede de dutos de etanol pela Petrobras - da qual também participou o presidente da empresa, José Sergio Gabrielli -, em conjunto com empresas privadas.

O relatório do deputado Aldo Rebelo fixa mudanças em linha com as demandas do setor, como a redução de áreas de reserva legal e anistia às multas impostas a desmatadores e a flexibilização da produção agropecuária em áreas de proteção permanente.

A pressão ambiental contra o Código é crescente. Estudo do Observatório do Clima, divulgado ontem, indicam que as alterações no Código Florestal, propostas pelo deputado Aldo Rebelo podem representar a emissão de até 26 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa e comprometer a meta brasileira de reduzir entre 36,1% e 38,9% as emissões nacionais até 2020.

Às vésperas de uma nova rodada da negociação climática internacional, que começa na segunda-feira em Cancun, no México, o documento analisa os impactos de duas das principais propostas do novo código para os compromissos de redução de emissões assumidos internacionalmente pelo Brasil.

No evento em Ribeirão Preto, os discursos dos representantes do setor de açúcar e álcool foram recheados de elogios ao presidente Lula. Nos oito anos, a safra de cana dobrou, a produção de açúcar subiu 70% e a de etanol mais que dobrou, com ganhos de produtividade e elevação do volume de exportações. O presidente também foi lembrado pela promoção do etanol no exterior, especialmente nas tratativas do Brasil para evitar a renovação dos subsídios e da tarifa cobre o etanol importado pelos Estados Unidos. "Em 30 anos de história de renovações automáticas, nunca se esteve tão perto da possibilidade da quebra ou pelo menos da redução desse protecionismo", disse Jank.

Em seu discurso, Lula disse ter certeza que 99% dos usineiros não votaram nele quando foi eleito pela primeira vez, em 2002. Hoje, se diz o melhor presidente para o segmento, antes tratado pelos governantes "como uma doença". "Nunca perguntei, mas tenho certeza que quando fui candidato em 2002, 99% votaram contra mim, por medo de mim. Não sei quantos votaram em mim já em 2006, não sei quantos votaram na Dilma em 2010. Mas hoje eu posso chegar em qualquer lugar deste país, do Nordeste ao Sudeste ao Centro-Oeste, pode até ter usineiro que não gosta e que não vota, mas ele terá que olhar para mim e dizer: "Ô baixinho, tu foste o que melhor cuidou da gente e o que melhor respeitou a gente, que nos tratou como cidadãos"". Lula citou ainda sua política de valorização do segmento, como o aumento da oferta de crédito, o empenho em tornar o país líder na produção de etanol.

O presidente negou ainda que exerça algum tipo de interferência sobre a equipe da presidente eleita Dilma Rousseff. "Ela indica quem ela quiser e o cargo que ela bem entender", disse. O presidente afirmou que não deixa "herança maldita" para Dilma, termo usado por petistas para criticar o governo de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Segundo Lula, a única herança maldita está fora do país, em referência à crise econômica na União Europeia e nos Estados Unidos. "Tem uma herança delicada à medida que a União Europeia e os Estados Unidos não resolveram ainda seus problemas da crise. Não podemos aceitar o fato de os Estados Unidos quererem fazer seu ajuste interno com base na produção de dólares e mais dólares. Sabem que não vai resolver o problema deles, vai causar inflação e vai encher o mundo de dólares, o que vai causar problema em outros países" , disse o presidente.

Lula disse ainda que logo depois de encerrar os oito anos na Presidência, a primeira coisa que vai fazer será "desencarnar do cargo para voltar a agir dentro da normalidade". "Não tem nada pior do que um jogador de bola parar de jogar e pensa que ainda está jogando ou ainda de quem foi presidente ter papel de ex-presidente", disse em entrevista antes de deixar Ribeirão Preto. As obras do sistema de dutos só devem ficar prontas em 2014 e consumirão R$ 5 bilhões. Além da Petrobras, participam do projeto de dutos as empresas Cosan, Copersucar, Uniduto e Camargo Corrêa.

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