sábado, 8 de maio de 2010

Reflexão do dia - Hannah Arendt

A capacidade de ver a mesma coisa desde várias posições pertence ao mundo humano; trata-se da simples troca da posição que nos foi dada pela natureza por aquela de outra pessoa com quem compartilhamos o mundo, o que resulta numa verdadeira liberdade de movimento em nosso mundo espiritual que corresponde à nossa liberdade de movimento físico.

(Hannah Arendt, no livro , “A Vida do Espírito”, - o Pensar, o Querer, o Julgar - Editora Civilização Brasileira , Rio de Janeiro, 2009)

Lula alimenta sua lenda:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O presidente Lula está claramente tentando adiar o começo do período “pós-Lula”, prolongando sua permanência no poder com a expectativa de continuidade através da candidata Dilma, ou de uma atuação política comandando a oposição. Ao dizer que Dilma não cresce nas pesquisas porque ele ainda não subiu nos palanques com ela para pedir votos, Lula alimenta sua lenda para evitar a debandada dos aliados.

Enquanto isso, o candidato tucano, José Serra, está levando longe demais a estratégia de se colocar como o “pós-Lula”, figura que o ex-governador de Minas Aécio Neves criou quando ainda disputava a candidatura com Serra dentro do PSDB.

De tanto se esforçar para demonstrar que não é um adversário de Lula, o candidato tucano chegou ao cúmulo de dar um cheque em branco ao presidente no caso do reajuste dos aposentados que ganham mais de um salário mínimo, apoiando de antemão qualquer que seja a decisão do presidente.

Quando um não quer, dois não brigam, é esse recado que Serra está enviando diariamente a Lula, dificultando a estratégia oficial de transformá-lo no “anti-Lula”.

Embora esteja dando certo, a estratégia tem que ser bem calibrada, para não transformar Serra em um candidato sem forma nem conteúdo.

A terça parte do eleitorado que vota naturalmente no PSDB pode estar achando até graça na estratégia, mas a outra terça parte, que não é nem tucana nem petista, e está esperando as propostas dos candidatos para se definir, pode ficar confusa com o malabarismo de Serra.

Numa coisa, no entanto, ele está certo: no lançamento da proposta de governo de união nacional em torno de um projeto de país.

Houve diversos momentos nos últimos anos em que PT e PSDB, os dois partidos que dominaram a política nacional nos últimos 20 anos, estiveram a ponto de unir forças, mas as contingências políticas só fizeram afastá-los.

O próprio presidente Lula revelou mais de uma vez a vontade de procurar o PSDB para poder abrir mão de acordos fisiológicos no Congresso, mas as primeiras tentativas foram bloqueadas pela definição do então chefe do Gabinete Civil, José Dirceu, que considerou que a aproximação seria uma derrota.

Lula acabou convencido de que o PSDB queria ser chamado para provar a incapacidade dos petistas de governar.

O ex-presidente Fernando Henrique revelou anos depois que, ao fazer a transição de poder da maneira cordial e transparente, considerava a possibilidade de estar criando um clima político favorável à aproximação dos dois partidos, o que acabou não acontecendo.

O mensalão, em 2005, acabou se transformando em um obstáculo intransponível à aproximação, exacerbando as diferenças em vez de ressaltar as proximidades.

À medida que o modelo de Estado petista foi se revelando mais empreendedor do que indutor, e que o aparelhamento da máquina pública pelos sindicalistas do PT e seus aliados foi se transformando em uma prática política característica, estabeleceu-se uma distância difícil de superar entre os dois partidos.

A candidata do PV à Presidência, senadora Marina Silva (AC), definiu a situação ao comparar a maneira de governar do PT com a do PSDB, dizendo que os tucanos se apoiaram no que há de pior no PFL, e o PT no que há de pior no PMDB.

“Precisamos acreditar na ética dos valores. Tentamos governar sozinhos no PT, sem dialogar com PSDB e acabamos com o pior do PMDB”, definiu Marina.

A ideia de, no “pós-Lula”, conseguir um acordo com o PT, ou setores do partido, para a aprovação de reformas estruturais como a previdenciária ou a tributária, é uma tentativa de dar um passo à frente no nosso processo político.

Mas, em vez de ser uma heresia, como definiu Serra, é mesmo uma utopia difícil de ser realizada.

Ainda mais agora que Lula dá mostras de que não está à vontade no figurino de futuro ex-presidente, e já envia avisos de que continuará atuando na política nacional, coisa que ele sempre criticou no ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

No mais recente arroubo de índole continuísta, Lula pediu para ser convidado pelas centrais sindicais no próximo 1ode maio, “porque, se for alguém ruim, a gente vem aqui meter o pau; se for alguém bom, a gente vem aqui ajudar e aplaudir”.

Aos poucos, Lula vai definindo seu papel político no futuro, agora que parece que sua carreira internacional, com a aproximação com o Irã e tropeços em relação aos direitos humanos, já não tem aquela mesma perspectiva exitosa anteriormente avistada por seus assessores.

Nesse ponto pode estar o erro de cálculo da oposição na estratégia do “pós-Lula”.

Há quem considere um erro político definir sua saída do governo como o início da era pós-Lula, pois sua influência na política brasileira continuará grande, a exemplo da de Getulio Vargas.

Na crise do mensalão, quando parecia que Lula não se recuperaria, o expresidente Fernando Henrique Cardoso orientava a oposição a não pressionar em busca do impeachment por duas razões: o receio de uma reação dos chamados “movimentos sociais”, e a possibilidade de, destituído, Lula se transformar em um “Getulio vivo”, numa alusão à morte de Getulio, que provocou uma comoção nacional.

Na atual situação, Lula será na verdade um “Getulio vivo”, controlando o “lulismo”.

Para que esse cenário se realize, Lula precisa de uma radicalização política, não pode deixar que se instale no imaginário do eleitor brasileiro a ideia de que seu governo é um desdobramento do de FHC, e que, portanto, Serra pode ser também a continuidade.

Tem que vender a falsa ilusão de que é justamente o inverso, e que, se o vitorioso for Serra, estará dado o sinal para um retrocesso social e econômico do país.

Isso acontecendo, Lula estará no palanque da CUT no próximo 1ode maio “metendo o pau” no governo tucano, preparando o terreno para uma volta triunfal em 2014.

Como 2 e 2 são 5:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O caso de Minas Gerais é típico: o acordo de candidatura única para o governo do Estado já foi anunciado umas três vezes, adiado outras tantas, e quanto mais o PT e o PMDB se reúnem para acertar os termos da aliança mais confusas parecem as relações entre os dois partidos.

Da penúltima vez que representantes do PT nacional anunciaram que o martelo em Minas estava batido, o ato oficial de apoio ao candidato do PMDB, Helio Costa, para governador foi marcado para o dia 9 de maio.

O PT pedira ao PMDB uma semana de prazo depois da realização das prévias (dia 2) alegando a necessidade de se organizar internamente. Todas as garantias de que as prévias eram para escolher o candidato a senador, nada a ver com candidatura própria.

Pois Fernando Pimentel venceu as prévias, o dia 9 de maio sumiu do calendário e da última vez que o assunto foi tratado em público, agora já por representantes nacionais do PT e do PMDB, o ato oficial de apoio a Hélio Costa ficou adiado para 6 de junho.

Explicação? É necessário mais um prazo para apaziguar a militância cuja expectativa é a de ter candidatura própria e não apoiar um candidato do PMDB.

Mas não estava tudo certo? Palavras não foram empenhadas? Os militantes que votaram nas prévias não foram avisados de que escolhiam o candidato a senador na chapa única? O presidente da República não havia acenado com a hipótese de intervenção no diretório regional caso não se cumprisse o prometido?

De qualquer modo ainda há prazo, embora não deixe de ser esquisito que as direções de dois partidos em vias de fechar uma aliança para disputar a Presidência da República não explicitem com clareza os critérios que conduzem os procedimentos dos acordos regionais nem sigam um calendário por elas previsto.

Os desacertos locais se refletem no plano nacional. Marcado para 15 de maio, o grande ato de sagração da aliança com o anúncio de Michel Temer como candidato a vice foi transferido para 12 de junho.

Explicação? Genérica: necessidade de aparar arestas em vários Estados do País.

