quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Não ao "dedazo" de Lula :: Roberto Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Lula optou por uma auxiliar direta, sem projeto político ou experiência eleitoral, mas capaz de cumprir à risca suas determinações: Dilma Rousseff

Nas eleições de 1970, em pleno "milagre econômico", o partido do regime militar teve uma vitória arrasadora. Os eleitores votaram maciçamente na antiga Arena e por muito pouco o MDB, o partido de oposição criado por imposição da ditadura, não se autodissolveu. Estava em curso um projeto de "mexicanização" do país.

Na terra de Zapata e Pancho Villa, um "dedazo" do presidente da República indicava o candidato oficial e este era eleito por esmagadora maioria. E assim o Partido Revolucionário Institucional (PRI) se mantinha no poder, graças ao clientelismo, à corrupção e ao aparelhamento do Estado.

Com as devidas ressalvas, quatro décadas depois, estamos diante de situação semelhante.

Um "dedazo" do presidente Lula, amparado por seus índices de popularidade e pelo prestígio popular de seu governo, ameaça transformar o maior patrimônio político da nação -o voto direto, secreto e universal- em mero ritual de legitimação da sucessão presidencial.

Sim, porque há dois anos o presidente da República abusa de todos os meios à sua disposição e de todas as pessoas sob sua influência para fazer o seu sucessor. Lula não escolheu nenhum líder petista calejado nas lutas políticas, como os petistas José Dirceu ou Antônio Palocci, que foram expelidos de seu governo por motivos éticos.

Muito menos um aliado, como o ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes, cuja legenda lhe foi negada pelo PSB a pedido do próprio presidente da República. Optou por uma auxiliar direta, sem projeto político próprio ou experiência eleitoral, mas capaz de cumprir à risca suas determinações: a ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Ex-militante da VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária - Palmares), Dilma nunca disputou uma eleição para chegar ao Executivo, jamais exerceu um mandato eletivo no Legislativo.

Chegou ao Palácio do Planalto por integrar a tecnoburocracia petista, na qual se destacou por coordenar com mão de ferro a equipe ministerial. Revelou-se o nome mais adequado para comandar um modelo de governo verticalizado, centralizador e dirigista-estatal.

Encarna um projeto de poder de longo prazo, alavancado pelo aparelhamento do Estado brasileiro, pela adoção de políticas sociais assistencialistas, por práticas eleitorais de clientela e alianças com velhas oligarquias.

No governo Lula, Dilma foi uma das responsáveis pela adoção de um novo tipo de intervenção do Estado na economia, graças a um pacto perverso entre o governo, com suas empresas públicas e fundos de pensão, e as grandes empreiteiras, grandes grupos exportadores e alguns bancos privados.

O risco de "mexicanização" do país tem nessa conexão entre o setor público e o grande capital monopolista sua mola-mestra, daí a origem da campanha eleitoral milionária do PT.

Mas isso não para por aí. A aliança entre o PT e o PMDB, partido que controla o Congresso Nacional, é uma simbiose entre o aparelhamento do Estado e o clientelismo político, cuja inédita capilaridade alcança todos os municípios do brasileiros. É outra semelhança com o velho PRI.

O PT manipula os sindicatos, enquanto o PMDB controla a velha política municipal. Como enfrentar, então, essa ameaça?

Para enfrentar os problemas do câmbio do país, temos que desatrelar o governo dos bancos, das empreiteiras e dos oligopólios. A única maneira de evitar a "mexicanização" é a alternância de poder, ou seja, a eleição de um oposicionista para a Presidência da República.

No meu caso, apoio José Serra, um político capaz de barrar uma estratégia do presidente Lula para manter o PT no poder central pelas próximas décadas.


Roberto Freire, advogado, é presidente do PPS (Partido Popular Socialista e candidato a deputado federal por São Paulo. Foi deputado federal e senador pelo PPS-PE.

Obsessão :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Os últimos dias foram plenos de informações sobre o que o governo brasileiro pensa sobre os meios de comunicação e seus projetos para implementar o que chama de "controle social" da mídia. Tudo o que se disse sobre o assunto indica uma comunhão de intenções entre o que já acontece em outros países da América do Sul, como a Argentina e a Venezuela, e o projeto de um futuro governo petista.

Na recente reunião do Foro de São Paulo realizada na Argentina, o grupo criado por Lula e Fidel Castro que reúne a esquerda da América Latina regozijou-se porque "setores sociais do Brasil, da Argentina e do Paraguai" conseguiram colocar em questão a credibilidade dos grandes meios de comunicação, provocando redução nos níveis de venda e audiência dos jornais impressos e da TV.
Mesmo que se trate de uma bravata juvenil, a comemoração evidencia o real objetivo desses esquerdistas regionais, entre eles o dirigente petista Valter Pomar: tentar desmoralizar os meios de comunicação independentes, para controlar a opinião pública.

Na mesma resolução, as medidas de diversos países da região para reforçar o controle do Estado no setor de comunicação social foram elogiadas, especialmente a lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, a chamada "Lei da Mídia", aprovada na Argentina em 2009, que foi considerada inconstitucional pela Justiça.

Essa legislação deve ser uma "referência imprescindível" para os demais países, decidiu o Foro de São Paulo.

Ela faz parte de uma ampla campanha do governo de Cristina Kirchner para cercear a atuação dos jornais e televisões de maneira geral, mas muito especificamente do grupo Clarín, o mais importante do país.

A "Lei da Mídia" divide as concessões igualmente entre o Estado, movimentos sociais e o setor privado, levando em consequência o Grupo Clarín a ter que se desfazer de concessões de TV e rádio.

O mais novo lance dessa disputa é a intervenção do governo na fábrica de papel de imprensa do país, cujo maior sócio privado é o grupo Clarín, numa clara tentativa de impor sanções econômicas aos jornais.

Na segunda-feira, o presidente Lula, inaugurando um canal de televisão do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, disse em discurso lido - isto é, preparado por sua assessoria, sem os perigos dos improvisos - que a emissora evitará que os trabalhadores "continuem impedidos de exercer a liberdade de expressão" e que "o brasileiro sabe distinguir o que é informação e o que é distorção dos fatos".

Como se uma emissora que representa um grupo social específico não tenha interesses de classe a defender e discursos políticos a divulgar.

Já o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, repetiu sua obsessiva cantilena contra os órgãos de comunicação independentes, afirmando que a televisão dos metalúrgicos e a internet farão com que os jornais e as emissoras de TV percam o controle do noticiário levado à opinião pública.

Tirar o poder dos "aquários", um jargão jornalístico para as salas das chefias das redações dos jornais, parece ser a fixação de Franklin, um movimento, segundo ele, "irreversível, e que está apenas começando".

Em acordo com as diretrizes emanadas do Foro de São Paulo, o ministro da Comunicação Social do governo Lula pretende que sejam aprovados antes do final do mandato diversos projetos de lei originados na Conferência Nacional das Comunicações (Confecom), convocada por ele.

Com a participação de organizações da sociedade civil, da CUT e de representações de entidades empresariais, a Confecom produziu uma infinidade de propostas que podem se transformar em leis com o objetivo central de implantar o tal "controle social da mídia".

Uma das propostas prevê "mecanismo de fiscalização, com controle social e participação popular", em todos os processos dos meios de comunicação, como financiamento, acompanhamento das obrigações fiscais e trabalhistas das emissoras, conteúdos de promoções de cidadania, inclusão, igualdade e justiça, cumprimento de percentuais educativos, produções nacionais.

Uma repetição de várias outras tentativas já feitas, e derrotadas pela rejeição da sociedade, de controlar o noticiário e de direcionar a produção cultural dentro de critérios fixados pelo próprio governo.

Já relatei aqui na coluna, mas vale a pena repetir, as posições assumidas pelo mesmo Franklin Martins quando exercia a profissão de jornalista.

Num debate com o sociólogo Betinho, em junho de 1996, sobre o papel das ONGs, Franklin afirmava que "qualquer tentativa de contornar o Parlamento, ou de achar que se definem políticas públicas sem passar por ele, não é uma atitude democrática. Isso investiria contra a essência do Estado democrático, que é o voto".

Não é possível, segundo ele, "a pretexto de dar voz a esses interesses fragmentados, se criarem condições para que a vontade de pequenos grupos seja imposta, e o voto, base da democracia, acabe relativizado e deixado de lado".

Franklin achava que, "ao se apresentar como representante da sociedade civil e participar de reuniões com direito a voto, as ONGs negam o sistema representativo".

E concluía seu pensamento: "Não vejo a menor autoridade para que falem em nome da sociedade. Quem fala em nome da sociedade é quem tem voto para isso."

A mesma pessoa que defendia que o Congresso fosse o ator principal das decisões sobre políticas públicas agora quer que esses "interesses fragmentados" tenham suas resoluções homologadas pela base parlamentar do governo.

Seria investir contra a "essência do Estado democrático", no qual quem decide em nome da sociedade é quem tem voto.

Faz de conta:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Não é uma tradução perfeita dos fatos a versão de que o PT não canta vitória desde já de modo explícito por respeito à decisão do eleitor em 3 de outubro ou porque tenha medo da "desmobilização da militância".

Houvesse alguma reverência às urnas Dilma Rousseff pediria votos no lugar de se proclamar "presidenta" do Brasil por onde quer que vá ultimamente.

