quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Quem tutela:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Lembrar a proximidade de José Dirceu irrita a campanha de Dilma, mas ninguém ousa entrar com um pedido no Tribunal Superior Eleitoral para tirar do ar o comercial do PSDB que alerta que o ex-ministro e deputado cassado, considerado pelo procurador-geral da República o chefe da quadrilha do mensalão, voltará ao poder em um eventual governo petista.

Nem Dilma ousou negar essa possibilidade, quando perguntada. Pois Dirceu tratou de deixar bem claro que ele é um dos que mandam nos bastidores da candidatura Dilma, e qual é o projeto que ela representa.

Falando em uma assembleia de sindicalistas na Bahia, ele disse que a vitória de Dilma será a vitória do PT, ressaltando que Lula é muito maior do que o partido.

O raciocínio político de Dirceu como sempre é competente para seus interesses, e interessa a ele esquecer que Dilma só está sendo eleita, provavelmente no primeiro turno, porque por trás dela está Lula, e não o PT.

Interessa a ele, para o exercício de poder dentro do partido, transformar a eleição de uma candidata petista sem tradição partidária, imposta pelo presidente a seus correligionários justamente para não fortalecer nenhum deles, em uma vitória da facção política que comanda.

Ele não esconde que trabalhou na composição dos palanques estaduais para a candidatura Dilma, e que viaja o país como dirigente partidário.

Só esclarece que não se interessa em ter um lugar no futuro governo, para alívio da campanha de Dilma.

Mas Dirceu não esconde que pretende influir na construção do futuro governo Dilma, e já começou a chamar para si a disputa interna com o PMDB.

Delimitar espaços dentro da heterogênea coligação que sustentará o futuro governo, mas sobretudo avisar ao PMDB que será recebido com agrados desse tipo quando colocar seu jogo na mesa para repartir o pão, como cunhou o candidato a vice e presidente do PMDB Michel Temer.

Essa divisão dos cargos será a parte mais delicada de toda a operação que o presidente Lula montou, e já é possível prever que até mesmo a proeminência de Lula será colocada em xeque.

Ao classificar a vitória de Dilma como do partido, e por isso muito mais importante do que a de Lula, Dirceu mandou um recado direto para a provável futura presidenta: o projeto é petista, não é lulista nem de Dilma.

Acontece que Lula já anunciou que pretende continuar atuando na política partidária, e pelo apetite com que se atira na campanha presidencial, está considerando sim esta uma terceira eleição consecutiva, com todos os direitos de que se julga detentor.

Já havia a desconfiança de que não será difícil a ele tentar comandar a presidente puxando os cordéis, mas agora a disputa parece se desviará para dentro do partido, que Lula domina por ser o presidente popular que é.

Mas fora do poder, terá o mesmo respeito, e a mesma capacidade de atuação política que tem hoje? Dirceu sinaliza que não, antes mesmo que Lula comece a receber o café frio no Palácio do Planalto. Se esta eleição é mais importante que a de Lula por representar o projeto do partido, então o partido, e não Lula, decidirá ao lado de Dilma.

Vemos então que a provável futura presidenta já tem dois a quererem tutelá-la.

Falta ainda o PMDB, que se prepara para ganhar corpo e disputar palmo a palmo os espaços do governo com o PT.

Dirceu trata de desqualificar os parceiros mais importantes para que não venham com a boca muito aberta para a divisão do butim do Estado.

Mas o PMDB tem planos mais ambiciosos que a mera repartição do pão. Quer opinar sobre os rumos do governo, quer se colocar como o defensor dos valores democráticos em um governo que, como avisa Dirceu, será mais do PT do que de Lula ou Dilma.

É previsível que essa declaração de força de Dirceu vá parar na campanha do tucano José Serra, que já tem musiquinha e tudo alertando para o perigo que seria um governo do PT sem Lula para controlar os petistas.

E na fala de Dirceu aos sindicalistas já apareceu um dos temas que serão razão de disputa no Congresso, o tal controle social dos meios de comunicação.

Ao criticar os jornais e televisões, ele diz que seus comandos já estão querendo decidir quem participará de um futuro governo Dilma, e que seu primeiro ano será de luta contra os meios de comunicação.

Essa é outra disputa particular de Dirceu, agora com seu ex-colega de ministério Antônio Palocci.

O ex-ministro da Fazenda foi colocado na campanha de Dilma por Lula, para que orientasse a candidata especialmente sobre economia.

Sua presença em cargo importante no governo, como a chefia do Gabinete Civil, como Lula quer, seria uma indicação de que ele daria o compasso do novo governo.

Essa hipótese ganhou força com o novo escândalo que estourou no Gabinete Civil, com o filho da ministra Erenice Guerra admitindo que fez uma consultoria para uma firma que negociava com órgão do governo.

Aliás, foi essa a explicação esdrúxula que foi aceita pelo presidente Lula e os ministros que compõem o núcleo político do governo, o que só torna mais escandaloso ainda o caso.

Não deveria ser preciso uma Comissão de Ética para identificar essa consultoria como uma falta gravíssima contra a ética pública.

Mas, voltando ao ministério de Dilma, com a provável inviabilização política da permanência de Erenice no Gabinete Civil como Dilma queria, a possibilidade de Palocci vir a ocupá-lo aumenta.

A não ser que a futura presidenta resolva peitar logo de cara o presidente Lula.

Pronta entrega:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Há 13 dias o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não parecia minimamente preocupado com a quebra sistemática de sigilo fiscal nas dependências da Receita Federal. Muito menos transparecia disposição para tomar medidas de segurança adicionais. Ao contrário.

Estava tranquilo, sorridente, achando muito natural esse tipo de ocorrência que, segundo ele, é habitual. "Vazamentos sempre ocorreram", comentou o ministro enquanto comemorava o bom desempenho do PIB no segundo semestre de 2010.

Mantega obviamente foi muito criticado. Não no governo nem na campanha presidencial do PT. As críticas saíram da oposição, da imprensa e de uma ou outra entidade que ainda se surpreende com o fato de um ministro da Fazenda admitir que a Receita não garante a segurança fiscal dos cidadãos com a ligeireza de quem dá uma boa notícia.

Na ocasião não ocorreu ao ministro citar - não discorrer sobre, mas apenas mencionar - a necessidade de tomar medidas para corrigir a situação.

Quatro dias depois, no Dia da Independência, o presidente da República apareceu no horário eleitoral do PT para reagir às "calúnias" relativas às quebras de sigilo sem dedicar uma vírgula às pessoas que tiveram suas declarações de renda indevidamente examinadas.

Na oportunidade, o presidente não impôs reparo aos acontecimentos, para ele apenas fruto de "baixarias" da "turma do contra".

O que houve nesse meio tempo que motivasse o anúncio de uma série de medidas - entre elas a criação de um cercadinho VIP para políticos e respectivos familiares - com a finalidade de aumentar a segurança dos dados e inibir a espionagem e distribuição de senhas entre funcionários?

Em relação à Receita não aconteceu nada, mas sobre trapaças no campo companheiro aconteceu a denúncia da revista Veja a respeito do tráfico de influência da família Guerra e adjacências. Com ela aconteceu necessidade premente de se criar algum fato positivo para dividir atenções.

De onde aparecerem medidas obviamente rabiscadas às pressas. Não deu tempo sequer de redigir a medida provisória anunciada pelo ministro Mantega que vai regularizar os itens do pacote que precisam de mudança na legislação. Isso se houver mesmo alguma MP para ser editada.

Essa história com a qual o governo resolveu se preocupar agora é de conhecimento público desde junho. De lá para cá o caso só se agrava e as autoridades apenas tergiversam, mentem, escondem informações, simulam indiferença, zombam ou dizem que é tudo uma grande armação.

Pela lógica. Se, como diz a ministra Erenice Guerra em sua nota oficial, as denúncias sobre tráfico de influência envolvendo boa parte de sua família nada fossem além de campanha difamatória "em favor do candidato aético e derrotado", o ministro da Justiça não poderia ter concordado em ordenar à Polícia Federal abertura de inquérito.

Se, como diz a candidata Dilma Rousseff, tudo se resumisse a mais um "factoide" eleitoral, chamar a polícia para cuidar disso seria no mínimo uma temeridade. Como se sabe, ocupar serviços públicos com alarmes falsos ou trotes é ato passível de punição.

Portanto, ou o governo vê fundamento para investigar a denúncia ou a investigação é que é um factoide eleitoral.

De antemão. Faz 20 dias mais ou menos, antes de se agravar a história das quebras de sigilo fiscal, que o superintendente da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, informou ao ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, a existência de um suspeito na mira da PF: um advogado tributarista, cujos telefones já estavam grampeados.

Marcel Schinzari, apontado pelo contador Antônio Carlos Atella Ferreia como uma das pessoas "que podem ajudar a solucionar" o caso, é advogado especializado em direito tributário.

Pode ser só coincidência, mas também pode não ser.

Um dia, a Casa Civil cai :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Erenice Guerra era da liderança do PT na Câmara, uma fábrica de dossiês contra Collor, Itamar, FHC, Ibsen Pinheiro (que despontava como presidenciável) -enfim, contra tudo e todos.

Dali, os dossiês vazavam para as redações e para as então temidas CPIs, de boa lembrança. Os autores eram os "puros"; os que caíam na rede eram os "impuros".

Com o tempo, autores, vítimas e réus foram se misturando perigosamente.

Não há mais "puros", a população conclui que todos são "impuros".

Da fábrica de dossiês, Erenice pulou para a Secretaria de Segurança Pública do DF no governo Cristovam Buarque (então PT), enquanto usava laranjas para abrir justamente uma empresa privada de investigação, segurança e vigilância. Ou seja: de dossiês.

E não é que ela foi galgando degraus até chegar ao Palácio do Planalto, aboletar-se como secretária-executiva na principal pasta do governo e dali fabricar o dossiê, ops!, o "banco de dados" contra Ruth e Fernando Henrique Cardoso?

Os chefes, Lula e Dilma, devem ter gostado muito dela e dos seus préstimos: depois de uma vida inteira de dossiês, Erenice foi promovida a ministra-chefe da Casa Civil.

Ela, porém, tem chance zero de ser mantida nesse ou em algum outro cargo, porque se esqueceu de uma coisa: quem araponga, arapongado será.

Principalmente se tiver rabo preso e uma árvore genealógica enraizada pela máquina pública, de onde caem de maduros filhos, irmãos, afilhados e aparentados, alguns envolvidos com lobby e imiscuindo-se na bandidagem.

Um dia, a Casa (Civil) cai. Não é a primeira e possivelmente não será a última vez, principalmente com esse "projeto político" que José Dirceu anuncia por aí.

A volta dos trogloditas:: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Até acreditei quando, tempos atrás, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não haveria "trogloditas" na campanha eleitoral deste ano. Entre os candidatos talvez não haja mesmo. Mas o próprio presidente incumbiu-se de introduzir uma boa dose de "trogloditismo" com a sua pregação a favor da extinção do DEM.

É verdade que Jorge Bornhausen, o então presidente do partido, quando ainda não se chamava DEM, havia feito afirmação bastante semelhante no auge do escândalo do mensalão.

Mas o que se espera de um presidente da República é que contribua para elevar o nível do debate político em vez de fazê-lo retroagir à era das cavernas.

Já Erenice Guerra dá sua inestimável contribuição para a baixaria ao esquivar-se de explicações no caso em que sua família foi envolvida, preferindo a velhíssima tática, tão cara ao PT, de partir para o ataque como melhor defesa.

