terça-feira, 3 de agosto de 2010

Reflexão do dia – Fernando Henrique Cardoso


Precisamos pensar as mudanças no Brasil.
O que você tem hoje é uma espécie de camisa de força, criada pelas campanhas passadas, que é a obrigatoriedade de fazer pesquisas, saber o que as pessoas querem e repetir na campanha os pontos que o povo quer. Todo o esforço dos marqueteiros é não discutir problemas que possam dividir. E toda a discussão intelectual divide. Então, é um teatro onde as pessoas vêm devidamente maquiadas, fantasiadas, para dizer, como se fossem ventríloquos, aquilo que se acha que o povo quer ouvir. Cadê a liderança política? Com liderança, você não tem que repetir o que os outros querem. Você tem que convencer os outros da importância dos seus valores. Tenho dito isso para meu candidato, o Serra, que ele tem condição de falar na TV o que acha. Porque as pessoas não estão mais acostumadas a saber o que os outros acham. Ninguém acha nada. No fundo, todos os discursos ficam iguais. São só imagens, imagens, e não se acha nada.Não tem política.


(Fernando Henrique Cardoso, na entrevista, em O Globo, domingo, 1/8/2010)

Agronegócio, agricultura familiar e política:: Raimundo Santos

DEU EM GRAMSCI E O BRASIL

A economia não é um templo, mas um campo de testes.

Habermas


A bibliografia acadêmica vem apresentando um debate no qual nosso rural aparece como um mundo dinâmico movimentado pelo “confronto e diálogo” entre o agronegócio e a agricultura familiar. Já se tornou tão complexo o mundo rural brasileiro que a estrutura governamental há anos se repartiu, significativamente, em dois ministérios, um para cada lado (Ministério da Agricultura e Ministério do Desenvolvimento Agrário). Não por acaso, o atual governo, liderado por um partido de compromisso camponês — ativista da luta pela terra nos anos 1980 e 1990 —, é chamado a administrar o grão-capitalismo (usando a expressão com que um sociólogo do Rio de Janeiro se refere à economia brasileira), dele (e da “herança maldita” recebida de FHC) extraindo sucessos para sua política econômica.

No mundo rural de hoje dispõem-se possibilidades de desenvolvimento localizadas no agronegócio e na agricultura familiar, alvos de políticas públicas especiais nada desimportantes. É só ver o seu número, diversificação e abrangência crescentes, aqueles dois ministérios mais e mais articulando ações com o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria da Pesca, além de vários outros programas de envergadura (ações no território, os Pronafs, etc.). Toda uma trama institucional atua num meio rural já bem distante do mundo da tradição e do tempo dos “grandes domínios”.

Às vésperas desta eleição presidencial decisiva, na qual inclusive a consolidação do Estado Democrático de direito corre risco, este texto se refere à controvérsia em torno daquela dualidade a que se atribui a dinamização da vida rural. Centralizada entre o PSDB e o PT, a disputa mostrará compreensões diferenciadas tanto no que se refere ao processo democrático em curso como em relação aos grandes temas postos em discussão durante a campanha eleitoral, como a questão agrária e rural. Com base em certa bibliografia, estas páginas registram uma controvérsia que tem a ver com campos que se expressam nos dois principais candidatos. Com Serra estão conhecidas áreas de esquerda de enraizada orientação gradualista e reformista-democrática, bem diferentes das influentes tendências de esquerda que compõem o largo arco de apoio à candidatura de Dilma Rousseff [1].

Assim, em uma ponta, pode-se ver na bibliografia aqui referida uma tendência que defende a agricultura familiar em termos de um “campesinismo” novo e atualizado, ponto de vista hoje hegemônico nas esquerdas militantes. Este campo vê-se reforçado por autores dos mais credenciados (VEIGA, 1998; ABRAMOVAY e VEIGA, 1998; VEIGA, 1994; apud SAUER, 2008), que, naqueles anos 1990, justificaram um ressurgimento da reforma agrária distributivista, aumentando as expectativas em relação ao advento de um novo dinamismo econômico com base na agricultura familiar. Realçando seus atributos vantajosos em relação ao agronegócio (pluricultura, absorção da pobreza, sustentabilidade, etc.), chega-se a pensar que a agricultura familiar tem todas as condições para ser o protagonista de um novo padrão de desenvolvimento social e econômico no mundo rural (SAUER, 2008).

Todavia é de se registrar um grupo de estudiosos do agronegócio que se propõe ir além da ênfase na dimensão econômica do grande empreendimento [2]. Realizando uma abertura analítica em relação à bibliografia denuncista, esta vertente volta suas vistas para a “sociedade” do agronegócio. Ao direcionarem assim sua investigação, os seus autores estão fazendo um diagnóstico do custo social do agronegócio, ator que não teria obtido o dinamismo que o separa dos seus antepassados sem o uso privatista do Estado, a concentração da propriedade e o caráter predatório do empreendimento, como mostra o estudo minucioso realizado em três regiões (o Norte matogrossense, o Triângulo mineiro e o Oeste baiano). No entanto, o que chama a atenção no estudo são a diversidade das relações sociais que envolvem o conjunto do mundo à volta dos agronegócios e, especialmente, a segmentação social que prospera na “sociedade do agronegócio”.

Há outras opiniões a respeito da agricultura familiar com postura mais positiva em relação aos agronegócios. É o caso de John Wilkinson, o principal autor referido nestas notas, que se associa a uma “nova síntese” que “já se desenha em torno da noção de “território”, como diz ele próprio. Visando ampliar o horizonte dos defensores da agricultura familiar, Wilkinson se propõe ir além de três posições consideradas insuficientes: a) daqueles que superestimam o grau de consolidação de certos segmentos de produtores, “por não levarem em conta as transformações na dinâmica recente dos mercados”; b) dos que (em estudos da pluriatividade) subestimam “as oportunidades para a agricultura familiar nos novos mercados de nicho como também na crise do modelo dominante da agricultura especializada” (WILKINSON, 2008: 14) ; e c) dos que “descuidam do significado dos espaços de mercados ocupados pelas PMEs (pequenas e médias empresas) e da dinâmica do setor informal” (aqui aludindo a estudos sobre a agroindústria) (Ib.).

O autor põe o seu tema — a agricultura familiar e os mercados — no cenário econômico atual. Diz ele que, no mundo das grandes cadeias de commodities, a agricultura familiar tem que operar com novos níveis de qualidade e novas escalas de produção. Ela é chamada a obter “capacidades próprias” para desenvolver “iniciativas autônomas”, o que exige aprendizagem coletiva capaz de levar consideráveis contingentes a processos de muita inovação. O próprio tema da segurança alimentar e os requerimentos de qualidade realçam o papel da fiscalização e das regulamentações do poder público em seus três níveis (marcas, certificações, etc.) e também estimulam a agricultura familiar e o mundo artesanal a procurarem uma reestruturação que os habilite a entrar nos novos mercados, não faz muito reservados à grande empresa. O fortalecimento (“autônomo”, por sua qualidade) dos “mercados dos orgânicos” (mais abrangentes) e a ida da agricultura familiar a mercados regionais e nacionais (aos “consumidores desconhecidos”) não constituem as últimas fronteiras da sua expansão. A agricultura familiar não só tem posição importante no mercado interno como também já responde por fatias das exportações brasileiras. O grande varejo e os grandes supermercados, anota o autor, já mobilizam os pequenos e médios produtores para montar os seus grupos de fornecedores de produtos de qualidade especial (Id. : 209).

