terça-feira, 17 de agosto de 2010

Reflexão do dia – Luiz Werneck Vianna

Trazer o tema da terra para o centro do debate político, nas condições de hoje da sociedade brasileira, importa, preliminarmente, reconhecer que não há boa solução fora dos princípios e das instituições da Carta democrática de 1988, filha das lutas por liberdade dos brasileiros. Importa, ainda, reconhecer que se deve procurar uma via de compatibilização entre o agronegócio, uma das vigas mestras da moderna economia brasileira, a defesa do meio ambiente e uma política agrária de estímulo e expansão da agricultura familiar, a qual deve ser objeto de uma política específica de distribuição de terras, tanto pelos seus efeitos benéficos à economia, como, talvez sobretudo, pela sua intrínseca capacidade de democratizar a sociedade e a política.


(Luiz Werneck Vianna, no artigo ‘Plinio e os meninos do Santos’ , Valor Econômico, ontem, 16/8/2010)

Zona de conforto :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Não poderia haver situação mais confortável para a candidata oficial do que começar a campanha de rádio e televisão hoje com as pesquisas mostrando-a em ascensão e com a possibilidade de vencer já no primeiro turno. Não era esse o cenário que o candidato oposicionista imaginava, e provavelmente a estratégia montada deve ter sido alterada na última hora

Todas as contas de José Serra eram de chegar ao horário eleitoral pelo menos em situação de empate técnico, para virar o jogo com o auxílio da campanha eletrônica e dos debates que ainda se realizarão.

O problema é ainda maior porque o tucano está perdendo força em estados e mesmo regiões onde deveria ter seu melhor suporte eleitoral: em São Paulo, com reflexos na região Sudeste, e no Sul do país.

Desde a última eleição, o país vem votando dividido por regiões no primeiro turno, o que o torna muito semelhante, em termos eleitorais, aos Estados Unidos, que têm estados vermelhos (republicanos) e estados azuis (democratas).

E existem os estados que são chamados de campos de batalha, onde os dois partidos disputam os votos de maneira equilibrada.

O presidente Barack Obama se elegeu em 2008 tendo vitórias históricas em estados que tradicionalmente optavam por candidatos republicanos, como Ohio e Pensilvânia.

E ganhou também em campos de batalha como Virgínia, que não escolhia um candidato democrata desde 1964, mas mesmo assim não era considerado um estado vermelho.

Aqui no Brasil, as regiões Sul e Sudeste têm sido tucanas, enquanto o Norte e o Nordeste têm votado com o PT.

Até as pesquisas de ontem, esse equilíbrio se mantinha, embora já fosse detectado um enfraquecimento da candidatura de José Serra em estados em que a oposição domina, como os estados do Sul, onde, mesmo continuando na liderança, a distância para Dilma estava sendo reduzida.

Na região Sudeste, a vitória do PSDB dependia basicamente do tamanho da diferença tirada em São Paulo.

O ex-presidente Fernando Henrique chegou a tirar 5 milhões de votos em cima de Lula em 1998, o que certamente foi decisivo para que vencesse no primeiro turno por uma pequena margem.

O ex-governador Geraldo Alckmin, mesmo sendo derrotado, venceu em São Paulo com 3,8 milhões de votos de diferença, o que o fez vencer Lula na região Sudeste por uma diferença pequena, já que perdeu em Minas e no Rio de Janeiro e venceu por pequena margem no Espírito Santo.

O candidato José Serra, até o momento, não conseguiu tirar nem mesmo a vantagem mínima em São Paulo, ficando abaixo do histórico do seu partido.

Ele também começou a campanha vencendo em Minas, mas deixou escapar esse momento, e hoje Dilma já vence lá por diferença semelhante à que Lula ganhou em 2002 e 2006.

São Paulo, que é um estado tucano, terá que melhorar a performance a favor de Serra se o PSDB quiser ter a chance de ir para o segundo turno.

Já Minas Gerais, embora governada há oito anos por Aécio Neves, nunca pode ser considerado um estado tucano, pois o PT sempre foi forte por lá, e sobretudo Lula tem uma popularidade grande no estado.

Minas é um típico campo de batalha onde a eleição pode vir a ser decidida se o ex-governador Aécio Neves conseguir reverter o quadro que no momento é favorável ao candidato da coligação petista Hélio Costa e à candidata oficial Dilma Rousseff.

Não há dúvida de que, no momento, está mais fácil Dilma vencer no primeiro turno do que Serra conter sua queda e tentar reverter a situação no segundo turno.

Especialmente porque parece que ele vem perdendo votos diretamente para Dilma, o que faz com que não importe se a candidata Marina Silva mantenha os cerca de 10% de apoio.

Há, porém, questões que devem ser observadas diante da experiência que já temos em campanhas eleitorais e pesquisas.

Na eleição de 2006, o presidente Lula, tentando a reeleição, iniciou a campanha de rádio e televisão com 55% de votos válidos mais, portanto, do que os 51% que Dilma tem hoje e acabou com 48,61%.

É bem verdade que, para impedir que ganhasse no primeiro turno, como todas as pesquisas previam, houve o episódio dos aloprados comprando com uma montanha de dinheiro vivo um dossiê com supostas acusações contra o candidato José Serra, que disputava o governo de São Paulo.

É também importante frisar que, àquela altura, ainda com sequelas do mensalão, Lula tinha 55% de avaliação de bom e ótimo nas pesquisas, e hoje tem 77%. Mas, como não é ele que concorre, e sim uma sua laranja eleitoral, a transferência de votos ainda não é total, e possivelmente não será.

O resultado da pesquisa Ibope de ontem Dilma com 51% e Serra, 38% dos votos válidos é curiosamente quase a repetição do final do primeiro turno de 2006, se contarmos a margem de erro: Lula, 48,61% e Alckmin, 41,6%.

Em teoria, esta seria a posição já fixada do eleitorado, com a diferença importante a favor de Dilma de que ela chega a esses números em ascensão, enquanto Serra chega em queda.

Ao contrário, em 2006, quem caiu foi o presidente Lula, e Alckmin cresceu quase 20 pontos durante a campanha de rádio e televisão.

Por outro lado, não existe na nossa curta experiência de eleição presidencial com segundo turno exemplo de viradas: Collor e Lula foram para o segundo turno nas eleições que venceram à frente de seus adversários e mantiveram a dianteira.

Mas há exemplos regionais de viradas, o mais espetacular deles acontecido em Minas, quando o mesmo Hélio Costa deixou de ganhar a eleição no primeiro turno por uma diferença mínima e perdeu no segundo turno para Eduardo Azeredo, o que lhe valeu a fama de ser um cavalo paraguaio, que não aguenta a reta final e perde sempre a corrida.

Com a ajuda do presidente Lula, o candidato do PMDB quer exorcizar essa fama. Mas é ela, além da popularidade, que alimenta a esperança do ex-governador Aécio Neves de reverter o jogo.

Se houver segundo turno em Minas, e Alckmin vencer no primeiro turno em São Paulo, é possível que Serra tenha uma performance melhor num eventual segundo turno frente a frente com Dilma.

Mas, para isso, será preciso primeiro frear a subida da candidata oficial.

Na frente dos bois :: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

No frigir, a prolongada dianteira do candidato da oposição a presidente não o favoreceu. Além de ter posto José Serra e o PSDB em relativo sossego durante bastante tempo, ajudou a consolidar a impressão de que uma vez perdida a primeira posição estaria também perdida a eleição.

Esta é a ideia preponderante hoje entre os analistas. Não todos, mas aqueles de compromisso marcado com a adivinhação já se aboletam sobre a certeza de que a eleição está decidida.

Se o cenário mudar não tem problema, basta atribuir ao efeito do horário eleitoral e fica tudo certo: todos ao menos parecerão "justos" e não engajados.

Realistas, sobretudo, uma vez que é mais fácil tomar como verdadeiro um cenário desenhado e depois adaptar o raciocínio do que raciocinar sobre os traços do desenho.

Por ora a explicação para as assertivas é a de que o apoio do presidente Luiz Inácio da Silva torna a candidata do PT imbatível. Se Dilma Rousseff inicia o horário eleitoral à frente de José Serra, isso quer dizer (de acordo com a norma em voga) que ela tende a crescer, ele a cair.

Ademais, como Dilma está "a três pontos porcentuais da vitória no primeiro turno", não há o que se discutir.

É de se perguntar para que mesmo eleição, campanha, gastos inúteis de tempo, dinheiro e energia. Apenas para que as urnas confirmem as pesquisas? De fato, parece ser a conclusão subjacente às argumentações de maior aceitação.

Só um truque espetacular saído da cabeça do marqueteiro seria capaz de virar o jogo. Isso tudo é o que se diz, embora não seja necessariamente o que acontece.

E acontece que a eleição é daqui a dois meses e será decidida pela maioria dos 135 milhões de eleitores que compareceram às urnas.

Até lá o favoritismo da candidata governista pode se confirmar, se acentuar, disparar, mas pode também estacionar e até diminuir.

Tomemos a eleição anterior, de 2006. Lula em pessoa estava na disputa e nessa mesma época mais bem situado do que Dilma está agora. Ela tem 41% das intenções de voto contra 33% do adversário. Lula tinha 55% contra 24% de Geraldo Alckmin.

Eram 31 pontos de diferença. Dois meses depois, as urnas deram 48% para Lula e 41% para Alckmin. Ah, dirá alguém, havia a sombra do mensalão. Ainda assim Lula tinha 55% das intenções de voto.

Ah, mas houve o escândalo dos aloprados. Pois é, as coisas acontecem. Ou não.

Em Minas Hélio Costa tem 43% contra 17% de Antonio Anastasia e os mesmos analistas não tiram do cenário a hipótese de uma "virada". Por que a diferença de expectativa?

Tudo depende da percepção e do desejo da maioria: se o eleitorado cotejar os atributos dos candidatos ganha Serra; se resolver votar apenas referido em Lula ganha Dilma e não haverá malabarismo publicitário capaz de mudar o curso desse rio.

De verdade o que José Serra poderia fazer ou inventar? Ele está em cena há anos, é conhecido de todos, não tem quem fale em seu lugar, não há Celso Kamura que dê jeito no visual nem existe margem para mágicas: Serra é o que é.

Isso pode beneficiá-lo ou pode prejudicá-lo, mas a realidade não pode ser alterada.

Diferente de Dilma, cuja situação se presta a quaisquer construções. Sendo desconhecida, tudo o que se diga ou se crie em torno dela passa a ser a circunstância real. Por mais fantasiosa que possa ser.