Foi o que sempre fez o lulo-petismo, inclusive no caso do mensalão: inventaram uma suposta conspiração da mídia, quando o que havia era uma conspiração dos fatos. Tanto que o próprio Lula foi à televisão para pedir desculpas pelo que o partido fizera.

Ao afirmar em nota oficial que há uma "impressionante e indisfarçável campanha de difamação", a chefe da Casa Civil apenas repete a teoria da conspiração.

Pior: atribui a campanha a um candidato "aético e já derrotado". Todo candidato, vitorioso ou derrotado, tem a obrigação -assim como a mídia independente- de cobrar explicações de todo governo, popular ou não.

Foi, por exemplo, o que o PT de Lula, derrotado então, não parou de fazer com Fernando Collor.

Ou, depois, também derrotado, com Fernando Henrique Cardoso. O governo de Lula e Erenice pode ser imensamente popular, mas não é inimputável.

O projeto:: Miriam Leitão

DEU EM O GLOBO

Louve-se a sinceridade de José Dirceu numa campanha em que ela não tem sido a matéria prima.

Ele não sabia que estava sendo ouvido pelo que considera o grande inimigo: a imprensa. É uma sinceridade desavisada, mas Dirceu repete o que muita gente diz no partido: com Dilma, o PT vai mandar mais do que com Lula e fazer o seu projeto, seja lá o que for isso.

A julgar pelo que José Dirceu disse no encontro com petroleiros na Bahia, o presidente Lula é grande demais, engoliu o partido. É duas vezes maior do que o PT. Já Dilma, ele define como uma liderança que não tinha grande expressão popular, eleitoral, nem raiz histórica no país. Neste ponto, José Dirceu não foi exato.

Não é que ela não tinha grande, ela não tinha qualquer expressão, nem popular, nem eleitoral, nem raiz histórica. Ele sabe.

Será que José Dirceu acha que Lula é passado? Ficou maior que o partido, governou seu próprio projeto, vai eleger sua escolhida e depois sair de cena? Talvez seja preciso combinar com o próprio Lula que, vivendo agora seu melhor momento, tem claras ambições futuras.

Curioso, o Lula. Ele nunca foi um fenômeno eleitoral.

Perdeu três eleições, e as duas que ganhou foi apenas no segundo turno, mesmo disputando com candidatos que não têm seu talento de encantador de plateias. Ele é fenômeno eleitoral agora quando, ao sair, transforma uma desconhecida, recémchegada ao partido, com falhas explícitas na comunicação, em favorita das intenções de voto. Lula não foi um espanto quando disputou o voto para ele mesmo.

Mas tem se inebriado com a popularidade, pensa que é eterna e alimenta desejos de volta. Como diria seu neo amigo, Collor de Mello: Só não vê quem não quer.

Curiosa também a interpretação que José Dirceu faz da imprensa. Acha que ela está em guerra contra ele.

Temos uma disputa contra nós na comunicação, diz ele, para acrescentar que é preciso se preparar para essa disputa da mídia comigo.

A obsessão parece inversa.

Para José Dirceu, a imprensa quer que ele seja condenado, quer bani-lo da vida política, quer impedir que ele exerça a profissão. Eles me cassaram, saí do governo, fiquei inelegível, depois começaram uma campanha contra minhas atividades de advogado e consultor. Acha que essa perseguição ocorre em conluio com a Polícia Federal, Ministério Público e Poder Judiciário.

Ele foi demitido por Lula no rol das denúncias do mensalão, feitas pelo então aliado do governo Roberto Jefferson. O Ministério Público ofereceu a denúncia contra a organização criminosa definição do procuradorgeral da República e o Supremo instaurou o processo. A CPI revelou que o dinheiro era sacado na boca do caixa e distribuído a integrantes da base aliada.

O Congresso decidiu sobre seus direitos políticos. Será que ele acha que qualquer um desses fatos espantosos poderia não ser divulgado? Sua avaliação de que há um excesso de liberdade assusta porque isso não é seu pensamento apenas. É o do projeto.

O mesmo que tentou por duas vezes no governo Lula controlar a imprensa; o mesmo que estava no programa original da candidata do PT enviado ao TSE, aquele que ela rubricou supostamente sem ler. Os indícios são fortes demais da visão distorcida que o projeto tem do exercício de um indispensável pilar da democracia.

Os jornalistas costumam provocar reações iradas de candidatos em geral. Está aí José Serra para provar. Irritase desde o começo da campanha, acha que há intenções ocultas nas perguntas, dá respostas atravessadas. Perde pontos com isso. Era o mais experiente dos candidatos, parece o menos preparado para enfrentar as tensões e pressões naturais de uma campanha. É a maior vítima de seu temperamento.

Mas criticar os jornalistas, os órgãos de imprensa, dar respostas atravessadas, tudo isso é da natureza do jogo.

Uma campanha desgasta, cansa, irrita, anima, aflige, mexe com todas as emoções dos candidatos e seus assessores.

Críticas aos jornais, aos jornalistas não representam perigo. O presidente da República não passa um dia sem criticar a imprensa. É seu esporte favorito depois do futebol. O risco ocorre quando passa a ser parte do projeto conter, limitar, controlar, intervir no livre exercício do direito e dever de informar.

Foi assim que o presidente Hugo Chávez começou, é neste caminho que está indo o casal Kirchner, assim começaram todos os regimes autoritários. Todos acham que há um excesso de liberdade de imprensa. Para Dirceu, há no Brasil um abuso do direito de informar.

José Dirceu deveria estar feliz, tranqüilo, esperançoso, afinal, a candidata para a qual trabalha está bem nas pesquisas.

Em vez disso, vocifera ameaças, sente-se perseguido, pensa ser o centro das preocupações da imprensa.

Deveria já ter entendido que não é esse o projeto que está sendo apoiado pelos eleitores, mas a sensação de conforto econômico que dá o crescimento com inflação baixa. Conforto que muito deve ao governo anterior. Se o projeto for fazer da eventual vitória da Dilma uma carta branca para o autoritarismo, o PT estará cometendo o maior dos seus erros.

Ogro, sim, senhor! :: Demétrio Magnoli

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

"O poder central, no México, não reside no capitalismo privado nem nas associações sindicais nem nos partidos políticos, mas no Estado. Trindade secular, o Estado é o Capital, o Trabalho e o Partido. Não obstante, não é um Estado totalitário nem uma ditadura." Octavio Paz caracterizou desse modo o sistema político de seu país num texto seminal de 1978, O Ogro Filantrópico. Sugiro a leitura aos analistas que se eriçam agressivamente diante da sugestão de que há risco real de "mexicanização" da democracia brasileira remodelada pelo lulismo.

Traçar um paralelo não é postular uma identidade. Paralelos servem para iluminar uma similitude crucial. O sistema político brasileiro tende a cristalizar um bloco de poder hegemônico que exclui a possibilidade de alternância no governo e emerge como fruto da imbricação do Estado com um leque de interesses expressos em partidos, grupos empresariais, elites sindicais e movimentos sociais. O México dos tempos áureos do Partido Revolucionário Institucional (PRI) é o melhor exemplo de um sistema dessa natureza.

Lula confessou, mais de uma vez, sua admiração por Ernesto Geisel. Sob a inspiração geiseliana, tão óbvia na interlocução com Delfim Netto, o lulismo assimilou a seu bloco de poder um setor do grande empresariado. As empresas estatais, os financiamentos subsidiados do BNDES e os capitais de fundos de pensão geridos por sindicalistas petistas são as ferramentas dessa assimilação, que abrange grupos de telecomunicações, empreiteiras, conglomerados da petroquímica e da siderurgia. Na interface das alianças entre capitais públicos e negócios privados vicejam intermediários com acesso privilegiado ao governo. O castrista José Dirceu aprendeu as delícias de um capitalismo de favores que renasce no rastro "etapa chinesa" da globalização e propicia uma troca de pele da economia brasileira.

Lula enxerga-se como sucessor de Getúlio Vargas, o "pai dos pobres" original. Sob o influxo do varguismo, seu governo repaginou o imposto sindical, cooptando as centrais sindicais e inserindo a elite adventícia de sindicalistas no bloco de poder. O aparato sindical chapa-branca, além de operar nos fundos de pensão, forjando alianças empresariais, também fornece uma tropa de choque "popular" para embates contra a oposição parlamentar. Quando se tentou instalar uma CPI sobre a Petrobrás, a CUT, a UNE e a ABI convocaram manifestações públicas para acusar senadores do crime de traição à Pátria. Em três anos, entre 2006 e 2009, tais entidades receberam R$ 12 milhões em financiamentos da estatal petrolífera.

Nenhum fenômeno histórico é igual a outro: paralelos servem, também, para iluminar diferenças. O PT não ocupa o lugar do PRI. Embora exerça funções essenciais que cabiam ao partido dirigente mexicano, especialmente a intermediação do governo com o sindicalismo e os movimentos populares, ele não serve como veículo partidário para as máfias políticas regionais. No bloco de poder do lulismo, essa função é exercida pelo PMDB e, marginalmente, por outros partidos da base governista. O paralelo, contudo, mantém sua relevância analítica: como no México de um passado recente, o arco político situacionista estende-se da esquerda à direita, dissolvendo barreiras doutrinárias. O clã Sarney, Fernando Collor, Jader Barbalho, Michel Temer, Ciro e Cid Gomes foram incorporados ao "partido de Lula". Todos eles têm a prerrogativa de subordinar a seus interesses um fragmento do Estado neopatrimonalista.

Um sistema político de tipo "mexicano" nada tem de harmônico. As forças incongruentes que participam do bloco de poder se encontram em incessante concorrência pela captura e manutenção de posições estratégicas no "ogro filantrópico". A guerrilha intramuros, mais relevante que as escaramuças eleitorais com uma oposição fadada à derrota, realiza-se por meio da negociação e da chantagem. Quando não se alcança um compromisso, vazam-se informações sigilosas que detonam escândalos de corrupção. O "fogo amigo", que atingiu um ápice no episódio do mensalão, expõe periodicamente ao público, como clarões na noite, imagens caleidoscópicas das entranhas do poder.

O lulismo é uma obra em construção. Há anos Lula acalenta a ideia, várias vezes explicitada, de erguer um partido mais amplo que o PT. A indicação pessoal de Dilma Rousseff como sucessora, um dedazo bem ao estilo mexicano, foi apenas o primeiro golpe assestado contra o PT nas eleições em curso. Em Minas Gerais, no Maranhão, no Paraná, em Pernambuco, no Rio de Janeiro, o presidente pôs seu partido de joelhos, impondo-lhe a submissão a grupos políticos hostis e quebrando a espinha da militância petista tradicional. O triunfo eleitoral da candidata palaciana pode representar uma plataforma para a edificação do almejado "partido de Lula". Nessa hipótese, que demanda a destruição do PT, o sistema político brasileiro derivaria um pouco mais no rumo da "mexicanização".

Não havia no regime do PRI um centro de poder personalista e carismático. O presidente funcionava apenas como gerente temporário do bloco de poder, não dispondo do direito de exercer mais de um mandato. O gesto de nomeação do sucessor, o dedazo, simbolizava tanto o seu zênite quanto o início de seu ocaso definitivo. No Brasil do lulismo, ao contrário, o centro de poder corporifica-se na figura carismática de Lula - que, com o dedazo, pretende perpetuar essa sua condição. Tal diferença não é um detalhe, gerando interrogações decisivas sobre o futuro do sistema político brasileiro. Será Lula capaz de exercer a arbitragem do bloco de poder que construiu sem dispor da caneta presidencial? No presidencialismo brasileiro, é possível governar a partir dos bastidores, por intermédio de um fantoche?

