quinta-feira, 17 de junho de 2010

Reflexão do dia – Luiz Werneck Vianna



Na sucessão presidencial que se avizinha temos conhecido apenas dois tempos: o do passado e o do presente, pois o do futuro, a valer a retórica dominante, que não parece temer a ira dos deuses, deve ser contínuo a este que temos aí, sujeito, é claro, a aperfeiçoamentos. No presente já se poderia contar com a solução feliz de impasses históricos que antes dramatizavam a política brasileira: o mundo agrário, um velho celeiro de conflitos, estaria domesticado pela emergência do agronegócio e da difusão das relações capitalistas no campo; e, por toda parte, a lógica dos conflitos se confinaria ao terreno da simples disputa por interesses. Dessa forma, combater as desigualdades sociais não mais importaria em trazer à cena o tema da exploração, ressalvadas as questões-limite como a do trabalho escravo. No mais, essa seria uma questão a ser remetida para o terreno das políticas públicas.


(Luiz Werneck Vianna, no artigo, “Efeito Marina”, segunda-feira (14/6/2010), Valor Econômico)

Período eleitoral :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Em tempo de eleições, não é permitido aos candidatos ter opinião sobre temas delicados, sejam eles a atuação da seleção brasileira ou o aumento dos aposentados. Ou melhor, só é possível ter opinião quando ela não afeta o interesse de um grupo fundamental de eleitores, como no caso dos aposentados que ganham mais de um salário mínimo, que tiveram um aumento acima da inflação.

Por isso, não se ouviu de nenhum dos candidatos, e nem mesmo do próprio presidente Lula, uma crítica que fosse à atuação pífia da seleção brasileira em sua estreia na Copa do Mundo da África do Sul. Por puro receio de ser taxado de pessimista, de antipatriota.

Vai que a seleção melhora, o que dirá o torcedor comum do candidato que a criticou no primeiro jogo? É uma situação paradoxal essa: é certo que a maioria dos torcedores não gostou do primeiro jogo, e isso deveria permitir que também os políticos criticassem a seleção.

Mas não há quem queira se arriscar. Torcer virou sinônimo de ser patriota, e junto com o futebol carrancudo e sem brilho da era Dunga foi-se também a graça de criticar por criticar, de falar mal dos jogadores, de discordar das opções táticas do treinador.

Ninguém pode pedir Ganso no lugar de Josué ou Neymar em vez de Grafitte, sem correr o risco de ser apontado como um portador do “complexo de vira-latas”, da mesma maneira que os críticos da atuação do governo brasileiro no caso do acordo nuclear com o Irã são acusados de antipatriotismo.

Não foi à toa que os candidatos, sem exceção, limitaramse a demonstrar confiança na seleção de Dunga e a aceitar como verdadeiras as desculpas oficiais para o péssimo desempenho da seleção contra a fraquíssima Coreia do Norte: ansiedade, nervosismo da estreia.

Dilma, diretamente de Paris, toda fantasiada de torcedora verde-amarela, Serra numa churrascaria do Rio ao lado da presidente do Flamengo, uma vereadora tucana, e até Marina de um hotel em São Paulo, nenhum deles se atreveu a fazer uma crítica ao time.


Da mesma maneira, os que falaram foram favoráveis à decisão do presidente Lula de sancionar o aumento dos aposentados e vetar o fim do fator previdenciário.

Serra preferiu o silêncio.

Ora, todos os candidatos defendem uma reforma da Previdência que equilibre as contas, mas nenhum é capaz de explicitar que reforma seria essa, na certeza de que as mudanças que necessitam ser feitas trarão mais dissabores do que bondades.

Portanto, a discussão séria de um problema que afeta o futuro do país fica para quando o candidato for eleito. E, mesmo assim, dependendo da situação.

O presidente Lula, que aprovou a duras penas no início de seu governo uma parte da reforma da Previdência, nunca mais a regulamentou, o que significa que na prática ela não existe.

Não quis correr o risco de perder a enorme popularidade.

O desagradável disso tudo é ver como a incoerência revelada não constrange ninguém.

O líder do governo na Câmara, Cândido Vacarezza, esbravejou contra a “irresponsabilidade eleitoral” de seus colegas logo após a aprovação, certo de que o presidente Lula vetaria o aumento, como a área econômica do governo pedia.

Quando o presidente Lula espertamente sancionou o projeto, recebendo todos os louros pelo aumento, Vaccarezza deu o dito por não dito.

Também o presidente Lula bravateou no primeiro momento que vetaria qualquer proposta que desequilibrasse o Orçamento, mesmo em tempo de eleições.

Mobilizou seus ministros econômicos para anunciar os perigos de um aumento real nessa dimensão para os aposentados que ganham mais de um salário mínimo, para depois desautorizá-los em público e aparecer como herói dos idosos.

Uma manobra política perfeita, que certamente renderá votos para sua candidata oficial.

A direção do Partido Verde anda satisfeita com os resultados obtidos até agora pela candidatura de Marina Silva à Presidência, e vem procurando tirar o maior proveito das seguidas entrevistas que ela está dando neste momento da campanha.

Para o presidente do PV do Rio, Alfredo Sirkis, o simples fato de ela estar com 10% a 12%, quando em outubro do ano passado estava com 3%, já indica uma mobilização social em curso.

Na avaliação da direção do partido, as campanhas cada vez mais se concentram nas últimas três semanas do processo, e as novas mídias têm jogado um papel crescente, embora não se possa ainda afirmar que poderá ser decisivo.

Sirkis lembra que em 2008, na campanha para a prefeitura do Rio, a um mês das eleições, o candidato Fernando Gabeira ainda estava em quarto lugar, com menos de 10%, e acabou perdendo no segundo turno por pequena diferença para o atual prefeito, Eduardo Paes.

Sirkis também não crê que a ideia de governar com o PT e o PSDB seja necessariamente utópica, como classifiquei na coluna de ontem.

No raciocínio de Sirkis, esses partidos social-democratas, cada um à sua maneira, não se juntariam em um governo comandado por um ou outro, mas Marina poderia promover esse “realinhamento histórico” com sua mediação, criando uma alternativa de um governo programático à rendição ao PMDB ou ao DEM.

Para fazer recuar o fisiologismo, o clientelismo e o assistencialismo da política brasileira, cada vez mais dependente dos “centros assistenciais”, é preciso mudar o sistema eleitoral para o voto proporcional por lista ou o distrital misto, defende Sirkis.