Incluindo aí a já afamada continuidade. Nada mais diferente de um governo de Lula que um governo de Dilma, a começar pela personalidade e o estilo da que terá sido (se for) eleita presidente, que não terá como levar o governo na base da conversa com as massas.

A se estender pela presença mais incisiva do PT e pela participação marcante do PMDB agora na posição de "protagonista", de poder - note-se - moderador e da já auto-anunciada condição de distribuidor de partilhas.

São parceiros de apetites inesgotáveis a serem administrados por uma pessoa ao mesmo tempo inexperiente e senhora absoluta do mando, cujo respaldo popular nunca lhe será atribuído a mérito próprio, mas pela conquista do empenho e da força de outrem.

O paradoxo vai às urnas :: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

A contribuição decisiva de lula, nos dois mandatos insuficientes para dar conta do que se propôs e do que não se propôs fazer, mas faz, será inevitavelmente o teste de carga a que está submetida a democracia nesta campanha presidencial.

Depois de se eleger, se reeleger com mais votos e não poder mais ser candidato, o presidente resolveu transferir o excesso de popularidade à candidata que lançou antes que o PT e a arraia miúda da representação parlamentar retomasse o terceiro mandato e comprometesse o Congresso Nacional nas consequências que esperam apenas oportunidade.

O nó político que amarra o explícito e o implícito na sucessão presidencial é que tudo está sendo feito para a vitória, sem um plano B. Pesquisas não têm o monopólio da verdade nem o dom de ler o futuro em urnas vazias.

Nos períodos precariamente democráticos, nunca o governo brasileiro funcionou como partido político de maneira escancarada, sem salvar as aparências: do alto da popularidade, o presidente Lula descortina mais do que a vista e a lei alcançam. A ordem para os ministros se organizarem num comitê eleitoral superior e municiarem a candidata oficial de versões e números (sem falar no que não deve ser falado) era o que faltava para viciar o jogo eleitoral e comprometer diretamente o próprio presidente.

Não falta mais. Governo envolvido até o pescoço em eleições não sai impunemente de uma derrota.

Perdedor não escreve a história. A candidata pode, mas o governo não pode perder. Seria, no mínimo, o fim da picada (no bom sentido).

Eis a questão que agrega preocupação à atual versão de democracia à beira do abismo. Na série da eleição direta de presidentes por maioria absoluta de votos, este que se desenha diferente é o sexto mandato, e o primeiro digno de atenção, pois a candidata já sabe que não pode cogitar de reeleição, que é reserva de mercado eleitoral do próprio Lula. A derrota seria de consequências inesgotáveis, mas a vitória poderá ser pior. Na versão constitucional anterior (1946 a 1964), quatro presidentes eleitos pelo voto direto eram vulneráveis pela maioria simples com que se elegiam governantes em nome da democracia, mas em proveito da crise oculta. Foi o ciclo da dúvida sistemática em relação à legitimidade dos vencedores por maioria simples.

A iniciativa de instrumentalizar o poder federal para garantir a vitória de uma candidata que não pode perder arrastará nas consequências o todopoderoso dono de intenções de votos que aprovam seu modo de governar. Não há como disfarçar o paradoxo inédito que está se armando: o governo não pode perder mas, se vencer, não terá como resolver o dilema da reeleição com dois candidatos inseparáveis. A reeleição entrou equivocadamente na vida brasileira e não será retirada sem abalar, no mínimo, os alicerces da República.

A derrota de Dilma seria de consequências sem fim. A vitória poderá ser pior

Reta final :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - A esperança, inclusive a dos tucanos, é a última que morre. Mas Serra chega em franca desvantagem ao horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, que começa hoje, e ao debate Folha-UOL com os presidenciáveis, amanhã. Dilma tem 8 pontos à frente, segundo o Datafolha, atingiu condições de ganhar no primeiro turno, segundo o Ibope, e tem o grande trunfo dos programas políticos: Lula.

Ou seja: Dilma chega ao horário gratuito em ascensão, e a tendência é que aprofunde a vantagem, e não que Serra reverta o quadro. Ela tem Lula, Serra não tem nada desse calibre para enfrentá-lo. Aliás, muito menos se quiserem trocar a forte marca "Serra" por "Zé".

Quem é "Zé"? Um "Zé ninguém".

Serra teve boas oportunidades de consolidar suas vantagens comparativas na fase política da campanha (a de construção de apoios, palanques e discurso), mas jogou pela janela, enquanto Dilma colou a imagem na de Lula, capitalizou o bom momento do país e foi transformando defeitos em qualidades.

O resultado é que Serra entra na reta final sem ter para onde correr, e Dilma não apenas mantém a distância avassaladora no Nordeste como está avançando nas capitais e em todos os redutos naturais do adversário -inclusive no Sudeste e até em São Paulo. Virou "onda".

A esta altura, a oposição luta não para ganhar, mas para garantir segundo turno. Se depender só dos programas, é improvável. Mas há outros fatores em jogo, e um deles, como lembra Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, é a exigência de dois documentos para votar -o título de eleitor mais um outro com foto. Isso pode gerar alguma quebra de voto para Dilma no Nordeste e entre a população de baixa renda. Se ela disparar, é bobagem. Mas, se a margem para vencer no primeiro turno for estreita, qualquer tremelique pode fazer diferença.

O PT torce para a campanha de Serra se agarrar a detalhes assim. Significa que está por um fio.

PT quer voto útil para vencer no 1º turno :: Raymundo Costa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Os votos de Marina Silva, candidata a presidente do PV, entraram na alça de mira do PT. O partido de Dilma Rousseff acredita que pode retirar do balaio verde o que falta para a vitória de sua candidata no primeiro turno da eleição.

Marina está com 10% das intenções de voto, segundo o Datafolha. O PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acham que seu tamanho real será de pouco mais de 6% dos votos válidos. O bastante para a liquidação da fatura em 3 de outubro, mantidas as tendências registradas pelas últimas pesquisas.

O curioso é que a campanha do PSDB também aposta na candidatura de Marina Silva, mas em outra perspectiva: se a candidata do PV crescer no Rio de Janeiro, o terceiro maior colégio eleitoral do país, por exemplo, até o patamar alcançado no Estado por Heloisa Helena (PSOL), em 2006, será mais fácil evitar que a sucessão de Lula seja decidida no primeiro turno.

A três pontos de vencer no primeiro turno, de acordo com os números do Datafolha, a campanha de Dilma sente-se confortável o suficiente para tentar administrar a situação eleitoral. Marina é alvo entre outras coisas porque o PT acha que a pregação do "voto útil" terá muitas chances de pegar entre os eleitores do PV.

"Desidratar a Marina pelo voto útil, para ganhar no primeiro turno", diz um dirigente petista, ainda entusiasmado com as últimas pesquisas.

Por outro lado, seria possível tirar de São Paulo, o principal reduto tucano, uma parte dos votos que faltam para antecipar o final da eleição.

Dilma, segundo petistas, vai intensificar a campanha em São Paulo com o objetivo de diminuir um pouco os números de Geraldo Alckmin, candidato a governador do PSDB, outro pouco de José Serra e aumentar um pouquinho os índices de Aloizio Mercadante. Nestes dois dias ela tem agenda com os movimentos sociais e com movimentos de mulheres.

Ninguém no PT acredita que o candidato do partido ao governo estadual ficará estacionado nos 16% atuais. Espera-se que Mercadante tenha pelo menos 30% dos votos dos paulistas - e é inegável que, se isso de fato acontecer, Dilma deve ficar com boa parte do crescimento do senador petista.

A interlocutores, Lula também falou em "desidratação" da candidatura Marina Silva. A campanha de Dilma deve avançar com cuidado, porque não quer hostilizar o eleitor da candidata do Partido Verde. Mas o discurso já tem sido expressado, entre outros, pelos irmãos Viana - Tião, candidato ao governo do Acre, e Jorge, ex-governador e agora candidato ao Senado. É o mesmo do manifesto governista, segundo o qual Marina Silva acha que a Amazônia é um santuário a ser preservado.

Debita-se na conta de Marina atrasos no PAC, em todas as áreas, das usinas hidrelétricas do rio Madeira a obras do projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Mas, por enquanto, o PT nem sequer precisou se expor: o candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, é quem está nos calcanhares da candidata verde. Embora o natural seja que o quarto colocado nas pesquisas queira alcançar o primeiro, o empenho e entusiasmo de Plínio deixaram os verdes desconfiados.

Desde o debate na TV Bandeirantes, a campanha de Marina monitora os movimentos de Plínio de Arruda e avalia que ele decididamente saiu no seu encalço. O candidato do PSOL não investiu contra Dilma Rousseff e limitou-se a fazer uma gracinha sobre o fato de José Serra, o candidato tucano, ser hipocondríaco.

Plínio de Arruda, de fato, bateu forte: chamou Marina de "Poliana" e de "ecocapitalista". Na hora, a candidata saiu com uma resposta asséptica. "O empresário precisa de água limpa, a criança pobre também". Dias depois, a seu jeito, subiu o tom: "Eu sempre brinco quando fazem perguntas desse tipo e digo que cada um vê nos outros aquilo que tem dentro de si".

Em outra ocasião, Marina sentiu-se pessoalmente atingida por Plínio de Arruda em evento eleitoral no Rio: "Com todo respeito, os senadores não servem para nada. Eles só servem para manter as oligarquias tipo (José) Sarney". Marina, como se sabe, é senadora.

O que mais chateou a campanha de Marina, no entanto, foi Plínio de Arruda ter afirmado que não se lembrava de Marina ter ficado constrangida com o mensalão, o escândalo da compra de votos no Congresso, uma crise política que abalou o governo Lula em 2005.

Ministra do Meio Ambiente, a atual candidata do PV preferiu ficar no governo, costurar "por dentro", como ela mesma diz, num momento de comoção partidária em que alguns integrantes do PT deixaram o partido, a exemplo de Plínio.

"Ele parece mais petista que a Dilma", afirma integrante da campanha de Marina. "Se não é combinado, a Dilma agradece".

O curioso é que sobre a campanha de Marina também já pairou a suspeita de ter se associado ao PT. Aos 52 anos, seria o suicídio político da senadora verde Marina Silva, segundo acreditam seus mais fiéis aliados.

As perspectivas do governador Antonio Anastasia às eleições em Minas Gerais já não são as mesmas. Pela segunda rodada consecutiva, ele permaneceu parado na faixa dos 16% das intenções de voto, segundo o Datafolha. Ainda há confiança na capacidade do ex-governador Aécio Neves de transferir votos para o vice que deixou em seu lugar no Palácio da Liberdade. Mas já se tem como certo que a eleição mineira não será o passeio aecista que chegou a ser previsto por analistas.