O registro da "mexicanização" permite, ao menos, identificar as perguntas certas. É tudo o que se quer de um paralelo.


Sociólogo, é doutor em Geografia Humana pela USP.

Dilma: do petismo ao lulismo providencial :: Rui Nogueira

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Para quem já enfrentou, nos idos de 2005, o então poderoso Antonio Palocci, chamando o programa fiscal do ministro da Fazenda de proposta "desqualificada" e "rudimentar", a filiação providencial da candidata Dilma Rousseff (PT) ao lulismo é a prova acabada da hierarquia reinante na campanha governista. Hoje, o comando está ordenado assim, de cima para baixo: Luiz Inácio Lula da Silva, Palocci e Dilma. É por isso que José Dirceu fala em mais petismo em um governo Dilma.

A candidata chegou à Casa Civil em meados de 2005, depois de o presidente ter defenestrado José Dirceu. Economista, ela vestiu a camisa da facção que achava que Palocci havia ido longe demais no fiscalismo. Numa entrevista ao Estado, foi com tudo para cima do ministro da Fazenda e sinalizou que o governo Lula precisava gastar - era um governo acossado pelo mensalão e desafiado a mostrar a que veio.

Foi por conta do currículo esquerdista e desse embate em passado recente que o PT ficou quieto, mesmo não gostando, inicialmente, do "dedaço" de Lula na escolha da candidata à sua sucessão. E foi sintomático que, oficializada a escolha, o partido começasse logo a falar em fazer um programa de governo à esquerda de Lula. Diante da proximidade do Congresso do PT, em fevereiro passado, ressuscitaram as teses socialistas e os pendores terceiro-mundistas de sempre.

Foi nesse embalo que, em outra entrevista, igualmente ao Estado, ninguém menos que o próprio Lula se encarregou de dizer o quanto esse petismo valia para ele, para a articulação da campanha à sucessão e para o futuro governo. "Num Congresso do PT aparecem 20 teses. Tem gosto para todo mundo. É que nem uma feira de produtos ideológicos", disse o presidente, mostrando que o lulismo reina sobre o petismo.

As teses do Congresso terminaram desidratadas e o que está posto em matéria de alianças é de um lulismo contundente. Tão contundente que faz de Lula o peemedebista que o PMDB nunca teve. A reboque de Lula e de Palocci, a candidata Dilma está pronta para aplicar os princípios "rudimentares".

Menos por querer mudanças radicais no poder e mais para exibir poder de influência, pois Dirceu é hoje um homem de negócios, o ex-chefe da Casa Civil faz o que está ao seu alcance para ser mais do que um réu do mensalão. Mas é claro, também, que Dirceu, com a saída de Lula do Planalto, avalia o cenário em que Dilma pode não saber exercitar o lulismo herdado, ficando mais vulnerável ao petismo.

É jornalista da Sucursal de Brasília do "Estado"

O Planalto e Dilma sob ataque mais forte. E Lula cerca a oposição na disputa por governadores e Congresso.:: Jarbas de Holanda

O escândalo da violação do sigilo fiscal de oposicionistas, inclusive da filha e do genro de José Serra, além da de muitos outros contribuintes, associado à atuação de petistas numa Receita Federal fragilizada por aparelhamento partidário, teve para a candidatura de Dilma Rousseff pequeno efeito de desgaste nas capitais do Sudeste. Onde ela perdeu alguns pontos, compensados por novo aumento dos seus índices de intenção de votos no Nordeste. Esta foi a constatação das pesquisas Ibope e Datafolha, que também registraram pequena queda dos de Serra, ao lado do crescimento – de 10% para 13% - dos de Marina Silva em São Paulo e no Rio. O efeito bastante restrito desse escândalo na disputa presidencial é atribuído pelos analistas à dificuldade de entendimento pelo povão do significado e da gravidade das denúncias a respeito, feitas pela imprensa e exploradas pela campanha de Serra com a vinculação delas à candidatura de Dilma.

Já as subseqüentes denúncias de tráfico de influência que envolvem a sucessora de Dilma Rousseff na chefia da Casa Civil, Erenice Guerra, seu filho Israel e outros familiares – feitas na última edição da Veja, e desdobradas pelos grandes veículos da mídia – têm um potencial bem maior de impacto eleitoral.Pois atingem simultânea e diretamente o núcleo do Palácio do Planalto e sua candidata, em face das relações estreitas e de amplo conhecimento público entre Dilma e Erenice (principal auxiliar da amiga no comando da Casa Civil, indicada por ela como sua substituta no cargo e avaliada como provável titular do mesmo num governo dilmista). Após ter em mãos, logo no sábado, a reportagem-bomba da revista, o presidente Lula acendeu a luz amarela indicativa de perigo e passou a dar passos em duas direções – a de blindagem da candidata Dilma e a de defesa do governo. Nesta, de um lado tentando a desqualificação das denúncias e, de outro, dando-se conta da crescente repercussão delas, por meio do anúncio de uma bateria de medidas. Começadas pela demissão do assessor de Erenice, até para reduzir a pressão pelo afastamento da própria ministra; seguidas por determinações a ela de que mova processo judicial contra a Veja e de que se submeta a uma apuração as denúncias pela Comissão de Ética da Presidência da República (cuja imagem é a de um órgão que atua sob completo controle do chefe do governo); e continuadas, ontem,com a convocação de outros órgãos de controle de irregularidades (igualmente subordinados ao presidente mas de melhor imagem) – CGU (Controladoria Geral da União) e AGU (Advocacia Geral da União) – para realizarem inquérito sobre a prática de lobby pelo filho da ministra. Aos quais deverá juntar-se a Polícia Federal “numa apuração do conjunto das denúncias”, segundo o ministro da Justiça, Luiz Barreto.

Tudo isso sendo transmitido à imprensa como evidência, segundo fonte do Planalto, “de decisão do presidente Lula de que as denúncias sejam investigadas com rigor e com seriedade, mas sem os objetivos eleitoreiros com que foram apresentadas e estão sendo exploradas”. “Seriedade” que certamente empurrará as conclusões desses órgãos para depois da eleição presidencial, na hipótese de que eles cheguem a tais conclusões, diferentemente do que aconteceu com o tratamento atribuído ao escândalo dos Aloprados de quatro anos atrás, até hoje sem definição de sequer um culpado. E com o governo empenhado no vale-tudo eleitoral, num contexto em que o novo escândalo (mesmo cheio de fortes evidências de envolvimento da Casa Civil, agora e na gestão de Dilma Rousseff) não deverá reverter a perspectiva de vitória da candidata lulista no 1º turno. Podendo ter apenas o efeito de evitar que ela alargue a folgada vantagem que mantém em relação ao conjunto dos demais concorrentes e ao principal adversário, José Serra.

Embora preocupado com o vulto assumido pelas denúncias sobre o tráfico de influência na Casa Civil, o presidente Lula segue dedicando-se à campanha eleitoral, para uma vitória rápida de Dilma e para sua segunda prioridade – o domínio das duas Casas do Congresso através de grandes bancadas do PT e de parlamentares de sua confiança vinculados a outros partidos, bem como do enfraquecimento da oposição, em especial com a derrota de lideranças expressivas que disputam candidaturas ao Senado. Prioridade esta que se liga à terceira – o sucesso da maioria dos palanques estaduais da candidatura de Dilma, já assegurado, e a tentativa de conquista dos dois mais importantes, os de São Paulo e de Minas, estimulada pela fragilidade da candidatura de Serra. Eis alguns dos últimos atos e declarações de Lula voltados para essas prioridades: a pregação de que o DEM seja extirpado da cena político-partidária, feita num comício em Joinville e corretamente avaliada pelo ex-presidente FHC como postura de “chefe de facção”, a pressão sobre o governador do Ceará Cid Gomes e seu irmão Ciro para que bloqueiem a reeleição praticamente certa do senador Tasso Jereissatti; os fortes ataques dirigidos a outros candidatos do PSDB e do DEM ao Senado, como Arthur Virgílio, José Agripino, Marco Maciel, Demóstenes Torres, Cesar Maia; a enorme mobilização que está sendo desenvolvida para evitar uma vitória do candidato de Aécio Neves ao governo de Minas; mobilizações semelhantes para uma “virada lulista” das disputas no Paraná, em Goiás, no Pará. Em São Paulo, enquanto Aloizio Mercadante tenta impedir a vitória de Alckmin no 1º turno, a ofensiva lulista visa mesmo é o aumento das bancadas federais do PT. Especificamente quanto ao Congresso, os analistas eleitorais passaram a prever que a bancada do PT poderá ultrapassar a do PMDB. Que, entretanto, deverá manter a maior do Senado.

Caetano canta "Gema" com Teresa Cristina

Os arreganhos do lulismo – Editorial:: O Estado de S. Paulo

Dois meses depois de rebentar o escândalo do mensalão, em junho de 2005, um relutante presidente Lula gravou um pronunciamento para se dizer "traído" e cobrar do PT um pedido de desculpas. Foi o mais perto a que chegou de reconhecer que tinha procedência a denúncia da compra sistemática de apoios ao seu governo na Câmara dos Deputados. Logo adiante, virou o fio: considerou a investigação parlamentar das acusações uma tentativa golpista das elites e ameaçou enfrentá-las nas ruas.

A história se repete. Diante da revelação do tráfico de influência praticado pelo filho da titular da Casa Civil, Erenice Guerra, Israel - o que levou à descoberta de que dois irmãos e uma irmã dela ocuparam uma penca de funções no governo, onde cuidavam com desvelo dos interesses da família -, Lula fez saber que exigira da ministra uma "reação rápida". Indicou, dessa maneira, que não desqualificava liminarmente o noticiário que poderia respingar na candidatura de sua escolhida, Dilma Rousseff, responsável pela ascensão da fiel assessora Erenice na hierarquia do poder.

Mas isso foi no domingo. Passados dois dias, a política de contenção de danos virou um arreganho. Ao mesmo tempo que fazia expressão corporal de apurar os fatos - acionando a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União para investigar as ações do filho da ministra, mas não as dela -, Lula estimulou ou deu carta branca a Erenice para culpar o candidato tucano José Serra pela nova crise que chamusca o entorno do gabinete presidencial, a pouco mais de duas semanas do primeiro turno. Desse modo, Lula deu o enésimo passo na sua trajetória de abusos eleitorais.

Estado e governo se amalgamaram com a campanha de Dilma com uma desfaçatez sem precedentes nessa matéria. Presidente e "chefe de uma facção política", nas palavras do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, já se haviam mostrado mais unos e inseparáveis do que nunca quando Lula escolheu o horário de propaganda de sua afilhada, no 7 de Setembro, para desancar o candidato do PSDB porque ousou vincular à disputa eleitoral as violações do sigilo fiscal de familiares e correligionários. Dias depois, disse o que o Brasil jamais ouviu da boca de um presidente - que era preciso "extirpar" da política nacional o DEM, aliado de Serra.

É o estilo mussoliniano de quem, numa apoteose mental, acha que é tudo e tudo pode, apontou Fernando Henrique, a única figura política de peso no Brasil a advertir consistentemente para a intensificação do comportamento autocrático de Lula. Serra abdicou de fazer oposição ao presidente aprovado por 80% da população, como se os sucessivos ocupantes da Casa Civil contra quem a sua propaganda investe - José Dirceu, Dilma Rousseff e Erenice Guerra - não tivessem nenhum parentesco político com o Primeiro Companheiro que os instalou no centro do poder. Isso nem impediu a disparada da petista nas pesquisas nem poupou o seu adversário das piores invectivas.

