domingo, 30 de maio de 2010

Reflexão do dia – Karl Marx


Imediatamente antes e depois do momento em que Copérnico fez sua grande descoberta do verdadeiro sistema solar, descobriu-se ao mesmo tempo a lei da gravitação do Estado: percebeu-se que seu centro de gravidade estava nele mesmo (...) Maquiavel e Campanella primeiro , depois Spinoza, Hobbes, Hugo Grotius, e até Rousseau, Fichete, Hegel se puseram a considerar o Estado com olhos humanos e a expor suas leis naturais, não segundo a teologia, mas segundo a razão e a experiência.



(Karl Marx, Euvres, III: Philosopbie, p. 207-208 – citado Miguel Abensour no livro “A democracia contra o Estado”, p. 41- Editora UFMG, 1998)

Os caminhos do poder:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Para vencer a eleição presidencial, é preciso “discurso e máquina”. A definição é do cientista político Cesar Romero Jacob, professor da PUC do Rio, que está lançando pelas editoras PUC e Vozes o livro “A geografia do voto nas eleições presidenciais do Brasil: 19892006”, um estudo, com uma equipe de pesquisadores brasileiros e franceses, sobre as últimas cinco eleições presidenciais brasileiras e os caminhos que os partidos percorreram para chegar ao poder.

O pragmatismo que tomou conta historicamente da campanha eleitoral para presidente fará, segundo ele, com que tanto Dilma Rousseff, do PT, quanto José Serra, do PSDB, tenham que fazer alianças com políticos mal vistos pela opinião pública.

Até o momento, lembra Romero Jacob, as máquinas partidárias que atuam sobre as “estruturas de poder” existentes — as oligarquias nos grotões, os pastores pentecostais, os políticos populistas na periferia e a classe média urbana escolarizada — não estão em campo, mas fazendo os acordos políticos nos bastidores.

E são acordos que não envolvem ideologia, mas capacidade de ação partidária.

Somente em julho, após “os acordos feitos, dinheiro em caixa, marqueteiros contratados”, é que as máquinas entrarão em ação.

Mas Romero Jacob salienta que trabalhar essas estruturas de poder não é o suficiente para eleger um presidente da República.

“Ter um cabo eleitoral lá no grotão é importante. Em 1994, Fernando Henrique teve 95% dos votos em Mamonas, na divisa de Minas com a Bahia. Mas há os fatores políticos fundamentais, como a conjuntura econômica atual, a popularidade do Lula, que são pontos fortes para a candidatura da Dilma Rousseff”, analisa.

Mas ele também destaca como fraqueza a falta de experiência de disputa eleitoral de Dilma.

Romero Jacob compara o que está acontecendo com a candidata oficial ao que aconteceu com Lula em 2002: “Com Lula houve um ‘reposicionamento de marca’, saiu o operário radical de macacão e entrou o Lulinha Paz e Amor. A Dilma está tendo a imagem reconstruída ao vivo e a cores, física e politicamente.

O que vai prevalecer na percepção do grande público?”, pergunta.

Ao contrário, o candidato tucano José Serra tem a força da experiência política e administrativa, mas tem uma fraqueza de discurso.

Romero Jacob explica: “Ele tentou em 2002 ser o candidato da ‘continuidade sem continuísmo’, uma mensagem ambígua. Hoje, ele continua ambíguo, uma espécie de oposição sem oposicionismo”.

Para Romero Jacob, o candidato do PSDB está testando “o pós-Lula ou o anti-Lula”.

A disputa tende a ser muito acirrada entre os dois, o que provocaria uma redução de votos da senadora Marina Silva, do Partido Verde.

A polarização entre PT e PSDB nas eleições presidenciais a partir de 1994 leva o cientista político Romero Jacob a não acreditar na viabilidade de uma terceira via eleitoral.

Seus estudos demonstram que não há nada em comum entre os terceiros colocados nas cinco eleições presidenciais.

Em 1989 foi Brizola, com 16% — com votos basicamente no Rio e Rio Grande do Sul; em 1994, Enéas, com 7% dos votos.

Segundo os mapas, os votos em Enéas foram conseguidos principalmente na periferia metropolitana, um voto que Romero Jacob define como “de protesto das viúvas do Collor”, parte do eleitorado que, depois de 29 anos sem eleição, teve a decepção com um presidente destituído pelo impeachment e acusado de corrupção.

Um eleitorado de escolaridade mais baixa que encontrou em Enéas a maneira de demonstrar sua insatisfação.

Em 1998, o terceiro colocado foi Ciro Gomes, com 12%; em 2002, foi Garotinho, que é outro fenômeno, ligado aos evangélicos. Em 2006, a senadora Heloisa Helena, representando “as viúvas do Lula”, segundo Romero Jacob. Um eleitorado petista que descobriu que a Carta ao Povo Brasileiro de Lula em 2002 era para valer, e se decepcionou com isso.

Na eleição deste ano, Romero Jacob acha que a senadora Marina Silva, candidata do Partido Verde à sucessão de Lula, corre o risco de reduzir seu eleitorado devido à polarização.

Para ele, a causa ambiental sensibiliza principalmente a classe média urbana escolarizada: “Consumo consciente é para quem já foi incorporado ao mercado de consumo. As classes C, D e E querem mais é consumir, não estão preocupados com os efeitos no meio ambiente”.

Mesmo se Marina, que é evangélica, se transformasse na opção eleitoral desse segmento, Romero Jacob acha que a rejeição a um candidato marcado por essa definição é muito alta.

O livro de Romero Jacob demonstra, com análises da chamada “geografia eleitoral” dos candidatos, que tanto Collor quanto Fernando Henrique e Lula venceram com estratégias semelhantes, e que Lula passou a atuar nos mesmos territórios eleitorais que Fernando Henrique depois de ter perdido três eleições em que colocou a ideologia à frente do pragmatismo.

A mudança do arco de alianças do PT em 2002, que era sempre com PDT, PCdoB, PSB e foi se ampliar para receber o PL com a chegada de José Alencar para compor a chapa como vice de Lula, refletiuse imediatamente na sua “geografia eleitoral”.

A votação de Lula caiu no Rio Grande do Sul, porque Brizola apoiou Ciro Gomes, e no Rio de Janeiro, por causa de Garotinho. Mas cresceu no Tocantins, no oeste da Bahia, no Maranhão, revelando as negociações com setores das oligarquias.

Segundo Romero Jacob, esses números não refletem um crescimento do PT, mas a adesão das oligarquias a Lula. Em 2006, Lula e Alckmin fazem uma campanha pragmática.

A geografia eleitoral de Lula sofre outra mudança. Já se vê a influência dos programas assistencialistas como o Bolsa Família, com o aumento da votação do petista no Nordeste e na Amazônia.

Aos trancos e barrancos:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Não importa quem é quem, fato é que brigam como cão e gato. Andam mais juntos do que nunca, pois firmaram uma aliança e já na campanha eleitoral estão fadados à convivência estreita na mesma chapa de candidatos.

Uma relação cuja falta de sintonia se dá pela própria natureza do par, PT e PMDB, gente de origem, jeito, pensamento, grupos, completamente diferentes.

De repente se veem na contingência de construir uma aliança imensa no País todo, estado por estado, para sustentar a candidatura presidencial de Dilma Rousseff.

Em alguns deu certo, na maioria mais ou menos. Em três mais visivelmente complicados - Pará, Maranhão e Minas Gerais - os acordos podem até vir a ser fechados no final, mas a animosidade reinante entre as partes não indica harmonia adiante.

Por muito menos o PT não conseguiu se adaptar em 1998 à aliança com Leonel Brizola e, diga-se, vice-versa.

Das atuais complicações em tela, a mais importante politicamente para a aliança nacional é a de Minas. Em tese estaria tudo acertado: chapa única com o candidato do PMDB para governador (Hélio Costa), o petista vencedor das prévias do partido Fernando Pimentel em uma das vagas ao Senado e o lugar de vice provavelmente para alguém também do PT.

Tudo pronto para ser oficialmente anunciado no próximo dia 6 de junho.

Eis que senão quando vem um petista do alto comando e diz: nada disso. O partido quer a cabeça da chapa, espera que Hélio Costa desista, seja candidato ao Senado porque, embora esteja na frente nas pesquisas, quando Aécio Neves entrar de fato na campanha estadual em favor do candidato Antonio Anastasia, os índices de Costa se desfazem.

São "inconsistentes". Fernando Pimentel, prefeito de Belo Horizonte até 2008 com 80% de aprovação, teria muito mais identificação com o mineiro que o peemedebista, cuja vida política é feita em Brasília como senador e ministro das Comunicações.

De mais a mais, o PT gostaria de adiar o anúncio oficial para depois de fechada a aliança nacional de apoio do PMDB a Dilma.

Ah, para quê?

Hélio Costa esperou 24 horas e partiu para o rebate começando pelo essencial: "Sou pré-candidato ao governo de Minas, a ponte de retorno ao Senado já não existe para mim e ponto final".

E um acréscimo: "Boatos petistas não me tiram a determinação".

Quais boatos? "É todo dia, toda hora, em todo lugar espalham que não vou ser mais candidato. Nosso pessoal discute isso nas reuniões, eles podem fazer o jogo político, mas não precisam esticar tanto a corda porque isso lá na frente compromete a relação."