O principal erro de Aécio teria sido a parceria com Itamar Franco (PPS) que está na frente para o Senado mas não dá voto para Anastasia. Talvez melhor fosse reeditar a aliança com o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT). Com a decisão de Hélio Costa e Patrus Ananias de dividirem a chapa e as responsabilidades - "Dois nomes, um só governo" -, o PT em massa estaria se movendo na direção da chapa PMDB-PT, que abjurava.


Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Chico Pinheiro & Grupo - Chega de Saudade - Som Brasil - Vinícius

Serra afaga PMDB e recebe apoios

DEU NA ZERO HORA (RS)

Em lançamento de movimento suprapartidário, tucano critica petistas e por pouco não esquece de pedir votos para Yeda

Preocupado em garantir apoio da maior legenda do Estado, coligada com a sua principal adversária na disputa presidencial, o candidato tucano José Serra fez afagos ontem no PMDB gaúcho durante a criação de um movimento suprapartidário. No encontro, repleto de prefeitos, Serra recebeu apoio de líderes de várias siglas, elogiou peemedebistas e classificou o PP do Rio Grande do Sul como o melhor do Brasil.

Recepcionado pela governadora Yeda Crusius (PSDB), candidata à reeleição, Serra por pouco não esqueceu de mencioná-la entre suas preferências eleitorais. A gafe em potencial foi evitada pelo auxílio da plateia.

Vamos sair daqui soprando para todo lado. Isso vale para eleger a Ana Amélia (candidata ao Senado pelo PP), vale para eleger o Rigotto (candidato ao Senado pelo PMDB). Eu paro por aí. Espero não ter cometido nenhuma coisa indevida disse, para em seguida complementar, diante do sopro da plateia, que dizia e a Yeda? E a Yeda?:

Ah, a Yeda. Vocês sabem que tem o meu partido com a Yeda, que é uma grande candidata, uma grande governadora. E tem o PMDB com o Fogaça, que é um grande homem. Um desses dois vai governar o Rio Grande, sem dúvida nenhuma.

Tucano esteve em fábrica de calçados em Novo Hamburgo

Serra chegou domingo à noite ao Estado para um roteiro em Porto Alegre e Novo Hamburgo. No Vale do Sinos, visitou uma fábrica de calçados. De volta à Capital, teve encontro com empresários da Fiergs.

O tucano fez questão de distribuir elogios. Aos trabalhistas, disse que havia aprendido a falar no rádio com o ex-governador Leonel Brizola. Citou, além disso, o ex-presidente João Goulart, a quem classificou como bom caráter. Serra também elogiou os colonos gaúchos que desbravaram o Brasil e garantiu que dará um tratamento diferente ao Estado em relação a políticas de investimento.

Não sou de fazer promessa, sou de anunciar: nós vamos virar essa página na história de marginalização do Rio Grande com relação à economia nacional disse.

Antes do encontro, Yeda disse que queria Serra como presidente e que não era ciumenta, referindo-se ao fato de o tucano manifestar apoio tanto a ela quanto a Fogaça. A governadora, porém, não se esquivou de comentar a indecisão do candidato do PSDB:

Gente, cada um tem o seu palanque. Mas o meu é firme, já disse para vocês que o meu é firme.

Em Novo Hamburgo, Serra se disse solidário com os empresários do setor calçadista. E adiantou que analisará a concorrência desleal de países como a China, que prejudicam a produção local e trazem prejuízos à indústria.

Esta região não precisa de favores do governo, mas também não precisa de hostilidade. O governo precisa ter uma posição firme resumiu.

*Colaborou Letícia Barbieri
FLÁVIO ILHA*

Pesquisa senado: Rio, Minas e Brasília

De São Paulo - Pesquisa Datafolha feita entre os dias 9 e 12 de agosto no Rio de Janeiro mostra que o senador Marcelo Crivella (PRB) continua o líder na disputa, mas vê sua vantagem em relação ao segundo colocado diminuir. Segundo o Datafolha, Crivella tem 40% das intenções de voto ( 42% em julho). Em segundo lugar está o ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM), com 33% (31% no levantamento anterior). A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais. Em terceiro lugar está Lindberg Farias (PT), ex-prefeito de Nova Iguaçu. O petista aparece com 22% das intenções de voto (20% da pesquisa anterior).

Jorge Picciani (PMDB) aparece em quarto lugar, com 14% das intenções. Foram ouvidos 1.246 eleitores em 29 cidades do Estado do Rio de Janeiro. Está registrada no TSE sob o número 22769/2010.

Em Minas, o ex-governador Aécio Neves (PSDB) ampliou sua vantagem e tem o melhor desempenho entre os candidatos pesquisados pelo Datafolha, com 68% das intenções de voto. Em segundo lugar aparece o ex-presidente Itamar Franco (PPS), com 47%. Fernando Pimentel (PT), ex-prefeito de Belo Horizonte, tem 20% e continua em terceiro. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. Foram ouvidos 1.264 eleitores de 51 cidades mineiras. A pesquisa está registrada no TSE sob o número 22754/2010.

No Distrito Federal, o Datafolha mostra que o senador Cristovam Buarque (PDT) lidera com folga a disputa por uma das duas vagas. O deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB) e Maria de Lourdes Abadia (PSDB) estão empatados tecnicamente em segundo lugar.

Cristovam Buarque tem 44% das intenções de voto. Ele oscilou positivamente dentro da margem de erro da pesquisa, que é de quatro pontos percentuais (o senador tinha 42% em julho).

Rollemberg, que tinha 28%, também oscilou dois pontos para cima e agora aparece com 30%. Abadia cresceu seis pontos e passou de 23% para 29%. Foram ouvidos 701 eleitores. A pesquisa está registrada no TSE sob o número 22752/2010. Os contratantes são a "Folha de S. Paulo" e a Rede Globo.

Para políticos e marqueteiros, campanha agora é a 'que vale'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Desde os anos 70 a força da TV é força decisiva.Fala dos candidatos devem entrar em 27 milhões de casas

Gabriel Manzano

Durante 39 dias "úteis", de hoje a 30 de setembro, acontece, no dizer de políticos e marqueteiros, "a campanha eleitoral que vale" - a da televisão. Nas contas do Programa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) de 2008, ela pode chegar a 54,7 milhões de domicílios - os 89% do total do País onde há uma TV instalada. Como esses programas conseguem manter ligados, em média, cerca de 50% de aparelhos, pode-se dizer que as mensagens dos candidatos podem entrar, todo dia, em algo como 27 milhões de casas. "Podem" porque em 8,2 milhões deles também há TV paga.

Essa força toda vem de longe - nos anos 70, a TV podia não ter o mesmo peso de hoje, mas já era decisiva. Por isso ninguém se surpreendeu quando, em 1976, a ditadura baixou a lei 6.339, dita Lei Falcão - que resumia a propaganda a uma rápida mensagem com nome do candidato, seu partido, o número de registro e uma pequena foto. A ideia dos quartéis, claro, era impedir a circulação de ideias perigosas.

Sorte de Gilberto Kassab (DEM)que isso seja coisa do passado. Trinta anos depois, em plena democracia, ele saltou de 14% nas pesquisas, no início da campanha para a Prefeitura de São Paulo, em 2008, para a vitória no primeiro turno contra Marta Suplicy e Geraldo Alckmin, chegando a 60,7% dos votos contra Marta no segundo.

A força da TV deixou marcas profundas também em 1989. Em três meses o desconhecido Fernando Collor se transformou em celebridade nacional, bateu nas urnas mitos como Leonel Brizola e Ulysses Guimarães, e à custa de uma denúncia no programa eleitoral derrubou o rival Luiz Inácio Lula da Silva. Collor apresentou ao País Míriam Cordeiro, que revelou ao País a existência de uma filha do petista com ela. Outra virada histórica foi a de Mário Covas, em 1998. Saindo atrás de Paulo Maluf, ele virou a disputa em um único debate, nas vésperas da eleição, levando o rival às cordas numa discussã0 sobre ética na política. Outro exemplo célebre foi o de Enéas, do Prona. Com apenas um minuto de tempo, dizia uma frase rápida e bradava "Meu nome é Enéas!", em 1994. Ficou em terceiro na briga pela Presidência, atrás de FHC e Lula, com 4,7 milhões de votos.

Um estudioso do assunto, o advogado Everson Tobaruela, divide-o em quatro fases marcantes. Primeiro, "um tempo de ampla liberdade", antes de 1964. Depois, o regime militar, que controlou tudo por 21 anos. O terceiro momento foi a volta da liberdade, com a Constituição de 88 e a Lei 9.504, de 1997. E a quarta etapa, com a Lei 11.300, de 2006.

Segundo ele, "um período castrense civil" marcado por "avanços indevidos da Justiça eleitoral", que "impede na prática a divulgação das ideias partidárias".

Serra tem prontos comerciais em que ataca petista e afirma que ela trará "radicais"

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Catia Seabra

DE SÃO PAULO - O comando da campanha de José Serra (PSDB) produziu artilharia pesada contra a adversária e hoje líder nas pesquisas, Dilma Rousseff (PT). O comitê de Serra tem prontos um jingle de rádio e um comercial de TV, para ataque contra a petista.

Dedicado ao eleitor nordestino, o jingle cita o ex-ministro José Dirceu. Em ritmo de forró, diz que o governo Lula vai acabar e Dilma trará de volta o ex-ministro da Casa Civil e os "radicais".

Concluído nesta semana, o comercial de TV lança dúvidas sobre a capacidade administrativa da ex-ministra. Na peça, uma apresentadora lista medidas encampadas por Serra, como os genéricos e a luta contra a Aids.

Ao mostrar o rosto de Dilma, pergunta se o eleitor lembra algo que ela tenha feito de benéfico. E conclui dizendo algo como "Serra é certeza. Dilma é dúvida" (o texto ainda estava sendo trabalhado nos últimos dias).

Reservadas para rádio e para as inserções comerciais, as críticas mais ácidas podem ir ao ar nos próximos dias, mas devem ficar longe do programa de estreia.

O programa, que vai ao ar hoje, será destinado à apresentação do candidato em contato com o povo e dizendo que seu foco são pessoas.

Na tentativa de mostrar sensibilidade social, Serra apresentará quatro beneficiários de políticas públicas defendidas por ele, na Paraíba, em Minas e no Maranhão.

Nesse esforço de humanização do candidato, o tucano transitará por cerca de 30 silhuetas de pessoas. Então, dançará "puladinho", num cenário que reproduz um churrasco numa laje, ao som de "quando o Lula da Silva sair, é o Zé que eu quero lá". Por fim, aparecerá jogando futebol com crianças.