Acertada com o chefe, Erenice mandou distribuir uma nota, em papel timbrado da Presidência, em que se refere a Serra como "candidato aético e já derrotado", mentor do que seria uma "impressionante e indisfarçável campanha de difamação" contra si e os seus. É típico do lulismo, além da usurpação dos recursos de poder do Estado, culpar os críticos pelos malfeitos da sua patota. Como no caso do mensalão, passado o momento inicial de desconcerto, a ordem é execrar os denunciantes. Quer-se reduzir a um "factoide" eleitoralmente motivado, como disse Dilma, a exposição dos enlaces da família Guerra com o patrimônio público.

De outra parte, levanta-se uma nuvem de poeira para abafar o escândalo da véspera, o da Receita Federal. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou uma providência que cria uma categoria privilegiada de contribuintes - a das "pessoas politicamente expostas". Os dados cadastrais e declarações de renda de autoridades e ex-autoridades passarão a ter a proteção especial com que os mortais comuns apenas podem sonhar. A medida desacata o princípio da igualdade de todos perante a lei. Mas isso é um detalhe no modus operandi do lulismo, que ameaça deitar raiz no terreno baldio da política nacional.

Um projeto autoritário em marcha – Editorial:: O Globo

Deputado federal cassado devido à comprovada participação no esquema do mensalão, e qualificado, no processo sobre o escândalo em tramitação no Supremo, como chefe da organização criminosa montada para comprar com dinheiro sujo apoio parlamentar ao governo Lula, José Dirceu não perdeu espaço no PT. Ao contrário, pois certa militância petista demonstra seguir um padrão moral maleável a ponto de ser condescendente com golpes contra o Erário, desde que em nome de bons propósitos. As últimas semanas de fatos ocorridos na política comprovam esta ética peculiar do partido.

A palestra feita segunda por Dirceu a petroleiros da Bahia mostra, por sua vez, como o deputado cassado, réu, pontifica em nome do partido, cujo projeto político, disse, poderá ser executado com a chegada da companheira em armas Dilma Rousseff ao Planalto.

E é parte do projeto controlar a imprensa independente e profissional, meta da legenda desde a chegada ao Planalto, em 2003. Como disse o líder petista aos petroleiros, há no Brasil um abuso no poder de informar(!!).

A frase poderia ser de um daqueles censores da Polícia Federal nos anos 70.

Fracassadas as tentativas de intervenção na produção audiovisual por uma agência (Ancinav) e de oficialização da patrulha sobre os jornalistas por meio de um conselho sindical, o acúmulo de forças, nas palavras do ex-ministro-chefe da Casa Civil, deverá permitir, agora, a realização do antigo sonho.

É um erro achar que o PT de Dirceu espera Lula esvaziar as gavetas no Planalto, despachar a mudança rumo a São Bernardo, para desfechar o ataque ao direito constitucional à liberdade de imprensa e expressão.

Ele já vem sendo preparado, por determinação do próprio Lula, pelo ministro de Comunicação Social, Franklin Martins. Será deixado pronto para Dilma um projeto que, entre outros pontos, pretende regular as chamadas participações cruzadas, com o objetivo de reduzir o tamanho e a diversificação dos grupos de comunicação. A intenção é a mesma que move o casal Kirchner, na Argentina, ao forçar o grupo Clarín a se desfazer de canais de televisão, sempre em nome do combate à concentração. É falso o argumento do incentivo à competição, pois, hoje em dia, com a internet e a proliferação de canais de distribuição de informações, há incontáveis e crescentes opções à disposição de leitores, telespectadores e ouvintes. O real objetivo do projeto, de origem chavista, é acabar com a independência das empresas profissionais de jornalismo e entretenimento, pelo corte do seu faturamento, hoje obtido por múltiplas fontes de receitas.
Reduzidos em sua escala, os grupos terão de buscar verbas oficiais para se manter, e com isso acabará na prática a liberdade de imprensa.

É tão inconcebível a Dirceu a livre manifestação de opiniões e de veiculação de fatos que o petista aproveitou a doutrinação de petroleiros para criticar o ministro Carlos Ayres Britto, do STF, pelo seu voto contra a censura eleitoral, redigido com base no entendimento do amplo alcance do direito constitucional à liberdade de imprensa.

Entende-se por que a campanha petista volta-se cada vez mais para tentar obter folgada maioria no Congresso. Se o pior acontecer, com a aprovação de projetos contra a Carta, a última trincheira de defesa da Constituição será o Poder Judiciário.

Declaração de Dirceu pode atrapalhar Dilma

DEU EM O GLOBO

As afirmações do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu prevendo que o PT terá mais poder num eventual governo Dilma provocaram irritação na cúpula petista e no Planalto. Para o PT, o discurso pode atrapalhar Dilma, pois explicita que ela corre risco de ficar refém da máquina partidária. No Palácio, o comentário foi que Dirceu, personagem central do mensalão, tem que ficar quieto. "O Dirceu falou num contexto para mobilizar a militância. Mas acabou se empolgando sem medir as palavras", minimizou o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT -SP).

Discurso de Dirceu desagrada a petistas

Para integrantes do partido e do governo, afirmação de que PT terá mais poder com Dilma enfraquece candidata

Gerson Camarotti


BRASÍLIA. As afirmações feitas pelo ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu, de que o PT terá mais poder num eventual governo Dilma Rousseff do que no governo Lula, foram recebidas com irritação por petistas e palacianos, que consideraram que esse tipo de discurso enfraquece a candidata.

O discurso de Dirceu, avaliam, explicitou que ela poderia ficar refém da máquina petista, um receio do mercado e das classes sociais mais altas.

Um ministro dizia ontem que Dirceu tenta agora resgatar sua estratégia de usar o partido para tentar recuperar poder. Petistas reconhecem que Dirceu tem liderança no PT e admitem que ele é usado com certa frequência por Lula e Dilma para cumprir algumas missões políticas, nos estados, por exemplo.

Desgaste com Dirceu seria semelhante ao com Collor Mas a campanha de Dilma prefere que ele fique em silêncio, até porque ele tem imagem negativa. Pesquisas qualitativas internas indicam que a propaganda tucana resgatando os laços de Dilma com Dirceu prejudicam a candidata.

O desgaste é semelhante ao provocado pelo senador alagoano Fernando Collor pedindo votos para Dilma.

Ao explicitar que Dilma não tinha liderança ou grande expressão popular, Dirceu atropelou o marketing da campanha que tenta mostrar a candidata como uma líder política influente. De forma reservada, os próprios petistas reconhecem que Dilma está longe de ter a dimensão política do presidente Lula, mas que isso não deve ser verbalizado por aliados.

A orientação no Planalto é que os governistas evitem inflar as declarações de Dirceu.

Para o Palácio, o que ele falou deve ser tratado como um comentário de um militante petista, e não com o peso de um dirigente.

A uma plateia de petroleiros, em Salvador, na segundafeira à noite, Dirceu afirmou que, para o PT, a eventual eleição de Dilma será mais importante do que a de Lula. Para ele, Dilma representa o projeto petista, enquanto Lula é duas vezes maior que o PT.

No evento, Dirceu disse ainda que a oposição tem o apoio da mídia para tentar influenciar a opinião pública. E criticou o que chamou de abuso do poder de informar.

Achei estranha a afirmação de José Dirceu. Isso porque funciona como material para a oposição querer reduzir o papel de Dilma. Até porque a oposição pode explorar Dirceu para estigmatizar a campanha. Mas Dirceu não é a expressão do partido. E imaginar que Dilma vai ser instrumentalizada pelo Dirceu é subestimá-la disse o líder do PT, deputado Fernando Ferro (PE).

O Dirceu falou num contexto para mobilizar a militância.

Mas acabou se empolgando sem medir as palavras minimizou o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

O que se ouviu em um dos gabinetes do Planalto foi mais duro: Dirceu tem que ficar quieto. Tem que sumir. Ele morre pela boca. Não tem que ficar falando. É quase uma compulsão

Ex-ministro telefonou a integrantes do governo Diante da repercussão, Dirceu telefonou para integrantes do PT e do governo para argumentar que estava dando opinião para um grupo fechado. Pessoalmente, ele teria gostado da repercussão, segundo amigos.

Mas, no seu blog, num texto intitulado O vale-tudo, afir-mou que suas declarações foram completamente deturpadas e tiradas de contexto.

No texto, Dirceu acrescentou: Fiz uma crítica ao papel que a mídia vem desempenhando nestas eleições, com cobertura claramente orientada a prejudicar a campanha de Dilma Rousseff. Na sequência, reforçou suas críticas à imprensa: O que não podemos admitir é que um punhado de empresas monopolistas passe a funcionar como linha auxiliar dos partidos conservadores, manipulando descaradamente as informações e os fatos

Radicalização preocupa

DEU EM O GLOBO

Na reta final da corrida presidencial, analistas políticos alertam para a radicalização da campanha. Os principais alvos de crítica são o envolvimento aberto do governo e de Lula na defesa de seus candidatos e o tom agressivo assumido pela oposição diante da desvantagem nas pesquisas.

Uma eleição num tom acima

Analistas políticos se dizem preocupados com agressões dos dois lados e envolvimento do governo

Fabio Brisolla

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, num comício pró-Dilma Rousseff, defende que o DEM seja extirpado da política brasileira. Em nota oficial, a ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, em vez de se defender, relaciona as acusações de tráfico de influência a um movimento em favor de um candidato já derrotado, numa referência ao tucano José Serra.

Por sua vez, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chama Lula de líder de facção. O tom das declarações na reta final da corrida presidencial é visto com preocupação por analistas políticos.

Alguns consideram as reações do governo nitidamente vinculadas aos interesses da campanha de Dilma Rousseff, a candidata do PT. Essa postura, com destaque especial para os discursos do presidente Lula, estaria tumultuando ainda mais um processo eleitoral já conturbado por denúncias de corrupção.

Professor da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública, o cientista político Valeriano Costa considera a atual eleição presidencial uma das mais agressivas desde a redemocratização.

Para o especialista, a atitude do governo diante das denúncias recentes pode resultar numa grave crise após as eleições.

A eleição do Collor (em 1989) foi tensa. Mas atualmente chegou a um ponto talvez sem retorno. Como eles (PT e PSDB) vão sair dessa eleição para depois conversar? Será difícil recompor a situação avalia Costa, que lamenta o abandono da discussão em torno das propostas de campanha.

O cientista político da Unicamp cita a parcela de culpa da oposição, que teria subido o tom na medida que não conseguiu reverter a desvantagem na disputa eleitoral.

A estratégia se acentuou ainda mais quando surgiram as denúncias sobre as quebras de sigilo fiscal dentro da Receita Federal e o tráfico de influência envolvendo a família da atual ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra. Porém, o professor da Unicamp afirma que a reação do governo agravou a situação.

A sensação de derrota leva à radicalização. O tom sobe quando a oposição se sente incapaz. Mas o presidente Lula, em vez de tentar amenizar o conflito, quer esfolar o adversário. Não tem sentido esse tipo de reação pondera Costa.

Ele ressalta que deveria haver um distanciamento do presidente em relação à campanha eleitoral. O governo estaria agindo de forma parcial, demonstrando preocupações partidárias, diante das denúncias.

O tom da campanha faz parecer que estamos na Venezuela, com o governo manipulando tudo e sufocando a oposição. O governo reforça ainda mais a sensação de haver um aparelhamento acrescenta Valeriano Costa.