Nenhuma novidade em se tratando de dois partidos cujas bases em determinadas regiões são de origens e práticas inteiramente diferentes, animosas entre si.

O PMDB que numa fase anterior explicitava as divergências, agora está mais cuidadoso. Evita manifestações que possam ser interpretadas como ameaças de rompimento da aliança nacional. Inclusive porque, nessa altura, não teria discurso nem motivo para tal.

Nunca mais se teve notícia do programa de governo que o PMDB pretendia apresentar a Dilma Rousseff até 8 de maio. Hoje, portanto. O prazo acabou e ninguém se sentiu no dever de dar uma satisfação.

O mais provável, a despeito dos descompassos, é que no fim tudo acabe saindo como previsto. É diferente de dar certo do ponto de vista do funcionamento harmonioso da aliança.

Mas conviria ao PT e ao PMDB perceberem que da forma como agem dão a nítida impressão de que as coisas entre eles parecem tão certas como 2 mais 2 são 5.

Base. O índice de 7,7% de reajuste para as aposentadorias acima de um salário mínimo aprovado pela Câmara, deve mesmo ser mantido pelo Senado.

Já o fator previdenciário - o cálculo que adia a aposentadoria à medida que aumenta a expectativa de vida ? tem boa chance de ser retomado pelo Senado.

A Câmara fez terra arrasada na Previdência. O Senado recuperaria o ponto mais arrasador para as contas, embora o menos desgastante para o presidente Lula vetar, mas deixaria para ele o ônus do veto do reajuste.

E a isso ainda se dá o nome de base parlamentar aliada.

Equipe. Quando diz que pretende, se eleito presidente, convidar o PT e o PV para fazer parte do governo, no que se refere aos verdes o tucano Jose Serra tem em mente o nome do médico sanitarista Eduardo Jorge para o Ministério do Meio Ambiente. Ele é coordenador da campanha de Marina Silva e foi secretário municipal do Meio Ambiente de São Paulo.

A estratégia do medo:: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - O PT tem disseminado a noção de que só "uma pessoa que tenha a mesma visão de Lula" será capaz de fazer o Brasil progredir. A afirmação é do comercial petista de 30 segundos veiculado várias vezes na quinta-feira na TV.

A narrativa usa como alegoria a imagem de uma montanha-russa. Quando o carrinho sobe, trata-se de Lula e alguém com a "mesma visão" no comando. Na descida desembestada, as pessoas fazem cara de pânico -uma reação à oposição no poder. Ao final, uma inscrição peremptória: "O Brasil não pode voltar ao passado". É um marketing popular cuja estética se assemelha a obras do lendário diretor de filmes B Roger Corman ou à série de terror "Sexta-Feira 13".

Todos os petistas repetem o mantra à exaustão. "É Dilma ou a barbárie", profetizou nesta semana um jornal do partido. Ontem, Lula disse ser preciso não "deixar esse país regredir". Dilma Rousseff, por óbvio, estava ao seu lado.

Esse tipo de abordagem não é nova na política. Foi exatamente a mesma tática usada por Fernando Henrique Cardoso em 1998, ao tentar a reeleição. Deu certo. Na TV, o tucano era apresentado como "um líder com pulso firme num mundo turbulento". A crise econômica e a memória recente da inflação sepultaram as chances do PT.

Já em 2002, a tática fracassou. A atriz Regina Duarte foi à TV declarar ter medo de uma vitória do PT. Esforço inútil. Lula ganhou e seu marqueteiro inventou a frase "a esperança venceu o medo".

Na eleição seguinte, em 2006, o PT escanteou a esperança e preferiu usar o medo a seu favor.

Espalhou de maneira eficaz a interpretação de que o PSDB privatizaria o país inteiro.

Lula foi reeleito.

Agora, a história se repete parcialmente. Esta é a primeira eleição na qual a economia estará bem aquecida. Vai dar certo? Não se sabe. Mas há uma incrível similitude e alternância de discursos entre PT e PSDB nas últimas campanhas.

Cabrochinha de Maurício Carrilho e Paulo César Pinheiro

O eleitor não quer ser enganado:: Villas-Bôas Corrêa


DEU NO JORNAL DO BRASIL
Pelo noticiário das redes de televisão e pelos jornais procurei saciar a curiosidade sobre o primeiro debate dos três principais candidatos ou pré-candidatos à sucessão do insubstituível presidente Lula, o líder mais popular do mundo, promovido pela Associação Mineira dos Municípios, em Belo Horizonte, e que reuniu Dilma Rousseff, do PT, José Serra, do PSDB, e Marina Silva, do Partido Verde (PV).

Li e reli os principais tópicos assinalados na primeira leitura. E, com a mais absoluta franqueza, curti ao longo do dia a frustração que mistura a superficialidade do falatório da trinca, com ressalvas quanto à candidata do PV. E o tom que procurou ser natural e descontraído da parlapatice do candidato da oposição, José Serra (PMDB), com o riso forçado para passar a impressão da cordialidade, quando o que o eleitor reclama são propostas polêmicas que definam a linha política de cada um. Marina Silva criticou as concessões que os partidos de Dilma e de José Serra fizeram quando assumiram o poder. As carapuças enterram na cabeça de Fernando Henrique Cardoso, o criador da praga da reeleição que acanalhou as campanhas para os três níveis de executivo - presidente, governadores e prefeitos - e na do PT de Lula. Marina reconheceu o erro do PT, quando era filiada ao partido: “Nós tentamos governar sozinhos, sem conversar com o PSDB, e acabamos reféns do que havia de pior no PMDB”.

Pouco mais se aproveita do bate-papo inaugural da série de debates na fase decisiva da campanha, transmitidos ao vivo pela televisão e comentados em largos espaços nos jornais e revistas. Desembaraçado da seriedade de governador de São Paulo, o candidato José Serra estava com a corda toda. Surpreendeu as duas candidatas com o pré-convite patusco: “Se depois da campanha eu for eleito (e ninguém é eleito antes da campanha), vou querer – e pode parecer uma heresia – tanto o PT quanto o PV no governo. Com base no programa. Nada de relação pessoal”.

É apenas uma galanteria do candidato que, se levada a sério, extinguiria a oposição.

A cantilena do trio não destoa das queixas de candidatos à reeleição, que atribuem à má vontade da imprensa o desinteresse do eleitor pela pré-campanha, que pode levar a um número desqualificante de votos nulos ou em branco. Pois, melhor nem de encomenda. Na noite de quarta-feira, dia 5, não exagero afirmar que tive a honra de dividir com o escritor e comentarista político Merval Pereira, de O Globo, duas horas de palestra na Casa do Saber, a primeira de uma série de debates com o público.

Como são centenas as testemunhas, não receio desmentido. Em várias salas, outros temas atraíram os interessados. Mas a notícia do debate político encheu o salão. Assistência de todas as idades, muitos com cadernos para anotações, por duas horas e quebrados, com intervalo de dez minutos para esticar a perna e outras serventias, não arredou pé. Não saiu ninguém, tocado pela pressa ou o cansaço. E o debate aberto para perguntas garantiu o sucesso. Modéstia à parte, meio a meio com o Merval, fomos aplaudidos de pé por alguns minutos.

E é simples a chave que abre o cofre arrombado do segredo. Nós estávamos ali para o depoimento franco. E a crítica direta e a análise sem meias palavras do pior Congresso de todos os tempos, o mais enlameado em escândalos. Na defesa da porta trancada da saída, que começa pela reforma política, com a Constituinte ou mesmo com emendas constitucionais que acabem com a orgia da roubalheira milionária da capital, que é a mais bela do mundo e que vem sendo pilhada por governadores de opereta, Assembleia Legislativa, o Roriz que favelizou a capital inaugurada antes de estar pronta e vem sendo saqueada por governadores que distribuem pacotes de notas aos cupinchas. E pelo Congresso das mordomias, vantagens, passagens aéreas para o fim de semana no feudo eleitoral.

Esses são os temas que o eleitor quer que os candidatos discutam. Batendo no peito as pancadas do arrependimento. É só esperar para conferir.

Propaganda e política:: Cesar Maia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Uma ampla pesquisa sobre eleições presidenciais nos EUA, coordenada pela professora Kathleen Jamieson e publicada em 2000, mostrou que a comunicação política mais eficaz é a comunicação de contraste. Ou seja: eu sou assim, e ele é diferente.