Para Wilkinson, “à medida que a agricultura familiar se oriente ao mercado e adote práticas de um pequeno empresário, abre-se uma ponte para uma aproximação ao mundo dos agronegócios” (Id.: 206). O autor não tem dúvida: “O mercado, portanto, nos seus diversos aspectos, começa a ser o grande desafio também para a agricultura familiar” (Id.: 209). Este caminho expressa um condicionamento da esfera econômica que os dois lados (o agronegócio e a agricultura familiar) parecem subestimar, ao não ver “a profundidade das transformações nos valores da sociedade que são parcialmente refletidos nas novas dinâmicas dos mercados”, delas não escapando o grande mundo das commodities (rastreabilidade, internacionalização dos valores ambientais e sociais). Ao não reconhecerem as mudanças, os representantes do agronegócio e os defensores da agricultura familiar não se dispõem a explorar “os espaços de convivência”.

O autor alude ao fenômeno do Corporate Social Responsability (CSR), observando que os dois lados não percebem a incidência da valorização de “uma série de qualidades, separadamente ou em conjunto, que questionam a sujeição de valores ambientais, sociais, culturais e políticos a prioridades de custo e escala” (Id.: 211). Sistemas de certificações, redes alternativas de produção e consumo questionam o modelo de economia industrial e põem em realce o mundo artesanal. E ainda: “Na medida em que a economia desloca-se para serviços, este reconhecimento se desdobra em externalidades positivas para outros setores, sobretudo o turismo” (Ib.).

Daí advém a necessidade de requalificar o dualismo antigo no qual ainda se concentra a bibliografia denuncista ou de “viés campesinista” (sic). O agronegócio é criticado por viver obcecado pela busca de competitividade nas suas grandes cadeias de commodities, o que impede a sensibilização pelos temas do meio ambiente e do trabalho. Por sua vez, os defensores da agricultura familiar desqualificam o CSR, considerando-o simples “greenwashing e cooptação”, e não buscam ver “em que medida mudanças na sociedade, refletidas mais por intermédio do mercado do que em períodos anteriores, estão criando bases novas para uma convivência entre estes dois segmentos, sem eliminar as grandes áreas de conflitos que continuariam alimentando mobilizações sociais e políticas” (WILKINSON, 2008: 210).

O sentido dos tempos atuais requer atenção para temas emergentes: “Do lado do mercado, porém, muitos sinais apontam para um reconhecimento e uma valorização de um novo dualismo em relação a sistemas de produção” (WILKINSON, 2008: 211). O CSR expressa “tendências mais abrangentes pela valorização de uma série de qualidades” e leva a uma espécie de “paradoxo”: “Ou melhor, existe um reconhecimento de que custos que não levam em conta essas qualidades transformam essas próprias qualidades em custos. Sistemas de certificação, por um lado, e redes alternativas de produção e consumo, por outro, focalizam, sobretudo, a valorização de processos produtivos distintos em relação ao modelo industrial, ratificando um reconhecimento do ‘mundo artesanal’ bem como dos sistemas de produção local” (Ib.).

O autor acredita que novos estudos virão contribuir para reequacionar a desconfiança dos porta-vozes da agricultura familiar, partidários, acrescenta Wilkinson, de uma longa “guerra de posições” (sic) contra os agronegócios. Estes, por sua vez, medem tudo por seu modernismo empresarialista, desconhecendo a força da agricultura familiar e do mundo artesanal. “Na sua desconfiança de manifestações de CSR”, diz o autor, “os porta-vozes da agricultura familiar parecem subestimar o grau em que o mercado se torna um canal de expressão dos valores de movimentos sociais” (Id.: 212). Esse novo espaço do mercado abre possibilidades para um mínimo de “reconhecimento mútuo”, que pode, ao mesmo tempo, favorecer o diálogo sobre os outros temas de maior conflito no campo político-institucional (Id.).

Já não é possível deixar de reconhecer a importância que têm tanto os agronegócios quanto a agricultura familiar, este dado apontando para a necessidade de explorar as bases de “convivência entre ambos”. Não se trata mais de uma recuperação das virtudes camponesas da agricultura familiar. O impulso já estaria noutra dimensão. “O mercado ainda é o mesmo?”, esta é a tese do autor, e o seu ponto consiste em que, à medida que se diversificou, o mercado pôs-se diante do camponês atual de diferentes modos. Trata-se hoje de mercados atravessados por diversas mediações e regulações do poder público; resultantes, acrescentemos, de ações praticadas na esfera da política (partidos, Congresso, sindicatos, movimentos, associações, governo e agências governamentais nos seus três níveis).

Essa controvérsia acerca das relações entre o agronegócio e a agricultura familiar mostra o papel decisivo do poder público. A propósito, há uma tendência incipiente que também procura ir além da ênfase no tema da polaridade “grande domínio”–agricultura familiar e que se refere ao grão-capitalismo dominante no mundo rural, como Wilkinson, sem defensivismos paralisantes. Esta bibliografia realça a questão do sentido e das prioridades da ação de governo, chamando particularmente a atenção para os investimentos animadores da vida rural no âmbito regional e local, investimentos estratégicos para a reforma democrática do mundo rural. Este, certamente, será tema desta eleição.

----------
Raimundo Santos é autor, entre outros, de Agraristas políticos brasileiros. Brasília: Fundação Astrojildo Pereira–Nead, 2007.
----------
Notas
[1] O artigo de Serra acerca dos 25 anos da Nova República e o seu discurso ao aceitar a candidatura presidencial, divulgados pela imprensa de junho, são bem expressivos do campo acima referido.

[2] Trata-se da pesquisa “Sociedade e economia do ‘agronegócio’ no Brasil”, coordenada por Beatriz Herédia, Leonilde Medeiros, Moacir Palmeira e Sérgio Pereira Leite. Cf. HERÉDIA et al. (2009).

Referências bibliográficas

HERÉDIA, Beatriz, MEDEIROS, L., PALMEIRA, M. e LEITE, S. P. Sociedade e economia do “agronegócio” no Brasil. Caxambu: Anpocs, 2009.

SAUER, S. Agricultura familiar versus agronegócio: a dinâmica sociopolítica do campo brasileiro. Brasília: Embrapa, 2008.

WILKINSON, J. Mercados, redes e valores. Porto Alegre: UFRS, 2008.

(Publicado na revista Política Democrática, nº 27 – já em circulação)

Eleitorado oscila :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A diferença entre as mais recentes pesquisas do Datafolha e do Ibope não pode ser atribuída à metodologia utilizada por cada instituto, e nem mesmo é possível dizer que um deles esteja errado. Até o momento, os especialistas estão convencidos de que está havendo uma oscilação do eleitorado, que ainda não se fixou em um candidato e se deixa levar por eventuais movimentos mais agressivos dos meios de comunicação.

O resultado do Datafolha dando um empate técnico entre Serra e Dilma veio logo depois de uma pesquisa do Vox Populi que dava Dilma na frente com oito pontos de vantagem.

O empate teria sido resultado dos efeitos da ampla exposição do candidato nos horários de propaganda partidária do PSDB e de seus três aliados na TV - o DEM, o PPS e o PTB.

O programa nacional do PSDB na televisão, que parecia não ter surtido efeito, acabou sendo compensado pelas inserções publicitárias, gerando pontos favoráveis para Serra.

Esse mais recente Ibope retoma a situação anterior, mostrando que a tendência da corrida presidencial é favorável a Dilma, mas que o eleitor ainda não está com o voto consolidado, sendo sensível à propaganda, o que só aumenta a importância do período de propaganda na televisão e rádio que começa dia 17 e a importância da aparição de Lula nos programas eleitorais do PT.

Os debates, que começam dia 5 pela TV Bandeirantes, também terão importância fundamental este ano, especialmente pelo desconhecimento do eleitorado em relação ao comportamento da candidata oficial.

Mesmo que o Datafolha utilize os chamados "pontos de fluxo" para fazer suas pesquisas, ao contrário dos outros institutos, que vão às casas dos entrevistados, a diferença de metodologias não explicaria a diferença de resultados, e muito menos desqualifica as pesquisas do Datafolha como querem alguns militantes petistas mais exaltados.