O receio de o entusiasmo da tropa se esvair tampouco é real, pois o que alimenta o engajamento é algo que não se esgota: ambição. Por poder, dinheiro ou posições.

Nem por isso deixa de ser genuína a ordem unida na campanha governista para que se ponha um pé no freio das comemorações antecipadas.

Não por dúvida, pois naquela seara ninguém as tem. Aliás, há que se registrar: nunca houve incerteza, a despeito do óbvio e reconhecido (pelos próprios governistas) desnível de qualificação entre o candidato da oposição e a candidata da situação.

A respeito dessa diferença dá testemunho a necessidade de remodelagem física e psicológica da candidata, submetida a um intensivo treinamento de fala amena e pensamento concatenado, além da maratona de embelezamento semelhante à que se submetem senhoras desesperançadas em programas de televisão.

O medo é que uma vez considerada a parada ganha, os vários setores engajados comecem a discutir o futuro. Melhor dizendo, a realidade.

Deixem de lado a fantasia montada para a campanha - onde a candidata é o que o modelo perfeito exige e não o que é de fato - e já desenhem um cenário com rascunhos do que seria no governo Dilma.

A fim de que se evite algo parecido neste momento de campanha é que é crucial que o PMDB contenha seu apetite e pare de falar nos porcentuais da partilha de cargos.

O aprofundamento desse assunto poderia ensejar digressões a respeito do loteamento da administração pública.

Lembrando que a candidata jamais disse uma palavra negativa sobre o sistema fisiologista de relações entre Executivo e partidos aliados. Afirmou no Jornal Nacional que a adoção da prática pelo PT era sinal de "amadurecimento" do partido.

Poderia também estimular simulações das disputas entre um PMDB que se diz "protagonista" e um PT que diz por aí que livre do jugo de Lula terá muito mais desenvoltura e influência no poder. Tais ensaios poderiam incentivar questionamentos sobre a experiência e o conhecimento que a candidata tem nesse ramo.

Haveria mais curiosidade para destrinchar o pensamento da "presidenta", conhecê-la melhor, suas reações a cobranças profundas, a pressões e tensões.

Isso antes de Dilma ser eleita o governo não deixará acontecer para não quebrar o encanto da fábula que ora conta ao País. Não pode correr o risco de se trocar o cenário de maravilhas dos palanques (reais, oficiais e eletrônicos) por um ambiente em que os dois principais partidos da coligação já se engalfinhem pelo poder.

Se o PMDB falar muito provocará, é claro, reação imediata no PT. Por isso é que os pemedebistas desmentem agora querer o que sempre assumiram querer: mando total nos ministérios, comando no Congresso, influência no núcleo de poder e muitos, mas muitos cargos mais.

No armário. PT e PSDB prometeram divulgar novas versões dos programas de governo de seus candidatos a presidente.

Os tucanos disseram que substituiriam os dois discursos de José Serra registrados na Justiça Eleitoral a título de programa pela divulgação ponto a ponto de uma elaboração construída a partir de sugestões via internet.

Os petistas asseguraram que trocariam o documento aprovado em congresso do partido por uma proposta conjunta das legendas aliadas a Dilma Rousseff.

Até agora ambos estão deixando o dito pelo não dito. Pelo visto consideram desnecessário cumprir as promessas.

Dá um trabalho danado e não vale a pena porque o assunto não é mais destaque no noticiário. Se voltar por algum motivo a ser, dirão que as propostas estavam "em elaboração".

Eleição sem política :: Marco Antonio Villa

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Como um aluno relapso, a oposição faltou justo na hora da prova, a eleição

Ganhar eleição é uma possibilidade, fazer política é um imperativo. O Brasil poderá com esta campanha inaugurar uma nova forma de pleito presidencial: sem debate, sem polêmica, sem divergência e sem oposição.

Nas últimas cinco eleições tivemos disputa em três delas. Mas disputa mesmo, só em 1989. Em 1994 e 1998, FHC venceu Lula facilmente, as duas no primeiro turno.

Em 2002 e 2006, Lula foi como franco favorito para o segundo turno. Eu esperava que teríamos uma eleição diferente em 2010: sem Lula e com oposição que transformasse o pleito em um momento de amplo debate nacional.

Rotundo equívoco. Lula é candidatíssimo, aparece mais que Dilma. E pior: a oposição não apareceu ao encontro marcado. Como um aluno relapso, faltou justamente no momento da avaliação, a eleição.

Na República Velha, a oposição concorria sabendo que o resultado seria fraudado. Era o momento de, ao menos, marcar posição e acumular forças para um novo embate. Agora -e de forma surpreendente- nem isso está ocorrendo. Confesso que a cada dia que assisto ao horário eleitoral fico mais estarrecido.

Este triste panorama terá efeito direto sobre o Legislativo. Tudo indica que o futuro Congresso será muito mais governista que o atual. E também com um número expressivo de "deputados cacarecos", o maior da história recente, produto direto da inexistência do debate político.

A despolitização abre campo para que ex-jogadores de futebol, comediantes, cantores e celebridades instantâneas sejam considerados puxadores de votos para partidos de todos os matizes.

Outro efeito nefasto da despolitização é a permanência (e até ampliação) dos representantes dos oligarcas. Quase todos os sobrenomes que simbolizam o que há de pior na política brasileira estão apoiando a candidata oficial. São espertos. Tratam Lula como se fosse um dos seus. E, por incrível que pareça, ele acabou se transformando em uma espécie de "capo" dessas famílias.

Parodiando Sílvio Romero, no célebre discurso de recepção a Euclides da Cunha na ABL, Lula chegou "à suprema degradação de retrogradar, dando, de novo, um sentido histórico às oligarquias locais e outorgando-lhes nova função política e social".

A apatia política tem preço. E muito alto para o país. A fuga da oposição do debate, o medo do enfrentamento, a recusa de se opor, pode abrir caminho para um longo domínio do Estado por parte de um bloco conservador, sem espírito republicano, com tinturas caudilhistas e desejos de impor sua vontade à força.


Marco Antonio Villa é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar

Clara Nunes homenageia Luiz Gonzaga

Cinco governos em perspectiva :: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Um enigma a ser decifrado é com que proposta Lula se apresentará ao eleitorado, se até lá isso se mostrar necessário

Impossível crer que Lula sairá de cena nesses próximos quatro anos, mesmo vencendo sua candidata. Por isso mesmo, mais uma razão para ficar. Deve se dedicar à preparação do futuro, sua volta oficial e, para isto, é melhor parecer que nem saiu, fincando pé num palanque permanente, tal como fez nos oito anos de mandatos oficiais.

Sem dar o menor sinal de que isto é colocar o carro à frente, as conversas mais instigantes no governo e no PT, hoje, são menos a continuidade do momento, seja lá o que isso represente em termos de programas caso Dilma Rousseff seja eleita presidente, mas o que será um quarto e um quinto governos Lula, em 2014 e 2018, além de por onde se dará a preparação nos próximos quatro anos. Mais precisamente, que promessa poderá fazer ao eleitorado sobre o que pretende oferecer de si mesmo, quando o sinal bater o fim do intervalo ocupado em preparativos.

É um mistério que nem os mais próximos ousam decifrar por antecipação, não há sequer indícios de que tipo de governo gostaria de fazer depois dessa transição. Mas sobre o que acontecerá durante a travessia, a elucubração tem sido livre.

Há o PT que, nesses próximos quatro anos terá uma força superlativa. Volta ao jogo, ainda que sem mandato, José Dirceu, o mais longevo oráculo do partido. Sensibilizou o grupo que permaneceu no poder, após seu afastamento, por uma atuação firme agora, não tanto reservada, naquela atividade a que as campanhas eleitorais são absolutamente sensíveis. A força interna, Dirceu nunca perdeu, apenas hibernou por uns meses enquanto a opinião pública não chegava ao atual consenso de que tudo o que diz respeito a Lula é divino.

Menos sutil foi a volta de Antonio Palocci, e será uma força considerável nessa transição de quatro anos. Nem o presidente conseguiu imaginar que conseguiria, em tão pouco tempo, passar uma borracha nas marcas de tudo o que é alheio à ética deixadas pelos petistas mais eminentes aos de escalão mais baixo, dos dirigentes aos aloprados, que imaginaram uma vida nas sombras por mais tempo do que acabou sendo necessário.

Há o PMDB, que desta vez se impôs mais caro mas já provou, antes mesmo da abertura das urnas, que valeu a pena. Por mais que o PT considere que não lhe deve muito mais além do cargo de vice-presidente, o partido emerge fortalecido pela união e pela aposta eleitoral. Vai querer, no mínimo, a metade. Esses dois grandes partidos da aliança já apressados nesta disputa, certos que estão de uma vitória no primeiro turno.

Ambos sairão das urnas com grandes bancadas da Câmara e do Senado e já agora preveem constrangimentos mútuos porque se acham no direito de ficar com a presidência das duas Casas. Disputam também os cargos do governo, e nesse estado devem permanecer ao longo de todo o trajeto. Para cada Maria da Graça Foster cogitada para assumir o ministério das Minas e Energia, e para cada Luciano Coutinho cogitado para o Ministério da Fazenda, auxiliares da confiança e da cota da presidente se eleita Dilma for, haverá um Edison Lobão e um Henrique Meirelles oferecidos a título de contribuição do PMDB para os mesmos postos. Fora as listas de senadores e deputados aptos a assumir a metade da Esplanada de Ministérios, das presidências de estatais, quiçá da totalidade de suas diretorias. Isto se administra no dia a dia da temporada de transição e faz parte dos preparativos do futuro.