Em comerciais de TV, o impacto era de longe o maior quando comparado com os comerciais negativos (um candidato fala mal do outro) e os comerciais defensivos (assim chamados por Jamieson aqueles em que o candidato fala bem de si e do que fez). Para ela, os comerciais negativos criam uma incomodidade inicial, mas fixam bem mais que os comerciais defensivos. Estes são de muito baixa eficácia.

Neste início de campanha eleitoral, os dois candidatos favoritos usam a comunicação de contraste.

Um diz: compare os currículos. Outro diz: compare os governos. Ambos atuam de forma convergente com o que diz Jamieson. Por outro lado, se realmente os comerciais defensivos têm baixo impacto, não têm razão os políticos que se preocupam tanto com o apoio da imprensa a este ou àquele governo.

Na semana passada, o diretor do jornal "The New York Times", Bill Keller, mostrou sua preocupação com a imagem dos meios de comunicação pela responsabilidade na deterioração da convivência política. Thomas Jefferson dizia que, se tivesse que optar entre democracia e imprensa livre, ficaria com esta última, lembra Antonio Caño em artigo no "El País".

Diz ele que pesquisas recentes atribuem aos meios de comunicação grande parte da culpa pelo atual clima de tensão política nos EUA. Entre os nomes promotores do ódio, diz Caño, estão os jornalistas G. Beck, da Fox News, e R. Maddow, da MSNBC. Beck pela direita, e Maddow pela esquerda.

Afirma Caño que o "The Wall Street Journal" adotou um tom belicoso e parcial desde que R. Murdoch assumiu seu controle, em 2007. E registra que o jornal é o único dos 25 maiores dos EUA que aumentou sua circulação no último ano, assim como a TV de Murdoch, que passou a liderar a audiência entre as redes de notícias.

Nas conclusões de Jamieson, se os comerciais negativos são mais eficazes que os comerciais defensivos, é possível que campanhas negativas pela imprensa rendam mais leitores e audiência aos meios que as utilizam. Mas daí a concluir que além da circulação e da audiência isso afete o quadro político há enorme distância.

Grondona, em sua coluna no "La Nacion", na semana passada, lembrou que Perón disse certa vez: "Quando tivemos quase toda a imprensa contra, ganhamos, mas quando controlamos quase toda a imprensa, perdemos". Ou seja: é tão inócuo governos tentarem manipular a imprensa quanto a imprensa tentar manipular governos.

Campanha já começou, diz ministro do TSE

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Em seminário sobre imprensa e eleições, Arnaldo Versiani afirma considerar normal que pré-candidatos já estejam em busca de votos

Em painel sobre as limitação ao jornalismo e à liberdade de expressão na internet, debatedores manifestam preocupação com amarras

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Responsável por relatar no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) as regras das eleições de outubro, o ministro Arnaldo Versiani afirmou ontem considerar normal que a campanha já esteja nas ruas, mesmo faltando dois meses para o seu início, conforme determina a lei."A verdade é que a campanha já está nas ruas, até com a aparição de pré-candidatos. Eu, sinceramente, sou do ponto de vista de que a propaganda deveria ser permitida, e até ser estendida. O período eleitoral propriamente dito, após 5 de julho, talvez seja muito curto", afirmou.

Versiani participou do "Encontro Imprensa e Eleições", promovido pela Associação Nacional de Jornais. Ele disse que a Justiça deve coibir abusos, mas afirmou: "Quanto mais propaganda, quanto mais a gente pudesse conhecer os candidatos, melhor seria".

O ministro, no entanto, votou em março pela aplicação de multa de R$ 10 mil ao presidente Lula por propaganda antecipada de Dilma Rousseff (PT).

Em sua fala, no painel sobre "liberdade de expressão versus igualdade das candidaturas", afirmou ser recomendável que os jornais deem conhecimento aos leitores, em editoriais, se apoiam algum dos candidatos.

Tanto Versiani quanto a vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, disseram ser contra a punição de órgãos da mídia por dar maior espaço a candidatos cuja posição "exerça um poder maior de atração sobre a imprensa".

Em outro painel, que tratou das limitações na internet ao jornalismo, à liberdade de expressão e à propaganda, os debatedores manifestaram preocupação com amarras impostas pelo Congresso em 2009.

Fernando Rodrigues, colunista da Folha, ressaltou que o país não tem histórico de liberdade de expressão e de imprensa e frisou ponto da legislação que determina a suspensão pela Justiça eleitoral -atendendo a requerimento de candidato, partido ou coligação- de todo o conteúdo de um portal que eventualmente descumprir alguma das novas regras.

Advogado da Folha e do UOL, Luís Francisco Carvalho Filho disse avaliar que o país tem uma tradição pela censura e que a Justiça Eleitoral hoje existe mais para tutelar os candidatos do que os eleitores.

Para o ministro do TSE Henrique Neves, a Justiça terá "consciência e bom senso" ao analisar casos sobre a internet.

No painel de Versiani, houve também longo debate sobre decisões judiciais em conflito com a atividade jornalística.

O diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, citou a censura ao jornal relativa à Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, e defendeu que, ao haver divergência entre a área jurídica e a redação de um jornal sobre alguma reportagem, sempre os editores tenham a palavra final.

Já o advogado de "O Globo" Bruno Calfat chamou a atenção para a concessão, na primeira instância judicial, de "desmedidos direitos de resposta".

Ex-assessor de Lula faz plano de Marina na área de segurança

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Secretário no início da gestão petista, Luiz Eduardo Soares é convidado para formular programa e ataca proposta de Serra Antropólogo classifica ideia de criação do Ministério da Segurança, apresentada pelo tucano, como "grande engodo" e "clichê batido"

Bernardo Mello Franco

Protagonista de uma breve e polêmica passagem pelo governo Lula, o antropólogo Luiz Eduardo Soares deve coordenar o programa de segurança pública da pré-candidata do PV à Presidência, Marina Silva.

Ele foi secretário nacional de Segurança Pública durante os primeiros dez meses da gestão petista. Caiu sob acusação de nepotismo, por ter empregado a mulher e a ex no órgão.A assessoria de Marina confirmou o convite, que ele afirma ainda não ter sido formalizado. "Estou colaborando. Mais adiante, vamos discutir como transportar esse processo em programa", disse à Folha.

Soares fará sua primeira aparição pública com a senadora na segunda-feira, em debate do IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade) em São Paulo. Ele é cofundador da entidade, que tem Marina como presidente e deve funcionar como órgão paralelo da candidatura.

O antropólogo promete estrear com duras críticas ao pré-candidato do PSDB, José Serra, que na semana passada prometeu criar um Ministério da Segurança Pública. Para Soares, a proposta é "uma casca de banana jogada no deserto de ideias".

"É um grande engodo", atacou. "Quando você não tem proposta, repete clichês gastos e batidos. Sem uma política de segurança, o ministério não será nada mais que um fetiche."

Ele também promete críticas à atuação de Lula, que teria deixado a segurança nas mãos dos governadores: "Ele fez como todos os governos anteriores. Foi uma grande frustração".

O novo assessor de Marina também foi subsecretário de Anthony Garotinho no governo do Rio e atuou em prefeituras petistas em Porto Alegre, com Tarso Genro, e Nova Iguaçu (RJ), com Lindberg Farias.

Em 2006, foi candidato a deputado federal pelo PPS-RJ, mas não se elegeu. Ele disse estar sem partido no momento.

Voto "Zé-Zé" isola petista

DEU NO ESTADO DE MINAS

Porto Alegre – No Rio Grande do Sul, berço político da presidenciável Dilma Rousseff, a petista vem sendo isolada pela possibilidade do voto "Zé-Zé" – como é chamada a dobradinha do tucano José Serra para a Presidência com o peemedebista José Fogaça para o governo do estado. No plano nacional, PT e PMDB negociam uma aliança que pode fazer de Michel Temer o vice de Dilma. No Rio Grande do Sul, o PMDB é muito próximo a José Serra.