Além da base de pesquisa do Datafolha ser muito maior que a dos outros institutos (ouviu na última pesquisa mais de 10 mil eleitores, contra cerca de 2 mil do Ibope), o sistema de checagem do Datafolha é muito seguro, segundo a opinião generalizada entre os técnicos.

O instituto costuma colocar nos pontos de fluxo onde são feitas as pesquisas um checador para cada três pesquisadores, o que enfraquece o argumento de seus críticos.

Na verdade, a checagem que os institutos fazem tem o objetivo de conferir se seus entrevistadores realmente fizeram as entrevistas que entregam, e por isso os checadores voltam a 20% dos domicílios para conferir os dados.

O Datafolha faz a checagem por telefone, mas não apenas através desse método, e utiliza checadores no local da pesquisa.

Os institutos, sem exceção, utilizam-se de técnicas semelhantes para ganhar velocidade na apuração. Se fossem seguir as regras para obter a "aleatoriedade" técnica desejável, levariam um mês para obter os resultados que apresentam em dois ou três dias.

A começar pela base de dados do IBGE, que a cada ano fica mais precária, já que tem como origem o censo que é realizado de dez em dez anos.

Os dados são ajustados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e ponderados, o que tem funcionado "relativamente bem" nos últimos anos.

Mas é evidente que essas pesquisas estão sujeitas a chuvas e trovoadas, a começar pela "margem de erro", que tecnicamente é calculada para os casos em que elas seguem rigorosamente os métodos tradicionais, o que não acontece com essas pesquisas, especialmente em época de eleição.

Há, por exemplo, entre as pesquisas do Datafolha e do Ibope, divergências importantes. Embora os números das regiões Sul e Norte/Centro-Oeste coincidam, no Sudeste e no Nordeste eles são completamente disparatados.

No Nordeste, onde está a maior força do lulismo, a liderança de Dilma é inconteste, mas é maior no Ibope do que no Datafolha.

Neste último, a candidata oficial vence de 41% a 29%, mas no Ibope a vantagem dobra: 49% a 25%. Já no Sudeste, Serra lidera, segundo o Datafolha, por sete pontos: 40% a 33%, mas empata com a petista em 37% a 35% no Ibope.

Embora essas diferenças sejam fundamentais, o que fica claro é que Serra precisa reduzir a força de Dilma no Nordeste, onde há analistas que acreditam que nessa batida ela possa chegar a ter 70% dos votos, e melhorar sua atuação no Sudeste, especialmente em São Paulo e em Minas Gerais.

Esses dois estados, os maiores colégios eleitorais do país, que têm somados 43. 213. 998 milhões de eleitores, mais de 30% de um total de 130.469.549 de brasileiros aptos a votar, são dominados pelo PSDB, e no entanto José Serra não está recebendo a votação que os tucanos esperavam.

Em São Paulo, que o partido de Serra governa há 16 anos, a diferença de votação está em torno de 3 milhões de votos, a menor das últimas eleições.

Mesmo sendo derrotado em 2006, Alckmin venceu Lula com quase 4 milhões de votos, e Fernando Henrique em 1994 chegou a colocar 5 milhões de votos de dianteira no estado.

Cálculos otimistas dos tucanos indicavam que Serra poderia vencer lá talvez por 6 milhões de votos de diferença, o que compensaria a força do lulismo no Norte e Nordeste.

Também em Minas os tucanos esperavam sorte melhor, pois Lula venceu as duas últimas eleições por cerca de 1 milhão de votos.

O ex-governador Aécio Neves terá que se empenhar mais para virar o jogo a favor de seu candidato Antonio Anastasia, e é possível que com isso melhore a situação de Serra.

O fato é que hoje o que está valendo em Minas não é o voto Dilmasia (Dilma e Anastasia), mas Dilma e Hélio Costa, do PMDB.

Serra, que tem cerca de 33% dos votos mineiros, está em melhor situação que Anastasia, que ainda não chega a 20%.

A força de Lula é inquestionável nesta eleição, mas para tentar superá-la os tucanos precisam antes se unir onde são fortes.

Olha a veia que salta:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O episódio aconteceu há quase três anos, mas o presidente Luiz Inácio da Silva ainda não superou a derrota que lhe impôs o Senado ao extinguir a CPMF, em dezembro de 2007.

Naquela dimensão foi o único malogro de Lula no Congresso, inédito para quem praticamente só colecionou êxitos (em ótica sem juízo ético) em oito anos de mandato.

Compreende-se, portanto, que seja inesquecível. Ainda mais porque depois daquilo se extinguiram de vez quaisquer esperanças de que uma emenda constitucional ou mesmo um plebiscito sobre a instituição de um terceiro mandato pudesse ter a mais ínfima chance de ser aprovado no Senado.

Por algumas outras mais, mas principalmente por essa, Lula firmou a convicção de que antes de tudo o mais importante é o governante ter um Senado fiel e submisso.

Mais importante que o PT eleger muitos governadores, repete aos correligionários desde o ano passado, é o PT eleger e o governo controlar uma bancada grande de senadores. Isso, claro, no pressuposto de que a Câmara esteja perfeitamente dominada.

O presidente expôs em público esse anseio no último sábado em Curitiba, onde participou de comício da candidatura presidencial, ao fazer votos de que Dilma Rousseff, se eleita, "tenha um Senado de mais qualidade".

Até aí, não haveria do que nem como discordar do presidente Lula. Raro deve ser o cidadão que não deseje um Senado sem atos secretos, sem postergação proposital de investigações, sem contratações abusivas, sem desperdícios, sem compadrio, com responsabilidade, honestidade, transparência, impessoalidade, civilidade, respeito absoluto pelo público.

E, sobretudo, um Senado reverente à instituição que não seja presidida por alguém com tanto a esconder que prefira silenciar a contribuir para melhorias, que necessite recorrer à censura para proteger os seus.

Só que não é bem isso que Lula entende por "um Senado de mais qualidade". Segundo ele, a qualidade se expressa em um "Senado mais respeitador, um Senado que não ofenda o governo, como eu fui ofendido. Um Senado que por mesquinharia derrubou R$ 40 bilhões, que todo ano a gente ia por na saúde".

No preâmbulo, desejou: "Só peço a Deus que essa companheira não tenha o Senado que eu tive."

Se o presidente não prestou atenção ao que disse é grave, mas se prestou só não é gravíssimo porque seu poder de vocalizar equívocos com garantia de ampla divulgação termina em breve.

Ah, sim, porque se o leitor ainda não realizou, realize: a partir de janeiro de 2011, assuma Dilma ou José Serra a Presidência da República, o estilo muda. Governar não será mais discursar.

O País não girará em torno de uma pessoa cuja primeira tarefa será a de se acostumar com a volta à planície.

É possível que para Luiz Inácio da Silva venha a ser impactante a descoberta de que o Senado nunca foi nem é dele, e sim da República. Logo, a frase "o Senado que eu tive" não retrata a realidade. Antes traduz uma fantasia de absolutismo.

"Um Senado mais respeitador, que não ofenda o governo como eu fui ofendido." Ou seja, o exercício da prerrogativa constitucional de aprovar ou rejeitar emendas e projetos de lei quando contrariam a vontade deste que agora está às vésperas de deixar a Presidência é desrespeito e ofensa pessoal. Ainda que, como a CPMF, seja a vontade majoritária da sociedade.

Em oito anos Lula não incorporou a concepção de Estado. Quando assumiu quase expulsa um correspondente estrangeiro porque considerou ofensivo à Nação um artigo do rapaz falando sobre seu (dele) consumo de bebidas alcoólicas.

Tomou-se pelo País. E agora depois de todo esse tempo continua ativista da autorreferência, tratando o Senado como um apêndice de sua (dele) majestade.