Em ritmo de pagode, o novo jingle bate na tecla de que Lula não é mais o presidente: "Para o Brasil seguir em frente, sai o Silva e entra o Zé".

Como o uso do primeiro nome e a opção pela manga da camisa arregaçada, dando ideia de dinamismo, fizeram parte da campanha de Geraldo Alckmin em 2006, a repetição da fórmula tem causado apreensão no tucanato. Ontem, líderes do PSDB insistiam para que Serra fosse, desde já, mais agressivo.

DÚVIDA

A dúvida sobre a capacidade de Dilma e a exaltação da biografia de Serra estarão nas inserções. A cargo do publicitário Átila Francucci, serão reduzidas, em sua maioria, a 15 segundos.

Com menor tempo de TV, o comitê Serra investe na ideia de volume, dividindo os 30 segundos convencionais à metade. Com isso, o número de aparições passa dos 3,5 diários para 5 ou 6.

Para garantir maior presença, Serra deverá ocupar ainda o tempo dedicado às inserções dos candidatos a deputados. Em São Paulo, protagonizará todas as inserções, pedindo voto no 45.

A intenção é ocupar ao menos um terço do tempo destinado aos deputados nos outros Estados. Serra também terá aparições no programa dos candidatos a senador.

TIROTEIO

DEU NA FOLHA DE S. PAULO / PAINEL

"O inchaço da máquina se dá desde o primeiro dia deste governo. O presidente criou um Estado para abrigar apadrinhados."

DO PRESIDENTE DO PPS, Roberto Freire (SP), sobre o aumento no número de funcionários contratados sem concurso público ao longo dos mandatos de Lula.

Falso argumento

DEU EM O GLOBO

EFICIENTE TERMÔMETRO do aparelhamento da máquina pública é o preenchimento de cargos ditos de confiança: Lula ampliou este quadro e fez 21 mil nomeações.

O GOVERNO se defende com o argumento de que boa parte dos nomeados é de servidores concursados.

SERIA UMA boa defesa se um dos mais próximos aliados do Planalto não fossem corporações sindicais de servidores públicos.

Hora de tentar emocionar os eleitores

DEU EM O GLOBO

Para especialistas, candidatos devem aproveitar o horário eleitoral, que começa hoje, com estratégias diferentes

Fábio Vasconcellos

O horário eleitoral na televisão, que começa hoje, será um dos maiores desafios para os dois principais candidatos à Presidência, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Na avaliação de especialistas, apesar de estar à frente nas pesquisas, Dilma terá de se apresentar como capaz de lidar com as tensões do mundo político, e Serra precisa deixar clara sua posição em relação ao governo Lula. Marina Silva (PV) está mais à vontade, mas terá de discutir propostas de outras áreas, além da ambiental.

O problema da Dilma está em apresentar-se como liderança capaz de ter jogo de cintura para enfrentar o embate político depois das eleições. Capacidade administrativa ela tem. O problema é como enfrentar as feras que vai encontrar pela frente no governo, se for eleita.

Já o problema do Serra é que ele tem um viés para a esquerda na sua história, o que seria muito próximo ao Lula. Portanto, ele tem de decidir se é ou não oposição. Isso não está claro avalia o cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Candidatos devem mostrar compaixão pelos pobres Cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, André Marenco tem opinião semelhante. Para ele, logo após o primeiro debate na televisão entre os presidenciáveis, ficou claro que o problema para Serra é se posicionar em relação a um governo amplamente aprovado, e, para Dilma, mostrar habilidade política.

Os candidatos terão também de emocionar os eleitores.

A emoção é considerada um dos fatores que interferem na tomada de decisão do voto. Para Dilma e Serra, que apresentam perfis mais técnicos, há algumas saídas para despertá-la, segundo pesquisadores.

Sociólogo e cientista político, o presidente do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), Antonio Lavareda, argumenta que, embora Lula não participe como candidato este ano, há um tipo de emoção que está presente e que deverá ser explorada, sobretudo, por Dilma.

Não há a figura de um candidato carismático nestas eleições.

Mas, embora Lula não seja candidato, há uma emoção conectada a ele, que é a gratidão, sobretudo entre os mais pobres.

Qualquer candidato, numa sociedade com o perfil do eleitorado brasileiro, precisa mostrar compaixão pelos mais pobres.

Nessa direção, a candidata Dilma vai usar à exaustão, provavelmente, os programas sociais afirma Lavareda, que lançou recentemente o livro Emoções ocultas e estratégias eleitorais.

Na avaliação do presidente do Ipespe, a campanha na TV deverá se organizar em torno de emoções positivas e negativas.

Dilma tentará despertar emoções positivas com as realizações do governo, e negativas levantando a possibilidade de interrupção dos programas sociais, caso não seja eleita.

As emoções positivas do programa de Serra deverão ser as que mostrem suas realizações como ministro, prefeito e governador, e seus planos futuros.

Com relação às emoções negativas, a estratégia deverá ser mostrar para os eleitores que Dilma não é Lula diz Lavareda.

Ansiedade será buscada tanto quanto a satisfação Marcus Figueiredo observa que as emoções ligadas à ansiedade e à satisfação podem afetar a escolha dos eleitores. Segundo ele, nos programas eleitorais no rádio e na TV, o público pode ser incentivado a sentir satisfação com as conquistas presentes e futuras ou medo, com o risco de perdê-las: Serra e Dilma vão usar a emoção para conquistar adesões.

Eles deverão utilizar duas estratégias: despertar o sentimento de satisfação, que é positivo e leva os eleitores a apoiá-los, ou produzir ansiedade, que leva ao medo e produz um estado de rejeição com relação ao adversário.

Mas para o eleitor mudar o voto é necessário que um dos candidatos tente reduzir ou acabar com a ansiedade.

Serra: 'picaretas' hoje estão com Dilma

DEU EM O GLOBO

Tucano lembra declaração dada por Lula em 1993 sobre Congresso e critica ainda apadrinhamento em estatais

João Guedes e Chico Luz

PORTO ALEGRE e NOVO HAMBURGO (RS). Durante o lançamento de um movimento suprapartidário de apoio à sua candidatura em Porto Alegre, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, lembrou, para alfinetar a presidenciável petista, Dilma Rousseff, uma famosa frase do presidente Lula. Serra ironizou a maioria governista na Câmara, mencionando sentença de Lula, que, em 1993, disse que o Congresso tinha 300 picaretas.

Eu não sou daqueles que dizem que o Congresso tem 300 vigaristas ou picaretas. Teve alguém que disse isso. Hoje estão todos com a outra candidata.

O comentário foi feito quando Serra criticava concessão de cargos em estatais a apadrinhados: Os Correios foram privatizados.

Sua diretoria não serve aos Correios, mas a partidos e setores de partidos. Nunca o patrimonialismo e a fisiologia avançaram tanto. Nunca o governo foi tão usado para fins privados como é hoje no Brasil.

Serra foi recebido numa churrascaria na capital gaúcha por militantes, vereadores, prefeitos e deputados de PSDB, DEM, PPS, PP, DEM, PTB e PMDB, que lançaram o grupo suprapartidário Gaúchos com Serra.

Depois, Serra foi a Novo Hamburgo, tradicional polo coureirocalçadista, onde visitou uma fábrica de calçados e deu entrevista a uma rádio e a um jornal.

Ao falar sobre carga tributária a empresários, o tucano defendeu redução dos gastos públicos para que os impostos caiam e voltou a alfinetar Dilma: A desoneração tributária pedida aqui tem a ver com os gastos públicos, que estão crescendo demais. Dilma diz que a carga atual é boa, mas não é: é muito alta. É a maior entre todos os emergentes disse, antes de criticar a taxa de câmbio. A taxa de câmbio nos faz perder combatividade. Ela estimula o Brasil a importar, não a exportar, e o setor coureiro-calçadista sofre com essas condições macroeconômicas.

O tucano, porém, afirmou que o câmbio deve continuar flutuante, mas de verdade.

Na entrevista, Serra disse que o governo Lula se recusa a fazer concessões com a parceria privada e que por isso o setor aeroportuário está paralisado.

Tucano desafia petista

DEU EM O GLOBO

João Guedes

"O que ela fez em matéria de distribuição de medicamentos?"

PORTO ALEGRE. No mesmo dia em que a candidata petista, Dilma Rousseff, anunciou pontos da política para medicamentos de seu programa de governo, o presidenciável tucano, José Serra, desafiou a adversária: Eu gostaria de fazer um desafio e vou fazer, se possível, todos os dias: o que ela fez na vida, em matéria de distribuição de medicamentos? E posso falar em relação a isso de muitas coisas da vida pública.

Serra enumerou ações ligadas a medicamentos em suas gestões na prefeitura paulistana, no governo de São Paulo e no Ministério da Saúde, garantindo ter triplicado a distribuição gratuita de remédios quando estava à frente da pasta, no governo Fernando Henrique Cardoso.

O que estamos vendo é a candidata do PT fazendo propostas a respeito de medicamentos de maneira curiosa. Ela não fez em oito anos de governo. Não entendo por que levou oito anos sem fazer e agora, por questões eleitorais, aparece com propostas.

O Sindicalista conta tudo: grupo fez trabalho sujo para Lula e conseguiu culpar Serra

DEU NA VEJA

Mais um sindicalista decidiu revelar os porões do PT. A VEJA desta semana traz uma reportagem de Policarpo Junior e Otávio Cabral sobre a atuação de um grupo de sindicalistas que produzia dossiês para a campanha do PT em 2002. Um de seus expoentes era Wagner Cinchetto, que concedeu uma entrevista estarrecedora à revista. O mais espantoso é que Cinchetto não se diz santo, não. Ele confessa, por exemplo: “Eu e o Medeiros (Luiz Antônio de Medeiros, ex-dirigente da Força Sindical) trabalhávamos para o Collor e participamos da produção daquele depoimento fajuto da ex-namorada do Lula.” Isso foi em 1989.

Em 2002, ele já estava trabalhando para o PT. O mais surpreendente de sua confissão: o objetivo era atingir todos os inimigos de Lula naquela ano e jogar a culpa nas costas do tucano José Serra. E assim se fez. E assim noticiou a imprensa! A ação mais vistosa, revela o sindicalista, foi o caso Lunus, a operação da Polícia Federal que recolheu na sede da empresa do marido de Roseana Sarney a bolada de R$ 1,34 milhão em dinheiro vivo. José Sarney sempre acusou Serra de estar metido na operação, e isso foi determinante na sua aliança com… Lula — que era, na prática, o chefão dogrupo que havia destruído a chance de a filha se candidatar à Presidência. Outro alvo dos petistas foi Ciro Gomes — na verdade, seu então candidato a vice, Paulo Pereira da Silva, que também tinha a certeza de que estava sendo alvo de… Serra!