O cientista político José Álvaro Moisés, professor da USP, também critica a postura de Lula no processo eleitoral.

Ao dizer que o DEM deveria desaparecer da vida política, o presidente demonstra que não está convivendo bem com a diversidade política, com o pluralismo. E isso resulta em declarações ainda mais exaltadas da oposição ressalta Moisés.

Ao analisar a repercussão das denúncias, ele critica a lentidão nas repostas das instituições governamentais: A reação do governo vem sendo despropositada. É preciso vir a público para dizer o que vai ser feito. O ministro da Fazenda (Guido Mantega) demorou muito para se manifestar sobre a crise na Receita Federal.

Para o cientista político Clayton Cunha Filho, do Instituto de Estudo Sociais e Políticos da Uerj e pesquisador do Observatório Político Sul Americano, a campanha de José Serra tem responsabilidade pelo tom agressivo da campanha.

A reação do governo seria proporcional às ações da oposição, que estaria em desespero pela desvantagem apontada nas pesquisas de opinião.

A culpa se deve mais aos ataques da oposição e também na cobertura das denúncias realizada pela mídia opina o pesquisador.

Por conta das denúncias, é natural que haja uma discussão mais inflamada entre os candidatos, afirma o cientista político Rui Tavares Maluf, coordenador da pós-graduação em Pesquisa de Marketing, Opinião Pública e Mídia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). Ele diz que Lula tem o direito de manifestar apoio a um candidato, mas sem esquecer das suas atribuições como chefe de Estado.

O presidente pode mostrar sua opção, mas cabe a ele conduzir a situação com o cuidado que o momento requer. Não pode agir como um líder partidário diz o especialista, que cita a eleição de 1989 como outra campanha tensa.

Na época, Lula enfrentou Fernando Collor de Mello no segundo turno.

Ele lembra que, na época, a tensão era entre os candidatos, sem envolver o governo.

Serra: constatação de Dirceu é 'óbvia'

DEU EM O GLOBO

Candidato diz que "PT vai mandar de verdade" com Dilma. Para senador tucano, aparelhamento do Estado será maior

Isabela Martin e Cristiane Jungblut

JUAZEIRO DO NORTE (CE) e BRASÍLIA. - O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse ontem em Juazeiro do Norte que, se a adversária Dilma Rousseff for eleita é o PT quem vai mandar de verdade no governo.

Serra endossou o que dissera o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu (PT) em reunião com sindicalistas na Bahia. Segundo Dirceu, eleger Dilma é mais importante para o partido do que foi eleger o presidente Lula. Serra considerou óbvia a conclusão do petista.

Que o Lula é mais forte que o PT, e Dilma é mais fraca que o PT, isso é óbvio. Logo, o PT vai mandar de verdade. Isso é uma constatação um pouco óbvia. Só é interessante porque saiu da boca dele disse o tucano, acrescentando que ele mesmo já havia afirmado isso antes.

Serra voltou a acusar Dilma e seus aliados de estarem de salto alto e terem sentado na cadeira ao comentar os adjetivos da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, que em nota qualificou o candidato de aético e derrotado.

Ao falar sobre as dificuldades da campanha de Serra à Presidência, o senador tucano Tasso Jereissati acusou o governo de fazer uma lavagem cerebral nas pessoas, e comparou Lula quando afirmou que era preciso extirpar o DEM a Hitler e Mussolini.

O problema é que quando se joga essa popularidade num regime fascista, e a favor de extirpar qualquer tipo de oposição... Aí temos a república sindicalista chavista-lulista no Brasil.

Tasso Jereissati: presidente Lula perdeu pudor do cargo Para Tasso, o presidente Lula perdeu o pudor do cargo, não pode virar militante partidário e participar de discussões pequenas por aqueles que acham que vale tudo, inclusive roubar.

Serra e Tasso participaram em Juazeiro do Norte, de uma procissão que encerrou a Romaria de Nossa Senhora das Dores, padroeira do município, fundada por Padre Cícero e centro da religiosidade nordestina.

Aplausos, abraços, beijos e fotos com eleitores, mas também vaias e protestos de fiéis marcaram a caminhada. Diante da confusão provocada por dezenas de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas, um padre pediu aos políticos que seguissem na frente para evitar tumulto

Líder do DEM diz que Dilma é refém de um grupo radical Para os partidos da oposição, as declarações de Dirceu são o aviso de que os grupos mais radicais do PT dominarão um eventual governo de Dilma. Segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), haverá um aparelhamento do Estado ainda maior, e Dirceu já agiu como porta-voz desse viés autoritário do PT.

A Dilma vai interpretar o pensamento petista original. A fala de Dirceu transcende o desejo da retomada dos pensamentos antigos do PT, que foram abandonados por Lula. O partido vai ter mais importância num governo dela do que para o Lula. Se já há um aparelhamento do Estado, priorizando a presença de militantes ao invés de técnicos, pior ainda (será) com Dilma disse Álvaro Dias, que chegou a fazer um discurso ontem no plenário esvaziado do Senado sobre as declarações de Dirceu.

Irônico, o líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), disse que Dirceu apenas falou o que pensa o PT: O Zé Dirceu tirou a máscara, tomou o remédio da verdade e começou a falar as verdades deles. A ideia é acabar com a democracia. A Dilma é refém de um grupo radical, que tem a ideologia dos anos 60 disse Bornhausen.

Ainda ontem, a oposição continuava reagindo às declarações do presidente Lula sobre extirpar o DEM. Há uma aposta de que esse tom raivoso pode causar impacto naquela classe média que estava afastada do processo eleitoral. Ontem, na sessão do Senado, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) criticou o comportamento de Lula.

Ele (Lula) não convive com o adverso. Não convive com a oposição. Quer a unanimidade, está esquecendo que isso é uma democracia e saiu agredindo as pessoas. Ele precisa ser respeitoso para com o adversário. O Lula nunca foi agressivo, nem na própria campanha dele disse Kátia Abreu, que também comentou a fala de Dirceu. Dilma é refém deles, do PT.

'Dirceu encarna as propostas do PT'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Segundo Serra, o ex-ministro, que disse haver "excesso de liberdade de imprensa" no País, é um dos "camaradas de Dilma"

Angela Lacerda ENVIADA ESPECIAL JUAZEIRO DO NORTE

O candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, considerou "óbvias" as declarações do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu a sindicalistas, na segunda-feira, nas quais ele argumentou que o excesso de liberdade de imprensa é um dos problemas do Brasil e que a eleição de Dilma é mais importante que a de Lula porque Lula é maior que o PT.

"O José Dirceu é um dos camaradas da campanha da Dilma, ele encarna as grandes propostas do PT para o Brasil e uma delas é a censura à imprensa. É o que ele prega nessa fala: o controle da grande imprensa pelo partido (o PT). Não tem nenhuma novidade. A grande novidade é ele dizendo novamente isso", afirmou o presidenciável ao desembarcar ontem no aeroporto do Cariri, em Juazeiro do Norte. O tucano chegou à cidade, a 530 quilômetros de Fortaleza, para acompanhar a procissão de Nossa Senhora das Dores, padroeira da cidade.

"Que o Lula é mais forte do que o PT é óbvio", complementou Serra quando acompanhava a procissão, que encerrou uma romaria iniciada dia 29 de agosto. "Logo o PT vai mandar de verdade", concluiu. "Isso é uma constatação meio óbvia. Só é interessante porque saiu da boca dele (José Dirceu)".

O senador Tasso Jereissati, candidato à reeleição , foi mais contundente: "José Dirceu acredita que há excesso de oposição, excesso de liberdade de imprensa. Ele acredita que o Parlamento e o Senado devem ficar calados e que os partidos de oposição devem ficar extirpados", afirmou. "E assim se tem a república sindicalista chavista lulista do Brasil."

Popularidade. Tasso demonstrou gozar de grande popularidade, ao ser reconhecido, abraçado e afagado por romeiros que o chamavam de "galeguinho dos olhos azuis".

Segundo ele, "todo regime totalitarista tem a característica de querer extirpar qualquer oposição". Citou Hitler, Mussolini e Stroessner que comandaram ditaduras na Alemanha nazista, na Itália e no Paraguai).

Serra foi beneficiado pela popularidade de Tasso, ao acompanhar o roteiro dos romeiros por mais de duas horas - antes de assistir à celebração religiosa na praça da Matriz, em meio a discussões entre serristas e governistas que gritavam os nomes de Dilma e Lula.

Contra a imprensa. No Rio, o ex-prefeito e candidato do DEM ao Senado, Cesar Maia, também criticou as declarações de Dirceu. Segundo ele, elas mostram que o PT pretende atentar contra a liberdade de imprensa, o direito de propriedade e os valores cristãos. Em vídeo gravado por sua equipe de campanha e veiculado na internet, Maia ainda diz que os petistas querem acabar com a oposição e controlar o Senado, a fim de mudar a Constituição. "O que eles querem, como máxima prioridade, é acabar com a oposição. Principalmente, no Senado. Porque no Senado, eles com 50 senadores - os deles, que podem ser 17, 18, 19, mais aqueles que eles levam na mala - eles mudam a Constituição", disse o ex-prefeito. "E aí vem o projeto do PT, contra a liberdade de imprensa, direito de propriedade, valores cristãos."

Maia disse ainda que não aconteceu uma suposta reunião, no fim de 2003 e início de 2004, entre correntes do PT contrárias à manutenção da política econômica e José Dirceu, que exercia então a chefia da Casa Civil da Presidência.

Segundo ele, o que teria de fato acontecido era que o líder petista pediu calma aos militantes, argumentando que aquilo se tratava de "uma etapa para acalmar a burguesia". "O PT disse isso seis anos atrás e está fazendo agora", afirmou.

PMDB reage ao ex-ministro e fala em divisão de poder

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

"Dilma, se eleita, exercerá certamente uma relação mais próxima não só com o PT, mas também com o PMDB e os aliados", diz Alves

Eugênia Lopes , João Domingos

BRASÍLIA - Numa reação imediata à pregação de José Dirceu de que, se eleita, Dilma Rousseff dará ao PT mais poder do que o partido tem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), lembrou ao deputado cassado pelo escândalo do mensalão que o eventual governo da ex-ministra não terá a exclusividade dos petistas. Será dividido com o PMDB e com todos os partidos da aliança de Dilma.

"Dilma, se eleita, exercerá certamente uma relação mais próxima não só com o PT, mas também com o PMDB e todos partidos aliados que a ajudaram a se eleger", contra-atacou Alves. Por força dos acertos com as legendas coligadas, Dilma será obrigada a ter uma convivência mais estreita com os partidos aliados, lembrou o deputado.

A cobrança do líder do PMDB, figura fundamental na costura da aliança com Dilma, ocorreu porque, na segunda-feira, Dirceu disse, num encontro com petroleiros petistas em Salvador, que a eleição de Dilma é mais importante para o projeto político do PT porque ela representa o partido. Lula, na opinião, é duas vezes maior do que o próprio PT.

Assim, ofuscaria o partido, coisa que Dilma não fará, porque, segundo ele, "não era uma liderança de grande expressão".

As declarações de Dirceu pegaram de surpresa também os petistas. O secretário de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR), cobrou silêncio de Dirceu. "O aconselhável é que todos nós, eu, qualquer dirigente do PT, o José Dirceu, falemos pouco, falemos menos ou não falemos de jeito nenhum. Se queremos ajudar a campanha, todos nós temos de falar o mínimo possível", disse Vargas. Quem fala pela campanha nacional é o presidente do partido, José Eduardo Dutra, reafirmou Vargas. "Nosso porta-voz é o Dutra. Não é o José Dirceu."

