quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Reflexão do dia – Danuza Leão


Lula está histérico; um recém chegado ao Brasil que o tenha visto no programa eleitoral, acreditaria que o PSDB é que tinha violado o sigilo de altos dirigentes do PT, da filha de Dilma, do seu genro, o oposto do que realmente aconteceu. É muita cara de pau. A maneira como ele se refere aos outros candidatos é baixa, sem nenhum respeito; será que é demais querer para presidente alguém mais educado? Até agora, Dilma está, segundo as pesquisas, à frente dos outros candidatos, mas a possibilidade de haver um segundo turno tira Lula do sério. Sempre se soube que ele era um mau perdedor, e agora se anuncia também como um (possível) péssimo ganhador. E alguém acredita na investigação da Policia Federal? Na quebra do sigilo telefônico da funcionária da Receita? Em alguma coisa que envolva esse governo?

Além de todos os meus medos, agora tenho um novo: de que Lula exploda feito um homem bomba num palco qualquer, com o microfone na mão, tal a raiva e o ódio que não consegue esconder - e nem tenta. O presidente não se conforma em ser contrariado, não admite ser derrotado, e sua fúria, quando supõe que isso possa acontecer, é a de um animal com raiva - a doença - em seus piores momentos. Em suas metáforas, passou da ignorância, até compreensível, à grosseria e à boçalidade.

(Danuza Leão, no artigo ‘Mimetismo’ na Folha de S. Paulo, 12/9/2010)

O cadáver de Bolívar:: Bernardo Ricupero

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Nas primeiras horas da passagem do dia 15 para o dia 16 de julho, telespectadores venezuelanos insones foram surpreendidos com a cena em que a ossada de Simón Bolívar era retirada do Panteão Nacional para ser exumada. A televisão estatal transmitiu ao vivo o trabalho de médicos forenses, soldados e funcionários governamentais que retiraram dentes e fios de cabelo do que resta do Libertador. Mais tarde, o presidente Hugo Chávez revelou, em mensagem postada de seu Twitter: "Aquele esqueleto glorioso é certamente Bolívar, já que sentimos sua chama."

O motivo aparente da exumação é verificar se o herói das Américas não morreu, em 1830, de tuberculose, como conta a "História oficial", mas envenenado por arsênico quando se encontrava em Santa Marta, na Colômbia. O suposto envenenamento de Bolívar pode, além do mais, servir a Chávez na sua batalha contra os atuais ocupantes do poder no país vizinho, herdeiros da oligarquia que teria traído o Libertador.

A curiosa exumação do cadáver de Bolívar talvez pudesse ser tomada como prova de que, como queria Comte, "os mortos governam os vivos". Na verdade, é mais um exemplo de como a História costuma ser usada para servir a fins políticos.

Não deixa, porém, de ser significativo que se mexa no cadáver do Libertador quando se inicia a comemoração dos 200 anos de independência das ex-colônias da Espanha e de Portugal na América. O bicentenário é, além do mais, evidentemente um momento privilegiado para se pensar a experiência das nações latino-americanas.

Já Bolívar percebera algumas das dificuldades que essas novas nações teriam de enfrentar. Argumentou sugestivamente, numa inspiração republicana, que o principal problema do pós-independência se relacionaria com o anterior despotismo espanhol, que teria impedido seus súditos de além-mar de aprenderem a se autogovernar. Pouco antes de morrer, o Libertador deixou-se tomar pelo desespero, aludindo que seu esforço teria sido inútil, já que "aquele que serve a uma revolução ara o mar".

Passados 200 anos da independência, o tema da revolução, ou melhor, da "refundação" ganha espaço na América Latina. Desde que o coronel Chávez, depois de tomar o poder, convocou uma Assembleia Constituinte para "refundar" a Venezuela, o mesmo caminho foi seguido pelo líder cocaleiro Evo Morales na Bolívia e pelo professor de economia Rafael Correa no Equador.

Mais especificamente, a combinação na Venezuela, na Bolívia e no Equador de uma intensa polarização social com a desmoralização do sistema político anterior conduziu à ruptura. Diante de tal quadro, não é seguro apostar que nesses países a democracia esteja segura, seja pela ação do governo ou da oposição.

Mesmo assim, a ruptura não deixou de assumir significados variados nos três países "refundadores". Para Chávez e seus seguidores, trata-se quase literalmente de refundar a nação de Bolívar, possivelmente recuperando a Gran Colômbia e mesmo seu projeto continental. Já para Morales e Correa, a questão é mais de fundar novamente Bolívia e Equador, fazendo com que, diferentemente da independência, as massas indígenas passem finalmente a ter lugar nas duas nações.

Mas a ruptura pode também assumir tons de direita, como ocorreu na Colômbia, no México e no Chile. No primeiro caso, o cansaço com o narcoterrorismo abriu caminho para que Álvaro Uribe pusesse fim à alternância secular no poder entre conservadores e liberais. Por sua vez, o desgaste lento do que um dia pareceu ser a "ditadura perfeita" do PRI preparou o terreno para que o marcadamente católico e nortista PAN chegasse ao governo mexicano. Por fim, mesmo a Concertación por la Democracia, que parecia ser um exemplo de "aprendizado democrático" ao juntar democratas-cristãos e socialistas, acabou se exaurindo depois de 20 anos de poder no Chile.

Por outro lado, nem todos os governos latino-americanos desejam realizar a ruptura. No caso da Argentina e do Peru, Cristina Kirchner e Alan García veem-se, ao contrário, como continuadores da tradição de Perón e de Haya de la Torre. E há também os governos de esquerda que agem a partir das instituições existentes, como ocorre no Brasil e no Uruguai. Muitos situados à esquerda do PT e da Frente Ampla criticam seus governos justamente por se terem ajustado exageradamente à antiga ordem.

Talvez se pudesse argumentar, usando a linguagem de Antonio Gramsci, que estes últimos são países com características mais "ocidentais", ao passo que Venezuela, Bolívia e Equador apresentariam certos elementos "orientais". Em poucas palavras, nos países "refundadores" a ruptura seria ainda uma possibilidade, enquanto no Brasil e no Uruguai seria difícil fugir de algum compromisso.

Mesmo assim, pode-se destacar uma semelhança básica nessas duas experiências: o fato inédito de governos de esquerda se manterem no poder na América Latina. O principal motivo para que isso ocorra é o fim da guerra fria. Isto é, se a União Soviética já não existe, também os EUA não têm mais motivos para impedir que governos de esquerda apareçam na região de sua maior influência.

Assim, governos que reivindicam representar as maiorias das populações de seus países acabaram se espalhando pela América Latina. Tal situação contrasta com nossas independências, movimentos que foram basicamente iniciativas da elite criolla. O peruano José Carlos Mariátegui chegou a caracterizar a independência latino-americana como uma revolução inconclusa. Inconclusa precisamente porque foi incapaz de incorporar as massas populares.

Paradoxalmente, é a nova situação que possibilita a Chávez fazer uso do cadáver de Bolívar. Ou seja, apesar do efeito cômico de tal esforço, a referência à independência ainda faz sentido entre nós.


Professor do Departamento de Ciência Política da USP e pesquisador do CEDEC

Inversão de valores:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O mais grave que está acontecendo no país não é nem mesmo o inacreditável vale-tudo em que se transformou a campanha presidencial, mas a banalização das atitudes mais perniciosas do governo nesses últimos anos, especialmente após o episódio do mensalão em 2005, e de maneira mais acentuada no segundo mandato do presidente Lula.

São praticamente oito anos solapando as instituições do país, provocando ao final um anestesiamento na sociedade brasileira, que tudo justifica porque parte de um governo popular, aprovado por mais de 80% da população.

Como se a popularidade desse a qualquer governo o direito de ignorar leis, ou mesmo que as consequências benéficas desta ou daquela política social justificassem abusos de poder, ou os atenuassem.

O governo Lula está conseguindo transformar críticas em atitudes mesquinhas e antipatrióticas, e, assim como mistura o público com o privado, confunde o líder partidário com o poder do cargo de presidente da República, sem que a sociedade se indigne.

E quem critica esse abuso de poder político nunca antes visto neste país corre o risco de ser considerado um sujeito “do contra”, que não reconhece os avanços havidos.

Cada vez fica mais restrito o campo para as divergências, ao mesmo tempo em que se alargam os caminhos para o autoritarismo e a truculência do Estado.

Não foi por acaso que ontem mesmo o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, novamente no papel de eminência parda, desta vez do eventual governo Dilma, criticou o “abuso do poder de informar” da imprensa.

O presidente Lula começou essa escalada autoritária depois que conseguiu escapar da crise do mensalão.

Entre o momento em que ele próprio disse que havia sido traído dentro do governo, até quando os petistas foram à tribuna do Congresso chorar literalmente de vergonha pelo que estava sendo exposto, houve no país uma indignação que poderia fazer a política andar para a frente, com reformas estruturantes e punição dos responsáveis pelo maior prejuízo institucional que o país já sofreu na História democrática recente.

Mas o presidente Lula, impossibilitado de enfrentar a crise que estava arraigada no seu partido e no seu governo, assumiu em entrevista dada em Paris a versão de que o mensalão não passava de caixa dois, prática normal na política brasileira.

A partir daí, a prometida apuração rigorosa passou a ser uma proteção desabrida de todos os envolvidos, e a promessa implícita de que ninguém sofreria prejuízos se todos se unissem num pacto de silêncio.

O presidente sistematicamente passou a mão sobre a cabeça dos aliados, fossem eles quem fossem, tivessem cometido qualquer tipo de crime.

Essa se tornou a regra do governo, como nas máfias, e acelerou-se no segundo governo Lula a montagem da máquina governamental a serviço dos “companheiros”.

A defesa intransigente de qualquer malfeito de aliados é a contrapartida do apoio cego, acrítico.

Lula não teme nenhum limite legal, desmoraliza o Judiciário como fez agora nesta campanha com o TSE, e se jacta de que pode ir para as ruas quando quiser para combater seus adversários.

Foi à televisão na condição de presidente da República para exercer o papel de cabo eleitoral de sua candidata, colocando o principal adversário como um antipatriota que não pensa no bem do país.

Repetiu na segunda à noite em Santa Catarina, quando, misturando mais uma vez o cargo que ocupa com seus interesses partidários, alegou que “em nome da minha honra e da honra do meu país” não perderá as eleições.

E acrescentou que estava fazendo hoje o que fez em 2005: “Vou às ruas para derrotá-los”.

Na verdade, essa ameaça de levar os movimentos sociais para as ruas para reagir ao possível pedido de impeachment nunca se concretizou, e Lula chegou mesmo a autorizar uma negociação para não se candidatar à reeleição em troca de poder terminar seu mandato.

Com a recuperação de seu prestígio graças aos bons ventos da economia mundial, Lula voltou a ser aquele líder dado a “bravatas”, como ele mesmo confessou que fazia quando esteve na oposição.

Inebriado com seu próprio sucesso, Lula foi adiante e, ao lado da sua candidata Dilma Rousseff, afirmou que o “DEM precisa ser extirpado” da política brasileira.

Seu rancor data ainda de 2005, quando, segundo acusou, a família Bornhausen tentou derrubá-lo do poder.