Hélio Costa ainda prefere acreditar que as lideranças do PT estejam fazendo jogo de cena para acalmar a militância e não parecer que entregaram o ouro de bandeja com facilidade. "É gênero, porque a briga entre eles é muito séria."

Agora, ele também acha que nem por isso era necessário desqualificar sua posição nas pesquisas ("na última apareço com 52%") dizendo que seus votos são inconsistentes.

"Por quatro vezes tive votações de 3,5 milhões de votos. Quero saber quem é o petista que teve isso." Falta de aproximação cotidiana com o eleitorado?

"Conheço 750 dos 853 municípios de Minas e visito todas as semanas o estado. O Fernando Pimentel saiu da prefeitura de Belo Horizonte há dois anos."

Quanto à data do anúncio do apoio ao nome dele para disputar o governo em chapa única, continua seguro: "Será em 6 de junho." Antes da convenção nacional do PMDB marcada para o dia 12, onde os delegados mineiros têm 16% dos votos. "Para aonde Minas for irá o resultado da convenção."

Não obstante a contundência, Hélio Costa não investe em briga, aposta na aliança. Inclusive porque tem consciência: "Só ganhamos se estivermos juntos, PT e PMDB".

No detalhe, a análise é a seguinte: "No Sul está complicado, São Paulo é caso perdido. É fundamental ganhar em Minas onde Dilma está empatada com Serra e Aécio ainda não entrou na campanha. Em Minas há um partido dificílimo de ser enfrentado: o PL, Palácio da Liberdade". (Sede do governo, atualmente ocupado pelo vice de Aécio, candidato à sucessão).

Democracia sem olhar para trás:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Passou sem ser percebido, talvez à moda mineira, um dado digno da maior consideração às vésperas de se desencadear a campanha presidencial. Não é segredo, e muito menos coisa desprezível, que os dois candidatos à frente nas pesquisas de opinião pública são oriundos da esquerda, na qual se formaram e dela se afastaram o suficiente para não comprometerem a taxa democrática de cada um. É de se supor que Dilma Roussseff e José Serra, em duas gerações de equivalente iniciação política através de períodos históricos com características opostas um sob a Constituição de 1946, outro sob o AI-5 tenham se identificado com a militância política de esquerda e apresentem saldo suficiente em favor da democracia.

A pequena e ocasional convergência entre José Serra e Dilma Rousseff se deve menos à evolução política para a esquerda do que ao esgotamento do exaurido padrão brasileiro de fazer política à moda tradicional, para não dizer pior. Apenas para salvar aparências, a diferença entre os candidatos em cena se reduz ao mínimo. Ganhe quem ganhar, essa diferença custa barato. A questão se situa praticamente na economia, e no que for acessório. Por último, conviria realçar a contribuição histórica do presidente Lula, cuja carta aos brasileiros lhe abriu crédito na classe média, colocada mais embaixo na escala social, e lhe valeu a eleição e a reeleição. A burguesia leu tudo nas entrelinhas, nas quais não está escrito mas subentendido. Nada, porém, com a esquerda, da qual quer distância. A fórmula clássica é eleger-se pela esquerda e governar pela direita. Não falha. Lula já está longe.

A exposição das candidaturas José Serra e Dilma Rousseff deve ter em vista mais cuidado para os dois não perderem a esquiva confiança da classe média, que emergiu do anonimato na onda da democracia que fala por si mesma e pela eleição direta. Chega de citações entre aspas retiradas da teoria e não perfilhadas pela realidade. A sucessão presidencial tem dialeto próprio, e fala por si mesma a circunstância de serem José Serra (pelo PSDB) e Dilma Rousseff (pelo PT) candidatos de mais alta cotação nas pesquisas. Trata-se do Brasil pós-Lula, queira ou não o presidente. Dissipou-se o velho medo de que a esquerda venha cobrar mais do que se dispõe nossa vã democracia a pagar.

Dilma e Serra estão, portanto, dispensados de demonstrar e se desculpar por terem tido iniciação política pela esquerda. A diferença (que não é pequena) entre eles se deve a circunstâncias políticas anteriores às respectivas candidaturas e a condições históricas adversas, pois em 1968 a geração que queria se inserir (vá lá) no processo se recusou a aceitar que a solução tivesse de ser política, e apostou o que não tinha em projetos revolucionários. Ao contrário, a geração já adulta dos jovens que haviam apostado na Constituição de 1946 estava preparada para a prova de paciência política, e se dispôs a desgastar o poder autoritário com paciência, coerência e resignação até a apoteótica derrota do regime e seu candidato na eleição indireta. José Serra aprendeu política com a esquerda que apostou na arte do possível. Na etapa seguinte, a geração de Dilma Rousseff viu no AI-5 a oportunidade de ir mais longe do que ter como prêmio de consolação uma Constituição burguesa. Ficou pelo caminho. De volta do exílio, Serra se apresentou e participou de um jogo que também será eterno enquanto durar.

Depois de cumpridos quatro mandatos de presidentes pelo voto direto, o Brasil se considerou em condições de eleger Lula. E o fez. Nada aconteceu que justificasse o temor tradicional. Os dois candidatos que marcam passo nas pesquisas devem ter aprendido que é perfeitamente possível conciliar esquerda e democracia mediante o uso de ferramentas legais. Cumpre-lhes demonstrar com atos que é contraproducente o medo da democracia. Pelo menos enquanto a vida política brasileira não se distanciar de um ponto, ainda não localizado, em que as imperfeições ponham em risco a estabilidade política. A impressão é que o país acelerou suas possibilidades, e aquele que olhar para trás corre o risco de virar estátua de sal.

O vice, o inútil tão querido:: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - No tempo em que fazia um programa de humor, não um "talk-show", Jô Soares costumava ironizar a figura do vice (qualquer vice): dizia que vice não virava nome de rua, vice não ganhava estátua em praça pública.

É verdade. Vice, a rigor, só é importante quando morre ou é destituído o titular. Que o digam José Sarney e Itamar Franco.

Vice nem aparecia na cédula eleitoral, que, aliás, nem existe mais. Da desimportância do vice, como fator de atração do eleitor, dá prova José Alencar.

Alguém aí acha que Alencar trouxe um voto, unzinho que fosse, para Luiz Inácio Lula da Silva?

Só foi chamado porque Lula queria um empresário para acalmar os que ainda o consideravam um perigoso comunista. Hoje, é verdade, Alencar teria votos, não por sua ação como vice, mas por sua brava luta contra o câncer.

Por tudo isso, me diverte o esforço despendido pelo tucanato para emplacar Aécio Neves como vice de Serra. A menos que a cacicada do PSDB tenha informações privilegiadas sobre a saúde de Serra e, por isso, ache prudente ter Aécio como o futuro presidente e não como o futuro vice.

Será que alguém acredita que algum eleitor, unzinho que seja, raciocina assim: Ah, vou votar no Serra porque o vice dele é o Aécio?

Pode acontecer -e até acontece muito- que o eleitor pense: Quem é o candidato do Aécio? É o Serra. Ah, então voto nele.

Mas, aí, independe da posição que Aécio ocupe no xadrez eleitoral tucano. Depende da convicção e do empenho com que diga que seu candidato é Serra. Ponto.

É o que faz Lula com Dilma. Por isso, ela, virgem em disputas eleitorais, já empatou com Serra, por mais que seu vice, muito provavelmente, venha a ser Michel Temer, que não chega a empolgar multidões -acho até que não empolga nem a ele próprio.

Ilusión | Ilusão - Julieta Venegas | Marisa Monte

Reportagens mostram a voz viva dos eleitores: Alberto Almeida

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Quem mora na cidade de São Paulo ou mesmo no Estado de São Paulo tem uma noção limitada de como pensa o eleitor médio brasileiro. Podemos ir além de São Paulo. As pessoas de classe média e alta das grandes cidades brasileiras não entendem, muitas vezes, por que o governo Lula tem uma aprovação tão elevada e por que Lula é tão querido.

A série de artigos do Estado, tão bem redigidos pelo jornalista Lourival Sant"Anna, mostra com bastante clareza e realidade o que é captado de maneira fria pelos números das pesquisas quantitativas. Lula é querido sim, mas não em abstrato. As pessoas que gostam de Lula pensam desta maneira porque associam ao seu governo a melhoria de suas vidas.

Lula não é um deus, um ídolo, ou alguém cuja popularidade seja inquebrantável. Aliás, a popularidade do presidente não cairá, como não diminuiu no passado, por causa de críticas ou ataques de quem lhe opõe. É preciso um fato político real, como uma profunda crise econômica ou um aumento agudo da inflação para que a popularidade de Lula caia. Ao que tudo indica isso não acontecerá mais.

O que o Estado mostra, ao ir ouvir diretamente o eleitor, é que essa elevada popularidade tem a ver com ter sido possível comprar um carro, reformar a casa, conseguir um emprego melhor. Aqueles que apoiam Lula, e que por isso têm a tendência de votar na sua candidata, estão ao lado do presidente por causa de uma questão geral, ampla, assim formulada pelos eleitores: "A minha vida melhorou com Lula". Esse "melhorou" se aplica às condições financeiras, ao consumo.

Não há um motivo específico para ficar ao lado de Lula, algo como: "Aprovo ele porque esta obra denominada desta ou daquela maneira me beneficiou." Ou ainda, "estou ao lado de Lula porque ele apresentou na Câmara, e conseguiu que fosse aprovado, um determinado projeto de lei". Na aprovação de Lula predomina uma justificativa geral e faltam motivações específicas.