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), atribuiu as declarações do ex-ministro a um "arroubo de linguagem". "Isso deve ter sido uma figura de linguagem. Para querer estimular a militância, ele usou um pleonasmo (repetição de um mesmo termo) para criar uma situação. Acho que nem ele (Dirceu) concorda com ele", afirmou Vaccarezza. Para o líder, o PT já desfruta de "muito poder" com Lula na Presidência. "O Lula é o PT", disse.

Na avaliação de lideranças de oposição, as declarações de José Dirceu refletem a verdade política do momento. "O PT está esperando ter um controle maior do Estado, caso Dilma seja eleita. O Lula tem uma autonomia maior porque ele é maior que o PT", argumentou o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP).

O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA) é outro que concorda com as declarações de Dirceu. "O Lula é mesmo maior que o PT. Ele não se vê obrigado a ceder às pressões do PT, principalmente da ala radical e dos mensaleiros."

"Vale-tudo". Sob críticas, o ex-ministro procurou justificar os argumentos usados na reunião com os petroleiros no blog que tem na internet. Com o título "O vale tudo", Dirceu afirmou que suas declarações foram "completamente deturpadas e tiradas de contexto". "Eu disse que a eleição de Dilma representa um esforço coletivo ainda maior do que a do presidente Lula."

O QUE DISSE JOSÉ DIRCEU

"A eleição da Dilma é mais importante do que a eleição do Lula, porque é a eleição do projeto político. Ela nos representa. A Dilma não era uma liderança que tinha grande expressão popular, eleitoral, uma raiz histórica no país, como o Lula foi criando, como outros tiveram, como o Brizola, o Arraes e tantos outros. A direita teve aqui mesmo uma liderança que foi o ACM, independente do fisiologismo, do abuso de poder, contudo era uma liderança popular, tanto é que era popular na Bahia. Então, ela é a expressão do projeto político, da liderança do Lula e do nosso acúmulo desses 30 anos, porque nós demos continuidade ao movimento social. Se nós queremos aprofundar as mudanças, temos que cuidar do partido, dos movimentos sociais, da organização popular. Temos que nos transformar em maioria. Não somos maioria no país, nós temos uma maioria para eleger o presidente até porque fazemos uma aliança ampla."

"Nós somos um partido e uma candidatura que coloca em risco o que eles tão batendo, todos articulistas da Globo escrevem e falam na TV, todos os analistas deles: a noção das garantias individuais e da Constituição, que nós queremos censurar a imprensa, que o problema no Brasil é a liberdade de imprensa? Gente do céu. Como alguém pode afirmar do Brasil é(...). Não existe excesso de liberdade. Pra quem já viveu em ditadura(...) Dizem que nós queremos censurar a imprensa. Diz que o problema é a liberdade de imprensa. O problema do Brasil é excesso, bom, é que não existe excesso de liberdade, mas o abuso do poder de informar, o monopólio e a negação do direito de resposta e do direito da imagem. A Constituição não colocou o direito de resposta e de imagem, a honra, abaixo ou acima da proibição da censura e da censura prévia, corretamente, ou do direito de informação e da liberdade de imprensa, de expressão. São todas cláusulas pétreas."

"A mídia agora já começa a discutir a nossa política, se vai fazer ajuste, se não vai; se vai estatizar ou não vai; se vai fazer concessão ou não vai.

E começa a discutir se o PT está sendo desprestigiado ou não. Aquilo que nós temos de maior qualidade, que é o Lula, eles querem apresentar como negativo, porque o Lula é maior que o PT. Eles é que não têm ninguém maior que o partido deles. Ainda bem que nós temos o Lula, que é duas vezes maior que o PT.

O PT teve 17% de voto em 2002/2006 para a Câmara, que calcula a força de um partido no mundo todo. Não é o voto majoritário. Vai ter agora 21%, 23%, eu espero, tudo indica. Tem que ter 33% em 2014.

É lógico que o PT é um grande partido, tem força político-eleitoral, social. Nós já temos um acúmulo de políticas públicas, de experiência. Então, nós temos que consolidar as nossas organizações populares."

Entidades condenam ataque à imprensa

DEU RM O ESTADO DE S. PAULO

Patrícia Campos Mello

Entidades ligadas à defesa da liberdade de expressão condenaram as declarações do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Em uma palestra na Bahia, na segunda-feira, Dirceu criticou o que chamou de "excesso de liberdade" da imprensa. "O problema do Brasil é o monopólio das grandes mídias, o excesso de liberdade e do direito de expressão e da imprensa", afirmou o ex-ministro.

"É lamentável, não se imagina que um homem público possa fazer uma manifestação tão absurda", disse Ricardo Pedreira, diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ). Segundo Pedreira, não há concentração no setor, porque há mais de 3 mil jornais no País, dos quais 500 diários.

"Dirceu parece desconhecer que a liberdade de imprensa beneficia os cidadãos, não os donos dos veículos. Espero que esse pensamento não prospere no Brasil, pois se trata de uma negação da democracia."

Já o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, concorda que existe concentração na mídia, por causa da ausência de regulação adequada. "A mídia se comporta como um partido político no Brasil, trata-se de uma opção equivocada da mídia brasileira de atuar de forma partidária", afirma.

Segundo ele, no entanto, não se pode falar em "excesso" de liberdade de imprensa, como fez Dirceu. "Liberdade de imprensa não é uma invenção dos donos dos veículos de comunicação, é a base da democracia."

Ataque de Lula ao DEM acirrou o debate eleitoral

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Após o presidente dizer em comício que o DEM deveria ser "extirpado", a oposição subiu o tom das reações

Roldão Arruda

A pouco mais de duas semanas das eleições, a temperatura do debate político teve uma brusca alteração. Aparentemente foi causada pela afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que desejaria ver o DEM extirpado da política brasileira.

Feita no calor de um comício, na segunda-feira, em Santa Catarina, a declaração provocou reações da oposição, que viu nela sombras autoritárias. Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, Lula teria abdicado do papel de presidente de todos os brasileiros para virar "chefe de uma facção". O tucano até estabeleceu um paralelo com o ditador Benito Mussolini, que teria cometido barbaridades por não ter quem o freasse.

César Maia, ex-prefeito do Rio e líder do DEM, afirmou que o ex-ditador alemão Adolf Hitler também usava o termo "extirpar" em relação aos judeus. Em Santa Catarina, Jorge Bornhausen, presidente emérito do DEM, insinuou que Lula estava alcoolizado na hora do comício.

Analistas políticos e petistas lembraram logo que Bornhausen foi o autor da polêmica afirmação, feita em 2005, de que o escândalo do mensalão o deixava "encantado", porque permitiria "a gente se ver livre dessa raça, por, pelo menos, 30 anos".

Em defesa de Lula, a candidata Dilma Rousseff (PT) afirmou que ele fez a declaração num contexto eleitoral de disputa por votos, o que seria diferente da fala de Bornhausen. "Sou uma sobrevivente de um processo de extermínio", disse ela.

Também contribuíram para alimentar o debate as declarações feitas por José Dirceu, colega de partido do presidente e ex-ministro da Casa Civil. Durante palestra na mesma segunda-feira, na Bahia, disse que o PT terá mais condições de executar o seu projeto político num eventual governo de Dilma do que teve com Lula. A explicação, segundo Dirceu, é que Lula é "duas vezes maior que o PT".

A oposição também se irritou com declarações da atual ministra da Casa Civil, Erenice Guerra. Para se defender de acusações de tráfico de influência contra seu filho Israel Guerra, ela atirou contra o candidato José Serra, do PSDB. Sem citar nomes, disse que o objetivo das denúncias é favorecer "um candidato aético e já derrotado".

No pano de fundo do debate estão resultados de pesquisas segundo as quais a coligação encabeçada pelo PT pode, além de eleger Dilma, obter maioria folgada no Senado.

Guerra verbal

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
PRESIDENTE
"São pessoas que alimentam o ódio. Nós precisamos extirpar o DEM da política brasileira"

FERNANDO HENRIQUE
EX-PRESIDENTE
"Eu vejo um presidente que virou militante, chefe de uma facção política"

JOSÉ DIRCEU
EX-MINISTRO DA CASA CIVIL
"A eleição de Dilma é mais importante do que a do Lula"

Suspeitos no caso do dossiê de aloprados vão ser denunciados

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Origem de dinheiro ainda não é conhecida

Hudson Corrêa

DO RIO - Quatro anos após o escândalo do dossiê contra tucanos, nas eleições de 2006, a Procuradoria da República prepara denúncia contra os envolvidos sem que seja conhecida a origem da quantia de R$ 1,7 milhão (R$ 2,1 milhões em valor corrigido), apreendida pela PF.

O dinheiro seria usado por petistas, segundo a PF, para comprar um dossiê forjado para envolver o então candidato ao governo de SP e atual presidenciável, José Serra (PSDB), com a máfia dos sanguessugas (fraude na compra de ambulâncias).

A PF e a Justiça Federal afirmam que o petista Hamilton Lacerda levou uma mala com o dinheiro ao hotel Íbis, em SP, em 13 e 15 de setembro de 2006, onde esperavam um funcionário da campanha de Lula, candidato à reeleição à época, e um emissário da máfia dos sanguessugas.

Um dos envolvidos com a máfia seguiu com documentos do dossiê para SP, mas foi preso em Cuiabá (MT). A PF seguiu para o hotel e prendeu o funcionário da campanha de Lula e o emissário dos sanguessugas. Eles nunca revelaram a origem da quantia.

Lacerda, que trabalhava na campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) então candidato a governador e também neste ano, não foi preso. Hoje é fazendeiro no sul da Bahia, como revelou a Folha em abril.

A PF concluiu que o dinheiro saiu de caixa dois de Mercadante (PT-SP), e chegou a indiciar o senador. O STF (Supremo Tribunal Federal), porém, mandou arquivar a ação a partir de parecer da Procuradoria-Geral da República, que não viu indícios de participação dele.

O inquérito voltou à Justiça Federal de MT e há quase três meses está com o procurador da República Mário Lúcio Avelar, que prepara denúncia contra Lacerda e demais envolvidos.

Caixa terá de pagar R$ 500 mil a caseiro que derrubou Palocci

DEU EM O GLOBO

Justiça Federal reconhece que quebra de sigilo bancário é afronta à Constituição

A Caixa Econômica Federal foi condenada a pagar R$ 500 mil de indenização ao caseiro Francenildo dos Santos Costa, que teve o sigilo bancário violado em 2006, depois de testemunhar que o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, frequentava uma mansão em Brasília usada por lobistas e garotas de programa. Palocci, hoje um dos principais coordenadores da campanha da petista Dilma Rousseff, foi exonerado do governo Lula no episódio. Na versão de governistas, depósitos de R$ 38 mil na conta de Francenildo seriam indício de que ele recebera dinheiro para denunciar Palocci. Mas o caseiro provou que ganhara o dinheiro do pai. A Justiça Federal reconheceu que o sigilo é protegido pela Constituição. Em nota, a Caixa disse que recorrerá da decisão. Na esfera criminal, em 2009, o Supremo livrou Palocci da acusação de quebra de sigilo, e abriu ação penal apenas contra o então presidente da Caixa, Jorge Mattoso.


