terça-feira, 20 de abril de 2010

Reflexão do dia – Fernando Henrique Cardoso

No leque das opções que estão postas existe uma tendência socialista. E quem não em entender que na sociedade brasileira há uma corrente de opinião socialista não entende o que está acontecendo e não entende o que significa democratização. Democratizar significa justamente englobar todas as tendências. Isso pode doer nos ouvidos de algum direitista mais sensível, mas é uma verdade elementar: não existe possibilidade de falar numa democracia substantiva no Brasil sem reconhecer a legitimidade de uma tendência socialista.


(Fernando Henrique Cardoso, no livro Relembrando o que escrevi, pag. 27 - Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2010.)

Proposta estratégica:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A posição de José Serra sobre o fim da reeleição e instituição do mandato único de cinco anos para presidente da República é antiga e conhecida.

Estrategicamente ele escolheu o dia de ontem quando visitava Minas Gerais para voltar a defender a tese que há algum tempo havia arquivado.

Durante boa parte do segundo mandato do presidente Luiz Inácio da Silva, Serra se dedicou a articular a apresentação de uma emenda para revogar a reeleição, conversou realmente em duas ocasiões a respeito com o presidente e havia até marcado data para deflagrar o processo: logo após a eleição municipal de 2008. Mas desistiu por dois motivos.

Primeiro, porque Fernando Henrique Cardoso o convenceu de que não era conveniente mexer em questões institucionais que pudessem ensejar brechas para alterações na Constituição com vistas à possibilidade de um terceiro mandato.

Segundo, porque recebeu de um interlocutor o recado de que o presidente Lula não estava mais interessado no fim da reeleição. Motivo alegado: não iria "ajudar" o PSDB a organizar a sua fila de candidatos a presidente.

Em miúdos: na percepção de Lula, que na ocasião ainda esperava contar com a divisão do PSDB e quem sabe até com a saída de Aécio Neves do partido, o fim da reeleição encurtaria o horizonte de possibilidade de o mineiro ser candidato a presidente e consolidaria a unidade do PSDB.

Relatados os antecedentes, estabelecido que a proposta não é fruto de artifício de momento, ainda assim, vamos e venhamos: é de uma conveniência abissal que seja ressuscitada justamente no dia em que Serra vai a Minas iniciar seu périplo de conquista do segundo e mais importante colégio eleitoral.

O tipo da coincidência muito bem coincidida. Com reeleição, o horizonte de Aécio para ser candidato a presidente é de oito anos. Sem ela, passa a ser de cinco a partir de 2011.

Pode não ser item de acordo para vice. Mas pode ser que seja. Não sendo, é motivo de incentivo ao eleitorado de Minas que acreditou no que não havia - a chance de Aécio ser candidato agora - e precisa de uma chama que lhe aqueça o entusiasmo.

Rio 90 graus. O governador do Rio, Sergio Cabral Filho, tem mantido silêncio em público. Mas é de se conferir por quanto tempo fará olhar de paisagem à cenografia do ex-correligionário e agora arqui-inimigo Anthony Garotinho.

Garotinho lançou-se no fim de semana candidato ao governo do Estado pelo PR. Dias atrás recebeu a visita e ganhou afagos da candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff.

Cabral é forte na capital, mas Garotinho é mais forte no interior. Portanto, ela precisa dos dois. Ocorre que o ex-governador deu a largada apostando no vale tudo: exigiu a presença de Dilma em seu palanque e ainda deixou claro que o foco de sua campanha é lançar sobre o governador acusações de corrupção.

"Vou enfrentar a quadrilha instalada no Palácio Guanabara", desafiou Garotinho, cujos bens já foram bloqueados pela Justiça Eleitoral por suspeita de desvio de recursos para campanhas.

O governo federal, por intermédio do então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, havia avisado a Garotinho no ano passado que precisava de seu apoio, mas não tinha como lhe assegurar um voto, embora o governo tivesse meios de subtrair-lhe muitos.

Ou seja, Dilma já avisara que não subiria em seu palanque.

Antes de lançar sua candidatura e de receber Dilma, Anthony Garotinho espalhou Rio de Janeiro afora que trataria Cabral na base dos dossiês. Obviamente isso era de conhecimento do governo federal.

É um jogo obscuro. Para dizer a coisa de forma bastante amena.

Papéis trocados. Os presidentes do PSDB e do PT, Sérgio Guerra e José Eduardo Dutra, deram entrevistas sobre erros e acertos das campanhas, mas praticamente só falaram do adversário.

Foram loquazes na interpretação das ocorrências na seara do oponente, mas se esqueceram de vender o peixe dos respectivos candidatos.

Estofadinhos :: Fernando De Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Ainda ameaçado por liminares, está previsto para hoje o leilão da usina de Belo Monte. Quando iniciada, será a maior obra em construção no mundo (e a terceira maior hidrelétrica do planeta). No entanto, as duas maiores empreiteiras do país, Odebrecht e Camargo Corrêa, anunciaram há dez dias a sua saída do negócio.

O governo correu para arrumar um consórcio que pudesse "disputar" com aquele liderado pela Andrade Gutierrez e a Vale do Rio Doce. Há boas razões para supor que Odebrecht e Camargo não estavam dispostas a coadjuvar um teatro.

Em entrevista à Folha, Dilma Rousseff explicou a atitude das desistentes de maneira um tanto curiosa: "O pessoal está estofadinho de obras. Antes, tinha só uma obra, eles sofriam.

As empresas hoje têm um leque grande de oportunidades". A explicação deve ser falsa, mas a afirmação é verdadeira. A rigor, não só as empreiteiras estão "estofadinhas". O setor privado como um todo nunca faturou tanto.

Eis, no entanto, o mistério: por que esses estofadinhos nadando em dinheiro preferem José Serra?

Ok, é verdade que os empresários são sobretudo pragmáticos e tendem a apoiar os donos do poder, quaisquer que sejam. Mas também é um fato que têm preferências.

O jornal "Valor Econômico" divulgou na semana passada uma enquete com 142 executivos.

Resultado: todos afirmaram que suas empresas cresceram de forma significativa sob Lula, mas, apesar disso, 111 disseram preferir Serra, contra apenas 13 que escolhem Dilma. Marina teve 8 votos. Ciro, só 1.

Ou seja: Lula conquistou os empresários pelo bolso, mas o coração deles (que também pulsa no bolso) não bate por Dilma. De onde vem tanta resistência? Reação à retórica de classe (ricos contra pobres) da campanha? Medo de uma tutela maior do Estado sobre o setor privado?

Desconfiança de que Dilma e Lula sejam tão diferentes? A verdade é que Serra, apesar da fama de mau, larga com a preferência da turma que Lula deixou estofadinha.

