quinta-feira, 20 de maio de 2010

Reflexão do dia – Karl Marx


Hegel parte do Estado e faz do homem o Estado subjetivado; a democracia parte do homem e faz do Estado o homem objetivado. Do mesmo modo que a religião não cria o homem, mas o homem cria a religião, assim também não é a constituição que cria o povo, mas o povo a constituição. A democracia, em um certo sentido, está para as outras formas de Estado como o cristianismo para outra religiões. O cristianismo é religião “preferencialmente”, a essência da religião, o homem deificado como religião particular. A democracia é, assim, a essência de toda constituição política, o homem socializado como uma constituição particular; ela se relaciona com as demais constituições como gênero com suas espécies, mas o próprio gênero aparece, aqui, como existência e, com isso,como uma espécie particular em face das existências que não contradizem a essência. A democracia relaciona-se com todas as outras formas de Estado como com seu velho testamento. O homem não existe em razão da lei, mas a lei existe em razão do homem, é a existência humana, enquanto nas outras formas de Estado o homem é a existência legal. Tal é a diferença fundamental da democracia.
Todas as demais formas estatais são uma forma de Estado precisa, determinada, particular. Na democracia, o princípio formal é, ao mesmo tempo, princípio material. Por isso ela é, primeiramente, a verdadeira unidade do universal e do particular. Na monarquia, por exemplo, na república como uma forma de Estado particular, o homem político tem sua existência particular ao lado do homem não político, do homem privado.


(Karl Marx, “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”, 1843, Pag. 50 – Boitempo Editorial, São Paulo, 2005)

Visão nuclear:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A reincidência do vice-presidente José Alencar na defesa da bomba atômica como arma de dissuasão, garantidora da paz, coloca uma questão política importante na discussão internacional sobre o programa nuclear iraniano e a posição do Brasil de negociador de um acordo que formalmente almeja recolocar o Irã nos trilhos institucionais, mas que na prática apenas lhe permite ganhar tempo para que continue com seu programa longe da supervisão dos organismos internacionais e a salvo das sanções da ONU.

Não se deve considerar uma mera irrelevância o repetido comentário de Alencar, a não ser que se queira que o governo brasileiro como instituição não seja responsabilizado por suas palavras e atos.

É sabido que há setores dentro do governo que avaliam como um erro estratégico a política que desaguou na assinatura pelo Brasil do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), em 1997, no primeiro governo de Fernando Henrique.

E nesse raciocínio político está a raiz do atual confronto do Brasil com os cinco países com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, especialmente os Estados Unidos.

O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que até pouco tempo era o segundo homem do Itamaraty, e hoje é ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, responsável portanto por prever as ações que levarão o país ao desenvolvimento no longo prazo, considera que o Brasil usou o pretexto de uma aliança estratégica com a Argentina para aderir a todas as iniciativas americanas, especialmente na área militar.

Nessa visão geopolítica está resumida a diretriz da atual política externa brasileira.

O que na ocasião foi considerado pelo Itamaraty um gesto de preservação de nossa liderança regional, ao não permitir que a desconfiança dos argentinos sobre nossas intenções nucleares, que foram verdadeiras na época dos governos militares, gerasse um ambiente de tensão política, hoje, pelo mesmo Itamaraty, é visto como uma capitulação diante do poder hegemônico dos Estados Unidos.

Já na campanha presidencial de 2002, Lula provocou grande polêmica quando criticou a adesão do Brasil ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, e teve que voltar atrás.

O tratado vigora desde 1970, veta pesquisas para a produção de bombas atômicas, e foi assinado por 187 dos 190 países da ONU, mas ratificado por menos da metade.

O governo brasileiro de maneira geral, através dos ministros ligados à área, em especial o Itamaraty, e o próprio presidente Lula em diversas ocasiões, defendem a tese de que o TNP não é cumprido, pois não há movimentos realmente concretos pelo desarmamento nuclear.

Os recentes acordos do governo Barack Obama com a Rússia sobre ogivas nucleares não são levados na devida conta pelo governo brasileiro.

Embora a tese oficial da diplomacia brasileira seja de que é preciso desarmar todos, é um pensamento comum entre as autoridades brasileiras que, se alguns países podem ter a bomba atômica, como Paquistão e Israel, outros deveriam ser acolhidos no clube nuclear.

Ou que o verdadeiro problema do Oriente Médio é que Israel tem a bomba atômica, o que justificaria a decisão do Irã de também ir atrás do desenvolvimento de armas nucleares como fator de dissuasão, como o vice-presidente quer demonstrar.

Quando era o todo poderoso chefe do Gabinete Civil do governo Lula, José Dirceu defendia abertamente a ideia de que a bomba atômica era uma arma política que faria falta ao Brasil no confronto internacional, e destacava que dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), o único que não tinha a bomba era o Brasil.

Essa maneira de pensar a geopolítica mundial, e mais o convencimento, com base na realidade do mundo atual, de que está havendo uma mudança de paradigmas, e que os países emergentes assumirão o comando político do novo mundo multipolar, na mesma proporção em que suas economias estão se destacando em relação às da Europa, Estados Unidos e Japão (o G3), pode ter levado o governo brasileiro a dar um passo maior que suas pernas.

A posição da China era a grande esperança do governo brasileiro. Mas, até o momento, não há indicação de que a China se colocará contra os demais países do Conselho de Segurança da ONU.

Ao contrário, o governo chinês assinou a nova proposta de sanções contra o Irã, embora tenha ressaltado que as aprovava porque elas eram direcionadas contra o programa nuclear iraniano, e não contra o povo iraniano.

É sintomático que o governo chinês tenha mais cautela do que o do Brasil ou da Turquia, quando se trata de uma confrontação definitiva com as potências ocidentais.

A China é realmente a grande potência econômica no mundo atual e joga um papel fundamental no equilíbrio mundial.

Talvez por isso não tenha tanta necessidade de mostrar sua força, nem interesse em se confrontar com os Estados Unidos.

O aiatolá Ali Khamenei, líder religioso supremo do Irã, deu o toque de contraposição aos Estados Unidos quando recebeu o presidente Lula, destacando a altivez com que o governo brasileiro tem enfrentado a posição americana na disputa do programa nuclear iraniano.

Colocar a intermediação do governo do Brasil nesses termos só foi possível com a aquiescência da diplomacia brasileira.

Oficialmente, em todo esse processo de negociação sobre o programa nuclear iraniano, o governo brasileiro tem ressaltado o apoio ao uso pacífico da energia nuclear.