A gravidade desse episódio, além do fato de um presidente da República defender em público o extermínio de um adversário político, é que, anos antes, o então senador Jorge Bornhausen havia provocado em Lula e nos petistas um aparente sentimento de estupor quando disse que na eleição de 2006 o país precisava “se ver livre dessa raça por 30 anos”.

Foi chamado de tudo: “fascista”, “direitista”, “adepto das ditaduras militares”, “explorador e assassino de trabalhadores”.

Assim como na segundafeira, foi acusado de representar a “direita raivosa”.

Bornhausen alegou na ocasião que usou “esta raça” com o sentido de grupo de indivíduos da mesma categoria, uma das definições de raça dos dicionários. Processou e ganhou quem o acusou.

Vem agora o próprio presidente Lula repetir o que condenara enfaticamente, com o agravante da posição que ocupa, e passa a se utilizar de palavreado e ameaças fascistas contra adversários políticos.

A truculência política do governo é tamanha que transforma as vítimas do aparelhamento do Estado, com a quebra de sigilos fiscais em série da família do candidato oposicionista, em exploradores com fins eleitorais.

E, montando uma farsesca investigação, permite que uma ministra acusada de tráfico de influência continue no cargo, utilizando-se dele para atacar a oposição e proteger sua família.

Uma inversão total de valores republicanos que sinaliza para um futuro democrático incerto.

Solução final:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A alternância está fora dos planos de poder do cidadão Luiz Inácio da Silva, atual e em breve ex-presidente da República Federativa do Brasil.

Há muito isso é uma suspeita, mas a partir desta campanha eleitoral tornou-se mera constatação. Inebriado pelo sucesso, Lula deixa à mostra sua grande fera: a obsessão pela unanimidade que se traduz em vocação para o totalitarismo.

Quem diz isso é o próprio Lula. Quando prega a destruição de um partido de oposição, como fez em relação ao DEM em cima de um palanque em Santa Catarina, e quando manda sua tropa investir forças na eleição de um Senado "mais amigo" para a possível sucessora, Dilma Rousseff.

Lula pretende que o eleitorado "extirpe" o DEM da política brasileira porque o partido fez oposição cerrada a ele. Note-se que não fala em derrota eleitoral nem política, mas em extinção, destruição, aniquilamento.

Quer dizer, assim como imprensa boa é imprensa inerte, na visão dele oposição boa é oposição morta.

Quanto ao Senado, note-se que o presidente não deseja para o País um Parlamento de melhor qualidade, mas um Poder Legislativo mais dócil ao Poder Executivo. A falta de preocupação com a qualificação de cada um ficou patente quando da prisão do candidato ao Senado pelo Amapá, Waldez de Góes, no dia seguinte ao presidente ter aparecido no horário eleitoral pedindo votos para ele.

Para que Lula necessita de um Senado "amigo", qual o projeto inovador, de fundamental importância que seu grupo político está pensando em apresentar ao Congresso que é repudiado pela oposição, que esteja acima de qualquer possibilidade de negociação política e, portanto, que precise de um batalhão de obedientes?

Especula-se que sem entraves na Casa revisora teria caminho livre para aprovar plebiscitos e alterações na Constituição que de outro modo não passariam, mas de concreto ninguém sabe de coisa alguma e de objetivo nada que seja benéfico para o conjunto da sociedade está fora do alcance da articulação política entre a base do governo e a oposição.

Sobram duas hipóteses: ou está sendo engendrado algo inegociável e que teria o repúdio da opinião pública, ou Lula quer construir uma maioria política acachapante para o deleite de exercitar a hegemonia de maneira absoluta, sem nunca mais precisar disputar coisa alguma de verdade, podendo entrar nas contendas com a parada ganha por antecipação.

De certo modo isso já mais ou menos acontece porque, se o detentor do poder não respeita a regra do jogo, tem dupla vantagem: os instrumentos e a falta de escrúpulos. E é exatamente assim que Lula se conduz na Presidência, usando a máquina e passando por cima da lei.

Nesse patamar de autoencantamento o risco é a pessoa perder de vez o senso de que o mundo não obedece a ordens dos homens e comece a atuar na lógica da insensatez, construindo um processo de dilapidação do próprio patrimônio.

Lula está no ápice e ficará no ápice e meio se conseguir eleger no primeiro turno uma pessoa sobre a qual pouquíssimo se sabe e sobre quem há mais referências negativas que positivas.

Significará que nem o céu é o limite.

Ocorre, porém, conforme a História nos conta, que ninguém pode tudo acima de tudo o tempo todo e o excesso dá expediente na antessala dos erros fatais.

Por um fio. Basta uma vírgula a mais no caso da ministra da Casa Civil que abria o governo aos negócios da família, para Erenice Guerra ser demitida ou pedir demissão do cargo.

Mineiro. Correligionários de Aécio Neves mostram pesquisas para argumentar que não teria efeito prático a exibição de José Serra na propaganda do ex-governador.

Da mesma forma, as pesquisas provavam que Aécio ajudaria muito mais sendo candidato ao Senado do que integrando a chapa presidencial.

Pesquisas do Instituto Vox Populi, que trabalha para os dois palácios: do Planalto e da Liberdade.

Comparado com isso aí, Watergate foi bolinho:: José Nêumanne

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em junho de 1972, um bando de cinco aloprados invadiu um escritório da campanha do candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, George McGovern, para fotografar documentos e instalar microfones de escuta, a mando de uma gentalha instalada em gabinetes próximos do Salão Oval, no qual despachava o presidente Richard Nixon. O evento, aparentemente um incidente corriqueiro a ser noticiado nas páginas policiais, terminou levando a dupla de repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal The Washington Post, a uma das maiores reportagens da História: a descoberta de que o chefe do Executivo mais poderoso do mundo tomara conhecimento do episódio e participara da conspiração para esconder provas da Justiça, o que o levou à renúncia dois anos e dois meses depois do fato. O episódio ilustrou dois aspectos da política. O primeiro deles, mesquinho, é a cegueira produzida pelo poder, capaz de levar quem o disputa a excessos desnecessários do gênero: no fim do processo eleitoral, Nixon aplicou uma das maiores sovas em eleições presidenciais americanas no adversário, vencendo-o em 48 dos 50 Estados da Federação. O outro, nobre, foi a demonstração do triunfo das instituições sobre as ambições quando funciona de verdade o tal do Estado Democrático de Direito.

Comparado com o que tem acontecido na atual sucessão presidencial em nossos trágicos trópicos, Watergate foi pinto, foi bolinho de bacalhau. Dificilmente o homem mais poderoso do mundo se teria mantido tanto tempo no poder, e talvez não houvesse tido sequer a possibilidade de renunciar, se tivesse devassado a contabilidade sigilosa de filha, genro e aliados do democrata derrotado. Ou se algum parente do secretário de Estado (apesar do crédito histórico de haver tirado a maior potência militar do mundo do atoleiro da guerra no Vietnã) Henry Kissinger fosse acusado de haver recebido "taxa de sucesso" de empresários envolvidos em negócios com a Casa Branca. Agentes da Receita Federal devassaram a contabilidade sigilosa da filha do candidato oposicionista à Presidência, Verônica Serra, de seu marido, Alexandre Bourgeois, e de quatro tucanos de alta plumagem, um dos quais, Eduardo Jorge Caldas Pereira, é vice-presidente do PSDB, o maior partido da oposição. Até agora todas as cabeças coroadas da Receita continuam sobre seu pescoço. E mais: a revista Veja reproduziu depoimento do empresário paulistano Fábio Baracat, revelando as circunstâncias do envolvimento de Israel Guerra, filho da chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, na cobrança de comissão por contratos que ajudou a firmar com a Empresa de Correios e Telégrafos (EBCT), antes dada como estatal exemplar em eficiência de funcionamento e agora, lembrada pela corrupção desde a denúncia de recebimento de propina por um funcionário dela, o que detonou o escândalo batizado de "mensalão".

De fato, nem os Estados Unidos são o Brasil nem Nixon, mesmo tendo trazido dos pântanos da Indochina os jovens americanos de volta ao lar, jamais gozou de popularidade que pudesse ser comparada com a usufruída hoje pelo chefe do governo brasileiro. Tudo isso é verdadeiro. Mas, então, podemos cruzar o Rio Grande ao sul e encontrar outro exemplo bem mais próximo: o caso Collor. Eleito presidente da República, em 1989, na primeira disputa direta depois da que fora vencida por Jânio Quadros, em 1960, o carioca das Alagoas teve de renunciar ao mandato porque uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada no Congresso para investigar o "caixa 2" administrado por seu tesoureiro informal, Paulo César (PC) Farias, descobriu que a reforma de sua residência particular (a "Casa da Dinda") e um Fiat Elba (que qualquer "mensaleiro" que se preze se recusaria a usar por ser um carro modesto demais) haviam sido pagos pela contabilidade heterodoxa administrada por um empresário que, por sinal, não tinha cargo algum no governo. Então, qualquer brasileiro despido de preconceito ideológico e munido da mais elementar imparcialidade verá que o "carcará sanguinolento" pagou uma pena (fim do mandato legítimo conferido por 49,94% do eleitorado, 5,71 pontos porcentuais a mais que seu adversário, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva) por um dolo que nem pode ser enquadrado na ordem de grandeza de um escândalo como este que acaba de ser divulgado.

O protagonista do impedimento frustrado pela renúncia do presidente hoje faz parte do sesquipedal esquema de poder montado pelo adversário que derrotou há 21 anos. Isso basta para explicar por que ele caiu à época, defenestrado pelo Congresso, que desprezou. Collor, senador da base de apoio do governo petista, tem chance de voltar ao governo de Alagoas, mercê do apoio que dá a Luiz Inácio Lula da Silva e à sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff. A popularidade de um - de 79%, segundo pesquisas de opinião confiáveis - e o favoritismo da outra - 50% a 23% sobre o adversário, conforme o levantamento mais recente de intenções de voto que pode ser levado a sério - dão uma boa mão ao sucesso delle, apesar do apoio de Lula ao oponente Ronaldo Lessa (PDT). Da mesma forma, levam a crer que absolutamente nada acontecerá com o clã Guerra, por cuja eventual culpa já respondeu o bagrinho Vinicius de Oliveira Castro, assessor de Erenice, que ocupou na Casa Civil o lugar que foi da candidata Dilma, a quem os filhos dela chamam de "tia".

Vinicius é o Gordon Liddy de Lula. A diferença é que o chefe dele teve de sair do governo por ter tentado protegê-lo. Aqui, o superior de Erenice jurou que, em seu governo, "bandido só não é preso quando não é bandido". Será mesmo, hein? No começo de 2008, em plena divulgação da farra dos cartões corporativos dos palacianos, Erenice Guerra foi acusada de ter preparado dossiê falso contra Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente Fernando Henrique. A acusação não foi apurada e Erenice não foi demitida: foi promovida.