Carinhoso - Marisa Monte e Paulinho da Viola

Serra e Aécio mostram união em MG

DEU EM O GLOBO

Num evento para tentar demonstrar unidade, o pré-candidato tucano ao Planalto, José Serra, participou em Minas de atos ao lado do ex-governador Aécio Neves. Em Brasília, a petista Dilma Rousseff lançou um site e criticou o adversário.

Com Aécio, Serra tenta ganhar Minas

Ex-governador mineiro pede votos para o paulista em atos com políticos e empresários em BH

Fábio Fabrini* e Marcelo Portela

BELO HORIZONTE - Num evento para marcar a unidade do partido e cicatrizar eventuais feridas da disputa interna, o PSDB fez ontem, em Minas Gerais, o primeiro grande ato da pré-campanha de José Serra (PSDB) à Presidência. Diante de 840 militantes e de pelo menos 240 prefeitos, alguns até do PT e do PMDB, o ex-governador Aécio Neves (PSDB) fez rasgados elogios ao paulista e disse que o voto em Serra representa os seus anseios.

— Peço a cada companheira e companheiro que leve esta minha mensagem ao seu município. Aquele mineiro ou aquele brasileiro que, em qualquer momento, teve a intenção de dar seu voto a Aécio Neves, continue votando em Aécio Neves apertando 45, e votando em José Serra na próxima eleição presidencial — discursou Aécio.

Repleto de simbolismo e em clima de comício, o evento marcou o início de uma temporada de visitas de Serra a Minas, segundo colégio eleitoral do país. Em 30 minutos de fala, ele fez muitos elogios a Aécio, que terminou o governo com aprovação recorde em Minas, e se disse “em casa”.

— Não me sinto entre aliados, mas entre amigos — disse Serra.

Embalados por pesquisas internas, que dariam mais de 40% das intenções de voto a Serra no estado, líderes da oposição ao governo Lula lembraram que, na prática, quem está rachada hoje é a base governista. Em Minas, disputam indicação ao governo o exministro das Comunicações Hélio Costa (PMDB) e os petistas Patrus Ananias e Fernando Pimentel.

Para Aécio, eventuais rusgas da disputa pela candidatura estão sanadas: — Apresentei, ao longo do ano passado, uma proposta de candidatura presidencial, apoiado por muitos que estão aqui. Mas um homem público, além de um projeto, precisa ter sensibilidade.

E a prioridade de encerrarmos esse ciclo de governo se colocou à frente de qualquer projeto pessoal.

Na pauta do PSDB, a Agenda Minas

Ao contrário do que ocorreu no lançamento da pré-candidatura de Serra em Brasília, Aécio não foi recebido aos gritos de vice. Faixas repetiam o slogan “Minas é Serra e Anastasia”.

— A união entre Serra e Aécio vai mudar o Brasil. O povo brasileiro é um só. E Minas, mais do que todos os estados, é o que representa esse povo — disse o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

A estratégia tucana é que Serra tenha um discurso específico para o estado, pautado em demandas de apelo eleitoral. No evento, Aécio entregou ao paulista a Agenda Minas, um conjunto de sugestões para orientar seu programa de governo, que inclui obras não executadas pelo governo federal. Seguindo a cartilha, Serra prometeu levar adiante obras como a implantação do Rodoanel de BH. Garantiu que brigará para que todas as cidades com mais de 500 mil habitantes tenham metrô.

No dia 2, Serra deve voltar a Minas para eventos em Uberaba e Uberlândia.

Há a possibilidade de um encontro com o ex-presidente Itamar Franco (PPS). Ontem, numa reunião com empresários na Federação das Indústrias de Minas Gerais, que antecedeu o evento com políticos, Serra lançou pontes para reatar com Itamar: — Aprecio enormemente o Itamar Franco. É um homem que teve uma contribuição importante na normalização da vida no nosso país.

No evento político havia prefeitos do PT e do PMDB, a exemplo do que ocorreu com Dilma — em visita recente ao estado, ela recebeu apoio de tucanos.

O peemedebista Sérgio Resende, de Miraí, foi um dos que compareceram.

Parte dos prefeitos usou carros oficiais para viajar de seus municípios e participar do evento partidário, o que é proibido. Somente na porta do teatro havia seis veículos com placas oficiais estacionados, quatro deles com placas pretas do Poder Executivo ou do gabinete do prefeito.

* Enviado especial

'O Estado todo-poderoso do passado não vinga'

DEU EM O GLOBO

Tucano critica aparelhamento da máquina, corrupção, reeleição e também o MST

Fabio Fabrini, enviado especial, e Marcelo Portela

BELO HORIZONTE. Em conversa com empresários mineiros na sede da FIEMG (entidade que concentra mais de 30% do PIB mineiro), o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, optou por um discurso técnico, mas marcando diferenças com propostas de sua principal adversária, Dilma Rousseff, do PT. Afirmou que o modelo de desenvolvimento em vigor no país hoje privilegia o setor primário, que, apesar de ser responsável por grande volume de exportação, tem pouco valor agregado.

— É o modelo que vigorou dos anos 1930 aos anos 1980. Não gera empregos — disse o tucano.

Na opinião de Serra, foi importante o país ter investido nessas áreas, mas hoje não há mais espaço para isso.

— O Estado produtor e todo-poderoso do passado não vinga. É obeso.

E obesidade indica fraqueza — afirmou o tucano.

Serra também criticou o inchaço da máquina pública e defendeu a redução dos gastos, além de mudanças na questão tributária: — Nós temos a questão fiscal no Brasil, que é de uma rigidez muito grande. Não é enxugamento para perseguir ninguém, não é enxugamento irracional, como se chegou a se fazer.

É um enxugamento bem feito. As gorduras de cargos comissionados.


“Nessas coisas de casamento, defendo a monogamia” Sobre política, ele deixou claro que seu candidato ao governo de Minas é o atual governador tucano, Antônio Anastasia, que disputa a reeleição com o apoio do ex-governador Aécio Neves. E disse que não aceitaria uma campanha velada com o pré-candidato do presidente Lula ao governo mineiro, Hélio Costa (PMDB), que deverá ter o apoio do PT. Em recente visita a Minas, Dilma foi perguntada sobre uma eventual chapa “Dilmasia” e respondeu que preferia “Anastadilma”, irritando Hélio Costa, que a apoia.

— Eu até me dou bem com Hélio Costa, tenho uma relação cordial, mas, nessas coisas de casamento, eu defendo a monogamia — rebateu Serra.