"Não paga o que passei"

Justiça manda CEF indenizar caseiro que teve o sigilo violado e derrubou Palocci

Demétrio Weber

BRASÍLIA - Vítima de quebra de sigilo bancário na Caixa Econômica Federal (CEF), em 2006, o caseiro Francenildo dos Santos Costa ganhou direito ontem a uma indenização de R$ 500 mil, por danos morais, na Justiça Federal. O juiz Itagiba Catta Preta Neto, da 4aVara Federal do Distrito Federal, aceitou parcialmente o pedido de Francenildo e condenou a CEF a indenizar o caseiro.

Em nota, a Caixa anunciou que recorrerá da decisão. O sigilo bancário foi violado após Francenildo ter acusado o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, de frequentar uma mansão aonde iam lobistas e garotas de programa.

O juiz frisou que o sigilo bancário é protegido pelo direito à intimidade, assegurado na Constituição. O pagamento de indenização tem dupla função: primeiramente, busca reparar ou minimizar o dano causado, somandose ainda no mesmo instituto um caráter punitivo ao seu causador, a fim de que este não volte a incorrer na mesma prática, escreveu o juiz.

Francenildo era caseiro numa mansão no Lago Sul, em Brasília, aonde Palocci hoje um dos principais coordenadores da campanha da petista Dilma Rousseff negava ter ido. Após afirmar que vira o então ministro no local, Francenildo teve seu sigilo violado na CEF. Na versão governista, o montante de R$ 38 mil na conta de Francenildo seria indício de que ele recebera dinheiro para denunciar Palocci. O caseiro provou que recebera a quantia do pai.

Caseiro diz que foi perseguido

Em seu pedido de indenização, o caseiro diz que, após a violação, passou a ser perseguido e chamado de subornado e suspeito de lavagem de dinheiro. Em sua defesa, a Caixa argumentou que havia incompatibilidade entre a renda declarada de Francenildo e os valores movimentados em sua conta. Isso teria levado a Caixa a informar ao Banco Central e entregar o extrato do caseiro ao Ministério da Fazenda. A Caixa é subordinada ao ministério.

Para o juiz, porém, a explicação não se sustenta. Ele entendeu que o órgão de fiscalização a ser acionado, com o envio de cópia do extrato bancário, era o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), e não o Ministério da Fazenda. O juiz ressalvou que o Coaf é subordinado ao ministério, mas não chefiado pelo ministro da Fazenda. Se a ré Caixa Econômica Federal pretendia cumprir a lei, como sustentou em sua peça defensória, ao invés de efetuar a transferência do sigilo ao Ministério da Fazenda deveria ter encaminhado as informações a(os) órgão(s) competente( s) e somente a eles, se imprescindível fosse, diz a sentença.

A ação ajuizada por Francenildo tinha como alvo também a Editora Globo, responsável pela revista Época, que reproduziu informações do extrato bancário do caseiro. Mas o juiz rejeitou o pedido: Não está caracterizado, no meu sentir, de forma contundente ou mesmo superficial, que a ré Editora Globo, na sua função de veiculadora de informações, tenha atingido de forma intencional a esfera subjetiva de direitos do autor. A justiça foi feita. É o primeiro passo. Está faltando agora a Caixa acertar o que deve, o erro brutal que cometeu disse Francenildo ontem. O dinheiro será bem-vindo, mas não paga o que eu passei.

Foi duro, uma coisa de outro mundo disse ele.

O advogado de Francenildo, Wlicio Chaveiro Nascimento, disse que o resultado é um marco: É uma grande vitória para o Francenildo e todo mundo que teve o sigilo violado ou que poderia vir a ter, caso se colocasse na posição de adversário.

Caso levou à saída de Palocci

Em março de 2006, o caseiro Francenildo Santos Costa denunciou o que o ministro da Fazenda na época, Antônio Palocci, negava. Trabalhando numa mansão no Lago Sul, Francenildo confirmou, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, que Palocci fazia na casa reuniões com amigos de Ribeirão Preto. De testemunha, o caseiro passou a vítima. Seu sigilo bancário foi violado na Caixa Econômica Federal, numa tentativa de descobrir se ele tinha recebido dinheiro da oposição para fazer a denúncia.

O único dinheiro achado na conta vinha do pai biológico do caseiro, um empresário do Piauí que não reconhecera o filho fora do casamento.

O vazamento do extrato se virou contra Palocci, que acabou sendo forçado a deixar o cargo. O ministro foi acusado de violar o sigilo bancário do caseiro. Além dele, foram denunciados o então presidente da Caixa, Jorge Mattoso, e Marcelo Netto, assessor de imprensa do ministro.

Em depoimentos colhidos pela PF, os servidores da Caixa que acessaram a conta e imprimiram o extrato relataram que estavam cumprindo ordens.

Para o Ministério Público, nenhum dos servidores foi responsável pelo vazamento, porque os dados não saíram da Caixa. Teria sido Mattoso o responsável pelo vazamento.

Em agosto do 2009, o Supremo Tribunal Federal livrou Palocci e Marcelo Netto da acusação de ter quebrado ilegalmente o sigilo bancário do caseiro. E abriu ação penal apenas contra Mattoso.

Inquérito da PF contraria tese de crime político na Receita

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O conteúdo do inquérito da Polícia Federal sobre a violação do sigilo de quatro tucanos e da filha e do genro do presidenciável tucano, José Serra, mostra que a hipótese de crime político está sendo esvaziada. O resultado da apuração, por enquanto, está longe de descobrir os motivos que levaram à quebra dos dados fiscais dos adversários do PT e caminha para a versão de crime comum, sustentada pela Corregedoria da Receita. As duas lideranças do PT nacional ouvidas, Rui Falcão e Fernando Pimentel, negaram qualquer ligação com a violação. Além disso, a PF não aprofundou as contradições nos depoimentos dados pelas cinco pessoas que participaram de reunião em abril para supostamente discutir a elaboração de um dossiê contra os tucanos.

PF esvazia tese de crime político na violação de dados fiscais de tucanos

Apesar dos depoimentos contraditórios e de novos indícios, resultado da apuração está longe de descobrir os motivos que levaram à devassa ilegal contra adversários do PT e, por enquanto, investigação caminha para a mesma versão da corregedoria da Receita

Leandro Colon

BRASÍLIA - O inquérito da Polícia Federal sobre a violação de sigilo de quatro tucanos, além da filha e do genro do presidenciável José Serra, esvazia a hipótese de crime político. O resultado da apuração da PF, por enquanto, está longe de descobrir os motivos que levaram à quebra dos dados fiscais dos adversários do PT.

Apesar de depoimentos contraditórios e novos indícios, a investigação caminha, até agora, para a mesma versão da corregedoria da Receita de que tudo não passou de um crime comum, dentro de um esquema de venda de informações sigilosas.

O Estado teve acesso ao conteúdo das investigações da PF. As duas lideranças do PT nacional ouvidas, Rui Falcão e Fernando Pimentel, negaram qualquer ligação com as violações de sigilo. Admitiram, no máximo, que frequentaram este ano o escritório no Lago Sul montado pelo jornalista Luiz Lanzetta, que era coordenador de comunicação da campanha de Dilma Rousseff (PT) até junho. O depoimento deles, prestado há três semanas, não ocupa uma página inteira de respostas. É breve, sucinto.

Candidato ao Senado por Minas Gerais, Pimentel foi quem convidou Lanzetta para participar da campanha de Dilma. O jornalista deixou a equipe eleitoral em junho por causa do envolvimento no episódio do dossiê contra tucanos. Um dos pivôs do escândalo, o jornalista Amaury Ribeiro, por exemplo, deu dois depoimentos, um no dia 24 de agosto e outro na última segunda-feira. Nas duas vezes negou ligação com as violações de sigilo e, na última visita, aproveitou para deixar com a PF o relatório da chamada Operação Caribe, em que ele reúne informações de supostas operações financeiras de tucanos no exterior. A PF ouviu Amaury pela segunda vez depois que o PT pediu oficialmente para que ele fosse de novo interrogado. Ou seja, o pedido do partido pôs nas mãos da polícia um documento contra os tucanos.

Contradições. A PF não aprofundou ainda as contradições nos depoimentos dados pelas cinco pessoas - entre elas Amaury Ribeiro - que participaram de uma reunião em abril para discutir a elaboração de um dossiê contra os tucanos. Presente ao encontro, o delegado Onésimo de Souza afirmou à polícia que foi chamado para cuidar da segurança do escritório de Lanzetta no Lago Sul, mas que, durante a conversa, surgiram outras solicitações. Pediram, segundo ele, que "fosse levantado tudo sobre algumas pessoas". Onésimo disse à PF que entendeu que poderia haver um "método que não fosse legal", e repetiu sua versão de que Amaury afirmou possuir "dois tiros fatais" contra Serra.

Representante da campanha na tal reunião, Lanzetta deu outra versão aos policiais. Contou que foi contratado pelo Diretório Nacional do PT para cuidar da assessoria de imprensa da campanha de Dilma e consultou Onésimo para fazer segurança porque estava preocupado com o vazamento de informações do escritório montado no Lago Sul. Durante a conversa, segundo Lanzetta, Onézimo falou de outros trabalhos executados por possíveis adversários do PT. Para Lanzetta, isso mostrou que a conversa estava extrapolando o seu objetivo e, por isso, se retirou da reunião.

Distante de uma elucidação política do caso, a PF caminha, por enquanto, para apontar a servidora Ana Maria Cano como envolvida num esquema de venda dedados sigilosos, assim como Adeildda Ferreira dos Santos - dona do computador da Receita usado para violar o sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, de três tucanos, e também da filha e do genro de José Serra.

O RUMO DA PF NA VIOLAÇÃO FISCAL
Investigação esvazia tese de crime político e aponta para contradições em depoimentos

Amaury Ribeiro

Em dois depoimentos, negou envolvimento com a quebra dos sigilos dos tucanos. Alegou que, no fim do ano passado, estava tocando os negócios da família. Entregou à PF o relatório da Operação Caribe, feito por ele e que mostraria a participação de tucanos em negócios no exterior, mas que não teriam dados fiscais brasileiros

Onésimo de Souza

Disse que foi convidado para cuidar das instalações físicas do comitê de campanha de Dilma a convite do coordenador-geral, Fernando Pimentel. No encontro, porém, apareceu o jornalista Luiz Lanzetta. Na conversa, surgiram "outras solicitações". Foi pedido que "fosse levantado tudo sobre algumas pessoas". Advertiu que poderia ocorrer o episódio "aloprados 2". Não viu nenhum dossiê

Luiz Lanzetta

Contou que foi contratado pelo Diretório Nacional do PT para cuidar da assessoria de imprensa da campanha de Dilma. Consultou Onézimo, por meio de Amaury. No jantar, mostrou preocupação com o vazamento de informações do comitê. Durante a conversa, Onézimo falou de outros trabalhos executados por possíveis adversários do PT. Em nenhum momento foi tratado assunto sobre interceptação ilegal

Benedito de Oliveira

Disse que não é envolvido em campanha eleitoral. Conhece Amaury e Lanzetta há 3 anos. Mantém rotina social com Lanzetta, que o convidou para um happy hour no dia da tal reunião. Não ouviu menção a quebra de sigilo, nem dossiêIdalberto Matias, conhecido como Dadá Permaneceu calado durante todo o depoimento

Advogado de Verônica diz que fará 'investigação paralela' à da PF

DEU EM O GLOBO

Justiça Federal autorizou quebra de sigilo telefônico de Atella

Sérgio Roxo

SÃO PAULO. Sérgio Rosenthal, advogado de Verônica Serra, filha do candidato José Serra, e do marido dela, Alexandre Bourgeois, disse ontem que pretende fazer uma investigação paralela à da Polícia Federal para descobrir o destino dos dados fiscais de seus clientes, obtidos com procurações falsas pelo suposto contador Antônio Carlos Atella Ferreira, na agência da Receita Federal de Santo André, em setembro de 2009.