Atualmente, diz ele, os três partidos que lançaram candidatos à Presidência (PT, PSDB e PV) são os que ainda possuem alguma referência programática, e não é absurdo se pensar que um dia possam governar juntos.

Limonada eleitoral :: Valdo Cruz

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Pois bem, o presidente Lula, com seu dom de prestidigitador, deu uma aula de como criar um "falso dilema" e dele tirar o máximo proveito possível.

Foi assim com a novela do aumento de 7,7% das aposentadorias de valor acima do salário mínimo, aprovado pelo Congresso e criticado pelo governo desde o início como uma farra eleitoral.

Depois de sua equipe econômica insistir publicamente no veto à medida e de ele próprio dar seguidas declarações de que poderia acatar a orientação de seus ministros, Lula posou de amigo dos aposentados e sancionou o aumento real aprovado pelos parlamentares.

Estrategicamente, usou todo o tempo que tinha para anunciar sua decisão. Deixou para o último minuto do segundo tempo a divulgação da bondade eleitoral. Uma bondade contra a qual seu governo trabalhou e tentou evitar, mas foi derrotado no Congresso.

Com isso, criou uma novela em torno do tema, cujo final gravou apenas no último segundo, para gerar um clima de suspense. Dizem que só ali decidiu o que iria fazer. Difícil acreditar.

Seja o que for, Lula, no epílogo, saiu como o mocinho da história, deixando os aposentados aliviados e felizes. Sua equipe econômica ficou com o papel de bandido do folhetim eleitoral.

Posso estar enganado, mas ele tirou até do Congresso boa parte dos "méritos" pela bondade. Fora aqueles tradicionais defensores dos aposentados, como o senador Paulo Paim (PT-RS), acredito que ninguém vá se lembrar de algum parlamentar que tenha sido responsável pela medida.

A oposição, do seu lado, que tentou impor a Lula um desgaste eleitoral diante da aposta de que ele vetaria a medida, nem entrou nas cenas finais. Ficou relegada a um papel de figurante, enquanto Dilma Rousseff ficou feliz e saltitante.

Em outras palavras, Lula fez do limão que o Congresso lhe entregou uma limonada eleitoral.

Uma ilha cercada de São Paulo por todos lados :: Maria Inês Nassif

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Ao longo das últimas eleições, o PSDB tem se tornado uma ilha cercada de São Paulo por todos os lados. Desde que perdeu as eleições presidenciais de 2002, o partido de José Serra iniciou uma queda ininterrupta na sua bancada federal, que tem sido atenuada pelo desempenho eleitoral no mais rico - e mais denso eleitoralmente - Estado da Federação. São Paulo é a sua âncora eleitoral possivelmente porque é o único Estado onde se criou uma ligação propriamente orgânica do partido com o eleitorado. A parcela do eleitorado paulista que vota no PSDB está escolhendo um projeto político e ideológico identificado com o partido. Nos demais Estados, essa identificação é mais fluida.

Em 1998, quando era poder, tinha um candidato à reeleição, o presidente Fernando Henrique Cardoso, e uma sólida base de apoio, o PSDB paulista fez 15 deputados federais com os cerca de 20% dos votos obtidos no Estado. Em 2002, sob o baque da derrota de Serra, elegeu apenas 11, com 17,8% dos votos. Em 2006, São Paulo se descolou da tendência nacional pró-PT, na disputa pela Presidência, e fez Serra governador já no primeiro turno, uma bancada de 18 deputados federais eleita com 21,1% dos votos do Estado para a Câmara e ainda deu 54,2% ao então candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin.

A tendência do PSDB nos demais Estados, no entanto, é a de perder espaço e bancada federal quando disputa na condição de oposição ao governo federal. No Sudeste, elegeu 43 deputados, em 1998; viu esse número cair, em 2002, para 26, ano que o PSDB perdeu o governo federal; em 2002, esse número subiu para 29, mas graças a São Paulo. Em Minas, obteve 17,5% dos votos para a Câmara em 1994, atingiu 24,4% nas eleições seguintes e caiu para 14,8% em 2002, índice rigorosamente mantido em 2006. O PSDB perdeu bancada federal no Rio desde 1998 - naquele ano, elegeu 11 deputados, em 2002 fez apenas 5 e, em 2006, 3 deputados. Saiu de 13,6% do eleitorado fluminense, em 1998, para 7,2%, em 2006. No Espírito Santo, os 24,7% que obteve para a Câmara, em 1998, foram reduzidos para 12,3% em 2006.

Na Região Sul, houve um discretíssimo aumento de bancada, de 6 para 7 deputados, em função da vitória para o governo do Rio Grande do Sul. A façanha não deve se repetir em 2010, após o desastroso governo de Yeda Crusius. Ainda assim, com governadora eleita e tudo, o PSDB saiu de uma posição de 6,1% dos votos gaúchos para a Câmara, em 2002, para 8,4%, em 2006 - uma participação muito discreta na bancada federal gaúcha. Em Santa Catarina, teve também pequeno aumento de votação para deputado federal: saiu de 8,7% dos votos, em 98, para 9,5%, em 2006. No Paraná, registra quedas pequenas, porém constantes, desde 1998: saiu de 15,6% naquele ano para 14,2% em 2002 e 13,3% em 2006.

Nas demais regiões, a bancada tucana decaiu, de 1998 para cá: na Região Norte, os oito deputados 1998 viraram 6, em 2006; no Nordeste, o PSDB viu sua bancada de 1998, de 34 deputados, despencar para 19, em 2006; e no Centro-Oeste, os oito deputados que tinha em 1998 são agora 6.

A análise da votação do PSDB para a Câmara dos Deputados, nas últimas quatro eleições, mostra que, exceto por São Paulo, ter a Presidência é fundamental para que as sessões estaduais mantenham ou aumentem suas bancadas federais, mesmo nos Estados em que o partido dispõe de importantes quadros ideológicos.

No Amazonas, por exemplo, Estado do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, o Estado saiu de uma votação de 12,9% dos votos, em 1998, para 1% em 2002, e 0,7% em 2006. No Ceará de seu ex-presidente Tasso Jereissati, o PSDB chegou a ter 46,8% dos votos em 1998, baixou para 43,1% em 1998; caiu ainda mais em 2002, para 31,5% dos votos, e em 2006 teve 21,1% dos votos. É certo que, nesse último caso, a votação cearense do PSDB foi esvaziada pela eleição de Ciro Gomes (PSB) para a Câmara, com mais de 16% dos votos. Mas é certo, também, que a perda de influência do PSDB no Nordeste também sofreu o impacto da saída de Ciro do PSDB do Ceará, em 1996, e da consolidação da influência de Eduardo Campos (PSB) em Pernambuco - hoje os dois são do partido socialista. Em 1998, eram cearenses 12 dos 34 deputados que os tucanos tinham no Nordeste; em 2002, partido elegeu apenas oito deputados no Ceará, de um total de uma bancada de 23 eleitos na Região Nordeste. Em 2006, foram eleitos apenas 4 deputados do PSDB cearense. Em compensação, o PSB, partido que abrigou Ciro Gomes nas eleições de 2006, saiu de 2,3% dos votos cearenses, em 2002, para 21,1% nas eleições passadas.