Nesse mesmo discurso em Curitiba, o presidente avisou mais uma vez que vai se empenhar pela reforma política e se dedicar a ensinar a "um ex-presidente" a ser "ex-presidente da República e não dar palpite em quem está governando".

Se for Serra, será esquisito Lula abrir mão da política como oposicionista; se for Dilma, será um favor que faz a ela, ao PT e ao PMDB. No que tange aos partidos, aliás, não veem a hora.

O sonho acabou:: Luiz Fernando Vianna

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

RIO DE JANEIRO - Muito se fala que a eleição presidencial deste ano será a primeira, desde o fim da ditadura, sem o nome de Lula nas cédulas. Caminha para ser, também, a primeira sem oferta de utopias.

Mesmo quem discordava de Lula podia reconhecer que ele, um ex-operário à frente de um partido popular, encarnava, nas suas primeiras quatro disputas (89, 94, 98, 2002), anseios grandiosos de segmentos da população.

Em 2006, como candidato à reeleição, seu papel foi o de exaltar as conquistas pragmáticas e evitar o tema mensalão.

Mas havia Cristovam Buarque com seu discurso monotemático: educação, educação, educação. Nenhuma diversidade, pouco carisma, míseros votos. Quem queria sonhar, no entanto, tinha a pregação do senador como acalanto.

Marina Silva adotou para si a classificação de "mantenedora de utopias". Sua bela história de vida, sua honestidade e a consistência de seu discurso ecológico favoreciam o rótulo.

Já havia, porém, questões capazes de enfraquecê-lo. Evangélica, Marina é contra o direito ao aborto, às pesquisas com células-tronco embrionárias e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Defende o debate sobre os temas, mas muito dificilmente adotaria como política de Estado algo que se choca com suas convicções religiosas.

E, como a Folha mostrou na última quinta-feira, embora sejam mínimas as chances de vitória, o PV retirou do programa de governo referências à descriminalização da maconha, ao fim do serviço militar obrigatório e à sobretaxação de produtos que agridem a natureza.

Retirou utopias.

Cristaliza-se o confronto entre dois candidatos de discurso economicista, tecnicista. À moda americana, cristaliza-se um bipartidarismo de ideias espelhadas. Sem Bush, mas sem Obama.

Coisas da democracia:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Ninguém nega que o Brasil ficou mais democrático com Lula. E não foi pelo jeito excessivamente descontraído com que ele opera as funções presidenciais, nem pela oratória de varejo e muito menos por obras públicas. Mas por ter sido eleito e tomado posse na mais surpreendente normalidade. Coisas da democracia. Nem o presidente reparou que a candidatura, a eleição e a posse de um candidato (ainda que supostamente) de esquerda fosse um precedente histórico importante. Pois o que Lula fez e o que não devia ter feito resultaram num saldo político que autoriza a maior confiança, mas pede atenção para evitar que as conquistas democráticas não sejam manipuladas com outro sentido que não seu aperfeiçoamento, com os ajustes do que genericamente se entende como Reforma Política. A suspeita autoriza reparar melhor nas reformas guardadas nas gavetas, pois o presidente Lula se propõe cuidar especificamente delas quando estiver livre das obrigações de emprestar o poder ao sucessor.

Não é por acaso que o presidente Lula também se declara frustrado por não ter (sem maior empenho) interessado o Congresso Nacional em passar a limpo a troca de três dezenas de partidos políticos por suficiente meia dúzia, e podar uma floresta de casuísmos em que a vida política se corrompe em costumes considerados lixo a céu aberto na vida nacional.

O saldo dos últimos 20 anos já é suficiente para mostrar que o caminho das reformas parece mais produtivo do que atalhos revolucionários. A solução negociada, com a vitória do candidato da oposição pela eleição indireta, foi uma lição que desmontou a teoria de que uma ditadura possa durar o suficiente para mudar a índole do eleitor, que prefere ser enganado pelo voto direto. Dá para tirar das cabeças ilusões de que haja melhores soluções políticas por fora da democracia.

De 1964 a 1985, para efeito externo, foram mantidos um Congresso Nacional fictício e um bipartidarismo compartilhado entre a maioria governista e variadas formas de oposição. A diferença em relação à ditadura anterior, conhecida como Estado Novo (que nasceu velho exatamente por acreditar que a democracia era um jogo sem proveito), não funcionou em 1964: não melhorou a substituição, por apenas dois, dos partidos que estavam aí desde 1945. O Congresso sem poder não adiantou. Salvou-se a fachada e se avacalhou a solução. A Câmara e o Senado apenas rubricavam leis que vinham prontas.

Em 1945, as conquistas foram gentilezas do Estado Novo. Nos anos 80, a oposição encerrou a inércia e passou a negociar com novo ânimo. Se não fosse a entrada em cena de negociadores que trocavam qualquer coisa, a História do Brasil eternizaria o impasse, resolvido com a conversão da traição em página nobre, e deixando a conta para os traidores.

Preocupação do PSDB já é assegurar 2º turno:: Raymundo Costa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Deu tudo errado na coreografia de campanha ensaiada por José Serra. Pelos cálculos do PSDB, o tucano chegaria ao horário eleitoral gratuito à frente da candidata do PT, Dilma Rousseff. Três dos quatro institutos de pesquisa mais conhecidos já apontam a petista à frente - o Datafolha registra empate técnico, mas também a melhoria de Dilma e a queda de Serra em todas as demais variáveis, do voto feminino à rejeição do eleitor. Na prática, o tucano entra no período de propaganda de rádio e televisão com uma preocupação mais imediata: manter o que tem e evitar que Dilma liquide as eleições já no primeiro turno.

Justiça seja feita, Serra e seu marqueteiro, Luiz Gonzales, sempre disseram que a campanha seria decidida no período de propaganda eleitoral. Mas é sintomático o modo como o PSDB passou a ser referir ao segundo turno. "No segundo turno ela (Dilma) vai ter que se expor muito. E a exposição queima mais que a luz do sol", diz um serrista da copa e cozinha. É quase um reconhecimento de que o PT teve sucesso na estratégia de evitar os debates desde que Dilma consolidou uma posição confortável nas pesquisas. Serra jogava num confronto direto que Dilma contornou enquanto acumulava experiência nos "simulados" do comitê e nas sabatinas.

O primeiro debate entre os candidatos será realizado depois de amanhã na TV Bandeirantes. À esta altura da campanha, não será surpresa para ninguém se Dilma for declarada vencedora. Como assim, se Serra é mais experiente e preparado? O candidato do PSDB mais que ninguém sabe que "vence" o debate quem está à frente nas pesquisas. Serra liderava as sondagens de opinião com folga quando decidiu deixar o governo de São Paulo para se candidatar e quando desenhou sua estratégia de campanha. Não lidera mais. Na realidade, já não lidera com folga há algum tempo, mas o candidato insiste em cometer erros "testados" em outras campanhas dele mesmo.

Este é o caso do discurso de Serra sobre a Bolívia, o Irã e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - as Farcs, um problema que já se apresentara à campanha presidencial de 2002, que Serra perdeu para Lula. Todas as pesquisas feitas à época mostraram que eram assuntos distante das pessoas e do interesse só dos eleitores já convertidos à causa tucana.

Serra começou bem sua segunda tentativa para chegar à Presidência da República. Na pré-convenção PSDB-DEM-PPS havia um clima emotivo que lembrava antigas manifestações do PT na oposição. A oposição chegou a pensar que dispunha de um discurso para enfrentar e desalojar o PT do Palácio do Planalto. As coisas começaram a dar errado já a partir da convenção para a oficialização do nome de Serra, realizada dias depois em Salvador. O DEM esperava ao menos conversar com o candidato sobre a candidatura a vice, mas foi ignorado. Logo na Bahia, um dos feudos do ex-PFL, a sigla antiga do DEM.