Essa postura deveria comprometêlo, na intermediação com o Irã, a encaminhar as conversações no sentido de incluir seu programa sob observação e supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Mas aí Amorim diz que essa questão é parte da soberania de cada país, assim como o governo brasileiro considera indevidas as pressões para que o Brasil assine o protocolo adicional do TNP, que amplia a fiscalização da AIEA.

O que gera desconfiança sobre as reais intenções do governo brasileiro.

Fichas ocultas :: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O líder do governo Romero Jucá não apareceu na sessão de ontem da Comissão de Constituição e Justiça do Senado que aprovou por unanimidade o projeto Ficha Limpa em caráter de urgência e no início da noite no plenário.

Pois antes da hora do jantar Jucá já tinha sido atropelado pela sociedade que levou até seus pares governistas a transitar do mais absoluto desdém à mais inflamada das paixões pelo projeto que veta candidaturas de gente com contas abertas na Justiça.

O que já ocorrera na Câmara, aconteceu de novo na sessão de ontem pela manhã na CCJ e com uma rapidez inédita no plenário do Senado. Ineditismo que chega mesmo a ser inusitado.

Muito se falou sobre essa causa que parecia perdida e ganhou a batalha de virada.

Nem a contraofensiva preparada pela liderança governista no Senado resistiu a 15 minutos e teve de abrir alas ao pedido de passagem da pressão popular em ano eleitoral.

Faltou, porém, examinar um outro aspecto da cena: o cotejo entre o entusiasmo retórico dos parlamentares, a animação cidadã do eleitorado e o comportamento de todos esses atores face à realidade cotidiana.

O deputado Chico Alencar levantou a lebre. No último dia de votação do Ficha Limpa na Câmara, enquanto observava os colegas que tanto gostam de proteger quebras de decoros, defender práticas questionáveis e distorções assemelhadas, eufóricos em seus discursos em defesa "das fichas limpas", escreveu uma mensagem.

"Estou preocupado com os excessos de autoelogios derivados do raro momento de encontro do Parlamento com a demanda popular. Não podemos vender ilusões e dizer que começou a acabar a corrupção e que agora o Brasil só terá eleições limpas, candidaturas cândidas. Menos!"

O deputado pede atenção para o controle dos partidos na formação da lista de candidatos, o cuidado do eleitor com a escolha do voto e zelo com o seguinte: o fato de alguém não ter processo não lhe garante a lisura de conduta.

"Muitos fichas-escondidas, sujíssimas, seguirão sendo candidatos, pois a grande maioria dos inescrupulosos atraídos pela vida pública jamais sofreu qualquer condenação judicial. Contra esses, o único remédio é o voto consciente."

Dá mais trabalho, não dá para transferir a responsabilidade aos partidos, mas é um caminho mais seguro, civilizado, politizado e educativo.

Chico Alencar não desqualifica o valor da pressão popular. Ao contrário. Só alerta que não é coisa que se faça como um episódio para depois sair de cena.

Pelo seguinte, na transmutação do Congresso nesse caso do projeto Ficha Limpa muita gente boa e bem intencionada, que em geral é deixada de lado, pôde retomar o espaço perdido.

Mas uma quantidade enorme de oportunistas pegou carona nessa história, esperando que não dê tempo de a regra valer para a eleição de 2010.

Em geral são os que fazem os discursos mais exorbitantes. O palavrório não paga pedágio. Daí que com todo mérito que merece o Congresso, essa súbita transição da apatia à euforia no caso do Ficha Limpa só se configurará uma trajetória em direção ao avanço quando os partidos e os políticos se dispuserem a mudar os comportamentos de fato.

Farão isso por geração espontânea, por obra e graça do Espírito Santo, ou sempre que houver uma eleição?

Em nenhuma dessas situações. Só há um jeito: é a estreita, permanente e contundente, vigilante, insistente e, sobretudo, saudavelmente cética, cobrança social.

Talião. A área jurídica do PSDB aconselha o partido a seguir a Lei Eleitoral no programa do dia 17 de junho, mas admite que não tem como assegurar aos políticos que, se mantiverem a compostura, serão recompensados pelo rigor da Justiça em relação ao adversário.

De onde prevalece, segundo o deputado Jutahy Júnior, o seguinte entendimento no partido:

"Apresentar o candidato (José Serra), fazer de fato um programa com efeitos eleitorais. Se o tribunal permite ao PT reincidir, usando duas vezes o programa partidário como horário eleitoral, nós vamos fazer o quê? Nem o eleitor compreenderia se agíssemos de maneira diferente."


Eliane Cantanhêde: Vitória moral

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - O projeto Ficha Limpa, aprovado por unanimidade no Senado, é mais ou menos como o acordo mediado pelo Brasil para evitar sanções contra o Irã: um avanço, mas ainda insuficiente para gerar resultados consistentes.

O projeto é de iniciativa popular, teve 1,6 milhão de assinaturas e só começou a tramitar em setembro passado, comprovando que, quando quer, o Congresso pode. E que a opinião pública -ou publicada, como prefiram- não move montanhas, mas pesa no Parlamento, sobretudo em ano eleitoral.

Em resumo, essa gente que já foi condenada por mais de um juiz (ou seja, por um colegiado) perde o direito de registrar candidatura e se torna inelegível por oito anos após o cumprimento da pena.

A decisão tem efeito moral, mas, na prática, ainda há muitas e importantes dúvidas rondando o Ficha Limpa. A primeira é quanto ao confronto entre a decisão de ontem do Congresso e uma outra, de 2008, do Supremo Tribunal Federal, que ratificou a soberania da presunção de inocência.

Ou seja: pelo STF, só é considerado culpado, e portanto sujeito a inelegibilidade, aquele (ou aquela) que for condenado(a) por decisão tramitada em julgado, sem possibilidade de recursos protelatórios.

Outras dúvidas são igualmente pertinentes. A regra vale para a eleição de outubro ou só para a seguinte? Quantos parlamentares atuais são atingidos? Ex-governadores hoje inelegíveis por três anos vão passar a ser por mais cinco?

A nova lei, assim, pode ser considerada uma vitória nossa contra o vale-tudo na política. Mas vamos pensar juntos: se atingisse dezenas de deputados e senadores, ela seria mesmo aprovada? O juiz e deputado Flávio Dino (PC do B-MA), que a defendeu, tem sérias dúvidas.

Ontem foi dia de comemoração, como foi quando da assinatura do acordo do Irã. Hoje talvez não seja tanto. Depende de como o Ficha Limpa e o acordo vão cair na real.

Serra e Alckmin, Alckmin e Serra:: Maria Inês Nassif

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Partido de poder interno altamente concentrado, o PSDB paulista, quando domina a política estadual, acaba definindo também uma reserva de poder para poucos.