Em entrevista à Rádio Itatiaia, Serra atacou o ritmo de execução do PAC, uma das principais bandeiras de Dilma, e reclamou do aparelhamento e da corrupção em setores da administração federal.

— O PAC é uma lista de obras, vamos ser realistas. A maior parte não foi feita.

O tucano atacou ainda o inchaço da máquina e o empreguismo: — A Funasa hoje acabou loteada pelo empreguismo, pelo troca-troca, por denúncias de corrupção. Não é nem problema do atual ministro (José Gomes Temporão, PMDB), que é decente.

Mas é o que foi destruído.

Serra criticou a reeleição, proposta e aprovada no governo do também tucano Fernando Henrique Cardoso: — Reeleição não é coisa boa. Deveria ter cinco anos de mandato. Você chega e governa fazendo aquilo que tem de ser feito, não apenas de olho na reeleição — disse ele.

Perguntado sobre críticas do líder do MST João Pedro Stédile à sua candidatura, Serra disse que a organização usa a reforma agrária como pretexto para objetivos políticos.

Em Minas, Serra se compromete a tocar obras recomendadas por Aécio

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Sucessão. Compromisso com ampliação do metrô de Belo Horizonte e do Aeroporto de Confins foi firmado antes mesmo de receber das mãos do ex-governador mineiro documento com relação de políticas e investimentos federais reclamados pelo Estado

Eduardo Kattah e Christiane Samarco

BELO HORIZONTE. O que era para ser um ato simbólico se transformou num compromisso concreto do pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, com reivindicações históricas de Minas. Ao lado do ex-governador Aécio Neves, Serra fez questão de se comprometer, caso eleito, com demandas como a ampliação do metrô de Belo Horizonte e do Aeroporto de Confins.

O compromisso foi firmado por Serra antes mesmo de receber das mãos do ex-governador o documento Agenda de Minas - relação de obras e políticas federais reclamadas pelo Estado.

Logo na primeira agenda na capital, durante entrevista à Rádio Itatiaia, o tucano classificou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como "uma lista de obras" e aproveitou para introduzir o assunto. Citou também a recuperação do Anel Rodoviário de Belo Horizonte - de responsabilidade do governo federal - e a duplicação da BR 381, no sentido Belo Horizonte-Vitória, até Governador Valadares.

"Tudo isso tem de ser feito. Se está no PAC, não está no PAC, foi anotado ou não foi anotado, o fato é que não se avançou para Minas se desenvolver mais. Minas tem a vocação, olha, vou falar aqui com todo o realismo, de ser o Estado mais desenvolvido do Brasil", disse. "Vamos ser realistas, a maior parte não foi feita. As obras a gente tem de definir, tocar e fazer acontecer."

Com críticas ao que considera investimentos insuficientes do governo federal, principalmente na área de logística e nas rodovias, Serra repetiu o compromisso no encontro com empresários na sede da Federação das Indústrias de Minas (Fiemg), onde classificou os gargalos no como "custo Minas". O tucano também destacou a necessidade de se agregar valor às exportações de commodities, principalmente o minério de ferro.

Em sintonia com Aécio, cobrou a revisão das alíquotas da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), espécie de royalties que as mineradoras pagam aos municípios, Estado e União pelo direito de explorar as riquezas minerais. Para Serra, Minas recebe uma "ninharia" de royalties pela exploração mineral.

Ao entregar o documento elaborado pelo PSDB mineiro, que enumera projetos e obras consideradas prioritárias no Estado para que constem da plataforma de governo do presidenciável, Aécio disse que ele deveria servir como uma "bússola". "Se o candidato não é de Minas, tem de ser o candidato dos anseios de Minas", resumiu Aécio ao Estado. "É esta a transição que tem que ser feita para a campanha deslanchar aqui."

Serra pediu que o ex-governador de Minas fizesse dedicatória no livreto. "Vou estudar esse documento azul e mais ainda: nos outros Estados eu vou dizer, porque vocês não fazem uma coisa igual a Minas", ressaltou.

Coro. O PSDB de Minas contabilizou a presença de pelo menos 200 prefeitos do Estado no encontro com líderes políticos, ponto alto da visita do pré-candidato tucano a Belo Horizonte. Exatos 45 dias depois de sofrer o constrangimento de ouvir o coro "Aécio presidente" durante a inauguração da Cidade Administrativa do governo mineiro, Serra voltou a participar de um ato público na capital. Desta vez, porém, na sua primeira viagem oficial como presidenciável tucano, foi recepcionado de forma calorosa.

Ao entrar no teatro do Sesiminas, acompanhado de Aécio e do candidato tucano ao governo do Estado, o atual governador Antonio Anastasia, teve seu nome gritado pelo público, que lotou o teatro. "Olê, olá, Serra, Serra...", cantou em coro parte da plateia. "Minas unida é coisa certa: Anastasia, Aécio, Serra", entoaram depois militantes do PPS.

Com capacidade para 646 lugares, o auditório ficou lotado e o cálculo dos organizadores era de que havia no local cerca de mil pessoas. No lado de fora do teatro, pelo menos seis carros com placas oficiais de prefeituras do interior de Minas estavam estacionados. Militantes com bandeiras chegaram ao local em ônibus fretados. Alguns disseram que foram arregimentados em troca de lanches.

PV busca saída para se desvincular do DEM no Rio

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Paola de Moura, do Rio

Enquanto o DEM bate o pé, o PV continua a tentar uma alternativa para que o deputado federal Fernando Gabeira (PV) seja o candidato a governo do Estado e dê ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra, o tão desejado palanque no Estado do Rio. O presidente do PV no Rio, vereador Alfredo Sirkis, colocou em seu site uma nova proposta de coligação que tenta evitar a necessidade de aprovação do Tribunal Superior Eleitoral. Segundo o vereador, " a geometria é simples porque se tratam de duas eleições majoritárias: uma estadual, de governador, e outra federal, na qual o eleitor deve votar para dois poderes, o Legislativo, senador, e o Executivo, para presidente " . Com isso seriam permitidas as diferentes coligações, na primeira, entre PV, PSDB e PPS e, na segunda, PSDB; DEM e PPS. Para ele, nesta composição, apenas Gabeira perderia tempo de televisão. " Mas será o ônus que teremos que pagar " .

O deputado federal e presidente do DEM, Rodrigo Maia, nem quer ouvir falar na proposta. Segundo Maia, a nova tentativa está sendo feita para evitar uma possível derrota na Justiça Eleitoral. " Eles vão perder, é claro " , afirma o deputado. Para Maia, não há mais negociação possível. O DEM quer uma coligação completa que inclua em todos os horários de TV o ex-prefeito Cesar Maia como candidato da coligação ao Senado. " Não há como ceder mais. "

Desde a semana passada. Gabeira disse que poderia novamente desistir de se candidatar ao governo do Estado porque seus eleitores não aprovavam a união de seu nome com a do ex-prefeito Cesar Maia, tese defendida por Sirkis desde o início das negociações. Gabeira chegou a dizer que voltaria a se candidatar a deputado federal se não tivesse tempo suficiente de televisão para tentar concorrer com a máquina do atual governador Sérgio Cabral.