O sinal se inverte quando lemos os depoimentos dos eleitores que pretendem votar nos candidatos de oposição. O motivo para votar em Serra ou Marina é sempre alguma coisa que o governo Lula ou fez errado ou deixou de fazer. Os eleitores são muito específicos quando mencionam coisas erradas que foram realizadas. Para eles, neste caso, é preciso votar em outro candidato que não o apoiado por Lula para que uma lei particular seja abolida ou introduzida.

O recado da população captado pelo Estado é também uma sugestão para a campanha de Serra e Marina. A sugestão de que ambos busquem um discurso mais geral e mais amplo. Vale recordar aqui dois estilos de campanha nas primárias norte-americanas, o Obama do discurso geral e a Hillary do discurso específico.

A mesma pergunta feita a Hillary e a Obama recebia duas respostas inteiramente diferentes. Hillary apresentava quinze medidas que iriam resolver o problema endereçado pela pergunta; dentro de cada medida ela explicava como e por que seria feito daquela forma. Obama se limitava a responder indicando o rumo que seguiria. Algo como "todos os americanos terão acesso a tratamento de saúde digno".

Obama venceu Hillary na indicação do Partido Democrata por diversas razões, mas essa diferença no discurso de ambos não pode ser menosprezada. O eleitor capta e retém muito menos informações do que as pessoas que gostam de política e a acompanham. Por isso, o argumento geral tende a ser mais efetivo do que questões detalhadas e específicas.

Outro aspecto muito relevante do especial do Estado se refere ao que realmente mobiliza o eleitor. As discussões são cristalinas: o eleitor, de qualquer escolaridade, só se preocupa com o seu próprio umbigo. O eleitor, no momento de escolha de seu candidato, é mesquinho e egoísta. Ele quer saber como os candidatos podem melhorar a sua vida. Eles querem que os candidatos falem para ele de seus problemas e como serão resolvidos.

Eis aí mais um recado para as campanhas de 2010. Temas como Banco Central não dizem nada para o eleitor, em particular se comparado com um tema sobre o qual a atuação do Banco Central tem grande impacto: a inflação. Temas como reforma tributária, carga fiscal e sua linguagem incompreensível, crise fiscal ou a partilha de impostos entre municípios, Estados e União não dizem respeito em nada ao interesse do eleitor. O eleitor quer saber e está disposto a votar em quem vai reduzir os impostos dos alimentos, passagens aéreas e automóveis. O Estado premiou seus leitores e as campanhas de 2010 com este especial que para nós, pesquisadores, é uma verdadeira pesquisa qualitativa.


É SOCIÓLOGO E AUTOR, ENTRE OUTROS LIVROS, DE "A CABEÇA DO BRASILEIRO"

Eleitor de Dilma vê Serra como o mais experiente

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Maioria do eleitorado da petista acha tucano mais preparado, diz Datafolha

No levantamento com os eleitores, ex-ministra é citada como quem mais vai ajudar as mulheres e os pobres

Fernando Rodrigues

BRASÍLIA - José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) estão empatados na disputa pelo Palácio do Planalto, ambos com 37%, mas há uma grande diferença quando se afere sua imagem entre os eleitores.

O tucano é visto como o mais experiente (por 64% dos eleitores), inteligente (42%), realizador (40%) e o mais preparado "para ser presidente, de modo geral" (45%). Os percentuais da petista, nesses mesmos quesitos, são 17%, 23%, 24% e 29%, respectivamente.

Marina Silva (PV) fica num longínquo terceiro lugar, com 5% a apontando como a mais experiente. Nos outros atributos, ela tem, respectivamente, 10%, 7% e 6%.

Os dados são de pesquisa Datafolha de 20 e 21 de maio, com 2.660 eleitores em todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Quando se faz um cruzamento entre os dados da pesquisa, descobre-se que 51% dos eleitores que declaram votos em Dilma acham Serra o mais experiente.

Para Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, o desempenho do tucano se deve, em parte, ao fato de ele ser ainda o mais conhecido. Enquanto 34% dizem "conhecê-lo bem", só 15% dizem o mesmo sobre a petista. Para Marina, a taxa é 10%.

O Datafolha pesquisou 24 atributos de imagem relacionados aos candidatos. Em 14 deles, Serra ficou à frente de Dilma. A petista só teve desempenho nitidamente melhor em dois itens: é vista como a que mais ajudará os pobres e as mulheres.

Para 37%, Dilma será a que "mais defenderá os pobres", contra 21% dos que enxergam esse atributo em Serra. Marina Silva tem 18%.

Na outra ponta, Serra lidera com 45% quando a pergunta é sobre "quem defenderá os mais ricos". Cerca de um terço dos próprios eleitores do tucano também compartilham dessa opinião -29% apontam o próprio Serra nesse quesito.

Para 15%, Dilma ajudará os abastados. Só 3% põem Marina nessa categoria.

A petista lidera com 45% como a que "mais defenderá os interesses das mulheres". Nesse item, Serra tem 14%, e Marina fica com 22%.

Dilma é a única entre os três principais candidatos a ter menos votos do eleitorado feminino (33%) do que entre homens (42%).

PF avaliza visão de Serra sobre Bolívia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Itamaraty enviou relatório à Câmara que revela crescimento na produção de cocaína sob a gestão de Morales

Aumento é resultado de política que combate o tráfico, mas valoriza a produção da folha de coca, afirma ministério

Josias de Souza

BRASÍLIA - Documentos oficiais produzidos pelo governo durante a gestão do presidente Lula reforçam a acusação de José Serra (PSDB) contra o governo da Bolívia.O pré-candidato acusou o governo boliviano, na última quarta-feira, de ser "cúmplice" dos traficantes que enviam cocaína para o Brasil. Em reação, a rival petista Dilma Rousseff disse que Serra "demoniza" a Bolívia.

Dados colecionados pelo governo, porém, avalizam a versão do tucano.

Sob condição de anonimato, uma autoridade da Divisão de Controle de Produtos Químicos da Polícia Federal falou à Folha que, segundo relatórios oficiais da PF, 80% da cocaína distribuída no país vem da Bolívia -a maior parte na forma de "pasta". O refino é feito no Brasil.

Para a PF, a evolução do tráfico revela que há "leniência" do país vizinho. Serra usara uma expressão análoga: "corpo mole".

A PF atribui o fenômeno a aspectos culturais, pois o cultivo da folha de coca é legal na Bolívia. O produto é usado de rituais indígenas à produção de medicamentos. Seu excedente abastece o tráfico.

ITAMARATY

Num documento endereçado à Comissão de Relações Exteriores da Câmara, em 2007, o Itamaraty disse que, "entre 2005 e 2006, a área de produção de folha de coca na Bolívia cresceu de 24.400 para 27.500 hectares".

Também informa que, sob o governo de Evo Morales, adotou-se tanto uma política de combate ao narcotráfico quanto de "valorização" da folha de coca.

Segundo o Itamaraty, uma delegação de brasileiros e chilenos foi à Bolívia, em junho de 2007, para reunião com autoridades locais. "Sem resultado", diz o texto.

Sob Lula, realizou-se um esforço para reativar, sem sucesso, as comissões mistas antidrogas Brasil-Bolívia.

Em setembro de 2008, o Itamaraty enviou à Câmara uma atualização do relatório assinado pelo chanceler Celso Amorim. No tópico sobre drogas, ele afirma que a ONU "divulgou relatório que indica aumento na produção de coca na Bolívia pelo quinto ano consecutivo".

Em outubro de 2008, Morales expulsou da Bolívia cerca de 20 agentes do departamento antidrogas dos EUA que ajudavam no combate ao tráfico. O pretexto foi a acusação de que a DEA (agência americana antidrogas) realizava espionagem.

A Bolívia firmaria, dois meses depois, um acordo com o Brasil, segundo o qual a PF passaria a atuar na Bolívia no combate ao tráfico de cocaína e armas. Diz a PF que o acordo esbarra até hoje em entraves financeiros. La Paz deseja que Brasília arque com os custos.

Serra mira política externa:: João Bosco Rabello

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Aparentemente desconectada da campanha eleitoral, pela natureza do tema (drogas), a crítica do candidato José Serra ao governo boliviano obedece a uma estratégia de contestação da política externa brasileira, questionando sua eficiência e relação custo/benefício para o Brasil.

Para não pôr em risco o princípio de respeito à soberania das nações a abordagem crítica explora a relativização do conceito democrático e dos direitos humanos pelos países que recebem tratamento privilegiado do governo Lula.

Nesse contexto, a Bolívia foi precedida por Venezuela, Cuba e Irã e, no plano estritamente comercial, pela Argentina e China. Em pílulas, Serra vai expondo seu pensamento revisionista para a chancelaria brasileira.

Traz para o debate eleitoral a possibilidade de explorar as contradições do governo Lula, de discurso e prática democráticos no plano interno, mas indiferente aos desmandos em Cuba e Venezuela, tolerante com movimentos como as Farc, à qual ainda reconhece status político, e ingênuo na ação pela paz no Oriente Médio.

A politização do Mercosul e o reconhecimento da China como economia de mercado deram visibilidade ao conflito comercial e produziram a proposta de introduzir no currículo do Itamaraty a especialização em comércio externo, cuja gestão no governo é fragmentada, em ministérios e departamentos.