Desde 1994, o PSDB ocupa o governo do Estado de São Paulo. No período Mário Covas (1995-2001), o partido ainda fez novas lideranças, mesmo com as dificuldade que decorriam do perfil centralizador do governador e, sobretudo, do domínio exercido pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, de José Serra e Covas sobre o PSDB do Estado, e do mesmo grupo sobre o PSDB nacional.

Geraldo Alckmin, vice de Covas- que assumiu o governo após a sua morte, em 2001 - era uma nova liderança nessa época. E impôs-se devido a sua influência no interior. Organizou o partido no Estado, na sua fundação, e foi o articulador do governo Covas junto a prefeituras. Não tinha a projeção nacional dos outros líderes paulistas, mas dispunha de votos na convenção e do eleitor do interior do Estado.

Alckmin nunca foi considerado, pelos poucos que dominam a política nacional do PSDB, como um deles. Mas ascendeu ao grupo que monopoliza o poder partidário no Estado onde o PSDB é hegemônico por trabalho pessoal - e, pelo menos no início, pelo apoio de Covas. E desde 2002 se reveza com Serra nas disputas majoritárias do partido em São Paulo.

Nas eleições de 2002, vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Serra foi o candidato a presidente. Perdeu. Naquele ano Alckmin disputou, e levou, o governo do Estado de São Paulo no que se configuraria uma reeleição, já que, como vice de Covas, assumiu o governo em 2001. Em 2004, sem brigas internas, já que Alckmin era o governador, Serra candidatou-se à prefeitura de São Paulo e levou.

Em 2006, a disputa interna de poder do PSDB estadual transbordou para o partido nacional: Alckmin, já de saída do governo, acabou vencendo a queda-de-braço contra Serra para ser o candidato a presidente da República. Perdeu nas urnas. Serra ganhou o governo do Estado já no primeiro turno.

Nas eleições municipais de 2008, sem mandado, Alckmin comprou uma briga com o grupo de Serra para ser candidato a prefeito da capital. Serra preferia honrar o acordo com o DEM e apoiar a candidatura de Gilberto Kassab, seu vice na prefeitura, que ascendeu a prefeito quando Serra venceu a disputa pelo governo - já era um preparativo de uma aliança partidária para as eleições presidenciais deste ano.

Alckmin perdeu para Kassab. Sem mandato, foi abrigado no governo de Serra. Será o candidato a governador em outubro, quando Serra disputar a Presidência. O que pode parecer uma composição, todavia, foi uma reedição de antigas disputas internas. Serra apostou até a última hora em alguém de seu grupo - nos bastidores, era forte o trabalho do grupo serrista em favor do postulante Aloysio Nunes. Alckmin ganhou a briga porque é incontestável sua popularidade no Estado, conferida pela votação no interior. As pesquisas de opinião atribuem a Alckmin índices superiores de intenção de voto, para o governo, do que a Serra, para presidente, no Estado. Todavia, o grupo de Serra bloqueou a postulação do deputado José Aníbal, que se aliou à facção alckmista, ao Senado. Na queda-de-braço, já que dificilmente as disputas do PSDB chegam a uma convenção partidária, o ex-secretário Aloysio Nunes ganhou a legenda para disputar o Senado.

O grupo de Alckmin - que não botou a cabeça para fora nessa briga - tinha preferências inconfessáveis pela candidatura de Aécio Neves à Presidência. Deslocar do grupo rival o poder nacional seria muito útil para reduzir o poder do grupo de Serra, que ficou enorme no período em que este ocupou o governo do Estado.

Alckmin tem grandes chances de vencer o governo do Estado de São Paulo. Isso dá fôlego a ele na briga pela disputa estadual, mas dificilmente confere projeção nacional ao ex-governador. Existe um bloqueio ao ingresso de Alckmin no círculo de poder nacional. Mas ele, de qualquer forma, terá o poder de desalojar o grupo de Serra da máquina estadual.

O domínio do poder estadual por poucas personalidades não é uma prerrogativa do PSDB paulista. Todavia, o fato de, a tantos anos, revezarem-se nas eleições majoritárias dois únicos personagens de um mesmo partido, torna similar a política do Estado considerado o mais moderno da Federação à política tradicional que foi tão duramente combatida nos Estados mais pobres por setores mais progressistas - o PSDB na sua fundação esteve incluído nessa luta política contra o domínio de poucas personalidades na política estadual.

A renovação da política partidária, por irônica que seja essa realidade, tem acontecido, na última década, nos Estados mais pobres. No Legislativo, onde essa alternância acontece de forma mais rápida, devido ao número maior de quadros eleitos em cada eleição, é visível um esvaziamento do poder dos representantes paulistas. Da mesma forma, os novos quadros que aparecem no noticiário nacional, de qualquer partido, tendem a vir de fora de São Paulo.

No Estado, todavia, o bloqueio ao acesso de novas lideranças, provocado especialmente pela disputa interna de um partido que domina os cargos executivos há 16 anos, dificulta o arejamento. É o domínio de poucas pessoas no partido que domina a política estadual. Não adianta culpar o eleitor por isso: é o partido que define o acesso de políticos à legenda para disputar a eleição. A dinâmica partidária do PSDB, fortemente bloqueada pelo excesso de poder nas mãos de poucos, acaba trazendo apenas os poucos que têm poder interno à submissão do eleitor.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

MPB4 e Roberta Sá - Cicatrizes

Comte Bittencourt: Comissão de Educação vai propor encontro entre representantes das universidades estaduais e presidente da Alerj


Da assessoria
A Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio vai propor um encontro entre representantes das universidades do estado e o presidente da Casa, Jorge Picciani (PMDB), para discutir as perdas salariais, os sucessivos cortes orçamentários e as precárias condições de trabalho nas instituições de ensino estaduais.

A decisão foi tomada durante reunião da comissão, realizada hoje (19/5), no Plenário Barbosa Lima Sobrinho, na Alerj, com a presença de representantes de sindicatos e associações dos profissionais das universidades, que estão em luta por uma campanha salarial unificada.

“O parlamento deve ouvir os sindicatos e ajudar a criar um plano de trabalho comprometido com a educação pública”, disse o deputado Comte Bittencourt (PPS), presidente da comissão.

“O governo do estado deveria utilizar os R$ 10 bilhões de sobra de caixa, anunciados pelo governador esta semana, nos jornais, para pagar o enquadramento por formação dos professores do estado, atrasado há muito tempo.

Também deveria conceder um justo aumento aos servidores públicos, especialmente aos da Educação”, complementou Comte, referindo-se à matéria publicada ontem (18/5), na Coluna do Servidor de O Dia.