Em Pernambuco, Estado do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, o partido não consegue expressão. Em 2002, ano em que conseguiu sua maior bancada no Estado, o partido teve 14,7% dos votos à Câmara. Quatro anos depois, estava reduzido a 6,1% dos votos para a Câmara.

Os números mostram que, à exceção de São Paulo, o PSDB acompanha a lógica dos partidos tradicionais: o eleitorado não se identifica com a legenda, mas a escolhe porque é governista. Estar associado, ou não, a um orçamento ou a uma máquina administrativa conta muito para fazer uma maior ou menor bancada, à semelhança do que ocorre com o seu parceiro, o DEM, ou com o hoje maior partido do país, o PMDB. Este, aliás, apenas conseguiu reverter uma tendência de queda que se iniciou quando deixou de ser governista - entre o último mandato de FHC (PSDB) e o segundo de Lula (PT) - na hora em que compôs com o governo petista. Ser governo é tão útil ao PMDB quanto o PMDB é útil na base aliada de qualquer governo. No quadro partidário iniciado em 1979, com o fim do bipartidarismo imposto pela ditadura, dos grandes partidos, apenas o PT mantém um aumento constante de bancada, independente de ser ou não governo. O partido sofreu o impacto do escândalo do Mensalão, em 2006, quando recuou dos 18,4% de votos, obtidos em 2002, para 15%, mas ironicamente essa queda ocorreu na única eleição em que disputou na condição de partido governista. Enquanto foi oposição, teve aumento constante de bancada. O PSB também tem crescido de forma constante, mas regionalmente, carregado por suas votações no Norte e no Nordeste.


Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

Arlindo Cruz - Ainda é Tempo de Ser Feliz (Ao Vivo MTV)

Cotas são excluídas de Estatuto da Igualdade

DEU EM O GLOBO

O Senado aprovou o Estatuto da Igualdade Racial e excluiu do texto a criação de cotas em universidades e a reserva de vagas para negros em partidos, que tinham sido aprovadas na Câmara no ano passado. Políticas afirmativas permanecem apenas como possibilidade, sem obrigação. O texto irá para sanção presidencial.

Senado aprova estatuto racial, mas sem cotas

Texto, que exclui reserva de vagas para negros em universidades e partidos políticos, vai à sanção presidencial

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. Depois de quase duas décadas de discussão, o Senado aprovou ontem o Estatuto da Igualdade Racial, um conjunto de princípios que têm como objetivo a redução das desigualdades entre negros e brancos no país. O texto só foi aprovado depois da exclusão da criação de cotas nas universidades, entre outros importantes pontos da proposta aprovada na Câmara, ano passado.

Mas, mesmo com o revés, o ministro da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Eloi Ferreira, e outros líderes da comunidade negra comemoraram o resultado.

O projeto segue agora para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

— A Lei Áurea tinha só um artigo. O estatuto é o segundo artigo dessa lei. Os negros e as negras do nosso país terão no estatuto um ponto de partida para avançar na luta pela promoção da igualdade racial — disse Eloi Ferreira, ao final da sessão.

O estatuto, que tem como base um relatório do senador Demóstenes Torres, foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, depois, pelo plenário do Senado no mesmo dia, a partir de um acordo entre os líderes partidários.

Pelo acerto, o autor do projeto, senador Paulo Paim (PT-RS), concordou com a exclusão do texto do artigo que determinava a criação de cotas para negros nas universidades.

A criação de cotas era, até então, uma das principais reivindicações do movimento negro. Mas era, também, centro de boa parte das críticas contra o estatuto.

Instituição de cotas será discutida em outro projeto A instituição formal de cotas será discutida agora em outro projeto, da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT). Pelo texto do estatuto, o governo deverá “promover políticas de ação afirmativa”. Se considerar necessário, poderá criar cotas, como já ocorre hoje. Demóstenes Torres retirou ainda do texto os artigos que previam reserva de 10% das vagas de partidos políticos e de coligações nas eleições para negros e a criação de incentivos fiscais para empresas que tivessem, em seus quadros funcionais, mais de 20% de empregados negros. Foi eliminado também o trecho que estabelecia reparação aos negros pela discriminação sofrida ao longo da História.

— Mantivemos a possibilidade de adoção de políticas afirmativas que deverão ser adotadas pontualmente e não de forma genérica — disse Demóstenes Torres.

O senador substituiu em quase todo o texto as expressões “diferenças de raça” e “discriminação racial” por “diferença ou discriminação de origem étnica”. Segundo o senador, o conceito de raça está ultrapassado. Ele argumenta que não existe diferença significativa entre grupos étnicos.

“As diferenças entre um branco nórdico e um negro africano compreendem apenas uma fração de 0,005 do genoma humano.

Em outras palavras, toda discussão racial gravita em torno de apenas 0,035% do genoma, de maneira que não faz qualquer sentido atualmente a crença em raças”, escreveu o senador na justificação do relatório.

Paulo Paim disse que a exclusão das cotas não significa uma derrota. De acordo com ele, como a proposta de ação afirmativa foi mantida, o governo poderá adotar livremente políticas de cotas, como já vem fazendo. O senador destacou ainda como um dos pontos mais importantes do texto aprovado a reafirmação da liberdade de culto religioso com menção específica às religiões de matriz africana. A Constituição já garante a livre prática de cultos religiosos.

— O estatuto é uma garantia a mais — disse Paim.
O projeto que resultou na aprovação do estatuto teve como origem uma proposta do presidente do Senado, José Sarney, em 1992. Desde então, a proposta foi modificada várias vezes até chegar ao texto final

Brasil aguarda uma política de resíduos:: Arnaldo Jardim

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Construir um modelo de Política Nacional de Resíduos Sólidos não é tarefa simples para nosso país, pois exige diálogo

No artigo "É preciso avançar quanto a resíduos sólidos" ("Tendências/Debates", 21/5), o sr. Diógenes Del Bel avaliou a proposta de Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) como ambiciosa, mas que não traria de imediato "nenhum grande avanço em padrões de qualidade ambiental e modelos de gerenciamento".