Ontem, na inaguração da exposição em comemoração ao centenário de Tancredo Neves; no Museu Histórico Nacional, no Rio, com a presença do ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e do candidato José Serra, Rodrigo Maia marcou presença junto a políticos do PSDB. Nem Gabeira nem Sirkis compareceram. Do PV apenas a vereadora Aspásia Camargo, virtual candidata ao senado pelo partido, caso o nó político não seja desfeito.

Apesar da intransigência, Rodrigo Maia disse que o ex-deputado Márcio Fortes (PSDB) e candidato a vice-governador na chapa é quem está negociando com Gabeira uma solução para o problema. " O que o Márcio Fortes conseguir, vamos negociar " , afirmou. Sirkis também afirmou, por telefone, que a decisão está nas mãos de Gabeira e que vai apoiá-lo seja ela qual for.

Caso a coligação saia, a vereadora Aspásia Camargo ainda sonha com a candidatura ao senado. Ela diz que a legislação permite que o partido tenha um candidato avulso. " A Marina (Marina Silva, candidata à presidência pelo PV) precisa de um candidato ao Senado. Não pode ficar sem ninguém " , acredita.

No evento no Museu Histórico Nacional, tanto José Serra como Aécio Neves não quiseram falar de política. Em curta entrevista, depois de conhecer a exposição rapidamente, sempre acompanhado do ex-governador mineiro José Serra se limitou a dizer que Tancredo o inspirava muito. Os dois ficaram lado a lado durante toda a visitação, que durou cerca de meia hora.

Justiça quebra sigilo de fundo da Bancoop

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Carteira criada pela entidade, investigada pela PF por gestão fraudulenta, recebeu R$ 26 mi de fundos de pensão estatais

Promotoria investiga suposto desvio de recursos da cooperativa para ex-dirigentes da entidade e campanhas políticas do PT

Flávio Ferreira
Da reportagem local

A Justiça Federal decretou a quebra dos sigilos bancário e fiscal da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo) e do fundo de investimento criado pela entidade. As medidas foram requeridas pela Polícia Federal em um inquérito no qual são investigados eventuais atos de gestão fraudulenta da carteira, que tinha como cotistas grandes fundos de pensão de estatais.

Em agosto passado, a Bancoop e os cotistas da carteira fizeram um acordo para liquidar o fundo de investimento, que à época oferecia sérios riscos de perdas aos investidores.A quebra foi decretada pelo juiz Fausto Martin De Sanctis, titular da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, no último dia 9. O acesso à documentação bancária e fiscal da cooperativa e do fundo de investimento já havia sido autorizado pela Justiça estadual de São Paulo ao Ministério Público.

A Promotoria investiga supostos desvios de recursos da cooperativa para ex-dirigentes da entidade e campanhas políticas do PT, o que teria lesado milhares de cooperados que aguardam a construção de imóveis lançados pela Bancoop.

O inquérito da PF, conduzido pelo delegado Pedro Henrique Maia, tem um objeto mais específico, o FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) Bancoop I, criado pela cooperativa em 2004.

A investigação começou em 2008 e tem como um dos focos a compra de cotas do FIDC Bancoop em 2004 e 2005 pelos fundos de pensão de estatais.

A Funcef (Fundação dos Economiários Federais), entidade de previdência dos empregados da Caixa Econômica Federal, fez um aporte de R$11,2 milhões no fundo de investimento. A Petros (Fundação Petrobras de Seguridade Social) e a Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil) aplicaram, respectivamente, R$ 10 milhões e R$ 5 milhões no FIDC.

Em seus primeiros meses de operação, o FIDC Bancoop era avaliado como de baixo risco de crédito pela agência especializada em mercado financeiro Standard & Poor"s.

Porém, em abril de 2008, a agência rebaixou a classificação do FIDC, que passou a ser considerado de alto risco.

Em uma assembleia de cotistas em agosto de 2009, os fundos de pensão e os outros investidores aceitaram encerrar suas participações no FIDC ao receberem da Bancoop os valores correspondentes à metade da rentabilidade-alvo da carteira, que era de 12,5% ao ano mais a variação do IGPM (Índice Geral de Preços ao Consumidor).

Procurados pela Folha, a Funcef, a Petros e a Previ informaram que o acordo celebrado com a Bancoop permitiu a obtenção de uma rentabilidade de 6% ao ano mais correção pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), valor que está na faixa mínima de lucratividade fixada pelos fundos.

As entidades negaram irregularidades nos investimentos realizados no FIDC.

A assessoria da Bancoop informou que a entidade não iria se manifestar sobre a quebra. A corretora Planner, gestora do FIDC, afirmou, por sua assessoria, que não havia recebido a "notícia oficial" sobre a medida e não iria se pronunciar.

José Serra prega o fim da reeleição

DEU NO ESTADO DE MINAS

Na primeira visita a Minas como pré-candidato do PSDB ao Planalto, ex-governador indica que, se eleito, vai propor mandato de cinco anos, o que abriria espaço para uma candidatura de Aécio

Juliana Cipriani

Em sua primeira visita a Minas Gerais como pré-candidato à Presidência da República, o ex-governador de São Paulo José Serra afirmou ontem que, se eleito, vai propor o fim da reeleição para presidente no Brasil. De acordo com ele, um mandato de cinco anos é suficiente para o governante executar as ações propostas e a expectativa de permanência no poder acaba contaminando atuação. “Você governa e faz o que deve ser feito e não apenas fica de olho na reeleição”, afirmou. Com o gesto, o tucano admite abrir espaço para que o ex-governador de Minas Aécio Neves possa se candidatar ao Palácio do Planalto ao fim de um eventual governo do PSDB.

Além de abrir a possibilidade para que Aécio dispute a Presidência em menos tempo do que se tivesse de esperar oito anos de um eventual governo do PSDB com dois mandatos, Serra não poupou elogios ao colega mineiro na sua passagem por Belo Horizonte. Em entrevista à rádio Itatiaia, o pré-candidato tucano disse entender a frustração dos mineiros pelo fato de Aécio, que disputou a indicação do PSDB para concorrer à Presidência, ter sido preterido. “Minas está percorrendo um outro caminho, foi colocada em uma trilha de desenvolvimento que vai ter conseqüências profundas a longo e médio prazo, então eu entendo isso”, afirmou.