Às bancadas do PT e do PMDB se somarão as do PSB, PCdoB, PDT, formando fáceis maiorias para o que Lula precisar organizar tendo no horizonte os mandatos seguintes.

Do PT e do PDT virá também a renovação de forças das centrais sindicais, avassaladoras no governo Lula e uma presença tão desconcertante que ainda incomoda ao comando do governo tratar com distanciamento esse assunto. "Tiveram a mesma força que os empresários, e é o que terão no governo Dilma, nem mais, nem menos", diz um analista próximo ao presidente Lula. Podem ter mais, pela necessidade de equilibrar a contenda entre PT e PMDB, e poderão ser eficientes coadjuvantes da missão Lula.

De oposição, neste próximos quatro anos, nem se cogita nestas prospecções. Acredita o governo que ela vai minguar de forma absoluta. "Esta é a última eleição com fla-flu; isto acabou no Brasil", diz um analista do governo que antevê, no máximo, um Aécio Neves, ex-governador de Minas, eleito senador, na liderança do que restar de PSDB, DEM, PPS. Isto, claro, se não migrar para o PMDB, credenciando-se para o pós 2018.

"Palocci vai mandar menos do que está achando que vai; José Dirceu vai mandar mais do que deixa transparecer; o PMDB não vai ter a participação que quer; Lula não vai para casa, como disse lá atrás, quando ainda não conhecia o efeito eleitoral de sua popularidade; terá atuação política mas não será um primeiro ministro; mas uma coisa é certa, é Lula quem articula o governo Dilma, que vai começar exatamente pela reforma política", resume um privilegiado petista frequentador ocasional das conversas de Palácio.

É Lula, portanto, no comando da viagem para a próxima parada, seus próximos mandatos oficiais. Uma jornada de transição que pode servir ao enfrentamento das questões difíceis, como a reforma política, a reorganização do quadro partidário, a reforma tributária, tudo com uma força de quem pode voltar proximamente com o poder formal de novo.

Para os próximos dias a instrução é não esmorecer, não dispersar, derrubar cidadelas que ainda resistem, desidratar a candidata Marina Silva, dar prioridade a São Paulo, desligar aparelhos de adversários que ainda respiram com esta ajuda. Nos quatro anos seguintes, fazer a arrumação política e adotar medidas que são requesitos à próxima década. O enigma a ser decifrado é com que proposta Lula se apresentará ao eleitorado, se até lá o tempo mostrar que isso voltou a ser necessário em política.


Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

Legislar o riso e sacralizar o poder? :: Roberto DaMatta

DEU EM O GLOBO

Toda tentativa de tolher a liberdade de expressão engessa e, no fundo, tenta realizar aquilo que é básico numa democracia competitiva e igualitária: a discussão política que marca diferenças e estabelece limites para a multiplicidade de perspectivas vigentes num sistema centrado no cidadão. No Brasil, temos leis para tudo. Tantas, que até existe uma certa desconfiança de que o aparato torna os grandes bandidos "imprendíveis". Temos leis até para regular como as pessoas devem ser presas, porque se forem importantes deve-se evitar a "espetacularização" que, em todos os lugares, algema, numa prova cabal de que a polícia cumpriu o seu papel. Um país com uma etiqueta para aprisionar me preocupa. Estou convencido de que se tivéssemos uma Futebolbrás jamais teríamos sido pentacampeões do mundo, porque a convocação e nosso jogo seriam legislados, algo que muitos sentem falta. Seria proibido perder Copas do Mundo e a prática exclusiva do "futebol-arte" seria estabelecida por lei!

Como ter confiança na lei se desconfiamos da polícia, e a própria polícia desconfia dela própria, porque, tal como ocorre com as leis (e com a ética), temos muitas polícias para o deleite dos bandidos e advogados?

Digo isso porque uma interpretação antidemocrática do artigo 45 da Lei das Eleições, em vigência desde 1º de outubro de 1997, que reprime usar o humor com foco em partido ou candidato em período eleitoral, fere a liberdade de expressão e vai abrir um sério combate entre os que estão no poder e não gostam de liberdade e os humoristas que dela vivem. Entre seriíssimos donos do poder e risonhos carnavalizadores profissionais - os humoristas - cuja profissão é promover uma simbólica e galhofeira troca de lugar. A tal troca de lugar capaz de provocar o riso de si mesmo, esse apanágio que Bergson dizia ser exclusivamente humano já que os crocodilos choram, o que não é o caso de nenhuma besta quadrada, sobretudo as que chegam ao poder. No Brasil, um poder perpetuamente onipotente odeia e recusa o erro. Por isso todo-poderoso tem tanto medo do riso que o traz de volta ao plano da cidadania. Se os comuns não suportam politicalha diária, os poderosos detestam o riso.

Num livro famoso, Mikhail Bakhtin ajuda a desvendar esse assunto que talvez venha ser mais excitante do que o debate eleitoral. Por que o riso não combina com eleições e candidatos, no caso do Brasil, quando em países igualitários e democracias estabelecidas, ele corre solto justamente nesta época?

Bakhtin - como Freud - enfatiza acima de tudo a capacidade do humor de, pelo riso humano orgulhoso e zombeteiro, enfrentar (e vencer) a dor, as adversidades, o destino e a morte. De fato, nosso pior inimigo fica mais aterrorizado diante de uma gargalhada do que de um revólver. A própria desgraça recua se alguém se atreve a ridicularizá-la. Ainda mais nesta vida que não merece mais do que uma boa anedota.

A tentativa de reprimir o humor em período eleitoral é coerente com a liturgia que cerca o debate cheio de dedos dos presidenciáveis. Ela põe a nu o quanto o nosso sistema de poder protege, dignifica, hierarquiza e sacraliza o governante. E o quanto somos coniventes com isso. O medo do riso é o medo da igualdade que o momento eleitoral inevitavelmente demanda e revela. Seria possível proibir o riso e o humor neste momento, como fazem os radicais, que se levam tão a sério que não podem rir de si próprios?

Falamos muito de "realidade" e pouco dos seus símbolos. A mentalidade legisferante é uma clara tentativa de arrolhar o dia a dia. Ela é a responsável por esse universo de leis que promovem o famoso axioma do "é ilegal, e daí?", a prova mais clara de que, entre nós, as leis não acompanham o bom senso. Amordaçado o riso, o poder sacraliza-se porque não há mais a liberdade de desafiá-lo e usá-lo como uma fonte de alegria - um dos modos mais legítimos de mostrar a face humana dos poderosos.

No nosso universo político, a mentira, um ininteligível economês falado mais com os dedos do que com o coração, as promessas de que, como "pai" e "mãe", se vai cuidar do povo (haja saco e paciência!) são dominantes. Neste palco, sempre reinou o medalhão oportunista, tarado pelo poder; esse farsante soturno que malandramente usa a máscara da igualdade para ampliar seu mandonismo. Hoje, esse papel fica mais duro de ser desempenhado, pois a pressão por transparência e igualdade exige menos hipocrisia (esse apanágio do populismo lulista) e mais coerência (que exige administrar honestamente mais do que "cuidar" como pai ou mãe do povo).

É ofensivo rir de um poderoso? Pode-se fazer uma lei impedindo gargalhar de uma besta quadrada que aspira ao poder? Nas ditaduras, o sujeito morre; nas democracias, vive-se disso.

Dessa relativização por meio do riso que - como a morte - iguala definitivamente, mostrando que se hoje estamos no poder, amanhã dele sairemos.

Roberto DaMatta é antropólogo.

Onda latina :: Miriam Leitão

DEU EM O GLOBO

A América Latina está passando por um excelente momento econômico e, em alguns países, um perigoso momento político com aumento do intervencionismo e de autoritarismo. A Venezuela enfrenta má fase política e econômica e está fora da festa do crescimento este ano. Há uma onda latina de PIB forte: a Cepal está prevendo que a região vai crescer 5,2% em 2010.

O gráfico mostra a temporada de crescimento em vários países. Sobre a Argentina, há controvérsias. O FMI acha que ela vai crescer 3% e 3,5%. Mas no segundo trimestre ela cresceu em termos anualizados 10%. O Banco Central aposta em 7% no ano, consultorias privadas preveem um pouco menos, e a Cepal estima 6,8%. O Brasil vai reduzir o ritmo no próximo ano, mas continuará crescendo. O Peru está com previsões em torno de 6% em 2010 e 2011. O Chile deve crescer ainda mais no ano que vem. A Colômbia, que tem um resultado menor este ano porque sentiu o impacto da queda do comércio com a Venezuela, deve ir a 4% em 2011. Fora do compasso está a Venezuela de Hugo Chávez, que teve recessão de 3% em 2009 e retração de 5,8% no primeiro trimestre. No segundo tri, os números do PIB foram um pouco melhores, pelo forte aumento de gastos do governo com o objetivo de influenciar o resultado eleitoral. O Datanálisis disse que o governo vai perder pelo menos 30 cadeiras no Congresso, e só não perde mais porque mudou as regras para favorecê-lo. A inflação está alta e deve ficar em 35%.

Como o maior produtor de petróleo da região enfrentou uma crise energética, teve que racionar consumo, e está com PIB em queda? Chávez é um mau administrador e seu autoritarismo tem inibido investimentos. O país tem tido fortes recessões. As recuperações são mais determinadas pelos surtos de alta do preço do petróleo.