Construir um modelo de PNRS não foi tarefa simples nos países desenvolvidos e não o é para o Brasil, pois exigiu uma formulação conjunta do poder público, setor empresarial e a sociedade. A própria Folha destacou este esforço no editorial "A evolução do lixo" (8/4).

Após 19 anos sem definição, nos últimos 20 meses um grupo de trabalho parlamentar, coordenado por mim, promoveu um diálogo intenso com a sociedade e, assim, a proposta foi por unanimidade aprovada na Câmara, com o respaldo do setor empresarial, ambientalistas, acadêmicos e o movimento nacional dos catadores.

Agimos agora para que o Senado delibere rapidamente.

A PNRS cumpre a Constituição Federal e oferece diretrizes para a gestão e o gerenciamento dos resíduos. Estados e municípios estabelecerão legislações próprias, dentro das suas peculiaridades e realidades, estabelecendo um modelo eficiente que priorizará a não geração de resíduos, a reciclagem, a destinação adequada e o engajamento da sociedade.

Sobre os resíduos industriais, foram estabelecidas regras sobre o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos que estão diretamente vinculadas ao processo de licenciamento da atividade industrial.

A responsabilidade compartilhada prevista na lei realmente não é a solução para todos os males.Contudo, representa um avanço importante ao explicitar o papel dos vários agentes envolvidos, incluindo produtores, comerciantes, consumidores e poder público.

Também proporciona segurança jurídica, ao colocar na lei determinações que antes constavam em normas do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) ou em termos de ajustamento de conduta específicos.

Portanto, surpreende-me a postura de um setor específico que, atacando a proposta, atrapalha a aprovação da lei e defende o atual "salve-se quem puder"!

A PNRS estabelece o conceito de ciclo de vida dos produtos, determina a logística reversa, o sistema declaratório e o inventário, fortalece as cooperativas de catadores, institui os acordos setoriais, fundamenta-se nos princípios do direito ambiental e ainda dispõe sobre conceitos e normas que conformam legislação moderna, eficaz e com grandes benefícios.

Caberá à política o papel de fio condutor para compatibilizar diversas iniciativas, estabelecer premissas, coordenar mudanças de atitudes e nortear a sociedade para o desenvolvimento sustentável.

O momento é de nos prepararmos para economia de baixo carbono, e a PNRS se somará a outras políticas nacionais, como a de saneamento, a de mudanças climáticas, a de meio ambiente e a de educação ambiental, sinalizando nosso compromisso com a qualidade de vida no planeta.


Arnaldo Jardim é deputado federal pelo PPS-SP e coordenador do Grupo de Trabalho Parlamentar para Aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Projeto de Serra deve propor política industrial mais ativa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

A política industrial deve ocupar um papel central no programa de governo do ex-governador José Serra (PSDB). É o que afirma o responsável pelo núcleo encarregado de redigir o documento, Francisco Graziano. Questionado sobre qual será o papel do BNDES e como o PSDB vê a atuação do banco na formação dos grandes conglomerados nacionais, Graziano responde: "O que vai mudar é que, na cabeça do Serra, tem de ser uma política ativa do Estado para a indústria, e o BNDES vai ter de operar essa política".
"Você tem de ter uma política de comércio externo, tem que saber qual setor você vai fortalecer. Toda a orientação será nesse sentido: tem de ter ativismo do Estado. O Serra está à esquerda do Lula", diz Graziano.

Programa tucano foca em política industrial
Raymundo Costa, de Brasília

Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e responsável pelo núcleo encarregado de redigir o programa de governo tucano, Xico Graziano diz que a política industrial terá um papel-chave no documento.

Questionado sobre como será o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e como o PSDB vê a atuação atual do banco na formação dos grandes conglomerados nacionais, Graziano responde: "O que vai mudar é que, na cabeça do Serra, tem que ter uma política ativa do Estado para a indústria, e o BNDES vai ter que operar essa política".

"Você tem que ter uma política de comércio externo, tem que saber qual setor você vai fortalecer, que deve ter vantagem, entendeu, e canalizar (para esse setor). Toda a orientação dele é nesse sentido: tem que ter ativismo do Estado. O Serra está à esquerda do Lula", diz o coordenador do programa de governo tucano.

"Nós vamos definir essa política (industrial) no programa. Atualmente tudo acontece de forma atabalhoada, não tem planejamento nenhum. O que chega mais próximo do planejamento é o PAC, que na verdade é um amontoado de obras", diz Graziano. O tucano lança suspeitas sobre empresas que teriam crescido dezenas de vezes, em sete anos, beneficiadas com dinheiro barato do BNDES. Cita especificamente o setor de carnes.

Saúde e educação também terão um papel destacado no programa de Serra. "Você pega os quatro anos de Serra (no Ministério da Saúde) e compara com esses oito do Lula no governo, qual foi a curva do crescimento de atendimento à Saúde"? - desafia o tucano.

O PSDB espera envolver até 3000 pessoas na elaboração do programa de um eventual governo José Serra, desde o último sábado aberto às sugestões do público na internet. "Nós vamos abrir a discussão do programa de governo em todas as áreas",

"O nosso foco é planejar o desenvolvimento e garantir a infraestrutura para que ela seja sustentável", diz Graziano. Além do secretário de Meio Ambiente de São Paulo, integram o núcleo do programa de governo de Serra os economistas Gesner Oliveira e Geraldo Biasotto. Gesner é presidente da Sabesp.

Gesner presidiu o Cade no governo Fernando Henrique Cardoso e foi coordenador técnico do programa de governo do PSDB na eleição presidencial de 2002. Biasotto é diretor-executivo da Fundação de Desenvolvimento Administrativo (Fundap), vinculada ao governo paulista e trabalha o capítulo da infraestrutura. Gesner redigirá o plano econômico.

A equipe de Graziano, ainda em formação e está instalada no 22º andar do edifício Praça da Bandeira, um prédio no centro de São Paulo, onde nos anos 70 ocorreu um incêndio que provocou a morte de 188 pessoas - à época, chamava-se de Joelma. Outros dois andares acima e abaixo devem abrigar equipes de campanha de Geraldo Alckmin, candidato ao governo do Estado, e de Aloysio Nunes Ferreira, candidato ao Senado na chapa tucano-pemedebista de Geraldo Alckmin.