Jornalista e escritor, é editorialista do "Jornal da Tarde"


O verde-amarelismo voltou:: Marco Antonio Villa

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Lula é uma espécie de Médici do século 21. Não tem a terrível máquina repressiva ao seu lado. Não precisa

É muito difícil encontrar algum sinal de entusiasmo popular pela realização das eleições. O desinteresse é evidente. Como de costume, caiu a audiência da televisão após o início do horário pago -não é possível chamar de gratuito, quando as empresas deixarão de pagar R$ 850 milhões de imposto de renda. O clima lembra 1970. Crescimento econômico, expansão do consumo e do crédito e muitas pitadas de ufanismo. Lula é uma espécie de Médici do século 21. Não tem a terrível máquina repressiva ao seu lado. Não precisa. Asfixiou a oposição. Diluiu as diferenças ideológicas e morais. Tanto que pode apoiar uma candidata identificada historicamente com o feminismo, assim como outro, que é conhecido como um covarde agressor de mulheres.

Aos críticos do "milagre econômico lulista" foi reservado o pior dos mundos. Criou o seu próprio "ame-o ou deixe-o".

Quem está com ele -e nessa categoria o arco é amplo, vai do MST ao grande empresariado- "ama" o Brasil; quem está contra é inimigo e tem de ser destruído.

Não causará estranheza, se disser que o "amor à pátria que entendemos é o que almeja desenvolvê-la e enriquecê-la para que alcance o bem-estar de toda a nossa gente". E que não consegue "ver esse amor em quem se volta contra a sua pátria, quem a quer em tudo derrotada, na estratégia do quanto pior melhor", como discursou Médici em 1970.

A sociedade civil silencia. Mais do que medo, está desinteressada da política. Já o governo avança. Não há mais distinção entre o lulismo e o Estado. É tudo uma coisa só, um só corpo.

O Estado Novo e o regime militar foram dois momentos de supressão das liberdades e de expansão econômica. Tudo à sombra da repressão policial-militar.

O domínio lulista é mais eficaz e sedutor. Até o momento, o pau de arara foi substituído pelos empréstimos bancários, pelo cartão de crédito. Isso só foi possível graças às reformas adotadas na década de 90, que acabaram abrindo o caminho para o crescimento da economia. Mas isso pode estar no limite do esgotamento.

Sem as benesses financeiras, o lulismo não sobrevive. Ao mantê-las, sem realizar as reformas necessárias, o país caminha para o estrangulamento econômico. Mas o que está ruim pode piorar. Deveremos ter o pior Legislativo federal desde 1930.

Produto do verde-amarelismo lulista, do conservadorismo, da despolitização.

Estaremos cercados de Tiriricas por todos os lados. E, por incrível que pareça, sentiremos, em 2011, saudades do Congresso de 2010.

Marco Antonio Villa é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar

Intolerância :: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASíLIA - Sempre preocupado em explicar sua aproximação com autocratas e ditadores pelo mundo afora como sendo uma tentativa de promover a paz e o diálogo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve um momento Lula anteontem.

Em Santa Catarina, durante um comício eleitoral, o petista lamentou ter dado apoio em 2002 a Luiz Henrique (PMDB), que se elegeu governador local: "Eu pensava que era para mudar. Mas ele trouxe de volta o DEM, que nós precisamos extirpar da política brasileira".

Lula repetiu quase à perfeição a manifestação de intolerância política proferida em agosto de 2005 pelo então presidente nacional do PFL (hoje DEM), Jorge Bornhausen. Ao mencionar o caso do mensalão, o demista-pefelista disse o seguinte: "Não estou triste nem desencantado [com o escândalo], pelo contrário.

Estou encantado porque vamos nos ver livre dessa raça durante pelo menos 30 anos".

Os dois episódios -Bornhausen em 2005 e Lula nesta semana- são exemplares da fase mesozoica da democracia brasileira quando se trata de valores republicanos. Os casos indicam também a incapacidade atávica dos políticos a respeito de conviver com o contraditório.

Como se sabe, Bornhausen não conseguiu se ver livre da raça dos petistas. Em 2006, os eleitores foram generosos. Reelegeram Lula, apesar do mensalão.

Mas em 2011 o país deverá ter o Congresso mais chapa-branca desde a volta do sistema de escolha direta de presidente. No Planalto, as pesquisas mostram que Dilma Rousseff continuará a obra de Lula.

A prevalecer a lógica de "extirpar" siglas de oposição, a intolerância será a regra na política nacional.

Hoje, há quatro anos, surgiram os aloprados. Lula foi ao segundo turno. Desta vez, nada se aproxima da octanagem do escândalo de 2006 e como força para influir decisivamente no dia 3 de outubro.

Disputa desigual traz Estado contra Serra:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

A moda, agora, na campanha eleitoral do PSDB, é reviver o esporte que vigorou ao longo do processo de definição da candidatura a presidente do partido, entre novembro do ano passado e fevereiro deste, toda vez que a discussão pendia para o então governador de São Paulo: falar muito mal de José Serra. Políticos importantes da cúpula, os de importância média, aprendizes de feiticeiros, grupos de base eleitoral com influência, até simples simpatizantes atribuem a Serra a culpa pelas dificuldades que todos enfrentam na campanha.

Seria de sua única responsabilidade não crescer nas intenções de voto, ser o seu próprio marqueteiro, não ouvir o comando político, permitir a virada nos Estados, ter se imposto ao ex-governador de Minas - sim, esta também voltou - e, a mais recente, ter tido um desempenho fraco no debate eleitoral. Serra estaria, também, tenso, nervoso, preocupado, indormido.

Bem, em Brasília, segunda-feira, ao longo de uma reunião com a Ordem dos Advogados do Brasil para debater a reforma política, e depois do encontro, José Serra estava absolutamente tranquilo, seguro, cordial, expondo com uma clareza impressionante suas reflexões sobre o tema e, nelas, os riscos que a atual campanha eleitoral tem representado ao Estado de Direito, à Democracia.

Vendo-o em ação, não é possível identificá-lo com o personagem de todas as culpas. Seriam os que o acusam inocentes? Aécio Neves, Tasso Jereissati, Sérgio Guerra, Arthur Virgílio, Álvaro Dias, líderes em geral, qualquer um dos políticos do PSDB que, ao longo dos últimos oito anos, não se encontraram com o exercício da oposição, não souberam definir seus adversários políticos nem criar antídotos aos efeitos monumentais da propaganda, são culpados do que ocorre hoje. E Serra inclusive.

Numa campanha como a de 2010, desde já candidata a ser objeto de aprofundados estudos políticos e, bastante necessários, também jurídicos, dificilmente um outro candidato de oposição, qualquer um, lograria desempenho diferente.

Serra não tem dado sinais de desânimo com as críticas internas e toca a etapa final da campanha exibindo confiança em levá-la ao segundo turno. Em segundo lugar nas intenções de voto para Presidente da República, parece consciente de que está cumprindo um papel histórico.

Serra não está questionando o fato de a candidata do PT, Dilma Rousseff, sua principal adversária, estar muito à frente nas intenções de voto, posição que já ele próprio teve em outro momento da campanha. O recado que chega da sua atual pregação é que está lutando não pelo projeto de seu partido contra o projeto do partido adversário, mas contra um Estado inteiro, capturado por um grupo político cujo líder, o presidente da República, governa para aliados eleitorais.

O Estado está a serviço do terceiro mandato que o presidente Lula ficou impedido constitucionalmente de disputar, mas deu um jeito, construindo agora a ponte para a possibilidade legal de disputar com seu próprio nome, mais adiante, o quarto e o quinto. Não são, portanto, três mandatos, mas cinco, o período pleiteado pelos adversários para o qual a oposição teria que ter se preparado para enfrentar.

Por mais que tivesse o chefe da Nação dito que faria tudo - "tudo é tudo", detalharam seus intérpretes - para eleger presidente quem escolheu para ser, sem um contraditório ou interferência partidária, a oposição não poderia ter imaginado que seria como está sendo: O Estado contra um candidato.

Lula criou o poste, jargão eleitoral com que se define um candidato absolutamente desconhecido, implantou-o e iluminou-o. Em dois anos, colocou seu palanque governamental, integralmente, a serviço desse projeto. Inovou, pois nenhum de seus antecessores se despiram da Presidência para eleger o sucessor.

Nenhum grupo político, também, preparou antídoto para essa ação, nem se sabe se ela existe na crônica eleitoral.

Até aliados jamais ousaram contraditar ou sugerir acréscimos. É obra de um homem só: da transgressão à lei à defesa de extermínio de partido adversário, da impunidade a aliados ao capricho de nominar o próximo alvo.

O presidente Lula nada está fazendo que não tenha feito nos seus oito anos de mandato, mas a oposição, não se sabe por quê, achou que seria diferente. Frustrada agora em suas expectativas, responsabiliza Serra. Não pela perda da disputa, pois ainda não a perdeu e há institutos de pesquisa com credibilidade que ainda apontam possibilidade técnica de a disputa ir ao segundo turno. Mas pelas dificuldades, sendo que boa parte delas decorre do próprio pessimismo.

Esses políticos estão surpresos com a frustração de uma expectativa. O erro de Serra foi o mesmo, ter-se equivocado com o adversário, como todo o PSDB, e não haver se preparado para sustentar a vantagem e fazer a disputa com um presidente do tipo Lula. Precisaria ser uma obra coletiva. Que até, numa análise a posteriori, não teria como evitar muitos problemas, mas teria instrumentalizado melhor os contendores para enfrentá-los.

O PSDB foi ao longo de todo o processo, e ainda é, um poço de dúvidas. As eleições prévias que, vê-se hoje, seriam importantes para o partido, ninguém as quis. Nem Aécio Neves que, se realmente as quisesse, teriam existido. Mas ele tinha dúvidas sobre seu desempenho. Ninguém quis ser o anti-Lula. Acreditavam que, não sendo Lula o candidato, ele atuaria com os limites da Presidência, uma prova de desconhecimento do adversário. Serra entrou numa eleição cuja extrema dificuldade, quase uma impossibilidade, só foi percebida em toda a sua crueza quando se viu que o trabalho para enfrentá-la teria que ter começado oito anos antes.

É Lula que está em jogo. Um Lula destemido, desafiador da Justiça, personalista e possuído por poderes divinais. Quem diz que Serra é culpado não é inocente, e precisa urgentemente trabalhar com a realidade. O que houve até agora foi acerto de Lula com seu eleitorado.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

Os prejuízos dos desvios éticos – Editorial:: O Globo

O noticiário em torno da denúncia sobre o trânsito de Israel, filho da ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, em vias nada iluminadas, pelos meandros brasilienses da advocacia administrativa, traz à tona, mais uma vez, os Correios, alvo cobiçado nestes tempos de fisiologia, compadrio e outras práticas deletérias.

Impossível não lembrar que a centelha do mensalão, escândalo que quase levou o governo Lula à combustão, saiu dos Correios.

A ligação feita, sob pretensa inspiração de algum poderoso do Planalto, de esquemas de coleta de dinheiro sujo da estatal com o caixa dois do PTB levou o presidente do partido, deputado Roberto Jefferson (RJ), a reagir no melhor estilo dos homens-bomba: implodiu o esquema, levou à cassação o desafeto José Dirceu, e foi junto com ele.

Ali apareceu de maneira nítida como um cargo em estatal ou algum posto na administração direta com acesso a um orçamento podem ser usados de forma espúria. Como sempre, criam-se dificuldades para se vender facilidades.