A violência inibe investimentos. O país de Chávez teve em 2009 mais homicídios do que no Iraque. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes chega a 200 em Caracas, contra 22 em Bogotá.

A Argentina encolheu 2,2% em 2009, mas retomou o crescimento puxado por alguns fatores favoráveis, como a alta de preço das commodities e o aumento da demanda por produtos agrícolas pela China e industriais, pelo Brasil. As divergências entre os números oficiais e os calculados pelo mercado decorrem da falta de credibilidade das estatísticas desde a intervenção no Indec. Dois pontos negativos na área econômica argentina: primeiro, a inflação continua alta; segundo, quase uma década depois de dar um calote na dívida, o país ainda sofre as consequências. Tem baixo acesso ao crédito internacional.

Na área política, o assustador é a adoção da mesma estratégia chavista de controle da imprensa e da intimidação dos grandes veículos de comunicação. Neste fim de semana, dois dos maiores jornalistas argentinos, Joaquín Morales Solá e Eduardo Van Der Kooy, escreveram artigos contundentes. Van Der Kooy contou que um empresário do setor, que não é do "Clarín", foi chantageado por um integrante do governo porque teria criticado indiretamente uma política pública. "A pior derrota da liberdade é quando ela se apaga paulatinamente em módicas e quase imperceptíveis cotas", escreveu Solá. O casal Kirchner tenta assumir o controle do Papel Prensa, fornecedora de matéria-prima. Em 2011, haverá eleição presidencial.

O México divulgou um número de fortes vendas de carros em junho. Esse é um dos indicadores que mostram que o país está se recuperando do ano passado, quando teve a pior queda do PIB em 30 anos. O México é muito dependente das exportações, principalmente para os EUA. Como a economia americana cresceu forte no começo do ano, os mexicanos deram um salto e chegaram a crescer 8% em taxas anualizadas. O desempenho pode ser menor no resto do ano por causa dos próprios americanos.

A América Latina tem uma nova chance. O risco vem dos flertes com modelos políticos autoritários e do intervencionismo econômico que rondam, em maior ou menor grau, vários países da região. No gráfico, se vê que o mau comportamento não compensa. O país de Chávez, onde o modelo autoritário-intervencionista é mais forte, é o único que não cresce.

Não era para acreditar :: Rolf Kuntz

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Se alguém viu alguma promessa de seriedade na campanha da candidata Dilma Rousseff, esqueça. Foi uma falha de comunicação. Ela já negou a intenção de realizar um ajuste fiscal se for eleita. Desmentiu a notícia publicada um dia antes. Segundo a mesma reportagem, ela também poderia baixar a meta de inflação. A fonte da informação divulgada na segunda-feira foi o ex-ministro Antônio Palocci, um dos coordenadores da campanha petista. O ajuste é desnecessário, disse ontem a candidata, porque a economia cresce, a inflação está sob controle, a relação dívida/PIB está em queda e há um bom volume de reservas internacionais. Talvez ela acredite nessa história e também esse detalhe é preocupante.

Nenhuma pessoa razoavelmente informada pode estar tranquila em relação às contas públicas. A dívida pública bruta continua a crescer rapidamente por causa do aumento de compromissos do governo.

Só para reforçar a caixa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foram emitidos papéis no valor de R$ 180 bilhões. Mais títulos serão lançados para a capitalização da Petrobrás. Ninguém sabe qual será o montante, porque isso dependerá do preço fixado para os 5 bilhões de barris de petróleo prometidos à empresa. Pelas avaliações propostas pelas consultorias, a soma poderá corresponder a algo entre US$ 25 bilhões e US$ 60 bilhões - sim, essas cifras são dólares.

A referência ao crescimento econômico seria irrelevante, se não indicasse um critério perverso: para a candidata, assim como para vários de seus ex-colegas de governo, a chave do equilíbrio fiscal é o aumento da receita. Se a arrecadação cresce, como é normal em fases de prosperidade econômica, as contas públicas vão bem. Foi esse o padrão seguido em muitos anos: a saída é sempre arrecadar mais, nunca reduzir despesas.

Mas ela ainda faz uma concessão. Segundo a ex-ministra, nenhum tostão será destinado, em seu governo, a gastos desnecessários. Se houvesse alguma seriedade nessa promessa, a ministra deveria, caso eleita, rever imediatamente os compromissos assumidos para a realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Por quais critérios os gastos federais serão necessários?

O Brasil precisa mesmo gastar em prováveis elefantes brancos e ao mesmo tempo enfrentar os enormes custos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da exploração do pré-sal? O governo já se dispôs a participar, por meio do BNDES, da construção do trem-bala, um empreendimento de utilidade e de retorno altamente duvidosos, segundo opinião de técnicos. Enquanto isso, o quadro do saneamento divulgado na semana passada pelo IBGE continua assustador. A distribuição de água encanada melhorou muito nos últimos dez anos, mas não os serviços sanitários.

Se as concepções de política fiscal da ex-ministra forem as mesmas de seu patrono, dificilmente haverá alguma racionalidade no uso de recursos públicos. O ajuste realizado em 2003 foi uma solução de emergência, forçada pela circunstância política e executada por um ministro capaz de influenciar o presidente Lula. Nenhum outro, depois de Palocci, teve um poder semelhante. Além disso, o presidente nunca mais precisou de um auxiliar com ideias próprias - com exceção, é claro, do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Passada a emergência, predominou a noção da política fiscal orientada para o gasto. O presidente Lula várias vezes defendeu a expansão da despesa como se fosse a marca do bom governo - e, como contrapartida, sempre tomou como referência os países com grande carga tributária. Falou em planejamento muitas vezes, mas nunca renunciou ao voluntarismo.

Isso explica sua defesa da política de financiamentos do Tesouro e do BNDES. Esse BNDES não é aquele gerido racionalmente para modernizar e ampliar a capacidade produtiva e disseminar o poder de competição. É uma instituição usada, em conjunto com o Tesouro, para favorecer a fusão de grandes grupos, facilitar a compra de empresas no exterior e financiar até obras da Copa do Mundo e um trem-bala ainda sem projeto e sem custo conhecido.

Quem apoia esse tipo de política não pode seriamente prometer um controle do uso de recursos públicos. E quanto pode valer seu compromisso de trabalhar pela reforma tributária e pela racionalização dos impostos, se o seu chefe e mentor continua defendendo uma aberração como o imposto do cheque, a CPMF?

Em sua conversa com a repórter Patrícia Campos Mello, o ex-ministro Palocci mencionou pontos indispensáveis na pauta de qualquer governo sério. Mas a agenda real da candidata petista, como ela mesma indica, deve ser bem diferente.

Jornalista

As janelas quebradas do sigilo

DEU EM O GLOBO

Juiz manda Receita abrir para tucano investigação sobre vazamento de seus dados fiscais

A Justiça Federal determinou que a Receita Federal dê ao vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, acesso às investigações sobre o vazamento de seus dados fiscais. "O Brasil convive há muito tempo com janelas quebradas na vizinhança da proteção ao sigilo", diz a sentença do juiz Antonio Claudio Macedo da Silva. A Receita entregou a Eduardo Jorge dois CDs com dados das investigações. Para o tucano, o vazamento saiu da campanha petista. O PT nega.

"Não a um Estado Leviatã"

Juiz ordena que Receita dê a tucano acesso à investigação sobre vazamento de seus dados

Catarina Alencastro e Roberto Maltchik

A Justiça Federal determinou ontem à Receita Federal que entregasse, no prazo de duas horas, as informações levantadas no curso da sindicância que apura o vazamento de dados sigilosos do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira. Os dados fiscais do tucano foram usados num dossiê supostamente montado por integrantes da campanha da petista Dilma Rousseff, que nega envolvimento.

Além de poder tirar cópias de tudo o que já foi levantado na sindicância da Receita, a Justiça Federal determinou que, a partir de agora, Eduardo Jorge terá o direito de acompanhar todo o processo administrativo para identificar os responsáveis pelo vazamento.

O tucano afirma que seus dados fiscais foram vazados e enviados para o comitê de campanha de Dilma Rousseff. Em sua decisão, o juiz Antonio Claudio Macedo da Silva lembra que o poder público deveria proteger os dados dos cidadãos, e não expô-los, como aconteceu. Ele diz que alguns setores do governo mantêm uma relação promíscua com jornalistas, o que, de tão banal, não tem causado indignação na sociedade.

"Não se pode admitir um Estado Leviatã, no qual tudo que é sigiloso vaza para a imprensa, a exemplo de processos e investigações criminais, bem como dados derivados de quebra judicial de sigilos fiscal, bancário, telefônico e telemático, os quais têm sido veiculados indevidamente, ainda que legalmente protegidos por hipótese de sigilo", argumentou o juiz, citando a obra do filósofo inglês Thomas Hobbes, publicado em 1651, cujo título se deve ao monstro bíblico Leviatã. "Penso que o Brasil convive há muito tempo com janelas quebradas na vizinhança da proteção ao sigilo, havendo uma relação promíscua entre setores da administração pública e setores da imprensa", escreveu.