Para a presidente da Associação dos Docentes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Asduerj), Cleier Marconsi, as universidades vêm sendo sucateadas há anos. “A questão salarial chegou a uma situação extrema. Na Uerj, em apenas dois anos, 44 professores saíram para outras universidades, em função de melhores salários. Outro dado alarmante é com relação ao número de técnicos administrativos: em 2000 era de 6.500.

Atualmente, não passam de 3.800”, alertou. Já o presidente da Associação dos Docentes da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Aduenf), Marcos Pedlowski, reclamou da perda salarial acumulada ao longo dos últimos anos e governos.

“O bandejão está com obras atrasadas, falta água potável na universidade que, nos últimos dois anos, perdeu ainda 30% do seu corpo docente. É uma necessidade urgente a reposição dessas perdas salariais”, disse Pedlowski.

Membro da comissão, o deputado Alessandro Molon (PT) classificou como justa a reivindicação dos representantes das universidades. “Proponho irmos até o Supremo Tribunal Federal (STF) para lutarmos pelo aumento de verbas para nossas instituições, que vêm, há anos, sofrendo com a redução de investimentos”, afirmou Molon.

Os deputados Marcelo Freixo (Psol), Paulo Ramos (PDT) e Rodrigo Dantas (DEM) também participaram da reunião.

Em Vitória, um palanque entre Dilma e Serra

DEU EM O GLOBO

Paulo Hartung afirma que ainda é cedo para decidir apoio

Dividido entre os pré-candidatos à Presidência José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), afirmou ontem que ainda não decidiu em que palanque vai subir.

Apesar do apoio do PT à chapa que reúne o senador Renato Casagrande, candidato a governador pelo PSB, e seu vice, Ricardo Ferraço, candidato ao Senado pelo PMDB, Hartung disse, no Rio, que há questões relacionadas a projetos para o Espírito Santo todas ligadas à liberação de verbas a serem resolvidas antes que ele se envolva na campanha presidencial.

Entre elas, a reforma do Aeroporto de Vitória, uma obra do PAC que foi embargada pelo Tribunal de Contas da União e que está parada há dois anos.

Hartung que em 2006, depois de se reeleger, sumiu de cena e não apoiou Lula no segundo turno tem o PSDB em seu governo e mantém boas relações com José Serra. No início do ano, Hartung anunciou que desistiria da candidatura ao Senado e ficaria no governo.

Isso possibilitou o acordo em que Ferraço abdicou da disputa pelo governo em favor de Casagrande.

A PROPOSTA DO PPS

DEU EM O GLOBO

Panorama Político :: Ilimar Franco

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, vai receber no sábado do presidente do PPS, Roberto Freire (foto), as propostas do partido para o programa de governo tucano. Algumas das sugestões do PPS são:

1. voto distrital misto, com lista fechada e financiamento público de campanha;

2.redução imediata de 50% do número de cargos de confiança;

3.continuidade das políticas de transferência de renda; e
4. a educação em tempo integral como meta nacional.

Para Serra, vice pode ser definido após convenção

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Christiane Samarco

BRASÍLIA - Dispostos a empreender esforço máximo para conquistar o "vice ideal" Aécio Neves, os tucanos vão levar a definição da chapa presidencial do PSDB ao último minuto do segundo tempo do jogo sucessório. O candidato tucano José Serra revelou ontem que está disposto a apresentar sua candidatura na convenção nacional de 12 de junho sem um vice escolhido.

Ele não vê problema em se lançar oficialmente candidato deixando o posto de vice em aberto, para uma definição posterior. Isto dará mais tempo aos tucanos para conquistar o ex-governador mineiro e, a Aécio, o prazo legal máximo de 30 de junho para aceitar a missão.

O tucanato acredita que há espaço para convencê-lo a desistir da eleição certa para o Senado e disputar a Presidência. Na avaliação de dirigentes do partido, o fundamental, também para Aécio, é a vitória do PSDB. Argumentam que de nada valeria ao mineiro uma cadeira de senador na derrota, se ele não tem perfil de líder da oposição e só poderia chegar à presidência da Casa, como sonha, em caso de vitória.

Serra espera a volta de Aécio da Europa, neste final de semana, para montar uma programação ofensiva em Minas. Ele entende que tudo está dentro do previsto e que a subida de Dilma Rousseff nas pesquisas é natural, diante da "superexposição" que a embalou ao longo do mês.
Acredita que vai "tirar a diferença" a partir de junho, quando forem ao ar os programas dos partidos aliados e do PSDB.

CNI cobra de pré-candidatos redução de juros

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

BRASÍLIA – Para crescer, o Brasil precisa mudar a estratégia de sua economia, segundo documento que será divulgado hoje pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e será entregue aos presidenciáveis. De acordo com a avaliação da entidade, a atual equação macroeconômica tem um viés que inibe o crescimento da economia, ao punir o setor privado.

Entre os principais problemas estão as altas taxas de juros e a dificuldade de acesso ao crédito.
"O Brasil só conseguirá sustentar um forte crescimento se contar com o suporte de uma política industrial ativa, capaz de formar um ambiente propício à inserção competitiva das empresas na economia global, aproveitando todo o extenso potencial de crescimento da produção da indústria brasileira", sustenta o documento batizado de A Indústria e o Brasil - Uma Agenda para Crescer Mais e Melhor.

Decisivo. Para a CNI, os próximos quatro anos serão decisivos para o País. "O País poderá crescer a taxas superiores a 5% ao ano, desde que respeite as lições sobre a importância da estabilidade, priorize a competitividade e avance na modernização das instituições econômicas e políticas", afirma o documento.

Segundo a CNI, o Brasil tem como desafios na política industrial reduzir o custo Brasil e criar condições para a transformação de sua estrutura industrial.

"As altas taxas de juros e a dificuldade no acesso ao crédito são problemas estruturais enfrentados pela indústria brasileira, que reduzem o investimento e prejudicam a operação quotidiana das empresas", afirma a CNI.

Estímulo. A entidade sugere algumas mudanças para estimular a indústria. Uma delas é reduzir em 10% o custo do transporte. Segundo a CNI, essa medida resultaria num aumento de 30% das exportações para os Estados Unidos. "Os custos de transporte no País, em importantes trechos logísticos, são muito superiores à média praticada no mercado mundial", ressalta.

A CNI destacou como outro problema o alto custo da energia no País. Conforme a entidade, a tarifa de energia para o consumidor industrial tem crescido acima da inflação. "Entre 2002 e 2007, a taxa média cresceu 21,6%", argumenta.

A confederação também reclama da lentidão na expansão das redes de saneamento básico. "A raiz do elevado déficit e da insuficiente qualidade dos serviços encontra-se nos baixos níveis de investimento e em problemas institucionais", afirma.