O desafio da equipe do programa do tucano é provar que o PSDB pode "fazer mais", ideia-mãe do discurso de Serra, num país que cresceu 9% no primeiro trimestre ante igual período do ano anterior, está com a inflação estável e o desemprego em queda. "É verdade que está crescendo 9% agora", diz Graziano, mas poderia também ter "uma infraestrutura para aguentar o próprio crescimento melhor".

Segundo o tucano, o país está prestes a "entrar em blecaute em aeroportos, portos" e tem uma crise anunciada de energia elétrica. "O Brasil não tem estrutura nem logística para suportar esse crescimento. Este governo é muito ruim, porque poderia ter gerado as condições melhores. Não fez nenhum novo porto; só tem projetos e algumas obras. A ampliação do aeroporto de Viracopos só a um mês deu entrada na minha secretaria (Meio Ambiente)", diz Graziano. Segundo o agrônomo, porque a Infraero é um órgão loteado politicamente que já mudou de diretoria três vezes neste governo.

"Sustentar é isso: estradas, rodovias, portos, crescimento sustentado do ponto de vista de não ter crises, caos, gargalos, estrangulamento", afirma ele. "O Brasil pode vir a crescer 7% ao ano durante uma década" .

De uma certa forma, Serra já apresentou um esboço geral dos principais pontos de um novo governo do PSDB em discursos na pré-campanha eleitoral. Com a abertura do programa na internet os tucanos esperam atrair a campanha do PT para uma discussão de conteúdo, pois julgam que o partido adversário terá dificuldades para apresentar novidades e terá de passar o tempo inteiro na defensiva, justificando tudo o que fez o governo Lula.

Esta será também a primeira vez que o partido recorrerá à internet de maneira sistemática para a formulação de seu programa de governo. Serão 40 grupos temáticos. Para apresentar sugestões e participar das discussões o internauta terá de fazer um cadastro na página propostaserra.ning.com.

Marina: país precisa de um sucessor

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Candidata do PV à Presidência diz que o Brasil não pode ter um “continuador”, referindo-se a Dilma, nem um opositor

Ullisses Campbell

São Paulo — A candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, disse ontem em São Paulo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não teve, em dois mandatos, a capacidade de superar todas as dificuldades que o Brasil enfrenta. Em sabatina a jornalistas do jornal Folha de São Paulo e ao responder a perguntas de internautas, a ex-ministra do Meio Ambiente de Lula disse que o presidente precisa de um “sucessor” e não de um “continuador”, referindo-se à candidatura de Dilma Rousseff (PT). Ao citar a candidatura de José Serra (PSDB), afirmou que “o Brasil também não precisa de um opositor para jogar no lixo tudo o que foi conquistado”. Em determinado momento, chegou a dizer que Dilma e Serra são parecidos.

Marina estava bem descontraída, ao contrário das outras vezes em que foi questionada abertamente. Pediu para os eleitores de Lula continuarem votando num Silva, mas dessa vez nela, que carrega o mesmo sobrenome do presidente. E riu ao ter de responder a uma internauta que queria saber se ela não deveria ter de fazer uma mudança radical no visual, como fizeram os demais candidatos. “Cada um procura se vestir da forma que se sente bem. É assim que eu me sinto bem. Já fiz umas pequenas alterações na aparência, principalmente no penteado (ela retocou recentemente os fios brancos). Acho que meu estilo é meio tribal”, brincou. Ao se referir à internauta que fez o questionamento, Marina disse que ela “se esforçou para ser educada”.

Apesar de ter tido vários embates políticos com Dilma Rousseff, quando ambas eram ministras do governo Lula, Marina disse que o ponto de vista sobre meio ambiente defendido à época pela adversária refletia um posicionamento do PT. Uma das brigas mais polêmicas das duas refere-se à questão dos transgênicos, com Marina posicionando-se de forma contrária. “Não colocaria o foco na pessoa da Dilma e sim numa visão do partido”, afirmou.

A candidata foi questionada também sobre um possível apoio a José Serra no segundo turno, mas se esquivou de responder às perguntas, dando a entender que estará na segunda fase da disputa. “Só falo de segundo turno no segundo turno.” Sobre a suposta condescendência ao PSDB, foi evasiva. “Esforço-me para ser justa. Temos que reconhecer os ganhos de cada um. Lula fez o país crescer e distribuir renda. Fernando Henrique Cardoso estabilizou a economia. Mas nenhum dos dois soube agregar a questão da sustentabilidade.”

Marina se mostrou à vontade ao ter de se posicionar sobre temas polêmicos, apesar de ser evangélica, mas preferiu ficar em cima do muro nas questões mais debatidas e cobradas por segmentos da sociedade. Disse, por exemplo, não ter opinião formada sobre a adoção de crianças por casais gays. “A minha tendência é sempre ficar do lado da criança”, ressaltou. Sobre descriminalização das drogas, afirmou ser terminantemente contra, mas também “não satanizo quem é a favor”.

A candidata se disse contra o casamento gay, apesar de defender os direitos civis de pessoas do mesmo sexo. Sobre a legalização do aborto, ela recomenda que seja feito um plebiscito, mas se disse contrária à interrupção da gravidez.

PTB fecha com Serra e Dilma ainda espera o PP

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Malu Delgado

Aliado. Autor das denúncias sobre o mensalão do PTB, em 2005, Roberto Jefferson e seu PTB declararam apoio à oposição

Sob o comando do ex-deputado Roberto Jefferson (RJ), autor das denúncias sobre a existência do mensalão em 2005 que abalaram o governo do presidente Lula, o PTB sacramenta, sábado, o apoio formal a José Serra (PSDB) na disputa presidencial. O tucano discursará na convenção da sigla, em São Paulo.

Mesmo com o PTB na coalizão, contudo, sua rival do PT, Dilma Rousseff, ainda disporá de maior tempo na TV durante o horário eleitoral gratuito. O PT ainda alimenta esperanças de uma aliança formal com o PP, o que se tornou mais factível depois de descartada a inclusão do presidente da legenda, senador Francisco Dornelles (RJ), na chapa tucana como vice de Serra.

"A única certeza que temos é que eles não vão se coligar com o Serra", disse o presidente do PT, José Eduardo Dutra. O PP termina até amanhã novo levantamento sobre preferências dos diretórios regionais na disputa.

Emissários de Dornelles fizeram chegar ao PT a informação de que o partido poderá não realizar uma convenção nacional, para evitar traumas. Mas a cúpula do PT acredita que, se for a voto, o apoio a Dilma é majoritário no PP. "A maioria do partido quer a aliança com Dilma. A tendência é fechar com o PT e deixarmos os Estados livres", afirmou o deputado Mário Negromonte (BA), ex-líder do PP na Câmara.