E a população tem prejuízo dobrado: como contribuinte e como usuária de serviços públicos, cuja qualidade desaba junto com o padrão ético dos administradores nomeados na pura barganha político-eleitoral. Não é coincidência que os serviços dos Correios, empresa que já foi modelo de estatal, depois de recuperada pelos militares, tenham começado a piorar nesta fase em que ela foi transformada em moeda de troca no pregão da fisiologia. O caso Erenice, por exemplo, jogou luz sobre a briga entre peemedebistas pelo controle da ECT: a fração mineira da legenda terminou substituída, na influência sobre a estatal, pelo segmento brasiliense, com a chegada de Erenice ao gabinete que era de Dilma Rousseff.

Outro órgão público citado nesta história é a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), subjugada, como as demais agências. Israel trabalhou na Anac na fase de maior aparelhamento político-ideológico do responsável pela regulação do tráfego aéreo. Era o período de Milton Zuanazzi à frente da agência, quando o desastre com o jato da Gol e o caos aéreo chamaram a atenção para a inoperância da Anac, causada pela despreocupação do governo com a qualificação técnica dos nomeados.

Com a abertura da porteira da fisiologia e do compadrio, nem a Embrapa, grande responsável pela revolução ocorrida na agricultura brasileira, livrou-se, no primeiro mandato de Lula, de ser subjuga poe o mal foi contido a tempo. Pelo menos não destruíram a empresa, como ameaçam fazer com os Correios.

A Petrobras é outro ninho de aparelhos, mas, por ser muito grande, movimentar recursos na unidade mínima do milhão de reais, os danos desse processo de partidarização do Estado ainda não são visíveis com facilidade.

Mesmo assim, o caso do jipe de luxo presenteado ao petista Sílvio Pereira por uma prestadora de serviços da estatal, a GDK, indica que a empresa, de alguma forma, foi jogada na vala comum dos fins que justificam os meios.

Correios, Anac, Receita Federal, Infraero e empresas do setor energético em geral tratam de atividades vitais para a população. Uma missão prioritária dos instrumentos de fiscalização e controle do Estado brasileiro é evitar que governos degradem empresas e outras entidades públicas, por meio do desvio de suas finalidades para serem apenas peças na montagem de arranjos políticos.

A encenação de sempre – Editorial:: O Estado de S. Paulo

Um assessor de segundo escalão da Casa Civil, Vinícius de Oliveira Castro, foi o bode expiatório encontrado pelo governo para encenar uma resposta à revelação de que o filho da ministra Erenice Guerra, Israel, foi pago para ajudar uma empresa de transporte aéreo a regularizar a sua situação na agência federal do setor e, em seguida, conseguir um contrato de R$ 84 milhões, sem licitação, junto aos Correios.

O assessor demitido, chamado por Erenice no ano passado para um cargo de confiança, foi apontado como parceiro de Israel na operação.

O afastamento de Castro - cuja mãe figura como titular de uma firma de lobby, juntamente com outro filho da ministra - é menos do que um paliativo diante do escândalo dentro do escândalo: a decisão do presidente Lula de manter Erenice Guerra na Pasta que ela transformou numa espécie de puxadinho da família e onde, ainda sob a guarida da então ministra Dilma Rousseff, se notabilizou pela crise do dossiê com gastos sigilosos da Presidência Fernando Henrique. Dilma, por sinal, já lançou a amiga ao mar, chamando-a de "uma ex-assessora".

A grande farsa - procedimento-padrão de Lula quando confrontado com grossas irregularidades no seu entorno - incluiu, por enquanto, o anúncio de que ele teria cobrado de Erenice uma "reação rápida". Ela rapidamente disparou uma série de notas para protestar inocência. Numa delas, anunciou a intenção de processar a revista Veja, que expôs o caso.

Mas a encenação mais característica do Planalto, quando finge que quer apurar os malfeitos da casa, foi o pedido de abertura de investigação pela Comissão de Ética Pública sobre a participação da ministra nos desenvoltos negócios do filho.

Para os menos avisados, uma providência contundente. Depois da reunião das segundas-feiras do colegiado, o seu presidente, José Sepúlveda Pertence, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, anunciou a abertura do procedimento. O relator designado, Fabio Coutinho, que tem o prazo prorrogável de 10 dias para apresentar o seu parecer, prometeu fazê-lo antes das eleições. A partir daí, a comissão ou arquiva o assunto ou instaura inquérito. Na realidade, sem prejuízo da retidão dos seus membros, o órgão não tem nenhum poder para punir as autoridades que tenham transgredido o Código de Conduta da Alta Administração Federal.

A comissão pode fazer recomendações ou advertências, e os advertidos podem ignorá-las. Basta lembrar o caso do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que acumulava a função pública com a de presidente de seu partido, o PDT. Embora, como não poderia deixar de ser, isso tenha sido considerado eticamente inaceitável pela comissão - que em 2007 fixou prazo para o ministro renunciar ao comando partidário -, só em março do ano seguinte ele o fez, depois de se entender com Lula. Com o seu escárnio, o político demonstrou que a comissão, além de não ter poderes de sanção, tampouco exerce alguma forma de coação moral sobre os figurões do Planalto.

Tudo indica, portanto, que o único efeito prático do escândalo do dia nas hostes do lulismo será o fim das chances de Erenice de continuar ministra no eventual governo de sua ex-madrinha Dilma. Salvo fatos novos ainda mais comprometedores sobre o tráfico de influência e outros crimes continuados no núcleo central da Presidência, Lula tratará de empurrar com a barriga mais essa lambança. O essencial, para ele, é reforçar a couraça em volta da sua escolhida. E a mesma candidata cuja propaganda apregoa os feitos do governo "de Lula e Dilma" diz que o affair Erenice é "um problema de governo".

Em resumo, até a eleição, pelo menos, Erenice fica. Depois, se verá...

Nada disso sairia de graça para o lulismo se a maioria do eleitorado brasileiro não tivesse trocado as demandas éticas pelo proverbial prato de lentilhas. A efetiva melhora na condição de vida dos segmentos mais pobres da população como que os anestesiou para o exercício da cidadania. Parecem achar que, sendo os governos inevitavelmente corruptos ou coniventes com a corrupção, por que indignar-se logo com este que tanto bem lhes faz?

Males a extirpar – Editorial::Folha de S. Paulo

Enquanto Dilma Rousseff revela traço de personalidade inadequado à função a que aspira, presidente Lula dá lições antidemocráticas

Ao dispensar à ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, o tratamento de "ex-assessora" e referir-se às revelações sobre tráfico de influência no âmbito da pasta como um episódio longínquo, quase de outro planeta, a candidata Dilma Rousseff expôs um traço de sua personalidade nada recomendável a quem pleiteia a Presidência.

Erenice Guerra, como se sabe, foi colaboradora íntima, o braço direito da postulante petista no período em que ela esteve investida das funções de ministra de Estado. Consultora jurídica do Ministério de Minas e Energia, recebeu de Dilma o convite para a Secretaria Executiva da Casa Civil e obteve seu endosso para substituí-la num dos mais importantes ministérios da República.

As atividades suspeitas de membros da família Guerra e da própria ministra, que escalou um "laranja" para ocultar sua participação numa empresa, antecedem o momento em que Dilma deixou o cargo. É uma estratégia evasiva, para não dizer covarde, a candidata pretender agora eximir-se de responsabilidades.

Se é fato que nada, até aqui, demonstra a participação da criatura de Lula em esquemas para arrancar comissões de empresas interessadas em fazer negócios com o governo, é impossível ignorar seu papel de fiadora da atual titular da pasta.

É uma farsa tratar Erenice Guerra como uma funcionária mais ou menos obscura que, longe da vista da chefe, se viu ludibriada por um filho afoito.

A reação de Dilma não é inédita. Ela repete a atitude do presidente à época do escândalo do mensalão, quando recorria ao famigerado bordão "eu não sabia" a cada novidade estampada nas páginas dos jornais. Como se sabe, foi a mesma Casa Civil, nas adjacências da sala presidencial, o gabinete onde se urdiram as tramas que levaram ao afastamento do ministro José Dirceu -o "chefe da quadrilha", no dizer do Procurador Geral da República.

Diante das notícias negativas e dos questionamentos, os donos do poder reagem como de hábito: esquivam-se das perguntas, atacam a imprensa e comportam-se como se tudo não passasse de um complô que os dispensaria de dar explicações aos eleitores.

Essa concepção tosca, senão autoritária, das relações entre Estado e sociedade produziu anteontem uma nova pérola em discurso do chefe do Estado -ou melhor, do cabo eleitoral petista, papel do qual não se afasta em nenhum momento.

Lula considerou que é preciso "extirpar" o DEM da política brasileira. Compreende-se que o mandatário guarde ressentimento da declaração do ex-senador Jorge Bornhausen, em 2005, sobre a perspectiva de o Brasil ver-se livre da "raça" petista em decorrência do mensalão.

Se a opinião de Bornhausen foi condenável, a de Lula é inconcebível. É chocante que o presidente, num regime democrático, manifeste o desejo de eliminar um partido político. Por mais que desgoste das teses do antigo PFL, se tivesse atingido um mínimo de compreensão acerca do funcionamento da democracia Lula deveria ser o primeiro a zelar pela pluralidade de opiniões e agremiações partidárias.

Há outras situações que poderiam -e deveriam- ser extirpadas de nossa política, a começar pela corrupção, o patrimonialismo e a partidarização do Estado. Infelizmente continua-se a dar abrigo aos que posam de éticos na oposição mas se entregam aos malfeitos na primeira oportunidade que o poder lhes oferece.

Diogo Nogueira , Sururu na Roda e Roberta Sá - A nova geração do samba

FH diz que Lula virou 'chefe de facção'

DEU EM O GLOBO

"Acho isso errado. Extrapola o limite do estado de direito democrático", afirma ex-presidente sobre seu sucessor

BELÉM, SÃO PAULO e RIO.
Em entrevista ao site “Rede Mobiliza”, que reúne voluntários tucanos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que ele se transformou em “chefe de uma facção”. Ele condenou a postura do presidente Lula, por sua interferência no processo eleitoral: — Vejo um presidente que virou militante, virou chefe de uma facção — disse Fernando Henrique. — Acho isso errado.

Extrapola o limite do estado de direito democrático.

FH sobre novo escândalo: “É o mensalão de novo”
Fernando Henrique chegou a citar o exemplo do ditador fascista Benito Mussolini, embora tenha frisado que não o estava comparando a Lula: — Vi um filme sobre Mussolini, fiquei horrorizado. O Mussolini tinha quase unanimidade.

Todo mundo estava do lado dele. Faltou quem freasse o Mussolini. Claro que o Lula não tem nada a ver com Mussolini.

Mas, no estilo, dizer “eu sou tudo”, não pode.

Sobre a campanha de Serra, frisou a importância de traduzir os últimos acontecimentos políticos para o eleitor: — Se falar sigilo fiscal, pouca gente vai entender. Mas se disser: “Você acharia bom que alguém pegasse sua carteira de trabalho para saber quanto você ganha?” Tem de mostrar em termos diretos o que significa.

Também mencionou o caso envolvendo a chefe da Casa Civil, Erenice Guerra: — O povo também entende o que é ter alguém no Palácio do Planalto, na sala ao lado do presidente, tramando para beneficiar uma empresa. É o mensalão de novo.

Já o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, evitou ontem em Belém comentar as denúncias de tráfico de influência no governo federal e a declaração do presidente Lula, de que o DEM, aliado dos tucanos, deveria ser extirpado da política.