No documento, a entidade lembra que nas décadas de 80 e 90 a renda per capita crescia em média 0,5% ao ano. Se esse ritmo fosse mantido, seriam necessários 137 anos para dobrar a renda per capita. Mas a confederação observa que, entre 2004 e 2008, a taxa de crescimento médio aumentou para 3,4% ao ano. Esse índice, se mantido, fará com que a renda dos brasileiros dobre a cada 21 anos, segundo a CNI.

Multiplicação. Mas a entidade vai além. Diz no documento que é possível multiplicar por quatro a riqueza dos brasileiros. "Como fazer, num espaço de 30 anos, o salto da atual renda per capita de US$ 10 mil para um Brasil com rendimento médio de US$ 40 mil? A resposta: Sustentar o crescimento da renda per capita em 4,5% ao ano é a chave da questão", conclui.

Campanha de Dilma censura vídeo

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Intitulado O calvário dos prefeitos para conseguir recursos - A história do pires na mão, o vídeo era um desenho animado de três minutos. No formato de história em quadrinhos, descrevia a saga de um prefeito percorrendo vários gabinetes, em Brasília, com o objetivo de liberar recursos para sua cidade.

Embora não tenha sido veiculada, a peça foi citada na última pergunta feita aos concorrentes, provocando desconforto na equipe petista. "Cadê o vídeo?", perguntou o pré-candidato do PSDB, José Serra, dirigindo-se ao presidente da CNM, Paulo Ziulkoski. "Foi encaminhado às assessorias dos candidatos", respondeu ele.

Disposto a explorar o veto promovido pela campanha adversária, Serra não se conteve. "Eu tinha curiosidade de ver esse vídeo", insistiu o tucano. "Foi tirado, provavelmente, a pedidos."

Dilma afirmou desconhecer o filme. Questionada se a exibição poderia constrangê-la, reagiu: "Depende do vídeo. Eu não vi."

A petista aproveitou para dar estocadas no governo Fernando Henrique e disse achar "fantástica" a comparação - considerada por ela indevida - entre as formas de tratamento aos prefeitos. "Antes, recebiam prefeitos aqui com cães e cacetetes", provocou. "Não concordo de maneira alguma que a relação que o governo estabeleceu com os prefeitos seja de pires na mão."

Na terça-feira, véspera da sabatina, até o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel - coordenador da campanha de Dilma - entrou na negociação com a CNM. A cúpula do PT avisou que Dilma não compareceria se o vídeo fosse exibido. No filme, o personagem acaba preso por pagar a obra com recursos do Orçamento após uma "jornada cansativa" para liberar verba da emenda produzida por "seu" parlamentar. Encerrada com um letreiro contendo nomes de operações da Polícia Federal, a peça insinua que a burocracia federal leva a práticas ilícitas.

A assessoria de Dilma informou que o vídeo "não era condizente com a realidade" e admitiu ter externado a insatisfação com seu conteúdo. Afirmou, porém, que a decisão de não veiculá-lo partiu da CNM. Segundo Ziulkoski, o PT alegou que a peça seria prejudicial a Dilma por criticar a administração. "Não falamos do governo atual", disse. "É o símbolo de todos os governos."

Diante do impasse na véspera da sabatina, a pré-candidata do PV, Marina Silva, não quis desempatar o jogo e preferiu não se posicionar. "Optamos, então, em não mostrar o vídeo, porque a proposta do movimento era obter consenso", disse Ziulkoski.

Senado aprova Ficha Limpa com brechas que aliviam punições

DEU EM O GLOBO

Processos já julgados ou em andamento podem ser excluídos da nova regra

Sob pressão popular, o Senado aprovou o projeto Ficha Limpa, que veta candidaturas de políticos condenados em instâncias colegiadas da Justiça. Mas uma mudança abriu brechas na lei e sugere que ela só valerá para condenações futuras - podendo excluir casos em julgamento e os já julgados. Onde se lia sobre a não concessão de registro para "os que tenham sido condenados", o texto diz agora: "Os que forem condenados." Dúvidas terão de ser esclarecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral e pelo Supremo Tribunal Federal. Para o relator do projeto no Senado, Demóstenes Torres, a lei não pode ser usada retroativamente para prejudicar ninguém e não vale para casos já julgados. "Processos em andamento serão abrangidos", afirmou. O projeto vai a sanção presidencial e, se for aprovado antes de 9 de junho, as regras podem valer para a eleição deste ano.

Senado aprova Ficha Limpa

Mudança no texto, porém, abre brecha para livrar quem já tinha sido condenado

Isabel Braga

BRASÍLIA - Sob forte pressão popular, o Senado aprovou ontem, por unanimidade dos presentes (76 senadores), o projeto Ficha Limpa, que veta a candidatura de políticos com condenação em instâncias colegiadas da Justiça. O projeto segue agora para a sanção presidencial. Mas a aprovação de uma emenda de redação, ontem, provocou polêmica e pôs em dúvida o verdadeiro alcance e a abrangência da lei. As novas dúvidas se somam à polêmica sobre a vigência ou não das novas regras para as eleições deste ano. A palavra final caberá ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Para a aprovação ocorrer uma semana após a votação na Câmara, o Senado adotou entendimento que permitiu a apreciação da proposta mesmo com a pauta trancada por medidas provisórias e as urgências dos projetos do pré-sal. O clima foi de festa e euforia no plenário.

Há juristas que entendem que, se a lei for sancionada antes de 9 de junho, as regras valerão para as eleições deste ano. Mas reconhecem que prejudicados pela lei poderão levar o caso à Justiça. A emenda de redação aprovada ontem abriu margem à interpretação de que a nova lei só valerá para condenações futuras ou seja, quem for condenado em segunda instância a partir da sanção da lei. Os senadores modificaram o texto e, em alguns artigos, onde se lia os que tenham sido condenados, o texto aprovado diz: os que forem condenados.

Segundo o relator do projeto no Senado, Demóstenes Torres (DEM-GO), foi só emenda de redação para harmonizar o texto. Mas deputados que trabalharam no projeto acreditam que a mudança altera o mérito.

Modificaram o texto para que não haja dúvida de que só vale para condenações futuras. Isso é ruim. Dizem que a lei não pode retroagir para não prejudicar, mas prejudicar a quem? O problema é que o Ficha Limpa não pode dar aval para aos fichassujas de ontem disse o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).

Senadores comemoram

Para o relator do projeto na Câmara, José Eduardo Cardozo (PT-SP), e o deputado Flávio Dino (PCdoB-MA), a alteração do Senado foi de mérito. Dá margem ao entendimento de que não abrangerá processos pendentes, só condenações futuras.

Na forma como estava na redação da Câmara, a eficácia era imediata e valeria para processos pendentes.