O voto Zé-Zé está surgindo da combinação do desgaste da governadora Yeda Crusius (PSDB) com a cristalização de Fogaça nas pesquisas eleitorais como o nome mais viável para bater o petista Tarso Genro na sucessão estadual. Segundo as últimas pesquisas, havia empate técnico entre Tarso (31%) e Fogaça (30%) no fim de março. Yeda tinha 9%. A pesquisa apontava que Serra tinha 45% das intenções de voto dos gaúchos contra 27% de Dilma.

Na terça e na quarta-feira, Serra cumpriu agenda no Rio Grande do Sul e emitiu vários sinais de que Fogaça pode se tornar o seu parceiro preferencial no estado. Além de circular pelo interior na companhia de peemedebistas, Serra disse que subiria "com gosto" em dois palanques e afagou Fogaça. Serra dedicou apenas 20 minutos para um encontro privado com Yeda. Fogaça teve o triplo desse tempo no Aeroporto Internacional Salgado Filho. O presidenciável também se reuniu com deputados do PMDB.

Dilma diz estranhar 'convite' de Serra ao PT

DEU EM O GLOBO

Presidente do PSDB reage dizendo que ela estranhou porque só conhece o Estado aparelhado

IPOJUCA (PE), SÃO PAULO e BELO HORIZONTE. Antes da solenidade no Porto de Suape, a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, disse ter achado estranho seu principal adversário, José Serra (PSDB), ter afirmado anteontem que poderá chamar o PT e o PV para compor o seu governo, caso seja eleito presidente: — Acho que temos projetos distintos. E em qualquer tentativa de fingir que não é distinto esse projeto tem que ser muito bem explicada, porque eles foram contra o presidente Lula durante tanto tempo, porque fizeram oposição tão raivosa. Agora, quando temos 76% de aprovação para o governo e mais de 90% para o presidente Lula, soa muito estranha essa fala (de Serra).

No fim da tarde, ela voltou a bater na mesma tecla, criticando a oposição mais uma vez: — Ela (a oposição) foi muito aguerrida, muito irritada conosco, ao longo destes sete anos e meio. Não foi uma oposição civilizada. Tanto é que esse estaleiro foi chamado de virtual, e o PAC e o Promef não existiam — afirmou ela, referindo-se ao estaleiro Atlântico Sul, ao Programa de Aceleração do Crescimento e ao Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), rebateu as declarações de Dilma.

Acusou a ex-ministra de ter participado de um governo que era aparelhado.

— O Serra não trabalha com aparelhamento do Estado.

A Dilma estranha essa afirmação porque só conhece Estado aparelhado — disse Guerra.

Um das principais bandeiras da campanha do pré-candidato do PSDB tem sido a crítica à quantidade de cargos de confiança ocupados por militantes do PT no governo Lula. Guerra lembrou ainda que Serra convidou petistas para trabalhar com ele quando foi ministro da Saúde no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.

— Para mim, a declaração do Serra não surpreende. O importante para ele na hora de fazer nomeação é a qualificação — disse Guerra.

O secretário-geral do PSDB, deputado federal Rodrigo de Castro (MG), disse apoiar a proposta de Serra de ter o PV e o PT em um eventual governo tucano. Ele afirmou considerar fundamental uma aproximação entre PT e PSDB que, segundo ele, têm “muitos pontos em comum”.

— É mais que saudável o diálogo entre o PSDB e PT.

Podemos fazer esse diálogo em prol do país sem abdicar de nossas independências.

Temos muitos pontos em comum.

É fundamental a convergência, pelo menos em alguns pontos, entre os dois grandes partidos do país, que a meu ver são o PSDB e o PT — disse.

O parlamentar afirma que essa união seria uma forma de combater a “lógica totalmente perversa” que, na visão dele, impera hoje no governo Lula e no Congresso, de “trocar cargos” e ficar “mendigando emendas”.

PSDB pede, e TSE manda suspender inserção do PT

DEU EM O GLOBO

Para a oposição, programa faz terrorismo eleitoral

Maria Lima, Adriana Vasconcelos e Isabel Braga

BRASÍLIA. O ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Aldir Passarinho Júnior, corregedor geral da Justiça Eleitoral, concedeu liminar ontem à noite ao pedido do PSDB e determinou a imediata suspensão das inserções do PT, exibidas na noite de quinta-feira no rádio e na televisão. As inserções foram consideradas propaganda eleitoral antecipada em favor da presidenciável petista, Dilma Rousseff, e, portanto, ilegais.

Mas a liminar poderá não ter efeito prático, uma vez que foi facultado ao PT, na decisão do ministro, que o partido troque as peças publicitárias por outras. Como a previsão do PT é de exibir hoje novas inserções, diferentes das primeiras, a liminar não deve ter efeito.

Nas peças exibidas na quintafeira, em comerciais de 30 segundos, Dilma aparece defendendo a continuidade. “É fundamental continuar nesse caminho. O Brasil tem condições de fazer agora duas revoluções, na saúde e na educação”, conclui Dilma, seguida de um locutor, que completa: “O Brasil já encontrou o rumo certo. É hora de acelerar e ir em frente”.

No outro vídeo é mostrada uma montanha russa subindo, com um locutor citando números sobre distribuição de renda e acesso dos pobres à classe média. Quando a montanha russa começa a despencar, ele pergunta: “Quem você acha que pode fazer com que cada vez mais gente saia da pobreza e passe para a classe média? Uma pessoa que tem a mesma visão de Lula? Ou alguém que fez parte de um governo que aumentou o desemprego, os impostos e pouco reduziu a pobreza? O Brasil não pode voltar ao passado”.

Para o ministro Passarinho, as inserções têm “uma nítida mensagem de continuísmo futuro”.

Ele reproduz as falas e o conteúdo das imagens dos comerciais do PT e afirma: “As duas inserções são, portanto, uma espécie de sequência, sem dúvida inteligente, sutil, mas que deixa muito claro o propósito do aludido conjunto de propaganda: a campanha sucessória e a promoção da referida candidata sra. Dilma Rousseff”.

Para ministro, programa desrespeita a legislação O ministro diz não ter dúvidas de que duas trazem mensagem objetiva exatamente sobre pontos proibidos pela lei, e conclui: “Buscam concretamente incutir no telespectador que há uma sucessão, o governo deve continuar, e destacam exatamente a pré-candidata Dilma Rousseff, a única pessoa filiada ao partido representado com áudio e imagem nas inserções”.

Na próxima terça-feira, o TSE deve julgar outra ação semelhante do DEM, que já tem parecer favorável da Procuradoria Geral Eleitoral. O argumento é que no programa do ano passado, o partido já desvirtuou o objetivo.

No dia 13 será exibido o programa nacional, de 10 minutos.

Hoje e terça-feira serão veiculadas novas inserções com Dilma.

“Aguarde os de sábado, vão gerar muita emoção. Os caras vão tremer”, disse o deputado André Vargas (PT-PR), secretário de Comunicação do PT, em seu Twitter.

O advogado do PSDB, Ricardo Penteado, diz que a justiça eleitoral já tem jurisprudência sobre o assunto: — Esse tipo de inserção é anormal e inaceitável agora, só poderia ser veiculada durante a campanha eleitoral mesmo, quando existe o contraditório.

— O PSDB não pode pedir a suspensão das inserções que vão ar amanhã (hoje) por pressupor que vai ter campanha antecipada. Isso é censura prévia. — revidou o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

A oposição também criticou o conteúdo dos filmetes, inclusive o que mostra a montanha russa despencando em caso de vitória do PSDB sobre Dilma.

— Esse terrorismo babaca não tem chance de prosperar.

Mas isso mostra o desespero deles. Em 2006, eles só lançaram mão desta tática no 2º turno, quando sentiram medo de perder — disse o presidente do PSDB, Sérgio Guerra.

Dilma participa de evento do governo com Lula

DEU EM O GLOBO

Presidente defende continuidade: "O que fizemos no Brasil não pode mudar", discursa ele ao lançar navio

Letícia Lins
Enviada especial

IPOJUCA (PE). Na primeira cerimônia oficial de governo com a presença da pré-candidata Dilma Rousseff como ex-ministra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu evitar o clima de campanha, no complexo de Suape. E acabou fazendo apelo à população para que não permita que seu projeto de governo seja interrompido, sob pena de o país regredir.

— O que nós fizemos no Brasil não pode mudar. Se a gente deixar este país regredir...

Sabemos que para se fazer é difícil.