Estatuto. Governista declarado, Negromonte representou o PP na convenção petista que oficializou Dilma Rousseff candidata. Entre elogios a Dornelles - "ele é um grande presidente e grande amigo" -, o deputado garante que haverá convenção, e por uma razão estatutária: se um terço dos diretórios exigir, o encontro obrigatoriamente será realizado.

Considerando um cenário em que o PP permanece neutro e o PTB fica com Serra, Dilma teria quase três minutos a mais que o tucano na propaganda eleitoral, em cada bloco de 25 minutos. O passe do PP na televisão vale mais que o do PTB - o primeiro dispõe de um minuto e 19 segundos, e o outro, de 42 segundos.

Depois de sacramentado o tão esperado apoio do PMDB a Dilma, o ex-ministro José Dirceu comemorou o cenário que esperava ter montado em 2006 para a campanha da reeleição de Lula. "Não é só (a aliança) com o PMDB. É o PR e ainda grande parte do PP e do PTB. A imensa maioria do PP e grande parte do PTB vai apoiar a Dilma. Já está acontecendo isso. É só ir para os Estados", disse Dirceu, que ajuda a costurar alianças nos Estados.

Controle. O apoio do PTB ao PSDB já era esperado, mas até então pairavam dúvidas sobre uma adesão formal, dando o tempo de TV a Serra, por conta de dissidências nos Estados e do apoio de importantes dirigentes do partido ao PT. O PTB paulista tomará decisão sobre o apoio a Geraldo Alckmin (PSDB) no dia 26.

O PTB integrou a coalizão de Lula. O ex-deputado José Múcio Monteiro foi ministro das Relações Institucionais. Senadores candidatos a governos estaduais, Gim Argello (DF) e Fernando Collor (AL) vão apoiar a petista.

Oposição forma 'conselho político' para apoiar Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Carol Pires e Andrea Jubé Vianna

BRASÍLIA - Com fama de centralizador, o candidato tucano José Serra autorizou, ontem, a criação de um conselho político para definir estratégias e traçar os rumos de sua campanha à Presidência. Batizado de Conselho Superior da Campanha, o grupo, integrado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo ex-governador mineiro Aécio Neves, entre outros, deve se reunir uma vez por mês.

A criação do grupo estava planejada desde o início da pré-campanha, mas será colocada em prática neste momento para tentar aplacar o melindre de aliados, que se sentem alijados da coordenação da campanha.

O conselho será formado por caciques dos partidos aliados. Além de Fernando Henrique e Aécio, participarão os presidentes nacionais dos partidos - Sérgio Guerra (PSDB), Rodrigo Maia (DEM), Roberto Freire (PPS), Roberto Jefferson (PTB), Vítor Nósseis (PSC), e o presidente de honra do DEM, Jorge Bornhausen. Completa o time o ex-presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE).

Eventualmente, reuniões extraordinárias poderão ser convocadas sempre que surgir um fato relevante, explica Sérgio Guerra. A data do primeiro encontro ainda não está acertada porque nem todos os membros foram convidados. Mas, segundo o presidente tucano, deve ocorrer nos próximos dez dias.

Os conselheiros deverão mapear erros e acertos, analisar pesquisas, identificar pontos fracos do candidato e sugerir medidas para alavancar a campanha em regiões onde a candidatura patina. A função do conselho, segundo Guerra, será a de "pensar a campanha" e propor soluções. Mas não caberá a eles sair em campo para colocar as decisões em prática.

O desafio da equipe será fazer com que Serra aceite as críticas e as sugestões. Apesar de sempre dizer que é "monitor e não centralizador", o presidenciável tucano costuma centralizar as decisões e agir de improviso, muitas vezes passando por cima da agenda partidária.

Embaixada dá tratamento VIP a "autoridade" petista

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Valter Pomar, do diretório nacional do PT, utilizou carro oficial em Paris

Comunicado interno do Itamaraty informa sobre a viagem de dirigente à Europa na 2ª quinzena de maio

Matheus Leitão

BRASILIA - O Itamaraty deu tratamento de autoridade para o integrante do Diretório Nacional do PT, Valter Pomar, em pelo menos uma das escalas da incursão que fez pela Europa entre 14 e 29 de maio.A viagem para as capitais de Espanha, França, Suécia e Inglaterra, além de uma parada em Frankfurt (Alemanha), teve agenda estritamente partidária. Em Paris um carro oficial da embaixada deu apoio ao seu trabalho.

Na capital francesa, Pomar manteve encontros com quadros do Partido Socialista francês e do Partido Comunista, além do partido radical de esquerda La Gauche, com o intuito de aprofundar o relacionamento com o PT.

Coordenador da corrente Articulação de Esquerda, Pomar foi secretário de Relações Internacionais por dois mandatos e já ocupou uma das vice-presidências do PT.

Pomar chegou a Paris no dia 17 e foi levado para o hotel Vaneau Saint German. "Nós buscamos, levamos para o hotel e na volta, quando ele foi embora. Demos toda a assistência quando esteve aqui, como é normal nós fazermos", disse Orlando Santana, funcionário de chancelaria da embaixada, à Folha.O apoio na capital francesa terminou no dia 19, quando Pomar foi deixado na estação central de Paris, onde pegou o trem para Londres.

A Folha não conseguiu confirmar se Pomar recebeu apoio nas outras capitais.

Não há regulamentação para o tratamento a lideranças partidárias na chamada lei do serviço exterior, nas funções consulares do Manual de Serviço Consular e Jurídico nem no guia de administração do postos.

A maratona de Pomar, com horários detalhados de voos, partidas de trens e hotéis para estada, foi informada pela circular telegráfica n.º 77.283, enviada pelo Itamaraty para as embaixadas daquelas capitais e o Consulado-Geral de Frankfurt.

O documento oficial, obtido pela Folha, diz: "Para conhecimento, informo que a Secretaria de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores comunicou hoje, 14 de maio, que Valter Pomar, membro da Direção Nacional do PT, cumprirá agenda em diversos países da Europa durante a segunda quinzena do mês de maio".

A Folha apurou que delegações oficiais e autoridades em viagem recebem o adendo "rogo prestar o apoio de praxe". Os presidentes do DEM e do PSDB, Rodrigo Maia e Sérgio Guerra, disseram desconhecer o tratamento para agentes partidários em viagens ao exterior.