O tucano teria sido orientado pelo comando de sua campanha a não assumir o papel de porta-voz de ataques contra o governo e a candidata petista, Dilma Rousseff. Esse comportamento agressivo poderia desagradar ao eleitorado.

“Não vou entrar em ti-ti-ti eleitoral”, diz Serra
A preocupação entre os tucanos aumentou durante o debate entre os presidenciáveis, no último domingo, quando Dilma disse que Serra passará para a História como um “caluniador”: — Eu queria fazer só uma fala nacional, e depois a gente vê outras perguntas. Quero falar de coisas positivas, eu não posso virar cronista disso (denúncias) — disse ele, durante rápida passagem pelo aeroporto de Belém, de onde partiu para Altamira, onde realizou comício à noite.

Perguntado sobre a declaração de Lula, que atacou fortemente o DEM durante comício de Dilma em Santa Catarina, Serra evitou comentários, mesmo de defesa do aliado.

— Eu não vou entrar em tititi eleitoral.

Dirceu: PT terá mais poder com Dilma do que com Lula

DEU EM O GLOBO

Ex-ministro da Casa Civil critica mídia e fala em abuso do poder de informar

O deputado cassado José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, disse que, para o PT, a eventual eleição da candidata à Presidência Dilma Rousseff será mais importante do que a de Lula. Segundo Dirceu, Dilma representa o projeto petista, enquanto Lula "é duas vezes maior que o PT".

Ele fez a afirmação a petroleiros, em Salvador, sem perceber a presença da imprensa. Dirceu disse que a oposição tem apoio da mídia para tentar influenciar a opinião pública. E criticou o que chamou de abuso do poder de informar. O ex-ministro disse que a aliança com o PMDB será decisiva para a vitória de Dilma.

Em debate na internet, o ex-presidente Fernando Henrique criticou Lula por interferir na eleição: "Vejo um presidente que virou militante, chefe de uma facção. Extrapola o limite do estado de direito democrático"

Dirceu e o "projeto" Dilma

Petista diz que Lula é maior que o PT e que ela, sim, levará o "acúmulo" petista ao poder

Vitor Rocha*
SALVADOR - Em encontro com petroleiros petistas na Bahia, anteontem à noite, o deputado cassado e ex-ministro da Casa Civil José Dirceu disse que a eventual eleição da petista Dilma Rousseff para o Planalto será mais importante que a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois ele “é duas vezes maior que o PT”, enquanto ela representaria a chegada do projeto partidário petista ao poder. Sem perceber a presença da imprensa, ele também criticou a mídia e defendeu o fortalecimento do partido.

— A eleição da Dilma é mais importante do que a do Lula, porque é a eleição do projeto político, porque a Dilma nos representa. A Dilma não era uma liderança que tinha uma grande expressão popular, eleitoral, uma raiz histórica no país, como o Lula foi criando, como outros tiveram, o Brizola, o Arraes e tantos outros. Então, ela é a expressão do projeto político, da liderança do Lula e do nosso acúmulo desses 30 anos. Se queremos aprofundar as mudanças, temos que cuidar do partido e temos que cuidar dos movimentos sociais, da organização popular — discursou Dirceu, que teve de deixar o cargo de ministro da Casa Civil, em 2005, em meio ao escândalo do mensalão do PT.

Ele argumentou que Lula é “ duas vezes maior que o PT” e que a legenda tem a missão de se transformar na preferida de “um terço” dos brasileiros.

Citou partidos da coligação em torno de Dilma e afirmou: — Independente de termos essa coalizão, o PT é a base dela.

A mídia agora já começa a discutir a nossa política, se vai fazer ajuste, senão vai; se vai estatizar ou não vai; se vai fazer concessão ou não vai. E começa a discutir se o PT está sendo desprestigiado ou não. Aquilo que nós temos de maior qualidade, que é o Lula, eles querem apresentar como negativo, porque o Lula é maior que o PT. Eles é que não têm ninguém maior que o partido deles. Ainda bem que nós temos o Lula, que é duas vezes maior que o PT.

“Indicamos sindicalistas sim”

Dirceu comparou a conquista do PMDB como aliado nestas eleições com a escolha do vice José Alencar (PR) em 2002. E criticou as tentativas da oposição de minar a aliança do PT com o PMDB.

— Quando nós pusemos o Alencar como vice do Lula, ganhamos a eleição. Como nós ganhamos esta eleição quando o PMDB não ficou com o PSDB. Aquele movimento antiRenan Calheiros, anti-Sarney... Vocês não vão acreditar que eles (os que faziam o movimento) são éticos, né? Eles, evidentemente, o que queriam era romper a aliança nossa com o PMDB. Um mês depois, o Serra (José Serra, candidato do PSDB a presidente também em 2002) estava fazendo aliança com o PMDB.

Depois de dizer que o PMDB já começa a apresentar propostas, e que com algumas delas o PT não concorda, ele disse que o governo é sempre “disputado entre os aliados e dentro do PT”. E atacou a imprensa: — E nessa disputa do governo, as forças políticas de oposição pesam também. Porque, com o apoio da imprensa, eles tentam formar a opinião pública, forçando determinadas definições ou tentando impedir que apliquemos determinadas políticas. Ou paralisando no Congresso ou criando clima na sociedade contrário.

E completou: — Toda a mídia se posicionou contra a nova regularização do pré-sal, o fundo, a empresa, a apropriação da Receita do petróleo, da nova forma que nós vamos fazer, por partilha e não por concessão.

O ex-ministro defendeu o fortalecimento do Estado, discurso recorrente de Dilma, e afirmou: — Não é verdade essa discurseira do Serra. Fomos nós que voltamos a fazer planos de cargos e carreiras, que voltamos a valorizar o servidor, a dar condições de novo. Eles falam: os sindicalistas dirigiam as empresas estatais. É verdade, nós indicamos sindicalistas mesmo — disse, afirmando, porém, que os resultados do governo Lula são melhores do que os do governo Fernando Henrique em diversas áreas.

Depois de pregar que se repense o sistema político brasileiro — “e nós somos o maior interessado porque a direita está usando isso para desqualificar a política e para afastar o povo da política” —, ele defendeu a reforma tributária e a democratização dos meios de comunicação. Ele citou a “Folha de S.Paulo” e a rede Globo nas críticas, em momentos diferentes: — Dizem que nós queremos censurar a imprensa. Dizem que o problema é a liberdade de imprensa. O problema do Brasil é excesso, bom, é que não existe excesso de liberdade.

Mas, na verdade, o abuso do poder de informar, o monopólio e a negação do direito de resposta e do direito da imagem — disse. E atacou os tribunais e o vice-presidente do STF, ministro Carlos Ayres Britto: — Os tribunais brasileiros estão formando jurisprudência. Se vocês lerem os discursos do Carlos Ayres Britto, que aquilo não é voto e sim discurso político, a liberdade de imprensa está ameaçada no Brasil, que é um escândalo. Mas eles estão preparando a agenda deles para o primeiro ano de governo. Como a imprensa já está pressionando pela constituição do governo. Pode começar a ler nas entrelinhas, quem quer que ela empurrar para ser ministro disso, ministro daquilo, e já está disputando para fazer ajuste fiscal...

E ainda previu um julgamento difícil do mensalão no STF: — Como a gente está vendo a mídia se comportar com a Dilma, já dá para imaginar como vai ser comigo no dia do julgamento (do mensalão, no STF). Estou até fazendo dieta, mantendo os 80 quilos para me preparar para o debate.

As declarações foram feitas no Comitê dos Petroleiros, um QG petista na capital. Depois do encontro, perguntado em entrevista sobre seu papel na campanha de Dilma, afirmou: — Eu não estou afastado, estou fazendo meu papel. Percorro o país como dirigente do PT, não sou da membro da coordenação da campanha (de Dilma). Eu apoio, trabalhei nos palanques estaduais.

Dirceu disse que evita ambientes públicos ao lado de seus candidatos.

Exemplificou ao dizer que queria ter passado o São João na Bahia este ano, antes que desistir por causa da visita de Dilma ao estado.


da agência A Tarde

Trechos do que disse Dirceu

DEU EM O GLOBO

“A eleição da Dilma é mais importante do que a eleição do Lula, porque é a eleição do projeto político, porque a Dilma nos representa.

A Dilma não era uma liderança que tinha uma grande expressão popular, eleitoral, uma raiz histórica no país, como o Lula foi criando, como outros tiveram, como o Brizola, como o Arraes e tantos outros. A direita teve aqui mesmo uma liderança que foi o próprio ACM, independente do fisiologismo, do abuso de poder, contudo era uma liderança popular, tanto é que era popular na Bahia.

Tinha força político-eleitoral.

Ela é a expressão do projeto político, da liderança do Lula e do nosso acúmulo desses 30 anos, porque acumulamos, demos continuidade ao movimento social.” “Falam na TV todos os analistas deles: (...) que nós queremos censurar a imprensa, que o problema no Brasil é a liberdade de imprensa? Gente do céu. Como alguém pode afirmar do Brasil é... bom.

Não existe excesso de liberdade.

Pra quem já viveu em ditadura...” “Nossa aliança é PC do B, PDT, PSB, PMDB, PT, PRB e PR. (...) Independente de termos essa coalizão, o PT é a base dela. A mídia começa a discutir nossa política, se vai fazer ajuste, se não; se vai estatizar ou não; fazer concessão ou não. Aquilo que temos de maior qualidade, o Lula, querem apresentar como negativo, porque o Lula é maior que o PT. Eles é que não têm ninguém maior que o partido deles. Ainda bem que temos o Lula, que é duas vezes maior que o PT.” “Quando pusemos o Alencar como vice do Lula, ganhamos a eleição. Como ganhamos essa eleição quando o PMDB não ficou com o PSDB.

Aquele movimento anti-Renan Calheiros, anti-Sarney... vocês não vão acreditar que eles são éticos, né? Eles, evidentemente, queriam era romper a aliança nossa com o PMDB. Um mês depois, Serra estava fazendo aliança com o PMDB. O presidente estava indicando o vice, porque em 2002 a Rita Camata foi vice dele. Criamos uma distensão no PMDB.” “Dizem que queremos censurar a imprensa. Diz que o problema é a liberdade de imprensa. O problema do Brasil é excesso, bom, é que não existe excesso de liberdade.

Mas, na verdade, o abuso do poder de informar, o monopólio e a negação do direito de resposta e do direito da imagem. ” “Os tribunais brasileiros estão formando jurisprudência, se vocês lerem os discursos do Carlos Ayres Britto, que aquilo não é voto, é discurso político, a liberdade de imprensa está ameaçada no Brasil, que é um escândalo. Mas eles estão preparando a agenda deles para o primeiro ano de governo.

Como a imprensa já está pressionando pela constituição do governo, já está disputando a constituição do governo.” “O governo sempre é disputado.

E nessa disputa, as forças políticas de oposição pesam também.