Para derrubar é fácil — disse o presidente, com Dilma a seu lado no palanque, para uma plateia de cerca de três mil pessoas, em sua maioria trabalhadores do complexo industrial portuário de Suape.

Dilma sentou-se na primeira fila, a duas cadeiras do presidente.

Em seguida, quando Lula dirigiu-se ao cais para ver o navio, ficou todo o tempo a seu lado, com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli.

Foi lançado o primeiro navio do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef). A iniciativa conta com verbas do Programa de Aceleração do Crescimento, fato ressaltado nos cartazes e faixas no local.

Lula se referiu a Dilma quatro vezes. Na primeira, ao dizer que, antes de assumir, o Brasil era um país desprestigiado no exterior, com o povo com pouca autoestima.

Disse que hoje há mais de cem empresas brasileiras atuando no exterior.

— Mas tudo isso aconteceu não foi por causa de Lula, não foi por causa do governador Eduardo Campos (do PSB, que estava ao lado dele), ou de minha companheira Dilma. Foi porque o povo brasileiro começou a perceber que era preciso mudar.

Bem mais descontraída do que nas visitas anteriores, com calça jeans e blusa de seda branca, e sorridente, Dilma disse que não participou do evento para tirar dividendos eleitorais, mas porque foi uma das pessoas que acreditaram e ajudaram na retomada da indústria naval.

— A legislação permite que eu compareça e obviamente sem falar, até que eu seja formalmente escolhida na convenção. Mas, quanto a participar calada, não vejo problema nenhum.

Dilma não discursou na cerimônia, mas foi citada várias vezes, sobretudo por líderes sindicais.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco, Alberto Alves dos Santos, apelou para um trocadilho ao registrar a preferência por Dilma: — Aqui, presidente, o seu mandato seria igual ao de Fidel Castro. Como Vossa Excelência não quer, nós temos a obrigação de votar em quem o senhor indicar.

Seu projeto não é só de desenvolvimento, mas de inclusão social. Bom Dilma para todos.

Palanque aberto para Dilma

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

No evento que lhe serviu como palanque, ex-ministra não discursou, conforme manda a lei eleitoral. No entanto, foi tão citada quanto o navio inaugurado

Cecília Ramos

A histórica cerimônia que marcou o renascimento da indústria naval do Brasil, ontem, em Suape, serviu também como cenário para o primeiro evento de Dilma Rousseff (PT) como pré-candidata à Presidência da República ao lado do padrinho político, o presidente Lula. A ex-ministra, posicionada na primeira fila no palco, apenas assistiu ao ato, sem direito a discursar, como recomenda a Justiça Eleitoral. Ao mesmo tempo, teve tratamento de quem tem máquina pública ao seu favor. Dilma foi tão citada quanto o navio João Cândido, que custou US$ 182 milhões e foi batizado ontem.

Dilma, chamada de “madrinha da retomada da indústria naval”, por alguns, ontem, justificou sua presença no evento pois disse ter feito parte da “luta pelo estaleiro” desde 2003. “Fiquei muito emocionada quando vi o navio saindo, porque diziam que isso era inviável”.

A presidenciável foi celebrada em todos os discursos em Suape – de Lula ao presidente do sindicato dos metalúrgicos de Pernambuco, Alberto dos Santos, o Betão, que finalizou com um “Bom Dilma!” (trocadilho com bom dia). “Vamos votar em quem o senhor, presidente Lula, indicar, para continuar seu projeto”. O presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, recordou, numa farpa à oposição, que o Estaleiro Atlântico Sul foi chamado de “virtual”. E aproveitou para citar que Dilma foi “fundamental” para o estaleiro virar realidade.

O governador Eduardo Campos, mais discreto, falou por 14 minutos, e citou a importância da ex-ministra como parceira do Estado. Lula chegou a chorar no início da cerimônia, ao assistir um vídeo com depoimentos de trabalhadores do estaleiro. Depois, no seu discurso de 36 minutos, foi só diversão. Em uma das citações à pupila, fez a plateia gargalhar. Ele vira-se para a ex-ministra e diz: “Como é que se chama, Dilma, o que produz trilho?”. Ela responde e Lula volta ao discurso. “Ah, laminador! Fui consultar os universitários, gente!”.

Numa tentativa de mostrar que está descolada do estafe de Lula, Dilma chegou ontem a Suape cerca de 20 minutos antes do presidente. Estava com assessores (o de imprensa, por exemplo, trabalhou com Lula até dia desses). Ela quis logo ver o navio de perto e teve a companhia de Sérgio Gabrielli. Acessível, ela falou rapidamente à imprensa. Ela afirmou que lhe causou estranheza a declaração do presidenciável José Serra (PSDB) de que convidaria o PT e o PV para governarem com ele, caso seja eleito. “Agora que o governo tem 75% aprovação e o presidente 90% é muito estranho!”, disse.

De Suape, Dilma seguiu para São Paulo. Lula foi para a Imbiribeira. Lá, disse à imprensa que não há surpresa nas críticas à presença da ex-ministra. “Os que criticam são adversários dela. E deles eu não espero elogios. Dilma não é mais ministra, e só vai se for convidada. E ela foi convidada pelos empresários”.

TV estatal evita exibir infração eleitoral de Lula

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Discurso do presidente, que destacava aspectos positivos de Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à sua sucessão, foi cortado pela emissora NBR

Angela Lacerda
ENVIADA ESPECIAL/IPOJUCA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou lançamento do primeiro navio do Programa de Modernização e Expansão da Transpetro, para fazer campanha da petista Dilma Rousseff, pré-candidata à sua sucessão, que o acompanhou na visita a Ipojuca (PE).

Sem citar o nome de Dilma, Lula disse que o Brasil não pode regredir: "Sabemos que fazer é difícil, mas para derrubar é fácil."

A NBR, emissora estatal do governo federal, suprimiu trechos dos áudios que faziam referências positivas a Dilma. O corte das falas incluiu até o discurso de Lula - tudo substituído por uma locutora em off, que dava informações do estúdio em Brasília.

Segundo a assessoria de imprensa da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), a quem a NBR paga pelas transmissões dos eventos do governo, houve orientação prévia para cortar referências a Dilma. A decisão foi para impedir a veiculação de discurso que pudesse ser interpretado como favorável a ex-ministra.

O primeiro alvo foi o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco, Alberto Alves dos Santos. "Por causa da Lei Eleitoral, o presidente Lula não pode falar. Mas eu posso", afirmou, antes de ser substituído pela voz da locutora. Santos elogiou Lula pela recuperação da indústria nacional e afirmou que "se dependesse do povo trabalhador, seu mandato seria igual ao de Fidel Castro". Ele se despediu desejando "Bom Dilma para todos". Nada disso foi ouvido na transmissão da NBR.

Em seguida, ocorreu a mesma prática nos discursos do presidente da Transpetro, Sérgio Machado (PMDB), do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

"Fiquei emocionada vendo o navio sendo rebocado", afirmou Dilma, ao contar que a lutou desde 2003 para construí-lo aqui. / COLABOROU SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para lembrar

Transmitida via cabo e parabólica, a NBR é a TV do Governo Federal. A emissora é operada pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que também retransmite sua programação por emissoras de sinal aberto em várias localidades do País. O objetivo é informar e noticiar as ações do Poder Executivo.

Em Rousseau e a ciência política de seu tempo, Robert Derathé :: Haron Gamal*

DEU EM IDEIAS & LIVROS / JORNAL DO BRASIL

Obra analisa as origens do pensamento de Rousseau

Em Rousseau e a ciência política de seu tempo, Robert Derathé mapeia a origem do pensamento do autor do Contrato social. O pesquisador compara as ideias de Rousseau sobre as instituições civis e sobre a ciência política de seu tempo à constituição de Genebra, uma espécie de governo “democrático” do século 18. É discutida a escola de direito natural. Derathé mostra como o pensador do iluminismo francês entendeu essa escola e não a refutou totalmente, mas acabou por aproveitar alguns aspectos dela na sua concepção de sociedade civil: “Na realidade, foi nos 'livros científicos', isto é, nos tratados de direito natural, que Rousseau extraiu o essencial de sua teoria política”.