Em meio a tudo isso, a espera por Aécio Neves até o último dia do prazo legal foi de uma ingenuidade inadmissível em políticos com a experiência dos tucanos - ou talvez políticos imobilizados pelo cisma partidário É certo que Aécio fez jogo dúbio. Mas pelo menos desde dezembro, quando enviou uma carta ao presidente do PSDB, Sérgio Guerra, estava claro que ele não aceitaria a vice de Serra. Aécio saiu de férias e pediu para os tucanos não decidirem nada na sua ausência. O PSDB queria acreditar que era um sinal codificado de que ele queria a vice. O resto da novela é conhecido. Sabe-se como Serra teve de engolir o Democratas, que esnobara, como companheiro de chapa.

Além de chegar ao horário eleitoral atrás ou em queda nas pesquisas, Serra perdeu vantagens comparativas, como a inexperiência de Dilma (ela já divide o sucesso do governo) e a maneira nada ética com que o presidente Lula se atirou na construção de uma candidatura saída do nada.

O fato de Lula reiteradas vezes transgredir a legislação eleitoral para antecipar a campanha de Dilma Rousseff não justificava que Serra tocasse no mesmo diapasão. O tucano rejeitou todas as tentativas do PT de dizer que nada fez no governo, em termos éticos, que os tucanos não tenham feito antes. Foram várias as ocasiões em que ele rejeitou essa comparação. O PSDB talvez possa argumentar que se não tivesse usado os programas partidários, como fez o PT, Lula teria passado o rolo compressor sobre a candidatura Serra. Pode ser, mas Serra perdeu o discurso.

Nada justifica a ação Lula, que há três anos trabalha para viabilizar uma candidatura à sua sucessão ancorado na máquina pública e na transgressão sistemática da legislação eleitoral. O senador José Sarney calcula que, qualquer que seja o presidente, um candidato apoiado pelo governo federal entra numa eleição com algo entre 15% e 20% dos votos. Era o que ele prometia a Ulysses Guimarães, nas eleições de 1989, mesmo com seu governo ao rés do chão - Ulysses recusou e acabou na sétima posição, com 4,43% dos votos, mas preservou a biografia. Lula, além da popularidade nas nuvens, empenhou o governo na campanha de Dilma, quase ao ponto de permitir o questionamento da legitimidade da eleição.

Os crentes sempre devaneiam uma carta oculta. Pode ser que Serra vire o jogo a partir do dia 17, mas o fato é que sua campanha é ziguezagueante. Todos os candidatos sabem que o horário nobre do noticioso da televisão pode ser mais importante que os debates ("ganha" quem está na frente, a menos que cometa um erro colossal) e o horário eleitoral gratuito. O governo pauta naturalmente a mídia. Logo, a candidatura da oposição precisa ter uma agenda capaz de levar para o horário nobre problemas que afetem o dia a dia das pessoas. A agenda de Serra não tem um rumo.

Não é da prática do marqueteiro da campanha do tucano, mas no momento em que passa a se preocupar com o segundo turno, o risco é Serra ceder ao apelo fácil de elevar o tom da campanha. Alckmin fez isso em 2006. Não deu certo.


Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Camarão que Dorme a Onda Leva - Beth Carvalho e Zeca Pagodinho

Debate faz candidatos reduzirem ritmo

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Dilma decidiu parar a campanha e se recolher hoje e amanhã, numa concentração para o confronto de quinta-feira na TV Bandeirantes. Já Serra não vai desmarcar compromissos, mas terá agenda mais leve para manter as reuniões internas de preparação

Christiane Samarco, João Domingos de Brasília, Julia Duailibi, de São Paulo

Os candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) buscaram fórmulas diferentes a fim de se preparar para o primeiro debate da sucessão presidencial, quinta-feira na TV Bandeirantes. O confronto terá ainda a participação de Marina Silva, do PV, e Plínio Arruda Sampaio, do PSOL.

Dilma decidiu parar a campanha e se recolher, hoje e amanhã, numa concentração pré-debate. Já o comando da campanha de Serra informou que ele não vai desmarcar compromissos, embora agenda esteja mais leve para que possa continuar nas reuniões internas de preparação.

A ideia é que o tucano se coloque no enfrentamento como o mais experiente e preparado para manter os avanços e conquistas sociais dos últimos anos. Os tucanos querem evitar, contudo, uma postura agressiva, que possa ser interpretada pelo eleitor como destempero ou desespero do candidato do PSDB. Mesmo assim seus colaboradores descartaram simulações ou mídia training, com ensaios e dicas de linguagem corporal.

"Estou diariamente preparado para o debate. Vocês não imaginam que uma entrevista como essa seja mais fácil que um debate?", argumentou, ao ser questionado ontem pelos repórteres em São Paulo.

Regulamento. Já os coordenadores da campanha de Dilma informaram que ela ficará recolhida e nem deverá participar de um almoço com os senadores da base aliada, marcado para hoje. Ela vai fazer muitas simulações e mídia training. De acordo com o presidente do PT, José Eduardo Dutra, chefe da coordenação de Dilma, ela não precisa mais estudar números, realizações do governo e o que vai fazer, se eleita. Seu treinamento será para concluir o pensamento - em intervenções, perguntas ou respostas - dentro do prazo exato previsto pelo regulamento do debate.

A preparação da petista está a cargo da jornalista Maria Olga Curado. Desde que começou a ser treinada por Maria Olga, Dilma voltou a falar o "uai" característico dos mineiros, que havia perdido durante o tempo em que passou no Rio Grande do Sul. Com esse tipo de expressão e outras bem populares, os coordenadores de sua campanha acreditam que ela aumenta o poder de comunicação com as pessoas mais simples.

Vitrines. Já o tucano, desde a semana passada, reúne-se quase diariamente com os marqueteiros Luiz Gonzalez e Woile Guimarães, além de Felipe Soutello, ex-presidente do Cepam (Fundação Faria Lima), que trabalha na estratégia de comunicação da campanha. Ele deve colocar a gestão em São Paulo e no Ministério da Saúde como vitrines administrativas que poderiam ilustrar sua experiência.

Nem Serra nem Dilma apostam num desempenho fraco do adversário. De acordo com os coordenadores das campanhas dos dois, eles sabem que cada um se preparou ao máximo para o primeiro confronto. "Espero que seja um debate em que a gente possa efetivamente debater ideias, propostas e mostrar o que cada um fez ao longo da sua vida pública", afirmou o presidenciável tucano ontem.

Marina. Amanhã, a candidata do PV à Presidência, Marina Silva, faz uma preparação para o debate. Ela vai se reunir com a equipe do partido, em São Paulo, onde deve repassar as regras do confronto, fazer uma simulação, com perguntas e respostas, para calibrar os principais pontos que a ela pretende abordar no debate. / COLABORARAM ANA PAULA SCINOCCA, VERA ROSA e ROBERTO ALMEIDA

Primeiro confronto terá mais relevância para candidatos

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Análise: Malu Delgado

Mais que moldar ou modificar a cabeça do eleitor, o primeiro debate entre os presidenciáveis terá relevância por colocar Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) frente a frente num confronto de discursos e propostas. Além disso, ambos serão desafiados por Marina Silva (PV) e por Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), candidatos dispostos a mostrar que há caminhos além da polarização entre o PT e o PSDB.

O debate na televisão, neste momento, tem mais peso para os próprios candidatos e para a militância partidária que para o eleitor. Serra insistirá na estratégia antipetista para se contrapor a Dilma? A petista cairá em típicas armadilhas das retóricas eleitorais, que escapam ao controle de estatísticas dos gabinetes? Marina ficará neutra? São as respostas a tais indagações que dão relevância a esse confronto midiático.

Para Dilma, por exemplo, trata-se de uma experiência totalmente nova, por ser sua primeira disputa eleitoral. Não por acaso os candidatos reservaram tempo na turbulenta agenda para se preparem, cada um a seu estilo. Óbvio que nenhum deles quer colocar em risco a própria imagem quando a campanha começa a esquentar.