Ao defender o fim da reeleiçã, Serra defendeu um período de governo como na época do ex-presidente Juscelino Kubitscheck. “Aí, a pessoa pode amadurecer fora do poder e voltar depois”, disse. Com o fim do segundo mandato consecutivo, José Serra defendeu um governo de continuidade para programas e projetos que estiverem dando certo, como o Bolsa-Família. Ele criticou o PAC, que chamou de “uma lista de obras”. De acordo com ele, a maior parte delas não deu certo. “Tem é que definir as obras e fazer acontecer”, disse.

Afago Com o gesto de boa vontade de indicar a abertura de espaço e os elogios a Aécio, o pré-candidato tucano deixou clara sua estratégia para correr atrás dos votos do segundo colégio eleitoral do país: vai tentar se desvencilhar da imagem do tucano paulista com domínio sobre o partido. Disse ver o país como um todo e não apenas sob a ótica paulista. “Sou um político nacional. Fui presidente da UNE quando era jovenzinho e vinha muito aqui. Aprendi a fazer política em parte com mineiro, ainda mais porque tinha uma namorada aqui (em MInas)” afirmou.

Serra disse que sua trajetória na constituinte e nos ministérios do Planejamento e Saúde comprova seu apoio e interesse por Minas, que chamou “querido vizinho”. Pouco antes de se encontrar com o principal cabo eleitoral no estado, um Aécio Neves agora barbudo, repetiu: “Minas comigo vai estar no coração e na cabeça para governar e para fazer”, disse. Sobre a possibilidade do voto “Dilmasia”, na ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e no governador Antonio Anastasia, o pré-candidato do PSDB disse que isso está “no terreno da fantasia”. Serra ressaltou que tem uma parceria de 23 anos com Aécio, por estarem juntos desde a constituinte.

Agenda de Minas

As principais reivindicações de investimentos em Minas Gerais

Investimentos federais em rodovias;
Mobilidade viária para a Copa do Mundo;
Ramais e trechos ferroviários;
Ampliação do Metro;
Extensão do Aeroporto Tancredo Neves;
Revitalização do São Francisco;
Implemento de política rural;
Obras de infraestrutura em faculdades;
Instalação de um Tribunal Federal;
Implementação do Pronasci;
Programas de Educação;
Fortalecimento do SUS;
Investimento e manutenção do patrimônio histórico e cultural

Fonte: governo estadual

Homenagem a Tancredo Neves

DEU NO ESTADO DE MINAS

Depois da agenda política em Belo Horizonte, Aécio Neves e José Serra foram juntos ao Rio de Janeiro para abertura de exposição que integra comemoração do centenário do ex-presidente

Marcílio de Moraes

Uma homenagem ao ex-presidente Trancredo Neves no Rio de Janeiro foi último evento do dia do pré-candidato à Presidência da República, José Serra (PSDB) ao lado do ex-governador Aécio Neves. Depois de participar de eventos pela manhã e à tarde em Belo Horizonte, os dois governadores participaram da abertura de uma exposição em homenagem ao centenário do ex-presidente, no Museu Histórico Nacional. Em clima de descontração, os dois percorreram por cerca de 50 minutos os ambientes do museu com a mostra histórica com objetos, documentos e fotos com passagens da vida política de Tancredo Neves.

Acompanhados do governador Antônio Anastasia e de vários políticos do Rio, Serra e Aécio exaltaram o papel do ex-presidente Tancredo Neves na história recente da democracia brasileira. “Tancredo foi alquém que no momento certo soube estar no lugar certo em vários acontecimentos da política brasileira e sempre demonstrou coragem e ao mesmo tempo era um homem conciliador”, afirmou Aécio acrescentando esperar que a exposição no Rio torne a história do avó mais conhecida pelos brasileiros. “As novas gerações, que não viveram os momentos terríveis da ditadura, vão aprender muito com a generosidade e a coragem de Tancredo para construir consensos”, declarou Aécio. O ex-governador disse ter se emocionado com a homenagem e a presença dos amigos do avô.

Anatasia também considerou que a mostra tem importância por permitir o resgate da história de Tancredo Neves, um dos principais protagonistas do processo de redemocratização do Brasil, para as novas gerações. “Essa exposição vai mostrar para o Brasil, aqui da capital cultural do país, um pouco das tradições de Minas Gerais, mas, sobretudo, a história de um homem que foi protagonista dos mais importantes momentos da história brasileira”, afirmou o governador de Minas.

O ex-governador mineiro lembrou que Serra foi convidado por Tancredo depois de eleito presidente pelo Colégio Eleitoral para coordenar o programa de governo. O ex-governador de São Paulo lembrou que Tancredo foi uma das principais forças que permitiu a redemocratização do Brasil. “Com ele, que foi o principal articulador da Nova República, começaram vários avanços que nos permitem pensar no futuro”, disse Serra. “A partir de Tancredo tivemos o período mais democrático da história brasileira. Uma democracia de massas, um clima de liberdade”, acrescentou o pré-candidato tucano.

Indagado por jornalistas se a exposição sobre Tancredo era inspiradora para um pré-candidato à Presidência da República, o ex-governador de São Paulo concordou, mas desconversou quando questionado se essa inspiração valeria para a escolha do nome do candidato a vice na sua chapa. Depois de passar o dia em agendas comuns, Aécio e Serra mostraram bom-humor e brincaram com os jornalistas em uma rápida entrevista ao fim da visita ao museu.

O principal comentário ficou por conta do novo visual do ex-governador de Minas, que agora usa barba. “Sempre fomos próximos, acho até que ele deixou crescer a barba para não correr o risco de outro beijo”, brincou Serra, ao lembrar que beijou Aécio no lançamento de seu pré-candidatura à Presidência, em Brasília. “Se ele der mais um beijo daquele, aí eu me apaixono mesmo”, respondeu Aécio. entrando na brincadeira. Sem falar de campanha, Serra prometeu voltar ao Rio de Janeiro para percorrer a exposição com calma e tratar de assuntos políticos. Ele e Aécio deixaram a exposição juntos. Segundo a assessoria do pré-candidato tucano, ele seguiu ontem mesmo para São Paulo. (Com agências)

Continuidade e ruptura :: Marcus Pestana

DEU NO ESTDO DE MINAS

Na decolagem da sucessão presidencial muito se tem falado sobre um suposto caráter plebiscitário das eleições, em que a variável chave seria a comparação do desempenho do governo Lula vis a vis o de FHC. Isso empobrece e distorce o debate necessário. Primeiro, porque devemos estar com os olhos postos no futuro. Segundo, porque este confronto, feito com a profundidade de um pires, mascara todos os elos, todas as relações de causa e efeito, toda a correta apreciação do que há de continuidade e ruptura entre as políticas dos dois governos principalmente na área econômica.