Itamaraty diz que dá apoio a líderes políticos

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - O Itamaraty informou que lideranças partidárias de quaisquer legendas em viagem para o exterior podem receber apoio para locomoção do aeroporto para o hotel, além da ida para eventos.

"É uma assistência informal. O carro está lá pago pelo governo. O funcionário está parado sem fazer absolutamente nada", declarou o diplomata Patrick Luna.

O dirigente do PT Valter Pomar disse que a Folha estava "mal informada": "Se você tem essa informação, publique que depois a gente checa a veracidade. Toda vez que eu viajo para exterior, até por segurança, aviso o Itamaraty. As embaixadas decidem qual tratamento dão para o cidadão no exterior".

A Embaixada na França disse que é "praxe da embaixada" conceder apoio a visitas ou passagens de representantes de governos e de parlamentares ou representantes de qualquer partido.

Madri disse que não houve "indicação de prestação de apoio". Estocolmo negou ter prestado apoio à viagem. Londres não respondeu.

Dirigente do PMDB ataca Michel Temer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Luciana Nunes Leal

SANTA CATARINA - O presidente do PMDB catarinense, Eduardo Moreira, reage à ameaça do comando nacional do partido de intervenção, para suspender a aliança com o DEM no Estado.

"Intervir numa decisão pessoal minha de abrir mão da candidatura ao governo é piada", diz.

Segundo Moreira, ainda não há decisão sobre apoiar José Serra na eleição presidencial.

"Poderíamos ficar neutros, mas se Michel Temer continuar com essa frescura vamos partir para a oposição", avisa.

Serra ter vice do DEM é "caminho natural", diz Maia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Márcio Falcão

BRASÍLIA - O presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia (RJ), disse ontem que o partido espera indicar o candidato a vice na chapa do tucano José Serra à Presidência. Após reunião com o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), Maia disse que a definição do nome, contudo, só sairá no final deste mês.

O DEM acredita que o nome ideal, hoje, é o do deputado federal José Carlos Aleluia (BA). O nome é bancado tanto por Maia como por seu antecessor na presidência da sigla, Jorge Bornhausen. O partido fechou questão na posição de cobrar de Serra a indicação do seu companheiro de chapa. "Ninguém nunca disse para o DEM que não indicaria o vice. Essa frase nunca foi dita por ninguém do PSDB. Nós só abriríamos mão da vaga se o vice fosse Aécio Neves [ex-governador de Minas Gerais].

O próximo passo é que a vaga é do DEM. Nós até fizemos mais esforço do que o PSDB para o Aécio ser o vice", afirmou Maia. Questionado sobre a atitude do partido caso Serra não opte por um democrata na chapa, Maia disse que não cogita essa possibilidade.

"Ele não fará isso. Não temos problema com aliados." Maia disse ainda que o DEM tem feito "todo esforço possível" para que Serra seja eleito, atuando em impasses estaduais. "A vice não é questão de troca, é um caminho natural. Fizemos todos os gestos necessários porque só temos um caminho, que é o Serra presidente", disse.

Segundo Maia, o partido não trabalha com nenhum tipo de compensação se perder a indicação do vice.

DEM tenta jogar, mas sabe que tem poucas cartas na mão

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Marcelo de Moraes

Dirigentes de PSDB e DEM decidiram articular uma reunião com o tucano José Serra na próxima semana para tentar definir a escolha do nome do vice para a sua chapa à Presidência. A proposta foi discutida ontem, durante uma reunião de mais de uma hora entre o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), e o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), realizada em Brasília. "Existe a possibilidade de haver essa conversa na próxima semana", confirmou Maia, na saída do encontro, no qual reforçou a posição do partido, pleiteando o posto de vice na coligação.

O DEM pressiona os tucanos para que anunciem oficialmente que o partido indicará o candidato a vice, mas nem Serra nem Guerra confirmam que essa opção será aceita. A indefinição está irritando o comando do DEM, que decidiu aumentar a pressão sobre o aliado, até porque corre contra o tempo. A convenção do DEM está marcada para o dia 30 e nesse encontro terá de ser anunciado o vice e a formalização da coligação com os tucanos e os outros partidos aliados. O texto do edital que convoca a convenção já está redigido, incluindo a proposta de coligação com o PSDB.

Como não tem outra opção viável além de Serra, o DEM sabe que não pode ameaçar os tucanos com o abandono da chapa. Em vez disso, sugerem que se perderem a vaga de vice poderão fazer uma espécie de "corpo mole" na campanha.

"Já fizemos todos os gestos a favor da aliança porque queremos ganhar a eleição. E sabemos que José Serra é nosso candidato. Mas para ganhar uma eleição nacional é preciso agregar os aliados de forma coletiva e não de forma individual", disse.

Logo depois do encontro com Guerra, Maia comunicou aos integrantes da Comissão Executiva Nacional do DEM o conteúdo da conversa com Guerra. Disse confiar em que Serra entregará ao partido a vaga e poderá escolher o nome que achar melhor entre os quadros do DEM.

"Eu quero a vaga de vice-presidente e tenho certeza de que ela será do DEM porque em todas as conversas com os dirigentes do PSDB nunca me foi dito que não será. Houve um compromisso lá atrás, que para mim continua valendo. Só acreditaria em outra coisa se o partido fosse informado oficialmente de algo diferente. E isso não aconteceu até agora."

Na prática, porém, o DEM espera ainda por um sinal de Serra. "Se depender da forma como Serra toma suas decisões, pode ser que só decida por isso no dia 30", ironizou Maia. "Mas não estresso com isso porque existe um prazo, que é o dia 30. Se não houvesse, podia ser diferente."

PSDB agora quer candidato próprio no RJ

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A dois dias do lançamento formal de Gabeira, tucanos trabalham para implodir palanque do verde no Estado

Comando do partido alega que Serra precisa de palanque eletrônico e de campanha para fixar número 45 no Rio

Catia Seabra

SÃO PAULO - A dois dias do lançamento formal de sua candidatura, o palanque do pré-candidato do PV ao governo do Rio, Fernando Gabeira, está sob risco de demolição.

Com o aval do candidato tucano à Presidência, José Serra, o comando do PSDB decidiu lançar um candidato majoritário -com o número 45- no Estado.

A decisão é que Márcio Fortes (PSDB) deixe a vice de Gabeira para tentar o Senado, no lugar de Marcelo Cerqueira (PPS).

Hoje, o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, desembarca no Rio para viabilizar a substituição. Fracassada a negociação, não se descarta a hipótese de ruptura com o PV para lançamento de uma candidatura própria.