No segundo capítulo, chamado “As leituras políticas de Rousseau”, são apontados Grotius, Pufendorf, Burlamaqui, Barbeyrac, Althusius como escritores jurisconsultos que exerceram influência sobre o autor de Emílio; Hobbes, Locke, Jurieu são outros enumerados como autores políticos que também estiveram presentes na formação cultural do pensador e teórico político. É interessante observar como o terceiro capítulo trata a questão do “estado de natureza” e “a lei natural”, porque é daí que parte a concepção de soberania. O povo, ao ver um monarca subir ao poder, caso não resista a ele, estaria concedendo-lhe o direito de governar em seu nome. Esse argumento foi utilizado por quase todos os autores que defendiam a “lei natural”. O estado de natureza implicaria num modo de vida hipotético, em que o homem não pertenceria a nenhum grupo humano que tivesse algum tipo de liderança ou mesmo determinadas regras de convivência e poder.

Jean-Jacques tornou-se um nome duplamente discutido. Ao mesmo tempo em que é um autor inaugural para os estudos de ciências políticas e deu origem a concepções de governo que serviram à Revolução Francesa, seu nome despertou o sentimento de repulsa naqueles partidários do direito divino e nos contrarrevolucionários, estes associados a uma sociedade ainda de lastro aristocrático. É indiscutível a influência do autor do Contrato social na formação de uma sociedade baseada no saber leigo, que mostra o esclarecimento como meio de se obter uma sociedade mais justa. Se não foi isso o que aconteceu, se setores da sociedade contemporânea veem no acirramento dos conflitos e em outras consequências nefastas, como até mesmo a falência do mundo civilizado, a raiz de todo o mal em pensadores como Rousseau (incluindo como extensão o crescimento do militarismo e invenção de novas armas), o pensador de Genebra não pode ser responsabilizado nem sua tese deve arcar com todas os problemas de um mundo que passou a ter no saber a mola mestra de todo o progresso.

Talvez O contrato social, ao teorizar sobre a passagem do homem natural ao homem civilizado, tenha dado margem a que se pensasse não apenas no modo como esse contrato se realizaria mas em aspectos imanentes ao modo de vida em sociedade, envolvendo a complexidade advinda da hipotética perda da vida natural para social. Foi como produzir faísca num terreno altamente explosivo.

* Professor e doutor em literatura brasileira pela UFRJ

Líder hondurenho qualifica Unasul de 'arrogante e prepotente'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Presidente de Honduras sobe tom com Brasil e países que condenaram a inclusão de Tegucigalpa em cúpula na Espanha

Jamil Chade - CORRESPONDENTE / GENEBRA

O presidente de Honduras, Porfirio "Pepe" Lobo, qualificou de "arrogantes e prepotentes" os lideres sul-americanos - incluindo o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva - que ameaçaram boicotar a cúpula União Europeia-América Latina, dias 17 e 18, em Madri. O Brasil, acusa Lobo, está fazendo "chantagem".

O governo espanhol havia convidado o hondurenho eleito em novembro para o evento.

Mas Lula, juntamente com os presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou que não participaria da cúpula ao lado de Lobo.

"Não esqueçam que, quando se colocam em posições tão intransigentes - e até certo ponto com um alto nível de arrogância -, estão afetando o povo hondurenho. A arrogância e a prepotência de alguns levam, na realidade, a castigar um povo que não tem culpa", disse o hondurenho.

Lobo defendeu ainda a legitimidade de sua eleição. "Quero lembrar os países da Unasul que esse governo foi eleito democraticamente com uma presença maciça nas urnas", disse.

Lobo não teve participação no golpe contra o presidente Manuel Zelaya. Na ocasião, como candidato de oposição a Zelaya, condenou a destituição e os militares que lideraram o golpe.

Países sul-americanos, contudo, não reconhecem a eleição que conduziu Lobo à presidência, pois ela ocorreu sob um regime de facto.

EUA e países-chave da América Central - incluindo Nicarágua, El Salvador, Guatemala, República Dominicana, Panamá e Costa Rica - já normalizaram relações com Tegucigalpa.

Embaraço. O que era para ser uma plataforma para o governo espanhol promover seu país diante do mundo tornou-se uma grande dor de cabeça para Madri.

Ontem, fracassou a tentativa de acordo comercial entre a América Central e a UE. A França ainda alertou que vai impedir o lançamento de negociações do bloco com o Mercosul.

O tempo da dúvida:: Miriam Leitão

DEU EM O GLOBO

Ao fim do primeiro dia após as eleições na Inglaterra, já se sabia alguma coisa. Que o grande derrotado foi o Partido Trabalhista, que perdeu 91 cadeiras no Parlamento. Que o voto distrital mostrou falhas graves. Que a Inglaterra terá um governo fraco no meio de uma crise econômica. Só não se conseguia responder, até ontem à noite, à pergunta básica: quem governa o país?

No Brasil, o voto distrital é frequentemente apresentado como a solução para as nossas aflições. O sistema proporcional tem também seus defeitos, mas essa eleição inglesa produziu um divórcio enorme entre a proporção de votos e a divisão da representação. Dividindose o número de votos recebidos pelos partidos pelo número de cadeiras que eles terão no Parlamento, fica-se sabendo que cada parlamentar conservador foi eleito por 35.021 votos; cada trabalhista, por 33.338; enquanto cada liberal-democrata, por 119.397. Os conservadores tiveram 36% dos votos e ficaram com 47% das cadeiras; os trabalhistas, 29%, e conquistaram 40% da Casa dos Comuns; os liberais-democratas, com seus 23% nas urnas, ganharam apenas 9%.

Diante desses números, não há dúvida sobre a razão pela qual o pivô da governabilidade na nova conjuntura política britânica, o partido Liberal Democrata, escreveu no topo da sua lista de exigências a reforma eleitoral. A grande força dos trabalhistas, na queda de braço com os conservadores, para conquistar os liberais-democratas é que eles admitem um plebiscito para um sistema eleitoral alternativo. Os conservadores permanecem vagos sobre esse ponto.

Em duas semanas, assume o novo Parlamento em Westminster e estará, portanto, instalado o novo governo.

Para os ingleses, um governo de coalizão é estranho ao cotidiano da política.

Nos outros países europeus, governos formados através de alianças entre partidos diferentes é fato corriqueiro, apesar de haver uma história de indecisões e paralisias decisórias decorrentes das divergências entre os partidos que formam o governo.

Liberais-democratas e trabalhistas têm mais identidade.

O líder liberal-democrata, Nick Clegg, admitiu que “historicamente os dois partidos são duas alas da tradição política progressista da Inglaterra.” O problema é que as urnas mostraram uma forte rejeição aos trabalhistas, que perderam 91 cadeiras, o primeiroministro, Gordon Brown, é impopular, e a exigência de Clegg para negociar com os trabalhistas é a renúncia de Brown.

Com os conservadores, os liberais-democratas têm pouquíssima identidade.

Uma coalizão dos dois certamente produziria tensão, divisão, paralisia. Nos dois casos, o que a Inglaterra tem pela frente é um governo fraco.

Em outros momentos, uma coalizão poderia ser apenas um desafio, com o qual outros países aprenderam a conviver. Mas, no meio de uma crise econômica da proporção da atual, o risco é maior. A Inglaterra terá que tomar decisões duras sobre os gastos públicos. E rápidas.

O país tem várias vantagens sobre as outras fortes economias europeias: tem sua própria moeda, pode fazer política monetária, não está preso na camisa de força do euro. Mas está igualmente ligado aos países do continente por laços econômicos e financeiros. Os bancos ingleses estão quase tão expostos ao risco europeu quanto os alemães e franceses.

Seus bancos também carregam dívida grega, espanhola e, principalmente, irlandesa. Seu déficit público passa de 12% do PIB, e foi ampliado exatamente da mesma forma que os déficits dos outros países: pela expansão dos gastos públicos para evitar a crise bancária de 2008. O fato de não estar na zona do euro dá vantagens à Inglaterra, mas não a blinda contra a crise.

A resposta dos trabalhistas à crise seria mais do mesmo, ainda que com outro primeiro-ministro. Foram eles que ampliaram o déficit.

Suas respostas não foram convincentes, nem na campanha.

Prometeram reduzir o déficit à metade até 2014, mas não fizeram propostas concretas de fazer isso.

A resposta dos conservadores para a crise, defendida em campanha, também dificilmente produzirá o efeito de redução rápida do déficit.