Segundo Cinchetto, Lula sempre soube de tudo. No comando da operação, ele informa, estavam Ricardo Berzoini e Luiz Marinho, hoje presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Leiam a entrevista:


Qual era o objetivo do grupo?

A idéia era atacar primeiro. Eu lembro do momento em que o Ciro Gomes começou a avançar nas pesquisas. Despontava como um dos favoritos. Decidimos, então, fazer um trabalho em cima dele, centrado em seu ponto mais fraco, que era o candidato a vice da sua chapa, o Paulinho da Força. Eu trabalhava para a CUT e já tinha feito um imenso dossiê sobre o deputado. Já tinha levantado documentos que mostravam desvios de dinheiro público, convênios ilegais assinados entre a Força Sindical e o governo e indícios de que ele tinha um patrimônio incompatível com sua renda. O dossiê era trabalho de profissional.

Os dossiês que vocês produziam serviam para quê?

Fotografamos até uma fazenda que o Paulinho comprou no interior de São Paulo, os documentos de cartório, a história verdadeira da transação. Foi preparada uma armadilha para “vender” o dossiê ao Paulinho e registrar o momento da compra, mas ele não caiu. Simultaneamente, ligávamos para o Ciro para ameaçá-lo, tentar desestabilizá-lo emocionalmente. O pessoal dizia que ele perderia o controle. Por fim, fizemos as denúncias chegarem à imprensa. A candidatura Ciro foi sendo minada aos poucos. O mais curioso é que ele achava que isso era coisa dos tucanos, do pessoal do Serra.

Isso também fazia parte do plano?

Como os documentos que a gente tinha vinham de processos internos do governo, a relação era mais ou menos óbvia. Também se dizia que o Ciro tirava votos do Serra. Portanto, a conclusão era lógica: o material vinha do governo, os tucanos seriam os mais interessados em detonar o Ciro, logo… No caso da invasão da Lunus, que fulminou a candidatura da Roseana, aconteceu a mesma coisa.

Vocês se envolveram no caso Lunus?

A Roseana saiu do páreo depois de urna operação sobre a qual até hoje existe muito mistério. Mas de uma coisa eu posso te dar certeza: o nosso grupo sabia da operação, sabia dos prováveis resultados, torcia por eles e interveio diretamente para que aparecessem no caso apenas as impressões digitais dos tucanos. Havia alguém do nosso grupo dentro da operação. Não sei quem era a pessoa, mas posso assegurar: soubemos que a candidatura da Roseana seria destruída com uns três dias de antecedência. Houve muita festa quando isso aconteceu.

Nunca se falou antes da participação do PT nesse caso…

O grupo sabia que o golpe final iria acontecer, e houve uma grande comemoração quando aconteceu. Aquela situação da Roseana caiu como uma luva. Ao mesmo tempo em que o PT se livrava de uma adversária de peso, agia para rachar a base aliada dos adversários… Até hoje todo mundo acha que os tucanos planejaram tudo. Mas o PT estava nessa.

Quem traçava essas estratégias?

O grupo era formado por pessoas que têm uma longa militância política. Todas com experiência nesse submundo sindical, principalmente dos bancários e metalúrgicos. Não havia um chefe propriamente dito. Quem dava a palavra final às vezes eram o Berzoini e o Luiz Marinho (atual prefeito de São Bernardo do Campo). Basicamente, nos reuníamos e discutíamos estratégias com a premissa de que era preciso sempre atacar antes.

O então candidato Lula sabia alguma coisa sobre a atividade de vocês?

Lula sabia de tudo e deu autorização para o trabalho. Talvez desconhecesse os detalhes, mas sabia do funcionamento do grupo. O Bargas funcionava como elo entre nós e o candidato. Eu ajudei a minar a campanha do Lula em 1989, com aquela história da Lurian. Eu e o Medeiros (Luiz Antônio de Medeiros, ex-dirigente da Força Sindical) trabalhávamos para o Collor e participamos da produção daquele depoimento fajuto da ex-namorada do Lula. O grupo se preparou para evitar que ações como aquelas pudessem se repetir - e fomos bem-sucedidos.

De onde vinham os recursos para financiar os dossiês?

Posso te responder, sem sombra de dúvida, que vinham do movimento sindical, principalmente da CUT. Se precisava de carro, tinha carro. Se precisava de viagem, tinha viagem. Se precisava deslocar… Não faltavam recursos para as operações. Quando eu precisava de dinheiro, entrava em contato com o Carlos Alberto Grana (ex-tesoureiro da CUT), o Bargas ou o Marinho.

Quem mais foi alvo do seu grupo?

O plano era gerar uma polarização entre o Serra e o Lula. Por isso se trabalhou intensamente para inviabilizar a candidatura do Garotinho, que também podia atrapalhar. Não sei se o documento do SNI que ligava o vice de Garotinho à ditadura saiu do nosso grupo, mas posso afirmar que a estratégia de potencializar a notícia foi executada. O Garotinho deixou de ser um estorvo. E teve o dossiê contra o próprio Serra. Um funcionário do Banco do Brasil nos entregou documentos de um empréstimo supostamente irregular que beneficiaria uma pessoa ligada ao tucano. Tudo isso foi divulgado com muito estardalhaço, sem que ninguém desconfiasse que o PT estava por trás.

Dados de tucano teriam ido para arapongas

DEU EM O GLOBO

Além de Antônia, Receita suspeita de envolvimento de mais dois servidores no vazamento do sigilo de Eduardo Jorge

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. A Corregedoria da Receita Federal poderá indiciar três servidores do órgão pela violação do sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge. Além da exchefe da unidade da Receita em Mauá Antônia Aparecida dos Santos Neves, a Receita suspeita do envolvimento de mais dois servidores. Numa hipótese considerada ainda mais grave, os investigadores suspeitam que os dados fiscais do tucano possam ter sido vendidos no mercado clandestino da comunidade de informações, como informou ao GLOBO uma fonte que está acompanhando de perto as investigações da Receita.

A comunidade é formada por grupos de arapongas e ex-arapongas profissionais que transitam numa área cinzenta entre o público e o privado em busca de informações de valor político ou financeiro. Em depoimento à Polícia Federal, Eduardo Jorge disse que os dados fiscais estariam em poder da equipe de inteligência da pré-campanha da candidata à Presidência da República Dilma Rousseff (PT). O tucano disse que recebeu a informação de um repórter do jornal Folha de S.Paulo.

O PT nega qualquer vínculo com o suposto dossiê contra Eduardo Jorge.

Os dois novos alvos da suspeita são servidores da Receita em Mauá. Eles eram subordinados a Antônia Aparecida.

Em depoimento à Corregedoria, Antônia disse que forneceu senha e cartão de certificado digital para que os dois fizessem pesquisas especiais no sistema da Receita. Ela alegou que esse tipo de procedimento era comum. Como chefe, ela tinha senha e cartão digital com alcance maior que o dos subordinados.

Os investigadores suspeitam que, a partir daí, os dois (ou um deles) venderam os dados a integrantes da comunidade de informações. Os dois novos suspeitos já foram interrogados. Os investigadores ainda não sabem se os três agiram em comum acordo ou se a chefe foi traída por um ou pelos dois auxiliares.

Indiciamento deve ocorrer em até duas semanas Os três devem ser indiciados em até duas semanas. Pelas informações recolhidas até o momento, os investigadores entendem que Antônia pode ser indiciada por acesso imotivado.

A punição para este tipo de infração é a suspensão.

Mas, se até o fim da apuração se comprovar conluio para vazamento de dados, a analista tributária pode ser indiciada também por quebra de sigilo, mesmo crime que está sendo imputado aos outros dois servidores. Um dos suspeitos seria um funcionário do Serpro, cedido à Receita. O outro é um servidor da administração da instituição. A partir das conclusões, a Receita deve enviar os autos ao Ministério Público, para ele tomar as providências no âmbito das investigações criminais

Aliado de Garotinho denuncia Cabral ao Ministério Público

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Candidato do PR acusa mulher do governador do Rio de tráfico de influência no caso Oi/Telemar

Felipe Werneck / RIO

O candidato do PR ao governo do Rio, Fernando Peregrino, protocolou ontem no Ministério Público do Rio um pedido de investigação sobre o cancelamento, pelo governo do Estado, de multas aplicadas pelo Procon à empresa de telefonia Oi/Telemar "no valor de R$ 836 milhões".

Apoiado pelo ex-governador Anthony Garotinho, presidente regional do PR e candidato a deputado, Peregrino acusou de tráfico de influência a mulher do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), Adriana Ancelmo Cabral, apontada como advogada da empresa de telefonia.

"Para quem não sabe, a esposa de Cabral trabalha no escritório que presta serviços de advocacia à operadora de telefonia, além da Supervia e do Metrô Rio (concessionárias de transporte no Estado). Os interesses de Cabral são coincidentes com os da empresa e não com os da população", afirmou Peregrino, que havia levantado o assunto no debate da TV Bandeirantes, na quinta-feira.

A resposta de Cabral veio da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), que divulgou uma nota para afirmar que as multas, aplicadas no governo anterior, de Rosinha Garotinho, eram indevidas. "O Procon, ainda no governo anterior, aplicou multas a várias empresas no teto máximo, sem observar a proporcionalidade entre a gravidade da ofensa ao consumidor e o valor da sanção. Esse problema foi detectado pela PGE ainda no governo anterior, que suspendeu a cobrança dessas multas irregulares."

De acordo com a Procuradoria, as multas aplicadas na época à Telemar (atual Oi) "não relacionavam a gravidade da infração cometida pela empresa ao valor cobrado". "Os valores definidos para o pagamento eram padronizados pelo teto máximo permitido pelo Código de Defesa do Consumidor, independente da gravidade dos casos."

Segundo a nota, por conta da falha foram canceladas 98 certidões de dívida ativa da Telemar, além de multas aplicadas a outras empresas. A nota prossegue informando que, na atual gestão, as multas foram canceladas. "O governo do Estado esclarece ainda que a cobrança da dívida ativa e o cancelamento de inscrições são de competência do procurador-geral do Estado, que tem autonomia para tanto, sem que os casos sejam submetidos à apreciação do governador."