Guerra sugeriu a troca aos presidentes do PPS, Roberto Freire, e do DEM, Rodrigo Maia, em duas reuniões. Os dois rechaçaram.

Freire se recusou a conversar com Cerqueira para que abra mão da candidatura ao Senado em favor de um tucano. "O PSDB precisa respeitar os aliados", disse Freire, chamando a proposta de "invenção de marqueteiro".

Maia também reagiu: "Se não confiam que vamos pedir votos para o Serra, por que estamos aliados?".O lançamento de um candidato do PSDB ao Senado poderia prejudicar seu pai, o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), que também tenta vaga na Casa. "Faltam dois dias para a convenção", lembrou Cesar Maia.Seguindo orientação da coordenação de comunicação, o comando do PSDB alega que Serra precisa de um palanque eletrônico no Rio, uma campanha exclusivamente dedicada à fixação do 45 no Estado.

Terça, no café com Freire, Guerra chegou a ventilar a ideia de candidatura própria ao governo do Rio. À mesa, Fortes discordou. "De que adianta um candidato próprio com 2%?".Gabeira reconhece o risco de implosão. Mas diz não poder se "manifestar sobre o que não aconteceu".

MARINA

Hoje, os tucanos avaliam como errada uma aliança sem um único palanque exclusivo de Serra no Rio.

Avalista do acordo, a candidata do PV, Marina Silva, também demonstra desconforto com a situação.

Ontem, recomendou aos aliados um roteiro em que não se encontre com Serra na convenção estadual do PV.

A pedido de Marina, a participação dos dois acontecerá em momentos diferentes.

Na oposição, a possibilidade de apoio a Joaquim Roriz (PSC) no DF também abala a aliança. "O PPS não apoiará Roriz", avisou Freire.

Marina. Nova dissidência do PT troca radicalismo de 2006 por modernidade

Jarbas de Holanda
Jornalista

É reduzida, senão pouco provável, a possibilidade de que a senadora Marina Silva, como candidata do pequeno PV dispondo de tempo muito limitado na decisiva propaganda “gratuita” de TV e rádio, consiga evitar a polarização – ou o plebiscito na expressão de seu gosto – entre Dilma Rousseff e José Serra, no primeiro turno da disputa presidencial. Sem o quê ela deverá receber votação bem aquém da ampla simpatia que está despertando nas camadas médias, nos chamados formadores de opinião e até em segmentos do empresariado, bem como do espaço significativo, e basicamente favorável, que tem ocupado na mídia.

Estas respostas sociais decorrem das posturas assumidas por sua candidatura. Da proposta de um ambientalismo articulado com o crescimento da economia, e não ideologizado e contraposto a ele. da defesa do equilíbrio macroeconômico, das metas de inflação, da responsabilidade fiscal e do câmbio flutuante, com o apoio à autonomia do Banco Central. Da cobrança de uma reforma da Previdência baseada na transição do regime atual para o de capitalização. Da exigência do respeito aos direitos humanos e ao pluralismo democrático na política externa do país, com a condenação a práticas violentas e autoritárias dos governos da Venezuela, de Cuba, do Irã. De uma avaliação positiva dos papéis dos governos de FHC e Lula para a estabilidade da economia e a consolidação democrática. Do tratamento respeitoso aos adversários Serra e Dilma, com a rejeição de agressões políticas e pessoais na campanha eleitoral.

Por tais posturas, e com a escolha para companheiro de chapa de um empresário bem sucedido – Guilherme Leal, da Natura -, opção que implicou a ruptura do PSOL, sua candidatura ganhou consistência e respeitabilidade, distinguindo-se por inteiro da de outra dissidente, a primeira, do PT – a de Heloísa Helena, em 2006. Que se caracterizava pela retórica antimercado, pela exacerbação dos conflitos entre capital e trabalho e pela extrema agressividade contra os principais concorrentes. E que, ao cabo, com uma votação de 7%, reteve apenas parte do eleitorado jovem, cujo voto de protesto, não ideológico, foi contabilizado, com óbvia manipulação, como apoio ao extremismo da campanha da candidata do PSOL.

Um fator certamente importante para o ganho de credibilidade da candidatura de Marina Silva foi o estreitamento da relação entre ela, após a saída do governo Lula, e o deputado Fernando Gabeira, principal liderança do PV fluminense, amadurecido por longo processo de superação de utopias socializantes e esquerdistas, que lhe propiciou desvincular, realisticamente, o ambientalismo dessas utopias. Caminhando também nessa direção, Marina Silva está logrando antecipar a temática de um ambientalismo moderno, no debate político e eleitoral deste ano. Abrindo caminho para uma expressiva terceira via em futuras disputas presidenciais. Ademais de, na deste ano, com uma votação provável em torno de 10%, poder cumprir um papel significativo; o de forçar o 2º turno entre os concorrentes governista e oposicionista.

Venezuela aprofunda o autoritarismo e a democracia se fortalece na Colômbia

Os dois países ocuparam ontem bom espaço na mídia brasileira e internacional com as repercussões de fatos que ampliam os contrastes entre os processos econômicos e políticos que vivem.

Ao primeiro, a Folha dedicou a manchete “Chávez intervém em banco ligado a TV”, em reportagem com a seguinte abertura: “O governo da Venezuela interveio ontem, no Banco Federal, cujo presidente é acionista do canal Globovisión, crítico ferrenho de Hugo Chávez”. E o Estadão destacou a reação do governo norte-americano à nova ofensiva da chavismo contra a imprensa: “EUA criticam Chávez por ordem de prisão contra dono de TV”, seguindo-se o lead da matéria: “Para departamento de Estado, esse é o mais recente exemplo dos ataques do governo da Venezuela à liberdade de expressão”.

Já na Colômbia, a perspectiva de normalidade do fechamento do pleito presidencial (domingo próximo) foi reforçada por nova vitória do governo de Álvaro Uribe contra as Farc e suas ameaças de atentados contra o processo eleitoral. Manchete do Estadão sobre o tema: “Desertor das Farc levou o Exército até cativeiro para resgate dos reféns” (quatro militares que estavam seqüestrados havia mais de dez anos). Enquanto a Folha destacou os efeitos políticos eleitorais: “Uribe contabiliza o resgate de 4 reféns dias antes do 2º turno”. No qual o candidato governista, o ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos, que já com 65% das intenções de votos, concorre contra o oposicionista (mas também anti-Farc) Antanas Mockus.

O QUE PENSA A MÍDIA

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Mozart: Violino & Viola - Vengerov & Bashmet (part 1)

Canção :: Cecília Meireles


Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.