É preciso dizer, para a decepção de muitas almas revolucionárias petistas, que prevalecem muito mais elementos de continuidade do que de ruptura. Muitos daqueles que foram contra as privatizações, o Proer, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Plano Real, até hoje não entenderam o verdadeiro e o profundo significado da “Carta aos brasileiros” que Lula publicou em 2002, para acalmar os mercados que sinalizavam seus receios em relação à iminente vitória do PT e da estratégia de “mudar radicalmente tudo que aí estava”. A partir daí o presidente Lula assumiu claramente um eixo de continuidade, assegurando o respeito aos fundamentos herdados do governo FHC (metas de inflação, câmbio flutuante, responsabilidade fiscal, austeridade monetária, respeito aos contratos).

No front do crescimento, nosso desempenho é positivo, mas não espetacular. De 2003 a 2008, o nosso PIB cresceu 27,41%, enquanto o da Argentina teve crescimento de 63,58% e o do Peru, 50,19%. Em relação à China e Índia a comparação é ainda mais desfavorável: em 2009, enquanto experimentamos crescimento negativo de 0,2%, à China cresceu 8,7% e a Índia, 6,1%, confirmando a tendência da última década. Nossa taxa de investimento é baixa. Nosso crescimento é puxado pelo aumento do consumo. A combinação das mais altas taxas de juros do mundo com câmbio valorizado coloca problemas para o desenvolvimento, no médio e longo prazo.
A grande discussão de 2010 é como romper as amarras que impedem um maior desenvolvimento de nossa economia. O governo Lula teve o mérito de ampliar o crédito e aprofundar o aumento da renda real da população. Mas o crescimento da economia puxado pela expansão da demanda doméstica encontrará rapidamente limites fiscais. Discutir um novo modelo de desenvolvimento é a agenda prioritária na sucessão presidencial.

Projetar o futuro implica uma avaliação precisa de nossa trajetória recente, sem manipulações ou mistificações ideológicas. O fim da inflação, a superação dos gargalos externos, os superávits comerciais, a formação inédita de reservas, a maior resistência a crises internacionais têm a ver com os elementos de continuidade predominantes nos últimos 18 anos. As fortalezas atuais de nossa economia repousam sobre as bases originadas no Plano Real, na responsabilidade fiscal, nas privatizações (Embraer, setor siderúrgico e mineral, telecomunicações), no Proer, na quebra do monopólio estatal sobre o petróleo. Os frutos colhidos pelo governo Lula resultam disso e da boa gestão econômica herdada do passado, e não de uma suposta ruptura mágica liderada por um líder carismático e popular.

Por isso, preocupam as idéias que começam a surgir, no campo petista, que reclamam a reedição tardia de um anacrônico nacional-desenvolvimentismo liderado por um “Estado forte e ampliado”. Na verdade, precisamos é discutir a democratização crescente das relações entre o Estado socialmente necessário e a sociedade e identificarmos os gargalos que impedem o Brasil de reviver as taxas de crescimento dos tempos do Plano de Metas de JK, do milagre brasileiro dos anos 70 e do 2º PND de Geisel.

Globo tira campanha do ar após queixa do PT


DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Aliados de Dilma acusam TV de embutir propaganda de Serra; emissora diz que jingle foi criado em 2009, mas suspende veiculação para "não dar pretexto"

Keila Jimenez e André Mascarenhas

Com menos de 24 horas no ar, a campanha dos 45 anos da TV Globo foi retirada da programação pela emissora. Motivo: declarações na web de pessoas ligadas à campanha da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, acusando o jingle de embutir propaganda disfarçada a favor do pré-candidato José Serra (PSDB).

A polêmica começou depois de blogueiros traçarem um paralelo entre trechos do jingle da Globo e o slogan da pré-campanha de Serra, "o Brasil pode mais". No comercial, atores e jornalistas da emissora repetem frases como "todos queremos mais", "emoção? Mais!", "educação, saúde, e, claro, amor e paz. Brasil? muito mais".

O assunto repercutiu no Twitter. O coordenador da campanha online de Dilma, Marcelo Branco, foi um dos que repassaram um dos textos sobre a campanha. Ele disse ver "muita coincidência" entre o jingle comemorativo dos 45 anos da Rede Globo e o slogan da campanha de Serra. "Em ano eleitoral precisamos ter cuidado com essas coincidências, que podem beneficiar uma ou outra candidatura", afirmou.

Mais tarde, Marcelo Branco procurou contornar: "Sobre o jingle da Globo: meu RT e comentários foram de caráter pessoal. Eu não falo em nome da Dilma e nem da coordenação", escreveu em seu microblog. Na linguagem do Twitter, RT significa repassar uma informação de um outro internauta

Branco disse que o blog pessoal de Dilma terá a segurança reforçada para evitar ataques de hackers depois que os sites do PT e do PMDB foram alvo de "criminosos digitais", na semana passada. "Não acredito que aqueles ataques tenham partido da coordenação da equipe do Serra, mas foram feitos por pessoas identificadas com a campanha dele", comentou Branco.

Novembro. Em nota, a emissora argumenta que a campanha foi criada em 2009. "O texto do filme em comemoração aos 45 anos da Rede Globo, que começou a ser veiculado ontem à noite, foi criado - comprovadamente - em novembro do ano passado, quando não existiam nem candidaturas, muito menos slogans eleitorais", diz o texto. "Qualquer profissional de comunicação sabe que uma campanha como esta demanda tempo para ser elaborada. Mas a Rede Globo não pretende dar pretexto para ser acusada de ser tendenciosa e está suspendendo a veiculação da campanha na televisão."

Alguns comentaristas da web procuraram também apontar uma relação entre a comemoração pelos 45 anos da emissora e o número do PSDB na cédula eleitoral, o 45. "A imagem final parece um cartaz do PSDB, com o fundo azul exatamente naquele tom e o 45. Se tirar o símbolo da Globo e colocar um tucano, fica igual", escreveu um comentarista do blog RS Urgente, um dos primeiros sites a apontar as semelhanças.

A Globo levou quase uma mês gravando os filmes da campanha de aniversário, que envolvem a participação de cerca de 100 artistas de seu cast declamando o mesmo texto, em uma edição clipada, palavra por palavra. A campanha estreou ontem, no espaço mais nobre da casa, o intervalo do Fantástico, e não deve voltar ao ar em nova versão para evitar novas polêmicas.
Colaborou Vera Rosa

Enigma agrário :: Xico Graziano

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Acontece mais um abril "vermelho". O roteiro dessa confusão anda bem conhecido pela sociedade. Incerto mesmo está o propósito atual das estripulias agrárias no campo. O que pretende, afinal, o Movimento dos Sem-Terra (MST)?