Juiz se sentiria "desnudado"

O juiz chega a se pôr no lugar de Eduardo Jorge, parafraseando um trecho do livro "O processo", de Franz Kafka, cujo personagem é acusado de um crime que não cometeu. O magistrado afirma que, se descobrisse seu sigilo fiscal quebrado ao folhear um jornal, provavelmente se sentiria "desnudado e ultrajado". "Não sei se me sentiria desnudado, ultrajado ou ambos os sentimentos invadiriam o meu ser. De plano, com certeza, me lembraria do Leviatã hobbesiano ou do big brother de George Orwell, em "1984". A primeira pergunta seria: que Estado é esse?"

A Receita resistira, tentando liberar os dados somente ao final da apuração. E sustentara que permitir o acesso à sindicância poderia "trazer danos ao interesse público". Mas o juiz não concordou. Os dados foram entregues a advogados de Eduardo Jorge ontem mesmo. Para o tucano, porém, a Receita continuará fazendo "o que quer", e não haverá conclusão alguma sobre o vazamento:

- Acho que a Receita está fazendo uma enrolação. Continuo em desvantagem. A gente não tem acesso às provas. Eles fazem o que querem.

Tesoureiro de Dilma é impugnado

DEU EM O GLOBO
Tesoureiro de Dilma Rousseff, José de Filippi teve a candidatura a deputado federal barrada pelo TRE-SP, que cobra uma certidão. A Procuradoria já tinha pedido sua impugnação por ficha suja.
Barrada candidatura de tesoureiro de Dilma

Por falta de documentos, TRE paulista impede Filippi Jr. de concorrer à Câmara dos Deputados; defesa vai recorrer

Tatiana Farah

SÃO PAULO. O tesoureiro da campanha da petista Dilma Rousseff, o ex-prefeito de Diadema José de Filippi Jr., teve sua candidatura a deputado federal barrada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo. Embora sua impugnação tivesse sido pedida pela Procuradoria Regional Eleitoral por causa da Lei da Ficha Limpa, o que motivou a decisão do TRE foi a falta de uma certidão judicial.

O caso de Filippi foi julgado por volta das 23h de anteontem, mesmo dia em que a candidatura do deputado Paulo Maluf (PP) também foi indeferida, pela Lei da Ficha Limpa. No caso de Filippi, o que faltou foi uma certidão sobre processo em segundo instância no Tribunal de Justiça.

O advogado do petista, Marthius Savio Lobato, disse ter sido surpreendido. Ele defendeu Filippi no plenário do TRE, mas argumentando contra os motivos que levaram a Procuradoria Regional Eleitoral a pedir a impugnação da candidatura pela nova lei.

- Estamos checando toda a lista do TRE e aguardando o acórdão (a publicação da sentença) para ver se a juíza informou qual seria essa certidão. Como se trata de um caso de documentos, acredito que vamos sanar a situação no próprio TRE, com recursos internos. O TRE não havia acusado antes nenhuma falta de documentos - disse o advogado.

Segundo Lobato, só depois de julgados esses recursos é que o ex-prefeito deverá recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Quanto ao processo que motivou o pedido da procuradoria, o tesoureiro da campanha de Dilma conseguiu no Superior Tribunal de Justiça (STJ) o seu efeito suspensivo. O processo é de improbidade administrativa, por contratação de um escritório de advogados sem concorrência.

O então prefeito contratou um escritório de advogados usando o argumento de "notório conhecimento" da Lei de Licitações. Para o Tribunal de Justiça, o escritório deveria ter sido contratado por concorrência pública.

- A sentença deixou claro que não houve dolo nem enriquecimento do agente público (prefeito) e, por isso, no STJ conseguimos o efeito suspensivo para a Lei da Ficha Limpa, já que o caso não se enquadra - disse o advogado de Filippi.

‘Herança maldita’ de Lula em debate

DEU EM O GLOBO

Dilma Rousseff e José Serra negam que irão fazer o impopular ajuste fiscal. Mas representantes de seus partidos admitem a medida.

Por que eles têm medo do ajuste fiscal?

Dilma e Serra negam que farão acerto nas contas públicas, mas representantes dos partidos admitem medida

Regina Alvarez

BRASÍLIA. No auge da campanha eleitoral, a candidata do PT, Dilma Rousseff, e o candidato do PSDB, José Serra, negam o que muito provavelmente está nos seus planos para um eventual governo: o ajuste fiscal, que equivale, na prática, ao reordenamento das finanças federais para acomodar as prioridades de um projeto novo para o país - que prometem todos os dias na TV, mesmo que no caso de Dilma esse projeto seja a continuidade do governo Lula.

Os candidatos fogem do tema porque ele está associado a medidas impopulares, como o corte de vantagens e benesses para segmentos do eleitorado, inclusive os indecisos. A necessidade de um ajuste nas contas públicas, no acender das luzes do novo governo, é, no entanto, enfatizada por representantes dos dois partidos.

O tucano José Serra, que vinha mantendo um discurso alinhado ao de seu partido - em defesa de cortes nos gastos públicos para facilitar a queda dos juros e abrir espaço no Orçamento para mais investimentos - recuou esta semana, ao negar que fará um ajuste fiscal nas contas públicas, caso eleito. E ainda insinuou que o PT o fará, como fez em 2003.

- É possível que o PT faça, como sempre fez. Diz uma coisa, faz outra quando chega lá. Mas não é o meu caso - disse Serra, na segunda-feira, em campanha em Sorocaba.

Em 12 de abril, em entrevista a uma rádio de São Paulo, porém, Serra saíra em defesa do ajuste fiscal.

- Tenho certeza que, chegando lá, vamos fazer um diagnóstico e arrumar a questão fiscal, arrumar a casa do ponto de vista das contas - disse, na ocasião.

A declaração desta semana do tucano surpreendeu até seus correligionários.

- Não sei em que circunstância ele falou isso - disse ontem o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), um dos parlamentares que mais criticam, no Congresso, o aumento dos gastos públicos.

Madeira está convicto da necessidade de um ajuste fiscal forte para viabilizar os investimentos e o crescimento sustentado da economia.

- Manter o gasto público crescendo abaixo do crescimento do PIB é a forma de aumentar a capacidade de investimento. Não tem como baixar juros sem fazer algum ajuste fiscal - afirma.

Já a candidata Dilma Rousseff não se manifestou em público a favor do cortes de gastos, mas escolheu o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci como coordenador da sua campanha, o que, para o mercado, tem um importante significado. Palocci, que atua como o interlocutor de Dilma junto ao empresariado e o sistema financeiro, é o pai do rigoroso ajuste fiscal de 2003, que colocou a economia no chão, mas conseguiu controlar a inflação que havia alcançado dois dígitos no fim do governo Fernando Henrique por causa de incertezas nos rumos da economia.

Dilma negou ontem que pretenda fazer um ajuste fiscal no começo de seu governo, ironizando as declarações do opositor José Serra.

Mas a hipótese de o novo governo não adotar qualquer medida de ajuste na área fiscal é improvável, independentemente de quem vença a eleição.

Mesmo com o país crescendo a uma taxa em torno de 7% este ano, o que elevará as receitas do Orçamento, 2011 começa com desafios: o déficit crescente da Previdência, as demandas diversas na área social, a necessidade de ampliar os investimentos para resolver gargalos na infraestrutura e a premência de uma reforma tributária são alguns desses desafios - que os dois candidatos prometem na campanha. Sem ajustes em outras despesas será difícil resolver essa equação.

- Alguns ajustes terão de ser feitos no início do governo. Até para cumprir promessas de campanha, como o aumento de investimentos na educação e na saúde - afirma o deputado Gilmar Machado (PT-MG), que representa o governo na Comissão Mista de Orçamento.

Gilmar Machado lembra que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2011 já criou as condições para esses ajustes, deixando em aberto algumas decisões importantes relacionadas a novos gastos.

- Esperamos terminar o processo eleitoral para sentar com os servidores e conversar - disse o deputado, referindo-se às demandas de algumas categorias por novos aumentos.

O novo governo é que vai definir o rumo da política para o salário mínimo e para os aposentados, destaca o deputado petista.

- (A Dilma) está correta em criar condições para ter um governo mais tranquilo. Ela vai pegar uma situação muito melhor do que o Lula pegou, mas não existe mágica - concluiu.

'Eu vou fazer ajuste fiscal para quê?'

DEU EM O GLOBO

Dilma diz que medida só será aplicada em caso de necessidade; para petista, discutir o tema é armadilha

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, afirmou ontem que não é "virtude" fazer ajuste fiscal. Para ela, essa é uma medida aplicada só em caso de necessidade. Ela rebateu as afirmações do presidenciável tucano, José Serra, que no dia anterior insinuou que o PT adotaria um ajuste no caso de Dilma ganhar a eleição. Ela não admite necessidade de novo ajuste e, numa referência ao governo do ex-presidente Fernando Henrique, disse que não jogaria pedra nos que fizeram.

- Nós fizemos ajuste fiscal também. Não vou jogar pedra em ninguém porque fez ajuste fiscal. Fizemos quando foi preciso. Nem piscamos. Isso não significa que vou transformar uma necessidade em virtude. Quando há necessidade de fazer, se faz. Quando não se tem necessidade, não se faz. Não é virtude fazer ajuste fiscal. Só é quando é necessário - disse Dilma.