A serviço de Roriz

Setores do Ministério Público não gostaram do contexto festivo em que Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do governo Arruda, disparou sua mais recente denúncia, contra o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ).

Como já depusera sobre o suposto envolvimento de Maia com Arruda, o ato público foi interpretado como um favor a Joaquim Roriz, candidato a um quinto mandato pelo governo do DF, dessa vez pelo PSC.

Pressionado pelas autoridades para delatar Roriz, de cuja administração foi peça-chave, Durval mostra-se cada dia mais obediente ao ex-chefe, mesmo ameaçado de perder a contrapartida pela delação premiada, que é a redução de pena. Roriz está empenhado em tirar de seu caminho o DEM, seu concorrente ao governo local e também a parceiro numa possível aliança com o PSDB.

Vice a toda prova

A abertura de temporada no PSDB pela escolha do vice de José Serra, desmente todas as tentativas do partido de negar a espera excessiva pelo ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, apesar de todas as suas reafirmações de que concorreria ao Senado. De qualquer forma, o não definitivo de Aécio empresta objetividade ao Plano B dos tucanos, que pode ser o senador Marco Maciel, titular do cargo nos dois governos de Fernando Henrique. Ele volta a ganhar força por aglutinar o DEM em torno de seu nome, mas são mencionados ainda o ex-presidente do partido, Pimenta da Veiga e a senadora Kátia Abreu (DEM-TO).

PMDB de Minas ameaça votar contra Dilma

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Novo impasse na negociação preocupa o Planalto; PT quer Pimentel candidato ao governo, mas partido de Temer exige a vaga para Costa

Vera Rosa

BRASÍLIA - A insistência do PT em emplacar a candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, ao governo mineiro abriu nova crise com o PMDB. Em represália, uma ala do partido ameaça votar contra a aliança com Dilma Rousseff para a Presidência.

Dirigentes do PMDB avisaram o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que a parceria com Dilma corre risco se os petistas não apoiarem o senador Hélio Costa na disputa ao Palácio da Liberdade.

"Lamentavelmente, companheiros do PT estão usando uma política rasteira contra mim", desabafou Costa. "Mas não adianta o PT fazer pressão e guerra de guerrilha no grito porque isso não me abala."

Ex-ministro das Comunicações, Costa não escondeu a contrariedade com rumores dando conta de que teria desistido da cadeira hoje ocupada pelo governador Antonio Anastasia (PSDB) para concorrer à reeleição ao Senado. "Se eu quisesse voltar ao Senado, não precisaria fazer esforço", insistiu. "Sou pré-candidato ao governo."

O PMDB de Minas detém 69 dos 804 votos da convenção do partido, marcada para 12 de junho, com o objetivo de homologar a candidatura do presidente da Câmara, Michel Temer (SP), como vice na chapa de Dilma. Temer também comanda o PMDB.

Sozinhos, os mineiros não conseguem desmanchar a aliança, mas podem fazer corpo mole na campanha. Além disso, a insatisfação tem potencial para contaminar grupos, já que os diretórios de São Paulo e Pernambuco são contra o casamento com o PT e apoiam José Serra (PSDB). Detalhe: a convenção do PT é em 13 de junho, 24 horas depois do encontro peemedebista.

"O clima está péssimo e para toda ação há uma reação", alfinetou Wellington Salgado (PMDB-MG), suplente de Costa no Senado. "A insatisfação em Minas tem nome e uma coisa é certa: a bancada do PMDB votará contra a coligação com Dilma se o PT não fechar conosco."

Intervenção. Na quarta-feira, uma reunião de dirigentes estaduais do PT com o presidente do partido, José Eduardo Dutra, em Brasília, escancarou o mal-estar. Petistas se queixaram da pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que quer o acordo com o PMDB a qualquer custo, de olho no precioso tempo de TV da sigla na propaganda eleitoral. O grupo chegou a dizer a Dutra que o casamento com o PMDB só sairá em Minas e no Maranhão se houver intervenção nas seções regionais.

Desde que Dilma começou a crescer nas pesquisas de intenção de voto - ganhando fôlego em Minas, o segundo colégio eleitoral do País, depois de São Paulo -, o PT mineiro voltou a bater o pé pela candidatura de Pimentel. Um dos principais coordenadores da campanha de Dilma, o ex-prefeito venceu a prévia realizada no início do mês contra o ex-ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias.

Apesar de Pimentel ter conquistado o direito de representar o partido na corrida ao Palácio da Liberdade, o PMDB dava como certo que ele seria candidato ao Senado, deixando a vaga ao governo para Costa. Na prática, esse cenário pode até se tornar realidade - com o anúncio da composição da chapa no próximo dia 6, conforme prometido -, mas não sem trauma. Motivo: discípulos do ex-prefeito não querem desistir da briga pela cadeira de Anastasia, afilhado do tucano Aécio Neves.

"Estamos muito animados e convictos de que o melhor candidato para ganhar do PSDB o governo mineiro é mesmo Pimentel", afirmou o deputado federal Reginaldo Lopes, presidente do PT de Minas. "Vamos convencer o PMDB e os demais partidos da base aliada de que a candidatura do Pimentel também é melhor para Dilma, porque ele tem votos de amplos setores."

Embora Costa esteja na dianteira em todas as pesquisas, petistas o comparam nos bastidores a um "cavalo paraguaio": bom de largada, mas ruim de chegada. Sem querer jogar mais combustível na crise, Pimentel assegurou que o acordo com o PMDB será cumprido, com palanque único para Dilma.

Articulador político do Planalto, Padilha evitou espichar a polêmica e disse não acreditar que o PMDB vote contra a dobradinha com o PT. "A melhor forma de conquistarmos o governo de Minas e o Senado é em aliança com o PMDB", resumiu.

Para complicar ainda mais o cenário, os seguidores de Patrus conseguiram empurrar o encontro do PT mineiro para 19 e 20 de junho. Foi uma estratégia para lavar as mãos e obrigar o Diretório Nacional do PT - que se reúne antes, em 11 de junho - a arcar com o desgaste da "intervenção branca" em Minas. Adversários de Pimentel também desejam que ele pague a fatura política por eventual renúncia.

Aliados comemoram Aécio ''só em Minas''

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Para tucanos que trabalham para eleição de Anastasia, candidatura do ex-governador ao Senado evitará "nacionalização" de campanha no Estado

Eduardo Kattah Embora já esperada, a rejeição de Aécio Neves aos apelos e pressões para que aceitasse integrar como vice na chapa presidencial tucana, encabeçada por José Serra, foi recebida com alívio e euforia entre os principais aliados do ex-governador no PSDB-MG.

"A expectativa é que ele conduza a campanha com mais força, porque vai se dedicar só aqui", afirmou o secretário de Governo, Danilo de Castro. "Havia muito medo, um certo receio do PSDB mineiro que a candidatura dele a vice o afastasse daqui. Foi uma atitude que ele tomou com convicção e que teve o apoio do grupo todo."

Durante as férias de Aécio na Europa, o governador Antonio Anastasia ficou estacionado nas pesquisas de intenção de voto, gerando apreensão entre tucanos e aliados.

Embora de acordo com a última pesquisa Vox Populi Anastasia apareça 28 pontos porcentuais atrás de Hélio Costa (PMDB) e 14 de Fernando Pimentel (PT), pré-candidatos da base aliada, o PSDB-MG destaca que o governador tem enorme potencial de crescimento, já que é ainda pouco conhecido. O próprio Aécio, num esforço para injetar otimismo, classificou o patamar de seu candidato como "extraordinário".

"A gente está seguro que o Anastasia ainda é conhecido de uma parcela muito pequena da população mineira, apesar de todas as viagens que ele tem feito", destacou o deputado federal Paulo Abi"Ackel (PSDB-MG).

Transferência. Ao mesmo tempo, os tucanos mineiros difundem a versão segundo a qual o ex-governador como vice pouco acrescentaria à candidatura de Serra nas regiões onde o pré-candidato tucano aparece em clara desvantagem, como no Norte e no Nordeste do País.

Aécio deixou o governo mineiro com 73% de aprovação e colocará à prova sua capacidade de transferir votos. Em 2006, no segundo turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva obteve em Minas uma vantagem de cerca de 3,2 milhões de votos sobre o então candidato tucano, Geraldo Alckmin.

"Tenho como convicção de que ele como vice talvez não somasse muito e atrapalharia tanto a campanha do Serra quanto a do Anastasia. No dia em que ele deixasse de ser novidade para a mídia, caía no esquecimento. Porque ninguém lembra de vice", comentou Castro.

Lideranças do PSDB-MG admitem que a decisão de Aécio de reafirmar sua candidatura ao Senado evita uma "nacionalização" da campanha em Minas. Os tucanos mineiros acompanham com atenção a briga na qual se envolveram os diretórios estaduais do PT e o PMDB pela indicação do candidato ao governo.

A aposta é que qualquer que seja o candidato, a aliança não marchará unida. Lideranças deixam claro, porém, que se Aécio decidisse rever seus planos e compor a chapa presidencial, a disputa pelo governo de Minas ganharia outra dimensão e uniria todos os aliados.