Resposta óbvia: a reforma agrária. Sabe-se que o famoso movimento surgiu, há 25 anos, na luta contra o latifúndio. Historicamente a distribuição de terras se preconizava como caminho para o moderno desenvolvimento latino-americano. O Estatuto da Terra chega em 1964. Reprimido pelo regime militar, pouco solucionou o problema.

Quando, em 1985, sucedendo o autoritarismo, se instala a chamada Nova República, enormes expectativas se criam no País, cheio de vontade para redimir seu injusto passado. Um milhão de assentamentos rurais, no prazo de quatro anos, acaba prometido ao povo. Agora vai, pensaram os reformistas da esquerda.

Findo o governo Sarney, apenas 82.260 famílias foram beneficiadas pela reforma agrária. Uma frustração tomou conta da sociedade. Havia restrições legais. A nova Constituição, promulgada em 1988, exigia leis complementares que tardaram para regulamentar o processo de redistribuição fundiária. Collor não ligou para o assunto. Itamar tentou, mas pouco conseguiu avançar.

Fernando Henrique assumiu o governo, em 1995, com um enorme passivo agrário a enfrentar. Barracos de lona preta indicavam dezenas de acampamentos às margens das rodovias, na beirada de fazendas marcadas pela encrenca. Cerca de 50 mil famílias, gente excluída da modernização agrícola, se acotovelava gritando pela terra prometida. Reforma agrária já.

Nessa época, o MST começava a se firmar no cenário das lutas agrárias, rivalizando com a tradicional, e poderosa, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Dominada historicamente pelos comunistas, a Contag envelhecera seus métodos de atuação política, acusada de peleguismo. Surgiram assim, pelas mãos da moçada gaúcha do MST, as violentas invasões de terras. O bicho pegou.

Invadir propriedades rurais - ou ocupar latifúndios, conforme dissimuladamente se denominava a arbitrariedade - chamava a atenção contra a lerdeza do processo de redistribuição fundiária, empurrando a agenda governamental para a frente. Por isso, recebia o apoio da sociedade. A mídia adorava.

Passaram-se 15 anos. E, surpresa, ao contrário do que pensa o senso comum, o Brasil realizou a maior reforma agrária do mundo. O último relatório do Incra aponta a existência de 8.562 projetos implantados, com 906.878 famílias assentadas. Somados os mais recentes, pode-se dizer que 1 milhão de famílias recebeu terras, somando 80 milhões de hectares distribuídos. Para comparação, a área total cultivada no País atinge 67 milhões de hectares. Pasmem.

Ora, se a distribuição foi tamanha, por que não se acalmam os sem-terras? O argumento histórico, percebam, sobre a lerdeza do governo no processo da reforma agrária, não cabe mais. Algo distinto move o MST. Destrinchar esse enigma faz bem ao debate nacional.

A turma do MST afirma que ainda falta muita gente para ganhar seu quinhão. Pode ser. Mas essa hipótese considera incluir os desempregados da cidade, não propriamente os tradicionais sem terra, aqueles excluídos no campo. Fabricar sem-terras nas periferias urbanas infla a conta, mas não garante sucesso. Pelo contrário. Parte do fracasso dos assentamentos rurais se deve exatamente à falta de aptidão para a lide rural.

Outra linha de raciocínio centra fogo no agronegócio. Antigamente era o latifúndio culpado pelo mal. Sua existência caracterizava o velho feudalismo a ser varrido do mapa. Agora, porém, modernizadas as relações de produção, criou-se nova dicotomia, aquela que opõe a agricultura familiar ao negócio rural capitalista. Os ideólogos do MST abriram um fosso entre a via campesina e a agricultura empresarial. Tremenda bobagem.

Celso Ming escreveu em sua coluna no Estado, dias atrás, que o MST carrega a bandeira do atraso, invocando, muito apropriadamente, o conceito das utopias regressivas. No popular, lembra o apelo bucólico do passado, aquela reminiscência gostosa, bem brasileira, da época em que o bolo de fubá se fazia com ovo caipira colhido no quintal, perto da horta caseira. Um passeio a cavalo, um fogão a lenha na cabana da montanha. Quem não gosta?

No fundo, ao defender a agricultura familiar e atacar o agronegócio, valoriza-se a pobreza rural. Utopia faz bem, perfuma a vida. Mas cultivar a existência miserável abre caminho para a subserviência humana. Fazer reforma agrária só tem sentido se, economicamente, resultar em progresso material, em melhoria de qualidade de vida dos beneficiados. O MST, ao recusar a tecnologia e a integração produtiva, características básicas da moderna agricultura, condena o assentado à eterna dependência.

Difícil entender as razões do MST. Possivelmente, ainda mais em anos eleitorais como este, a motivação se encontra na política. No período de Fernando Henrique, lembram-se, o MST dizia combater o neoliberalismo. Uma chatice. Entrou o Lula, roupagem dúbia adornou a tagarelice do Stédile, bem no estilo oficial do bate-e-assopra, uma invasão aqui, um convênio ali. Beira a picaretagem.

Aproximando-se o pleito presidencial, divulga o ignóbil líder do MST que a eleição do Serra seria o "pior dos mundos". Depreende-se, portanto, que suas ações avermelhadas servem à candidatura oficial. Para divulgá-la invadem fazendas produtivas, destroem laranjais, queimam viveiros, roubam gado, fazem justiça com as próprias mãos. Resultado: estimulam a violência no campo. Sorte da Dilma?

Azar da democracia. Ninguém aguenta mais as invasões de terras.

Agrônomo, é Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

A pressão do consumo:: Celso Ming



DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Por toda a economia, aumentam os sinais de que o crescimento do consumo, "em ritmo chinês", de 10% ao ano, é excessivo e insustentável.

O único que finge não ver o que acontece é o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Às vezes, parece aceitar o diagnóstico de que vem vindo aí um surto de inflação e para atacá-la ameaça reduzir tarifas alfandegárias. Outras vezes, sugere que o superconsumo ainda é consequência residual da política anticíclica do governo, já removida na medida em que foi eliminada a isenção temporária de IPI para automóveis e aparelhos domésticos. Nessas condições, conclui o ministro, é só esperar que o aumento do consumo reflua naturalmente, sem necessidade de contra-ataques de política monetária (aumento dos juros).

Aí há dois equívocos e uma omissão. O primeiro equívoco consiste em tentar rebater a alta dos preços internos com redução de tarifas aduaneiras. O principal foco de inflação está no setor de serviços contra o qual uma redução de tarifas não resolve.