Mas a nova redação tem um projeção para o futuro. Elimina uma discussão jurídica afirmou Cardozo.

O secretário-geral da OAB, Marcus Vinicius Coelho, disse que o melhor teria sido manter a redação da Câmara, mas que há no projeto outro dispositivo que deixa claro que se aplica a processos em andamento.

A nova redação pode gerar dúvidas de interpretação no sentido de se aplicar apenas no futuro, mas o artigo 3° da lei diz que os recursos dos que se encontram condenados podem ser aditados após a aprovação da lei (Ficha Limpa). Esse artigo se aplica às condenações já existentes.

Segundo Demóstenes, nenhuma lei pode retroagir para prejudicar, por isso realmente só valeria para condenações futuras.

Você não pode usar uma lei retroativamente para prejudicar ninguém.

Casos com julgamentos definitivos não serão atingidos pela lei. Isso sempre esteve claro, mas os processos em andamento serão abrangidos por ela afirmou Demóstenes.

Pelas regras atuais sem a vigência do Ficha Limpa apenas políticos condenados definitivamente, em última instância, são impedidos de concorrer.

A proposta aprovada ontem veda a concessão do registro eleitoral a políticos condenados na Justiça por crimes graves como cassação de mandato, crimes contra a vida, por tráfico de drogas ou improbidade administrativa.

O texto amplia o prazo de inelegibilidade de três para oito anos.

No projeto aprovado, a condenação que torna o político inelegível só valerá se o julgamento se der em instância colegiada (decisões tomadas por mais de um juiz). A proposta permite que o condenado recorra a uma instância superior para tentar suspender a inelegibilidade e concorrer. A suspensão tem que ser aprovada por um colegiado de juízes e provocará a tramitação prioritária do processo.

O projeto traduz a indignação da sociedade com a classe política afirmou o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP).

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM) também comemorou: Não podíamos virar as costas para a sociedade e não viramos.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) endossou: Hoje termina o Brasil conhecido pela impunidade. Está provado que para mudar é preciso que a sociedade se mobilize.

Conhecido como Ficha Limpa, o projeto de iniciativa popular chegou à Câmara em setembro do ano passado, com 1,3 milhão de assinaturas e defendido pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. Vetava candidaturas dos políticos com condenação, por crimes graves, em primeira instância.

Encontrou resistências nas bancadas e acabou sendo engavetado.

No início deste ano, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB), criou grupo de trabalho para tentar um texto alternativo, que viabilizasse a votação do projeto. O grupo flexibilizou o texto, impedindo a concessão de registro apenas em casos de condenações por órgãos colegiados.

Novamente houve resistência e outro acordo foi fechado, com nova flexibilização: permitir que condenados possam recorrer a instância superior, para tentar suspender a inelegibilidade.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB), chegou a dizer que o projeto só era prioritário para a sociedade, e não para o governo. Mas, pressionados, governistas acabaram votando a favor do texto.

Senado aprova reajuste de 7,72% a aposentados

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Medida Provisória que reajusta aposentadorias acima de um salário mínimo, aprovada em cinco minutos; Lula deve vetar fim do fator previdenciário

Ana Paula Scinocca

BRASÍLIA – Em menos de cinco minutos, o Senado aprovou ontem à noite a MP que reajusta as aposentadorias acima de um salário mínimo. Em votação simbólica, fruto de acordo entre as lideranças do governo e da oposição, os senadores mantiveram o texto como veio da Câmara. A MP segue agora para sanção presidencial e caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva eventual veto.

Ao apresentar seu relatório, o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), indicou que o presidente Lula deverá sancionar o reajuste de 7,72% e vetar apenas o fim do fator previdenciário. "Acabar com o fator previdenciário e não criar nada em contrapartida é uma irresponsabilidade", discursou.

Em nome do governo, Jucá avisou que a votação no Senado respeitaria a da Câmara para não atrapalhar a tramitação da MP. Se a Casa tivesse feito ontem qualquer alteração no texto, a matéria teria de voltar para a Câmara e, assim, correria risco de caducar, já que o prazo final para a sanção é dia 1.º de junho.

A votação foi acompanhada por uma centena de aposentados que lotou as galerias. Segundo técnicos do Congresso, o reajuste e o fim do fator previdenciário podem gerar despesa extra de R$ 5,6 bilhões a partir de 2011. Somente neste ano, o rombo seria de R$ 1,8 bilhão. O mecanismo do fator previdenciário foi aprovado no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) para desestimular aposentadorias precoces e beneficiar trabalhadores que se mantivessem no mercado de trabalho.

Após a votação, Jucá disse que o veto de Lula em relação ao fim do fator previdenciário "já estava garantido". No momento da votação, 78 dos 81 senadores estavam presentes no plenário.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, chegou a defender que Lula vete também o reajuste de 7,72%. Mas, nos bastidores, governistas acreditam que o presidente confirmaria o reajuste para fugir de medida impopular. A pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, porém, sugeriu, ainda no início da tarde, que o presidente poderá vetar o aumento. "Tenho clareza de que o presidente Lula é um homem responsável e dará aos aposentados o que for compatível com a receita do País", afirmou a petista. "Diferentemente disso, não seria correto da parte do presidente e ele não o faria."

Negociação. Antes da decisão de manter o texto como veio da Câmara, o líder do governo chegou a anunciar que mexeria na questão do fator previdenciário.

No entanto, dois fatores pesaram para que Romero Jucá recuasse: o primeiro é que, em ano eleitoral, nenhum parlamentar quer criar ou ser responsável por nenhuma medida impopular. Fora isso, eventual mudança no texto poderia fazer caducar a medida provisória. / COLABOROU VERA ROSA

Efeito Alemanha nos mercados

DEU EM O GLOBO

Chanceler diz que euro está em perigo. Bolsas caem no mundo e Bovespa tem pior nível em 8 meses

Bruno Villas Bôas
RIO, WASHINGTON, BERLIM e LISBOA

A decisão da Alemanha de suspender as operações de venda a descoberto de títulos governamentais e de ações de dez grandes bancos, anunciada na terça-feira, e as declarações da chanceler Angela Merkel ontem de que o euro está em perigo voltaram a derrubar os mercados globais. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve o quinto pregão consecutivo de queda.

O Ibovespa, seu principal índice, ficou abaixo dos 60 mil pontos, o que não acontecia desde setembro do ano passado, caindo 1,89%, aos 59.689 pontos. Investidores temem que outros países da União Europeia (UE) adotem medidas semelhantes à alemã na sexta-feira, os ministros de Finanças do bloco vão se reunir para discutir, entre outros assuntos, a proibição adotada pela Alemanha, alvo de críticas por sua unilateralidade.