Aécio: 'Não haverá alguém tão dedicado à vitória'

DEU EM O GLOBO

Aécio diz que desde dezembro decidiu que não seria vice, mas que será o mais empenhado pela eleição de Serra

ENTREVISTA: Aécio Neves

Preterido pelo PSDB na disputa pela vaga de candidato a presidente, o exgovernador Aécio Neves ocupou, nos últimos dias, o posto de um dos principais personagens da campanha tucana rumo ao Planalto. Especialmente depois que o presidenciável José Serra perdeu a dianteira nas pesquisas de intenção de voto, o que desencadeou uma nova ofensiva dentro e fora do PSDB no sentido de convencê-lo a ser o vice da chapa. Mesmo após três semanas de férias no exterior e sob pressão, ele resiste à ideia e afirma, nesta entrevista ao GLOBO, que não será vice de Serra.

Para se justificar, apresenta números de pesquisas do PSDB indicando que sua presença na chapa presidencial tucana garantiria, no máximo, acréscimo de 5% nas intenções de votos em favor de Serra. A seguir, trechos da entrevista, feita na sexta-feira à noite, por telefone.

Adriana Vasconcelos

O GLOBO: O senhor diz que política é destino, e o seu parece que está lhe empurrando para ser vice de Serra. Isso pode ocorrer?

AÉCIO NEVES: No ano passado, apresentei ao meu partido uma alternativa de candidatura presidencial. No momento em que percebi que uma maioria partidária caminhava na direção da candidatura do governador Serra, fiz um gesto em favor da unidade, que foi abdicar desta candidatura. Acima de projetos pessoais deve haver algo, hoje em falta na política, que é uma visão patriótica. Em dezembro anunciei minha candidatura ao Senado. De lá para cá, nada mudou, nem minha convicção de que Serra é o melhor candidato para vencer as eleições, e que como candidato ao Senado tenho mais condições de ajudá-lo.

Não teme ser responsabilizado por uma eventual derrota de Serra?

AÉCIO: De forma alguma. Na vida devemos ter convicções e lutar por elas. Precisamos fortalecer diariamente nossas convicções e resistir às pressões que nos afastam delas. Estou absolutamente seguro de que tomei a melhor decisão, pensando no meu país.

Que fato poderia levar o senhor a mudar de ideia? Há quem diga que o fato de o gover nador Anastasia estar atrás nas pesquisas...

AÉCIO: Quando retornei (das férias), me deparei com uma grande confusão entre opinião e análise. E com três fatos que me eram colocados à frente. O primeiro de que a eleição se definiria em Minas. Qualquer análise pode mostrar que a eleição pode ser definida no Nordeste, que tem 27% do eleitorado. Minas tem 10%. O segundo fato é que a má situação de Anastasia poderia me fazer mudar de opinião. O governador tem 25% de conhecimento e, na pesquisa espontânea, tem os mesmos 5% de intenções de votos de seu adversário. É uma situação extraordinária, e estamos preparados para vencer no primeiro turno. A terceira, de que minha candidatura a vice seria fundamental para eleger Serra. Tenho pesquisas que mostram que isso poderia aumentar em no máximo 5% as intenções de votos em favor de Serra em Minas.

Mas já ajudaria...

AÉCIO: Isso significa meio por cento dos votos nacionais e com risco de desguarnecermos a nossa retaguarda e termos outras perdas, se eu não estiver em Minas. Não haverá no meu partido ou fora dele alguém tão dedicado à vitória de Serra.Temos o melhor candidato e condições para vencer em Minas e no Brasil.

O empate entre Serra e Dilma pesou na sua decisão?

AÉCIO: Minha decisão foi tomada em dezembro, quando Serra tinha uma vantagem expressiva em todas as pesquisas. É preciso haver mais serenidade por parte dos nossos próprios companheiros. Vejo uma ansiedade excessiva.

A subida de Dilma confirma o poder de transferência de votos de Lula?

AÉCIO: Reconheço que o governante bem avaliado tem algum poder de transferência de voto. E servirá, certamente, para o nosso caso em Minas. Mas essa transferência é limitada. Quem define a eleição não são os apoiadores, é o eleitor.

Que outras opções Serra tem para vice?

AÉCIO: É uma questão que tem de ser vista com serenidade. Existem alternativas dentro do partido, como o senador Tasso Jereissati, ou mesmo dentro da coligação. Não é isso que vai mudar o rumo da eleição.

O senhor ainda acredita num distensionamento entre PT e PSDB no futuro?

AÉCIO: Acredito. Acho que vai chegar um momento em que vamos perceber que temos mais identidade do que imaginamos, e que hoje o que nos separa mais profundamente é a disputa pelo poder. Mostramos em Belo Horizonte, quase como um laboratório, que é possível construir um projeto conjunto em favor de uma cidade. Acho que a sociedade brasileira aprovaria a construção de um projeto em que o PT e o PSDB pudessem fazer parte.

Pelo papel que o senhor está tendo nesta eleição, dá para dizer que os mineiros poderão ter um candidato à Presidência em 2014?

AÉCIO: Não projeto o futuro com tanta antecedência. Durante oito anos fomos o governo mais bem avaliado do país. Agora estou engajado em outro projeto. Se eu não tivesse convicção da capacidade de Serra de governar o país, talvez estivesse até hoje na disputa.

O PT e o PMDB estão encomendando pesquisa para definir seu candidato à sucessão mineira. Quem daria mais trabalho para Anastasia: Fernando Pimentel ou Hélio Costa?

AÉCIO: Não posso me intrometer na discussão que está no outro campo. Tenho boa relação com ambos, mas tenho um enorme compromisso com Minas e não tenho a menor dúvida ao afirmar que, para Minas, a melhor alternativa é Antonio Anastasia. Os mineiros saberão fazer a opção. Estou confiante que Anastasia continuará governando pelos próximos quatro anos, qualquer que seja o seu adversário.

Serra, Aécio e patriotismo:: Fábio Wanderley Reis*

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO/ALIÁS

O cálculo do governador mineiro é simples: em uma eventual derrota, danos enormes; em caso de vitória, pouco a ganhar na Vice-Presidência

As pressões sobre Aécio Neves para que aceite concorrer à Vice-Presidência na chapa "puro sangue" com José Serra assumiram forma patética. Num momento em que a ascensão de Dilma Rousseff e a queda de Serra nas pesquisas resultam em empate entre os dois, a aflição de PSDB e aliados leva empresários a cobrar até "patriotismo" de Aécio.

Nidin Sanches/Nitro/DivulgaçãoAécio evita o risco de um confronto com a popularidade mineira de LulaMas deveria ser fácil ver as coisas do ponto de vista do cálculo pessoal de Aécio ao recusar associar-se em posição subalterna ao esforço eleitoral do PSDB e da oposição em geral. Ponha-se de lado o efeito que a sombra do avô Tancredo Neves possa ter sobre a autoimagem do ex-governador e suas ambições em seguida a dois mandatos bem-sucedidos e diante do amplo apoio em Minas.

É claro, de todo modo, que o que lhe é oferecido envolve o risco - tanto mais agora, com o impulso de Dilma - de ter de compartilhar, talvez desproporcionalmente, os danos da eventual derrota eleitoral (ou mesmo, em ótica mais ampla, de um governo comparativamente mal-sucedido em seguida ao do Super-Lula) sem perspectivas de ganho em caso de êxito de Serra e do exercício, por quatro anos, talvez oito, de uma Vice-Presidência por definição desbotada. Sem falar que Aécio se acha agora posto na incômoda posição de salvador de uma empreitada em perigo - e do fato de que uma avaliação realista de seu poder de transferir votos quando confrontado com a popularidade mineira de Lula tende a ressaltar o que pode haver de excessivo na aposta em Aécio como fator capaz de alterar de fato, em Minas, o resultado da disputa para presidente em plano nacional.

Por contraste com falta de patriotismo, falou-se de "generosidade" a propósito de ações recentes de Aécio, em particular a desistência de insistir na candidatura peessedebista. Creio que essa renúncia pode ela mesma explicar-se pelo cálculo. Não obstante termos tido a participação de Aécio no ícone oligárquico em que se transformou, há poucos anos, a imagem de alguns cardeais peessedebistas a deliberar sobre candidatura presidencial em jantar de bons vinhos, dificilmente, depois do ícone, o partido teria podido evitar as prévias que Aécio propunha se ele tivesse batido o pé quanto a elas. O problema é que obter as prévias e eventualmente ser derrotado nelas, além do desgaste imediato que representaria, tornaria muito mais difícil recusar a candidatura a vice apresentada como encargo partidário.

O que seria um bom motivo para que as forças serristas do PSDB se comprometessem com as prévias de forma a segurar Aécio - não fosse o temor de que elas viessem a dar, quem sabe, o resultado "errado", consagrando a candidatura presidencial de Aécio. Já a candidatura ao Senado preservaria, para o ex-governador mineiro, tanto a imagem de uma liderança de peso vitimada por circunstâncias partidárias tisnadas pelo componente oligárquico quanto a possibilidade de atuação significativa e de maior visibilidade, além da expectativa de que o partido viesse a cair-lhe no colo na hipótese de malogro de Serra.

Seja como for, "patriotismo" e "generosidade" remetem a objetivos distintos daqueles envolvidos no cálculo do interesse pessoal. O próprio Aécio recorreu a "generosidade" num contexto em que, além do compromisso com os objetivos supostamente maiores do partido, suas decisões são vinculadas aos interesses de Minas. É difícil enxergar além da retórica enevoada envolvida nisso: são tênues as conexões entre o eventual destino de Aécio como candidato a um cargo ou outro e o que se poderia pretender apresentar como "os interesses de Minas", ainda que seja possível discutir o impacto de suas opções sobre, por exemplo, as chances de eleger Anastasia como sucessor.