Esse debate, porém, dificilmente terá peso na cabeça do eleitor a ponto de alterar o cenário já captado pelas pesquisas. A "arena" na TV Bandeirantes começa às 22h, quinta-feira, simultaneamente à semifinal da Libertadores (São Paulo X Internacional). A média de audiência de 7 pontos (cada ponto equivale a 60 mil residências). Ou seja, numa hipótese otimista só cerca de 1% do total do eleitorado assistirá ao debate.

Petista e tucano ainda estão no limite do empate técnico

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Na média das três últimas pesquisas, diferença a favor de Dilma é de quatro pontos porcentuais

José Roberto de Toledo

Com 4 pontos de diferença entre eles, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) estão no limite de um empate técnico na média das três últimas pesquisas divulgadas sobre a sucessão presidencial. Mas a candidata petista permanece numericamente à frente do tucano há mais de dois meses.

O gráfico das médias inclui, pela primeira vez, os candidatos dos pequenos partidos, os chamados nanicos. Isso não produziu alterações significativas nas tendências dos favoritos, mas encurtou a série histórica. No cenário com Dilma, Serra e a candidata do PV, Marina Silva, a evolução começava em novembro de 2009. Agora, tudo se inicia em maio.

Como não se pode misturar cenários diferentes no mesmo gráfico, perdeu-se na nova curva o movimento de ascensão de Dilma até empatar com Serra. Desde meados de maio, os dois seguem tecnicamente empatados, com pequenas oscilações na diferença entre eles.

Cabo eleitoral. Embora a curva de Dilma apareça consistentemente à frente da de Serra, ela nunca conseguiu se desgarrar o suficiente para caracterizar uma liderança isolada.

Com a inclusão da pesquisa Ibope/Estado/TV Globo concluída em 29 de julho na conta, e a saída da sondagem do instituto Datafolha de 1º de julho, a distância média entre os dois candidatos aumentou. Se isso vai ou não se tornar uma nova tendência, só será possível saber após as pesquisas Ibope e Sensus a serem divulgadas na quinta e na sexta-feira.

Pelo histórico da corrida presidencial, sempre que Dilma foi exposta ao eleitorado como candidata de Luiz Inácio Lula da Silva ela cresceu, empurrada pela popularidade recorde do presidente. Com o início previsto da propaganda eleitoral compulsória no rádio e na TV a partir do próximo dia 17, os petistas especulam que sua candidata tende a crescer mais.

Os tucanos, por seu lado, lembram que Dilma nunca se expôs em um confronto direto de ideias com seus adversários, e a partir de eventos como o debate entre os presidenciáveis na Band, marcado para esta quinta-feira, a candidata passaria a sofrer desgastes de imagem.

Será possível testar essas hipóteses nas próximas rodadas de pesquisa. Como dizem os especialistas, as sondagens são diagnósticos, não servem para prognosticar o que vai ocorrer na corrida presidencial. Mais do que isso: elas têm prazo de validade. Toda pesquisa é provisória. Só a urna é definitiva.

Serra diz não se surpreender com dossiê do PT e defende Mantega

DEU EM O GLOBO

Dilma afirma que documento de petistas não passa de "carta anônima"

Flávio Freire

SÃO PAULO, BRASÍLIA e RIO. Após semanas de críticas ao dossiê que teria sido feito pelo PT contra tucanos, o presidenciável tucano, José Serra, disse ontem não ter se surpreendido com a criação de um novo documento, que também teria sido organizado por petistas, mas agora contra o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Serra já disse, em outras ocasiões, que o PT "tem longa tradição" de produzir dossiês. Após uma caminhada no bairro paulistano da Liberdade, onde vive a maior comunidade japonesa do país, Serra aproveitou para fazer uma defesa veemente do ministro, seu amigo.

No suposto dossiê, segundo reportagem do jornal "Folha de S.Paulo", uma das filhas do ministro, a modelo Marina Mantega, é acusada de tráfico de influência junto ao vice-presidente de Negócios de Varejo do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, que era cotado para assumir a presidência do fundo de pensões Previ. Num dos encontros que teria tido com Caffarelli, Marina teria pedido para que uma dívida da Gradiente fosse renegociada. Ela, que nega as acusações em sua página no Twitter, namora um dos sócios da empresa.

- Não me surpreendi (com o dossiê). Mas quero dizer o seguinte: considero o ministro Guido Mantega um homem honrado, que está no cargo defendendo o interesse público. Quero dar meu testemunho a respeito do Guido Mantega. Ele é um homem correto - disse o tucano.

Pelo Twitter, o deputado federal Ricardo Berzoini, ex-presidente nacional do PT, comentou o caso ontem:

"As especulações maldosas que alguém plantou na Folha (de S. Paulo) não podem ficar sem apuração. Se o BB não apurar, o MP será acionado por mim", escreveu Berzoini, que é citado pelo jornal como suspeito de incentivar a produção do dossiê.

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, afirmou que as informações contra Mantega não passam de carta anônima:

- Você está chamando uma carta anônima de dossiê? Lamentável carta anônima. Trata-se de uma carta anônima, e como tal não pode ser atribuída a nenhum partido. Eu nunca vi alguém chamar carta anônima de dossiê - disse Dilma, durante entrevista, em visita ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB), na tarde de ontem.

O candidato do PSDB ao Senado por Minas, Aécio Neves, declarou estar surpreso com a "guerrilha" interna no PT:

- Quanto aos adversários, nós nos acostumamos um pouco com os aloprados, com esses dossiês, mas dentro do próprio partido é surpreendente que essa guerrilha continue.

Já o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, disse que as denúncias não passam de "fofoca".

Em nota, o presidente do PPS, Roberto Freire, comparou o governo à máfia e disse que a chantagem é a moeda de troca do governo Lula: "Os métodos próprios da Cosa Nostra do governo constituem algo de estarrecer", escreveu Freire.

Colaborou: Fábio Vasconcellos

Cacoete

DEU EM O GLOBO

O DOSSIÊ "fogo amigo" disparado por hostes petistas contra o companheiro Guido Mantega é típico.

ELE SE encaixa no modelo de atuação subterrânea de grupos políticos de linhagem autoritária mergulhados na luta pelo poder.

ESTES ALOPRADOS empregam nos acertos de contas internos a mesma virulência que adotam no ataque aos adversários.

Dossiê Mantega: Dilma deu o exemplo num governo de métodos da "Cosa Nostra"

DEU NO PORTAL DO PPS

Valéria de Oliveira

"Quer pior do que a própria (então) ministra Dilma fazer tráfico de influência para evitar que o filho de Sarney fosse investigado? Ela faz isso, depois a gente fica sabendo, por meio de um dossiê, que (Marina Mantega) a filha do ministro da Fazenda, Guido Mantega, partiu para o mesmo caminho", disse o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, sobre as informações divulgadas pelo jornal Folha de São Paulo de domingo, segundo as quais a filha do ministro atuava junto ao vice-presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, para agilizar abertura de contas, liberação de financiamentos e renegociação de dívidas de conhecidos.

"Esse é o governo de métodos próprios da Cosa Nostra para influenciar decisões de governo e tentar nomear pessoas para cargos no Estado; é de estarrecer", acusou Freire, comparando a administração Lula com a máfia italiana. "Foi assim com o mensalão, com os aloprados (dossiê contra os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin, candidados a governador de São Paulo e a presidente, respectivamente, em 2006)".

Tristeza

Segundo Freire, a chantagem é a moeda de troca do governo Lula e da ex-ministra Dilma. "É de uma profunda tristeza que a República tenha chegado a esse ponto".