A falta de regras e limites pode tornar o comportamento dos mercados financeiros destrutivo e acarretar uma ameaça existencial à estabilidade financeira na Europa e até no mundo afirmou Merkel no Parlamento alemão. Sozinho o mercado não corrigirá esses erros. O euro está em perigo. Se não lidarmos com esse perigo, as consequências para nós na Europa serão incalculáveis.

A chanceler pediu ainda que a UE aja rapidamente para evitar o que chamou de extorsão dos mercados, além de adotar medidas contra pecadores notórios de déficit na zona do euro, como retirar seus direitos de voto.

Merkel colocou mais lenha na fogueira da aversão a risco. Investidores continuaram vendendo ações e títulos para preservar seu dinheiro explica Leonel Pitta, analista-chefe da Lopes Filho & Associados.

Pela manhã, antes da abertura do mercado americano, a Bovespa chegou a cair 2,91%. O Ibovespa acumula queda de 8,48% em apenas cinco pregões.

O valor de mercado da Bolsa paulista encolheu R$ 336 bilhões no período, para R$ 1,99 trilhão, segundo a Bloomberg News. No mês, a queda é de 11,61%, e no ano, de 12,97%. Já o dólar fechou em alta de 0,88%, a R$ 1,838.

Analista: Merkel só piorou a situação

As maiores quedas foram de papéis ligados a commodities, como Vale (2,50%) e MMX Mineração (3,95%). Já o Itaú Unibanco recuou 5,12%, devido ao fato de o Bank of America se desfazer de suas 188,4 milhões de ações PN (preferenciais, com direito a voto) no banco. Para se proteger, os investidores têm buscado ações de empresas ligadas à economia doméstica. Ontem subiram B2W (5,33%), Lojas Americanas (3,75%) e Lojas Renner (3,06%).

A medida alemã, que entrou em vigor ontem e vai valer até 31 de março de 2001, derrubou os mercados de Ásia, Europa e Estados Unidos, mas beneficiou o euro. A moeda única europeia avançou 1,8% em Nova York, a US$ 1,2415. Pela manhã, atingira US$ 1,2144, a menor cotação desde 17 de abril de 2006.

Para João Pedro Brugger, da Leme Investimentos, o discurso de Merkel veio no momento errado e renova incertezas sobre os riscos de insolvência dos países da zona do euro: Quando um chefe de Estado endurece o discurso em meio a uma crise, o mercado acha que a situação pode estar pior do que parece. É uma forma de dizer que a União Europeia precisará tomar medidas duras para evitar o pior.

Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, lembra que a medida alemã se assemelha à adotada pelo governo americano após a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008. Para ela, a medida em si tem poucos efeitos práticos, mas o mercado reage negativamente sempre que existe uma intervenção: Os mercados nunca gostam quando os governos interferem no que eles consideram como o bom funcionamento dos mercados.

Operação não é permitida no Brasil

Carsten Brzeski, economista do ING, disse à Bloomberg que a proibição da venda de ações a descoberto (naked short selling) era um ato de desespero político. Eduardo Roche, da Modal Asset, explica que essas operações não são permitidas no Brasil.

Segundo ele, aqui há operações de short selling cobertas, no qual investidores alugam ações para venda no mercado à vista, apostando na queda do papel. Esses contratos movimentaram, de 28 de abril a 18 de maio, R$ 26,2 bilhões no Brasil acima dos R$ 21,9 bilhões de todo o mês de abril, que foi o maior do ano.

Já a proposta de reforma financeira dos EUA atingiu ontem um impasse.

Os democratas não conseguiram o número mínimo de votos no Senado para fechar o texto e enviá-lo à votação final. Um ponto polêmico é a emenda que proíbe os bancos de operarem com derivativos.

Em visita a Portugal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma defesa apaixonada da política econômica brasileira para o premier José Sócrates, criticado por elevar o Imposto de Renda como parte do pacote de austeridade.

Em 2003, quando tomamos a decisão de fazer o ajuste fiscal, houve até companheiros de partido com dúvidas, mas foi graças à coragem que tivemos que conseguimos estar hoje numa posição altamente confortável.

Temos potencial para ajudar a alavancar a economia portuguesa disse Lula no encerramento da X Cimeira Luso-Brasileira, ressaltando, porém, a importância dos investimentos portugueses no Brasil, de C 20 bilhões.

Poupança brasileira à grega :: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Bovespa cai mais do que outras grandes Bolsas do mundo nesta temporada de faniquito da finança mundial

A BOVESPA caiu mais das alturas do pico, em abril, do que as grandes Bolsas do mundo.

Tinha subido mais, também. Estava cara, por critérios usuais e nem sempre certeiros de valorização, como os do preço dos papéis em relação ao lucro das empresas. Nesse quesito, estava uns 20% mais cara do que na média dos anos menos doidos da economia brasileira, desde 2006.

Estava mais cara que a média das Bolsas dos emergentes relevantes.

Como é óbvio, a Bovespa apanha devido à confusão da dívida dos governos europeus. Esse assunto chato e estrambótico tornou-se, pois, importante para a elite já não tão pequena dos brasileiros que guardam dinheiro em ações, ora na casa dos centenas de milhares. Mas não é apenas a Europa que avaria a poupança desses investidores.

A Bovespa decerto cai porque é grandinha, tornou-se um mercado respeitável e cheio de não residentes ("estrangeiros"), mais do que de costume conectada aos mercados mundiais e seus tremeliques.

Como bem se sabe, a Bovespa é pesada em recursos naturais, Petrobras e Vale. O Ibovespa caiu cerca de 17% desde o pico de abril. Petrobras e Vale caíram quase de 24% ante seus maiores preços neste ano -em março, para a petroleira; em meados de abril, para a mineradora. O preço dos recursos naturais varia de acordo com as estimativas ou alucinações repentinas do mercado a respeito do futuro do PIB mundial. Varia também porque se especula com o preço do petróleo, entre outros.

Além do mais, as ações da Petrobras estão numa pior desde que o governo decidiu que vai capitalizar a empresa. Isto é, vai aumentar o tamanho da petroleira (número e valor de ações), comprando um naco considerável dos novos papéis.

Ou seja, muito acionista atual da petroleira vai ver sua fatia na empresa cair, não se sabe bem quanto, pois é desconhecido o tamanho da capitalização e o da participação do governo e de outros grandes acionistas nessa Petrobras ampliada.

A capitalização, de tamanho incerto, aumenta a incerteza sobre o preço dos papéis da Petrobras. Ontem, uma ação da Petrobras (Petr4) valia 57% do preço pico de dois anos atrás, maio de 2008, quando estava perto do auge a especulação altista com o preço do petróleo. A Petrobras perdeu bem mais do que o Ibovespa, em pontos, nesse período.