O diabo é que o foco realista dessa leitura vale de maneira muito mais ampla. Alguém indagava, a respeito de Brasil e Irã, o que Lula teria ido buscar em Teerã, e respondia "protagonismo". Se tomada amplamente como indicando ambição pessoal, a resposta vale para a pergunta de por que alguém quer ser presidente da República. Em termos de "patriotismo", a candidatura presidencial de Serra podia talvez ser defendida, por um peessedebista ou oposicionista convicto, quando ele liderava com folga as pesquisas. Mas empatado e na defensiva, levado até, de certo modo, a se declarar também ele lulista, as coisas mudam. Se se trata de buscar novidade de impacto, por que não Aécio para presidente, em vez de vice? Afinal, nas condições paulistas de PSDB contra PT, Aécio em São Paulo é boa aposta. O resto é campanha.


* FÁBIO WANDERLEY REIS É PROFESSOR EMÉRITO DE CIÊNCIA POLÍTICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) E AUTOR, ENTRE OUTRAS OBRAS, DE MERCADO E UTOPIA: TEORIA POLÍTICA E SOCIEDADE BRASILEIRA (EDUSP)

A chuva que faz o mar:: José de Souza Martins*

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO /ALIÁS

Lei que obriga todas as instituições de ensino, públicas e particulares, a ter biblioteca merece aplausos, mas o largo prazo de dez anos dado para seu cumprimento faz suspeitar das intenções


É estranhíssimo que num país do tamanho e das justas pretensões do nosso seja necessária uma lei que obrigue escolas públicas e particulares a ter uma biblioteca. Apenas 34,8% das nossas escolas de ensino fundamental a têm. O Censo Escolar de 2009 registra que quase 100 mil escolas estavam desprovidas de biblioteca, imprescindível no ensino que se pretenda sério.

A lei sancionada pelo presidente da República, há alguns dias, que determina a instalação de bibliotecas em todas as instituições de ensino público e particular do País é, por isso mesmo, dessas medidas que arrancam aplausos já antes da primeira piscada de olho. Mas antes da segunda piscada já surgem as dúvidas. A própria lei dá um prazo de dez anos para sua execução, o que a torna uma lei de intenções suspeitas, mais para a marola de ocasião do que para efetivas consequências. É tempo excessivo, que permitirá, aos legalmente responsáveis pela implementação da medida, empurrá-la com a barriga, como se diz, sempre podendo pretextar outras prioridades, como é costume entre nós.

O prazo exagerado e descabido deixa a instalação das bibliotecas escolares para um depois de amanhã em que, provavelmente, o livro, com a materialidade que lhe é própria e como o conhecemos, será um objeto em boa parte ultrapassado. O prazo concedido faz parte do elenco das artimanhas bem nossas com que se cria a norma e a obrigação e já se oferece o argumento que desobriga e o artigo de lei que anistia o faltoso e omisso. Nem por isso deve-se perder a deixa, mesmo que seja para malhar em ferro frio, para ter o cumprimento do que agora é lei, com a urgência de que a educação carece e não com o sossego do deus-dará.

Neste Brasil, em que a educação há muito perdeu o rumo, não só é estranho que numerosíssimas escolas não tenham biblioteca, supostamente ferramenta integrante do aparato de ensino e fator de socialização das novas gerações no padrão de civilidade que a modernidade exige, muitíssimo acima da indigência educacional em que nos encontramos. Estranho é, sobretudo, que os próprios docentes não tenham tomado a iniciativa, em suas escolas, de desencadear movimentos sociais de reivindicação e pressão junto à comunidade e aos governos em favor da instalação de bibliotecas escolares. Toda a prontidão, patriótica aliás, que nossos educadores já tiveram em tempos idos perdeu-se nas últimas décadas, na mentalidade redutiva e copista que transformou a escola em pobre imitação da fábrica.

Sindicalismo e produtivismo aboliram a criatividade do educador, conformado com o absurdo de lecionar sem fazer da biblioteca a coadjuvante compulsória de um ideal de educação que nos levasse muito além do limbo em que nos encontramos. O nosso Malba Tahan, no tempo da escola risonha e franca, já ensinava que "quem não lê mal fala, mal ouve, mal vê". Não é tão raro que escolas dotadas de biblioteca, como vi, mantenham-na eventualmente fechada, sob pretextos vários, sem que seus professores se sintam cultural e moralmente obrigados a colocar os livros nas mãos dos alunos. Sem, aliás, que os pais sequer percebam que a educação sem livros é própria tão-somente da escola da ignorância.

Muitos alunos fora dos espaços de afluência econômica e das famílias cultas, ou relativamente cultas, não têm em casa sequer o ambiente próprio a ter em mãos, como cotidiano alimento, o livro que ilumina e emancipa. Em muitas famílias pobres, o imaturo nem sequer tem o lugar minimamente adequado para reclinar a cabeça. A biblioteca escolar e a biblioteca municipal constituem, para essa população, não só o lugar dos livros disponíveis para consulta e empréstimo, mas também, e sobretudo, o estúdio de que carecem os que, não o tendo em casa, também têm direito ao recinto próprio para uso e desfrute das coisas do espírito. A escola sem biblioteca é a escola desencarnada, assombração do ensino. A lição de Castro Alves ainda vale: "O livro caindo n’alma / é germe - que faz a palma, / é chuva - que faz o mar".


* JOSÉ DE SOUZA MARTINS, PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DA USP. É AUTOR, ENTRE OUTROS LIVROS, DE A APARIÇÃO DO DEMÔNIO NA FÁBRICA (EDITORA 34)

Engordando o caixa das centrais

DEU EM O GLOBO

STF não decidiu se elas têm direito ao imposto sindical, mas dinheiro já é repassado

Geralda Doca

BRASÍLIA - A demora do Supremo Tribunal Federal (STF) para decidir se as centrais sindicais têm ou não direito de receber parte da arrecadação com o imposto sindical obrigatório ajudou a engordar o caixa dessas entidades pela segunda vez consecutiva: foram R$ 84,3 milhões em 2010, quantia superior à recebida no ano passado, de R$ 80,9 milhões, quando passaram a ter direito ao rateio. O valor referente ao bolo do tributo em 2010 foi pago pela Caixa Econômica Federal, responsável pelo recolhimento, há duas semanas.

Os sindicatos, que ficam com a maior fatia, levaram R$ 917,3 milhões, e o restante foi dividido entre confederações e federações — de trabalhadores e patronais — e governo.

Entidades vão apoiar Dilma

Ao todo, a contribuição obrigatória gerou receita de R$ 1,68 bilhão em 2010, do qual resta pagar só R$ 31,6 milhões. O tributo, descontado no salário dos trabalhadores em março, é recolhido até 30 de abril. O banco tem 40 dias úteis para efetuar o pagamento aos sindicatos e ao governo.

Segundo o Ministério do Trabalho, as duas maiores centrais, CUT e Força Sindical, receberam R$ 27,3 milhões e R$ 23,6 milhões, respectivamente — valores que representam 80% do orçamento da Força e 60%, da CUT. Em seguida, os maiores beneficiados foram a União Geral dos Trabalhadores (UGT), com R$ 14 milhões; Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), que embolsou R$ 9,9 milhões; Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), R$ 5,3 milhões; e Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), R$ 3, 9 milhões.

Na comparação com o ano anterior, os valores subiram para todas as seis centrais beneficiadas. São praticamente as mesmas que planejam apoio explícito à pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, em ato programado para a primeira Conferência dos Trabalhadores, no início de junho, em São Paulo.

Ao legitimar as centrais há dois anos e dar a elas metade dos 20% que o Ministério do Trabalho recebe do bolo do imposto (Lei 11.648), o governo do PT estipulou como um dos critérios para o repasse o número de sindicatos filiados — o que levou as entidades a uma corrida pela criação de novos sindicatos e adesão dos existentes.

Dados do ministério (até 28 de maio) revelam que 358 pedidos aguardam análise na pasta; 2.979 foram indeferidos e outros 5.684, deferidos. Há mais de 9 mil sindicatos no país.

Enquanto o STF não julga uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), proposta pelo DEM contra a divisão do bolo da contribuição sindical com as centrais, o Congresso tenta aprovar mais um imposto.

As centrais estão em pleno lobby para aprovar proposta do senador Paulo Paim (PT-RS) que torna obrigatória a contribuição assistencial, hoje cobrada só dos filiados aos sindicatos, para todos os trabalhadores.

A nova contribuição seria de até 1% da renda líquida auferida pelo trabalhador no ano anterior (1% do salário mensal, incluindo 13oe demais ganhos, como participação nos lucros e resultados da empresa). Ou seja, teria potencial para mais que triplicar os 3,33% da contribuição sindical obrigatória. A proposta de Paim passou pelo Senado.

Os defensores da medida justificam sua necessidade.

— Os sindicatos não negociam só em nome de seus associados, mas de todos os trabalhadores.

A contribuição ajuda a manter ser serviços que oferecemos, como assistência médica, jurídica, colônia de férias — disse o presidente da Força, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP).

— Não parece razoável o trabalhador tirar até quatro dias de trabalho por ano para pagar aos sindicatos.