Porque com o apoio da imprensa, eles tentam formar a opinião pública forçando determinadas definições ou tentar impedir que nós apliquemos determinadas políticas. Ou paralisando no Congresso ou criando um clima na sociedade contrário, basta ver a ação já que estamos aqui numa casa das estatais, participação ampla dos petroleiros.” “Toda a mídia se posicionou contra a nova regularização do pré-sal. O Fundo, a empresa, a apropriação da receita do petróleo, da forma que vamos fazer, por partilha e não concessão.” “Tem uma disputa contra nós na comunicação. Vejam a campanha que fizeram esses anos todos contra o Bolsa Família. Não combatiam a política externa do presidente.

Porque eles não tinham ideia do peso dela, da integração sul-americana a ferro e fogo.” “Temos que nos preparar para disputa dessa fixação da mídia comigo.

Primeiro é que eu disputo, enfrento. Não deixo nada sem resposta.

Faço a disputa política na sociedade, no meu blog, no PT.

Continuei participando da vida política do país, da vida do PT.

Querem que eu seja condenado, querem me banir da vida política do país. Eles tentaram me impedir de exercer minha profissão. Eles me cassaram, saí do governo, fiquei inelegível, depois começaram uma campanha contra minhas atividade de advogado e consultor.

Fizeram durante esses cinco anos, e no ano de 2008 quatro vezes em conluio com a PF, MP e Poder Judiciário tentaram me prender. Não há nada contra mim. Faz parte da disputa política.
Como eu representava o PT, fui alvo. Quem tem que provar é o MP, que não conseguiu provar nada. O processo já terminou. Só falta ser julgado.”

PSDB e DEM pedem investigação ao MPF

DEU EM O GLOBO

BRASÍLIA. O PSDB e o DEM pediram ontem, oficialmente, que o Ministério Público Federal investigue as denúncias de tráfico de influência envolvendo a ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, e o filho Israel Guerra. Duas representações foram formalizadas na Procuradoria Geral da República. O pedido foi entregue em mãos, mas o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, alegou agenda cheia e não recebeu os tucanos.

O líder do PSDB na Câmara, João Almeida (BA), e o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) protocolaram as representações. Para eles, Erenice deveria ser afastada até o fim das investigações.

— A Casa Civil tem sido o foco. É uma fortaleza inexpugnável de imoralidades: o caso Waldomiro Diniz, mensalão, dossiê contra Ruth Cardoso, o caso Lina Vieira, ex-secretária da Receita.

Mas o problema é que demitir Erenice é o mesmo que demitir Dilma — disse Dias.

Em outra representação, o líder do DEM, Paulo Bornhausen (SC), pediu
investigação justificando ser grave a denúncia.

— A cozinha está incendiando, e o presidente Lula, fazendo festa no andar de baixo. Ela (Erenice) tinha que, no mínimo, ter se afastado.

'É factoide', afirma Dilma em defesa da sucessora

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Dois dias após evitar responder se poria a mão no fogo por Erenice, ela segue a tática de reação definida no Planalto

Vera Rosa

BRASÍLIA - Sete horas depois da nova estratégia traçada pelo governo para evitar mais desgaste à sua candidatura, Dilma Rousseff (PT) saiu ontem em defesa da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, e chamou de "factoide" a denúncia envolvendo o filho de sua antiga colaboradora.

"Não vou admitir qualquer tentativa de transformar problemas havidos com filhos de pessoas do governo em fatos de campanha", disse Dilma.

Dois dias após evitar responder se poria a mão no fogo por Erenice, a candidata do PT seguiu a tática de reação definida no Planalto. A estratégia, agora, consiste em acusar o candidato do PSDB, José Serra, de espionar adversários e fazer denúncias "fajutas" para "ganhar no tapetão".

Sem citar o nome de Serra, Dilma bateu na tecla da calúnia para dizer que tem sido alvo frequente de ataques sem provas. "Usar o processo eleitoral para esse tipo de conduta não é bom para o Brasil. Quem faz isso perde o respeito do povo brasileiro e perde, inclusive, trajetórias dignas construídas na política."

Israel Guerra, filho de Erenice, é acusado de fazer lobby e intermediar negócios com o governo em troca de propina. Por orientação do presidente Lula, a ministra da Casa Civil divulgou várias notas, nos últimos dias, nas quais nega todas as denúncias, pede investigações da Controladoria-Geral da União e do Ministério da Justiça e põe à disposição seu sigilo fiscal, bancário e telefônico. "Tenho absoluta certeza de que Erenice, pelo que conheço dela, se empenhará nessa apuração", insistiu Dilma, ao dizer que não se sente atingida pelo caso. "Acho essa denúncia mais um factoide."

Lula decidiu segurar a ministra - braço direito de Dilma na Casa Civil - até quando puder, sob o argumento de que é preciso evitar impacto negativo à campanha. Em conversas reservadas, porém, auxiliares do presidente admitem que ela poderá ser afastada se houver novas acusações. O termo usado no Planalto para definir a situação de Erenice é "compasso de espera".

Dilma evitou responder se a ministra terá condições de permanecer no cargo e garantiu não dar esse tipo de conselho. "Ela tem todos os requisitos para decidir como se comportar. Tem experiência, capacidade e compromisso público", comentou a candidata. "Eu não acho correto condenar uma pessoa e transformá-la em pária sem provas."

Questionada sobre a afirmação de Lula de que seria preciso "extirpar o DEM da política", Dilma se definiu como "sobrevivente de um processo de extermínio" e insinuou que a frase foi dita em sentido figurado. "Para quem falou que ia acabar com a minha raça, não dá para se queixar de nada", disse ela. Em 2005, após a crise do mensalão, integrantes do DEM afirmaram que iriam "acabar com a raça" do PT.

Programa de Serra liga Dilma a caso Erenice

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Críticas foram feitas por um ator, que disse ter havido pagamento de propinas quando a presidenciável estava à frente da Casa Civil

Anne Warth

O programa eleitoral do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, voltou a explorar em seu programa eleitoral as denúncias que envolvem a ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, apresentada como braço direito de Dilma Rousseff (PT). Coube a um ator fazer as críticas mais pesadas e associar o caso a Dilma e ao ex-ministro José Dirceu. Serra não tocou no assunto.

"O caso grave que atinge a ministra-chefe da Casa Civil ganha nova força. Agora surgem denúncias de empresas fantasmas, contratos sem licitação e tráfico de influência", declarou o ator, emendando que Dilma minimizou as denúncias sobre Erenice e seu filho. O ator destacou ainda que houve pagamento de propinas quando Dilma ainda era ministra da pasta. "Zé Dirceu veio primeiro, Dilma depois e deixou Erenice no seu lugar. Você conhece mesmo essa turma? É isso mesmo que você quer para o Brasil?", questionou.

Serra preferiu falar sobre segurança pública e fez críticas direcionadas a Dilma, mas sem citar seu nome. "Um presidente precisa mostrar liderança e agir com a própria cabeça. Não dá para ficar perguntando para os outros, consultando ou pedindo autorização todo tempo", afirmou o candidato. Ele voltou a prometer a criação do Ministério da Segurança Pública e acusou o governo federal de se omitir sobre o problema e jogar a culpa nos governadores. "Tem um monte de ministérios que só servem mesmo de cabide de emprego para os amigos. Comigo não vai ser assim, vou criar o Ministério da Segurança e ele vai funcionar."

O tucano pregou o combate à impunidade, citou os casos envolvendo o assassinato dos jornalistas Tim Lopes e Sandra Gomide, além do desaparecimento da engenheira Patricia Franco, no Rio. "Esse é um problema da Justiça e da legislação, mas se o presidente tiver coragem e não andar em más companhias ele pode influir sim. O presidente precisa fazer valer sua força política para acabar com a impunidade que existe hoje", disse. Serra também foi mostrado como o "ministro do Planejamento das grandes obras", com imagens e realizações semelhantes às exibidas pelo programa de Dilma.

Estratégia. Em seu horário, a candidata do PT optou por não mencionar as denúncias sobre Erenice Guerra e continuou a investir na parceria com Lula. "Há oito anos, quando comecei a trabalhar ao lado do presidente Lula, assumimos o maior compromisso que um governo pode assumir com seu povo: mudar o País. O Brasil mudou, ainda há muito a fazer e, por isso, quero ser presidenta do Brasil, para dar continuidade a esse trabalho."

A vantagem de Dilma sobre Serra na última pesquisa Datafolha foi mencionada pelo locutor. E Lula apareceu no horário destinado aos deputados para pedir votos na legenda do PT. "Minha experiência como presidente me ensinou uma coisa muito importante. Quem está no governo precisa ter um bom time de deputados, um time que ajuda a aprovar bons projetos, defende o governo e não deixa a turma do contra ficar inventando crise o tempo todo."

Ineficiência. A presidenciável do PV, Marina Silva, usou seu horário para criticar o inchaço e a ineficiência do governo federal. Marina prometeu não criar mais ministérios e órgãos estatais. "O pior de todos os desperdícios é a corrupção. É um absurdo pagar por uma ambulância o valor de três, construir pontes onde não existe estradas ou pagar por exames de saúde que não foram feitos", explicou. No programa, o ator Marcos Palmeira pediu votos para a senadora.

Ministra se defende atacando Serra

DEU EM O GLOBO

Em nota, Erenice chama tucano de "aético e derrotado", critica imprensa e fala em "exploração político-eleitoral"

Chico de Gois

BRASÍLIA. Resguardada pelo presidente da República, a ministrachefe da Casa Civil, Erenice Guerra, subiu o tom que vinha adotando até anteontem para se defender das acusações de tráfico de influência contra seu filho, Israel Guerra, supostamente com sua participação.

No fim da tarde de ontem, depois de ter participado de uma reunião com o presidente Lula e integrantes da coordenação política do governo de manhã, na qual se discutiu a reação do Palácio do Planalto, a ministra divulgou uma nota atacando a imprensa, sobretudo a revista “Veja”, autora da denúncia, e qualificando o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, de “aético e derrotado”.

Depois de informar, na nota, que pediu ao ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, e ao da Justiça, Luiz Paulo Barreto, que investiguem a denúncia da revista — fato desnecessário, uma vez que os dois órgãos são autônomos —, Erenice afirma que a reportagem é a “mais desmentida e desmoralizada das matérias publicadas ao longo da história da imprensa brasileira”. E, sem citar o nome de Serra, ataca: “Chamo a atenção do Brasil para a impressionante e indisfarçável campanha de difamação que se inicia contra minha pessoa, minha vida e minha família, sem nada poupar, apenas em favor de um candidato aético e já derrotado, em tentativa desesperada da criação de um fato novo que anime aqueles a quem o povo brasileiro tem rejeitado”, diz o texto.

E, demonstrando que partira para o ataque, finaliza: “Pois o fato novo está criado e diante dos olhos da nação: é minha disposição inabalável de enfrentar a mentira com a força da verdade e resoluta fé na Justiça de meu país, sem medo e sem ódio”.

Para Erenice, a divulgação da informação de que seu filho pratica tráfico de influência no governo se dá por uma questão de “exploração político-eleitoral” — mesmo discurso adotado tanto no governo como na campanha da petista Dilma Rousseff.

Ao partir para o ataque, Erenice chama para si a mira da oposição, que tem fustigado a candidata do PT à Presidência, tentando colar nela as acusações de quebra de sigilos fiscais e a de tráfico de influência praticado pelo filho da ministra, considerada braço-direito de Dilma.

