quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

BC mantém juro, mas indica risco de alta em 2011

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Na última reunião do governo Lula e de Henrique Meirelles na presidência do Banco Central, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 10,75% ao ano, mesmo com a pressão da inflação - o IPCA de novembro foi de 0,83%, o maior desde abril de 2005. Porém, o comunicado divulgado após a reunião mantém aberta a possibilidade de que o governo de Dilma Rousseff comece a elevar o juro no início de 2011.

Copom mantém Selic, mas indica alta em janeiro

Na última reunião de Meirelles, comitê decide manter a taxa básica de juro em 10,75%

Fernando Nakagawa

Na última reunião do governo Lula e de Henrique Meirelles na presidência do Banco Central, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve ontem o juro básico da economia em 10,75% ao ano.

Mesmo com a crescente pressão inflacionária, a taxa Selic terminará o ano no mesmo patamar visto desde junho. Por enquanto, o BC entende que é preciso esperar o efeito das recentes medidas de aperto do crédito para avaliar eventual mudança na política de juros.

Comunicado divulgado após a reunião mantém aberta a possibilidade que o governo de Dilma Rousseff pode começar a subir o juro logo no início de 2011.

"Prevaleceu o entendimento entre os membros do Comitê de que será necessário tempo adicional para melhor aferir os efeitos dessas iniciativas sobre as condições monetárias", cita o texto divulgado após o encontro, ao se referir às medidas anunciadas sexta-feira. "Nesse sentido, o Comitê entendeu não ser oportuno reavaliar a estratégia de política monetária nesta reunião", explica o BC.

Existiam motivos para a alta do juro, mas o BC optou por esperar mais algumas semanas para iniciar o processo de aperto monetário em 2011, no início do governo Dilma Rousseff. Um dos principais argumentos para manter a Selic é que os alimentos, que têm exercido papel importante nos aumentos, sobem por fatores sazonais como safra e clima. Essa alta, argumenta o BC, não pode ser combatida com juros.

Apesar desse discurso tranquilizador, há movimentos mais preocupantes que têm entrado no radar do Copom, como a elevação do chamado núcleo da inflação - preços que têm maior peso no cálculo dos índices - e os reajustes nos serviços. Isso, inclusive, foi um dos motivos para as medidas prudenciais no crédito na semana passada. Nos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 5,63%. O patamar está perigosamente caminhando para próximo do limite máximo do regime de metas, que é 6,5%.

"Havia fortes argumentos para subir o juro, mas o BC ganhou tempo com a decisão anunciada na semana passada que restringe a oferta de crédito e aumenta o recolhimento compulsório dos bancos, o que vai no mesmo sentido de um aumento de juro", diz o economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano.

O economista aposta em aumento da Selic já na primeira reunião de Alexandre Tombini na direção do BC, em janeiro. "Vai ser positivo para o novo presidente Tombini que vai reforçar sua credibilidade ao fazer, logo no início de sua gestão, o que precisa ser feito para segurar a inflação." Serrano concorda com a aposta predominante do mercado, que prevê aumento da Selic de 1,5 ponto porcentual no primeiro ano do governo Dilma. Assim, a taxa subiria para 12,25%. Seriam três altas de 0,50 ponto nas reuniões de janeiro, março e abril.

A reunião encerrada ontem foi presidida por Henrique Meirelles, mas Tombini participou ainda como diretor de normas. A partir de janeiro, com a saída do atual presidente do cargo, o economista gaúcho passará a comandar as reuniões do Copom.

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