Pretendemos fazer uma investigação paralela, muito minuciosa, para que possamos descobrir qual foi a utilização dessas informações sigilosas.

Portanto, vamos analisar todo o material levantado disse o advogado, após acompanhar o depoimento da filha e do genro de Serra, na sede da PF, em São Paulo, ontem.

Rosenthal negou que a decisão de iniciar a apuração paralela signifique que ele duvide da investigação da Polícia Federal.

Não há qualquer desconfiança do trabalho desenvolvido. Nosso único intuito é auxiliar.

Segundo ele, o delegado Hugo Uruguai, responsável pelo inquérito, deu a entender que Atella, filiado ao PT, será indiciado. Rosenthal disse que a Justiça Federal autorizou a quebra dos sigilos telefônicos de Atella e de outras pessoas envolvidas no caso, como o office-boy Ademir Cabral. O objetivo é saber com quem os envolvidos conversaram na época em que os dados foram violados.

Verônica e Alexandre Bourgeois prestaram depoimento ontem na PF para formalizar a acusação de violação de dados fiscais.

Eles jamais outorgaram procuração ao senhor Atella Ferreira, não conhecem essa pessoa, e as assinaturas nos documentos são absolutamente falsas disse o advogado.

O casal também ofereceu material para exame grafotécnico, com o objetivo de comprovar que as assinaturas nas procurações são falsas.

Eles entraram de carro na PF e não tiveram contato com a imprensa.

O advogado alegou que queriam preservar a intimidade.

Rosenthal disse que os indícios apontam para uso político das informações levantadas, mas afirmou que ainda é precipitado concluir algo.

É muito difícil dizer que se trata de um crime político. Pelo fato de terem sido violados os sigilos da filha e do genro de um candidato à Presidência, assim como de outras pessoas ligadas a um partido político, parece que é possível inferir que há conotação política nesses fatos.

Além disso, acho que seria precipitado tirar qualquer conclusão.

Operação blindagem

DEU EM O GLOBO

Gerson Camarotti e Luiza Damé

BRASÍLIA. A campanha da presidenciável petista considera que ainda não foi atingida pelas denúncias de tráfico de influência na Casa Civil, que envolvem a ministra Erenice Guerra até março, o braço-direito de Dilma Rousseff no governo. Segundo pesquisas da coligação governista, a ofensiva desencadeada pelo presidente Lula teria dado resultado, e, pelo menos por enquanto, está mantida a decisão de não tirar Erenice do cargo.

O governo considera que saiu das cordas e que Dilma não foi prejudicada. Mas, mesmo com o discurso de que as denúncias contra Erenice não são fortes, todos no Planalto reconhecem o desconforto com o surgimento diário de problemas envolvendo a família. As denúncias começaram com o filho Israel Guerra e já envolvem pelo menos mais quatro familiares.

O que o Planalto tem deixado claro, nos bastidores, é que, apesar de Erenice ter sido protegida, se não fosse momento eleitoral, ela teria que fazer sua defesa de forma solitária.

Não haverá repercussão eleitoral. O governo está respondendo a tudo que precisa ser respondido. Esse é um assunto que não vai durar mais que dois dias diz o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Esse é um fato que já perdeu a importância. É compreensível a falta de rumo da oposição, que faz uma ação desesperada disse o líder do PT, deputado Fernando Ferro (PE).

No governo e no PT há quem considere que Erenice errou o tom da nota divulgada. Teria ficado acima do acertado na reunião com Lula, ao chamar o presidenciável tucano, José Serra, de candidato aético e já derrotado. Ainda assim, Lula reafirmou a disposição de mantê-la no cargo, repetindo que todos são inocentes até que se prove o contrário. Desde que assumiu a Casa Civil, Erenice não tem sido presença constante nos eventos da Presidência.

Mas, desde o fim de semana, sumiu das solenidades no Planalto. Ontem, cancelou participação no lançamento do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado. Na segunda versão de sua agenda, entrou uma audiência.

Procurador: suspeita contra filho de Erenice é grave

DEU EM O GLOBO

Ministério Público acompanhará investigação; OAB quer afastamento da ministra

Carolina Brígido

BRASÍLIA. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, considerou graves as suspeitas contra o filho da ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra.

Até abril, ela era a principal assessora da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff (PT). Gurgel anunciou que o Ministério Público acompanhará as investigações da Polícia Federal, sem a preocupação de beneficiar a candidatura de Dilma nem a de seu principal concorrente, o tucano José Serra.

Segundo Gurgel, ainda não há indícios concretos de participação da ministra em suposto esquema de tráfico de influência no governo: As notícias apontam para fatos graves, mas não temos elementos ainda que apontem a responsabilidade, se envolve ou não envolve a ministra disse.

O Ministério Público atuará independentemente da campanha.

O tempo do Ministério Público não é o tempo da campanha política. Faremos a investigação com o rigor que caracteriza atuação do Ministério Público, mas sem preocupação com a campanha eleitoral nem para um sentido, nem para o outro.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, defendeu o afastamento imediato de Erenice: Não se pode falar em moralidade, em transparência e em apuração se a ministra se mantiver no cargo. A partir do momento em que se coloca em dúvida a credibilidade e a postura da ministra, isso é algo que deveria atrair o imediato afastamento dela.

Gurgel disse que a troca de acusações é típica de campanha próxima das eleições: É um momento nervoso para todos os lados. Quando se aproximam as eleições, as coisas vão ficando mais agitadas.

De um lado, o MP não servirá de instrumento daqueles que têm interesse em mostrar o envolvimento do governo; e, por outro, não deixará de apurar para preservar qualquer posição do governo.

Falando bem claro, o Ministério Público não servirá de instrumento nem da campanha da ministra Dilma nem da campanha do governador Serra.

Ontem, a oposição entregou à Procuradoria Geral da República um pedido de investigação contra Erenice. Gurgel afirmou que ainda não examinou o pedido, mas solicitará informações à PF relativas a um inquérito já aberto sobre o assunto. Ele afirmou que a Procuradoria da República no Distrito Federal acompanhará as apurações. E, se forem encontrados indícios contra a ministra, o caso passará a ser de responsabilidade da Procuradoria Geral da República, devido ao foro especial que o cargo de Erenice demanda.

Depoimento da ministra está descartado, por enquanto

Gurgel considerou prematuro falar em qualquer tipo de medida na investigação, como o eventual depoimento da ministra ou quebra de sigilo telefônico.

Segundo ele, é provável que a investigação comece pelo depoimento do filho de Erenice, Israel Guerra, e de empresários citados na reportagem da revista Veja. Segundo a reportagem, o filho da ministra faria tráfico de influência no governo com a anuência da mãe.

Temos que fazer apuração preliminar dos fatos, para ver se há elementos mínimos que justifiquem que a ministra seja ouvida. Vamos acompanhar o inquérito e, além das diligências que a Polícia Federal já esteja realizando, nós podemos sugerir outras explicou.

Erenice e o marido, juntos na Eletronorte

DEU EM O GLOBO

José Roberto Campos, marido da ministra Erenice Guerra (Casa Civil), foi contratado para prestar serviços à Eletronorte, em 2003, época em que ela participava do Conselho Administrativo da estatal, e era consultora jurídica do Ministério de Minas e Energia. Campos recebeu R$ 120 mil entre fevereiro de 2003 e junho de 2004. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que são graves as suspeitas contra o filho de Erenice, Israel.

Erenice trabalhou com marido em estatal

José Roberto Camargo Campos prestou consultoria quando ministra tinha cadeira no Conselho da Eletronorte

Roberto Maltchik

BRASÍLIA. Em 2003, enquanto Erenice Guerra se acostumava ao posto de consultora jurídica do Ministério de Minas e Energia, acumulando cadeira no Conselho Administrativo da Eletronorte, o marido dela foi contratado para prestar serviço à estatal. Erenice fez carreira e atuou por 13 anos na empresa.

O engenheiro elétrico José Roberto Camargo Campos foi contratado pela Engevix, uma das principais companhias de engenharia consultiva do país, e recebeu R$ 120 mil entre fevereiro de 2003 e junho de 2004. Nesse período, segundo a Engevix, José Roberto operou nos sistemas de telecomunicações da Usina Hidrelétrica de Tucuruí (PA).

A Comissão de Ética Pública da Presidência investiga se Erenice está envolvida com a suspeita de tráfico de influência, em razão do lobby feito pelo filho, Israel Guerra, para renovar a licença de voo da Master Top Airlines, prestadora de serviços dos Correios. A amigos, Israel admite que recebeu, em 2009, R$ 120 mil por consultoria jurídica prestada ao empresário Fabio Baracat, que permitiu renovação da licença da MTA, após a empresa ficar quatro dias com as três aeronaves no solo. Erenice nega que tenha participado da negociação, revelada por Veja. A Corregedoria Geral da União (CGU) avalia a conduta da ministra e a Polícia Federal apura possíveis ilícitos cometidos por Israel.

Erenice foi nomeada consultora jurídica de Minas e Energia em 15 de janeiro de 2003. Quarenta dias depois, já participava de reunião do Conselho Administrativo da Eletronorte, que, entre outros temas, discutiu a renovação do contrato da Engevix para prestar serviços em Tucuruí. Ao GLOBO, José Roberto Camargo Campos disse que sua função na Eletronorte era trocar os sistemas de telecomunicações, cuja frequência estava abaixo do novo padrão adotado pelo Ministério de Minas e Energia: A empresa me chamou para um serviço de implantação e troca dos sistemas de rádio.

Passei 90% do tempo em campo, acompanhando obras.

Porém, segundo colegas da Eletronorte, o marido da hoje chefe da Casa Civil passou a maior parte do período lotado no 7oandar do prédio da estatal em Brasília, onde ficava subordinado ao então gerente de telecomunicações, Dilermando Lacerda.

Dilermando é irmão do expresidente do PT no Distrito Federal, Wilmar Lacerda, hoje chefe de gabinete do presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra.

José Roberto Camargo Campos diz não se lembrar do trabalho ao lado de Dilermando: Eu não lembro. Já se passaram sete anos. Se você está dizendo que é, é porque é.

Para chegar à Eletronorte, o marido da hoje chefe da Casa Civil se valeu de uma empresa de assessoria técnica, da qual é um dos sócios. Segundo a Engevix, após o trabalho em Tucuruí, José Roberto Camargo Campos nunca mais foi contratado, apesar de elogiado em esclarecimento enviado ao GLOBO. O trabalho foi executado com muita competência dentro do cronograma definido por ser a empresa especialista em telecomunicações, diz a Engevix.

A empresa nega que Erenice tenha intermediado a contratação do marido: A Engevix não recebeu nenhuma indicação de Erenice Guerra para a contratação de José Roberto, cuja contratação seguiu estritamente critérios de competência técnica e disponibilidade para a função.

José Roberto adquiriu, em 2008, metade das ações da Matra Mineradora, com lavra para explorar ouro e calcário em Goiás. A Matra mantém escritório em Brasília, identificado como Ametista. O marido de Erenice comprou parte das ações de Ercio Muniz Lima, gerente de Desenvolvimento Energético de Comunidades Isoladas da Eletronorte.

Muniz continua com um quarto das ações da empresa. O outro sócio é o geólogo Paulo Roberto Fonseca. Procurada, Erenice informou, pela assessoria, que não se pronunciaria.