Afirmando que não há necessidade de um aperto fiscal no momento em que a economia está bem, lembrou que o governo Lula fez ajuste quando foi preciso, em 2003. E sugeriu como uma armadilha contra ela a discussão no momento sobre o assunto, inclusive o questionamento sobre novos aumentos para servidores:

- Quando eu digo que eu não sei o que o jabuti faz em cima da árvore é porque um país crescendo a 7%, com a inflação sob controle, com a queda da dívida pública, que tem US$255 bilhões de reserva, eu vou fazer ajuste fiscal para quê? - disse. - Acho essa pauta estranhíssima. O reajuste do funcionalismo é aquele que é o merecido. Não vou discutir se será maior ou menor em relação a que, em relação a quem e a que categoria. Não existe um princípio geral. Por que eu falar em tese geral: eu não vou dar ajuste para o funcionalismo? Vocês querem que eu fale isso por quê?

Na entrevista concedida na hora do almoço, após ter gravado para seu programa eleitoral em um templo da Legião da Boa Vontade (LBV), Dilma disse que seu compromisso é garantir a estabilidade e que a melhor receita, no momento, é manter as coisas como estão. Ainda acrescentou que não é possível reduzir a meta de inflação, que hoje é de 4,5% ao ano, por causa do cenário internacional.

- O Brasil não tem nenhum cenário de crise que tinha em 2002. O Brasil tem estabilidade, taxa de inflação sob controle. Uma coisa é manter a dívida caindo, e vou manter. Vou manter também sob controle a inflação. Para a gente reduzir meta de inflação, não se faz isso com o cenário internacional que a gente está, porque pode ser ainda de depressão. Você não tem uma recuperação de países, nem da Europa nem dos Estados Unidos. Então, é muito prudente manter as coisas como estão - disse Dilma. - Acredito que o Brasil, no período de 2011 a 2014, vai ser uma economia que vai poder crescer com estabilidade: controle da inflação, dívida caindo, juros convergindo para padrões internacionais.

Dilma criticou argumentos de que é necessário um ajuste fiscal sistemático:

- Não concordo que o Brasil tenha que ser submetido sistematicamente a cada fim de governo a ajuste fiscal. Acho que tem que ter o que se vê no governo Lula. No início do ano, o governo achou que podia haver problema. O que fez? Contingenciou R$10 bilhões do Orçamento e tomou a providência para ver se ia ser ou se não ia ser.

Ela admitiu fatiar a reforma tributária, caso não consiga aprová-la de uma única vez no Congresso Nacional. Defendeu uma reforma tributária para desonerar investimento, folha de salário, simplificar a tributação e acabar com a guerra fiscal.

Católicos aplaudem críticas à petista

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Cristiane Agostine, de São Paulo

Vestidas com hábito branco e sentadas lado a lado no auditório da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, dez freiras aplaudiram Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) quando ele criticou a ausência de Dilma Rousseff (PT) no debate realizado por emissoras católicas na noite de segunda-feira. Pouco depois, padres sentados a algumas cadeiras das religiosas reforçaram as palmas quando Plínio provocou: "Essa senhora [Dilma] é uma incógnita. Não sabemos quem é. Foi inventada pelo [presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva]". A plateia de católicos presentes ao debate promovido pela TV Canção Nova e pela Rede Aparecida deu coro às críticas do candidato do PSOL e teve de ser contida pelo mediador, padre Cesar Moreira, depois de risadas e apoio à reclamação. O PT, partido tradicionalmente ligado à igreja católica, foi o alvo de protesto de religiosos, descontentes com a única ausência do evento com os principais candidatos à Presidência.

Sem a candidata do PT, José Serra (PSDB) colocou em xeque as opiniões de Dilma sobre temas polêmicos como o controle social da mídia e reforçou: "Dilma não quer se mostrar", disse. "Não quer explicar as coisas que acontecem, o que ela pensa." O tucano ressaltou ser próximo à igreja católica e disse que sua atuação no Ministério da Saúde, no governo Fernando Henrique Cardoso, foi inspirada nas irmãs Marcelinas. A congregação das religiosas participa do governo paulista, na gestão de hospitais e unidades de saúde de São Paulo, por meio de organizações sociais. No intervalo dos blocos do debate, Serra cumprimentou as dez freiras.

Marina Silva, do PV, evitou polemizar a ausência da petista. O protagonista do debate foi o candidato do PSOL. Plínio pediu licença para fazer um protesto na resposta à primeira pergunta (O presidente precisa acreditar em Deus?) e agitou a plateia. "Dos quatro candidatos, tem uma que não podia deixar de estar aqui. O meio cristão sabe muito bem quem eu sou, quem é José Serra e Marina", disse. "[Dilma] foge das questões que podem comprometer e tirar votos", criticou. No mesmo horário do debate das emissoras católicas, Dilma escreveu no microblog Twitter um comentário sobre a banda brasileira Pato Fu, que serviu de munição para Plínio. "Sabe o que ela está fazendo? Está "tuitando!"", disse. "Ela devia estar aqui", cobrou.

Nas duas horas e quinze minutos de debate, transmitido por 200 rádios e seis emissoras de televisão, segundo a organização do evento, não houve embate entre Plínio, Serra e Marina Silva, nem protesto da plateia contra ideias defendidas pelos candidatos. As perguntas passaram por temas como a importância da crença em Deus, reforma agrária, criminalização da homofobia, presença de símbolos religiosos em lugares públicos, ensino religioso nas escolas e redução da maioridade penal. Questionados sobre o que pensam a respeito do aborto, Marina e Plínio afirmaram que são contra, mas mostraram-se abertos à discussão do tema. "Sou contra o aborto e a favor da defesa da vida. É um valor inegociável. Mas defendo que se faça um plebiscito sobre o tema", disse Marina. Plínio concordou. "Como cristão sou contra o aborto, mas não tenho o direito de impor uma conduta decorrente da minha fé a alguém. É uma questão social", disse o candidato do PSOL. Serra disse apenas ser contra a realização de uma consulta popular sobre o tema. "Em questões ligadas ao direito à vida, não faria plebiscito de jeito nenhum", limitou-se.

Em nenhum momento os realizadores do debate pressionaram os candidatos. Com isso, o tucano evitou comentar sobre a queda de intenção de votos de sua candidatura e afirmou que "nunca esteve tão disposto".

Após o debate, religiosos reclamaram da ausência de Dilma, como o arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis. Uma das principais lideranças católicas de São Paulo, dom Damasceno disse que "não se pode votar em um candidato só porque está bem nas pesquisas" e que é preciso evitar o clima de "já ganhou".

Candidato do PSDB lembra mensalão e ataca petista na TV

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Pela primeira vez no horário político, partido usa programa de Serra para dizer que Dilma"está se achando"

Bruno Tavares

O programa eleitoral do presidenciável tucano, José Serra, lançou ontem à tarde na TV novos ataques à adversária petista, Dilma Rousseff. Pela primeira vez desde o início do horário político, há oito dias, o candidato do PSDB lembrou o mensalão - suposto esquema de pagamentos a parlamentares em troca de apoio no Congresso.

A inserção, que ocupou os últimos 25 segundos do programa tucano, mencionou ainda dois personagens centrais do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2006), os ex-ministros Antônio Palocci (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil).

A primeira frase do locutor foi: "A Dilma está se achando." Na tela, imagens de reportagens publicadas nas últimos dias em revistas e jornais iam se sucedendo. "A eleição nem começou e já tem briga dela com o Lula." E prosseguiu: "O povo nem votou e ela já está escolhendo os ministros." As referências a Palocci e Dirceu vieram no fim. "E olha quem quer voltar: Zé Dirceu, o mesmo do mensalão, e Palocci. O Brasil não merece isso."

No programa noturno na TV, eleitores de Serra apareceram comparando-o com Dilma. Sem falar o nome da petista, o tucano fez duas observações direcionadas à oponente. Primeiro, disse que era "preciso parar com a mania de grandeza". Depois, assinalou: "Não preciso ficar na sombra de ninguém."

A estratégia tucana de inserir cenas com ataques a Dilma no fim dos programas de TV começou no fim de semana. Pesquisa de intenção de voto divulgada no sábado apontava vantagem de 17 pontos para a petista na corrida presidencial.

No rádio, há mais alfinetadas da candidatura Serra. Ontem à tarde, após o jingle que diz que Dilma se apropria das realizações do governo Lula para se promover, um dos personagens que integram a publicidade tucana disparou: "Do jeito que ela (Dilma) anda pendurada em Lula, se ele se afastar ela cai." Sorrindo, o "narrador" emendou: "É esquisito esse negócio."

Fábrica. O programa de Dilma no horário nobre da TV voltou a colar a imagem dela à de Lula. O foco ontem foi a educação. A petista prometeu ampliar as vagas em creches e pré-escolas e construir universidades. Dilma classificou o tema como "prioridade máxima" de seu governo.

À tarde, a propaganda da candidata petista na TV explorou o comício realizado na segunda-feira na porta da fábrica da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo. O vídeo destacou a emoção dos trabalhadores que acompanharam a visita dos petistas. Aos prantos, o operário Sebastião dos Santos apareceu agradecendo a Lula "por dar condições ao pobre de viver feliz".
Volta

"O povo nem votou e ela já está escolhendo os ministros. E olha quem quer voltar: Zé Dirceu e Palocci"

TRECHO DO PROGRAMA

Dirceu pede votos para ex-assessor

DEU EM O GLOBO

Petista elogia na TV Marcelo Sereno, sua testemunha de defesa

Fábio Vasconcelos

Deputado cassado no escândalo do mensalão, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) voltou a pedir voto no Rio, mas agora para seu fiel escudeiro, o ex-assessor especial da Casa Civil Marcelo Sereno, que concorre a uma vaga de deputado federal pelo Rio.