O dossiê petista teria sido elaborado na disputa pela indicação do novo vice-presidente da Previ (Fundo de Pensão do Bando do Brasil), cujo patrimônio está em torno de R$ 150 bilhões. O documento, apócrifo, teria sido elaborado por sindicatos de bancários, que preferiam Joílson Ferreira na vice-presidência, em vez de Paulo Caffarelli, indicado por Mantega. Ao final do processo de indicaçõa, os dois acabaram sendo preteridos pelo Planalto.

Gurgel: presidente beneficiou Dilma

DEU EM O GLOBO

Para procurador-geral da República, atitude de Lula, porém, não é uso da máquina

Carolina Brígido

BRASÍLIA. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva beneficiou a candidata petista, Dilma Rousseff, ao afirmar, em discurso em cerimônia oficial de governo, que ela era a responsável pelo lançamento do edital do trem-bala entre Rio e São Paulo. No entanto, para Gurgel, a atitude de Lula não pode ser considerada uso da máquina pública. O discurso do presidente foi feito no último dia 13, no evento de lançamento do edital do projeto do Trem de Alta Velocidade (TAV), no CCBB, sede provisória do governo federal.

Perguntado se o discurso de Lula, citando Dilma, poderia ser caracterizado como uso da máquina, o chefe do Ministério Público afirmou:

- A meu ver, o uso da máquina tem outra conotação, mas é dar um benefício desigual a um candidato.

No discurso no CCBB, o próprio Lula sabia que não deveria citar o nome da candidata petista:

- A verdade é o seguinte: não posso deixar de dizer aqui que nós devemos o sucesso disso tudo que estamos comemorando a uma mulher. Na verdade, não poderia falar o nome dela por conta da campanha eleitoral, mas a história, a gente não pode esconder por conta de eleição. A verdade é que a companheira Dilma Rousseff assumiu a responsabilidade de fazer esse Trem de Alta Velocidade.


Serra lidera em SP, mas perde em MG

DEU EM O GLOBO

Marcelo Remígio

O candidato a presidente José Serra (PSDB) lidera as intenções de voto em São Paulo, maior colégio eleitoral do país. Segundo pesquisa Ibope encomendada pela Rede Globo, o tucano soma 44% dos votos, seguido por Dilma Roussef (PT), com 33%, e Marina Silva (PV), 9%. No entanto, Serra não repete o desempenho em Minas Gerais e Rio de Janeiro, estados igualmente importantes em número de eleitores.

Em Minas, onde Serra tem o palanque tucano do governador Antonio Anastasia e de Aécio Neves, Dilma tem 44% das intenções de voto contra 32% de Serra e 7% de Marina. No Rio, a petista soma 46% contra 27% do tucano e 10% de Marina.

Para o cientista político Ricardo Ismael de Carvalho, a grande surpresa é Minas:

- Serra pode reverter, o palanque é forte e ainda tem o ex-presidente Itamar Franco (PPS). Em São Paulo, eu esperava uma vantagem maior.

A luta pelos votos será mais difícil no Rio, afirma Ismael. Para ele, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a influência de Lula contribuíram para o crescimento de Dilma.

Dilma lidera no Distrito Federal: 36%; Serra tem 25% e Marina, 16%. Na Paraíba, Dilma soma 53%; Serra, 28%; e Marina, 4%. Em Pernambuco, a petista tem 59%; Serra, 26%; e Marina, 5%. Para Ismael, a meta do PSDB no Nordeste será reduzir diferenças e perder de pouco. A corrida é indefinida no Norte. Natural do Acre, Marina tem no estado 32%; Serra, 38%; e Dilma, 17%. Serra lidera em Roraima e empata com Dilma em Rondônia, à frente no Amazonas e Amapá.

'Eu estou livre para dar uma banana'

DEU EM O GLOBO

Gabeira diz que os partidos aliados o apoiam "muito mal" e que, por isso, poderia reduzir cargos de confiança

Rafael Galdo

O candidato ao governo do Rio pelo PV, deputado federal Fernando Gabeira, subiu o tom ontem e, em discurso com críticas ao seu principal adversário, o governador Sérgio Cabral (PMDB), sobrou até para os partidos de sua coligação (PV, PSDB, PPS e DEM). Em debate com gestores da rede privada de saúde, no Rio, o verde disse que as legendas aliadas o "apoiam muito mal" e que, por isso, poderia "dar uma banana" para elas quando necessário. A afirmação foi feita quando Gabeira defendia a diminuição dos cargos de confiança no governo, dizendo que, em seu caso, fazer essa redução seria mais fácil:

- Os partidos que me apoiam me apoiam muito mal. Eu estou livre para dar uma banana também quando for necessário.

Mais tarde, porém, numa cooperativa de catadores de lixo em Nova Iguaçu, tentou amenizar as declarações:

- Os partidos no Brasil são um pouco desarticulados, têm estrutura débil. Não só o nosso, como todos os partidos. E, quando se colocam em campanha, você não pode confiar muito nos partidos. Tem que confiar mais na sociedade. Minha campanha é muito mais baseada na sociedade do que nos partidos. Isso me dá liberdade, em caso de vitória, de trazer gente da sociedade para participar do governo. Não é que a relação com os partidos não esteja agradando, a relação com os partidos nunca foi satisfatória, pois os partidos são frágeis no Brasil - disse Gabeira, que visitou ainda o Ciep Antonio Candeia Filho, próximo ao complexo de Acari, assaltado ontem, segundo funcionários, pela 23ª vez no último ano. O verde reafirmou a defesa de segurança diferenciada para colégios em áreas de risco.

Rodrigo Maia, presidente nacional do DEM, disse que Gabeira tem razão ao defender que os cargos públicos não sejam entregues aos partidos. Maia propôs que o verde, eleito, acabe com os cargos comissionados. Presidente regional do PPS, o deputado estadual Comte Bittencourt também defendeu a redução dos cargos de confiança.

Família de iraniana minimiza apelo de Lula

DEU EM O GLOBO

Representante da condenada ao apedrejamento afirma que campanha mundial influi em decisão de rever o caso

Christine Lages e Rossana Maurell

O apelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao iraniano Mahmoud Ahmadinejad contra a pena de morte e o apedrejamento de Sakineh Mohammadi Ashtiani não é o único responsável pela abertura de diálogo de Teerã a respeito da condenação, afirmou ontem ao GLOBO a representante da iraniana presa, Mina Ahadi. A afirmação foi feita depois que o filho de Sakineh, Sajjad Ghaderzadeh, de 22 anos, disse ao jornal britânico "Guardian" que recebeu um telefonema do governo de seu país informando que o caso de sua mãe seria analisado ainda esta semana. O rapaz disse que o contato foi feito com ele momentos após Lula oferecer, em comício no sábado, asilo político à Sakineh.

O caso da iraniana, que está no corredor da morte após ter confessado - obrigada pela polícia, segundo sua defesa - um adultério, vem mobilizando milhares de pessoas no mundo. Segundo Mina Ahadi, chefe da Comissão Internacional Contra Apedrejamento e Pena de Morte, sua ONG já conseguiu mais de 700 mil assinaturas contra a condenação da mulher. Mina, no entanto, não acredita que Lula seja totalmente responsável pela mudança de comportamento do governo iraniano.

- Não é responsabilidade exclusiva do presidente do Brasil a reabertura do diálogo com o governo iraniano a respeito da condenação de Sakineh. Mais de 700 mil pessoas estão apoiando nossa campanha, e a pressão internacional teve um grande peso também - afirmou ao GLOBO.

A notícia sobre a possibilidade da tão esperada reviravolta no caso foi dada pelo próprio filho da iraniana ao "Guardian". Momentos após um apelo de Lula e a oferta de asilo político à mulher, Sajjad teria recebido uma ligação de Teerã, informando que o caso seria revisto.

"O tom deles foi mais educado. Depois do comentário do presidente Lula, pela primeira vez as agências iranianas noticiaram o caso da minha mãe, o que mostra o quão importante o Brasil é para o Irã", afirmou Sajjad, e completou: "Não acho que o Irã possa ignorar o Brasil com a facilidade que tem ignorado outros países".