O segundo está em ensaiar uma explicação descabida. As pressões altistas não estão localizadas no setor de veículos e no de aparelhos domésticos, os mais beneficiados com a redução de impostos, como sugere o ministro. Além disso, a julgar pelos depoimentos obtidos pela imprensa no setor varejista, a demanda de bens de consumo durável continua forte, mesmo depois da normalização da cobrança do IPI. Isso mostra renda em expansão e disposição crescente por parte do consumidor de se endividar.

A omissão antes mencionada tem a ver com a falta de coragem do ministro em reconhecer que o forte consumo e as pressões sobre os preços que daí advêm se devem à excessiva expansão das despesas públicas (da ordem de 17% neste ano), comandadas pelo governo Lula em seu empenho de amolecer o eleitor. É o governo gastando demais que cria renda artificial e aumento do consumo.

O ministro Mantega tem, sim, razão quando deixa subentendida sua contrariedade pelo propósito já manifestado pelo Banco Central de resolver com aperto monetário (alta dos juros) um problema produzido por causas não monetárias. Falta reconhecer que o problema é fundamentalmente fiscal e que, por isso, mais adequado é enfrentá-lo com remédios fiscais, ou seja, com a volta da austeridade na condução do orçamento federal. Isto é, a solução correta está no âmbito da jurisdição do próprio ministro, e não do Banco Central.

Na medida em que a Fazenda se omite e nem sequer se dispõe a fazer o diagnóstico correto, sobram a louça por lavar e a arrumação da cozinha para o Banco Central, que está obrigado a empurrar a inflação de volta para a meta, com o único instrumento de trabalho de que dispõe (a política monetária).

O ministro da Fazenda não é, no caso, o único omisso. Também a direção do Banco Central (e não só seu presidente) se esconde e prefere usar panos quentes a denunciar com clareza a natureza fiscal da inflação de demanda. Essa deve ser a principal razão por que o Banco Central vem perdendo a iniciativa na administração das expectativas. Semana após semana, a projeção de inflação feita pelos formadores de preços vai subindo, como mostra a pesquisa Focus, do Banco Central (veja gráfico).

CONFIRA

Há dois meses, a pesquisa Focus, do Banco Central, apurou que as 100 instituições ouvidas semanalmente projetavam para o final de 2010 uma inflação de 4,86%. Na semana passada, esse número já havia saltado para 5,32%.

São horizontais

O gerente executivo de Exploração e Produção do Pré-sal da Petrobrás, José Miranda Formigli Filho, pede reparo numa afirmação da coluna de domingo. "As camadas de sal estão sujeitas a cortes, deslocamentos horizontais (e não verticais, como foi dito) ou encavalamentos."

A bolha de imóveis brasileira:: Vinicius Torres Freire



DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Mais renda e crédito fazem com que o preço dos imóveis suba, mas não há indício ou indicadores sérios de bolha


Há uma conversa à solta sobre a "bolha imobiliária" no Brasil. Numa bolha, a variação de preço dos imóveis seria muito superior à rentabilidade de uma, digamos, média de ativos financeiros. Essa variação de preços estaria descolada dos "fundamentos" da economia ou do mercado em questão.

Mas a fim de que houvesse condições para a ocorrência de uma bolha mesmo seria preciso que houvesse alavancagem ou combustível extra na alta do preço dos imóveis. Ou seja, gente tomando dinheiro emprestado a fim de comprar construções, ou transferindo suas aplicações financeiras, em massa, para o mercado de imóveis: "especulação".

Enfim, de modo a simplificar a história, para começar a falar de bolha, seria preciso verificar se o preço do ativo (imóveis) está alto demais em relação ao retorno que ele pode oferecer (o preço do aluguel) de modo duradouro ("sustentável"). A primeira dificuldade é verificar a própria alta de preços. Não temos índices gerais de variação de preços de construções e terrenos, mas apenas de material de construção ou de custos de habitação (aluguel).

Segunda dificuldade seria ter uma série razoavelmente longa desse índice de imóveis a fim de avaliar o que seriam preços "altos demais" e "descolados" disso ou daquilo. No caso do Brasil, com mercados de imóveis muito desconjuntados e díspares, do luxo à favela no lixão, desenvolver tal índice é ainda mais difícil.

Uma variação forte de preços em certo período pode não ser uma bolha. Mais comum é que não o seja. Os preços do ativo ou bem em questão poderiam estar apenas recuperando uma "defasagem" de preços de um momento anterior. Ou os preços podem subir momentaneamente por causa de um pico na demanda (bidu) -e o mercado pode estar se preparando para atendê-la.

Algumas estatísticas de associações do setor imobiliário dão que o preço médio do imóvel novo subiu o equivalente entre 8% e 9% ao ano na cidade de São Paulo, desde 2006.

Tais índices ajudam pouco, muito pouco, mas vá lá. A variação não está muito longe da taxa de juros real "básica" do período. Ocorre num período de boa recuperação da renda. Trata-se do dobro da inflação média da habitação nesses anos, decerto, mas segue a variação do aluguel da classe média, medido por essas mesmas associações. "Bolha"? Uhm.

Há fundos sendo canalizados para a "especulação imobiliária"? Também difícil dizer. Mas não parece haver nenhuma modificação notável nos indicadores de estoques de aplicações financeiras dos brasileiros (fundos de investimento, poupança, por exemplo). O crédito imobiliário cresceu quase três vezes mais rápido que a média total. Mas, dado o volume, isso não tem cara de "bolha".

Note-se ainda que não temos instrumentos financeiros sofisticados o bastante para "inventar" crédito para imóveis. Nosso mercado de derivativos relativos a imóveis é nanico. Pode ser que se inventem meios de financiamento mais arriscados, dado que o crédito bancário ainda é difícil.

Mas ainda não temos isso. Por fim, pode ser que exista uma onda de lavagem de dinheiro ou importação furtiva de capital dirigida a investimentos em imóveis (aconteceu na Espanha). Pode ser. Mas disso não há estatísticas. "Bolha"?

O QUE PENSA A MÍDIA

EDITORIAIS DOS PRINCIPAIS JORNAIS DO BRASIL
Clique o link abaixo

J.S. Bach - Air on the G String, Sarah Chang

A CHARLES BAUDELAIRE:: Carlos Pena Filho



Carlos também
embora sem
flores nem aves
vinho nem naves,

eu te remeto
este soneto
para saberes,
se o acaso o leres,

que existe alguém
no mundo, cem
anos após

que não vaiou
e nem magoou
teu albatroz.


(De Livro Geral)