Até porque, para cada item de corte de gastos, eles têm outro item de redução da receita ou aumento de despesa.

A proposta é congelar os salários dos funcionários públicos por um ano; antecipar a elevação da idade de aposentadoria aos 66 anos; suspender as deduções no imposto de que ganha acima de 50.000 libras; pôr um teto nas pensões mais altas. Há até uma proposta polêmica: reduzir o número de parlamentares.

Ao mesmo tempo, o Partido Conservador prometeu também, durante a campanha, cortar os impostos de empresas, dar um bônus às empresas médias e pequenas que contratarem estagiários, incentivar as empresas nascentes, aumentar o orçamento para apoio às tropas inglesas no Afeganistão, criar o Conselho de Segurança Nacional.

Como sempre acontece em situações como a que vive a Europa, todo impasse é mais um motivo para alimentar a crise. Ontem, os analistas diziam que a situação indefinida da Inglaterra também era motivo para a volatilidade das bolsas. É mais uma onda no mar de incertezas vivida pelo Europa.

A CNN perguntou a um analista de mercado a razão de o resultado eleitoral estar provocando ansiedade nos investidores se outros governos passam por momentos de indefinição, após eleições, sem abalar o mercado.

Ele respondeu que os outros países têm constituição escrita, e a Inglaterra não.

Há séculos, a democracia inglesa funciona assim. A falta de constituição escrita tem sido apontada como a grande virtude do país. Agora, até isso incomoda o mercado.

Na Europa, vive-se o tempo da dúvida.

EUA e Europa se unem para enfrentar a crise financeira

DEU EM O GLOBO

Após as bolsas mundiais acumularem perdas de US$ 3 trilhões em três dias de pânico nos mercados, Estados Unidos e Europa se uniram para combater a crise grega e evitar o contágio global. O presidente Obama prometeu à chanceler alemã, Ângela Merkel, apoiar os esforços europeus e cobrou “forte resposta financeira da comunidade internacional”. Ministros de Finanças do G-7 também convocaram reunião de emergência para deter a crise, e seis nações, entre elas Alemanha e França, deram aval ao pacote de €110 bilhões para a Grécia. Apesar da articulação política, as bolsas caíram 1,33% em Nova York e 4,6% em Paris. A Bovespa fechou em baixa de 0,86% e o dólar ficou estável, a R$ 1,851.

Ricos se unem para conter crise

Após perda de US$ 3 tri nas bolsas, Obama promete apoio a Europa e G-7 tem reunião emergencial

Bruno Villas Bôas*
RIO, BRUXELAS, WASHINGTON

Depois de três dias de pânico nos mercados, período no qual as principais bolsas mundiais perderam quase US$ 3 trilhões em valor de mercado, Estados Unidos e Europa afinaram ontem os discursos em busca de uma atuação conjunta para combater a crise grega e evitar o risco de contágio global. Em conversa telefônica, o presidente americano, Barack Obama, prometeu à chanceler alemã, Angela Merkel, apoiar os esforços europeus e cobrou “uma forte resposta financeira da comunidade internacional” para estancar a turbulência. Anteontem, a Bolsa de Nova York chegou a cair mais de 9%, influenciada entre outros fatores por incertezas sobre o impacto da situação da Grécia sobre a economia mundial.

A turbulência nos mercados, que ontem voltaram a fechar no vermelho, também levou os ministros de Finanças do G-7 (que reúne os sete países mais industrializados do mundo) a convocarem uma teleconferência de emergência para debater a crise. Paralelamente, líderes da zona do euro se reuniram em Bruxelas para acertar detalhes finais sobre o socorro bilionário à Grécia. Ontem mesmo houve uma corrida dos países da União Europeia (UE) para aprovar sua parcela no resgate. Seis nações, entre elas Alemanha e França, deram o aval a um total de C 70,2 bilhões do pacote de C 110 bilhões acertado entre a UE e o Fundo Monetário Internacional (FMI) domingo passado.

— Concordamos sobre a importância de uma resposta política forte dos países afetados, bem como uma resposta financeira forte da comunidade internacional — disse Obama a respeito de sua conversa com Merkel. — Deixei claro que os EUA apoiam esses esforços e vão continuar a cooperar com as autoridades europeias e com o FMI.

Bolsas europeias caem até 4,6%

Entre segunda-feira e anteontem, as principais bolsas mundiais perderam perto de US$ 3 trilhões em valor de mercado, segundo a Bloomberg: a capitalização desses mercados recuou de US$ 47,125 trilhões para US$ 44,198 trilhões.

E ontem o dia foi de novas perdas nos mercados globais. Mesmo com os bons números sobre emprego nos EUA — foram criadas 290 mil vagas em abril —, o Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, recuou 1,33%.

No Brasil, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em baixa de 0,86%, aos 62.870 pontos. O dólar comercial ficou estável, a R$ 1,851. Na Europa, as principais praças fecharam em queda, com Paris liderando as perdas (-4,6%). Madri recuou 3,28% e Atenas, 2,86%. O euro caiu 0,77%, para US$ 1,2730.

Os sucessivos dias de queda nas bolsas acenderam o alerta entre os países do G-7. De acordo com o “Wall Street Journal”, as economias avançadas perceberam que a aprovação do socorro à Grécia não foi considerada suficiente para afastar o risco de contágio a países de maior porte, como Espanha e Portugal. Daí a teleconferência dos ministros do grupo: — Os mercados julgaram que aqueles acertos (o pacote acertado entre UE e FMI) são inadequados — disse ao jornal britânico “Guardian” o primeiroministro da Austrália, Kevin Rudd.

Zona do euro pede mais regulação

A teleconferência dos ministros do G-7 não produziu qualquer documento final. Apenas reiterou-se o compromisso de que o grupo “continuará a vigiar a situação de perto”, disse o ministro de Finanças do Reino Unido, Alistair Darling.

Em Bruxelas, os líderes da zona do euro afirmaram que a consolidação das finanças públicas é uma prioridade, de acordo com esboço da declaração final obtida pela agência de notícias Reuters.

A cúpula, que havia sido convocada há cinco dias para acertar detalhes do pacote de resgate à Grécia, também discutiu a necessidade de maior regulação financeira.

— Temos que acelerar a regulação dos mercados financeiros. O tempo está passando, isso tem que acontecer rápido — disse Merkel.

As conversas do grupo seguem no fim de semana.

(*) Com agências internacionais

Refúgio verde:: Celso Ming

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Apesar de tudo, nos ataques de pânico do mercado financeiro é nos ativos em dólares que os investidores do mundo inteiro procuram refúgio. São como galinhas soltas. Assim que pressentem os movimentos da raposa nos arredores, acorrem instintivamente de volta ao galinheiro.

Esse "apesar de tudo" que começa esta Coluna carrega um punhado de coisas negativas: a crise global começou nos Estados Unidos e de lá ainda não se deslocou; foram os bancos americanos que mais aprontaram nos últimos cinco anos, com desdobramentos que parecem longe de acabar, como as últimas denúncias contra o Goldman Sachs vão comprovando; o mercado imobiliário americano continua prostrado; o desemprego nos Estados Unidos hoje é de quase 10% e segue crescendo; a dívida lastreada em títulos do Tesouro americano (T-bonds), de US$ 9,8 trilhões, é considerada insustentável até mesmo pelo presidente Barack Obama; o rombo orçamentário no ano fiscal que termina em setembro será de cerca de US$ 1,4 trilhão; o déficit comercial (exportações menos importações) em 12 meses superava em fevereiro os US$ 530 bilhões... e podemos seguir por aí.

Os analistas vêm gastando uma profusão de gigabytes para concluir que essa coleção de gols contra enfraquece inexoravelmente o dólar e o vai desclassificando como moeda internacional de reserva.

Mas não é o que acontece. Com a ameaça de desmanche do euro e com o vácuo não preenchido nem pelo iene japonês nem por moedas dos países emergentes, o dólar continua a se apresentar como a quase única opção de reserva de valor.

A crise do euro traz sérias consequências para a economia americana e para o próprio dólar. Em primeiro lugar, tende a aprofundar a recessão na Europa, o que implica encolhimento do mercado para o produto americano. Em segundo lugar, a revalorização do dólar tende a atrair mais importações para os Estados Unidos e, portanto, tende a reforçar o desemprego.