Num depoimento gravado para o horário eleitoral de TV de Sereno, que foi ontem ao ar, Dirceu diz que o seu ex-assessor precisa ser eleito pelo Rio:

- Marcelo (Sereno) é meu companheiro. Meu irmão. Dirigente da CUT. Profissional. Competente. Um petista. Está na hora de eleger Marcelo deputado federal.

Sereno é uma das testemunhas de defesa arroladas pelo ex-ministro, que responde na Justiça por crimes relacionados ao caso do mensalão. O ex-assessor, porém, não é o único amigo de Dirceu que concorre nestas eleições e que pode integrar a "bancada do Dirceu". O filho do ex-ministro, Zeca Dirceu (PT), também é candidato a deputado federal, no Paraná.

Os deputados federais João Paulo Cunha (PT), José Mentor (PT) e José Genoino (PT), que também foram acusados de participação no mensalão, concorrem à reeleição. Mesmo após o escândalo, continuaram mantendo boas relações com o ex-chefe da Casa Civil. Em 2007, Genoino e Mentor estiveram numa festa de lançamento de um site e de um livro, promovida por Dirceu, em Brasília.

Mônica Serra faz campanha no Nordeste

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Mulher do tucano entra na luta em busca de votos

Anna Ruth Dantas

A psicóloga chilena Mônica Serra, mulher do presidenciável do PSDB, José Serra, começou ontem a fazer campanha pelo marido no Nordeste. Mônica afirmou que está em busca do voto feminino e de "mostrar" que "Lula não é o candidato à Presidência", numa referência à transferência de popularidade do presidente para Dilma Rousseff (PT). Ela cumpriu agenda ontem em Natal (RN). Amanhã, segue para João Pessoa (PB) e Recife (PE).

"Minha participação na campanha no Nordeste é falar com as mulheres e poder colocar para elas qual a forma de trabalho do Serra", disse Mônica. "As mulheres nunca são enganadas por outra mulher. Elas podem ver como estou sendo sincera quando falo dele como homem público."

A psicóloga lembrou sua história com Serra, que conhece há 40 anos. Por isso, ela se considera a "melhor pessoa" para falar do tucano.

"Sei das suas intenções, sei dos seus sonhos, do amor que tem pelo povo brasileiro, por querer fazer melhor."

Serra quer mostrar força em SP para conter avanço de Dilma

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A coordenação da campanha do presidenciável do PSDB, José Serra, preparou uma ofensiva política para fazer frente ao crescimento da candidata Dilma Rousseff (PT) nas últimas pesquisas. O contra-ataque prevê demonstração de força no Estado de São Paulo, onde foi articulado encontro com 450 prefeitos, e a exibição de depoimentos de apoio a Serra no horário eleitoral gratuito na TV, gravados por estrelas do PSDB. Foi fechada ontem uma agenda conjunta entre Serra e o candidato tucano ao governo paulista, Geraldo A1ckmin, para projetar a candidatura em São Paulo e impedir o avanço de Dilma. Na TV, o programa de Serra lançou ataques à petista e, pela primeira vez desde que começou o horário político, ele lembrou o mensalão.

Tucanos armam ofensiva pró-Serra em SP para impedir avanço de Dilma

Contra-ataque político aos petistas prevê demonstração de força no Estado, com realização de encontro com 450 prefeitos na semana que vem

Julia Duailibi, Ana Paula Scinocca

A coordenação da campanha do presidenciável do PSDB, José Serra, preparou uma ofensiva política para fazer frente ao crescimento da adversária Dilma Rousseff (PT) nas últimas pesquisas de intenção de voto.

O contra-ataque político dos tucanos prevê demonstração de força no Estado de São Paulo, onde foi articulado encontro com 450 prefeitos paulistas na semana que vem, e a exibição de depoimentos de apoio a Serra no horário eleitoral gratuito na TV, gravados por "estrelas" do PSDB.

Foi fechada ontem uma agenda conjunta entre Serra e o candidato tucano ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin, com o objetivo de projetar a candidatura presidencial no Estado. Tucanos querem fazer uma frente no maior colégio eleitoral do País, impedindo o avanço de Dilma.

Para o encontro, no dia 1.º, foram convidados 450 prefeitos, inclusive os que são de partidos da base de apoio de Dilma Rousseff, como o PMDB - em São Paulo a legenda apoia o PSDB.

A expectativa é de que, pelo menos, 300 representantes de municípios paulistas apareçam no evento, no Credicard Hall, na zona sul paulistana. Também foram convidados vice-prefeitos e vereadores. Tucanos disseram que colocarão na entrada do encontro contadores de pessoas para ter ideia precisa de quais aliados compareceram à reunião.

No fim de semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcou presença em comícios do PT na Grande São Paulo. No Estado governado pelo PSDB há 16 anos, tentou "vender" sua candidata à Presidência e Aloizio Mercadante, que disputa o Palácio dos Bandeirantes pelo PT.

Pesquisas de intenção de voto mostram diminuição da vantagem de Serra no Estado. Segundo o Instituto Datafolha, caiu pela metade sua dianteira em relação a Dilma em São Paulo, entre julho e o início de agosto. Passou de 14 para 7 pontos porcentuais.

Mensagens. Parte da ofensiva política, os programas de Serra na televisão começarão a exibir mensagens de apoio de políticos com projeção nacional, gravadas especialmente para o candidato do PSDB. Também foram enviadas aos Estados cenas de Serra pedindo votos para deputados.

Já foram gravadas mensagens de apoio do ex-prefeito Beto Richa, candidato pelo PSDB ao governo do Paraná e líder das pesquisas em seu Estado, e de Simão Jatene, tucano que disputa o governo do Pará. Haverá também mensagem de Alckmin.

Hoje, Aécio Neves, candidato ao Senado por Minas, grava seu depoimento. Na realidade, Aécio já havia gravado mensagem, mas os marqueteiros de Serra preferiram regravar em estúdio para melhorar a qualidade. Depois da gravação, o mineiro deve se encontrar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

"O objetivo é mostrar a que viemos. Mostrar o entorno da candidatura dele (Serra), assim como fizemos em 10 de abril", afirmou um dos coordenadores da campanha, ao mencionar o encontro nacional em Brasília no qual Serra se lançou à Presidência.

Em viagem ao Rio Grande do Sul, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, começou a colocar em campo o que chamou de "sacudida e realinhamento". Disse que a campanha nacional será "colada" nas disputas estaduais.

"Estamos conversando com a Yeda para dar uma colada nas duas campanhas e o movimento suprapartidário tem de ganhar escala, ter mais escala operacional", disse Guerra, ao fim de encontros com integrantes do Movimento Suprapartidário Gaúchos com Serra e com a governadora Yeda Crusius. Apesar das declarações de Guerra, líderes do PSDB nacional são contra colar no Estado Serra à imagem de Yeda, que amarga um terceiro lugar nas pesquisas locais.

Os integrantes do comitê suprapartidário apresentaram a Guerra uma série de pedidos para ajustar a campanha. Reclamaram da falta de material e de informações. As agendas de Serra no Estado, quase sempre marcadas na última hora e alteradas a qualquer momento, já impediram que seus aliados se mobilizassem para recebê-lo.

Comunicação. A estratégia da equipe de comunicação, que não deverá ter mudanças bruscas, é aumentar críticas a Dilma e PT gradativamente. Sairá momentaneamente a favela construída em estúdio - e criticada pelos aliados - para a entrada de um escritório onde Serra despacha. A camisa com mangas dobradas será substituída pela gravata. O novo cenário será exibido nos próximos dias e, ao poucos, as duas propostas serão alternadas no programa da TV.

Uma das áreas que podem apresentar mudanças é a internet. No fim de semana, Ravi Singh, um indiano que atuou na campanha vitoriosa de Juan Manuel Santos à Presidência da Colômbia, reuniu-se com integrantes da campanha tucana. Singh, da empresa Election Mall Tecnologies, fez uma proposta inicial ao PSDB, rejeitada pela sigla por enquanto.

Colaborou Elder Ogliari

Reunião

O encontro entre o marqueteiro da campanha tucana, Luiz Gonzalez, e o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, que estava previsto para segunda-feira e foi adiado, deve ocorrer hoje

O cidadão e o jornalismo

Graziela Melo

Em inteligente comentário no Estadão de hoje, Carlos Alberto Di Franco, defendendo a prática do jornalismo em benefício da cidadania, toca em pontos cruciais que desmascaram a "cara de pau", a ignorância primária da candidata do Lula, além de alguma graciosa ironia.

Tudo, a partir do rebouliço causado na mídia pelo vídeo do estudante Leandro dos Santos, que "pilhou" Cabral e Lula com suas verdadeiras caras. Sem a maquiagem da propaganda eleitoral.
Além da excelente ideia sobre a prática do jornalismo, Di Franco põe o dedo em algumas feridas: "Sou contra a censura". Beleza. Então, como explicar sua assinatura no 3 Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3)?

Como explicar as sucessivas maquiagens nos seus planos de governo? "Sou contra qualquer ditadura". Ótimo. Mas como explicar as declarações de apoio de Hugo Chaves à "amiga Dilma"? E José Serra, é a favor ou contra a independência do Banco Central?