Na semana passada, Lula afirmou que não deveria interferir na legislação de outro país. Apesar de dizer que é contra a pena, o presidente sugeriu que se manteria afastado do assunto. As declarações provocaram protestos. Mas a iniciativa de Lula também gerou desconfiança entre alguns iranianos.

- Nós aqui, que estamos envolvidos na luta pela sobrevivência da iraniana, vemos a relação entre o Lula e o Irã com certa desconfiança. Estávamos céticos de que o presidente brasileiro tomaria alguma posição mais enfática em relação ao caso, apesar da boa relação entre os dois países. Finalmente, Lula se manifestou - disse Mina.

Atualmente, a ativista é o contato mais próximo com a família de Sakineh. Desde que concedeu uma entrevista à emissora americana CNN, Sajjad vem evitando se pronunciar. Segundo Mina, ela é a única autorizada a falar por Sajjad sobre o caso.

- Sajjad está orientado a não ter contato direto com a imprensa internacional. O filho de Sakineh sofreu pressão no Irã e foi advertido a não dar mais informações a jornalistas estrangeiros. Tudo o que ele precisa declarar agora passa por nossa ONG, até para podermos garantir sua integridade física. Por uma questão de segurança, estamos autorizados a falar por ele e representá-lo na mídia - explicou ela.

Ahmadinejad quer debate com Obama na TV

Os EUA declararam ontem que apoiam a iniciativa do Brasil de oferecer asilo à iraniana. Já a agência de notícias ultraconservadora de Teerã Jahan News disse que as declarações de Lula foram uma "clara interferência nas questões nacionais" do Irã.
Ontem, Ahmadinejad propôs a Barack Obama um debate na TV a fim de discutir as melhores soluções para os problemas mundiais. A proposta foi feita um dia após os EUA admitirem que têm um plano pronto para atacar o Irã. O iraniano disse que George W. Bush rejeitou o mesmo convite, pois teria ficado com medo.

- No fim do verão (no Hemisfério Norte), nós estaremos lá para a Assembleia Geral, e eu estarei pronto para conversar cara a cara com Obama, diante da mídia, é claro - disse.
Com agências internacionais

Uribe ataca Farc e pede reforço aéreo a Santos

DEU EM O GLOBO

Para presidente, líder da guerrilha que propôs diálogo é capanga

BOGOTÁ. O presidente colombiano, Álvaro Uribe, voltou a atacar ontem o chefe das Farc (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas), Alfonso Cano, qualificando-o de capanga, em resposta à proposta feita pelo grupo guerrilheiro de iniciar um diálogo com o presidente eleito, Juan Manuel Santos.

- (Cano) posa de ideólogo, quando na verdade escreve essa ideologia com a mão ensanguentada - afirmou Uribe.

O presidente colombiano exortou as Forças Armadas do país a não dormir nas próximas sete noites - o tempo que resta a Uribe no poder - a fim de perseguir, sem trégua, guerrilheiros, paramilitares de direita e narcotraficantes que, de acordo com ele, são todos capangas, ainda que alguns sejam mais sofisticados que outros.

O presidente disparou também contra seus antecessores e autoridades regionais, afirmando que eles devem responder pela omissão que permitiu que os grupos paramilitares e a guerrilha se alastrassem pelo país.

Em visita à base militar de Larandia, onde foram planejadas as principais operações contra as Farc, Uribe pediu a Santos que reforce a inteligência militar e a capacidade aérea das Forças Armadas do país. Segundo o líder do governo, o trabalho aéreo é que permitiu, em boa parte, que a Colômbia se tornasse um lugar mais seguro.

A luta contra a guerrilha e os paramilitares da Colômbia foi uma das principais bandeiras do governo Uribe e lhe rendeu um forte índice de aprovação. A guerrilha é um dos principais pontos de atrito com a Venezuela, que rompeu relações com Bogotá ao ser acusada de tolerar a presença de guerrilheiros colombianos em seu território.

Ontem, durante um encontro do Mercosul na Argentina, o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, instou os governos da região a dar respaldo à proposta de Caracas sobre um plano de paz para a Colômbia, apresentado semana passada na União de Nações Sul-Americanas. Hugo Chávez cancelou de última hora sua presença na reunião.

Perdas com pré-sal chegam a R$ 12,3 bi

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Nova regra de partilha de royalties tira receita de Estados e municípios, podendo afetar repasses de programas sociais como SUS e bolsa-família

Renato Andrade / BRASÍLIA

O novo marco regulatório para exploração de petróleo no Brasil esconde uma mudança tributária significativa, que garantirá mais dinheiro para a União e menos para os Estados e os municípios. A adoção do regime de partilha da produção, que substituirá o atual sistema de concessão, reduzirá a arrecadação de impostos que o governo federal é obrigado a repartir. A mudança pode representar um corte médio de R$ 12,3 bilhões no volume de recursos compartilhados.

"Os governos estaduais e municipais e os programas sociais em especial não serão beneficiados pelos potenciais ganhos esperados da exploração do pré-sal", afirmam os economistas José Roberto Afonso e Kleber Pacheco Castro, responsáveis pela avaliação.

Repasses do Sistema Único de Saúde (SUS) para governos locais, bem como o Bolsa-Família e o seguro-desemprego são alguns dos programas que poderão ser afetados por conta da nova sistemática tributária embutida no marco regulatório.

Pelo sistema de exploração vigente, o petróleo retirado do mar é de propriedade das empresas que operam os campos. As companhias são obrigadas a pagar à União algumas compensações financeiras pelo direito de exploração, além de todos os impostos que incidem sobre as receitas e lucros obtidos.

No modelo do pré-sal defendido pelo Palácio do Planalto, o petróleo passa a ser da União. Essa mudança de "dono" vai provocar uma queda na arrecadação dos tributos por uma simples razão: a União não tem de pagar impostos. "Como a União não fatura e muito menos lucra como uma empresa, conclui-se que ela não é contribuinte", afirmam os economistas.

Engorda. Enquanto Estados e municípios vão deixar de ganhar, a União manterá o ritmo de engorda do seu cofre, por conta do dinheiro que irá receber com a venda do petróleo. "A mudança significará aumento direto da receita própria da União, sem saber como tais recursos serão alocados no orçamento futuramente", ponderam os economistas.

O novo modelo trará, portanto, um impacto significativo sobre a arrecadação de importantes tributos federais que são compartilhados com Estados e municípios, como Imposto de Renda, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Cofins, PIS e Cide. Também haverá efeitos sobre o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dos Estados.

Com base em estimativas sobre a produção de petróleo e gás do pré-sal feitas por Samuel Pessoa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Afonso e Castro estimam que em 2031, ano de pico da produção, cerca de R$ 21,5 bilhões deixarão de ser arrecadados. "Na média, entre 2010 e 2040, o impacto seria de 0,34% do PIB (Produto Interno Bruto), o equivalente a R$ 12,3 bilhões a preços médios atuais", calculam os economistas.

(Publicado, ontem, 2/8/2010)

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
Clique o link abaixo

El día que me quieras » Berliner Phil Instrumental

Hora morta :: Fernando Pessoa


Lenta e lenta a hora
Por mim dentro soa
(Alma que se ignora !)
Lenta e lenta e lenta,
Lenata e sonolenta
A lua se escoa...

Tudo tão inútil !
Tão como que doente
Tão divinamente
Fútil - ah, tão fútil
Sonho que se sente
De si próprio ausente...

Naufrágio ante o ocaso...
Hora de piedade...
Tudo é névoa e acaso
Hora oca e perdida,
Cinza de vivida
(Que Poente me invade?)
Porque lenta ante olha
Lenta em seu som,
Que sinto ignorar ?
Por que é que me gela
Meu próprio pensar
Em sonhar amar ?