Com a elevada carga tributária do país, que incide sobre todos os produtos e serviços, será mais um imposto que vai reduzir sua capacidade de consumo e prejudicar a economia e os empregos — rebate Francisco Gadelha, presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Confederação Nacional de Indústria (CNI).

Julgamento está empatado no STF

No STF, o julgamento está empatado em três a três. Já no início de 2010, as entidades sindicais começaram a pressionar para evitar a conclusão do julgamento antes do pagamento deste ano, feito em maio. Já há parecer da Procuradoria Geral da República apontando a inconstitucionalidade do repasse às centrais. Já votaram neste sentido os ministros Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso.

Os ministros Marco Aurélio, Eros Grau e a ministra Carmen Lúcia votaram a favor das centrais. Faltam votar Ayres Brito, Celso de Mello, Ellen Gracie, Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Este último está impedido, pois se manifestou favoravelmente quando estava na Advocacia Geral da União (AGU). Não há previsão de quando o assunto entra na pauta.

O argumento pela inconstitucionalidade é baseado no fato de que as centrais fazem parte da estrutura sindical (sistema confederativo, federativo e sindicatos), previsto na Constituição.

Por essa lógica, os recursos arrecadados só podem ser destinados a entidades que negociam e atuam diretamente nas causa dos seus filiados.

O professor de Relações do Trabalho da Faculdade de Economia da USP José Pastore salienta que, apesar de ter enviado ao Congresso em 2005 uma proposta de reforma, o governo Lula nunca quis mexer na estrutura sindical. Ao contrário, seu governo deu mais poder às centrais, do ponto de vista jurídico e financeiro.

— O que o governo Lula está fazendo não é diferente do que fez Getulio Vargas em 1943, que cooptou sindicatos para governar sem problemas. A totalidade das centrais já se definiu a favor da candidata do governo.

Força gastou R$ 7,9 milhões com nova sede de 12 andares

DEU EM O GLOBO

Foram R$ 5 milhões somente para reformar e mobiliar o prédio

Sérgio Roxo

SÃO PAULO. Segunda central mais beneficiada com recursos do Imposto Sindical em 2010, a Força investiu parte do dinheiro proveniente do tributo que recebeu nos últimos anos para comprar uma sede. Depois de gastar R$ 7,9 milhões, a entidade ocupa desde o começo do mês um prédio de 12 andares no bairro de Liberdade, no centro de São Paulo.

Antes, a central dependia de um espaço alugado. As instalações se restringiam a dois andares do edifício sede do Sindicato dos Metalúrgicos, também na Liberdade. Agora, a situação é bem diferente. Nos 12 andares, funcionam a Força nacional, o núcleo de São Paulo da entidade e o Sindicato dos Aposentados de São Paulo. Há apenas cerca de 80 funcionários no prédio.

Na compra do edifício, a central gastou R$ 2,88 milhões, segundo o secretáriogeral da entidade, José Carlos Gonçalves, o Juruna. Para reformar e o mobiliar o local, foram necessários outros R$ 5,037 milhões.

— Tivemos que trocar elevador, vidros e instalar rede de internet.

Graças aos recursos repassados do Imposto Sindical, a entidade não precisou recorrer a financiamentos bancários para realizar o seu sonho da sede própria. O secretário-geral diz que a Força precisava ter um espaço maior para melhorar o seu atendimento. A função das centrais é assessorar e orientar os sindicatos: — Toda entidade precisa de uma estrutura física, para fazer reunião, debates, guardar documentação, (precisa) de funcionários que possam ajudar na ação sindical. Aqui tem toda uma equipe que é destinada a esse tipo de trabalho.
Número de sindicatos filiados subiu de 992 para 1.783 De acordo com Juruna, com a mudança foi possível implantar secretarias voltadas para as categorias de cada setor econômico, como, por exemplo, de metalúrgicos e químicos.

Essas secretarias, segundo Juruna, podem organizar ações a nível nacional e reunir sindicatos que têm interesses comuns.

Outro argumento usado para justificar a necessidade de mais espaço na sede foi o aumento da quantidade de sindicatos filiados. Em 2008, a central reunia 992 sindicatos.

Hoje, são 1.783.

Apesar de bem estruturado, o prédio não tem grandes luxos aparentes.

Chama a atenção, porém, o hall de entrada com piso escuro de porcelanato e parede revestida.

Em novembro de 2007, O GLOBO mostrou que o imposto sindical pode ser usado também para manter mordomias de dirigentes sindicais. Um dos citados era Antonio Bekeredjian, o Toninho, do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada e Afins do Estado de São Paulo (Sintrapav). Ele usava, na época, um Mercedes-Benz para chegar ao trabalho e tinha telefones em seu nome registrados em imóveis de luxo. Um deles ficava no Condomínio Vleden Village, em Campos do Jordão, refúgio de milionários paulistanos nas épocas de frio. Outro telefone estava instalado em um apartamento da Avenida Presidente Wilson, em Santos, de frente para praia do Gonzaga, a principal da cidade. O sindicalista negou, na ocasião, ser dono dos imóveis.

A reportagem também mostrou que Almir Macedo Pereira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte de Carga Própria de São Paulo, estava construindo uma casa na Serra da Cantareira, região ocupada por residências de alto padrão em meio à natureza, na Zona Norte paulistana. Ele disse, na época, que juntou o dinheiro ao longo de 30 anos para construir a casa.

Sindicalismo de funcionários :: Leônico Martins Rodrigues

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Neste momento, várias categorias do funcionalismo público estão em greve ou ameaçam paralisar suas atividades. O movimento sindical do setor público explodiu com a aprovação da Constituição de 1988, que assegurou aos assalariados do Estado o direito à sindicalização. Não se trata de um fenômeno brasileiro. Essa forma de sindicalismo - que foi chamada inicialmente de "novo sindicalismo" - cresceu nos países democráticos por volta de 1960. Sua expansão coincidiu com o declínio do sindicalismo do setor privado ou de mercado, geralmente de trabalhadores manuais. Não há, porém, relação de causa e efeito entre os dois fenômenos.

No Brasil, em 2008, ocorreram 411 greves. Nesse ano, pela primeira vez desde 2004, em números absolutos, as paralisações no setor privado (55% do total) superaram as do setor público. Contudo as greves aí envolvem mais trabalhadores, são mais prolongadas, acarretam, portanto, maiores perdas, medidas em horas de trabalho. A média de trabalhadores por greve no setor público foi de 12.203, ante 3.868 no setor privado. Mais acentuadas ainda são as diferenças se o critério de comparação for de homens-hora perdidos nos dois setores: 80% das perdas estão no setor público. Além disso, no setor privado cerca da metade das paralisações é de apenas um dia e 79% não foram além de dez dias, enquanto 91% das greves de mais de 30 dias estão no setor público (dados do Dieese).

O avanço do sindicalismo de funcionários tampouco é um fenômeno brasileiro. Nos Estados Unidos, em 2009, 7,9 milhões de funcionários públicos pertenciam a algum sindicato, em comparação com 7,4 milhões de trabalhadores do setor privado. Esses números significam que, em termos porcentuais, 37,4% dos funcionários estavam sindicalizados, ante somente 7,2% do setor de mercado. A área educacional é a que apresenta a mais elevada taxa de sindicalização (38,1%). O Sindicato Nacional dos Professores tornou-se o maior sindicato dos Estados Unidos (Bureau of Labor Statistics).

No passado, os assalariados do Estado, no Brasil e em outros países, eram servidores públicos. Com exceção de poucas categorias, não tinham direito de se sindicalizar e muito menos de fazer greve. Em troca, usufruíam um conjunto de vantagens que, no caso brasileiro, incluíam estabilidade no emprego, aposentadoria integral, jornada de trabalho mais curta e várias outras. Gozavam de status elevado, do qual deveriam orgulhar-se.

Trata-se de uma forma de sindicalismo que depende mais do desenvolvimento da burocracia pública do que da economia. Uma de suas singularidades vem do fato de que as várias formas de pressão que pode desenvolver contra o Estado-patrão afetam a terceiros que não são culpados de nada e não têm poder de decisão sobre as demandas sindicais. Suas greves raramente causam prejuízos econômicos aos "patrões", embora lhes possam causar danos políticos.

A expansão do sindicalismo de funcionários decorreu basicamente da democracia de massas e da expansão de valores na sociedade que possibilitaram a existência de associações sindicais dentro do Estado. Gerentes e diretores da alta administração pública são políticos que ali chegaram por via eleitoral. Não são proprietários dos meios de produção, mas apenas gestores temporários de partes da máquina estatal, fato que os faz lenientes ante os movimentos de funcionários, mesmo quando eles afetam negativamente um número elevado de potenciais eleitores. Minorias organizadas, porém, são mais poderosas do que maiorias desorganizadas.

O projeto principal da imensa maioria dos que fazem da política sua profissão é continuar na política e nela ascender. Por isso o tipo de reação da classe política às demandas sindicais não deriva de considerações de prejuízos econômicos, mas políticos. Certamente, há aqui um problema para os administradores do Estado: os custos do atendimento das reivindicações têm de sair de algum lugar - do aumento dos impostos, da inflação, da contenção de gastos, da redução de investimentos... Ou subtraídos sorrateiramente de outros grupos com menor capacidade de defesa.