À noite, o escritório Coelho, Ancelmo & Dourado Advogados informou que possui um contrato com a Oi na área trabalhista, mas que não atuou no caso da Telemar. Os sócios acrescentaram que "em deferência a Adriana e a pedido dela, por princípio o escritório não advoga contra o Estado nem atua em ação na qual o Estado tenha interesse". "Não interferimos nem atuamos em nada que diga respeito ao Estado."

A Oi informou que "não discute assunto oriundo de debate político". O Ministério Público alegou que só daria informações sobre a representação entregue pelo candidato do PR após sua distribuição, o que não havia ocorrido até o fim da tarde de ontem.

Muletas

Sérgio Cabral (PMDB) seria submetido ontem à noite, no Hospital Copa D"Or, a uma cirurgia no joelho. Nas próximas semanas ele terá de usar muletas para ajudar em sua locomoção.

Roseana vira alvo do Ministério Público

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Procurador-geral da República recebe pedido para investigação sobre as suspeitas de lavagem de dinheiro por parte da governadora do Maranhão

Leandro Colon / BRASÍLIA

O procurador da República Silvio Luís Martins de Oliveira pediu ontem uma investigação sobre as suspeitas de lavagem de dinheiro por parte da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). Um ofício foi enviado por ele ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que chefia o órgão responsável por apurar acusações contra governadores de Estado.

No documento, Silvio de Oliveira, que atua no Ministério Público Federal em São Paulo, aponta que as operações entre Roseana e o Banco Santos - reveladas pelo Estado - são "a princípio, ilícitas". No domingo, o jornal publicou documentos que estão nos arquivos do Banco Santos mostrando que a governadora e o seu marido, Jorge Murad, teriam simulado um empréstimo de R$ 4,5 milhões para resgatar US$ 1,5 milhão que possuíam no exterior. Em entrevista, o administrador judicial do banco, Vânio Aguiar, confirmou que os papéis estão nos arquivos oficiais da instituição bancária.

Silvio de Oliveira é o responsável, entre outras coisas, pela ação criminal contra Edemar Cid Ferreira, ex-dono do Banco Santos e amigo íntimo da família Sarney. Edemar é padrinho de casamento de Roseana e Murad.

O processo sobre o caso do Banco Santos encontra-se parado na Justiça Federal. Condenado a 21 anos de prisão, Edemar recorreu e responde em liberdade. Ele chegou a ser preso. O Banco Santos quebrou em novembro de 2004 e sua falência foi decretada no ano seguinte.

A entrada do Ministério Público Federal no caso pode ajudar a identificar a operação financeira que teria ocorrido no exterior envolvendo a governadora. Segundo e-mails que estão nos arquivos do Banco Santos, os dólares foram transferidos por meio de uma conta do banco suíço UBS, do qual Edemar seria cliente.

O empréstimo de R$ 4,5 milhões foi liberado no Brasil no dia 29 de julho de 2004 e, segundo os documentos, US$ 1,5 milhão foram depositados cinco dias depois numa conta externa. As investigações sobre a falência do Banco Santos mostram que o ex-banqueiro, sem aval para operar oficialmente no exterior, usava offshores laranjas para receber recursos fora do Brasil.

Análise técnica. O dinheiro seria usado para a empresa Bel-Sul Participações, de Roseana e Murad, comprar ações em um shopping em São Luís e outro no Rio. A transação envolveu ainda mais um aliado da família Sarney: Miguel Ethel Sobrinho, ex-presidente da Caixa Econômica no governo de José Sarney e, até o ano passado, conselheiro da fundação que leva o nome do presidente do Senado.

Ontem, o Estado mostrou que o empréstimo foi regularizado no Brasil poucos dias antes da intervenção judicial no Banco Santos, em 12 de novembro de 2004. O dinheiro foi liberado no dia 29 de julho daquele ano, mas só em 5 de novembro - uma semana antes da quebra do banco e da decretação da intervenção - as garantias foram registradas, conforme certidões obtidas pela reportagem num cartório de São Paulo.

Roseana nega as suspeitas sobre lavagem de dinheiro e afirma que o empréstimo foi regular no Brasil. Seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, minimizou a iniciativa do Ministério Público. "Embora eu ache que não há indícios para abertura de investigação, é sempre bom que haja uma análise técnica, já que os empréstimos são regulares."

BB e Caixa privilegiam dez empresas

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Grandes credores detêm 10% do crédito, taxa acima dos bancos privados; concentração aumentou a partir de 2008

Petrobras fica com 4% dos recursos da Caixa, com dívida de R$ 6 bi; BB diz que número está abaixo de regra do BC

Eduardo Cucolo

DE BRASÍLIA - Os dois maiores bancos federais destinam cerca de 10% dos empréstimos para dez empresas, uma concentração acima da verificada no setor privado.

A Caixa Econômica Federal, por exemplo, direciona quase 4% de todos os seus recursos para uma única empresa, a Petrobras. Antes da piora na crise financeira de setembro de 2008, o principal devedor do banco ficava com menos de 1%, mesmo patamar de hoje nos grandes bancos privados.

O aumento nesse período se deve a dois empréstimos no valor de R$ 2 bi, feitos no final de 2008 e em junho deste ano, à empresa estatal, que possui hoje dívida de quase R$ 6 bi no banco. Nos dois maiores privados, o maior devedor tem empréstimos pouco acima de R$ 2 bi.

O balanço da Caixa mostra que os dez maiores devedores do banco respondiam por 10% da sua carteira em junho deste ano, mais que os 4,4% verificados antes da crise. Em termos absolutos, o valor está pouco acima do verificado no setor privado, pois a carteira da Caixa é menor.

O Banco do Brasil, mesmo antes da crise, já possuía uma concentração alta de recursos em uma única empresa. Hoje, o maior devedor tem uma dívida de quase R$ 10 bilhões, cerca de 3% da carteira total. Os dez maiores ficam com quase R$ 30 bilhões, quase o dobro dos maiores bancos privados.

Reportagem da Folha mostrou que duas estatais e dez grupos privados ficaram com grande parte do crédito do BNDES desde 2008. Segundo o banco, 28% do crédito foi para os dez maiores clientes.

Caixa e BB negam política para privilegiar poucas empresas, atribuem o aumento de concentração à crise e dizem que isso não prejudicou companhias de menor porte.

"As pequenas empresas têm a sua demanda de crédito atendida, dentro da análise de risco", disse o vice-presidente de controle e risco da Caixa, Marcos Vasconcelos.

Segundo ele, os empréstimos à Petrobras foram baseados em critérios técnicos, com taxas de mercado, e não há problema em ter operações concentradas em uma empresa com uma das melhores classificações de risco.

Vasconcelos disse também que a Caixa possuía uma carteira de crédito para pessoas jurídicas incipiente até 2007 e que, após o primeiro empréstimo à Petrobras, outras grandes empresas passaram a procurar a instituição. Além disso, diz, os recursos emprestados foram captados no mercado.

O diretor de Crédito do BB, Walter Malieni, diz que os percentuais de concentração estão abaixo do fixado pelo BC, mesmo no caso de empresas que tiveram os limites elevados nos últimos anos.

Segundo Luiz Miguel Santacreu, da Austin Rating, concentração não é saudável. "Todo mundo trabalha com Petrobras, mas não nessa magnitude."

Transporte: 37 milhões não têm dinheiro da passagem

DEU EM O GLOBO

Toda semana, pelo menos 37 milhões de brasileiros ficam sem o dinheiro da passagem para voltar para casa. Os números são da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos. Diante dos bilhetes caros e do orçamento apertado, são comuns histórias de quem tem de buscar abrigo na rua, enfrentando frio e insegurança. Para a população de baixa renda, uma passagem diária: de R$ 5,50 pode inviabilizar as contas do mês. Especialistas cobram investimentos no setor. O transporte público é responsável pelo deslocamento diário de 59 milhões de pessoas. Os ônibus respondem por 92% da demanda e movimentam R$ 25 bilhões por ano.

O preço da volta para casa

País tem 37 milhões de pessoas que não têm dinheiro para pagar passagem regularmente

Marcelo Remígio


Madrugada no Parque São José, bairro da periferia de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Às 4h30m, o operário da construção civil Lincoln Key Taíra, 49 anos, tira do bolso R$ 5,50 para a passagem de ônibus. Ao sair de casa com destino ao trabalho, Taíra não tem a certeza de voltar para casa à noite, abraçar a mulher e os quatro filhos. Quando não consegue o dinheiro para pagar a tarifa, resta a ele procurar um lugar para dormir. Para não ficar na rua, Taíra recorre à calçada do Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio, como abrigo.

O morador de Belford Roxo é um dos 37 milhões de brasileiros que, semanalmente, não podem usar o transporte público de forma regular, por não terem como pagar a tarifa ou, simplesmente, como forma de economizar.

A estatística é da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) e tem como base estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Temos as tarifas de ônibus mais caras de toda a História, pesando cada vez mais no orçamento.

Não é uma exclusividade do Rio, é praticamente em todo o país afirma Ailton Brasiliense, pesquisador da NTU que se dedica há 35 anos ao estudo dos transportes.

Rotina árdua de ônibus lotados

O caminho entre a casa e o trabalho é longo para Taíra. São cerca de 40 quilômetros até o Centro do Rio que, muitas vezes, transformamse em uma viagem cansativa que supera duas horas.

Além de o ônibus demorar para aparecer, anda sempre cheio e, quando chega na Avenida Brasil (uma das principais ligações entre a região central do Rio com a Baixada Fluminense e a Zona Oeste), o trânsito não anda.

O ônibus fica preso no engarrafamento reclama Taíra, que trabalha em uma empreiteira como calceteiro (pedreiro que faz calçadas) e presta serviço para a prefeitura do Rio. Sua jornada no emprego começa às 7h e vai até o fim da tarde. Para não se atrasar, ele sai de casa antes das 5h.

A renda mensal de Taíra é de pouco mais de R$ 1 mil. Ele economiza para garantir a volta para casa. Mas nem sempre consegue. Na madrugada do dia 4, fez do corrimão de acesso ao setor de emergência do Hospital Municipal Souza Aguiar uma cama.

O local, diz ele, é mais seguro, longe da violência, do sereno e do frio.

Hoje não consegui dinheiro.

Também não pedi emprestado disse Taíra, que se orgulha do sobrenome.

Meu filho descobriu, na internet, que meu pai é descendente de samurais japoneses. Herdei a força deles, só não aprendi a lutar brinca.

Segundo a NTU, o transporte público é responsável no Brasil pelo deslocamento diário de 59 milhões de passageiros. Os ônibus detêm 92% da demanda e, afirma Ailton Brasiliense, o serviço pouco difere nas capitais.

Para ele, os baixos investimentos refletem hoje no bolso dos brasileiros.