Erenice procura se colocar como vítima da disputa eleitoral — a frase já foi utilizada pelo filho da ministra, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, na edição de ontem. No texto divulgado ontem, ela diz: “Lamento, sinceramente, que por conta da exploração político-eleitoral, mais que distorcer ou inventar fatos, se invista contra a honra alheia sem o menor pudor, sem qualquer respeito humano ou, no mínimo, com a total ausência de qualquer critério profissional ou ética jornalística.”

Lula comanda reação do govemo para blindar Erenice

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Estratégia é responsabilizar Serra pelo escândalo em torno da denúncia de tráfico de influência na Casa Civil

Coube ao presidente Lula o comando da contraofensiva do governo e da coordenação da campanha de Dilma Rousseff (PT) para inocentar a ministra Erenice Guerra. A intenção é jogar no candidato tucano José Serra a culpa pela repercussão das denúncias de envolvimento de Erenice, de um filho e de familiares dela em tráfico de influência na Casa Civil. Erenice, que sempre atuou como braço direito de Dilma, animou-se com o apoio do presidente. Imediatamente, ao saber que ficaria no governo, divulgou uma nota à imprensa, com ataques a Serra, qualificando-o de "aético e já derrotado". Lula e o comando da campanha de Dilma mostravam multa preocupação com a possibilidade de as denúncias contra Erenice tirarem votos da petista. Por isso, decidiram pela rápida reação. Logo pela manhã, o presidente chamou os ministros mais próximos para uma conversa. Concluíram que o melhor seria anunciar a entrada da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União no caso.

Lula assume operação para blindar Erenice e culpar Serra por denúncias

Tânia Monteiro, João Domingos

BRASÍLIA - Coube ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o comando da contraofensiva do governo e da coordenação da campanha da petista Dilma Rousseff para inocentar a ministra Erenice Guerra e jogar no tucano José Serra a culpa pela repercussão das denúncias de envolvimento da auxiliar, de um filho dela e de familiares em tráfico de influência na Casa Civil.

Erenice Guerra, que sempre atuou como braço direito de Dilma, animou-se com o apoio do presidente. Ao saber que ficaria no governo, divulgou nota à imprensa com ataques a Serra, qualificando-o de "aético" e "derrotado".

"Chamo a atenção do Brasil para a impressionante e indisfarçável campanha de difamação que se inicia contra minha pessoa, minha vida e minha família, sem nada poupar, apenas em favor de um candidato aético e já derrotado, em tentativa desesperada da criação de um fato novo que anime aqueles a quem o povo brasileiro tem rejeitado", disse ela.

Lula e o comando da campanha de Dilma mostravam muita preocupação com a possibilidade de as denúncias contra Erenice tirarem votos de Dilma. Por isso, decidiram pela rápida reação. Pela manhã, o presidente chamou os ministros mais próximos para uma conversa. Concluíram que o melhor seria anunciar que a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) vão investigar se Israel Guerra, filho da ministra, está envolvido num esquema de tráfico de influência dentro da Casa Civil e cobrança de propina de empresários, como revelou a revista Veja.

Entrevistas. Lula determinou que o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, convocasse entrevista coletiva, para informar a entrada da PF no caso, e que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciasse uma medida positiva em sua área, para se contrapor às denúncias de quebra de sigilo fiscal de contribuintes, fato muito explorado pela campanha de Serra.

A exemplo de Barreto, Mantega convocou entrevista coletiva. Anunciou que o sigilo fiscal de políticos ficará mais protegido do que o dos demais cidadãos.

Em seguida, a defesa do governo ficou por conta do ministro Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União. Ele afirmou que a CGU vai auditar contratos mencionados nas reportagens sobre supostas irregularidades na Casa Civil. A respeito dos pedidos feitos formalmente por Erenice para que a PF e a CGU analisem as reportagens, Hage comentou: "É importante que ela manifeste interesse em esclarecer o caso e isso influencia na prioridade da apuração." Mas não há prazo para as respostas. O governo trabalha com calendário curto - 18 dias - para abafar o tema, pois a eleição presidencial será no dia 3 de outubro.

Já Dilma, que no debate entre os candidatos na RedeTV!, no domingo, se recusou a pôr a mão no fogo por Erenice, além de pedir que todas as denúncias fossem apuradas da forma mais severa possível, também concedeu entrevista para defender sua ex-auxiliar tanto no Ministério de Minas e Energia quanto na Casa Civil.

Marcada para as 15h30, a entrevista de Dilma só ocorreu duas horas depois. Desta vez, a candidata apoiou Erenice e também acusou Serra de estar por trás das acusações.

A ministra da Casa Civil não se contentou apenas com a nota à imprensa. Divulgou outras duas, nas quais apresentou cópia dos ofícios encaminhados ao Ministério da Justiça e à Controladoria-Geral da União em que pede para ser investigada.

No primeiro, solicitou a adoção de "procedimentos cabíveis" para averiguar as denúncias contra ela e sua família (no dia anterior a própria Polícia Federal já havia anunciado que iria entrar no caso); no segundo, requereu à CGU auditoria em contratos e procedimentos que passaram por ela. / COLABOROU MARTA SALOMON

Refúgio de parentes de aloprados

DEU EM O GLOBO

Mulher de Osvaldo Bargas e filha de Jorge Lorenzetti ocupam cargos na Apex-Brasil

BRASÍLIA. Responsável pela promoção de exportações do país, a Apex-Brasil tem se revelado também um espaço ocupado por simpatizantes e filiados do PT. A agência abriga na presidência, em cargos de confiança, duas assessoras que têm relações familiares com dois personagens-chave do escândalo dos aloprados petistas, que está completando quatro anos.

A chefe de gabinete da Apex, Mônica Zerbinato, é mulher de Osvaldo Bargas, ex-secretário do Ministério do Trabalho, que perdeu o cargo com a revelação do caso em 2006. Seu papel no escândalo dos aloprados seria de articular entrevista para divulgar supostas denúncias contra o então candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra.

Mônica foi secretária de Lula durante 13 anos e se transferiu para Apex em agosto de 2007.

Também lotada na presidência, Natália Lorenzetti é filha de Jorge Lorenzetti, que participou do suposto esquema de compra de um dossiê contra o tucano Serra.

Ele ficou conhecido como o churrasqueiro de Lula. Lorenzetti, na época, era analista de risco e mídia de campanha do petista. Hoje, está de volta à Universidade Federal de Santa Catarina, onde é professor no Departamento de Enfermagem.

Natália está na Apex desde outubro de 2009.

O presidente da Apex, o gaúcho Alessandro Teixeira, é um petista histórico.

Ele deixou a Apex momentaneamente e tirou dois meses de férias, no início de agosto, para ser um dos coordenadores do programa de campanha de Dilma Rousseff. Ricardo Schaeffer, outro gaúcho petista, diretor de Gestão e Planejamento, responde pelo comando da Apex neste período de ausência de Teixeira.

A Apex faz parte do chamado “sistema S”, como o Sebrae, tem natureza jurídica privada, mas a gestão é do governo. O presidente da agência é indicado pelo presidente da República. Os funcionários, cerca de 300, foram admitidos por concurso, ou por indicação, no caso dos cargos de confiança.

Os concursados são regidos pela CLT e não têm estabilidade.

Alessandro Teixeira aspira assumir algum ministério em um eventual governo Dilma. Nos bastidores, Teixeira trabalha para emplacar Schaeffer como seu sucessor na Apex, que ganhou um orçamento de R$ 300 milhões em 2010. A maior parte desse bolo é consumido no pagamento dos funcionários, muitos deles com salários acima do mercado.

Questionada sobre o número de petistas que emprega no momento, a Apex informou que, ao contratar seus funcionários, leva em conta tão somente “critérios técnicos, de competência e qualificação”.

Sobre a relação de parentesco de Mônica e Natália com os aloprados, a Apex respondeu que “o parentesco de seus empregados também não está entre os critérios para as contratações, que são os de qualificação técnica”.

Empresas de Erenice só existem no papel

DEU EM O GLOBO

Ministra diz que estabelecimentos estão inativos desde 1997

Fábio Fabrini

BRASÍLIA. Embora constem como ativas, as empresas abertas pela ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, em 1994 e mantidas em seu nome até 2007 só existem no papel. O endereço da Carvalho Guerra e Representações (Setor de Indústria e Abastecimento Sul de Brasília) não existe. Ali perto, na sala onde estaria a Razão Social Confecções, há uma papelaria há dez anos.

A ministra registrou as duas empresas com o irmão, Antônio Eudacy Carvalho, e foi sócia nos quatro primeiros anos em que teve cargos no governo Lula (2003 a 2007). Embora o Conselho de Ética da Presidência exija dos altos funcionários públicos a declaração de bens, Erenice não listou as empresas nos documentos que enviou. Pela assessoria, ela disse ontem que, apesar dos registros ativos na Junta Comercial, as empresas estão inativas desde 1997. Por isso, foram excluídas da documentação encaminhada à Presidência. Ela informou não saber que as firmas não haviam sido extintas.

Mas Erenice se retirou das empresas só em 2007, quando passou suas cotas à ex-cunhada Gabriela Pazzini. Arquiteta com cargo comissionado na Secretaria do Patrimônio, Gabriela disse que atendeu a pedido do ex-marido, que justificou não poder extinguir as firmas por pendências; ela não esclareceu quais.

— Toda a família participava.

Ela (Erenice) até aprendeu a costurar — disse Gabriela.

Escritório assinou dois contratos sem licitação

DEU EM O GLOBO

Israel Guerra despachava na empresa, que teve seu tio como um dos sócios

BRASÍLIA. O escritório Trajano & Silva, onde Israel Guerra, filho da chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, costumava despachar, assinou dois contratos sem licitação com a União. Um terceiro contrato foi feito com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia. O escritório tinha como sócio, até março deste ano, o irmão da ministra, Antonio Alves de Carvalho.

Em 2004, os sócios do escritório — Márcio Silva (advogado do PT) e Alan Trajano — receberam R$ 16 mil cada para elaborar parecer para a Eletronorte sobre movimento de expropriados da Usina de Tucuruí (PA). Segundo Silva, o serviço atendeu a um pedido do ex-presidente da estatal na época, Silas Rondeau.

Dois anos depois, o escritório foi contratado pelo Ministério das Cidades para elaborar cartilhas sobre licitações de mobilidade urbana e recebeu R$ 7.800. Em 2009, a irmã da ministra, Maria Euriza Alves Carvalho, então assessora jurídica da EPE, contratou o escritório por R$ 23,7 mil.

Silva afirmou que hoje não tem contratos com a União e que na lista de seus clientes não há empresas do consórcio da Usina de Belo Monte. Ele não soube dizer se o sócio e irmão de Erenice fez serviços para interessados em participar do empreendimento.

Ele confirmou que conhece os dois filhos de Erenice (Israel e Saulo) e uma filha, e que Israel não lhe apresentou nenhum cliente.

Lula pede votos para Lessa, barrado pela Ficha Limpa

DEU EM O GLOBO

Ex-governador é acusado de desviar dinheiro

Odilon Rios

MACEIÓ. O presidente Lula apareceu ontem no horário eleitoral pedindo votos para o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), candidato a governador de Alagoas. O pedetista teve o registro de candidatura negado pelo TRE por se enquadrar na Lei da Ficha Limpa, e aguarda o julgamento de recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O senador Fernando Collor (PTB-AL), outro candidato a governador que pede votos para Dilma Rousseff no estado e se diz aliado de Lula, não recebeu depoimento do presidente.

