sábado, 4 de dezembro de 2010

BC aperta crédito para o consumidor

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Medidas reduzem em R$ 61 bilhões a oferta de empréstimos pelos bancos e encarecem financiamentos de longo prazo, como carros

O Banco Central (BC) endureceu as regras para concessão de empréstimos. As novas medidas vão afetar diretamente os financiamentos de prazos mais longos, como os de automóveis, televisão, geladeira e fogão. O BC também reduziu em R$ 61 bilhões o volume de dinheiro disponível para crédito no sistema financeiro. As mudanças passam a valer a partir de segunda-feira e, segundo fonte do governo, devem afetar as vendas de Natal. O BC disse que as medidas têm o objetivo de frear a alta da inadimplência, que vem subindo principalmente nas operações de crédito de longo prazo. Analistas, porém, avaliam que a intenção principal é frear a alta dos índices de inflação sem ter de elevar a taxa básica de juros.

Banco Central limita crédito para segurar calotes e conter a inflação

Bancos terão de seguir normas mais duras para dar empréstimos, o que deve restringir os financiamentos e provocar alta nos juros

Renato Andrade, Fabio Graner e Célia Froufe

Os financiamentos de longo prazo, com entrada facilitada, estão com os dias contados. A partir da próxima semana, os bancos terão que seguir normas mais duras para conceder empréstimos ao consumidor que quiser financiar, por mais de dois anos, a compra de produtos como carros, televisão, geladeira e fogão.

O arrocho faz parte de um pacote de medidas anunciadas ontem pelo Banco Central (BC) que tem por objetivo reduzir o ritmo de expansão da oferta de crédito, controlar o nível de calote das prestações e, por tabela, colocar um freio na inflação, evitando assim um indesejável aumento dos juros logo no início do governo Dilma Rousseff.

De acordo com uma fonte do governo, a estimativa é que as medidas correspondam a uma alta da taxa de juros básica (Selic) entre 0,5 e 1 ponto porcentual e que as medidas já devem afetar as compras de Natal.

Além do estabelecimento de novas condições para os empréstimos de longo prazo, o volume de dinheiro que os bancos precisam deixar depositado no BC (compulsórios) foi elevado, reduzindo a disponibilidade de recursos a serem emprestados. A ação põe fim às medidas de aumento da oferta de crédito tomadas durante a crise.

O efeito prático do pacote será a redução no número de financiamentos concedidos pelos bancos e a elevação dos juros nos financiamentos. "Embora sejam ações de natureza evidentemente prudencial, pode-se afirmar com razoável grau de segurança que terão implicações macroeconômicas, por exemplo, impactando a dimensão quantitativa (do volume de crédito) e também os preços (dos empréstimos)", afirmou o presidente do BC, Henrique Meirelles.

"Garantias". A partir de segunda-feira, os bancos terão que elevar a reserva de dinheiro que são obrigados a guardar para garantir empréstimos com mais de 24 meses de prazo. Para cada R$ 100,00 emprestados, as instituições financeiras terão que reservar R$ 16,50, um aumento de 50% em relação à regra atual, que exige uma reserva de R$ 11,00 para cada R$ 100,00 concedido num financiamento para pessoas físicas.

No caso dos empréstimos para compra de veículos, que cresceram 50,9% nos últimos 12 meses, as novas regras são ainda mais rígidas. Para manter o volume de reserva atual, e com isso evitar uma elevação dos custos dos empréstimos para o tomador final, os bancos terão que exigir do consumidor uma entrada de mais de 20% do valor financiado, nas operações com prazo entre 24 e 36 meses.

No caso dos financiamentos com prazo superior a 60 meses a situação é ainda mais drástica. A reserva exigida será equivalente a 16,5% do valor do empréstimo, independente do tamanho da entrada dada.

Para os empréstimos com desconto na folha de pagamento, o crédito consignado, a exigência de garantias maiores só valerá para as operações com prazo superior a 36 meses. Estão fora do arrocho as operações de crédito rural, o financiamento da compra de veículos de carga e os empréstimos para a compra da casa própria, que gira em torno de um patamar baixo, de 3,5% do PIB.

O aumento do calote nos empréstimos de longo prazo foi a razão apontada para o pacote. "A alta da inadimplência justifica a tomada de medida prudencial", afirmou Aldo Mendes, diretor de Política Monetária do BC.

Segundo o BC, a taxa de inadimplência dos financiamentos de veículos com prazo de um a dois anos, ao fim dos primeiros 12 meses do contrato, é de cerca de 1,5%. Nas operações com prazo de três a quatro anos, a taxa sobe para quase 6% e se aproxima de 9% nos financiamentos de cinco a dez anos.

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