Nosso papel, embora com civilidade e respeito, não é registrar, mas questionar. Willian Bonner, âncora do Jornal Nacional, fez a sua parte com notável profissionalismo. O PT errou quando insultava Sarney, Collor e Renan Calheiros ou errou depois ao se aliar a eles? "Antes o PT não tinha experiência, amadureceu no governo" respondeu Dilma".

Bem, respostas manhosas, mentirosas, são, em seguida, contrapostas, contraditas pelos fatos. Estes, sim, reais e verdadeiros como no preocupante caso da assinatura do Decreto dos Direitos Humanos, que violenta a Constituição de 88.

Bem, fico angustiada, apreensiva e preocupada!

Feira livre de dados pessoais segue em SP

DEU EM O GLOBO

O comércio de dados pessoais sigilosos nas ruas de São Paulo continua sendo feito livremente. Ontem, um dia após denúncia do GLOBO, repórter comprou outro CD com informações de contribuintes. Agora, da Receita Federal, por R$ 95.

Feira de dados continua livre em SP

Em nova investida, repórter compra CD com listagens da Receita Federal por R$95

Lino Rodrigues e Wagner Gomes

Ocomércio de dados pessoais sigilosos continua livremente no Centro de São Paulo. O repórter do GLOBO voltou ontem à Rua Santa Efigênia - tradicional ponto de comércio de produtos eletrônicos - e adquiriu por R$95 outro CD com informações de mais de seis milhões de contribuintes da Receita Federal. O programa, com dados de 2006, tem nome, telefone, endereço e CPF de contribuintes de São Paulo, Rio, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo.

No dia anterior, o repórter já havia comprado dois CDs com informações do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) sobre proprietários de veículos em todo o país e dados bancários de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Preço da ilegalidade: R$200. O vendedor disse ainda que poderia obter dados da base do Itaú Unibanco.

A negociação de ontem ocorreu outra vez em plena rua, onde dois policiais militares faziam a ronda no início da tarde. O dinheiro foi repassado ao vendedor dentro de uma galeria, na esquina da Santa Efigênia com a Rua Aurora, a poucos metros do 3º Distrito Policial.

Em rápida conversa com um dos atravessadores, ele revelou que um dos chefes do esquema é conhecido pelo nome de Ricardo e que o negócio sobrevive há mais de dez anos:

- Nossos produtos são garantidos, tanto que temos clientes antigos - afirma.

A livre distribuição de dados que deveriam estar protegidos tem rendido aborrecimentos e preocupação para quem aparece nessas listas. Viúva há 20 anos, L.V. passou a receber cartas e ligações de instituições financeiras oferecendo produtos para uso do marido já morto. O primeiro contato aconteceu há quatro anos. Ela conta que já mudou de endereço desde a morte do marido, inclusive de estado, e que, por isso, acredita que as informações tenham vazado dos computadores da Receita. Enquanto não conclui na Justiça o processo de inventário, ela tem de manter atualizados seus dados junto à Receita.

- O inventário está na Justiça e tenho que declarar anualmente o espólio do meu marido, que faleceu em 1991 - explicou a viúva.

Os criminosos atuam livremente sem temer as autoridades. Em abril de 2007, a polícia chegou a prender três homens acusados de comercializar cadastros de contribuintes da Receita Federal na mesma Rua Santa Efigênia. Um adolescente de 15 anos foi detido na ocasião e levado para a Vara da Infância e Juventude. O CD trazia ainda informações de assinantes da Telefônica. Segundo a polícia na época, o adolescente oferecia o produto, enquanto os adultos tratavam da venda. Eles foram autuados em flagrante por formação de quadrilha, divulgação de segredo e violação de direito autoral.

Nas duas vezes em que o repórter esteve no local ficou claro que, além da cumplicidade entre os vendedores de dados, existe uma conivência velada dos lojistas formais, que demonstram intimidade com os vendedores de dados ilegais. A Receita foi procurada para falar sobre a comercialização de seus dados, mas não respondeu. Já a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) saiu em defesa de seus associados e afirmou, por meio de nota, que "os dados de clientes do setor bancário são mantidos em ambiente seguro e dispõem das melhores tecnologias de segurança da informação contra vazamento de dados". A entidade acrescentou que as instituições bancárias cumprem rigorosamente a lei do sigilo bancário.

"Nunca tivemos ocorrência de dados de nossos clientes disponibilizados para o mercado", conclui a nota.

Sinal verde para privatizar aeroporto

DEU EM O GLOBO

Anac aprova regras para concessão de aeroporto

Minuta prevê lance mínimo de R$3,7 milhões por terminal do Rio Grande do Norte. Modelo será usado em outras licitações

Geralda Doca

BRASÍLIA. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) aprovou ontem a minuta de concessão à iniciativa privada do aeroporto internacional de São Gonçalo do Amarante (RN), bem como os termos do edital de licitação, que serão colocados em consulta pública hoje. Com lance mínimo de R$3,7 milhões, o consórcio vencedor poderá explorar o serviço por 28 anos. A decisão, embora prevista, é inédita, e o modelo adotado nesse terminal deverá servir de base para a privatização de outros aeroportos.

A concessão à iniciativa privada de terminais brasileiros é considerada fundamental frente ao crescimento da demanda e a eventos como a Copa em 2014 e as Olimpíadas em 2016.

No Rio Grande do Norte, o grupo privado que ganhar a disputa terá de construir os terminais de passageiros e de carga, além de instalar todos os equipamentos necessários à operação - um investimento estimado em R$650,299 milhões por três anos. A conclusão das obras de pista e pátio continuarão sob a responsabilidade do Batalhão de Engenharia do Exército, com recursos da Infraero e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A previsão é que o edital esteja nas ruas em janeiro de 2011. Os textos colocados em consulta pública por 30 dias serão enviados ao Tribunal de Contas da União (TCU), que vai avaliar os parâmetros da concessão.

Na fila, Galeão, Viracopos e terminal em São Paulo

O modelo de outorga, segundo fontes do Executivo, orientará a concessão de outros aeroportos - um projeto que o governo pretende tocar depois das eleições. Estão na fila o terceiro terminal de São Paulo, Galeão (Tom Jobim) e Viracopos (Campinas), os dois últimos atualmente nas mãos da Infraero.

- O governo decidiu pelo modelo de outorga (em que a concessionária paga um valor anual à União) para garantir a operação dos aeroportos deficitários e que são importantes do ponto de vista de integração regional - disse um técnico.

Embora, publicamente, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, tenha defendido a abertura de capital da Infraero, que continuaria administrando os aeroportos existentes, há consenso no governo de que a estatal não consegue investir o necessário para ampliar a capacidade aeroportuária.

O atual aeroporto de Natal fechou 2009 com 1,9 milhão de passageiros. A previsão é que o novo terminal tenha capacidade para cinco milhões de usuários anualmente. Poderão participar do edital empresas brasileiras e estrangeiras e companhias aéreas. Neste último caso, elas terão que entrar via consórcio, com limite de participação de 10%.

Ao vencedor, estão garantidas receitas com tarifas de embarque de passageiros e taxas pagas pelas empresas por pouso, permanência e navegação aérea (comunicação), além de ganhos com aluguel de áreas comerciais. Segundo o edital, estão previstos reajustes anuais pela inflação e revisão a cada cinco anos.

Como já acontece nos setores de energia e telecomunicações, será criado um fator de produtividade (um desconto no valor da tarifa) para estimular a eficiência do aeroporto. Como o terminal ainda será construído, esse indicador só vai começar a valer depois de cinco anos.

Abertura de capital da Infraero nos planos

Também será criado um indicador para mensurar a qualidade do serviço prestado. Fontes do governo afirmam também que o modelo de abertura de capital da Infraero poderá conviver harmonicamente com aeroportos privatizados. No entanto, a estatal terá que seguir os mesmos padrões fixados para o setor privado, tornando-se uma concessionária, com direitos e deveres.

Até agora, o governo já gastou R$113,1 milhões para iniciar a obra de São Gonçalo do Amarante, entre recursos da Infraero e do PAC, devendo alcançar R$155 milhões até o fim deste ano. Até 2014, a previsão é investir mais R$95 milhões.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Sarah Chang - Dvorak Violin Concerto

Noturno:: Ascenso Ferreira

Sozinho
nas ruas desertas
do velho Recife
que atrás do arruado
moderno ficou...
criança de novo
eu sinto que sou:

— Que diabo tu vieste fazer aqui, Ascenso?

O rio noturno,
tremendo de frio,
com os dentes batendo
nas pedras do cais,
tomado de susto
sem poder falar..
o rio tem coisas
para me contar:

— Corrre senão o Pai-do-Poço te pega, condenado!

Das casas fechadas
e mal-assombradas
com as caras tisnadas
que o incêndio queimou
pelas janelas esburacadas
eu sinto, tremendo,
que um olho de fogo
medonho me olhou:

– Olha que o Papa-Figo te agarra, desgraçado!

Dos brutos guindastes
de vultos enormes
ainda maiores
nessa escuridão...
os braços de ferro,
pesados e longos,
parece quererem
suster-me no chão!

Ai! Eu tenho medo dos guindastes,
Por causa daquele bicão!

Sozinho, de noite,
nas ruas desertas
do velho Recife
que atrás do arruado
moderno ficou...
criança de novo
eu sinto que sou:

— Larga de ser vagabundo, Ascenso!