— Meus amigos e minhas amigas de Alagoas, Ronaldo Lessa já foi um governador testado e aprovado pelo povo alagoano. Com ele, não tenho dúvidas: Alagoas vai voltar a crescer como o Brasil está crescendo, com desenvolvimento econômico e social, com mais educação e saúde e muito mais segurança. Por isso, peço ao querido povo de Alagoas, que, para governador, vote em Ronaldo Lessa — disse Lula, na gravação.

Lessa responde a ações na Justiça e Ministério Público Federal por desvio de dinheiro público. Ele foi condenado, em 2004, pelo TRE por abuso de poder político e econômico.

Os aliados de Collor minimizaram a gravação: — Isso vem sendo prometido desde o início, a chegada de Lula não deve influenciar muito no resultado do pleito — disse Euclydes Mello, o suplente de Collor no Senado.

Em Alagoas, Lula e Dilma Rousseff também já pediram votos para ajudar na reeleição do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros. Desprezado pelos tucanos, José Serra só pediu votos, no vídeo, para o ex-deputado federal José Costa (PPS), candidato ao Senado. Costa não pontua nas pesquisas.

A segunda pesquisa Ibope sobre a disputa ao governo de Alagoas, divulgada ontem, mostra que os três principais candidatos estão tecnicamente empatados. Collor tem 29% das intenções de voto, Lessa tem 28% e Teotonio, 27%. Os indecisos somaram 8%. Votos brancos ou nulos, 6%.

Atella acusa mais dois no caso do sigilo violado

DEU EM O GLOBO

SÃO PAULO. O suposto contador Antonio Carlos Atella Ferreira apontou ontem à Polícia Federal (PF) mais duas pessoas que estariam envolvidas na quebra do sigilo fiscal de Verônica Serra e do marido dela, Alexandre Bourgeois. Segundo o “Jornal Nacional”, da Rede Globo, Atella disse que o advogado Marcel Schinzari e o despachante Arão Queiroz são ligados ao office-boy Ademir Estevam Cabral. Atella vinha afirmando que levantara os sigilos de filha e genro do presidenciável tucano, José Serra, a pedido de Ademir, que teria lhe entregado falsas procurações.

Schinzari, para quem Ademir já trabalhou, não quis gravar entrevista, mas afirmou que nunca pediu cópias de Imposto de Renda e negou ligação com as fraudes.

Arão, que já ficou mais de três anos preso por estelionato, foi localizado em um bar. Ele admitiu conhecer Atella e Ademir e revelou já ter realizado “serviços” para eles na Junta Comercial de São Paulo, mas negou qualquer envolvimento com a falsificação de procurações: — Não faço mais isso. Eu não devo nada para ninguém.

Quem fez foi ele (Atella), quem ganhou o dinheiro foi ele.

Atella reafirmou que não sabia que a procuração apresentada à Receita era falsificada.

O juiz José Carlos Camargo, da 1aVara Criminal de Santo André (SP), decidiu que o caso da violação dos sigilos fiscais é de competência da Justiça Federal.

Isso impede que a Polícia Civil de São Paulo, subordinado ao governo tucano, continue com o inquérito. Atella e Ademir já tinham sido ouvidos.

À PF, o aposentado Edson dos Santos disse que foi procurado semana passada por José Larios, marido da funcionária da Receita Ana Cano, para assinar um documento que autoriza a servidora a acessar informações sobre seus dados fiscais. Ana, que trabalhava na agência de Mauá (SP), disse à Polícia Civil que foi orientada pela Corregedoria da Receita a buscar autorização de quem teve os dados fiscais violados.

Goldman: crítica de Lula é perigosa para democracia

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Gustavo Porto

O governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), afirmou hoje que as críticas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm feito à oposição é uma "atitude muito perigosa para quem quer viver num regime democrático".

O tucano, que está em Ribeirão Preto, disse que os ataques feitos recentemente por Lula podem reconduzir o Brasil a uma ditadura. "Espero não ter de viver novamente numa época em que eu tenha de combater uma nova ditadura", afirmou. A crítica do governador deve-se a declaração de Lula, feita na noite de ontem, segundo o qual é preciso "extirpar" da política o DEM, aliado do PSDB.

Perguntado se a ditadura a que se referia seria de esquerda, o governador paulista completou:
"Para mim, é de direita". Goldman afirmou ainda que as estocadas de Lula não são atitudes de quem quer vencer uma eleição, mas de destruir os eventuais opositores. "Ele procura destruir todos aqueles que durante esses anos se contrapuseram ou tinham opiniões diferentes", disse.

As críticas de Goldman foram feitas durante o lançamento de novas variedades de cana-de-açúcar e de ampliação do Centro de Cana do Instituto Agronômico (IAC), na cidade do interior paulista. O tucano dedicou boa parte do discurso, feito no evento, justamente para rebater críticas feitas por Lula aos tucanos em um comício na semana passada, em Ribeirão Preto.

Privatização

No ato, realizado na última quinta-feira, 9, o presidente disse que o PSDB não tinha competência para governar e que, quando estava na Presidência da República, queria privatizar o Banco do Brasil (BB), a Petrobras e a Caixa Econômica Federal. Na avaliação do governador, "nunca houve essa intenção" de privatizar o BB ou a Caixa.

Goldman lembrou que, quando era parlamentar, foi relator de lei que alterou a política de investimento em petróleo no País e que, na época, os partidos de oposição, com destaque ao PT, levantaram a questão sobre a possível privatização.

"A intenção do governo é que outras empresas participassem da exploração". "Por isso fui ao então presidente Fernando Henrique Cardoso, que escreveu uma carta ao Congresso Nacional negando a intenção de privatizar a Petrobras", disse. "O resultado disso foi que houve um grande capital agregado a Petrobras e grande parte dos recursos, hoje, do pré-sal, veio desse capital", acrescentou.

Pedágios

Goldman rebateu ainda críticas feitas pelo presidente sobre o preço dos pedágios em São Paulo. No comício realizado na semana passada, Lula comparou os custos dos trajetos realizados em vias do complexo Anhanguera-Bandeirantes, concedido pelo governo estadual, e da rodovia Fernão Dias, concedida pelo governo federal.

Para justificar a diferença do custo por quilômetro, que chega a ser sete vezes superior na estrada estadual em comparação com a federal, o tucano relatou que os investimentos feitos nos complexo Anhanguera-Bandeirantes são de R$ 25 milhões por quilômetro, enquanto na Fernão Dias é de R$ 1 milhão por quilômetro. "É verdade que o pedágio em São Paulo é mais caro, mas o pedágio na Fernão Dias é apenas para tapa-buraco", disse. "Portanto, não somos tão incompetentes como alguns querem fazer crer que sejamos".


'Declaração de Lula lembra perseguição nazista aos judeus', diz presidente do DEM

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Para Rodrigo Maia, presidente odeia o partido por atuação oposicionista no Senado

Wilson Tosta

RIO - O presidente do DEM, deputado federal Rodrigo Maia (RJ), recorreu nesta terça-feira, 14, a Adolf Hitler e à perseguição aos judeus na Alemanha nazista (1933-1945) para descrever o desejo expresso pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "extirpar" o Democratas do cenário político nacional. Para Maia, o presidente mostrou, com suas declarações, "todo o seu viés autoritário", um certo desequilíbrio" e até "um pouco de oportunismo", não cumprindo o que deveria, em sua opinião, ser o papel de um presidente da República. O parlamentar atribuiu o "ódio" de Lula à atuação do DEM no Senado, onde ajudou a barrar projetos governistas importantes, como o da prorrogação da cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). "Acho que a vontade do presidente é derrotar de forma radical os seus adversários para que o PT possa fazer aquilo que o Senado não deixou que fizesse", especulou.

Como o senhor analisa as declarações do presidente Lula, que defendeu que o partido que o senhor preside, o DEM, seja "extirpado" da política?

É uma declaração de uma pessoa que mostra um certo desequilíbrio, uma pessoa que coloca para fora, neste momento, todo o seu viés autoritário, relembrando aí os piores momentos, até usando a forma como a Alemanha nazista tentou extirpar os judeus. É importante até para a reflexão da sociedade, para que ela avalie, de forma muito cuidadosa, o seu voto, não apenas na eleição presidencial, mas na eleição do Poder Legislativo, que tem e terá sempre, independente do presidente da República, um papel moderador importante.

A que atribuir essa declaração?

Acho que é um pouco de oportunismo. O presidente certamente acha que, pela sua popularidade, tem condições de decidir as eleições em cada um dos Estados. Então, ele acha que a agressão é o melhor caminho para tentar desqualificar os seus adversários. Agora, isso não é papel de presidente. O presidente pode, de forma democrática, pedir voto para seus candidatos, mas não deveria, nunca, entrar da forma como o presidente está entrando nas eleições, tentando desqualificar e, como ele disse, perseguir extirpando os seus adversários.

O partido vai tomar alguma providência em relação a essa declaração?

O presidente estava num palanque eleitoral. Acho que as declarações dele vão dar à sociedade a possibilidade de mapear para reflexão não apenas a eleição presidencial, mas exatamente esta preocupação do equilíbrio de forças também no parlamento. Acho que a vontade do presidente é derrotar de forma radical os seus adversários na Federação e no Poder Legislativo, para que o PT possa fazer aquilo que o Senado não deixou que o PT fizesse nos últimos anos: manter a CPMF, restringir as liberdades individuais, a liberdade de imprensa, aprovar o terceiro mandato... Mas toda ação raivosa, depois dela vem sempre uma reação equilibrada por parte da oposição e principalmente por parte do eleitor.

Concretamente, o DEM está com problemas em alguns Estados, principalmente na eleição para o Senado. O senhor está otimista?

Tenho certeza de que venceremos as eleições onde estamos disputando Senado e governo. Ontem foi uma prova disso, a força do (Raimundo) Colombo (candidato a governador em Santa Catarina) fez parte desse desequilíbrio do presidente. Mais importante do que ser governo ou oposição é ter senadores que vão garantir o equilíbrio, o poder moderador, o equilíbrio das instituições, o equilíbrio da democracia. O que o PT quer é um desequilíbrio no Congresso.

O projeto do Democratas, de sucessão ao PFL, foi bem sucedido?

Um processo de renovação dura 20, 30 anos. O PT levou 20 anos para chegar ao poder. Estamos em um processo de renovação e acho que tem que ser dito: o que o presidente carrega dentro dele é um ódio, ninguém sabe por que motivo, apenas por que o DEM foi oposição. Uma oposição que não foi radical, foi firme, quando teve que ser firme, e apoiou o governo naquilo que o governo tinha de positivo a apresentar para a sociedade. Acho que o DEM está no caminho correto. Se não estivesse incomodando, o presidente não estaria tratando o DEM como tratou ontem.

Não tem perigo de o DEM ser extirpado, então?

Olha, ser extirpado só se o presidente quiser ser Hitler e perseguir os judeus. Um presidente que diz 'sou amigo de todo mundo', não sei como consegue falar com tanto ódio, já que os políticos são pessoas jurídicas, não são inimigos, são adversários. E adversários leais, como temos sido.