A falta de corredores exclusivos para ônibus, os engarrafamentos, ruas e estradas ruins, além da falta de planejamento das cidades, que empurraram a população para a periferia obrigando a ter linhas com percursos longos, contribuíram para a tarifa elevada. Como não há investimentos, muitos passageiros deixam de usar o transporte público e compram um carro velho. Ou seja, mais engarrafamentos, poluição e queda na qualidade de vida das cidades, um caos.

O transporte coletivo movimenta R$ 25 bilhões por ano e gera 500 mil empregos diretos. A maioria dos usuários é de baixa renda. Nos últúltimos 12 anos, o sistema regular de transporte perdeu 30% da demanda.

Brasiliense ressalta que a carga tributária responde por 11,6% do valor das tarifas nas capitais, encarecendo o serviço. O pesquisador cita apenas Curitiba, capital do Paraná, como um exemplo de organização no transporte.

Os corredores exclusivos para ônibus começaram a ser planejados e implantados ainda nos anos 1960.

Isso aconteceu quando a cidade tinha apenas 340 mil habitantes.

Taíra não era o único a dormir no Souza Aguiar. Distante poucos metros, dentro do setor de emergência, o ambulante Paulo Gardino, 53 anos, morador na Vila Santo Antônio, em Duque de Caxias, também na Baixada Fluminense, encontrou abrigo. Com uma renda mensal de R$ 600, ele mantém uma rotina noturna de dormir no hospital ou em igrejas evangélicas, que promovem vigílias.

O ambulante tem como hobby a percussão. Toca em igrejas cristãs e participa de gravações de CDs de música gospel de cantores iniciantes.

O trabalho é garantia de reforço no bolso. Gardino conta que sempre foi ambulante. Sua renda não é suficiente para conseguir manter a casa, mulher e quatro filhos. Acaba faltando para o transporte. De segunda a sábado, ele trabalha no Centro do Rio, próximo à Central do Brasil, área de comércio popular e de grande movimentação de pedestres.

Vendo de tudo, mas o que sai mais é refrigerante e água. Gostaria de ir todo dia para casa, mas nem sempre dá diz.

Fã de Roberto Carlos, ele sonha em se dedicar à música: Toco bongô, gosto de música.

Às sextas-feiras à tarde me apresento num culto conta ele, que segue rígidas recomendações de seu pastor, que vão desde ser dizimista a nunca tirar fotos.

Aos sábados, quando volta para casa, o dinheiro economizado com o transporte financia uma pequena felicidade: ele leva os quatro filhos para passear no Parque do Flamengo.

Capitalização da Petrobras a dois dias das eleições

DEU EM O GLOBO

O governo bateu o martelo sobre a capitalização da Petrobras: será feita em 30 de setembro, a dois dias das eleições. Os recursos permitirão à estatal reduzir seu endividamento e investir. Diante de indefinições, a Petrobras vinha perdendo valor de mercado e deixou de ser a principal ação do Ibovespa. O presidente da empresa admitiu problemas na conservação das plataformas.

Capitalização da estatal será em 30 de setembro

Definição do preço do barril da cessão onerosa sairá no dia 31 deste mês. Gabrielli nega problema de caixa

Mônica Tavares, Ramona Ordoñez e Bruno Villas Bôas

BRASÍLIA e RIO. A definição do preço dos até cinco bilhões de barris de petróleo do pré-sal da Bacia de Santos que a União cederá, mediante pagamento, à Petrobras deverá ser conhecida até o dia 31 deste mês. Isso permitirá a formatação final da capitalização da Petrobras, que foi marcada para 30 de setembro, informou o ministro de Minas e Energia, Marcio Zimmermann. A data é dois dias antes das eleições. O cronograma foi fechado em reuniões conduzidas ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Participaram também os ministros da Casa Civil, Erenice Guerra, e da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.

Segundo Zimmermann, na quintafeira a certificadora internacional Gaffney, Cline & Associates entregará à direção da Agência Nacional do Petróleo (ANP) seu trabalho de avaliação.

A empresa foi contratada pelo órgão regulador, que cuidou dos interesses da União. A certificadora DeGolyer & MacNaughton, contratada pela Petrobras, também avalia as reservas.

A partir de então e durante ao menos quatro dias serão discutidos os estudos das empresas, que informarão a cotação final do barril de petróleo das reservas cedidas, que será fixada pela ANP, à qual caberá também a formatação do contrato de cessão.

Quanto ao preço que será fixado, o ministro disse que é necessário aguardar o estudo. Mas acredita que para águas profundas o valor pode ser entre US$ 5 e US$ 10 o barril, valores dentro do previsto por analistas do mercado.

Zimmermann reconheceu que é um cronograma apertado, mas disse que o governo está comprometido.

Inicialmente, a Petrobras anunciou que faria a capitalização até o fim de julho. Porém, a ANP não contratou a certificadora para avaliar as reservas em tempo hábil. A estatal tentou que o governo fechasse o preço do barril com os dados da DeGolyer & MacNaughton, o que foi vetado pelo Palácio do Planalto. O governo, então, dispensou a ANP de fazer licitação para a contratação, acelerando o processo.

Gabrielli: Petrobras vai cumprir programa de investimentos Em 22 de junho, a Petrobras anunciou o adiamento da capitalização para setembro para aguardar o estudo contratado pela ANP. No mesmo dia, foi aprovado por assembleia o valor limite do aumento de capital, de até R$150 bilhões R$ 60 bilhões em ações preferenciais (PN, sem direito a voto) e R$ 90 bilhões em ordinárias (ON, com direito a voto).

O valor final da capitalização dependerá da cessão onerosa, sistema pelo qual o governo federal cederá à Petrobras o direito de explorar cinco bilhões de barris de petróleo em áreas do pré-sal ainda não concedidas. Em pagamento, o governo receberá de volta os títulos públicos que emitir para comprar ações da Petrobras. Portanto, as operações são casadas, para que a União calibre sua participação no aumento de capital sem desembolsar dinheiro e mantenha sua fatia na Petrobras inalterada.

Antes da reunião em Brasília, Gabrielli garantiu, no Rio, que a Petrobras tem capacidade financeira para cumprir seu programa de investimentos do ano, de R$ 88,6 bilhões, sem depender da capitalização. Segundo ele, a capitalização é para garantir a saúde financeira de longo prazo da empresa, que tem R$ 24 bilhões em caixa.

A Petrobras não tem problemas de caixa, precisa melhorar sua estrutura de capital, que é um indicador de longo prazo afirmou.

Na sexta-feira, ao divulgar o balanço do primeiro semestre, a Petrobras revelou que seu nível de endividamento representa 34% de seu patrimônio.

Analistas manifestaram preocupação com o endividamento. Pedro Galdi, da SLW Corretora, disse que o endividamento de R$ 94,2 bilhões no segundo trimestre aproxima-se cada vez mais do limite aceitável pelas agências de classificação de risco, de 35%: Se o endividamento superar 35%, a Petrobras poderá ter sua avaliação de risco rebaixada, o que provocaria uma forte queda nas ações.

As ações PN da Petrobras tiveram queda de 0,18% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ontem. Os papéis ON recuaram 0,22%.

Estudo da Organização Nacional da Indústria do Petróleo prevê que o setor offshore gere até 2 milhões de empregos na próxima década para responder a US$ 400 bilhões em investimentos.

No entanto, se a indústria nacional não se capacitar, esse número pode cair para 400 mil postos.

Ahmadinejad diz que pedido de Lula é inútil

DEU EM O GLOBO

Em rejeição à oferta brasileira de asilo, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que a iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte, não será enviada ao Brasil. Para ele, não "há necessidade de criar mais confusão para Lula". A Embaixada do Irã questiona se o asilo a Sakineh não faria do Brasil um lugar de criminosos internacionais.

Sem saída para Sakineh Ashtiani

Ahmadinejad rompe silêncio, rejeita asilo e diz não querer criar problemas para Lula

BRASÍLIA e TEERÃ - O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, rompeu o silêncio e entrou em cena ontem para colocar um ponto final no caso de Sakineh Mohammadi Ashtiani a iraniana condenada à morte por adultério e pelo suposto assassinato de seu marido. Após uma semana de intenso vaivém diplomático acerca da proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de dar asilo à prisioneira, no primeiro pronunciamento público sobre o caso, Ahmadinejad afirmou que não vê necessidade de enviar a condenada ao Brasil.

Há um juiz e, no fim das contas, os juízes são independentes. Conversei com chefe do Judiciário e o Judiciário também não concorda com a proposta do Brasil afirmou Ahmadinejad, em entrevista à estatal Press TV. Acho que não há necessidade de criar mais confusão para o presidente Lula levando-a ao Brasil sentenciou o líder iraniano.

Esquivando-se de polêmicas, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, evitou comentar as declarações.

Mas, o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse acreditar que ainda há espaço para negociação.

Se nós acreditássemos que não ia adiantar, não estaríamos insistindo afirmou Garcia. Essa não é uma questão jurídica, filosófica, teológica, essa é uma questão política, portanto tem que ser tratada pelo governo do Irã como política.

De Teerã, a decisão ecoou em Brasília.

Num comunicado, a embaixada do Irã afirmou que não aceitará nenhuma forma de interferência de outros países em seus assuntos internos.

A embaixada disse considerar a oferta brasileira como um pedido de um país amigo, baseado nos sentimentos puramente humanitários e no espírito do presidente Lula mas insinuou também que há quem tente tirar proveito da condenação de Sakineh para obter benefícios eleitorais.

Infelizmente, alguns grupos de pessoas dentro do Brasil, aproveitando a situação e desconsiderando o interesse nacional de seu país, utilizam esse assunto como um instrumento para reforçarem suas forças políticas e obterem melhor aproveitamento na campanha eleitoral, acusa o texto.

Ahmadinejad é ditador, diz ministro

Na semana passada, o embaixador iraniano em Brasília, Mohsen Shaterzadeh, havia negado que o Brasil fizera uma proposta formal de asilo à mulher.

Desde então, tanto o Itamaraty quanto a diplomacia iraniana têm evitado confrontos e declarações sobre o caso. O texto do comunicado, no entanto, não hesitou em questionar se a concessão de asilo a Sakineh não poderia estimular novos crimes no Irã.

Será que esse ato não promoverá e não encorajará criminosos? Será que a sociedade brasileira e o Brasil têm que ter, no futuro, um lugar dos criminosos de outros países em seu território?, questiona a embaixada.

A pena de Sakineh inicialmente condenada à morte por apedrejamento está suspensa, por enquanto, e muitos acreditam que a Justiça do Irã não deve se pronunciar até o fim do Ramadã. Apesar da negativa oficial de Teerã, o ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, disse que o governo brasileiro segue negociando para que ela venha ao país.