A nova manifestação da crise global emite sinais ambíguos para o Brasil. Num primeiro momento, a fuga de capitais também daqui produz volatilidade. Ao mesmo tempo, o aprofundamento da crise europeia reduz o afluxo de encomendas para o Brasil e derruba os preços do produto brasileiro de exportação, especialmente os das commodities.

No entanto, à medida que as coisas começarem a se resolver, e os capitais saírem da toca, tende a aumentar a confiança do investidor externo na economia brasileira, desde que o governo não cometa nenhuma grande besteira.

E o tomatinho?

A inflação em 12 meses terminados em abril, medida pelo IPCA, já está em 5,26% (a meta é 4,5%). Desta vez, o ministro Guido Mantega não repetiu que essa é apenas a "inflação do tomatinho" naturalmente reversível. E a cesta de alimentos continua pesando. Subiu 1,45% em abril.

Tempo de arrumação

O novo governo do Reino Unido terá agora de enfrentar seus próprios rombos. As informações da Eurostat, o organismo encarregado das estatísticas da União Europeia, dão conta de que o déficit fiscal da Inglaterra em 2009 foi de 11,5% do PIB (equivalente ao da Espanha) e sua dívida pública alcançou os 68,1% do PIB (apenas um pouco mais baixa do que a da Irlanda).

Por que mesmo?

Se é verdade que o Banco Central apenas compra dólares para evitar a volatilidade do câmbio interno, por que, na quinta-feira, quando os mercados estavam em pânico e o dólar disparou 3%, o Banco Central seguiu comprando dólares?

Fernando Henrique: falta comando à UE

DEU EM O GLOBO

Eleições no bloco deveriam mudar panorama e retomar "vocação universal" da Europa, diz

Adauri Antunes Barbosa

SÃO PAULO. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que está faltando comando à União Europeia (UE) para que o bloco consiga sair da crise, provocada por problemas fiscais na Grécia, e que ameaça Portugal e Espanha.

— Está faltando nesse momento comando à União Europeia.

E nós estamos assistindo a uma série de eleições na Europa mudando um pouco o panorama do continente. É preciso que haja um comando que expresse essas mudanças, e que a Europa reafirme sua vocação universal, que ela não fique fechada — disse Fernando Henrique.

FH: mundo poderia discutir cesta de moedas no futuro O ex-presidente, que fez uma palestra a empresários em São Paulo, promovida pela Fundação Luso-Brasileira, disse que a crise europeia não é um problema do Brasil ou do Mercosul: — É muito mais um problema da Europa do que nosso. Nós estamos mais dispostos (a negociar) do que os europeus.

A solução da crise, para o expresidente tucano, está inserida na discussão sobre como deve funcionar o mundo globalizado, principalmente em relação à questão financeira: — A questão financeira ainda não está resolvida. A Europa, com o euro, deu um passo adiante. Agora é preciso ver como eles vão sair dessa. Tomara que saiam mais fortalecidos.

A China, o que vai fazer? Há uma pressão muito grande sobre os chineses para que eles valorizem a sua moeda.

Quem sabe no futuro as pessoas comecem a pensar numa cesta de moedas para poder ter um sistema mais equilibrado.

Essas são questões a partir das quais vai ser possível lubrificar o comércio.

A solução para os problemas enfrentados agora pela Europa, receitou, deve começar pela crise financeira e, depois, se estender para a retomada dos fluxos de comércio.

— Apesar dessas tendências aqui e ali protecionistas, que são visíveis e até compreensíveis, dependendo da situação, elas não podem ser duradouras.

O QUE PENSA A MÍDIA

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Hector Berlioz: Hungarian March

Tarefa::Geir Campos




Morder o fruto amargo e não cuspir
mas avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a noção pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.



Geir Nuffer Campos nasceu em São José do Calçado (ES) no dia 28/02/1924. faleceu no dia 08 de maio de 1999, aos 75 anos, em Niterói (RJ).


Foi piloto da marinha mercante e ex-combatente civil na Segunda Guerra Mundial. Formou-se em Direção Teatral (FEFIERJ-MEC, Rio), mestre e doutor em Comunicação Social pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da qual foi professor. Sempre engajado nas lutas de seu tempo, foi um dos fundadores do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro e da Associação Brasileira de Tradutores, hoje Sindicato Nacional dos Tradutores, de que foi presidente. Em 1962 candidatou-se a vereador na cidade de Niterói, mas foi derrotado.

Jornalista, colaborou no "Diário Carioca", "Correio da Manhã", "Última Hora", "O Estado", "Diário de Notícias", "Para Todos", Letras Fluminenses", "Jornal de Letras" e no jornal "A Ordem", de sua terra natal.

Radialista, apresentou na Rádio MEC, por mais de 20 anos, o programa "Poesia Viva".

Foi diretor da Biblioteca Pública Estadual de Niterói (1961-1962), transformando-a em um centro cultural. É de sua autoria, juntamente com Neusa França — que fez a música —, a letra do hino oficial de Brasília (DF).

A vida de Geir parece ter sido sempre ligada ao livro. Filho de pai dentista e mãe professora, estudou como interno no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, o que deve ter fortalecido sua relação com a cultura escrita. De bom leitor passou a estudioso de línguas e literaturas. Morando em Niterói (RJ) desde 1941, logo conheceu os jovens do Grêmio Literário Humberto de Campos e a livraria-engraxataria Mônaco. Tornou-se uma espécie de guru na vida literária da cidade, orientando os escritores interessados em conhecer as novas tendências literárias, nacionais e estrangeiras. Trouxe para autografar nas reuniões matinais do Grupo de Amigos do Livro, presidido por Sávio Soares de Sousa, na então já Livraria Ideal, nomes como Astrojildo Pereira e Moacyr Félix, seu amigo da vida inteira.

Começou a escrever, em 1940, contos e poemas originais ou traduzidos, que foram publicados na imprensa. Em 1950, seu primeiro livro de poesias, "Rosa dos Rumos", foi publicado. Depois vieram "Da profissão do poeta", Canto claro & poemas anteriores", "Operário do canto", "Cantigas de acordar mulher", "Metanáutica" e "Canto de Peixe", dentre outros. Sua bibliografia inclui livros de contos, peças teatrais, obras de referência, literatura infanto-juvenil, ensaios e teses. Incluído pela crítica na famosa "Geração 45", que renovou a poesia brasileira, ao final dos anos cinqüenta já havia publicado nove livros de poesia, tendo recebido, em 1956, o Prêmio Olavo Bilac da Prefeitura do Distrito Federal por "Canto Claro & Poemas anteriores". Exímio tradutor, verteu para o Português obras de Rilke, Kafka, Brecht, Shakespeare, Herman Hesse, Walt Whitman e Sófocles. O ensaio "Carta aos livreiros do Brasil", obteve menção honrosa no concurso ao Prêmio Monteiro Lobato, promovido pela Academia Brasileira de Letras. Publicou significativa obra ensaística sobre tradução, que até hoje é fonte de referência para os interessados no assunto. É, também, de sua autoria, o "Pequeno Dicionário de Arte Poética", obra que contém centenas de verbetes e remissões, com farta exemplificação e resenha bibliográfica.

Fundou, com Thiago de Melo, em 1951, as Edições Hipocampo, que revolucionou as artes gráficas no Brasil. Foram publicados textos poéticos, em prosa e verso, de autores consagrados e novos, todos ilustrados primorosamente por grandes artistas. Os livros eram compostos tipograficamente, diagramados pelos próprios editores e impressos após o expediente da gráfica de fundo de quintal, em Niterói, dirigida por Antonio Marra e Armando Cabral Guedes. O processo de acabamento era feito na casa onde Geir residia, com a colaboração de toda a família. Dobravam-se as capas em forma de envelope, onde se inseriam as folhas soltas. Com tiragens médias de 116 exemplares, em dois anos foram feitas 20 edições, que incluíam nomes como Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Iberê Camargo, João Guimarães Rosa, Fayga Ostrower, Santa Rosa e Darel Valença.

Poema extraído do livro "Geir Campos - Antologia Poética", Léo Christiano Editorial Ltda. - Rio de Janeiro, 2003, pág. 89, organizada por Israel Pedrosa.