Outras variáveis, porém, necessitam ser consideradas para entender o surgimento do sindicalismo do setor público. A aplicação de políticas de bem-estar social e o intervencionismo estatal aumentaram o número de funcionários e, portanto, num movimento de feedback, elevaram a capacidade de pressão dos funcionários sobre o sistema político e sobre a administração pública. Junto com a expansão numérica vieram mudanças nas formas de acesso ao emprego público.

No passado, em todos os países, os funcionários obtinham emprego na máquina do Estado por meio de esquemas clientelísticos. Era uma das formas pelas quais os políticos recompensavam os adeptos e aliados sem meter a mão no próprio bolso. Mas esses procedimentos, aos poucos, foram sendo corroídos pelos concursos e modos de seleção impessoal. A racionalização dos serviços públicos tendeu a enfraquecer os laços de lealdade dos funcionários a seus padrinhos políticos. O sindicalismo de funcionários é o sucessor das velhas máquinas políticas e dos esquemas clientelísticos de proteção e empreguismo, diz o pesquisador americano R. Nisbet (1983). Abandonados por seus padrinhos, os empregados do Estado tiveram de aprender a se defender por si mesmos. E aprenderam rapidamente.

Aqui não seria possível discutir que futuro aguarda esse "novo" sindicalismo. Assinalemos apenas que seu destino provavelmente dependerá de transformações quantitativas e qualitativas que vierem a ocorrer, não no sistema de produção, mas na burocracia estatal.


EX-PROFESSOR TITULAR DOS DEPARTAMENTOS DE CIÊNCIA POLÍTICA DA USP E DA UNICAMP. É AUTOR DE "DESTINO DO SINDICALISMO"

Nova geografia econômica :: José Roberto Mendonça de Barros

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O crescimento brasileiro após 2000 mostrou, como se sabe, a expansão vigorosa de uma nova classe média, aqui definida como composta por famílias com renda mensal de 3 a 10 salários mínimos, e mais comumente chamada de classe C. Ao mesmo tempo, as categorias mais pobres (classes D e E, com rendas de até 3 salários mínimos) apresentaram elevações nos ganhos médios e redução de seu tamanho relativo, por efeito de promoção de muitas pessoas para a categoria superior. Como consequência, os indicadores de distribuição de renda e de consumo apresentaram melhorias sistemáticas, fazendo deste último a grande alavanca do crescimento no período.

Para a melhoria da posição real e relativa das categorias E, D e C, é também sabido que a regulação e as transferências governamentais foram as variáveis mais importantes, até porque a demanda por trabalho só se acelerou recentemente.

A evolução das rendas mais baixas da economia tem muito mais a ver com três eventos: os ganhos reais do salário mínimo (que acumularam 78% entre dezembro de 2000 e maio de 2010); o vertiginoso crescimento nas despesas da previdência, tanto em cobertura como no valor real dos benefícios (as despesas reais da previdência cresceram 90 % entre 2000 e 2009) e a enorme expansão dos programas de transferência de renda, inclusive estaduais e municipais, onde o Bolsa-Família (que sucedeu o Bolsa-Educação) é o caso mais conhecido.

Finalmente, também sabemos que a melhora na posição das classes E, D e C impactou de forma diferenciada as diversas regiões do país. A região nordeste foi grande ganhadora neste processo, dado que ali se concentram os maiores volumes de pobreza do país. É largamente conhecido o fato que a vida econômica de inúmeras comunidades só se move quando chegam os pagamentos das bolsas e das aposentadorias.

Olhando para o futuro, tenho a impressão de que este quadro não se manterá, isto é, a dinâmica regional deverá ser diferente a partir do próximo ano. Certamente o Brasil deverá continuar a crescer, e com ele todas as regiões: projetamos uma expansão 4,0 e 4,5% nos próximos anos, que representa , em nossa opinião, o potencial ajustado à nossa taxa de investimento, ainda inferior a 20% do PIB. Entretanto, por diversas razões, a Região Sudeste (e São Paulo em particular) deverá puxar o crescimento. No resto deste artigo tentamos mostrar o porquê da proposição.

Em primeiro lugar, é pouco provável que as transferências governamentais continuem a crescer, em termos reais, na velocidade do passado recente. A razão maior é que o Tesouro Nacional está gastando numa velocidade evidentemente insustentável. Pior que isso, o nosso regime fiscal está sendo deteriorado sistematicamente, como é prova a verdadeira árvore de natal desta MP 487, na qual, inclusive, se concede um explícito afrouxamento da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Além da menor oferta de recursos, devemos considerar que a política de elevação real do salário mínimo terá de ser moderada pela piora forte na situação da Previdência Social, ampliada pela liberalidade legislativa recente. Ademais, a cobertura dos programas distributivos já é quase total, tudo se somando para justificar a projeção de menor expansão nas transferências públicas, independentemente do resultado das eleições. Nessas condições, o Nordeste deve perder parte de sua alavanca de crescimento rápido.

Ao mesmo tempo, não percebo que tenha se desenvolvido nenhum polo novo de crescimento que venha compensar a redução relativa do gasto público. Os polos tradicionais maturaram (frutas no São Francisco, polo petroquímico, produção automotiva, indústrias tradicionais, como calçados e têxtil, produção de petróleo, etc.), e nada grande apareceu no lugar, exceto o complexo econômico em torno do Porto de Suape, em Pernambuco. Neste Estado também existe um centro de empresas de tecnologia da informação e um importante polo na área da saúde. A nosso ver, boa parte de outros grandes projetos, como refinarias, siderúrgicas, ferrovias e a transposição do Rio São Francisco, ou estão muito atrasados ou simplesmente não acontecerão.

Na Região Sudeste, ao contrário, o crescimento deverá ser positivamente impactado por, pelo menos, três fatores: a exploração do pré-sal, os gastos na preparação das disputas esportivas (Copa e Olimpíada) e a expansão de investimentos em áreas de elevada produtividade, no agronegócio, indústria e, especialmente, serviços.

A exploração do pré-sal é bastante conhecida, e nos próximos dez anos serão investidos, segundo a Petrobrás, algo como 110 bilhões de dólares no Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. Existem algumas dúvidas se a Petrobrás conseguirá realizar todo seu ambicioso programa de investimentos, especialmente nas circunstâncias atuais dos mercados de capitais no mundo; mesmo neste caso parece certo que os investimentos no pré-sal serão prioritários, ao contrário das refinarias projetadas. Ademais, serão muito importantes seus efeitos sobre fornecedores de bens e serviços. Embora estes estejam espalhados pelo Brasil (como os estaleiros), é certo que estão muito mais concentrados na Região Sudeste.

Também no caso dos eventos esportivos a concentração de gastos na região é bastante óbvia, especialmente no Rio de Janeiro. Os números são ainda incertos, mas parece razoável dizer que será elevado.

O Rio de Janeiro tem hoje uma oportunidade que não pode perder, de transformar e dar nova vitalidade para sua economia.

A terceira razão para suportar a ideia que o Sudeste vai liderar o crescimento nos próximos anos é que os investimentos na produção de outros bens e serviços também estarão aqui concentrados. Chamo a atenção tanto para setores já existentes como para áreas novas, com maior densidade tecnológica. No primeiro caso estão as indústrias automobilísticas, químicas e de bens de capital. No caso de áreas menos conhecidas, gostaria de destacar a forte expansão do "cluster" da saúde (que inclui a indústria farmacêutica, de equipamentos médicos e odontológicos, serviços hospitalares e diagnósticos, inclusive voltados para clientes de outros países, construção civil especializada, etc.), a biotecnologia (especialmente os biocombustíveis de segunda geração), os serviços financeiros e de suporte para os negócios e a economia criativa, que inclui uma multiplicidade de segmentos, como publicidade, arquitetura, engenharia, moda, design, atividades culturais, filmes artes, áudio visual, serviços de internet, etc. Todas estas áreas estão em processo de internacionalização e a região está se tornando um centro de toda a América Latina. Todas estas atividades também agregam elevado valor adicionado e demonstram uma razoável geração de inovações.

O Estado de São Paulo é o epicentro destes movimentos, pois conta ademais com a única rede de estradas decentes do País e tem grande destaque no suporte à pesquisa tanto quanto concentra inúmeros institutos científicos e muitos parques tecnológicos, alem da indústria aeronáutica.

Quanto às demais regiões, gostaria de destacar que o Norte não consegue encaminhar algo consistente entre desenvolvimento e preservação, o Centro-Oeste está emparedado pelas limitações da infraestrutura de transporte e o Sul segue com pouco dinamismo. Estas duas últimas regiões vêm perdendo participação no PIB nacional.

O QUE PENSA A MÍDIA

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Dmitri Shostakovich / Festive Overture, Op.96

A PALMEIRA SOLITÁRIA :: Graziela Melo


Impiedoso,
Sopra
O vento
Na palmeira
Solitária

Acoita-lhe
As folhas,
E
A sombra
Centenária

Tenta
Encurvar-lhe
O tronco
Esguio

Que ao tempo,
Todo tempo
Sempre, sempre
Resistiu...

Enquanto ela,
Apaixonada,
Se entristece

E,
Desde longe
Mira o sol

Em seus raios
Se aquece

Para não
Morrer

De frio!!!


Rio de Janeiro, 13/07/2006



(Do Livro Crônicas, contos e poemas, pág.105 - Fundação Astrojildo Pereira/Abaré Editorial, Brasília, 2008)