Mas não há nada de muito errado com os principais indicadores da economia brasileira, menos ainda com o das empresas, que lucraram bem no primeiro trimestre. Mas a Bovespa havia "antecipado" bem a boa recuperação da economia. Como se disse, estava um pouco cara.

Obviamente, o colunista não sabe o que vai ser da Bovespa -se costumasse saber, poderia estar rico. Mas note-se que o Ibovespa caiu nesta semana a um nível inferior ao de outro tombo maior do ano, o do início de fevereiro, queda feia também devida à crise greco-europeia.

Tal crise ainda vai dar pano para a manga, mesmo que não acabe em catástrofe. Os juros no Brasil ainda vão subir bem, o que vai desviar um pouco de dinheiro da Bolsa. A novela da Petrobras ainda vai se arrastar.

Isso não quer dizer que a Bolsa vai para esta ou aquela direção. Quer dizer apenas que o mar não está para navegantes de estômago fraco.

Escape externo:: Miriam Leitão

DEU EM O GLOBO

O Brasil precisará de pelo menos US$ 50 bilhões de poupança externa. Esse é o tamanho do déficit em transações correntes projetado para este ano.

Para 2011, a estimativa é de que será preciso US$ 60 bilhões. Com o excesso de liquidez no mundo, esse dinheiro vem para o país e a conta fecha. Mas o que acontecerá se a crise europeia provocar uma redução dessa liquidez?

O economista José Lamy, da Cenário Investimentos, acha que é preciso atenção nas nossas contas com o exterior. Ele explica que o momento atual é o mais favorável possível para o financiamento do déficit porque os juros nas principais economias estão muito baixos.

Além disso, há excesso de liquidez por causa dos pacotes de incentivo no combate à crise financeira internacional. Isso significa que há muito dinheiro em circulação e o seu custo nas principais economias está barato. O quadro favorece a entrada de dólares no Brasil.

O problema é que não vai demorar muito para que o Banco Central americano comece a subir os juros, invertendo a tendência.

Estamos ao sabor dos rumores do mercado externo para financiar nosso déficit.

Há excessiva liquidez global, juros zerados por causa da crise internacional nas principais economias.

Isso gera um aumento na propensão ao risco e favorece os investimentos no Brasil. É um momento único, mas que não vai valer para o futuro explicou.

Lamy acredita que há vários monstros adormecidos na economia internacional, mas que eles estão prontos para despertar: a regulação bancária no sistema financeiro americano; o superaquecimento da economia chinesa; e, por último, a crise europeia, que só se agrava. São três fatores que diminuiriam o fluxo de entrada de dólares no Brasil.

O mundo nos próximos cinco anos não será de crescimento expressivo, ou seja, teremos um cenário bastante diferente do que foi visto entre 2003 e 2008. Os juros subindo vão segurar a economia mundial. Não teremos mais a mesma exuberância. A aversão ao risco vai subir. As condições ficarão mais adversas e haverá menos investimentos no países periféricos explicou.

A China não para de divulgar indicadores que sugerem crescimento acelerado da economia. A inflação do setor de construção civil chegou a 12%. O temor de um superaquecimento, forçando o pé no freio por parte do governo, está explícito no índice da bolsa de Xangai, que está com o pior desempenho entre as bolsas mundiais: -21% no ano. Uma desaceleração chinesa levaria a uma queda nos preços das commodities, com impacto direto na balança comercial e no crescimento do Brasil.

Uma desaceleração na China, somada à crise na Europa e ao fortalecimento do dólar, levou a RC Consultores a revisar sua previsão para o preço das commodities este ano, que deve chegar em dezembro com 5% de queda em relação ao mesmo mês de 2009. A RC também reduziu a previsão de saldo na nossa balança comercial, de US$ 12 bilhões para US$ 8 bi.

A história recente do Brasil é salpicada de episódios de crises cambiais. A situação agora é bem diferente. Em outros momentos, o país tinha baixo volume de reservas e câmbio controlado.

Agora, tem câmbio flutuante e US$ 250 bilhões de reservas.

Portanto, não se pode usar a experiência passada como indicação do risco de uma crise.

Mas uma coisa não mudou: o Brasil tem baixa taxa de poupança e isso é um limitador ao crescimento.

Se não há dinheiro aqui dentro para financiar o crescimento, é preciso recorrer ao exterior.

O déficit em conta corrente é resultado de um desequilíbrio no país entre investimento e poupança. E ele se agravou principalmente com a falta de poupança do setor público dos últimos anos. O Brasil quer crescer mais, mas não encontra correspondência na poupança nacional, por isso, precisa ir ao exterior afirmou José Júlio Senna, da MCM consultores.

O economista Ilan Goldfajn, do Itaú Unibanco, que está prevendo um déficit de 3,7% do PIB para o ano que vem, acha que o crescimento do Brasil este ano, que ele prevê em 7,5%, vai piorar os números da balança comercial. Mas há fatores compensadores: O minério de ferro teve um aumento de 110% e isso será importante para elevar o valor das exportações brasileiras da commodity.

O que chama a atenção nas nossas contas externas é que o déficit apareceu repentinamente.

De 2003 a 2007, conseguimos ter sempre saldo positivo, mas em 2008, a conta ficou no vermelho em US$ 28 bilhões.

No primeiro trimestre deste ano, o Banco Central informou que houve o pior déficit para o período na história: US$ 12,14 bilhões. A maior parte do déficit de 2010 será financiado pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED), que está projetado para US$ 38 bilhões, segundo o Boletim Focus.

Quem já viu muitas crises cambiais no passado se assusta porque sabe como o dinheiro estrangeiro some de repente. Nessa situação hoje é outra. Mas o mundo é tão volátil quanto sempre foi.

O QUE PENSA A MÍDIA

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Precisamos de você:: Bertolt Brecht


Aprende - lê nos olhos,
lê nos olhos – aprende
a ler jornais, aprende:
a verdade pensa
com tua cabeça.

Faça perguntas sem medo
não te convenças sozinho
mas vejas com teus olhos.
Se não descobriu por si
na verdade não descobriu.

Confere tudo ponto
por ponto – afinal
você faz parte de tudo,
também vai no barco,
"aí pagar o pato, vai
pegar no leme um dia.

Aponte o dedo, pergunta
que é isso? Como foi
parar aí? Por que?
Você faz parte de tudo.

Aprende, não perde nada
das discussões, do silêncio.
Esteja sempre aprendendo
por nós e por você.

Você não será ouvinte
diante da discussão,
não será cogumelo
de sombras e bastidores,
não será cenário
para nossa ação