O governo Lula está pressionando diplomaticamente o governo iraniano para que permita que ela venha para o Brasil. E se esse ditador (Ahmadinejad) tiver um mínimo de bomsenso, deveria permitir que ela venha morar no Brasil e seja salva afirmou o ministro à Agência Brasil.

Além do Brasil, os apelos insistentes pela vida da mulher se espalharam pela Europa. A porta-voz da Chancelaria francesa, Christine Fages, garantiu que vários países do continente estão estudando todos os meios para impedir a execução.

Presa na cadeia iraniana de Tabriz há quatro anos, a mulher, de 43 anos, mãe de dois filhos, teria sido torturada e obrigada a confessar os crimes de adultério e assassinato numa entrevista na TV estatal iraniana na semana passada.

Aumenta chance de Dilma vencer no 1º turno, diz Ibope

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Petista chega a 43% das intenções de voto, contra 41% dos adversários somados; Serra só lidera no Sul

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, entra no horário eleitoral pela TV com 11 pontos de vantagem sobre o tucano José Serra. Com 43% das intenções de voto, ela poderia vencer no primeiro turno se a eleição fosse realizada hoje, segundo pesquisa do Ibope encomendada pelo Estado e pela TV Globo. Serra tem 32%, e Marina Silva (PV), 8%. Juntos, outros candidatos chegam a 1%. Ou seja, a petista (43%) e os adversários somados (41%) estão empatados dentro da margem de erro, de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos. A pesquisa, concluída às vésperas do início do horário eleitoral, é a primeira a captar os efeitos das entrevistas do Jornal Nacional com os candidatos, entre 9 e 11 de agosto. No dia 5, data do levantamento anterior do Ibope, a petista tinha 39%, e o tucano, 34%. Dilma deve a liderança ao eleitorado mais pobre. Entre os que têm renda familiar de até um salário mínimo, a vantagem sobre Serra chega a 22 pontos (48% a 26%). Na divisão por regiões, Serra só se mantem à frente no Sul (44% a 35%).

Cresce chance de Dilma vencer no 1º turno, diz Ibope

Na última pesquisa antes do horário eleitoral gratuito, que começa hoje, petista obteve 43% das intenções de voto, 11 pontos à frente de Serra

Daniel Bramatti

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, abriu 11 pontos de vantagem sobre o tucano José Serra. Com 43% das intenções de voto, ela poderia vencer no primeiro turno se eleição fosse realizada hoje, segundo pesquisa Ibope/Estado/TV Globo.

Serra tem 32% e Marina Silva (PV), 8%. Juntos, outros candidatos chegam a 1%. Ou seja, a petista (43%) e os adversários somados (41%) estão empatados dentro da margem de erro.

Levando-se em conta apenas os votos válidos (sem contar os brancos, nulos e indecisos), Dilma tem 51% das preferências, enquanto Serra tem 38%. Para vencer no primeiro turno, um candidato precisa obter pelo menos 50% dos votos válidos mais um.

A pesquisa, concluída às vésperas do início do horário eleitoral, é a primeira a captar inteiramente os efeitos da série de entrevistas do Jornal Nacional com os candidatos, entre os dias 9 e 11 de agosto. No dia 5, data do levantamento anterior do Ibope, a petista tinha 39% e o tucano, 34%.

"Dilma se consolidou como favorita e tem na pesquisa espontânea o que Serra só alcança na estimulada", disse Márcia Cavallari, diretora-executiva do Ibope. "Aumentaram as chances de vitória no primeiro turno, mas é preciso fazer a ressalva de que o horário eleitoral nem começou."

A candidata petista deve a posição de liderança ao eleitorado mais pobre. Entre os que têm renda familiar de até um salário mínimo, a vantagem sobre Serra chega a 22 pontos porcentuais (48% a 26%). Na faixa de um a dois salários mínimos, a diferença entre os dois é de 15 pontos (45% a 30%).

Já nos segmentos de renda maior, de cinco a dez salários mínimos e acima de dez, Serra empata e lidera (41% a 41% e 48% a 29%, respectivamente).

Dilma conseguiu ultrapassar Serra no eleitorado feminino (39% a 33%) e, entre os homens, ampliou de 10 para 17 pontos porcentuais sua vantagem sobre o tucano. A petista perdia entre as mulheres até junho. Em julho, empatou com o adversário, situação que perdurou até a pesquisa do início de agosto.

Considerando o nível de instrução dos eleitores, Dilma mantém um melhor desempenho na parcela do eleitorado com escolaridade média,. Serra lidera apenas no eleitorado com ensino superior (40% a 34%), faixa na qual cresceu nove pontos.

Geografia do voto. Na divisão do eleitorado por regiões, Serra só se mantém na liderança no Sul. onde praticamente não houve variação nos índices de intenções de voto desde o dia 5. O tucano vencia por 42% a 34% e agora lidera por 44% a 35%.

No Nordeste, Dilma avançou de 46% para 53% e ampliou sua vantagem de 19 para 29 pontos porcentuais.

A principal mudança ocorreu no Sudeste, onde se concentra a maioria do eleitorado do País. Dilma saiu de uma situação de empate técnico (35% a 35%) para uma vantagem de nove pontos (41% a 32%).

Entre os mais jovens, com idade entre 16 e 24 anos, a candidata do PT tem vantagem de 13 pontos (46% a 33%). Na pesquisa anterior, havia um empate técnico nesse segmento. Nas faixas etárias acima de 25 anos, Dilma também lidera, mas por margens menores.

Outro item em que a petista leva vantagem é na expectativa de vitória. Agora, a maioria absoluta do eleitorado (51%) acredita que a ex-ministra da Casa Civil será a sucessora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para 29%, Serra vencerá a eleição. No Nordeste, os índices dos dois são de 59% e 22%, respectivamente.

Rejeição e segundo turno. Os índices de rejeição dos dois principais candidatos seguem estáveis desde o início de junho. Enquanto 27% dos eleitores declaram que não votariam em José Serra de jeito nenhum, a rejeição a Dilma é de 19%.

Na pesquisa espontânea, modalidade em que os eleitores manifestam sua preferência antes de ler a lista de candidatos, Dilma aparece com 31%, 12 pontos à frente do presidenciável tucano. Pouco mais de um terço dos eleitores (35%) declara-se indeciso sobre sua intenção de voto (eram 44% na pesquisa anterior) e 7% têm intenção de votar em branco ou anular o voto.

Na eventualidade de ocorrer um segundo turno entre os candidatos do PT e do PSDB, a petista venceria por 48% a 37% se eleição fosse realizada hoje.

Dados técnicos

Foram entrevistados 2.506 eleitores em 174 municípios, entre 12 e 15 de agosto. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número 23548/2010.


'Revisão das indenizações é vergonha psíquica, política e jurídica', diz defensor da anistia

Antonio Modesto da Silveira, ex-parlamentar e a favor da anistia, acredita que não darão indenização para ninguém

Agência Brasil / o estadão

BRASÍLIA - A decisão de rever todas as reparações a perseguidos políticos da ditadura militar, tomada na semana passada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), tem por finalidade acabar com o direito à indenização dos anistiados políticos. A avaliação é do ex-deputado federal e advogado Antônio Modesto da Silveira, que defendeu mais de 12 mil perseguidos políticos e fez o encaminhamento da votação da Lei da Anistia em 1979 no Congresso Nacional.

"Se vão examinar todos os processos já se sabe: é para não dar indenização para ninguém. Eles vão querer suspender o pagamento que está aí, o que significa nunca mais voltar a pagar. Se isso acontecer, jamais haverá anistia. Se o tribunal fizer isso ninguém mais receberá reparação porque antes do julgamento todos estarão mortos", disse o ex-parlamentar e defensor de direitos humanos.

Para Modesto da Silveira, que participou da solenidade de abertura do 4º Seminário Latino-Americano de Anistia e Direitos Humanos, que ocorre até quarta-feira (18) em Brasília, a decisão do TCU de rever as reparações é uma "vergonha psíquica, política e jurídica". "Uma posição política para inviabilizar qualquer anistia", afirmou.

O ex-integrante da Resistência Democrática e ex-preso político (1967 a 1977) Jarbas Silva Marques afirmou que o "o TCU não tem não tem legitimidade moral, constitucional e funcional para fazer isso [questionar as indenizações]. A anistia foi uma decisão do Congresso Nacional". Para o militante, que recebe uma indenização mensal de cerca de R$ 3,7 mil, a decisão é apenas uma manobra. "Eles estão apostando na nossa morte", afirmou, apontando que se houver revisão das indenizações os processos serão julgados após a morte dos anistiados.

A crítica ao tribunal foi a tônica dos discursos de abertura do evento. Para Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, há uma "inversão de valores" na decisão do TCU. "Isso faz com que o Estado brasileiro esteja mais preocupado em reduzir direitos do que avançar na perspectiva de apuração das responsabilidades dos agentes torturadores".

Paulo Abrão acredita que o "custo ditadura" não está nos valores das reparações econômicas que, segundo a lei, o Estado deve às vítimas. "O custo está, quem sabe, na manutenção das aposentadorias que são pagas até hoje a agentes que serviram ao regime e, também com Erário Público, têm sido remunerados", disse.

A presidente da Associação Brasileira de Anistiados Políticos, Alexandrina Cristensen, reclama que o TCU confunde indenização com pensão e afirma que não cabe ao tribunal rever indenizações. Ela lembra que os valores pagos nas reparações econômicas são retroativos a 1988 (ano da Promulgação da Constituição Federal).

"Se o Estado não tivesse demorado tanto [a pagar as indenizações], os valores não seriam tão elevados", disse em referência aos casos mais conhecidos de indenização de anistiados políticos inclusive criticados pelo Ministério Público na ação do TCU contra o pagamento das reparações.

O 4º Seminário Latino-Americano de Anistia e Direitos Humanos vai debater também o cumprimento das leis da anistia, a situação da democracia no continente e a criação de comissões de reconciliação e verdade, como a proposta pelo governo em abril em anteprojeto de lei encaminhado ao Congresso Nacional.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Verdi - Nabucco - Chorus of Hebrew Slaves

Não-Coisa :: Ferreira Gullar

subverte a sintaxe
implode a fala, ousa
incutir na linguagem
densidade de coisa

sem permitir, porém,
que perca a transparência
já que a coisa ë fechada
à humana consciência.

O que o poeta faz
mais do que mencioná-la
é torná-la aparência
pura — e iluminá-la.

Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,

a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.